Categoria: Covid-19

  • Comunicação de ciência – público e comunicadores

    Unir diferentes agentes no processo de comunicação, como pesquisadores, comunicadores de ciência, figuras públicas e público, é uma boa estratégia para a divulgação científica e democratização do conhecimento.

    Planejando a estratégia de divulgação científica

    O público seleciona a informação que vai consumir de acordo com o que lhe parecer mais útil para a sua vida profissional e pessoal de forma a selecionar o que lhe parece mais conveniente para cada situação de sua vida (Torquato, 2015). 

    Pensar o público é um dos primeiros passos para uma boa estratégia de divulgação científica. Preparar uma comunicação baseada apenas no que queremos comunicar em um processo unidirecional pode fadar sua divulgação ao fracasso e mesmo criar ruído. 

    Uma boa estratégia para desenvolver o seu conteúdo de divulgação científica é a criação de uma Persona, uma personagem ideal, alvo da sua comunicação. Para saber mais sobre a criação da Persona acesse o post Comunicação sobre ciência – Pensando o público

    Com a publicação dos primeiros conteúdos é possível acompanhar como o material está sendo recebido/consumido (ou não) pelo público. Isso pode ser feito de maneiras diferentes, como por exemplo, através da quantidade de acessos, compartilhamentos, curtidas e comentários. Alguns programas e empresas de marketing também incluem a pesquisa de opinião ao longo do processo. 

    Por que avaliar o processo de divulgação científica é importante? 

    A comunicação é um processo que só existe dentro de um contexto. Ela faz parte de um tempo, espaço (virtual ou não) e pessoas. Ela é um processo social de produção e compartilhamento de sentido por meio da materialização de formas simbólicas (França, 2001). Isso quer dizer que uma estratégia de comunicação que hoje funcionou bem para um determinado público pode não funcionar um tempo depois.  

    Dessa maneira, é importante para qualquer projeto de divulgação científica, que o(a) comunicador(a) consiga entender os processos e discursos da ciência, da comunicação e do seu público/grupo social que se quer alcançar. 

    Recentemente, duas formas audiovisuais distintas sobre uma mesma instituição, o Instituto Butantan, deixou isso evidente. Ambas falaram sobre a instituição, a primeira, um vídeo institucional e a segunda, uma adaptação da música do MC Fioti que remetia à vacina e ao Instituto Butantan. 

    Vídeo Institucional:

    Vídeo MC Fioti:

    Enquanto o vídeo institucional foi visualizado um pouco mais de 7,4 mil vezes em 5 meses, o clipe do MC Fioti obteve mais de 13,6 milhões de visualizações em 6 meses. Mas vale lembrar, que além de analisar o alcance, é importante lembrar que os públicos foram distintos. 

    Então, começamos a ter alguns elementos para se pensar a divulgação científica: Além da pesquisa desenvolvida, ou conteúdo que se quer divulgar, há o seu público. Além disso, há outro elemento importante, que em muitos casos é esquecido: Qual o objetivo ou intenção da sua comunicação? 

    A intencionalidade da divulgação científica: Comunicação como um Direito Humano

    Ao longo das últimas décadas, a comunicação passou a ser reconhecida como um direito humano fundamental, mas esse conceito ainda está em construção (GOMES, 2007).O debate sobre o direito de comunicar foi inaugurado pela UNESCO em 1970. No Brasil, só foi reconhecido pelo Estado mais tarde por meio do decreto nº 7.037 de 2009, que instituiu a terceira edição do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) (Vanucchi, 2018). 

    Entender e participar dos processos relacionados à ciência e tecnologia, como as decisões associadas às políticas públicas, assim como os processos comunicativos constituem também elementos importantes para a cidadania. Nesse sentido, a divulgação científica tem relação direta com o direito à comunicação, e por conseguinte, com os direitos humanos. 

    Pesquisadores e Comunicadores de Ciências

    As tensões entre os comunicadores de ciência e pesquisadores não são recentes. Por exemplo, a relação entre cientistas e jornalistas é marcada, em algumas ocasiões, pela falta de acesso do jornalista ao cientista para as entrevistas em tempo hábil para veiculação da notícia, como fonte de reportagem. Em outras ocasiões, a relação é marcada pela desconfiança de cientistas sobre jornalistas na divulgação das suas pesquisas. Alguns cientistas temem que suas pesquisas sejam veiculadas sem exatidão ou mesmo deturpadas.

    Outro campo de tensão entre pesquisadores e comunicadores de ciência é o da divulgação científica.  As críticas e discussões sobre “quem pode falar” de ciência não são recentes. De um lado, alguns pesquisadores afirmam que esse papel deve ser destinado aos próprios cientistas, especialistas em um determinado assunto. Do outro lado, comunicadores de ciência que vem conseguindo conquistar cada vez mais espaço entre os diferentes públicos, “furando as bolhas”.. 

    Em busca de um processo conjunto

    O processo de divulgação científica precisa do conhecimento não apenas da área específica sobre a qual está comunicando, mas também do conhecimento da área de comunicação. Há a necessidade de se começar a pensar o processo de divulgação científica a partir do trabalho conjunto que envolve pesquisadores, comunicadores de ciência e o(s) público(s) alvo. 

    Aqui voltamos para a pergunta feita anteriormente “Qual o objetivo ou intenção da sua comunicação?”, mas agora de uma outra forma  “Qual a intenção do seu fazer divulgação científica?”

    Há uma relação intrínseca entre ciência e poder  (Caldas).  O conhecimento científico é essencial para a resolução de problemas e tomada de decisões e tem relação direta com processos democráticos e cidadania. O agente no processo de divulgação científica, seja ele pesquisador ou não, precisa passar de relação vertical, como a do educador-salvador, que leva o conhecimento aos menos esclarecidos, para o de comunicadores envolvidos com processos mais democráticos e participativos, aberto ao diálogo  – estabelecendo processos de interação e comunicação. 

    Formiguinhas, uni-vos!

    Diante da desinformação e da infodemia que se tornou mais evidente frente à pandemia, uma outra preocupação ganha destaque entre os divulgadores de ciência e jornalistas: Como furar a bolha, cada vez mais delimitada pelos algoritmos, e alcançar o seu público? Nesse sentido, há um aumento das discussões sobre como fazer divulgação científica e atuar em conjunto para alcançar um número maior de pessoas em diferentes grupos sociais. 

    No período de pandemia, aconteceram vários cursos online voltados tanto para o jornalismo científico, quanto para a divulgação científica, incluindo alguns realizados pelo Blogs Unicamp. 

