Dicas de aulas, cursos e outras atividades para o isolamento social
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Desde achegada do Covid-19 no Brasilem 23 de Janeiro de 2020, o País vem adotando várias restrições para evitar a disseminação da doença. O maior problema da pandemia do novo coronavírus é a rapidez com a que ele se espalha, e isto nos coloca em uma situação incomum, a do isolamento social.
Distanciamento x Isolamento x Quarentena
O distanciamento social é recomendado a todos durante a pandemia. Neste caso ainda é possível sair de casa, desde que se evite aglomerações e mantenha uma distância de no mínimo um metro e meio entre as pessoas. O isolamento social é essencial para o combate à pandemia, em que o contato entre pessoas é restrito àquelas que moram em uma mesma casa, e o isolamento pessoal é indicado aos casos suspeitos. Já a quarentena é obrigatória para os casos confirmados de Covid-19 e deve durar 14 dias, exigindo maior cuidado de higiene para conter a disseminação da doença.
Mas, além do trabalho remoto e das aulas não presenciais (ensino à distância), o que podemos fazer para evitar o tédio durante o isolamento social?
Fonte da imagem: pixabay.com
Ampliando o conhecimento
O período dentro de casa pode contribuir para o crescimento de cada um, mas ninguém deve se sentir pressionado a fazer inúmeras atividades. A estratégia é identificar um objetivo e pensar sobre ele. O simples ato de pensar sobre o que se quer alcançar e como isso será alcançado já é uma atividade, por isso a reflexão é uma sugestão para os momentos como esses de quarentena.
Para aqueles que preferem um caminho traçado, uma maneira de se manter ocupado é a inscrição nos cursos online que várias plataformas estão disponibilizando gratuitamente. A começar pelas três maiores universidades paulistas. Para quem é mais interessado em difusão científica, a USP tem uma aula específica deTópicos de Pesquisa nas Ciências Contemporâneas. Para quem tem que tomar a decisão sobre qual carreira seguir, assistir às aulas pode ser uma ótima opção para conhecer melhor os cursos e ver com qual se identifica.
Caso você queira investir em um curso técnico ou de especialização, há também diversas opções! ACursos de Formaçãooferece cursos com certificados e muitas instituições, com por exemplo aRock Universitytêm disponibilizado cursos gratuitos em decorrência do cenário atual, e também Instituições como a Fundação Bradesco, Fundação Getúlio Vargas, Insper, SEBRAE, Senai, Unicamp, Unesp, Harvard, MIT, além de sites já conhecidos como edX e Coursera1.
Se você irá prestar algum vestibular em breve, a melhor indicação seria certamente a revisão do conteúdo de ensino médio. Existem muitos cursos online das principais matérias (Matemática, Física, Química, Geografia, História, Português), como aqueles divulgados na plataformaLearnCafe,Stoodiou por vídeo aulas disponibilizadas principalmente no YouTube.
Os alunos que estão estudando para o vestibular também possuem uma ótima oportunidade de se dedicar aos estudos, por exemplo, mediante o treinamento por simulados disponibilizados gratuitamente pelos cursinhos2-4. Fazer questões é a chave nos exames competitivos e é possível apenas separar uma meta: 20 questões por dia durante a semana, 10 no período da manhã e 10 no período da tarde, cada bloco de uma matéria diferente. Quando chegar o final de semana, já haverá uma primeira fase inteira do vestibular feita e treinada.
E, ainda, para os mais práticos, uma opção é se candidatar para um trabalho voluntário. A ONU, por exemplo, diariamente, abre inscrição paravoluntários remotos, em diversas áreas. Além de trabalhar para uma organização internacional, a maioria dessas atividades voluntárias é para empresas que desenvolvem um projeto social e para governos de outros países, promovendo uma conexão global que com certeza trará destaque ao currículo.
Atividades divertidas
Outra atividade muito interessante é visitar os maiores museus do mundo. Vários museus disponibilizaram a exploração virtual por meio de tour online5-7. Aqui no Brasil, por exemplo, oMuseu Casa de Portinaripermite a exploração de cada exposição e das obras de arte nele contidas, além de apresentar o processo de criação do artista Cândido Portinari, que retratou e expôs ao mundo a sociedade brasileira, com inspiração nos movimentos do cubismo e do surrealismo.
O museu de ciências da UNICAMP também está oferecendo lives e oficinas online no seu Instagram @mcunicamp. Um exemplo interessante é o vídeo de como construir um microscópio em casa. Assistam e tentem fazer!
O Duolingo é um aplicativo muito divertido, que oferece cursos de vários idiomas e tem umaversão gratuita. Outra opção é seguir contas no Instagram que oferecem algum tipo de conteúdo gratuito para línguas, como @voalearningenglish, @carinafragozo, @rhavicarneiro, @luisaensinaespanhol. No youtube também existem diversos canais com aulas gratuitas, como a @rachelenglish.
Atividades físicas em casa
Outra forma de passar o tempo em casa é fazendo exercícios físicos, que além de manterem a saúde do corpo, também ajudam com a saúde mental nesses tempos de afastamento social. Várias contas no Instagram apresentam diversos tipos de exercícios que podem ser feitos em casa, como yoga @angelicabanhara, meditação @zenappbrasil e pilates @vivi.pilates, ajudando o nosso corpo e mente a ficarem ativos.
Ainda no tema de saúde mental, o aplicativoVitalktem uma versão gratuita que nos ajuda na detecção de problemas de depressão e ansiedade.
Esperamos que tenham gostado das nossas dicas e coloquem nos comentários o que vocês têm feito para passar o tempo dentro de casa.
Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp.
Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.
Por Profa. Paula Dornhofer Paro Costa e Júlia Perassolli De Lázari (FEEC) Imagem COVID-19: Carol Frandsen
Pouco a pouco, um vocabulário que antes só fazia parte de filmes de ficção, foi se tornando realidade, invadindo nossas vidas sem pedir licença: coronavirus, COVID-19, pandemia, quarentena e, infelizmente, COLAPSO, palavra que nos trará dias dolorosos. Dias que não sairão de nossas memórias e que imprimirão cicatrizes profundas em muitas famílias.
