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  • Então você acha que sexo biológico é binário?

    Autoria

    Ana de Medeiros Arnt
    Daniel Santana de Carvalho

    Há um certo tempo que todos os anos que têm Olimpíadas, em algum momento, surgem questões acerca do gênero de alguma atleta. Na edição de 2024, não haveria de ser diferente. Imane Khelif, boxeadora argelina de 25 anos, classificada nas quartas de final na categoria feminina de até 66kg, vem sendo alvo de especulações e discurso de ódio, após sua vitória contra a italiana Angela Carini, também de 25 anos.

    Mas afinal, o debate é sobre o quê mesmo?

    A boxeadora Carini abandonou a luta após 2 golpes. Em poucos minutos, perfis de redes sociais espalhavam, com voracidade e crueldade, desinformações que acusam Khelif de ter mudado de sexo para competir nas Olimpíadas. Os ataques justificam que Khelif foi barrada de participar das lutas de boxe pela Associação Internacional de Boxe (IBA), após testes de gênero. O Comitê Olímpico Internacional (COI), por outro lado, comunicou que a atleta está dentro das condições de elegibilidade para a competição.

    “Toda pessoa tem o direito de praticar esporte sem discriminação.
    Todos os atletas participantes do torneio de boxe dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 cumprem os regulamentos de elegibilidade e inscrição da competição, bem como todos os regulamentos médicos aplicáveis ​​definidos pela Unidade de Boxe de Paris 2024 (PBU) ( encontre todas as regras aplicáveis ​​aqui ). Assim como nas competições olímpicas anteriores de boxe, o gênero e a idade dos atletas são baseados em seus passaportes (Tradução livre do site oficial COI, 2024 ).”

     

    As condições médicas elegíveis para o boxe estão descritas, em inglês, também no site oficial do COI, e podem ser conferidas abaixo:

    Tradução livre da imagem:

    8. Condições de elegibilidade médica para o boxe
    A evidência ou o histórico revelado das seguintes condições em um exame anual é considerado suficiente para que um boxeador seja considerado “inapto para o boxe”:
    – Infecções crônicas graves
    – Discrasias sanguíneas graves, por exemplo, doença falciforme
    – Histórico de infecção por HIV, hepatite ativa ou hepatite potencialmente transmissível
    – Descolamento de retina
    – Miopia de mais de -5,0 dioptrias
    – Acuidade visual registrada em cada olho de:
    – Não corrigida pior que 20/200 e corrigida pior que 20/50
    – Lesões de pele expostas, abertas e infectadas
    – Deficiências ou anormalidades cardiovasculares, pulmonares ou musculoesqueléticas significativas, congênitas ou adquiridas
    – Sintomas pós-concussão não resolvidos, que precisarão de autorização de um neurologista
    – Distúrbios psiquiátricos significativos ou abuso de drogas
    – Lesões de massa intracranianas congênitas ou adquiridas significativas ou sangramento
    – Qualquer atividade convulsiva nos últimos três (3) anos
    – Hepatomegalia, esplenomegalia, ascite
    – Diabetes mellitus não controlado ou doença da tireoide não controlada
    – Gravidez
    -Uma pessoa que não tenha feito cirurgia de correção ocular deve apresentar um atestado de um oftalmologista declarando que está apto para a cirurgia.

    Fonte: Paris 2024 Boxing Unit


    Carteira rosa e as comprovações de feminilidade

     

    Entre os anos de 1948 e 2000 foram exigidos testes de feminilidade nos jogos olímpicos, através de fotografias e verificação de genitálias. As aprovadas recebiam uma carteira, que ficou conhecida como carteira rosa. Após vazarem fotos, causando constrangimento das atletas, exames sanguíneo e genéticos passaram a ser adotados. A partir de 1992, o COI adotou os testes cromossômicos, analisando casos suspeitos por peritos em medicina desportiva. Os testes passam a ser obrigatórios e eliminatórios. A partir das Olimpíadas de Atenas, em 2004, apenas foram realizados testes em casos excepcionais.

    Se por um lado as mulheres vinham ganhando espaço dentro da competição, ao longo do Século XX, também aumentava o controle dos corpos, a partir de definições de o que é ser mulher e qual o limite de mulheridade aceito para que estas atletas participem das competições olímpicas e esportivas. Isto é, na medida em que delimitamos “o que é ser mulher”, também delimitamos o que fica de fora, quais padrões de feminilidade são aceitos dentro do que concebemos ser mulher – e portanto quais corpos fora do padrão e que não serão considerados mulheres.

    Corpos de mulheres?

     

    A diferenciação do corpo masculino e feminino como conhecemos atualmente nem sempre foi assim, em que homens possuem pênis e testículos e mulheres possuem vagina, útero e ovários. Até meados do século XVII, entendia-se que humanos apresentavam apenas um sexo, mas separado em dois gêneros.

    A ideia de isomorfismo sexual, como era chamada a existência de apenas um sexo e um tipo de corpo, propunha que o corpo da mulher era igual ao do homem, só que menos desenvolvido. Inclusive, considerava-se que a genitália das mulheres era igual à dos homens, só que invertido por falta de calor vital. Ou seja, caso fossem submetidas a mais calor, as mulheres passariam da categoria feminina para a masculina. Foi somente no século XVIII que a diferenciação sexual e fisiológica dos sexos passou a ser feita.

    Os corpos de mulheres vêm sendo analisados e julgados por suas formas, quantidade de hormônios naturais, peso, musculatura e, também, trejeitos e comportamentos sociais. Tudo aquilo que destoa do que se considera naturalmente mulher é constantemente cerceado, eventualmente isolado e, em casos mais extremos, excluído de competições.

    Talvez seja relevante apontar sobre o quanto todo este debate é feito em torno de uma construção social acerca do que é um corpo feminino. Imane Khelif não é a primeira atleta a passar por este constrangimento.

    O caso de Maria José Martinez-Patiño, ao final da década de 80, torna o debate emblemático a partir dessa busca cada vez mais interna e minuciosa desse lugar da feminilidade. Martinez-Patiño era atleta de nível olímpico e foi aprovada em inúmeros testes de feminilidade ao longo dos anos 80, até ser reprovada em um teste de cromatina sexual em 1986, sendo impedida de participar das competições olímpicas de 1988.

    O que é cromatina sexual, e qual sua relação com testes de feminilidade?

    Cromatina é a molécula de DNA enrolada em proteínas, chamadas histonas, no núcleo das células. Talvez o nome mais comum que vocês, leitores, aprendam na escola seja o cromossomo, que é quando a molécula de DNA está enrolada em sua compressão máxima – o que acontece pouco antes de uma célula se dividir. A Cromatina é esta mesma molécula menos comprimida, dentro da célula. Em seres humanos, em geral, temos 23 pares de cromossomos (somando 46). Pode haver diferença para mais ou para menos, em casos específicos. No caso das cromatinas sexuais, pode-se ter variações como XX, X , XY ou XXY. Quando há em nossas células mais do que uma cromatina X, a segunda cromatina forma um condensado, que permanece inativo, o que chamamos de corpúsculo de barr. E é a partir da detecção da presença e ausência deste corpúsculo – ou de uma quantidade de cromatinas sexuais diferentes de 2, que analisamos isso que chamamos de sexo biológico.

      No Brasil também temos o caso da judoca Edinanci Fernandes da Silva, que se viu em meio a uma disputa pelo direito de participar dos campeonatos, necessitando comprovar que é mulher, em 1996.

    Dutee Chand, atleta indiana, em 2015 passou pelo processo de provar que é mulher e deveria ter seu direito garantido nas competições. Segundo a reportagem do El País, “o Comitê Olímpico Internacional (COI) (…) está com problemas para decidir quem não é mulher para competir sem vantagens injustas”.

    O termo ”vantagens injustas”, para nós, grita nessa frase acima. O que seria uma vantagem justa ou injusta, dentro do panorama biológico? Essa é uma pergunta importante que vamos falar mais para frente. Antes disso, gostaríamos de voltar para a questão cerne disso tudo que é:

    sexo é biológico, gênero é social?

    De maneira geral, existe um senso comum que diz que sexo é um fato biológico e gênero uma construção social. Nesta perspectiva, sexo biológico é vinculado a um conjunto de características pragmáticas e incontestáveis, padronizáveis e factuais.

    Sexo, assim, é a presença de cromossomos sexuais, hormônios sexuais, genitálias específicas internas e externas, gametas, etc. Mais do que isto, o sexo biológico, que demarca fêmea e macho, são linearidades compostas por todo este conjunto.

    Ainda dentro dessa premissa, tudo o que diz respeito à identidade de gênero, é uma construção social. Ou seja, ser mulher e homem diz respeito a papéis desempenhados socialmente e são parte do aprendizado que constitui isso que chamamos de identidade.

    Todavia, essa separação entre gênero e sexo não é tão límpida e tranquila como pode parecer.

    Primeiramente, em função de que alguns elementos biológicos participam do que conceituamos como comportamentos. Hormônios, como a testosterona e o estrogênio, por exemplo. Por outro lado, ambos hormônios estão presentes em corpos que foram designados como machos e fêmeas. Mas também são carregados de sentidos e noções de feminilidade e masculinidade que transbordam (e muito) de características mensuráveis e facilmente delimitadas em modelos científicos.

    Em um volume recente do renomado periódico Cell Press, há um debate intenso exatamente sobre o que define sexo biológico, apontando o quão frágil é usar a noção de ”sexo biológico” como categoria dentro da ciência.

     Ao contrário do imaginário social mais comum, existem muitos modelos que identificam o que é macho e fêmea. E será somente no século XIX que acontecerá uma profissionalização e especialização acerca dos estudos sobre sexo biológico.

    Esses modelos dizem respeito a quais características e elementos biológicos estão sendo levados em conta quando apontamos para alguém e dizemos que é homem ou mulher.

    São inúmeros modelos que se centram ora nas genitálias, ora nos hormônios, hora em genes e cromossomos, ora em características físicas ao longo dos últimos dois séculos. E uma das grandes questões que foram sendo percebidas é que quanto mais se pesquisava e mais se buscava uma definição simples para o que é sexo biológico, menos precisas se torna essa categoria.

    Ou seja, existem sempre exceções às regras dos estudos científicos. Mas nesta busca pela categorização simples e linear, os corpos que não se encaixavam, à revelia da sua qualidade e condição de vida autônoma, funcional e independente, eram tomados como patológicos.