    Tensões, embates, preocupação conjunta com soluções para o processo de divulgação científica, promoção de cursos e profissionalização do divulgador científico e comunicador de ciência, todos esses fenômenos podem indicar o fortalecimento de um campo de pesquisa/atuação ainda em desenvolvimento.

    É comum o uso do termo “trabalho de formiguinha” para exprimir o trabalho do divulgador científico em conquistar o seu público. No entanto, a divulgação científica vem agregando mais pessoas e transformando em um trabalho de um coletivo de formigas, um  trabalho de correição. 

    Pensando juntos desde o início

    Algumas iniciativas de divulgação científica vem pensando em conjunto para desenvolver processos de divulgação científica:

    O blogs de Ciência da Unicamp é uma iniciativa de divulgação científica que inclui pesquisadores de diversas áreas e comunicadores de ciência. No processo, os pesquisadores participam de um treinamento voltado para a divulgação científica por meio de blogs, a Integração. Além disso, o Blogs Unicamp fomenta o diálogo com o seu público. A Erica Mariosa fala um pouco sobre o processo de divulgação científica no Blogs Unicamp em seu post Como fazemos a divulgação da divulgação científica no Blogs de Ciência da Unicamp?

    Outro exemplo de atuação conjunta entre pesquisadores, comunicadores de ciência, artistas e personalidades públicas foi a iniciativa do Todos Pelas Vacinas.  

    Para conhecer a iniciativa e os conteúdos preparados para os diversos públicos acesse o site do Todos Pelas Vacinas

    Saiba mais

    Caldas, Graças, DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA, RELAÇÕES DE PODER E CIDADANIA, Labjor- Unicamp

    França, Vera Veiga (2015) O objeto da comunicação/A comunicação como objeto, In Hohfeldt, Antonio, Martino, Luiz C, França, Vera Veiga (Org) Teorias da Comunicação: Conceitos, escolas e tendências, Petrópolis, RJ: Vozes.

    Gomes, Raimunda Aline Lucena (2007) A COMUNICAÇÃO COMO DIREITO HUMANO:

    Um Conceito em Construção Universidade Federal de Pernambuco, Dissertação

    Vannuchi, Camilo (2018) O direito à comunicação e os desafios da regulação dos meios no Brasil, Galáxia

    Torquato, Gaudêncio (s/d) Comunicação nas organizações. 

    Este texto foi escrito e publicado originalmente no blog CdF

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os produziram-se textos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores. Além disso, os textos passaram por revisão revisado por pares da mesma área técnica-científica na Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Pesamentos sobre a formação de professores no pós pandemia

    Texto escrito por Jonathan Cardoso e Pedro Leal

    Quando decidimos escrever este texto, gostaríamos de poder trazer diferentes visões das consequências que a pandemia pode trazer para a formação de professores de biologia, a respeito das nossas vivências como alunos de graduação em licenciatura biologia. Como nossa formação pode ser afetada no futuro pela pandemia? Então através desse pensamento desenvolvemos o texto a seguir

    Um acervo pro futuro, existe um lado positivo?

    O ensino remoto vem sendo pauta de muitos debates nesse ano que passou, seja na educação infantil, no ensino fundamental, médio ou superior. Como aluno de graduação em Biologia tenho mais propriedade para falar sobre como o ensino remoto vem acontecendo na universidade ou no curso. Assim, me pego pensando sobre como será a educação pós pandemia. Me deparo com a ideia dos acervos digitais criados, tais como, os vídeos gravados por professores que não imaginavam que um dia fariam tal projeto.

    Por que imagine só: Uma professora que tem mais de 20 anos de docência em Biologia molecular, e de um ano para cá passa a produzir artefatos culturais que serão eternos dali pra frente, e que poderão servir de auxílio para seus alunos no futuro. Quem sabe  para interessados na área que não tiveram a oportunidade de ter uma informação aprofundada em um assunto tão específico.

    Percebam que falo aqui sobre alguns professores, mas se pensarmos em nível mundial, o quanto esse acervo não deve ser imenso no futuro?

    O que poderia nos trazer de produtivo?

    Me enche os olhos de alegria toda a vez que penso nessa possibilidade. É evidente, que existem muitos assuntos que podemos abordar que não são tão otimistas em relação à educação pós pandemia. Porém trago esse pensamento porque acho importante também pensar o que pode nos trazer de produtivo esse momento tão difícil. Pessoas que nunca nem imaginavam lidar com essas ferramentas da tecnologia estão se reinventando e criando conteúdos através por meio dela. Isso é muito interessante. Imaginar que daqui pra frente esses professores, após suas aulas presenciais, poderão disponibilizar esses conteúdos para o auxílio no entendimento de seus estudantes.

    Através disso, é possível sim ter uma visão de que acontecimentos positivos podem estar presentes no período pós pandemia para alunos de licenciatura em biologia. Contudo é inevitável perceber que existem receios em relação a como iremos nos formar neste período remoto, como aqueles que estão no fim do curso. Como vamos administrar os estágios docentes? E os Trabalhos de conclusão de curso?

    Os receios da formação à distância

    Em um curso de graduação de licenciatura, é importante pensarmos nesse que é um dos pontos chaves da formação dos professores: os estágios de docência. É estranho pensar em como um professor seria capaz de se formar sem nunca ter entrado em sala de aula, por isso os estágios são componentes fundamentais na maioria dos cursos de formação de professores. Porém, com a situação da pandemia, isso se torna um tanto quanto inviável. Algumas disciplinas da graduação estão sendo realizadas de maneira online, mas o estágio não. O impasse é o seguinte: Mesmo ciente da situação das escolas, que ainda tentam realizar as aulas de maneira remota, com vários estudantes que não possuem acesso à essas aulas, como manteremos os estágios dos futuros professores?

    Por um lado, podemos pensar que alguns dos conhecimentos adquiridos podem ser aproveitados, já que não sabemos como será o pós-pandemia. Será que alguns dos modelos de aulas que estamos utilizando agora serão mantidos? Por que nesse caso, seria interessante que os futuros professores vivenciassem um pouco dessa experiência. Mas por outro lado, será que vale a pena trocar um momento tão importante da graduação do licenciando, que é o contato com a realidade escolar e com a sala de aula, pelo ensino remoto com pouco ou nenhum contato com os alunos? Para mim, que estou no último ano da minha graduação sempre me pego pensando: Quero fazer esses estágios de uma vez e me formar logo, mas será que para a minha formação, vale a pena “perder” essa experiência ou troca-la por um período de aulas remotas? É uma situação bem complicada…

    “Será que eles conseguirão vivenciar essa experiência universitária na sua totalidade?”