A narrativa mais simples para se chegar ao colapso tem uma sequência clara:
É um fato que parte dos portadores de COVID-19 precisarão de tratamento intensivo, ou seja, leitos de UTI.
Também é um fato que existe um número finito de UTIs.
Se o número de casos confirmados se tornar tal que a porcentagem de casos que tipicamente necessitam de UTI se tornar maior que o número de leitos de UTI disponível, o colapso acontece.
Unidade de Terapia Intensiva (UTI): área crítica destinada à internação de pacientes graves, que requerem atenção profissional especializada de forma contínua, materiais específicos e tecnologias necessárias ao diagnóstico, monitorização e terapia. Fonte: Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, RESOLUÇÃO Nº 7, DE 24 DE FEVEREIRO DE 2010
Em poucas palavras, profissionais da saúde terão que decidir quem ocupará o leito e quem será fadado à falta de tratamento. Obviamente, os profissionais da saúde farão de tudo para minimizar essas escolhas à custa de horas extras e condições de trabalho não-ideiais e, infelizmente, muitos deles começarão a adoecer, agravando o colapso por falta de recursos humanos capacitados e em suas melhores condição de trabalho. Mais ou menos nesse ponto, as pessoas começarão a conhecer pelo menos uma pessoa que morreu de COVID-19 e os números deixarão de ser números para se tornarem “gente que você conhece”, com nome, sobrenome, esposa, marido, pai, mãe, filhos, netos.
Mas muitos talvez ainda se perguntem: já estamos no caminho do colapso? Quando ele acontecerá?
O colapso pode ser mais doloroso para alguns estados
O Brasil também é um país com grande desigualdades em sua infraestrutura de saúde. São Paulo, o epicentro da pandemia no Brasil, só não entrou em evidente colapso devido à sua avantajada proporção de leitos de UTI/habitante, comparável a países de primeiro mundo. Essa situação é similar para outros estados do Sudeste e Sul (Tabela 1).
No entanto, o mesmo não acontece para outros estados brasileiros, em particular da região Norte. Um número inferior de casos confirmados pode levar a região rapidamente para o colapso (Tabela 2).
Estado
Leitos de UTI Adulto SUS
Leitos de UTI Adulto Privados
São Paulo
4071
5349
Rio de Janeiro
1379
3084
Minas Gerais
2309
1218
Paraná
1471
876
Rio Grande do Sul
1267
673
Tabela 1 – Estados Brasileiros que têm maior disponibilidade de leitos de UTI (Fonte: DATASUS-02/2020, foram considerados leitos adultos (UTI1,UTI2, UTI3), coronarianos (2 e 3) e de isolamento.
Estado
Leitos de UTI Adulto SUS
Leitos de UTI Adulto Privados
Rondônia
182
82
Tocantins
90
62
Acre
64
15
Amapá
33
35
Roraima
43
8
Tabela 2 – Estados Brasileiros com menor disponibilidade de leitos de UTI (Fonte: DATASUS-02/2020, foram considerados leitos adultos (UTI1,UTI2, UTI3), coronarianos (2 e 3) e de isolamento.
Estamos longe do colapso?
A resposta é: infelizmente NÃO.
Justifica-se então as notícias da construção de hospitais de campanha por todo o país.
Os gráficos abaixo mostram que estados brasileiros do Norte e Nordeste serão os primeiros a entrarem em colapso, possivelmente já nas próximas semanas. Para estes estados, as ações de isolamento social parecem ser essenciais para “ganhar tempo”.
Para realizar essas projeções, foram considerados os seguintes aspectos:
Foram considerados as capacidades de leitos de UTI para adultos reportados pelo DATASUS incluindo UTI-a Tipo II, Tipo III, UCO Tipo II e Tipo III e Unidade de Isolamento conforme definições no anexo da Portaria N° 895 do Ministério da Saúde de 31 de março de 2017. Neste caso, assumindo uma posição otimista, partindo do pressuposto que determinados leitos de UTI adultos voltados, por exemplo, para doenças coronarianas, podem ser revertidos em leitos para pacientes da COVID-19.
Partiu-se da hipótese razoável de que muitos dos leitos de UTI disponíveis nos estados já estavam ocupados antes da crise global da COVID-19. Baseamo-nos na cobertura da imprensa, considerando o pior caso, no qual apenas 22% da infraestrutura disponível está vaga. “Coronavírus: leitos de UTI têm mais de 70% de ocupação em 17 estados”, O Globo, Março, 2020, último acesso 04/04/2020
Finalmente, consideramos a distribuição das faixas etárias brasileiras para estimar a porcentagem de internações de UTI no Brasil em aproximadamente 1,44%. Veja como chegamos nesse valor AQUI.
Esperar pelo melhor, preparar-se para o pior
Neste momento, inúmeros pesquisadores trabalham em modelos matemáticos para tentar prever a evolução da pandemia no Brasil e no mundo. Tais modelos são ferramentas essenciais para que tomadores de decisão possam decidir quando, onde e como agirem para diminuírem os impactos de uma doença que se alastra rapidamente.
Nossas projeções assumem cenários pessimistas: uma evolução exponencial da doença e uma baixa disponibilidade de leitos de UTI. Esperamos que estes cenários não se concretizem, mas parece ser prudente olhar com atenção para estes estados brasileiros.
Uma descrição detalhada da análise de dados que gerou os gráficos deste artigo pode ser encontrada aqui. Este trabalho é o resultado de uma força tarefa de alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC), do Instituto de Computação (IC) e Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (IMECC) e Faculdade de Ciências Médicas (FCM). A força tarefa também conta com a parceria do Prof. Dalton Martins, da Faculdade de Ciência da Informação (FCI) da Universidade de Brasília (UnB).
Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp.
Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.
Primeiro, é importante ter em mente que ainda não temos evidências científicas de que as máscaras caseiras de pano são efetivas para proteger os indivíduos saudáveis contra a SARS-CoV-2. O mais importante é o mantra Uma mão lava a outra (com água e sabão), limpar as superfícies e o isolamento social (físico).
“Além de eficiente, é um equipamento simples, que não exige grande complexidade na sua produção e pode ser um grande aliado no combate à propagação do coronavírus no Brasil, protegendo você e outras pessoas ao seu redor.” Ministério da Saúde. Acesso em 5 Abr. 2020.
Mas de que tipo de proteção eles devem estar falando? Para entender um pouco mais vamos começar sobre as formas de manifestação ou não do vírus.
Sintomáticos e assintomáticos
Um pessoa infectada pelo SARS-CoV-2 pode não apresentar sintomas, ou seja, ser assintomática ou apresentar sintomas, que podem ser leves, parecidos com a de uma gripe, ou mais severos e que precisam de atendimento imediato.
Até o momento a Organização Mundial de Saúde NÃO RECOMENDA o uso de máscaras por pessoas que não tenham os sintomas. A exceção é o uso por pessoas que estejam cuidando de outras que possam estar com COVID-19. Além disso, a OMS não faz menção ao uso de máscaras caseiras e deixa claro que as máscaras descartáveis só devem ser usadas uma vez e dispensadas.
Ainda de acordo com a OMS, o uso de máscaras sozinho não previne a propagação da COVID-19. Deve-se ficar atento às recomendações sobre higienização das mãos por meio de água e sabão ou álcool gel 70% e de superfícies. Aliados ao isolamento social (físico), essas medidas tem se mostrado as mais eficazes para romper a propagação da doença.
Uma máscara de qualquer material serve?
Não. Nem todo o material pode ser usado na confecção de máscaras no combate ao SARS-CoV-2. O vírus SARS-CoV-2 (severe acute respiratory syndrome coronavirus 2) que causa a doença COVID-19 tem tamanho que varia entre 70 a 90 nm.
Para se ter uma ideia, as réguas escolares são divididas em centímetros com 10 divisões menores, que são de 10 em 10 milímetros. O vírus é 900.000 menor do que 1 milímetro. Invisível a olho nu. Como ele viaja em partículas/gotículas e possivelmente em (bio)aerossóis o conjunto aumenta um pouco de tamanho, mas ainda continua em uma escala imperceptível aos nossos olhos.
Legenda: A imagem feita por meio de uma técnica chamada de microscopia eletrônica de transmissão mostra o SARS-CoV-2. Credito: NIAID-RML
Recentemente, em um canal no YouTube, surgiu a sugestão de uma máscara feita a partir de plástico e papel filtro de café. Você já olhou o papel filtro de perto? Nós conseguimos ver os furinhos a olho nú!
As máscaras usadas como Equipamento de Proteção Individual (EPI) são regulamentadas e servem como um filtro, impedindo que algumas partículas passem e outras não. Mas cuidado! Existem vários tipos de máscaras, cada uma para um fim específico. Veja o post Máscaras caseiras são eficientes contra o coronavírus?em que abordamos aspectos históricos sobre a confecção de máscaras caseiras.
Um estudo publicado no dia 4 de Abril, comparou as máscaras cirúrgicas e a N95 usada por profissionais de saúde e avaliou seu possível uso para a proteção contra SARS-CoV-2. O estudo mostrou que eles não são similares. Elas não são capazes de proteger contra os aerossóis expelidos pelos pacientes e mesmo na proteção contra gotículas, que são maiores do que os aerossóis, as máscaras apresentam “baixa evidência de efetividade”.
NÃO protege adequadamente o usuário de patologias transmitidas por aerossóis (veja alguns exemplos no Quadro 2), pois, independentemente de sua capacidade de filtração, a vedação no rosto é precária neste tipo de máscara;
NÃO é um EPR”. Agência Nacional de Vigilância Saninária. Acesso em 5 Abr. 2019
EPR é a sigla para Equipamento de Proteção Respiratória, isso quer dizer que a máscara cirúrgica não garante que uma pessoa saudável possa ser contaminada por alguns tipos de patógenos, como o SARS-CoV-2.
Mas se ela não protege, por que ela tem sido indicada para pessoas com sintomas da COVID-19? Porque ela funciona como uma barreira mecânica, diminuindo a dispersão do SARS-CoV-2 no ambiente. Um efeito parecido com o tossir no cotovelo e ou sobre um papel (lembre-se de jogar fora e lavar as mãos depois).
Como a máscara médica descartável funciona? Ela impede que as gotículas do espirro ou tosse voem longe, diminuindo a contaminação do ambiente.
Vídeo da página Nunca Vi um Cientista
Existem dois principais motivos para não se recomendar a compra/uso de máscara cirúrgica por pessoas que não apresentam sintomas:
1.Não há evidência de que elas podem proteger uma pessoa saudável de contrair o vírus SARS-CoV-2 e
2.A diminuição da disponibilidade de máscaras em situações que realmente são necessárias, ou seja, por profissionais da saúde.
Uma pessoa saudável usando uma máscara cirúrgica não tem garantia de que ela está protegida contra a COVID-19, o mesmo se aplica ao uso de máscara caseira feita de pano.
Um comentário publicado no jornal The Lancet sobre o uso racional de máscaras durante a pandemia por COVID-19 traz uma observação importante: “there is an essential distinction between absence of evidence and evidence of absence”. Ou seja, há uma distinção essencial entre a ausência de evidência e a evidência da ausência, isto é, ainda são muito pequenas as evidências de que o uso de máscaras possa permitir uma proteção contra essa infecção respiratória.
Quando devo usar uma máscara?