    Há cientistas que, em um debate crescente, vem discutindo outra possibilidade, que vem se fortalecendo!

    Não, o sexo não é binário!

    Durante a formação escolar em ciências e biologia, aprendemos que o corpo humano possui dimorfismo sexual. Isto é, o corpo de machos e fêmeas são diferentes. De um lado, entendemos como corpo masculino aquele que possui cromossomos XY, pênis, testículos, maior produção de pelos, etc. Já do outro lado, temos o corpo feminino, que possui ovários, útero, vagina e seios. Mas será que essa classificação binária é suficiente para descrevermos o corpo humano?

    Em 1993, há 21 anos atrás, foi publicado um importante estudo que já apontava a não adequação da visão binária de sexo biológico. Anne Fausto-Sterling, professora de Biologia e Estudos de Gênero do departamento de Biologia Celular e Molecular e Bioquímica da Universidade de Brown, vem sendo uma referência em estudos neste âmbito.

    Em seu trabalho intitulado “The Five Sexes: Why Male and Female Are Not Enough” Fausto-Sterling explica a existência de, pelo menos, cinco sexos. Para isso, leva-se em consideração a diversidade de genitálias e combinações de características físicas, fisiológicas, genéticas e características cromossômicas. Na história, conhecemos casos de pessoas XY com características físicas femininas e casos de pessoas XX com características masculinas. Sua pesquisa foi muito importante para demarcar e colocar em xeque a lógica do binarismo sexual.

    O que se define como sexo biológico não é a mera existência de uma ou outra genitália, portanto. Assim, o que delimita o sexo de uma pessoa passa por diversas camadas, sendo a caracterização cromossômica apenas a primeira delas. Os cromossomos vão auxiliar na formação de ovários ou testículos embrionários, mas após isso temos a atuação dos hormônios sexuais fetais, produzidos pela estrutura embrionária formada. Nesse passo os hormônios fetais vão direcionar o desenvolvimento do sexo reprodutivo daquele ser humano em formação, que se completa por volta do quarto mês de gestação.

    É importante destacar que as diferentes camadas de diferenciação não são, necessariamente, binárias e podem, inclusive, ser conflitantes entre si. Como se não bastasse toda a complexidade sexual durante a formação embrionária, também existe a produção de hormônios sexuais na puberdade, o que vai levar à maturação de órgãos sexuais. Por essas razões, entra em debate a existência das pessoas intersexo (cujas características físicas e/ou cromossômicas não se adequam ao padrão masculino/feminino da sociedade).

    Corpos dissidentes e o padrão imposto

    Segundo pesquisa da ONU, entre 0,05% e 1,7% da população mundial seria intersexo. Levando em conta que a população mundial atual é de, aproximadamente, 8,2 bilhões de pessoas, cerca de 41 milhões a 140 milhões de pessoas são intersexo no mundo todo.Para se ter ideia, essa quantidade de pessoas no mundo, equivalem à aproximadamente 70% de toda a população brasileira (203.080.756, censo do IBGE de 2022). Se a quantidade de pessoas intersexo é tão alta, não deveríamos apagar essas pessoas através do binarismo de gênero, impondo como única possibilidade.

    Por falta de leis e políticas públicas que defendam pessoas intersexo, essas pessoas acabam sendo submetidas, em muitos casos, a cirurgias de redesignação sexual. Tal cirurgia é uma suposta correção para adequação ao que se tem como padrão e leva-se em conta a proximidade com uma genitália masculina ou feminina. Esse tipo de procedimento, além de ser violento, tem como pressuposto uma padronização binária, a partir do saber médico e senso comum social. Quando esses corpos ousam existir fora do padrão binário imposto, vemos surgir corpos dissidentes.

    Pessoas trans também possuem corpos dissidentes, já que o padrão é que pessoas sejam cisgêneras (ou seja, se expressem e se comportem dentro dos padrões de gênero designados ao nascer, levando em conta sua genitália). Além disso, a transgeneridade desafia o que é ser homem ou ser mulher, já que são pessoas que possuem corpos lidos como sendo de um gênero, mas são expressos socialmente como sendo de outro. A vivência e existência de corpos que habitam espaços antes dominados, exclusivamente, por pessoas cisgêneras levanta a questão da transfobia e exclusão de pessoas desses espaços.

    A dissidência, portanto, reafirma que padrões sociais foram impostos. Padrões estes que criam regras de existência que marginalizam, oprimem e, também, violentam pessoas. Isso também vale para direitos sociais que parecem básicos e todos têm direito em nosso país, mas não são, como registro civil. Isto é, ter um corpo dissidente, em nosso país (e vários outros), é perder direitos considerados mínimos a qualquer cidadão brasileiro.

    O esporte como espaço de generificação e exclusão de corpos

    O que estamos trazendo aqui não é um trabalho isolado e perdido no meio de consensos científicos binários. Pelo contrário, são trabalhos acadêmicos que vêm apontando o quanto o binarismo, quando se trata de sexo biológico, tem história, viés, perspectiva. Mais do que isso, regulamenta e legitima lugares sociais, patologiza corpos e os tornam marginais em acesso à saúde, dignidade, registros e, também, em condições de, por exemplo, participar de competições esportivas.

    No contexto da valorização da família, da higienização dos corpos e do fortalecimento da raça, ser feminina é ser saudável e bela para cumprir os desígnios de seu sexo: o casamento e a procriação, circunscrevendo suas atribuições majoritariamente ao espaço privado. O temor de que a mulher pudesse romper com algumas barreiras que delimitavam as diferenças culturalmente construídas para cada sexo tornou imperiosa a sua feminização, caso contrário, considerando a lógica binária dos sexos, estaria se virilizando. Consoante esse discurso, a inserção performática das mulheres no esporte era observada como uma forma de masculinizá-la, seja porque alteraria seu corpo, potencializando-o, seja porque interferiria em sua conduta, concedendo ao seu caráter atributos reconhecidos como viris (GOELLNER, 2016).

    Silvana Goellner, professora e pesquisadora da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, vem debatendo sobre como o esporte é um espaço de legitimação do sexo e gênero, definindo como esta participação se dá.

    É importante trazer à pauta o quanto esta luta de Imane Khelif traz inúmeros preconceitos juntos, dentre eles a reafirmação da feminilidade como traço do que é ser mulher. Imane é uma mulher, cisgênera, que foi fortemente atacada nesta última olimpíadas em Paris (2024) e dentre os ataques, a ideia de perda de feminilidade – ou de masculinização – esteve presente.

    Quando Goellner aponta para o esporte como um campo de generificação de corpos, ela afirma o quanto este é um tipo de prática cultural que recoloca, o tempo inteiro, até onde determinados corpos podem ser definidos como mulheres e, portanto, podem competir sem vantagens injustas.

    O que o esporte faz, constantemente, é dizer que tipo de feminilidade é aceita como natural, mesmo os corpos existindo em sua naturalidade.

    Vantagens injustas

    O que se toma como vantagem injusta, em uma competição, é a quantidade de testosterona – e somente ela – no que diz respeito ao corpo de mulheres cis e trans. Não vamos nos alongar aqui neste tópico, mas apenas fazer uma provocação sobre o quanto a ideia de vantagem diz respeito mais à legitimação constante de gênero, do que efetivamente um ou outro tipo de corpo ter uma suposta vantagem biológica.

    Esportes de alto rendimento se vinculam a corpos extremamente diferentes. Ginastas artísticos possuem baixa estatura, em geral. Já no basquete, os atletas são altos. No levantamento de peso, definitivamente possuem musculatura muito desenvolvida e definida. Já em alguns esportes, como judô, arremesso de peso e outros, apesar da força, não necessariamente temos definição muscular aparente – com corpos que culturalmente chamamos de gordos.

    Existem algumas características físicas que são proporcionadas pela prática esportiva – aumento da massa muscular certamente se inclui nisso. E o treinamento aumenta habilidades dos atletas. Mas existem tipos de corpos, ou características físicas, que são mais condizentes com o tipo de esporte desenvolvido. A altura para a ginástica artística e o basquete são um exemplo disso. Mas não chamamos de vantagem injusta, nem delimitamos tamanhos mínimos e máximos para participar de competições (apesar de ambos estarem fora do padrão de tamanho da maioria das nossas sociedades).

    A biologia, aparentemente, só pode ser vista como vantagem e exaltada se estiver em corpos de homens cisgênero.

    A biomecânica do corpo de Michael Phelps, unida à presença de genes que provocam uma recuperação muscular mais rápida, ou as fibras de contração muscular, que também são características genéticas e melhoram o desempenho de Usain Bolt, aparentemente, podem e devem ser exaltadas como incríveis destes seres humanos.

    Todavia, a testosterona natural no corpo de mulheres será apontado, notificado, calculado, notificado e, se possível, usado para eliminar estas pessoas de competições.

    Discurso de ódio e moralização dos corpos nas redes

    Recentemente, a boxeadora Imane Khelif deu uma entrevista em que disse que ter sido confundida com uma mulher trans, ter sido lida, por conservadores, como homem trouxe vergonha para sua família e mulheres de todo o mundo. Infelizmente, esse tipo de discurso não é surpreendente, levando-se em conta que atos considerados homossexuais são criminalizados na Argélia. A transfobia é um assunto que deve ser tratado com bastante seriedade e combatido em toda sua forma – e não coadunamos, nem deixaríamos de demarcar isto em nosso texto.

    Contudo, cabe ressaltar também o quanto vários discursos transfóbicos contra a boxeadora foram amplamente difundidos nas redes sociais. A repercussão foi aumentada pelo candidato à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, e pelo bilionário dono da SpaceX e X, Elon Musk, que se referiram a Khelif no masculino. Além do caso da medalhista olímpica, outras celebridades já utilizaram sua plataforma e voz nas redes sociais para atacar direitos de pessoas trans. Um dos casos recentes mais famosos é o da escritora da franquia Harry Potter, J. K. Rowling, que segue insistindo em seus ataques violentos contra toda a comunidade trans e travesti em suas falas – dentro e fora das redes sociais.

    Este tipo de posicionamento é inadmissível e não há, em nenhum contexto, justificativas para isto. E tomando tudo o que discutimos neste texto, tomar Imane Khelif como homem por julgar seu corpo masculinizado, entra em tantas camadas de crueldade, preconceito e desinformação, que jamais aceitaremos como tranquilo.