    Pensando ainda nessa questão do “último ano de graduação”, me coloco no lugar dos que estão entrando agora nesse contexto do Ensino Superior. A entrada na universidade traz tantas mudanças na nossa vida, mudanças que na maioria das vezes nos fazem crescer, seja nas perspectivas, ou até mesmo na forma que encaramos as nossas responsabilidades (pelo menos eu senti essas e diversas outras mudanças). Mas será que os alunos que estão ingressando agora na Universidade, durante esse período de ensino remoto, conseguirão sentir essas mudanças também? Será que eles conseguirão vivenciar essa experiência universitária na sua totalidade? Acredito que ainda não conseguimos inventar nada capaz de substituir as experiências presenciais.

    Certas incertezas durante a formação

    Sendo assim, penso que apesar desse período em que precisamos repensar o ensino ter trazido diversas coisas positivas para nossa prática docente, algumas outras atividades não conseguem ser realizadas de forma remota ou online, elas precisam que isso tudo se resolva e as coisas voltem “ao normal”. Penso que para alguns casos, os novos recursos que aprendemos e desenvolvemos durante esse período de pandemia podem acrescentar sim na nossa prática pós-pandemia.

    No entanto nos estágios de docência muito pouco sera aproveitado, pois as atividades precisam acontecer da maneira “tradicional”, precisamos do contato humano, da experiência presencial, olho no olho, cara a cara, e não há espaço para o “tela a tela”.


    Para mais textos acesse o Blog.

    Este texto foi escrito e publicado originalmente no blog PEmCie

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os produziram-se textos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores. Além disso, os textos passaram por revisão revisado por pares da mesma área técnica-científica na Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • A pandemia decretou o fim definitivo do ensino remoto?

    Texto escrito por Matheus Naville Gutierrez

    Engana-se quem pensa que o ensino remoto entrou na mídia e nas discussões escolares apenas após a pandemia da COVID-19. Esse assunto já permeava as instituições de ensino bem antes, passando do ensino básico ao superior, do público ao privado. O desejo de modernização, avanço tecnológico e aproximar a escola do mundo digital já estava nos planos escolares. Contudo, a pandemia tomou o mundo e forçou as instituições a utilizar o ensino remoto como único modelo de ensino. Agora, quase dois anos após a obrigação de se adaptar remotamente, conseguimos ver alguns resultados da sua implementação e questionar: o ensino remoto vai continuar nas instituições após (se existir um após) a pandemia da COVID-19?

    O que conseguimos observar…

    No primeiro momento, o que todos os envolvidos no ensino brasileiro apontaram seria a dificuldade de adaptação ao ensino remoto. A estrutura precária da maioria das escolas públicas brasileiras dificultaria a produção de material para os estudantes e a comunicação entre estudantes e corpo docente. O debate também apontava a situação de muitos estudantes que não possuíam os equipamentos necessários para o acesso às aulas, como computador e internet. Os relatos dessa situação podem ser lidos aqui em outro texto do blog. Essa situação, apesar de extremamente óbvia, não contou com a organização e apoio das autoridades competentes, aumentando ainda mais a carga de trabalho dos professores do ensino público.

    Os estudantes, sem a estrutura básica necessária em suas residências para o acompanhamento das aulas, pararam de frequentar as atividades remotas. Essa nova forma de evasão escolar, consequentemente, já tem surtido efeito nos parâmetros governamentais de medição da aprendizagem. Esses dados mostram principalmente a problemática para as escolas públicas, e que vai acentuar ainda mais o abismo educacional existente entre o ensino público e privado. E apesar de estarem em uma situação mais privilegiada e conseguindo se adaptar melhor às possibilidades remotas, o ensino privado também sofreu problemáticas no desenvolvimento educacional. 

    A observação da realidade escolar brasileira mostra, de forma enfática, que o ensino remoto tem múltiplos problemas. Estudantes, professores, gestão escolar, todos estão exaustos do modelo e possuem ainda mais críticas à essa estrutura do que coloquei aqui nesse texto. Portanto, essa realidade decreta a morte do ensino remoto como possibilidade para as escolas?

    É o fim da aventura do ensino remoto no Brasil?

    Dificilmente esse assunto vai deixar de vez o debate no meio educacional brasileiro. Principalmente quando consideramos a lógica neoliberal que rege as escolas, tanto no meio público, mas principalmente no meio privado. As faculdades de ensino à distância já consolidaram muito bem o modelo remoto e mostram claramente o grande motivo que o ensino remoto vai permanecer. A manutenção da estrutura escolar, das salas, e principalmente o pagamento dos professores são custos muito altos para as instituições.

    Baixar os custos de estrutura, não precisar de sala de aula, funcionários e gestão escolar.  Essa lógica focada no lucro em instituições escolares vão continuar pois algumas delas são empresas que buscam esse fim. Mas essa lógica não se prende apenas para o meio privado. As instituições públicas também podem ser vítimas desse modelo, e criar um sucateamento ainda maior para o ensino público brasileiro. E um dos sujeitos principais da educação acaba sofrendo ainda mais: o professor.

    A possibilidade de pagar uma única vez o professor para gravar uma aula, e repetir esse conteúdo diversas vezes ao decorrer dos anos se mostra financeiramente muito mais vantajoso para as instituições. Essa forma de relação com o professor, considerando não mais quem acompanha cotidianamente o desenvolvimento do professor, mas o torna um funcionário freelance, que presta um serviço e depois deixa de ter vinculo com a instituição, é de extrema preocupação para o desenvolvimento educacional brasileiro. 

    O que é possível que a pandemia tenha feito com esse cenário do ensino remoto brasileiro é frear a sua instauração por completo. Como os estudantes, professores e gestores escolares viveram essa forma de ensino, que claramente mostrou-se ineficaz e problemático, a sua implementação por completo deve gerar uma resposta contundente contrária por parte desses sujeitos.

    O que vai continuar então?

    O debate, que sempre foi pautado em uma modernização que seguisse a lógica neoliberal, vai mudar de forma. Antes, era uma tentativa de implementação do ensino remoto considerando o avanço tecnológico escolar. Agora, tudo indica que o debate vai ser focado no ensino híbrido, que faça uma mescla entre o ensino remoto e o presencial. 