O consenso científico é que as pessoas devem cobrir tosses e espirros e usar máscaras caso estejam doentes. As máscaras cirúrgicas descartáveis usadas pelos SINTOMÁTICOS ajudam a diminuir a propagação do vírus no ar por reter gotículas de água.
Mas e para as pessoas que estão com sintomas leves? O uso de máscaras cirúrgicas é recomendado quando na presença de outras pessoas, mas lembre-se de que elas não devem ser reutilizadas e só podem ser usadas por no máximo 3 horas. Além disso é importante fazer o descarte adequado das máscaras cirúrgicas.
E os assintomáticos? Os estudos mostram que as pessoas assintomáticas podem transmitir o vírus a outras pessoas que podem desenvolver sintomas.
Um estudo mostrou que no grupo de japoneses que foram evacuados de Wuhan para o Japão, havia cerca de 30.8% de assintomáticos. Isso significa que uma pessoa com a aparência saudável pode ser portadora do vírus.
Outras estimativas, em estudos com grupos diferentes, mostram porcentagens diferentes. É bom lembrar que essas porcentagens estão em relação a um grupo infectado/testado e não a população geral.
Na China, das 72.314 pessoas examinados até 11 de Fevereiro, 61,8% testaram positivo e deles, apenas 1.2% se mostraram assintomáticos.
Liu e Zhang afirmaram que o uso de máscara por uma pessoa infectada com sintomas leves foi capaz de garantir que outras não fossem infectadas. Mas e as que ainda não desenvolveram os sintomas, as pré-sintomáticas que podem começar a ter sintomas após o 3 ao 14 dia após a infecção? E as pessoas assintomáticas? Será que o uso de máscaras é efetivo?
Em uma carta publicada no The National Academies of Science, Engineering and Medicine, o médico e chefe do Emerging Infectious Diseases and 21st Century Health Threats, Harvey V. Fineberg, reportou que alguns estudos encontraram a presença do vírus a partir de (bio)aerossóis expelidos na respiração normal e ao falar por pacientes com SARS-CoV-2, indicando uma POSSÍVEL rota de contaminação. De acordo com uma publicação da Science, nem todos os especialistas concordam com a transmissão por essa via, assim como especialistas da Organização Mundial de Saúde que apontam que, até aquele momento, dos 75.000 casos que haviam sido reportados na China, nenhum deles resultou de uma infecção a partir dessa rota.
A carta escrita por Fineberg cita um outro trabalho que mostra que o uso de máscaras cirúrgicas por crianças e adultos com doença respiratória aguda reduzem a proporção de um outro vírus da família do coronavírus (outro que não o SARS-CoV-2) nas gotículas e aerossóis liberados do outro lado da máscara. Outro artigo, publicado na Nature, mostrou que o uso de máscaras cirúrgicas por pessoas sintomáticas reduz a quantidade de vírus expelido pelos pacientes com coronavírus. No entanto, ainda não há comprovação científica de que o uso de máscaras proteja indivíduos saudáveis.
E as máscaras caseiras de pano? Não há um conjunto de evidências científicas que provem a eficácia do uso de máscaras caseiras como forma de prevenção de um indivíduo saudável contrair o SARS-CoV-2. Há especulações de que as máscaras de pano usadas por pessoas infectadas possam funcionar como uma barreira mecânica, impedindo a ampla dispersão do vírus, mas os estudos ainda apontam a necessidade de mais estudos científicos.
Na última sexta-feira, dia 3 de Abril, o Centro de Controle e Prevenção Doenças (CDC) dos Estados Unidos reviu a sua posição e passaram a indicar o uso de máscaras ou proteção de tecido no rosto em locais públicos. De acordo com o CDC, a recomendação do uso de máscaras de pano está relacionado à preocupação com a transmissão do vírus por pessoas assintomáticas ou pré-sintomáticas.
Mas e se você decidir usar uma máscara caseira de pano?
É importante [nós diríamos que é FUNDAMENTAL] ter alguns cuidados para que ela não cause mais mal do que bem. Ou seja, ela pode ser uma fonte de contaminação se não tomados os cuidados necessários, como evitar tocar a máscara durante o tempo de uso para não contaminar as mãos. Também é necessário que após o uso sua máscara seja lavada de maneira adequada.
Bartoszko, JJ et al. Medical Masks vs N95 Respirators for Preventing COVID‐19 in Health Care Workers A Systematic Review and Meta‐Analysis of Randomized Trials. Influenza and other Respiratory Viroses. Wiley (2020). Disponível em <https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/irv.12745>. Acesso em 5 de Abr. 2020.
Day, M. Covid-19: identifying and isolating asymptomatic people helped eliminate virus in Italian village (2020). BJM. Disponível em <https://www.bmj.com/content/368/bmj.m1165.long>. Acesso em 6 Abr. 2020
Fineberg, HV. Rapid Expert Consultation on the Possibility of Bioaerosol Spread of SARS-CoV-2 for the COVID-19 Pandemic (2020). The National Academies of Science, Engineering and Medicine. Disponível em <https://www.nap.edu/read/25769/chapter/1>. Acesso em 6 Abr. 2020.
Leung, N.H.L. et al. Respiratory virus shedding in exhaled breath and efficacy of face masks. Nature Med (2020). Disponível em <https://www.nature.com/articles/s41591-020-0843-2>. Acesso em 5 Abr. 2020
Lu, S. et al. Alert for non‐respiratory symptoms of Coronavirus Disease 2019 (COVID‐19) patients in epidemic period: A case report of familial cluster with three asymptomatic COVID‐19 patients. Journal of Medical Virology. Disponível <https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/jmv.25776>. Acesso em 5 de Abr. 2020.
Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp.
Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.