    Finalizando

     Infelizmente, este debate não se encerra de maneira simples. A proposta de compreensão de que corpos dissidentes existem e precisam ser reconhecidos como tal ainda está andando em passos lentos em nossa sociedade – e na ciência.

    Contudo, é preciso que consigamos pautar com mais frequência estas questões. A ciência, assim como a divulgação científica têm (ou deveriam ter) uma atuação que possibilitasse vivências com mais dignidade e direitos sociais, a partir de seus estudos.

    Reconhecer a diversidade que existe e é parte de nossa sociedade, nossa biologia enquanto espécie, faz parte dessa atuação, é compromisso diário com a produção de conhecimento e a construção de uma sociedade mais justa, inclusiva e ética.

    Recentemente, em fala na FLIPEI, Rita Segato apontou sobre como nossa sociedade deveria rumar para uma democracia da diversidade, mais do que uma democracia da maioria. E isto implicaria em reconhecer, como espaços de ciência, cultura, sociedade, saúde, educação, a diversidade como premissa de nossa vida. Hoje, encerramos este texto com a esperança de poder contribuir, ainda que minimamente, com este debate público e científico.

     

    A ciência e a divulgação científica que negligenciam a diversidade de corpos, negligenciam direitos humanos e civis básicos.

     

    Para Saber Mais

    ANTISS, L (2023) Sexual Orientation and Gender Identity-Based Asylum Claims in Algeria: Challenges and Implications, Electronic Immigration Network.

    ARCOVERDE, L e SOUZA, S (2024) Quais testes de gênero podem barrar atletas nas Olimpíadas? Nexo Podcast, 01 de Agosto de 2024.

    AZEVEDO, Luis Felipe (2024) ´Homem biológico´e ´trans´: bolsonaristas propagam informação falsa sobre lutadora intersexo que compete em Paris, O Globo

    BBC MUNDO (2024) A polêmica luta de boxe de 46 segundos entre argelina e italiana na Olimpíada, BBC Mundo.

    BBC NEWS BRASIL (2022) Natação barra de competições femininas as atletas trans que passaram por puberdade masculina, BBC News Brasil

    BEZANTS, J (2024) Imane Khelif responds to Donald Trump calling her a man Daily Mail UK.

    CESAR, C (2024) Caso de boxeadora argelina reprovada em teste de gênero provoca onda de desinformação nas redes, Carta Capital

    COI (2018) IOC Gender Equality Review Project, COI

    COI (2024a) Medical Rules for the Olympic Boxing Qualifying Tournaments and the Boxing Competition at the Olympic Games Paris 2024, COI Paris 2024 Boxing Unit

    FAUSTINO, M (2024) Atleta não mudou de sexo para disputar boxe feminino nas Olimpíadas, Aos fatos

    FAUSTO-STERLING, A (1993) The five sexes: Why male and female are not enough, The Sciences, v 33, n 2, p. 20–24, 4 mar.

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    ___ (2002) Dualismos em duelo, Cad Pagu [Internet], (17-18):9–79.

    IG Gente (2024) Boxeadora argelina é trans? Entenda a polêmica que gerou ataques nas Olimpíadas, IG Queer

    GOELLNER, SV (2016) Jogos Olímpicos: a generificação de corpos performantes, Revista USP, São Paulo, n108, p 29-38.

    GUIMARÃES, TF (2011) A construção do corpo sexuado: uma reflexãosobre os significados de gênero e de como este se articula com o corpo, Sociais e Humanas, Santa Maria,  v24, n02, jul/dez, p148-16.1

    G1 (2024) Intersexo: entenda o termo que foi pela primeira vez reconhecido em um registro civil no Brasil. G1, 10/03/2024.

    JI, Z (2023) The Ultimate Athlete: Genetics Vs. Training SHS Web Conf, 157 (2023) 0401

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    ROHDEN, F. Uma ciência da diferença: sexo e gênero na medicina da mulher [online], Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2001, Antropologia & Saúde collection, 224 p

    RUMBSY, B (2024) Not a transgender issue: what you need to know about Imane Khelif at the Olympics, The Telegraph

    UFMG Notícias (2021) História das Olimpíadas é marcada por exclusão de corpos dissidentes, UFMG Notícias Externas, 27 de Julho de 2021.

    VELOCCI, B (2024) The history of sex research: Is sex a usefull category? CELL PRESS, Volume 187, ISSUE 6, P1343-1346, March 14.

    Sobre quem escreveu

    Daniel Santana de Carvalho é mestre e doutor em genética, atualmente trabalha como pós-doc no Laboratório de Botânica (LABOT) da Universidade Federal da Bahia e faz divulgação científica de genética, bioinformática e diversidade na ciência no instagram @cienciaforadoarmario. Nas horas vagas gosta de costurar, ir à praia e receber amigues em casa.

    Ana de Medeiros Arnt é Bióloga, Mestre e Doutora em Educação. Professora do Departamento de Genética, Evolução, Microbiologia e Imunologia, do Instituto de Biologia (DGEMI/IB) da UNICAMP e do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática (PECIM). Pesquisa e da aula sobre História, Filosofia e Educação em Ciências, e é uma voraz interessada em cultura, poesia, fotografia, música, ficção científica e… ciência! 😉

    Como citar:  

    Arnt, Ana de Medeiros; Carvalho, Daniel Santana (2025). Então você acha que sexo biológico é binário? Revista Blogs Unicamp, Vol. 10, N.2. Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/revista/2025/01/21/entao-voce-acha-que-sexo-biologico-e-binario/ Acesso em: DD/MM/AAAA 

    Sobre a imagem destacada:

    Ilustração digital e edição: clorofreela

  • Clima de eleição: adaptação climática estará nas propostas dos candidatos?

    Autoria

    Jaqueline Nichi

    A agenda dos candidatos a prefeitos e vereadores, na eleição de 2024, engloba diversos temas complexos com intersecção com o clima e meio ambiente, como saneamento, saúde e redução da poluição, segurança alimentar, gestão dos resíduos sólidos, transporte público, áreas verdes e eficiência energética.

    É quase impossível medir a sensibilidade ao tema dos milhares de candidatos que disputam prefeituras ou câmaras municipais no país, mas com base nos últimos pleitos, os temas ambientais ainda não são centrais nas campanhas da maioria dos aspirantes ao comando das cidades brasileiras.

    Nos últimos anos, o tema começa a ganhar relevância nas propostas que todos têm de apresentar ao registrarem suas candidaturas. E a população está cada vez mais atenta aos indicadores socioambientais que impactam diretamente as suas experiências como cidadãos. Em 2023, mais de 5 milhões de brasileiros, ou 7 em cada 10 cidadãos, foram afetados pelo impacto das chuvas e das secas no ano mais quente já registrado na história, segundo a Pesquisa Ipec encomendada pelo Instituto Pólis.

     

    Esta compreensão é ainda mais importante no Brasil de 2024, após um histórico de governo federal que agiu na contramão da agenda ambiental. O aumento dos riscos decorrentes das variações climáticas, como inundações e deslizamentos cada vez mais recorrentes, não nos deixa esquecer que um grande esforço coletivo e político precisa ser colocado em prática.

    A edição 2021 da Pesquisa de Informações Básicas Municipais (MUNIC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que apenas 390 dos 5.570 municípios do país têm alguma legislação sobre adaptação e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.

    A próxima eleição, portanto, não permite mais a inação ao custo de vidas, especialmente de pessoas em comunidades vulneráveis, mais propensas aos impactos negativos do clima. Em 2024, só no primeiro mês do ano, mais de 100 mil pessoas foram afetadas pelas chuvas na região metropolitana do Rio de Janeiro, resultando em 12 mortes​​. Porto Alegre também enfrentou inundações, deixando 1,3 milhão de pessoas sem energia.

     

    O que isso significa em ano de eleições?

    Os desastres ambientais e climáticos têm relação direta com a administração das cidades no Brasil. Os centros urbanos estão entre os principais agentes do aquecimento global, por emitirem a maior parte dos gases de efeito estufa. Ao mesmo tempo, são os espaços mais impactados por eventos extremos, devido à alta densidade populacional e baixa infraestrutura adaptada às alterações do clima.

    Embora algumas políticas ligadas ao combate à mudança climática sejam compartilhadas entre o ente federal, estados e municípios, é papel dos governos municipais gerir a drenagem urbana, zeladoria, mobilidade, moradia e gestão e uso do solo. Câmaras municipais podem propor leis e políticas que melhor preparem seus municípios para eventos extremos ou aperfeiçoem normas ligadas ao tema, como é o caso dos planos diretores e leis de uso e ocupação do solo.

    Moradores retiram móveis e objetos danificados com a chuva em comunidade carioca.

    Foto: Márcia Foletto

    É certo que os eleitores continuarão a valorar outras pautas emergentes, como o desemprego, a saúde, a segurança e a inflação. Mas essas questões têm, de forma cada vez mais evidente, ligação direta com as mudanças climáticas. Os preços dos alimentos variam conforme as secas, a saúde pública precisa lidar com novos vírus e epidemias relacionadas à mudança de habitat de animais selvagens, e a economia pode se beneficiar com a criação de empregos verdes.

    Outro tema fundamental nestas eleições é acatar as evidências científicas e rejeitar as notícias falsas que os negacionistas do aquecimento global costumam propagar. Nessas próximas eleições, o acesso a informações qualificadas e confiáveis para melhor analisar os candidatos é de suma importância. Por isso, é preciso votar com consciência e exigir planos de adaptação com base na avaliação de vulnerabilidades dos municípios com estratégias e medidas específicas para lidar com os riscos identificados.

     

    Referências:

    MUNIC, Informações Básicas. Perfil dos municípios brasileiros. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2021. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/df/brasilia/pesquisa/1/74454?ano=2021

    IPEC. Crise Climática – Pesquisa de Opinião Pública. 2023. Instituto Polis. Disponível em: https://polis.org.br/estudos/crise-climatica-pesquisa-de-opiniao-publica/

     

     

    Sobre quem escreveu

    Jaqueline Nichi é jornalista e cientista social. É doutora em Ambiente e Sociedade pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (NEPAM-UNICAMP) e mestre em Sustentabilidade (EACH-USP). Sua área de pesquisa é centrada nas dimensões sociais e políticas das mudanças climáticas, adaptação e planejamento urbano e governança multinível e multiatores.