    O ensino híbrido, por ser uma forma de organização do ensino, não é necessariamente de todo o mal. Existem possibilidades educacionais interessantes em se implementar novos instrumentos, técnicas e relações no ensino. Mas o ensino híbrido não será implementado em um sistema escolar perfeito. As problemáticas vivenciadas pelas escolas públicas durante esse período pandêmico continuarão. O debate da implementação do ensino híbrido está considerando esse aspecto? Ou apenas uma lógica financeira de redução de custos?

    Além disso, vale os questionamentos: o quanto o distanciamento entre as pessoas afetou o rendimento escolar e a saúde mental? Qual a parcela de culpa do ensino remoto para a defasagem escolar? Ao implementar um sistema hibrido, quais problemas seriam herdados do ensino remoto? Desvincular completamente o ensino remoto do hibrido pode ser perigoso também, pois alguns de seus problemas advém justamente da sua estrutura de afastamento entre as pessoas. 

    Mas todos os aspectos de sua estruturação e implementação precisam considerar o professor como peça fundamental. Sem a figura e a ação do professor, nenhuma organização escolar consegue garantir o desenvolvimento intelectual e social dos estudantes.

    As novas formas de organização escolar vão surgir e entrar no debate público e acadêmico. Colocar como essencial a participação ativa dos professores e da realidade do ensino público brasileiro é essencial. Não teremos desenvolvimento educacional de qualidade se a lógica neoliberal de foco financeiro imperar nos debates que estruturam o ensino brasileiro. 

    Para saber mais…

    Blog PEMCIE (2021) Ensino Fundamental e a pandemia de COVID-19: Realidades e vivências no ensino público

    Blog PEMCIE (2021) Ensino Fundamental e a pandemia de COVID-19: Realidades e vivências (parte II)

    G1 (2021) Percentual alto de alunos não tem acompanhado as aulas pela internet durante a pandemia

    Folha de São Paulo (2020) Estudantes tiveram regressão na aprendizagem durante a pandemia.

    O autor

    Matheus Naville Gutierrez é mestre e doutorando em ensino de Ciências e Matemática pela UNICAMP e licenciado em Ciências Biológicas pela UNESP. Sempre dialogando sobre educação, tecnologia, ensino superior, cultura e algumas aleatoriedades que podem pintar por ai.

    Este texto foi escrito e publicado originalmente no blog PEmCie

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os produziram-se textos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores. Além disso, os textos passaram por revisão revisado por pares da mesma área técnica-científica na Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Sobre aberturas, cautelas e políticas públicas

    Duas meninas dialogando, a primeira, com tope na cabeça, indignada, aparece à esquerda , acima na imagem e diz: "Eu to cansada, tá todo mundo cansado! Ninguém aguenta mais a quarentena não!!!"
Abaixo, à direita, uma menina de coque, com carinha de emburrada olhando para o lado diz: "Ah bom, se estás cansada e todo mundo também está, acho que vale o argumento para abrir tudo sim..."

Abaixo disso há um parênteses escrito "Spoiler: não, cansaço não é dado técnico para análise de retomada". Assim, a imagem ironiza o cansaço como pauta para políticas públicas.
    Políticas públicas se fazem em função de cansaço? Acompanha o texto de hoje!

    Políticas públicas? Falando sério agora…

    Parece sensato retomar atividades por cansaço, mesmo que a situação ainda esteja fora de controle? Isto é, as pessoas estão vacinadas agora! Apontar a necessidade de manutenção de medidas não farmacológicas como políticas públicas e indicar que o retorno, com protocolos como álcool em gel e uso de máscaras, ainda é muito pouco, é ser negacionista das vacinas?

    Já destaco, de cara, que a resposta é: NÃO. Não é sensato falar de cansaço como componente de política pública. Assim como não é negacionismo de vacina apontar necessidade de medidas não farmacológicas (e mesmo não retornos) neste momento.

    Vamos falar sobre estas questões no texto de hoje…

    Porém, antes… Veja, não é só o conhecimento científico que é dinâmico. Uma doença como a COVID-19, também é dinâmica e tem apresentado seus desafios para a produção de conhecimento científico, assim como para a promoção de políticas públicas em todos os países do mundo.

    Vírus se modificam, ou seja, mutam e a gente segue correndo para tentar entender, buscar respostas e indicar quais melhores comportamentos podemos adotar (individual ou coletivamente), para diminuir a circulação de suas variantes na população.

    No texto de hoje vamos falar sobre “o que é população” e a diferença entre ações individuais, políticas públicas de saúde e retomadas, com ou sem cansaço, a partir destas políticas públicas… Já sabe né? Senta que o texto é longo…

    Mas, quem é “a gente”?

    E o que isto tem a ver com políticas públicas?

    No caso, eu estava me referindo a cientistas que seguem aprendendo sobre o SARS-CoV-2 e a COVID-19. Mas também as demais pessoas de uma população. Ou seja, aqueles têm tentado viver da melhor maneira possível enquanto não vencemos esta pandemia.

    Quando eu menciono a população estou me referindo ao conjunto de pessoas que vivem em um espaço determinado. Assim como pessoas que vivem em um país, estado, ou município.

    Em termos de saúde e combate à COVID-19, é claro que individualmente cada um de nós (ou do nosso grupo familiar ou pessoas que moram conosco) consegue controlar alguns fatores que podem favorecer a proteção contra essa doença. Por exemplo, para citar alguns: o uso correto de máscaras (dando preferência para as PFF2), o ato de se vacinar quando sua vez chega, diminuir ao máximo a permanência em espaços fechados e mal ventilados, diminuir contatos e não aglomerar, mesmo em espaços abertos. Além disso, como temos informado faz meses, cultivar o hábito de não espalhar informações falsas!

    E o que a população tem a ver com isso?

    Muitas vezes temos ouvido falas como “a população não colabora”, como se “a população” fosse uma entidade única, homogênea, consciente e capaz de gerir sua própria atitude e dinâmica no espaço. 

    A população, como grupo de pessoas que habita em um território, é coordenada, de um modo geral, por políticas públicas que a gerem – e conduzem a situações de maior ou menor risco. Isso acontece em todas as esferas (federal, estadual e municipal) e acontece, também, no âmbito de empresas (públicas e privadas).

    Dessa forma, existem questões que estão fora de nossa alçada individual e nos expõem diariamente a uma maior ou menor proteção ao vírus SARS-CoV-2. Assim, não é justo (nem possível em grande medida) responsabilizar indivíduos por questões populacionais.