Enquanto a Covid-19 faz milhares de vítimas fatais pelo mundo e as autoridades em saúde pública orientam o isolamento social como método mais eficaz de contenção de sua disseminação, parte da sociedade assiste, estarrecida, ao discurso de políticos que seguem negando os fatos com foco na recuperação da economia, mesmo ao custo de “algumas” vidas. Veiculados como gesto em prol do trabalhador, conceitos formulados por Noam Chomsky e Antonio Gramsci mostram que o discurso negacionista tem outros beneficiários.
O fenômeno do negacionismo não é novo, remonta aos anos 1940, em que se tentou provar a ausência de culpa da Alemanha pela Segunda Guerra Mundial. Isso se fez a partir da banalização, justificativa ou mesmo negação da existência dos campos de extermínio e do holocausto. Em síntese, da defesa e da reabilitação de Adolf Hitler (MORAES, 2004:757). Apesar de se autodenominarem “revisionistas históricos”, os negacionistas nada têm de revisores, uma vez que a revisão histórica se dá diante de novas evidências ou de novas questões que se colocam. Já os negacionistas estão preocupados em negar as evidências, sem apresentar algum fato que o permita fazê-lo.
Sob uma perspectiva psicológica, o jornalista Michael Specter, explica que, para todos nós que já estivemos diante de verdades dolorosas, a negação parece ser a única forma de lidar com elas. Specter afirma também que nessas circunstâncias os fatos, por mais detalhados ou irrefutáveis, raramente fazem diferença. Assim, para o escritor americano, o Negacionismo “é negação em larga escala – quando um segmento inteiro da sociedade, muitas vezes lutando com o trauma da mudança, se afasta da realidade em favor de uma mentira mais confortável” (SPECTER, 2009).
Dessa forma, temos duas vertentes de negacionistas: os históricos, que negam o Holocausto, e os científicos, dentre os quais estão os climáticos (que negam o Aquecimento Global), os terraplanistas (que negam as evidências de um planeta aproximadamente esférico) e até os da AIDS (que negam, acreditem, o vírus HIV ser o causador da síndrome). Sem falar nos movimentos de design inteligente, antivacinas, e outros tantos que ganharam força com o advento da internet e das redes sociais.
Para estabelecer a relação deles com a Economia vamos relembrar um filósofo (por coincidência) italiano chamado Antonio Gramsci (1891-1937) que elaborou os conceitos de Bloco Histórico, Hegemonia, e Bloco Ideológico. Para ele, o Bloco Histórico de um sistema é composto por uma Estrutura socioeconômica, relacionada às forças produtivas, e por uma Superestrutura de natureza político-ideológica. Deduz-se que as grandes corporações do setor privado atuam na estrutura do bloco, formando a classe dirigente fundamental e os políticos e os intelectuais atuam na superestrutura. Para que uma classe dirigente em minoria consiga subordinar uma maioria é necessário que estes tenham um comportamento social adequado à necessidade produtiva daqueles.
Esse comportamento pode ser conseguido por meio da força (a coerção é sempre latente, mas não desejável) e do consentimento. Na maioria das vezes, a hegemonia é suficiente para assegurar o comportamento social esperado (Cox, 1993:52). Por isso, a atuação do o Bloco Ideológico é tão importante, pois, formado pelos intelectuais orgânicos e atuando na superestrutura, ele vai impregnar na sociedade os valores culturais necessários para que os dominados sigam consentindo essa dominação. Ou como explicou o dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-1956) no texto Se Os Tubarões Fossem Homens: “Se os tubarões fossem homens (…) Se cismaria nos peixes pequenos que esse futuro / Só estaria garantido se aprendessem a obediência”. (BRECHT, 2018)
E qual a relação disso com a atual negação da letalidade da Covid-19 por políticos?
O Bloco Histórico vigente é o sistema capitalista neoliberal. Segundo Noam Chomsky (2017), o triunfo ideológico das “doutrinas de livre mercado” possibilita que decisões políticas se traduzam em polpudos lucros pagos a altos executivos e suas empresas. Na prática, as grandes empresas que têm grande poderio econômico, financiam campanhas eleitorais de atores políticos, de diferentes espectros ideológicos (diga-se). Isso, para que eles, uma vez eleitos e legitimados pelo voto popular (embora tenham prometido trabalhar em favor deste), possam ser representantes dos interesses dessas empresas, passando a legislar a seu favor, aqueles a que Chomsky vai chamar de “servos do capital privado”. Dessa forma, elas vão acumular ainda mais lucros e concentrar ainda mais renda, fechando o círculo.
Assim, à medida em que a Covid-19 afeta a Economia, informações para minimizar esse impacto passam a ser produzidas e disseminadas pelo Bloco Ideológico (Blogs, sites, perfis de redes sociais, influenciadores) e pelos simpatizantes do sistema vigente. Então, não é difícil encontrar nos meios de comunicação dos apoiadores do atual governo mais e mais teorias da conspiração negando a letalidade do vírus e, mais recentemente, ao se depararem com a realidade das mortes, passaram a negar sua causa.
Entendidos esses aspectos, a frase do atual Presidente da República do Brasil “Vão morrer alguns, do vírus? Sim, vão morrer (…) Lamento. Tá? Agora não podemos criar esse clima todo que está aí. Prejudica a economia!” suscita uma interpretação diversa daquela que inicialmente seu emissor pretendeu transmitir.
O Brasil não pode parar, sobretudo quando o interesse do grande capital está em jogo. Se todos vão morrer um dia, que seja indo alegres “para as goelas dos tubarões”.
Bibliografia
BRECHT, Bertolt. Se os tubarões fossem homens. Olho de Vidro, 2018.
CHOMSKY, Noam. Quem manda no mundo?, São Paulo, Planeta. 2017.