    Como citar:  

    Nichi, Jaqueline. (2024). Clima de eleição: adaptação climática estará nas propostas dos candidatos? Revista Blogs Unicamp, Vol. 10, N.1. Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/revista/2024/05/02/clima-de-eleicao-adaptacao-climatica-estara-nas-propostas-dos-candidatos/ Acesso em: DD/MM/AAAA 

    Sobre a imagem destacada:

    Ilustração digital e edição: clorofreela

  • Mulheres em ciência e tecnologia: as origens históricas da inversão de gênero

    Julia Marcolan

    Adicione o texto do seu título aqui

    Autora

    Julia Marcolan

    As disparidades de gênero em relação à representatividade, ao acesso a oportunidades de pesquisa e ao reconhecimento acadêmico representam obstáculos significativos enfrentados pelas mulheres na carreira científica. Na história da tecnologia, no entanto, diversas mulheres fizeram contribuições expressivas e revolucionárias que têm sido fundamentais para o progresso da ciência. Um exemplo notável é Ada Lovelace, filha de Anne Isabella Byron, uma matemática da nobreza, e do poeta romântico Lord Byron. Sua mãe a incentivou a estudar música e a se aprofundar na lógica matemática. 

    Além do estímulo materno, Ada também contou com a amizade e orientação da matemática inglesa Mary Somerville. Foi Mary quem apresentou Ada a Charles Babbage, o desenvolvedor da máquina diferencial, projetada para realizar cálculos de polinômios de forma mecânica. Em 1842, Ada escreveu o primeiro algoritmo a ser processado pela máquina analítica de Charles Babbage. Esse algoritmo tinha a capacidade de calcular a sequência de Bernoulli, e por esse feito, Ada é considerada a primeira programadora da história. As pesquisas de Ada estabeleceram as bases para a computação e programação, que moldaram o mundo da tecnologia décadas mais tarde. Ada Lovelace era uma verdadeira visionária, e sua contribuição pioneira foi essencial para o desenvolvimento da lógica de programação que usamos hoje. 

    Grace Hopper é outro nome notável na história da tecnologia. Entre as décadas de 1940 e 1950, ela foi responsável pelo desenvolvimento da linguagem de programação Flow-Matic. Esta linguagem serviu como base para a criação do Common Business-Oriented Language (COBOL), que ainda é usado atualmente para o processamento de bancos de dados comerciais. Em 1959, Grace Hopper desenvolveu seu próprio compilador, reconhecido como o primeiro da história. Um compilador é capaz de traduzir um programa escrito em linguagem textual, que se assemelha à linguagem do programador, para linguagem de máquina, que o computador pode entender. Também foi Hopper quem popularizou o termo bug — inseto em inglês —, hoje amplamente utilizado nas áreas de tecnologia e no dia a dia. Segundo a história, enquanto tentava solucionar uma falha em seu computador, ela descobriu um inseto morto dentro da máquina. Desde esse episódio, o termo bug associou-se a erros ou falhas de código.

    A origem da disparidade 

    Apesar dessa representatividade histórica, se mantivermos o ritmo atual, seriam necessários cerca de 100 anos para alcançar a paridade de gênero em publicações científicas na área de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM). É o que revela um estudo publicado em 2019, pela uma pesquisa realizada pelo Allen Institute for Artificial Intelligence.

    Historicamente, a sociedade patriarcal atribuiu às mulheres atividades tidas como mais simples e de menor importância, como, por exemplo, os cuidados com a casa e a criação dos filhos, enquanto aos homens foram destinadas as atividades entendidas como de maior prestígio, como garantir o sustento da família por meio do trabalho, seja ele braçal ou intelectual. A sociedade, entretanto, está em constante transformação, impulsionada pelo avanço da ciência. Nesse contexto, uma atividade anteriormente considerada fácil, que demandava pouco conhecimento e especialização é vista como uma atividade feminina, pode ser completamente redefinida pelos avanços tecnológicos. Assim, ela pode ganhar notoriedade e importância, passando a ser considerada pela sociedade uma atividade desafiadora e masculina.

    O ato de programar passou por uma ressignificação ao longo do tempo. Houve um período em que programação era considerada uma atividade secundária e desimportante, sendo assim muitas vezes relegada às mulheres. Durante a Segunda Guerra Mundial, o ENIAC (Electronic Numerical Integrator and Computer) — primeiro computador digital e eletrônico programável do mundo — foi desenvolvido com o propósito de auxiliar em cálculos balísticos. A programação do ENIAC envolvia a utilização de fios e interruptores para definir as operações. Além disso, cartões perfurados eram usados para armazenar informações. Programar o ENIAC era um trabalho manual, árduo e sujeito a muitos erros. Como resultado, seis mulheres desempenharam um papel fundamental como suas principais programadoras: Frances Bilas, Jean Jennings, Ruth Lichterman, Kathleen McNulty, Betty Snyder e Marlyn Wescoff.

    Também podemos mencionar o caso das “mulheres computadoras” que contribuíram para o desenvolvimento do programa espacial da NASA na década de 1950. Essas “computadoras” eram responsáveis por calcular manualmente as equações de trajetórias necessárias para as viagens espaciais. A história dessas mulheres matemáticas, em particular das cientistas negras Katherine Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson, foi recentemente retratada no filme “Estrelas Além do Tempo”, de 2016. As funções exercidas por elas eram extremamente mal remuneradas, uma vez que se tratavam de atividades secundárias. 

    A computação passou a assumir um papel de destaque no mundo pós-guerra, em virtude de seu papel decisivo como uma ferramenta na máquina de guerra. Consequentemente, ela começou a ser percebida como uma atividade predominantemente masculina. Dessa maneira, a partir da década de 1970, houve uma grande inversão de gênero na área de tecnologia no mundo todo. Por exemplo, a primeira turma do curso de Bacharelado em Ciências da Computação do Instituto de Matemática e Estatística (IME), em São Paulo, no ano de 1974, era formada por 70% de mulheres. Essa porcentagem se reduziu drasticamente não só no IME, que chegou à marca de 15% de mulheres em 2016, mas em diversos outros institutos das áreas de ciências exatas. 

    O Instituto de Física de São Carlos, por exemplo, oferece três especializações dentro do curso de graduação em Física: Física Teórica e Experimental, Física Biomolecular e Física Computacional. Dados fornecidos pela comissão de graduação do instituto mostram que 36% dos ingressantes no IFSC no ano de 2023 eram mulheres. Esse número pode parecer alto à primeira vista. Mas, se analisarmos um recorte mais específico, podemos identificar que 51% dessas mulheres optaram pela especialização biomolecular, que apresenta uma interdisciplinaridade muito grande com a biologia, tornando o curso uma exceção nas áreas de exatas em geral. Analisando com mais cuidado, percebemos que apenas 25,6% do total de ingressantes na Física Teórica e Experimental são mulheres; na Física Computacional, o número se reduz para 22,5%.

    O apagamento das mulheres na Física

    Enquanto na área da tecnologia as mulheres eram direcionadas para funções secundárias e mal remuneradas, nas demais áreas acadêmicas elas enfrentavam um processo cruel de invisibilidade. O fenômeno de atribuir a homens o reconhecimento por trabalhos científicos que na verdade haviam sido realizados por mulheres foi identificado como um padrão persistente na comunidade científica, pela historiadora Margaret W. Rossiter, que cunhou o termo “Efeito Matilda”. Esse termo é uma homenagem a Matilda Joslyn Gage, que já percebia essa tendência de apagamento ainda no século XIX. Existem centenas de casos conhecidos de mulheres que foram afetadas pelo Efeito Matilda, e talvez mais uma centena de casos de mulheres das quais nunca ouviremos falar.  

    Em 1883, Matilda Joslyn Gage escreveu o artigo “Woman as an Inventor,” publicado na The North American Review. Nesse artigo, Matilda refutou a ideia de que as mulheres não possuíam genialidade inventiva, citando exemplos práticos de invenções realizadas por mulheres em diversos campos criativos, que iam desde inovações na química até técnicas de parto. Ela destacou a contribuição significativa das mulheres para o mundo das inovações e desafiou os estereótipos de gênero que desvalorizavam suas realizações.

    No início do século XX, a geneticista Nettie Stevens, responsável pela descoberta do sistema de cromossomos XY, viu seu orientador de doutorado, Thomas Hunt Morgan, receber todo o crédito pelo trabalho que ela havia realizado. Nettie faleceu em 1912, antes de conseguir uma posição como professora. Em 1933, seu orientador recebeu um Prêmio Nobel pela descoberta. Outra pioneira, a matemática Emmy Noether, contribuiu significativamente para a álgebra abstrata e formulou um dos teoremas mais fundamentais da física, conhecido como o “Teorema de Noether,” que estabelece uma relação entre simetrias físicas e leis de conservação. Embora seja agora reconhecida como uma das maiores matemáticas de sua época, Emmy Noether trabalhou por anos como assistente de um colega na Universidade de Göttingen, sem nem ao menos receber salário.

    Marie Curie é considerada uma das maiores cientistas que já existiu. Ela foi a primeira mulher a ganhar o Prêmio Nobel. Também a primeira pessoa a ganhá-lo duas vezes em áreas distintas, na química e física, ambos chamados de ciências duras. Marie Curie foi pioneira nas pesquisas sobre radioatividade, o que lhe rendeu o primeiro Nobel, o de Física, em 1903. Ela dividiu o Prêmio Nobel com seu marido, Pierre Curie, e com Henri Becquerel, que trabalharam junto a ela nas pesquisas. 

    Ademais, Marie também descobriu dois elementos químicos, o polônio e o rádio, que lhe conferiram o Prêmio Nobel de Química em 1911. A vida acadêmica de Marie não foi fácil: logo após concluir o ensino médio, ela não conseguiu prosseguir com seus estudos em sua cidade natal, pois a Universidade de Varsóvia não admitia mulheres. Além disso, devido ao fato de ser mulher, Marie frequentemente teve que publicar artigos sob pseudônimos para que tivessem peso para a comunidade científica da época.