    Como assim? Antes de mais nada, é bom reiterar que é claro que as pessoas podem contribuir com a saúde de si e de todos a sua volta. De que forma? Usando mascaras, evitando aglomerações, se vacinando, porém é imprescindível ações para a população. Isto é, políticas publicas. As políticas públicas (decisões tomadas por gestores), ao serem colocadas em prática por diversas estratégias, complexas e múltiplas, tem um efeito (resultado) extremamente planejado. Isto para qualquer situação cotidiana. Nós iremos nos deter aqui (óbvio) à COVID-19.

    Abaixo, vou listar alguns exemplos de políticas públicas que estão acima da nossa condição individual. Todavia se queres saber detalhes sobre estas políticas e como eu as penso, podes olhar aqui.
    • Plano de Imunização em massa
    • Auxílios financeiros para pessoas, famílias e pequenos/médios empreendimentos
    • Máscara PFF2 como EPI para COVID-19 para trabalhadores
    • Distribuição de PFF2 em postos de saúde
    • Limitar a abertura aos serviços essenciais
    • Políticas de inclusão digital e acesso à informação
    • Políticas de adequação e infraestrutura de espaços sociais
    • Realização de estudos retomadas a partir de análises epidemiológicas
    • Aumento de transporte público em centros urbanos
    • Abertura de UTIs e compra de equipamentos específicos
    • Testagens em massa e rastreio de contatos
    • Campanhas em mídias sociais e veículos de comunicação de massa

    Tá, mas ninguém fez isso, é o que estás dizendo?

    Longe de mim. Na verdade estes são alguns itens básicos que foram implementados em menor ou maior medida ao longo destes 18 meses em nosso país. Alguns estados e municípios seguram mais alguns itens, outros nem tanto. Poderíamos (deveríamos) ter investido mais em todos eles.

    No conjunto, as políticas públicas de saúde são medidas para condução de uma população. São chamadas de políticas públicas por serem ações que o Estado (governos federal, estaduais e municipais) devem promover de forma alinhada, a partir de debates com entidades científicas, sociedade civil organizada, considerando dados técnicos e demandas sociais emergenciais e específicas.

    O conjunto de ações de políticas públicas devem observar os dados técnicos, mas sempre (e continuamente) averiguar situações ou acontecimentos particulares de diferentes regiões ou locais. isto diz respeito à não encarar a doença como só um fato biológico. A doença, conforme já apontamos em outros textos, é também social.

    E nas empresas e serviços?

    Já no âmbito das empresas e estabelecimentos de serviços – públicos e privados – também é fundamental realizarmos continuamente análises de como estamos conduzindo nosso serviço. Possibilitando, assim, um ambiente seguro aos funcionários e usuários do serviço prestado. As ações necessariamente devem estar submetidas às normativas federais, estaduais e municipais, mas também podem ter regras internas para melhor cuidar do ambiente.

    O Brasil, suas políticas públicas, a vacinação e a retomada geral

    Não é minha intenção com este texto, de modo algum, ficar apontando “como seria nossa realidade caso tudo o que foi dito tivesse sido cumprido”. Dessa forma, estou falando de políticas públicas de saúde. Isto é, devemos olhar como está o cenário agora e como as políticas têm sido conduzidas.

    É cada vez mais difícil conseguirmos manter o isolamento ou distanciamento social. Principalmente tendo em vista a retomada como está planejada agora. Isto quer dizer que em nossas ações individuais e familiares (como mencionei lá no início do texto) se restringem mais ainda.

    Claro que a maioria dos brasileiros já estava em uma situação cotidiana de exposição, mas ainda existiam milhares de trabalhadores que estavam se mantendo em casa, o que diminuía (e muito) a mobilidade urbana.

    Lembrando que diminuir mobilidade urbana é diminuir contatos consideravelmente – no trabalho, no transporte público, em espaços de comércio, serviços e cultura fechados, etc.

    Finalizando

    No início do texto, perguntei se parecia sensato usar “cansaço” como medida de política pública para aberturas. Assim, a pergunta segue: Cansaço é um dado mensurável que justifique ser norteadora de aberturas e retomadas em uma política pública de saúde, que salva vidas ou as condena à morte?

    O texto de hoje foi para mapearmos alguns elementos sobre o que são as políticas públicas de saúde para COVID-19. Assim, cada um dos itens da primeira parte do texto, delineada da maneira que for (inclusive não fazendo nada), gera caminhos que salvam ou deixam morrer pessoas.

    Parece abstrato. Mas são pontos estratégicos, que junto a estatísticas, tabelas, orçamentos específicos viram ações efetivas para (e pela) população. No texto anterior, do Rafael, falamos sobre o que é e como se faz ciência a partir da filosofia. No texto de hoje, falamos sobre como a ciência se entremeia com seus dados e análises, dentro das políticas públicas como ferramenta para apoiar a tomada de decisão.

    Ainda há o que falar e precisamos abordar, com urgência, sobre as aberturas de todos os serviços públicos e privados, com uma baixíssima cobertura vacinal. Em suma, nosso próximo texto abordará esta temática.

    Por fim, se cuidem, cuidem de quem está próximo, a pandemia não acabou – e falar sobre isso não é alarmismo barato.

    Para saber mais

    BRASIL

    Estatísticas do Coronavírus (2021)

    Programa Nacional de Imunização: 30 anos (2003)

    Programa Nacional de Imunização: 40 anos (2013)

    Brasil Pátria Vacinada (2021)

    SENRA, Nelson (2008) Pesquisa histórica das estatísticas: temas e fontes História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v15, n2, p411-425

    SENRA, N (1996) Governamentalidade, a invenção política das estatísticas Informare: Cadernos do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, v2, n1.

    Textos do Blogs e parceiros

    Sobre a vacinação e abertura prematura: um celeiro para novos casos e variantes

    Replica-me se for capaz! Sobre vírus e mutações

    Vacinação e Pandemia de Covid-19: desencontros narrativos

    Cobertura vacinal, retomadas, indivíduos e população

    As vacinas Astrazeneca e Coronavac nos protegem contra a variante Alfa? [Spoiler: sim]

    Nosso normal: variantes, festas e aumentos de casos

    Escolas não deveriam abrir com os altos índices de COVID-19

    “Interpretação equivocada e a importância da matriz de gerenciamento de riscos”

    Muito além dos dois metros

    Mais textos sobre vacinas: Aqui

    Este texto é original e escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os produziram-se textos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores. Além disso, os textos passaram por revisão revisado por pares da mesma área técnica-científica na Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Ciência, o que é e como utilizar: receitas práticas para uma pandemia moderna

    Texto de Rafael Lopes Paixão da Silva

    Como disse um famoso pensador alemão do século XIX, “Tudo o que é sólido se desmancha no ar”. Essa frase não se refere à ciência propriamente dita, mas refere-se às nossas certezas sobre como se dão as relações políticas e clamando por materialidade em nossas análises sobre a realidade.