COX, Robert W. Gramsci, hegemony and international relations: an essay in method. Cambridge Studies in International Relations, Cambridge, Cambridge University Press, v. 26, p. 49-66, 1993. Disponívelç em <encurtador.com.br/lFX78> Acesso em 28 mar. 2020
GASTALDI, Fernanda C. Gramsci e o negacionismo climático estadunidense: a construção do discurso hegemônico no Antropoceno. Revista Neiba, Cadernos Argentina Brasil, v. 7, n. 1, 2018. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/neiba/article/view/39247 Acesso em 28 mar. 202
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere, v. 2 — Antonio Gramsci: os intelectuais. O princípio educativo. Jornalismo. Ed. e trad. de Carlos N, Coutinho. Coed. de Luiz S. Henriques e Marco A. Nogueira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000
MORAES, Luís E. S. “O Revisionismo Negacionista” In: SANTOS, Ricardo Pinto dos (org.) Enciclopédias de Guerras e Revoluções do século XX. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
SPECTER, Michael. Denialism: How irrational thinking harms the Planet and threatens our lives. Penguin, 2009.
Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp.
Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.
Em tempos como os que temos vivenciado agora, é comum montarmos redes de apoio às instituições como hospitais, centros de saúde e de pesquisa, instâncias de distribuição de alimentos e roupas à comunidades desabastecidas e em fragilidade social. Tudo isto não só é válido, mas é fundamental, pois mesmo quando o poder público é organizado e tem ações efetivas, as emergências nos tempos de calamidade são demasiadas.
No entanto, também é tempo de termos cuidado redobrado com golpes que se apresentam cotidianamente nas redes sociais, em especial em compartilhamentos em mensagens instantâneas, como grupos de WhatsApp, por exemplo.
Assim, alguns cuidados específicos em relação às doações para a unicamp são fundamentais:
Desconfie de pedidos de depósitos em que a pessoa jurídica não seja diretamente a UNICAMP ou o Hospital de Clínicas da Unicamp;
Confira todas as informações da mensagem: a quanto tempo as associações e fundações que estão pedindo ajuda existem? O CNPJ delas confere? É relacionado ao que está dizendo ser, na carta ou mensagem recebida? Existe rede social desta instituição? Existe informações precisas, nomes dos envolvidos? No site da Unicamp e do Hospital de Clínicas estas informações também estão presentes nos canais de ajuda?
Confira sempre e toda a vez o site da Unicamp e do Hospital de Clínicas para ter certeza absoluta que esta parceria existe;
Todos os sites têm especificações que nos ajudam a rastrear falsidades. Todas as informações da unicamp estão em endereços dentro do domínio “unicamp.br”, sempre verifique esse detalhe no seu navegador. O Hospital, por exemplo tem como endereço na internet: https://www.hc.unicamp.br o Blogs de Ciência da Unicamp, que é outro portal que tem apresentado notícias e informações sobre o covid, também apresenta o mesmo domínio: https://www.blogs.unicamp.br e https://www.blogs.unicamp.br/covid-19
Em outras universidades e hospitais públicos também você deve ter o mesmo cuidado! Especialmente em um período como este, os golpes estão proliferando nas redes sociais e nem todo golpe é simples de identificar! Sempre procure os canais oficiais de comunicação das instituições que você gostaria de auxiliar, é mais seguro e eficiente.
Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp.
Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.
Szachna Eliasz Cynamon (1955-2007), um dos maiores sanitaristas e pesquisadores da Fiocruz, em 1990 afirmou que “solidariedade à saúde tem de ser para todos. É um aforisma tecnicamente provado que ‘sem a saúde do vizinho, a tua corre risco’”.
Temos visto muitas recomendações e indicações de cuidados próprios. Lavar as mãos o mais frequente possível, não passar a mão no rosto (boca, nariz, olhos…), tapar boca e nariz ao espirrar, passar álcool gel nas mãos, dentre outras prescrições.
#fiqueemcasa
A recomendação mais contundente de todas têm sido, entretanto, o “fique em casa”. Prescrição difícil de seguir em um país como o Brasil, aquele clássico clichê (não menos verdade por isso), “um país de dimensão continental”. Um país com o povo acostumado à rua, ao sol, às lidas diárias no campo, aos transportes públicos abarrotados nos centros urbanos, às praias no litoral, aos bares ao fim de tarde, o chimarrão na calçada com vizinhos, almoços coletivos aos finais de semana, conversas aleatórias com desconhecidos em filas de bancos e padarias… Em suma, uma vida de intensa interação social, com muitos trabalhos que não podem deixar de serem feitos… E agora? Como se cumpre isso em um país como o nosso?
Temos publicado aqui no blogs, assim como temos visto em diversos outros espaços de jornalismo científico e divulgação científica, inúmeros materiais sobre cuidado de si e informações que nos possibilitam compreender melhor o que é o vírus e como ele se dissemina.
Uma das grandes dificuldades em tempos de pandemia é filtrarmos informações, não cairmos na tentação de nos agarrarmos em promessas de curas rápidas e discursos sedutores de que tudo vai melhorar ali, logo após a curva.
São montantes de informações que vocês (e nós), leitores e consumidores de notícias, recebem diariamente. E são vários e vários artigos e relatórios científicos publicados também apressadamente para ampliarmos a rede de debate e compreensão da doença e de como combatê-la.
Veja, a informação deve ser filtrada (seja nos grupos de whatsapp, lives com especialistas, jornais televisionados, em rádios, seja de youtubers e, até, dos blogs de ciência, óbvio!) de modo a gerar uma eficiência em nossa vida. Como assim? Que eu compreenda a doença e os cuidados necessários para mim e quem está próximo, mas que não potencialize a ansiedade de cada um de nós (para saber mais sobre excesso de informações, pode ler aqui).
E as implicações sobre as informações não se restringem à “biologia” da doença. Cada fala nossa diz respeito a vidas humanas, com complexidades que, quando em nosso âmbito privado, falam de todos e de ninguém ao mesmo tempo. Dizemos isto pois números, definitivamente, não são e não representam as pessoas. Mas falam das suas vidas, seus adoecimentos e suas mortes.