    Dados mais recentes 

    Voltando para os dias atuais, segundo dados da Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), entre 2014 e 2017, o Brasil publicou aproximadamente 53,3 mil artigos, sendo que 72% deles têm autoras mulheres. No entanto, apesar desse impacto na pesquisa, as mulheres ainda enfrentam desafios significativos para alcançar cargos de liderança em grupos de pesquisa. De acordo com dados recentes apresentados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), apenas um terço dos bolsistas de pós-graduação nas áreas de exatas são mulheres. Dados públicos do Programa de Pós-Graduação do Instituto de Física de São Carlos mostram que as mulheres representam apenas 37,83% dos ingressantes na pós-graduação em 2023. Fazendo uma análise mais precisa, 59% ingressaram no programa de pós-graduação em Física Biomolecular, 25% na Física Teórica e Experimental, e apenas 23% na Física Computacional.

    Uma outra pesquisa revelou, por meio da  análise de dados da Digital Science, usando seu banco de dados de publicações, que as mulheres foram massivamente afetadas pelos lockdowns impostos durante a pandemia de COVID-19. De acordo com esses dados, a taxa de publicação de mulheres como autoras principais de artigos caiu sete pontos percentuais entre janeiro e maio de 2020, em comparação com o ano de 2015. Segundo as conclusões da pesquisa, uma das possíveis justificativas para essa queda é que os lockdowns obrigaram o confinamento em casa, resultando em um aumento da carga de trabalho relacionada ao cuidado, tanto nas tarefas domésticas quanto na educação das crianças, que recaiu majoritariamente sobre as mulheres acadêmicas neste ambiente.

    Apesar da participação expressiva das mulheres na ciência, ainda persistem desafios consideráveis. Continuamos ocupando posições de menor destaque e enfrentando o apagamento de nossas vozes em muitos contextos acadêmicos. Além disso, existe a persistente ideia patriarcal de que as atividades de cuidado são predominantemente atribuídas às mulheres, sendo consideradas simples e de pouca necessidade de carga intelectual ou grande importância perante à sociedade capitalista, enquanto as tarefas de “maior prestígio” — trabalhos intelectuais em quaisquer campo, ou mesmo trabalhos braçais de pouco prestígio, mas que garantam o sustento do lar — são reservadas aos homens. Essas desigualdades de gênero no ambiente de trabalho e na sociedade como um todo são importantes e precisam ser abordadas para promover uma verdadeira equidade de oportunidades.

    Incentivo e representatividade

    Uma característica comum entre a maioria das mulheres que alcançaram notoriedade por seus grandes feitos na história da ciência e tecnologia é o incentivo que receberam. Ada Lovelace, por exemplo, contou com o apoio de sua mãe e de sua mentora, Mary Somerville. Marie Curie teve o respaldo de seu marido, Pierre, ao longo de toda a sua jornada acadêmica. Uma pesquisa realizada pela Microsoft revelou que, em geral, as meninas costumam manifestar interesse por ciência e tecnologia até os 11 anos, mas esse interesse tende a diminuir, e aos 15 anos, muitas delas começam a desistir. De acordo com o estudo, a ausência de modelos femininos nessas áreas é uma das razões para esse fenômeno. Desta maneira, é de extrema importância que continuemos a reescrever a  história das mulheres na ciência exaltando e compartilhando seu pioneirismo. 

    Com o objetivo de promover a diversidade no campo de STEM, ao longo dos anos, surgiram várias iniciativas independentes destinadas a incentivar as meninas a seguir carreiras científicas. Uma dessas iniciativas é o projeto “Meninas Programadoras” do ICMC/USP, coordenado pela professora Maria da Graça Campos Pimentel. A principal meta desse programa é proporcionar às alunas do ensino médio e concluintes a oportunidade de desenvolver habilidades de programação e solução de problemas por meio de aulas que combinam teoria e prática.

    Outro projeto de destaque é o “Laboratório de Talentos”, promovido pelo Instituto Angelim. Esse projeto tem como propósito sensibilizar jovens alunas do Ensino Médio da rede pública acerca das oportunidades de carreira nas áreas de ciência, tecnologia, artes e economia criativa, por meio de atividades práticas e do contato direto com mulheres que atuam ou estudam nos diversos campos do conhecimento.

    Na Unicamp existe o projeto Meninas Supercientistas, que tem como objetivo apresentar a meninas do Ensino Fundamental II a carreira na área científica, incentivando-as a percorrer essa trajetória. O projeto é totalmente organizado por mulheres (docentes, funcionárias e alunas) e recebe cientistas para palestrar e debater ciência com as meninas em fase escolar.

    A grande maioria das meninas que responderam à pesquisa da Microsoft acreditam que não estão tendo experiência prática suficiente com matérias STEM. Além disso, 60% delas admitiram que se sentiriam mais confiantes em seguir uma carreira nas áreas STEM se homens e mulheres fossem igualmente empregados nessas profissões, recebendo salários equivalentes. É imprescindível que políticas públicas sejam implementadas visando a equidade nos cargos de trabalho e salários para as mulheres nas carreiras de STEM. A revolução digital está transformando o mercado, e, atualmente, as mulheres representam apenas 25% da força de trabalho na indústria de tecnologia. Incluir as mulheres nesse mercado é fundamental para garantir sua autonomia e independência financeira.

    Para saber mais 

    Agência Brasil (2019) Mulheres assinam 72% dos artigos científicos publicados pelo Brasil, Agência Brasil

    Câmara dos Deputados (2023) Mulheres são apenas 1/3 de pós-graduandos em ciências exatas e tecnológicas e têm financiamento menor, Câmara dos Deputados.

    Gage, Matilda Joslyn (1883) Woman as an Inventor, The North American Review 136, n 318, p 478–89.

    Pereira, LG, Da Silva, M N;Souza, VP de; Rezende, YC (2018) Hostilidade em jogos online: perspectiva feminina, Múltiplos Olhares em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v7, n2. 

    USP (2018) Por que as mulheres desapareceram dos cursos de computação, Jornal da Universidade de São Paulo.

    USP (2020) Produção científica feminina cai devido à pandemia, ABCD USP – Agência de Bibliotecas e Coleções Digitais da USP.

    PIMENTEL, MGC; EUSEBIO, JML; GOULARTE, R; LEITE, UV; PICOLI, H (2023) Meninas Programadoras: Promovendo o Engajamento Feminino em Computação via Cursos Curtos Online de Programação, In: ANAIS DO WORKSHOP DE FERRAMENTAS E APLICAÇÕES – SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SISTEMAS MULTIMÍDIA E WEB (WEBMEDIA), Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Computação, p107-110.  

    ANDREW, T (2017) Why don’t European girls like science or technology? Microsoft news.

    WANG, LL et al (2021) Gender trends in computer science authorship, Communications of the ACM, v64, n3, p78-84.

    Sobre a autora

    Julia Marcolan é graduada em Física com ênfase em Física Computacional pela UFF/2019 e Mestre em Ciências pelo IFSC/USP. Atualmente, é doutoranda em Física Computacional também no IFSC/USP onde pesquisa Imagens por Ressonância Magnética (MRI) de tempos de relaxação ultra curtos, aplicadas a  avaliação de sementes. Além da pesquisa acadêmica, tem interesse em divulgação de ciência e tecnologia e neste sentido atua principalmente na divulgação e projetos de inclusão de mulheres nas áreas de STEM.

    Nota da editora

    Julia Marcolan é a autora convidada do vol.9, n.2, da Revista Blogs Unicamp.

    Como citar: 

    Marcolan, Julia. (2023). Mulheres em ciência e tecnologia: as origens históricas da inversão de gênero. Revista Blogs Unicamp, V.9, N.2. Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/revista/2023/11/27/mulheres-em-ciencia-e-tecnologia-as-origens-historicas-da-inversao-de-genero/ Acesso em dd/mm/aaaa

    Sobre a imagem destacada:

    Imagem gerada geradas em outubro de 2023 via Dall.e 3 (modelo de linguagem generativa multimodal). Edição por Carolina Frandsen.

  • Bolsas e produção científica no Brasil: os cortes orçamentários da CAPES

    Bolsas e produção científica no Brasil: os cortes orçamentários da CAPES

    Adicione o texto do seu título aqui

    Autores

    Texto escrito pela Equipe Editorial do Blogs de Ciência da Unicamp

    Muitas pessoas não compreendem o papel dos bolsistas na construção do conhecimento científico brasileiro. Em geral, costumamos chamar de “curso de pós-graduação” as etapas de formação que acontecem posteriormente a cursos de ensino superior. Qual o objetivo destes cursos e qual o motivo de termos bolsas de pesquisa?

    Ao contrário do que muitos imaginam, as etapas de pós-graduação não são apenas etapas de “estudos” (no sentido de assistir aulas). Tanto o mestrado, quanto o doutorado, têm como objetivo a realização de uma pesquisa, dentro de um grupo de pesquisa, com um supervisor capacitado (um cientista cadastrado) em uma instituição de pesquisa — em geral, no Brasil, uma universidade.

    E qual o motivo de estas pessoas ganharem uma bolsa? 

    Aqui no Brasil, a verba destinada ao pagamento destas etapas de trabalho de pesquisa são bolsas. Infelizmente, não temos ainda este trabalho regulamentado e legitimado para obtenção de direitos trabalhistas, como férias, 13º salário, contabilização de tempo e contribuição para a aposentadoria e outros direitos. Isto mesmo que estás lendo: cientistas brasileiros ganham bolsas para desenvolver trabalhos de pesquisa e não há direitos trabalhistas para o desenvolvimento deste trabalho!

    É bom lembrar que a pós-graduação (mestrado e doutorado) são etapas de formação que acontecem em pessoas que possuem uma idade acima de 21 anos, em geral. Neste caso, estamos falando de adultos, com responsabilidades financeiras a serem cumpridas (moradia, alimentação, saúde, transporte e outras contas pessoais). As bolsas financiadas por órgãos de pesquisa — como CAPES, CNPq, FAPESP e outras instâncias — exigem dedicação exclusiva. Ou seja, não é possível ter renda fixa em outros empregos quando se é contemplado com bolsa!

    A bolsa não é um favor: é pagamento por trabalho prestado

    Quando somos contemplados com uma bolsa, temos um prazo para cumprir determinadas etapas de uma pesquisa. No caso do mestrado, são 24 meses e, no doutorado, 48 meses. Ao longo deste tempo, integramos um grupo de pesquisa e atuamos diariamente em experimentos, trabalhos de campo, sala de aula, estudos teóricos, debates, palestras, conferências nacionais e internacionais, escrita de artigos científicos e a escrita da dissertação (no mestrado) ou da tese (no doutorado).

    Estes trabalhos são simultaneamente individuais — pois temos tarefas diárias a serem cumpridas — e coletivas — pois integramos um grupo com uma linha de pesquisa coordenada por um supervisor.