    Com a pandemia do vírus SARS-Cov-2, algo no reino da ciência foi abalado também. Primeiro que muito do que se produziu e se sabia sobre epidemias, se desmanchou no ar. Assim que este novo vírus emergiu, nos colocou frente a contradições de como nos relacionamos com o planeta. Mas isso é um ponto para outro texto, o ponto aqui é: a ciência foi chamada a desenhar e entender políticas públicas, para que pudéssemos fazer frente a essa crise global que é a pandemia de COVID-19.

    Já aviso que o título é chamativo e impositivo, na linguagem moderna clickbait, como forma de ironia, ciência não é algo único e imutável e não há um modo correto de utilizar-se das ciências. 

    Esse pensamento é a forma como a moderna epistemologia compreende a ciência. Epistemologia é a tentativa científica de se entender e estudar como se dá e se deu o conhecimento humano. Ou seja, a própria ciência. Logo, de forma corolária, isto é, estritamente consequente a essa constatação, é lugar comum que deva haver uma epistemologia para cada ciência. Como assim?  Ora, assim como há diferentes ciências e formas de se construir esse conhecimento, há diferentes formas de se entender e construir esses processos.

    Mais uma agora, Epistemologia?

    Tá mas de onde vem todas essas afirmações? Bom da epistemologia mesmo. Vamos começar por quando ela surgiu. Formalmente a palavra epistemologia é cunhada nos fins do século XV, com John Locke inserindo pela primeira vez a palavra para algo próximo do uso moderno. Nessa mesma época, a filosofia se dividia entre duas escolas de pensamento que disputavam o que seria o entendimento do que é o conhecimento humano e como ele se deu. A disputa se dava entre os racionalista de um lado, representados por Descartes, Spinoza e Leibniz, e os empiristas, Locke já citado, Hume e Berkeley

    É notável como  todos contribuíram com o pensamento matemático, assim como em áreas ditas hoje em dia de “humanas”.  Naquela época não havia divisão das ciências por áreas de interesse ou qualquer coisa do tipo. Isto é, todos estudavam diversos aspectos da natureza e com diferentes ferramentas e métodos.

    Porém a epistemologia só se torna um corpo sintetizado e organizado, seja lá o que isso for, ou uma ciência formal, perto do fim do século XIX. E isto vai acontecer com as postulações e investigações das consequências da lógica para dentro da matemática. 

    Bertrand Russel, Ludwig Wittgenstein e Alfred Whitehead, desenvolvem noções mais estritas da lógica moderna. A partir dessas visões começam a comandar uma tentativa, que se mostrou falha, de compilar e sistematizar a forma pela qual se daria o conhecimento científico. Isto é, algo como, se sabemos como se deu o conhecimento científico e suas revoluções, podemos tentar fomentar isso deliberadamente. Ou pelo menos saber quais são os furos e as tentativas as quais deram errado. 

    Incompletudes do saber

    Esse esforço, principalmente de Russel, que tentou resumir a matemática e a lógica em aspectos axiomáticos. Ou seja, aspectos mínimos dos quais tudo poderia derivar, falharam. Russel falha nessa tentativa porque basicamente se constata que qualquer corpo lógico, linguagem, como a matemática, é incompleto e inconsistente. No sentido que, apesar de ser constituído por e formalizado através de lógica formal, ainda há possibilidades de que haja paradoxos, furos, inconsistências, etc.

    Tá mas então nada mais é válido, nada mais é objetivo, assertivo?

    De modo algum, basicamente o que conseguimos com isso tudo é uma compreensão que a ciência é uma expressão e uma construção humana. Ao ser tomada como construção humana está sujeita a diversas falhas, contextos e vieses, que vão desde fatores implícitos, como momento histórico, até fatores explícitos, política de investimento em ciência, exaltação de algumas áreas e desmerecimento de outras, para citar alguns elementos desta construção.

    Thomas Kuhn, físico e epistemologista, escreve exatamente sobre isso! A ciência significa nada mais que uma sucessão, não necessariamente deliberada e organizada, de paradigmas. Estes paradigmas são subscritos por fatores sociais, históricos e culturais. Ciência é a quebra do paradigma passado e sua substituição pelo novo, essa ideia se contrapõe fortemente à ideia de Karl Popper, de que a ciência seria uma busca sucessiva da verdade.

    A principal subversão que Kuhn propõe é que se quisermos medir o que é uma verdade de modo racional, é pouco producente pensar a ciência como neutra e implicitamente verdadeira. Por quê? Exatamente porque ela não advém do mundos das ideias (aqui resvalamos num neoplatonismo). A ciência não está no mundo das ideias: ela é produzida e compreendida pela materialidade humana e pelos atores humanos. Quem seriam estes atores? Sejam eles cientistas, políticos, ou até o cidadão comum, que usufruem dos avanços científicos no seu dia a dia, mesmo que quase sempre sem sequer notar isso.

    Quando nos apegamos a essa ideia de ciência como neutra, ou a medida do que é certo e errado, ou ainda o que é necessário e importante pra sociedade, estamos legando à ciência um papel que não é dela.

    Ciência é ferramenta, e não é validador de nada.

    Assim como dizer que é só um exercício inocente de curiosidade é simplório e ingênuo. Assim, por ser fruto de nossas relações, principalmente políticas, a ciência está sujeita a toda sorte de idiossincrasias dessas atividades humanas. Idiossincrasias é: um comportamento (ou tipo de comportamentos) que é próprio de uma pessoa ou de um grupo social específico.

    Sobre a relevância de compreender a ciência, para mim, cientista…

    Eu sou físico e trabalho com modelagem de epidemias e análise dos dados de saúde pública. E saber sobre epistemologia e filosofia da ciência, tais como alguns dos aspectos que apresentei neste texto, , ao menos pra mim, é libertador. Mas é igualmente exigente também. Quando pesquiso e escrevo, sinto-me sempre atento a essas questões. Por exemplo: para quê e por quem a minha ciência poderá e será usada, apesar das minhas ânsias e idealizações sobre ela?