Sobre a solidariedade…
Ser solidário é, dentre outras coisas, compreender que não somos nós, individualmente, que a doença atinge. Cuidar da saúde dos outros é cuidar da nossa, como disse Cynamon em 1990. Ademais, a máxima “conhecer para governar” nunca fez tanto sentido. Não é possível governar com base em opiniões pessoais. É preciso debate com decisões rápidas sim, com corpo técnico, com grupos e redes de consultas e conhecimento acumulado também, para uma decisão que vise ao bem de todos e não de pequenas parcelas.
O isolamento social, por exemplo, é historicamente uma ação prática e efetiva em doenças em que o contágio se dá pelo toque entre pessoas (já falamos disso aqui). É, à primeira vista, prejudicial socialmente e economicamente, mas salva vidas na prática imediata. Viabiliza que contenhamos o espalhamento da doença, enquanto ganhamos tempo para compreendê-la melhor e aprimoremos os modelos epidemiológicos já existentes para pandemias e epidemias anteriores.
Há exemplos de silenciamento dos casos e de não disponibilizar informações seguras à população que pioraram, e muito, o quadro de adoecimento em epidemias que poderiam ter matado menos pessoas (como o caso da epidemia de meningite no Brasil, entre 1971 e 1975). Há modelos sendo pensados, a partir de negligências e acertos sobre a pandemia da gripe espanhola, em 1918.
Nenhum destes modelos fará com que vidas parem de serem exterminadas pelo SARS-Covid-2, causador da Covid-19. Mas nos possibilita olhar comportamentos que potencializaram ou minimizaram perdas. Semana passada, por exemplo, tivemos a notícia do auxílio emergencial (aprovado hoje, dia 30/03, no Senado Federal). Também emergem no país diversas ações solidárias para bairros e populações com menor condição financeira para manterem-se neste período de isolamento.
E aí? O que fazer de tudo isto?
Ao fim e ao cabo, nossa fala não diz respeito a tirar esperança das pessoas com números mais ou menos assustadores. Mas mostrar que não há milagre, fora a teimosia cotidiana de seguirmos vivos.
Nesta semana que passou, ouvimos relatos de São Paulo – a maior capital brasileira e o maior epicentro do coronavírus, esvaziar e encher – mesmo sem lotar – de gente novamente (como nas fotos abaixo da rua São Bento, destacando para o dia 27/03, após discurso público minimizando a importância da quarentena).
Fotos de arquivo pessoal de alguém que (ainda) não foi liberado de seu trabalho, tiradas no mesmo ponto da rua São Bento (Centro Histórico, São Paulo/SP), entre os dias 23 e 30 de Março de 2020.
Reiteramos, aqui, nossa crítica a qualquer fala que amenize a gravidade da situação e proporcione um aumento da circulação de pessoas às ruas. Afirmamos, assim, que a solidariedade, a que nos remete Cynamon, se faz debatendo ciência – questionando-a também (visto que é com questionamento que avançamos e este é o pressuposto mais básico e fundamental da ciência). Solidariedade se faz combatendo “milagres que curam” (mas não curam nada) e vãs esperanças, notícias falsas e opiniões fraudulentas. Solidariedade se faz, por fim, ficando em casa também, batalhando para poder ficar e cobrando (inclusive de órgãos competentes e do poder público) para que possamos ficar, possibilitando uma diminuição do contágio.
FOUCAULT, Michel. (2002). Em defesa da Sociedade. São Paulo: Martins Fontes.
___. (2008). Segurança, Território e População. São Paulo: Martins Fontes.
GENSINI, Gian Franco; YACOUB, Magdi H.; CONTI, Andrea A. (2004). The concept of quarantine in history: from plague to SARS. Journal of Infection. 49(4), 257-261. https://doi.org/10.1016/j.jinf.2004.03.002
Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp.
Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.
O que é o vírus, como ocorre a sua disseminação e por quê devemos mudar nossos hábitos para combatê-lo
Tempo de leitura: 3 min
O que é um vírus?
O vírus é formado por uma cápsula de proteínas contendo material genético e que é capaz de se multiplicar dentro das células de organismos. As partículas virais infecciosas são montadas em uma célula hospedeira, geralmente são partículas metaestáveis e robustas o suficiente para proteger o genoma viral fora da célula1. Para explicar melhor, o Blogs de Ciência da Unicamp fez um vídeo explicativo e didático explicando o que é um vírus e como ele se propaga.
Fonte: Conteúdo científico e roteiro – Luisa Fernanda Rios Pinto; Narrativa-Paula Penedo; Arte e animação- Carolina Frandsen; Produção-Equipe Blogs de Ciência da Unicamp.
Mas o que é o COVID-19?
O COVID-19, ou Sars-Cov-2, é uma doença infecciosa causada por um vírus recém descoberto e pertencente a família corona. O nome corona vem do fato de que quando os cientistas olham para o vírus pelo microscópio, o vírus parece ter uma “coroa” em volta de si.
Fonte:Wikimedia Commons
Existem vários tipos de coronavírus em humanos e animais, e a razão pela qual o COVID-19 tem ganhado tanta atenção é que este vírus foi detectado em humanos pela primeira vez em dezembro de 2019 e, até o momento (24/03/2020), segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)2 já infectou mais de 370 mil pessoas ao redor do mundo. Sua capacidade de contágio é bastante alta comparada aos vírus anteriormente descritos e a severidade da síndrome respiratória causada (uma forte pneumonia) tem alertado o mundo para o perigo desta pandemia. Os dados ainda são bastante insipientes e a cada dia novas informações são descobertas a respeito dessa doença.
Nos Estados Unidos, a porcentagem das pessoas infectadas que desenvolvem os sintomas mais severos, necessitando tratamento intensivo (UTI), varia entre a faixa etária, sendo em média 10,5%3 e até 30,1%4 para pacientes entre 75-84 anos, segundo estudos estatísticos. Além disso, devido ao rápido contágio e a limitação dos sistemas de saúde, se sabe que a taxa de mortalidade pelo COVID-19 depende do país, mas está em torno de 0,36-8%, com uma baixa taxa reportada na Alemanha e a maior na Itália5.