    Neste sentido, nosso trabalho, pago com bolsas, é cooperativo e integra uma produção que não é, nunca, isolada.

    Além disso, cada grupo de pesquisa possui parcerias e convênios com outros grupos — seja na mesma instituição, ou instituições externas, aumentando as possibilidades de produção de conhecimento especializado.

    Por fim, bom lembrar que mesmo com realização de trabalhos diários, o não cumprimento da tarefa final (dissertação e tese, muitas vezes com publicações de impacto), têm como punição a devolução de todo o valor da bolsa, dos meses pagos.

    Quem paga bolsas?

    Aqui no Brasil, bolsas de pesquisa são pagas majoritariamente pelo poder público. Uma das maiores mantenedoras da pós-graduação é a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior – CAPES. A CAPES é uma fundação vinculada ao Ministério da Educação do Brasil que atua na expansão e consolidação da pós-graduação stricto sensu em todos os estados brasileiros. Ou seja, é uma fundação que tem como tarefa, precisamente, fomentar a pesquisa brasileira diretamente, dentro do MEC. Uma das formas mais diretas de fomento à pesquisa brasileira é o pagamento de bolsas!

    As bolsas, todavia, não são pagas de qualquer forma. Para recebê-las são necessários vários pré-requisitos! Por exemplo, o programa de pós-graduação precisa estar bem avaliado pela CAPES. Ou seja: publicar em revistas de qualidade, ter um corpo docente atuante na pesquisa, manter parcerias com outras instituições, possuir projetos de pesquisa aprovados em órgãos de fomento à pesquisa, etc.

    Além disso, cada docente precisa também manter publicações boas e em quantidades altas. Isto é, não é possível adquirir boas notas em um programa de pós-graduação se somente um docente publica muito e os outros não.

    Por fim, as pessoas que recebem bolsas foram aprovadas em um processo seletivo, com provas, entrevistas, escrita de projeto de pesquisa, análise de currículo, análise de renda e, também, análise das condições de atuar na vaga de pesquisa que se está pleiteando.

    As bolsas não são distribuídas aleatoriamente!

    Há um rigoroso processo de seleção para ganhar este pagamento. Lembrando, novamente, que após tudo isto, durante o tempo de trabalho o indivíduo não possui direitos trabalhistas básicos, como fundo de garantia, 13º, tempo de aposentadoria e férias… As bolsas CAPES, além disso, estão sem reajuste de valor há 10 anos.

    O investimento em ciência tem retorno para a sociedade?

    Primeiramente, é importante ressaltar que “investir em ciência” diz respeito a muita coisa. Existe seleção de projetos que contemplam compra e manutenção de recursos (equipamentos, insumos, materiais de laboratório, livros, pagamento de diárias para trabalho de campo e execução de serviços específicos e especializados, etc.). Neste caso, o orçamento é de agências de fomento (CAPES, CNPq, FAPESP, FAPERJ são alguns exemplos) ou das instituições (que podem ter verbas internas para financiar pesquisas, mas normalmente com um valor baixo).

    O espaço físico dos laboratórios em que são feitas as pesquisas; o salário dos cientistas, supervisores e orientadores que coordenam a pesquisa, é, principalmente, das universidades e das instituições de pesquisa (como museus, Embrapas e outros centros nacionais, ou estaduais, como o Instituto Butantan, por exemplo). Ou seja, o orçamento destinado ao espaço físico, salário e estrutura é, neste caso, das instituições.

    As bolsas, que são pagas (como já dissemos anteriormente) por agências de fomento majoritariamente, sustentam o trabalho dos pesquisadores orientados por estes cientistas nestes espaços.

    Dito isto, quanto nosso país investe em ciência?

    No Ministério da Ciência e Tecnologia, tivemos um orçamento de 11,6 bilhões de reais em 2013. Este valor teve uma drástica redução em 2016, passando para menos da metade deste valor, com 5,5 bilhões de reais. No ano de 2021, em plena pandemia, tivemos um valor de 1,85 bilhões de reais. Cerca de 16% do orçamento de 2013!!!

    Em 2021, tivemos a notícia de cortes no Fundo Nacional de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia (FNDCT). Este fundo, conforme diz a Revista FAPESP, é a “principal ferramenta de financiamento à pesquisa e à inovação do governo federal, ele é abastecido com receitas de segmentos da economia – como petróleo, energia, saúde, biotecnologia –, recolhidas para os Fundos Setoriais de Ciência e Tecnologia. Em abril, ao sancionar o orçamento de 2021, o governo manteve o bloqueio de parte expressiva dos valores do FNDCT, ignorando a lei aprovada pelo Congresso em 2020 que proibia novos contingenciamentos”.

    Os cortes na ciência não são recentes, nem poucos. O que muda neste momento?

    O que foi anunciado ontem, pela CAPES, é sobre o último corte, realizado através do Decreto n° 11.269, de 30 de novembro de 2022, assinado pelo Presidente Jair Bolsonaro e pelo Ministro da Economia Paulo Guedes.

    Neste comunicado oficial, a CAPES anuncia que o decreto inviabiliza o pagamento de 200 mil bolsistas e 14 mil residentes em todo o país. Além disso, afirma que a verba já estava empenhada, isto é: reservada para este pagamento.

    São 214 mil pessoas que ficarão sem o pagamento, pelo serviço executado no mês anterior, sem aviso em tempo hábil para que tomem qualquer providência e atitude. Tendo em vista os cortes orçamentários já executados em grande parte das universidades públicas, em especial as federais, torna-se inviável uma resolução de emergência para salvaguardar a sobrevivência destas pessoas, com dignidade, neste final de ano.

    Estamos vivendo um momento de extrema precarização propositalmente ordenada pelo executivo nacional. São trabalhadores que, durante a pandemia, seguiram produzindo conhecimento, atuando na linha de frente em hospitais, diagnósticos, pesquisa sobre os vírus, sobre a educação, sociedade, comunidades afetadas pela pandemia.

    Foram profissionais que, ao longo dos últimos anos, nunca se eximiram de atuar para que os efeitos da pandemia fossem o menor possível em todas as áreas de conhecimento. E, mesmo assim, sofrendo golpes, falta de reajustes e adversidades de maior ou menor risco individual e coletivo – seguiram produzindo conhecimento científico e tecnológico.

    Agora, o que vemos, é mais uma tentativa de jogar às trevas um grupo enorme de pessoas que já atuava, mesmo com uma qualificação imensa, de forma extremamente negligenciada, sem salários compatíveis com a realidade brasileira e sua formação especializada.

    Existe verba para pagar estas bolsas?

    A verba já estava empenhada – o que quer dizer que existia dinheiro reservado para isto. De qualquer forma, ao que tudo indica, temos dinheiro para enfrentar este pagamento, sem cair na Lei de Responsabilidade Fiscal. Faltaria, no caso, disposição para tanto, tal como pode ser lido aqui e aqui.

    Nosso posicionamento no Blogs Unicamp

    Viemos aqui, neste documento, ressaltar nosso apoio incondicional à ciência brasileira e ao serviço prestado, de extrema qualidade, por todos os bolsistas de pós-graduação deste país. Pessoas que não se eximem de suas tarefas e responsabilidades frente às adversidades, que têm lutado pela continuidade dos trabalhos dentro de centros de pesquisa e universidades, que vem atuando, mesmo com pagamentos que não garantem a subsistência de si próprios e de suas famílias.

    A ciência brasileira não vive de favor, não está pedindo por caridade: está pedindo seu valor justo de contribuição, frente a serviços prestados ao país e à população brasileira. A comunidade de divulgação científica, da qual fazemos parte com orgulho e admiração, não se eximirá de expressar todo o seu apoio e parceria nesta luta pela continuidade — e melhoria — de condições de trabalho dignos para nossos colegas.

    Onde estão os valores empenhados para o pagamento das bolsas CAPES?

    Até quando veremos a ciência brasileira sendo negligenciada, enquanto a desinformação toma postos de poder em nosso país?

    Juntos, pela ciência, pelos cientistas, por um país que acredita e luta por um espaço de justiça e vida digna, embasados pela produção científica nacional, nós do Blogs Unicamp, seguiremos.

    Equipe Editorial Blogs Unicamp

     