    O cientista, hoje mais que nunca, precisa se ver pelo menos potencialmente como um ator político, mesmo que não ativamente. Ciência, nesses tempos de pandemia, pode servir de respaldo e fonte de credibilidade para que atores políticos tomem decisões, às vezes impopulares e necessárias. Porém também pode servir de respaldo para que o ator político tome ações em seu interesse. 

    Ciência: Que tipo de ações e decisões?

    Ao passo que a ciência nos fornece dados – que podem ser desde dados quantitativos, como estatísticas populacionais, até dados qualitativos, como estruturas sociais – temos em nossas mãos ferramentas que servem para governantes tomarem decisões e conduzir populações para um ou outro caminho no combate à doença.

    A COVID-19 é letal, mas existem estratégias de governo que nos possibilitam como impedir que pessoas morram. Por isto chamamos de “mortes evitáveis”. Não é que ninguém morrerá, mas é evitável por ações simples e que demandam ações coordenadas e coletivas por parte da sociedade. Essas ações podem ser somente uma pactuação da política com a sociedade para que se possa caminhar numa direção desejada.

    Porém, outras vezes essas ações de política pública são mais de interesse do político, que pode também estar se aproveitando do respaldo e da credibilidade que a ciência tem com a sociedade, para simplesmente impor seus interesses particulares através da estrutura pública que ele comanda.

    Por fim…

    Estamos atentos a isso, tanto como cientistas, quanto como cidadãos. Pois isto nos faz menos suscetíveis ao tipo de sequestro de parte da ordem pública por interesse particulares. Isto é, sequestro de pautas para valer e se cobrir de toda sorte de artifícios, às vezes a própria ciência, para impor-nos esse tipo de ação. Isso não é uma defesa de como a política é uma dádiva. Mas um chamado à realidade e à materialidade que é necessária ao estarmos sujeitos a ações políticas e seus atores.

    Para saber mais

    DESCARTES, René (2001) Discurso sobre o método São Paulo: Martins Fontes.

    KUHN, Thomas S (1987) A estrutura das revoluções científicas, São Paulo:  Perspectiva. 

    POPPER, K (1972) A lógica  da pesquisa científica, São Paulo: Editora Pensamento.

    Outras leituras no Especial

    Como se produz um resultado científico e o que isto tem a ver com a Covid-19?

    Sobre Vacinas, método científico e transparência na ciência (parte 1)

    Sobre Vacinas, método científico e transparência na ciência (parte 2)

    O autor

    Rafael Lopes Paixão da Silva é doutorando em física, estuda dados de saúde pública e sua dinâmica e relações com o clima é Físico, é pesquisador do Observatório Covid-19 Brasil e foi convidado pelo editorial para escrever no Especial COVID-19.

    Este texto é original e escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Sobre a vacinação e abertura prematura: um celeiro para novos casos e variantes

    É tempo de esperança. A esperança da chegada de um dia melhor, sem a Covid-19 em nosso mundo, está quase na porta. Grande parte desta crescente esperança deposita-se na vacinação da população mundial.

    Cada vez mais estamos vendo manchetes em São Paulo, no Brasil e em vários outros lugares do mundo sobre a reabertura de locais, visto o número cada vez maior de pessoas se vacinando contra a Covid-19. As pessoas anseiam em se vacinar para estarem protegidas, poderem sair de casa, rever parentes, amigos, colegas, viajar, ir a bares, cinemas e museus. 

    Mas toda essa ansiedade para a volta ao “normal” também gera problemas. O principal deles é a ideia da rápida retomada das atividades presenciais, colocando de lado as medidas de distanciamento social, uso de máscara e quarentena.  

    Não é de hoje que os cientistas, autoridades sanitárias e divulgadores científicos vêm falando que a vacinação, única e exclusivamente, não irá resolver a pandemia. No melhor dos cenários, com pelo menos 75% da população vacinada e aliada a outras medidas de contenção, as vacinas podem diminuir muitos os casos de Covid-19 e permitir uma retomada lenta à “normalidade”. No pior dos cenários, uma vacinação com rápida abertura pode funcionar como um impulso para o surgimento de novas variantes, colocando em risco as pesquisas dos últimos 17 meses para o desenvolvimento de uma vacina eficaz.

    “MAS ENTÃO, SE MESMO VACINADO DEVO FICAR EM CASA, QUANDO VOU PODER SAIR?”

    Essa é a pergunta de ouro que todos estão se fazendo. Teoricamente, o ideal é estar com pelo menos 75% da população de um país vacinada. Tomando o Brasil como exemplo, temos uma população de aproximadamente 212 milhões de habitantes. Assim, poderia haver uma reabertura segura do país quando no mínimo 159 milhões de brasileiros estivessem completamente vacinados (que é o equivalente a população maior de 18 anos).

    E completamente vacinado significa duas semanas após a segunda dose (ou um mês depois da dose única, no caso da Janssen) no braço.

    Não é só com uma dose. Assim como não é no intervalo de doses. Ademais, não é com ambas as doses. 

    Novamente, o esquema completo é: duas semanas após ter recebido a segunda dose. 

    Contudo, não é isso que temos visto em alguns lugares. Tomando São Paulo como exemplo, tem se visto vários anúncios falando sobre a reabertura total do comércio e outros estabelecimentos, divulgando uma retomada à “normalidade” após o término da vacinação da população adulta do estado em 16/08 (última segunda-feira). Mas como comentado à exaustão em um outro texto recente aqui do Especial, falar em “população vacinada” quando boa parte dessa recebeu só a primeira dose não é realmente verdade. E nem correto. 

    É nessa falsa sensação de segurança que os problemas começam a surgir.

    VAMOS COMEÇAR OLHANDO OUTROS PAÍSES

    Reino Unido:

    com 68% da população tendo recebido pelo menos a primeira dose da vacina, e 52% terem recebido as duas, e com um relaxamento de quase todas as medidas de restrição, os britânicos voltam a ver uma subida rápida dos casos de infecção da Covid-19 após a chegada da variante Delta.

    Holanda:

    em 26 de junho promoveu a reabertura total do comércio, e tirou a obrigatoriedade do uso de máscaras. Duas semanas depois, revogou ambas as medidas e voltou a restringir as atividades quando os casos de Covid-19 explodiram com a variante Delta.