É importante ressaltar aqui que ainda não há vacina ou remédio que sejam eficazes contra o COVID-19. Muitos laboratórios ao redor do mundo estão correndo contra o tempo para desenvolver um tratamento, mas as melhores estimativas são de que não teremos uma solução acessível à população pelo menos até o final de 2020.
O Brasil
No dia 23 de março, o Brasil contava com 1891 casos diagnosticados da doença e 34 mortes6. O crescimento é alarmante, sabendo que no dia 15 de março se reportavam 162 casos positivos para o COVID-19. Isso significa que em oito días (de 15 a 23 de março), os casos aumentaram mais de 11 vezes. Isso nos dá um bom indicativo de como a doença se espalha rapidamente, o que pode levar ao esgotamento dos leitos disponíveis em hospitais para o tratamento dos doentes.
O Brasil conta com uma população de cerca de 210 milhões de habitantes. Se imaginarmos que somente 50% da população terá contato com o vírus, e que 50% dessa pessoas desenvolvem sintomas, o número de pessoas sintomáticas no Brasil pode chegar a 50 milhões de pessoas. Desses 50 milhões, estima-se que 5% precisaria de tratamento hospitalar7. Imagine agora se todas essas pessoas ficarem doentes ao mesmo tempo. Seria humanamente impossível tratar todos os doentes, ademais somando-se os pacientes com outras doenças e acidentes. Repare que todos esses números são baseados nos dados que temos disponíveis de outros países, e que ao final dessa crise, esse cenário poderá ter sido melhor, ou ainda pior.
Diante desse cenário, podemos ver a importância de diminuir a disseminação do vírus, para que assim não tenhamos um sistema de saúde sufocado e sem a capacidade de tratar todas as pessoas doentes.
Qual o melhor combate ao coronavírus?
Higiene
Criar hábitos de limpeza é muito importante nessa jornada. O melhor que podemos fazer para ajudar a sociedade é nos isolar em casa. Mas as vezes precisamos sair para ir ao mercado ou algum lugar que seja urgente. Para isto precisamos ter uma rotina de limpeza para entrar em casa e recomendamos alguns passos:
Coloque as chaves perto da porta e não pegue-as se não for sair; se puder, limpe.
Assim que chegar em casa, tire os sapatos e a roupa e deixe do lado de fora, depois lave a roupa com água e sabão.
Ao entrar em casa, não toque em nada antes de se higienizar.
De preferência tome banho, se não puder, lave bem todas as áreas expostas com água e sabão.
Limpe o celular com um lenço e um pouco de álcool 70%, se não tiver álcool pode passar um paninho com água (não precisa ser muita) e um pouco de sabão e depois retirar o excesso com um lenço úmido (quase seco).
Se tiver óculos, lave os óculos com água e sabão.
Quando estiver em casa, lave as mãos frequentemente com água e sabão durante 20 segundos.
Não precisa ficar de máscara na casa se não estiver doente ou positivo com coronavírus.
Tente fazer o máximo de compras online. Se pedir alguma coisa pelo delivery, evite falar com a pessoa, pegue a caixa, limpe com álcool e entre em casa; evite contato, use cartão para pagar a conta.
Evite passar as mãos na boca ou nariz.
Evite o pânico.
Se possível #fiqueemcasa, mas se precisa sair para algum lugar, evite o uso de transporte público, evite aglomerações e evite tocar em superfícies. Lembre-se: sempre que puder, lave as mãos e siga a rotina acima da limpeza no retorno a casa.
Isolamento
Neste momento é melhor ficar em casa e evitar circular pelas ruas. O isolamento serve para combater ou impedir o espalhamento do vírus. Serve para que a doença não seja transmitida para as demais pessoas e com o isolamento, evitamos a propagação massiva da COVID-19 a superlotação de hospitais por pessoas infectadas e que o sistema de saúde entre em colapso. É importante manter o distanciamento social. Muitos países decretaram quarentena (isolamento físico e temporário de pessoas) para evitar o contágio, e é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp.
Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.
Como você higieniza seus alimentos? 🍅🥔🥕 . No cenário atual estamos muito preocupados com a limpeza das nossas mãos, mas os alimentos que vão a mesa também precisam de uma atenção! Assim como o álcool, o hipoclorito de sódio encontrado na água sanitária que usamos para limpeza é um excelente desinfetante! Ele é eficaz contra bactérias, fungos e vírus que possuem aquela camada externa chamada envelope, como é o caso do #coronavirus Desinfetar os alimentos que consumimos é importante em qualquer situação, evita váárias doenças! . Compartilhe com todos os seus amigos e familiares! . . #vegetais #verduras #saude #covid_19 #covıd19 #coronavirusbrazil #biologia #desinfetante #agronomia #curiosidades #ciencia
O álcool é muito utilizado para desinfetar as mãos, materiais e superfícies. 🖐️ Na ciência o álcool 70% é utilizado, por exemplo, para desinfetar amostras de plantas quando chegam do campo ou para realizar a extração de DNA/RNA 🧬 (explicaremos melhor outro dia) Mas você sabe como o álcool age? Muitos estudos foram realizados para definir a concentração ideal de álcool para uma ação desinfectante. A concentração de 70% álcool e 30% água foi provada ser a mais eficiente. No entanto, na presença de matéria orgânica (sujeira) a ação do álcool fica reduzida. Por isso, também é importante lavar as mãos com água e sabão, que tal como o álcool, afeta a camada de gordura da membrana externa dos micro-organismos. . . ⚠️ Vírus não possuem parede celular como as bactérias, mas possuem uma membrana externa composta por lipídios. Volte 13 postagens e entenda melhor. 😁🦠 . . #coronavirus #covid1 #saude #alcool #prevencao #biologia #biotecnologia 2 d
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