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    Andre Giles Doutorado em ecologia – Unicamp
    André Lengert Doutorando – Biologia Molecular UNIFESP
    André Roman Balbi UNICAMP
    Andrea de Souza Almeida Doutora na ECA USP
    Andrea Fonseca Pedagogia Univesp
    Andréa Hamminni Pires da Silva Avila Franquetto UENF
    Andréia Teixeira Doutoranda em Letras da PUC Minas
    Anelise Beneduzi da Silveira Bióloga, Dra genética e biologia molecular UFRGS
    Anna Palma Doutorado UFMG
    Anthony Jhoao Fasabi Flores UNICAMP
    Antonio Augusto Passos Videira Doutor em Filosofia/Universidade do Estado do Rio de Janeiro
    Antonio Miguel Professor universitário Unicamp
    ATILA HENRIQUE SILVA SOUZA CIENCIAS BIOLÓGICAS – UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
    Áurea Maria Guimarães Professora Doutora da Faculdade de Educação da Unicamp
    Beatriz Marinho Hörmanseder Bióloga, mestre em Geociências e doutoranda na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
    Bethina Stein Meatrado em andamento – UNICAMP
    Bianca Ninzoli Marques Jornalista Universidade Mackenzie
    Bruna Navarone Santos Doutoranda em Ensino em Biociências e Saúde (PPGEBS/IOC/Fiocruz)
    Bruno dos Santos Pedregosa UFRGS
    Caio Henrique Moura de Almeida Letras, UFMG
    Camila André Cazarin Universidade do Vale do Itajaí
    Camila Roberta da Silva Ribeiro Ciências biológicas -UENP
    Camille Bropp Cardoso UFPR/Unicamp
    Carina Maria Vela Ulian Doutoranda em Biologia Animal pela UFES (Universidade Federal do Espírito Santo)
    CARLA MARIA DA SILVA DIAZ Pós-graduação Unicamp
    Carlos Alexandre de Oliveira Latini Comunicação Social_Faculdade da Cidade ( RJ)
    Carlos Alfredo Joly Biólogo UNICAMP
    Carolina Frandsen Pereira da Costa ilustradora, doutora em biologia celular e estrutural pelo Instituto de Biologia – Unicamp.
    Caroline Brandao Teles Rodrigues Bióloga, Unicamp
    Carollina Martins de Paiva Ribeiro Doutoranda na Faculdade de Educação da UNICAMP
    Cesar Augusto Gomes Mestrando – Labjor/IEL/Unicamp.
    Cesar da Mota Marcondes Pereira Economia PUC-SP
    Cintia Carolina Aguilera Ramos UNICAMP
    Claudia Lemos Vovio Unifesp
    Cláudia Tavares Alves Professora substituta da UFSC
    Claudia Wanderley Pesquisadora Permanente do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência da UNICAMP
    Claudiana Viana Godoy Doutoranda em Geografia, UFPA
    Claudio Cavalcanti Muniz da Rocha IFCE – Tecnólogo em Hotelaria
    Cristiane Checchia Doutora em Letras / docente UNILA
    Cristiano Ruiz Engelke Cientista social FURG
    Cristiele de Almeida Vieira Ufrgs
    Cristine Nobre Nunes educação – UNICID
    Daniel da Silva Silveira Doutor em Educação em Ciências; Universidade Federal do Rio Grande – FURG
    Daniel dos Santos Unicamp/ Doutorado em Linguística Aplicada
    Daniel Martins de Souza Professor do Instituto de Biologia da Unicamp
    Daniela Gonçalves Mattar Arquiteta e tecnologista, CDS – UnB e MCTI
    Daniervelin Renata Marques Pereira doutorado, UFMG
    Davi de Castro Gomes Bacharel em Biotecnologia – Unicamp
    Dr. Eduardo Cardoso Braga Doutorado pela Unversidade Católica de São P|aulo (PUC/ SP). Mestrado em Filosofia pela Universidade de São Paulo – USP
    Edenilson de Sousa Mestrando em Biodiversidade e Conservação pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), Campus Floriano
    Eduardo Akio Sato Mestre em Física pelo Instituto de Física “Gleb Wataghin” – Unicamp. Divulgador de Ciências no Instituto Principia.
    Eduardo Miranda Professor do Instituto de Física da Unicamp
    Eliane Barbosa da Silvia Pós-doutorado, Ufal
    Eliézer Cândido Nascimento História IFG-CAMPUS GOIÂNIA
    Elizabeth Bilsland professora do Instituto de Biologia da Unicamp
    Ellen de Lima Souza UNIFESP
    Eloisa Antunes Maciel Doutoranda Uel
    Emerson Andrade Ferreira dos Santos Bacharel e Mestre em química pela Unicamp
    Emerson Cerqueira Ribeiro Universidade Federal do Recôncavo Baiano
    Erica Mariosa Moreira Carneiro Doutoranda em Ensino de Ciências e Matemática da Unicamp
    Eulália Vera Lúcia Fraga Leurquin UFC
    Evandra Grigoletto UFPE
    Evandro Noro Fernandes Ciências Econômicas Universidade Federal de Santa Maria
    Fabiana Gorricho Costa Mestre em Produção Vegetal (FCAV/UNESP) PROFESSORA DE CIÊNCIAS (ENSINO FUNDAMENTAL II)
    Fabiana Quoos Mayer Doutorado e UFRGS
    Fabrício Moreira Ferreira Universidade Federal de Uberlândia
    Fabrício Souza Campos Dr em Virologia, UFRGS
    Felipe Campelo PhD (Systems Science and Informatics, Hokkaido University); Professor Associado de Ciência da Computação, Aston University.
    Felipe Cassaro Frazatto Nivel superior, Unicamp
    Felipe de Carvalho Mattei Educação Puc Campinas
    Felipe Gustavo Dias Ciências Econômicas – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
    Felipe Mujica Doutorado – Universidade de São Paulo
    Fernanda de Araujo Silva Arquitetura e Urbanismo – PUC Campinas
    Fernanda Lopes de Figueiredo Biológa, doutoranda em Biologia Molecular e Morfofuncional Mo
    Fernanda Sueko ogawa Ciências biológicas – unesp/ Rio claro
    Fernando Bonin Okasaki Aluno de doutorado – Unicamp
    Fernando Luiz Fogliano posdoc Unesp
    Flavio Antonio Maës dos Santos Biólogo – UNICAMP
    Flávio da Costa Gonçalves Mestre em ciências (USP) – Traços Científicos
    Francisco De Arruda Machado IB – UFMT, Prof. Aposentado.
    Gabriel Gonçalves da Silva Graduação – Unicamp
    Gabriel Oliveira dos Santos Doutorando em Ciência da Computação
    Gabriela Aparecida Novaes Estudante de graduação da Unicamp
    Gabriela Brasci Berro Doutoranda em Ecologia, UNICAMP
    Gabriela Castellano física, IFGW/UNICAMP
    Geovanna Rosa Graduada em Direito pela PUCRS
    Giane Silva Higino Química – Doutoranda UNIFESP
    Gildo Girotto Junior Professor Doutor do Instituto de Química da Unicamp.
    Giovana Dantas Bióloga – IPVDF
    Guilherme Antonio Menezes Cereço Licenciarura em Ciências Biológicas – IB
    Guilherme do Val Toledo Prado Pedagogo/Unicamp
    Guilherme Francio Niederauer Superior Completo (Biologia) – UNICAMP
    Guilherme Gonçalves Costa Doutorando em Química do Instituto de Química da Unicamp
    Guilherme Taiyu Makiyama Senac Santo Amaro
    Gustavo Burin Ferreira Doutor em Ecologia pela USP. Posdoc no Museu de História Natural de Londres
    Gustavo Hiroaki Shimizu Biólogo/Unicamp
    Gustavo Shintate CIÊNCIAS DO MAR / UNIFESP
    Heitor Lopes Sartori Graduação em Biologia – UNICAMP
    Helcira Lima UFMG
    Helena Ansani Nogueira Mestranda em Divulgação Científica e Cultural (Labjor/IEL – Unicamp)
    Henrique Ims Bortolozo Educação física – Doutorado em Tocoginecologia FCM Unicamp
    Henrique Sá Earp Matemático | IMECC-Unicamp
    Hilário Fernandes de Araujo Júnior Estatística – Unicamp
    Humberto Ribeiro de Souza Mestre em Física pelo Instituto de Física São Carlos da USP
    Iara de Araujo Capucho Bióloga – UFES
    Iara Regina Fricke Matte Pos-doutorado – UFMG
    Inês Petrucci Livre Docente em Educação Escolar – UNICAMP
    Irene Rabelo Moreira Rodrigues Assistente Social Fac Anhanguera
    Isaac Negretto Schrarstzhaupt Professor/tutor no ICEPi/ES
    Isabel F C Bloise Letras PUCRS/ Biotecnologia IFRS / Toxicologia Analítica UFFCSPA.
    Isabela Viotto Conti Bacharel em biologia pela UNICAMP
    Ítalo Chaud Engenheiro Civil – Universidade de Franca
    Itamar Ferreira |Unicamp
    Ivana Elisa Fricke Matte Rebello Psicóloga – USP
    Ivana Lima Regis Psicóloga UFJF
    Jacqueline Leirner Bacharelado em Artes Plásticas
    Jara Lourenço da Fontoura PROFESSORA/FURG
    Jessica Patricia Soares Jornalista (Ulbra) e Mestre em Comunicação (UFRGS)
    Jhordan Silveira de Borba Mestrando em Física – UFRGS
    João Eduardo Levandoski Mestrando em Engenharia Química – Unicamp
    João Márcio Maciel da Silva Junior UFRJ
    João Victor Palermo Guimarães Gianecchini Graduado e mestrando em Direito pela Universidade de São Paulo
    João Vitor de Alcantara Viana Doutorando – Unicamp
    Joelso dos Santos Peralta Nutricionista e Doutorando no PPG Farmacologia e Terapêutica – UFRGS
    Joice Cruz Jatobá Biomédica pela Universidade Federal de Uberlândia
    Joice Ferreira de Queiroz Doutora UFMS
    Jórdan Fares Sampar Biomedicina e USP
    José Alexandre Gomes Marino Jornalista, formado na Universidade Católica de Minas Gerais
    José Batista de Barros UFPE
    José Felipe Teixeira da Silva Santos Licenciado em Ciências Biológicas – Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB-UNICAMP)
    Jose Luiz Proenca Modena Professor doutor, Instituto de Biologia, Unicamp
    José Marcos Dias Ferreira Júnior Licenciatura em Ciências Biológicas, UNICAMP/Instituto de Biologia
    Judil Marrupe UFSC
    Julia Coelho de Souza Doutorado interdisciplinar em Ciências Humanas/ Laboratório de Comercialização da Agricultura Familiar – UFSC
    Julia Dall’Anese Médica Veterinária, Universidade Federal do Paraná
    Juliana Cristina Monteiro Righetto Mestranda pela Universidade Estadual de Londrina
    Juliana de Souza Peçanha UFMS
    Juliana Klostermann Ziemmer Doutoranda em Biologia Vegetal – UNICAMP
    Juliana Rodriguez Camacho Mestranda em Ensino de Ciências e Matemática. IFGW- Unicamp
    Júnior Leandro Gonçalves Professor/Unifesp
    Karina Bruno Lima Mestre e bacharel em Geografia pela UFRGS
    Karla Saraiva Doutora em Educação – UFRGS
    Katia Morosov Alonso Doutora em Educação/UFMT
    Kayol Soares Mayer Doutorado em Engenharia Elétrica/UNICAMP
    Klaus Ramalho von Behr Doutorando CDS UnB
    Larissa Brussa Reis Doutora em Genética e Biologia Molecular, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
    Larissa da Silveira Verona Mestranda – Universidade Estadual de Campinas
    Laura Aguiar Leal Graduanda em Biologia Unicamp
    Laura Frata Bertazolli graduada pela Unicamp
    Laureci Ferreira da Silva Universidade Federal da Bahia
    Lavínia Schwantes Instituto de educação, FURG
    Layla Oliveira de Moraes Mestranda em Ensino de Ciências e Matemática – Unicamp e Técnica em Assuntos Educacionais – Unifesp.
    Leandro R. Tessler Professor IFGW – Unicamp
    Leandro Schlittler Doutorando Faculdade de Ciências Médicas Unicamp
    Leonardo Oliveira Doutorando em Ensino de Ciências e Matemática, UNICAMP
    Leticia Alexandre Estudante de graduação da Unicamp
    Liane Laars Clemente Arquitetura e Urbanismo – FAU UFRJ
    Lilian Cristina Gomes do Nascimento Fisioterapeuta, Dr em Promoção de Saúde. Unifran
    Lívia Okuda Santos Farmácia – Unicamp
    Lovaina Ribeiro Mestre UFSM
    Luana Lopes Amaral Doutora em Linguística e professora da UFMG
    Lucas Arantes Zanetti Doutorando em comunicação – UNESP
    Lucas Oliveira Maia Biólogo, doutor em Ciências Médicas (Unicamp), pós-doutorando Neurociências (UFRN)
    Lucia Carla Oliveira Santos Uesb
    Lucia Wong PPG LETRAS e TRADUÇÃO/FFLCH/USP
    Lucila Pesce Dra. Em Educação, PUC-SP
    Luís Fernando Tófoli professor da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp
    Luiz Bento Doutor em Ecologia – Fundação Cecierj
    Luiza Gabriella Dias de Araujo Superior – Unesp
    Magda de Abreu Vicente Furg
    Maíra de Oliveira Valadares Psicologia UNB
    Manolo Trindade Quintilhan Ecología, IB
    Manuela Serpeloni Mestranda – Universidade Estadual de Londrina
    Mara Regina Lemes De Sordi UNICAMP
    Marcela T. Miranda Doutoranda em Agricultura Tropical e Subtropical, IAC
    Marcelo A. Mori Biomédico, UNICAMP
    Marcelo Firer Professor, Imecc – Unicamp
    Marcelo Monge Egea Pesquisador de Pós-doutorado, Instituto de Biologia, UFU
    Márcia Aparecida Jacomini Unifesp
    Marcia Cançado Doutorado UFMG
    Márcia Rodrigues de Souza Mendonça Doutora em Linguística, Professora do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL-UNICAMP)
    Marcio Baldissera Cure Bel em Gestão Ambiental (UNIPAMPA), MSc em Ecologia (UFSC)
    Marco Aurélio R Vinolo USP
    Marcos Dhionatan Félix Agostinho Ciências Biológicas – UFMT
    Marcus Alexandre Nunes Doutor em Estatística – UFRN
    Marcus Vinicius de Oliveira Latini Médico Veterinário formado pela UFF
    Maria Auxiliadora da Silva Lobão Ciências Sociais – UFBA
    Maria Clara de Lacerda Werneck Matemática – PUC-Rio
    Maria Clara Hallal Doutorado em História – UFPEL
    Maria Clara Rodríguez Sosa Bióloga e mestranda do Programa de Ensino de Ciências e Matemática – UNICAMP
    Maria Cristina de Fátima Pires dos Santos Superior completo UFRJ
    Maria Cristina Ribeiro Colferai Gallinari Adm-
    Maria Dolores Fortes FORTES ALVES Doutorado PUCSP
    Maria Helena Silva Soares Doutora em Filosofia pela UERJ e professora substituta de Filosofia no IFRN Mossoró
    Maria José Mesquita Geologa, Unicamp
    Maria Luísa Neri Campos Ciências Biológicas (em formação) na Universidade Federal de Mato Grosso – Cuiabá
    Maria Luiza de Oliveira Doutoranda Pecim – PPG Multiunidades em Ensino de Ciências e Matemática
    Maria Silvia Viccari Gatti Presidente da Associação de Docentes da UNICAMP
    Mariana Seffrin Doutoranda em Ciências Humanas pelo PPGICH- UFSC
    Mariangela Baccili Zanotto Psicologia PUCCampinas – SP
    Marielle Cristina Schneider Ciências Biológicas, UFMT
    Marina Fontolan Doutora em Política Científica e Tecnológica, Universidade Estadual de Campinas (DPCT/Unicamp)
    Marta de Almeida Doutora História USP
    Marta de Souza Vieira Gestao de Cooperativas- UFNT
    Martin Pareja Professor – Instituto de Biologia UNICAMP
    Marx Oliveira Lima Doutor em Biotecnologia – UFPE
    Mateus Ramos Vendramini Graduação em Engenharia Mecatrônica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
    Mateus Rodrigues Mestrando em Geofísica/ Observatório Nacional
    Mauricio Garcia Geologia – UFPR
    Maurílio Bonora Junior Mestre e Doutorando em Genética e Biologia Molecular no Instituto de Biologia da Unicamp
    Mellanie Fontes Dutra Professora da escola de saúde da Unisinos
    Miguel Leonel dos Santos Gestão em Recursos humanos
    Monica De Bolle Senior Fellow, Peterson Institute for International Economics
    Monique Lima dos Santos Universidade federal de Alagoas
    Monique Maianne da Silva Doutoranda na Universidade de São Paulo
    Myllana Aguiar da Silva Lourenço Licenciada e Mestranda em Filosofia – UFMT
    Natália Canhete de Moraes Doutorado em Química – UFMS
    Nataly Vicente Ferreira UNIFESP
    Nicolly Salomão Ferreira Arquitetura e Urbanismo, Unicamp
    Norma Wucherpfennig Profa. Ma. CEL/ Unicamp
    Omar Dias Lacerda Ufms
    Pamella de Almeida Doutoranda em Linguística Aplicada na Unicamp
    Patrícia Cristiane Gibbert Graduanda de Medicina – UFMT Cuiabá
    Patrícia Maria da Silva Merlo UFES
    Patricia Votto Gomes pós graduação UFSC
    Paula Penedo P. de Carvalho Jornalista na Unicamp
    Paula Pereira Scherre Doutora em Educação. Universidade Estadual do Ceará
    Paula Valente Doutorado – PUC Rio
    Paulo Britto UFBA Engenharia
    Paulo Victor Fernandes Oliveira Bacharel em Relações Internacionais – Universidade Salvador (UNIFACS)
    Pedro Moraes Vieira Veterinário UNB
    Peter Stoltenborg Groenendyk Professor Doutor – Universidade Estadual de Campinas
    Phelipe Lins de Moura Educação Física, UFAL
    Priscila Faulhaber Barbosa UNICAMP
    Rafael Bento Soares Doutor em Biologia Molecular, Pesquisador no Grupo CEDiCiências/Unicamp
    Rafael de Oliveira Lattanzi Vaz Doutor – Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro)
    Rafael Francisco Alves Graduando em ciências sociais – Ufal
    Raphaella Fernandes Garcia Borges Bacharel em Arqueologia – Universidade Federal do Rio Grande
    Raquel Lima de Abreu-Aoki UFMG
    Rayssa Karla Silva dos Santos Ufal
    Regina Paula Matos Soares UFRJ
    Régis Moreira Ferreira Ecologia unesp
    Renata Cabrera Professora da UFMT
    Renata Silva Souza USP-ECA
    Renato de Andrade Fernandes Universidade Federal do Amazonas
    Ricardo Bruno Ajonas Rocha Bacharelado em quimica tecnologica – UFMS
    Rita Bueno 2 grau completo
    Rita de Cássia Grecco dos Santos Socióloga – FURG
    Roberta Lopes Drekener Química Industrial (UFSM), Mestre em Química (UFSM), Doutora em Ciências (Unicamp).
    Robson Assis Colares FEEC, Unicamp
    Rodrigo barbosa kloss Agronomia ufla/ botânica ufla/ ecofisiilogia vegetal ufmg
    Rodrigo Tenório Gomes Pereira Biólogo e Doutorando em Biologia Celular e Molecular Aplicada – Universidade de Pernambuco (UPE)
    Rômulo Leão Silva Neris Doutor em ciências – UFRJ
    Ronier Pauletto Gutierrez Graduando em Sistemas para Internet – UFSM
    Rosana Campos Publicitária- Faculdades Integradas Alcântara Machafo FIAM
    Rosana Matos de Morais Ciências biológicas Ufsm
    Rosangela Bernabé Mestre, Unicamp
    Roseana Avila Passos Mestranda em Educação em Ciências – FURG
    Rubens Koloski Chagas Ecologia – USP
    Rubens Pasa Professor Doutor, Universidade Federal de Viçosa, campus Rio Paranaíba.
    Sabrina Antunes Vieira Dra. Qualidade Ambiental Feevale
    samuel camilo da silva UEL
    Samuel Rocha Professor do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica, Unicamp
    Sandra Eliza Fontes de Avila Professora, Instituto de Computação, Unicamp
    Sandra Marcia Muxel Biomedica, Universidade Estadual de Londrina
    Sheila Salgado ERRJ
    Silvia Altoé Falqueto Bióloga, UFMT
    Silvia Fernanda de Mendonça Figueirôa Historiadora da Ciência/UNICAMP
    Sueli Mendonça Netto Doutora em Psicobiologia pela USP
    Tanise de Oliveira Flores Ciências Biológicas Licenciatura – FURG
    Tayna Mioni Nakamura Doutoranda em Ensino de Ciências e Matemática – IFGW / Unicamp
    Thais Aparecida Dibbern DPCT – Unicamp
    Thaís Fernanda Carvalho Bechir Letras – UFMG
    Thais Mamede Soares Mestranda em Desenvolvimento Sustentável – UnB
    Thais Ruchdeschel Enfermeira pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
    Thamara Ingrid Vitor da Silva Graduação em biologia na UFMT
    thayanepatusco@gmail.com Arqueologia UFRJ
    Thiago Lopes Araujo Mestre em Letras – USP
    Tomas Magalhães Torres Oliveira Granduando UFMG
    Vâner Lima Silva Doutorando em Educação – Universidade Cidade de São Paulo / Tecnólogo em Gestão Pública IFSP
    Vanessa Lee Psicóloga USP e UNIFESP
    Vânia Alves Martins Chaigar Doutora em Educação – Universidade Federal do Rio Grande – FURG
    Victor Guida Doutorando em Arqueologia pelo Museu Nacional/UFRJ
    Viridiana Simões Bueno Medica. FMUSP
    Vitória Aparecida Santos Ferreira Bacharelado em Matemática, UNICAMP
    Viviane Maria Heberle Profa. Titular UFSC
    Viviane Silva de Souza Doutoranda em Química pelo Instituto de química Unicamp
    Vivianne Lins Ebrahim Morcerf Mestra em Pesquisa na Área da Saúde. Ifal.
    Yngrid Almeida do Nascimento Ciências Biológicas – UNICAMP
    Yunelsy Nápoles Alvarez Doutora em Matemática-ime usp

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