    Estados Unidos:

    com quase 50% da população vacinadas com as duas doses, o CDC (Centro de Controle de Doenças) suspendeu a necessidade do uso de máscaras e permitiu a reabertura de bares e restaurantes em todo o país, mesmo com estados em que a taxa de vacinação completa ficava por volta dos 35%. Dito e feito: os casos voltaram a aumentar, variante delta tomou o país, e no final de julho o CDC recorreu a decisão tomada.

    Vários outros países, com altos índices de vacinação completa (+50%), estão vendo os casos voltarem a subir, mesmo com boa parte da população vacinada: Canadá, Bélgica, Dinamarca, França, Alemanha, Itália e mesmo Israel, que foi modelo de vacinação há alguns meses atrás.

    Em grande parte deles, a história foi parecida: com um grande número de pessoas se vacinando, as autoridades começaram a diminuir e enfraquecer as medidas de restrição, permitindo que as pessoas circulassem mais, estabelecimentos ficassem abertos sem restrição de tempo ou lotação e retirando a obrigatoriedade do uso de máscaras. E os resultados também são bem parecidos: uma explosão de novos número de casos, principalmente, entre os não vacinados. E isto  resultou em novos fechamentos e retomada das restrições. 

    Contudo, agora há uma questão nova que tem dificultado o controle da pandemia, mesmo nesses países com altos índices de vacinação: a variante Delta. 

    “O QUE QUE TEM DE TÃO ESPECIAL NESSA VARIANTE DELTA QUE OS JORNAIS NÃO PARAM DE FALAR? ANTIGAMENTE NÃO ERA A GAMA (OU P1) A PROBLEMÁTICA?”

    Pois é, a variante Gama AINDA é problemática. Contudo, há poucos meses surgiu a variante Delta na Índia, que vem tomando conta do cenário viral em todo o globo, já sendo a mais prevalente em boa parte do mundo. No Brasil, a variante Gama ainda é a mais prevalente e os pesquisadores têm tentado entender o motivo do avanço da variante Delta estar sendo mais lento aqui. 

    Veja nas duas figuras abaixo como a Delta está presente em vários países nas últimas duas semanas (Figura 1) e em São Paulo como a predominância das variantes foi mudando ao longo do tempo (Figura 2)

    Figura 1: Variantes predominantes em cada país, analisada a partir de sequenciamento genético nas últimas duas semanas. Isto pode não representar completamente a situação do país, em função de apenas uma fração dos casos serem sequenciados. Fonte da Imagem: CoVariants.org e GISAID.
    Figura 2: variantes relevantes em São Paulo ao longo dos meses. Fonte da imagem: Fiocruz (disponível em: http://www.genomahcov.fiocruz.br/dashboard/)

    Entretanto, esse não é o ponto deste texto.

    Todo o problema ao redor da variante Delta é a sua alta capacidade de transmissão. Além disso, soma-se a várias mutações que podem levar a um escape da imunidade. Mas para tranquilizar os corações: a proteção gerada pelas vacinas ainda permanece contra essa variante, assim como foi observado para outras. No entanto, há sim uma redução na quantidade de anticorpos neutralizantes.

    De acordo com alguns artigos recentes, o que se sabe até agora é que pessoas que tiveram uma infecção natural de Covid-19 com a variante Gama (de Manaus) ou a variante Beta (da África do Sul) têm uma fraca proteção contra a variante Delta. Em outras palavras, os anticorpos gerados pela infecção natural dessas variantes pouco protegem. Ademais, não garantem que, se essas pessoas não se vacinarem e pegarem a variante Delta, elas terão uma doença menos severa ou leve caso se reinfectem. 

    Claro que aqui precisamos fazer uma pequena ressalva: os pesquisadores olharam somente para uma parte da resposta imune, que são os anticorpos. Nosso sistema imune tem diversas outras ferramentas capazes de nos proteger, como a resposta imune celular. Pouco se sabe se esse escape do vírus também afeta os linfócitos, principais atores da resposta celular.

    Mas aqui também fica nosso apelo: NÃO caia nessa de “tive Covid-19 então não preciso me vacinar”.

    TODOS precisam ser vacinados.

    Muito provavelmente se você teve a Covid-19 no passado, foi com alguma das antigas variantes que não protegem (ou protegem fracamente) contra essa nova variante Delta. Você PODE sim ter Covid-19 novamente, tanto a forma leve com grave e transmitir para parentes, conhecidos e amigos.

    Voltando aos estudos, os pesquisadores também viram uma redução da efetividade das vacinas (isso é, a eficiência em reduzir os casos de Covid-19 com sintomas) e da eficiência dos anticorpos neutralizantes gerados em pessoas vacinadas. Entretanto, essa redução é parecida com a que foi vista em outras variantes (Alfa, Beta e Gama). 

    Trocando em miúdos

    Colocando em termos numéricos para exemplificar: a efetividade da vacina da Pfizer (com 2 doses) contra a variante Alfa foi de 93%, enquanto  contra a Variante Delta foi de 88%. Isso é, a cada 100 pessoas que tomaram ambas as doses da vacina da Pfizer, somente 7 (=100-93) tiveram sintomas de Covid-19 após a infecção pela variante Alfa, e somente 12 (=100-88) tiveram sintomas de Covid-19 pela variante Delta. 

    Já para a vacina da AstraZeneca, a efetividade das duas doses contra a variante Alfa foi de 74% e contra a variante Delta foi de 67%. Sim, um pouco menor do que a Pfizer. Mas isso não quer dizer que quem tomou a vacina da AstraZeneca tem mais riscos de ter Covid-19 e morrer. Esses números são só relativos aos casos sintomáticos, aqueles que a pessoa desenvolve um sintoma da doença. Ambas as vacinas continuam com uma efetividade bem alta contra casos graves. 

    Sim, são boas notícias, mas…

    Apesar dessas boas notícias das vacinas continuarem nos protegendo, nem tudo é um mar de rosas. Esses valores que dissemos são referentes a efetividade de AMBAS as doses de vacinas em uma pessoa. Os pesquisadores viram que em pessoas que só tomaram a primeira dose (seja de Pfizer ou AstraZeneca) a eficiência das vacinas era muitíssimo baixa. Em outras palavras: somente a primeira dose NÃO PROTEGE uma pessoa. Esse indivíduo NÃO TÊM uma chance menor de contrair a forma leve da Covid-19 e assim, pode morrer, além é claro de poder transmitir para outras pessoas. 

    Essa redução da efetividade das vacinas indicou aos cientistas que mesmo com a variante Delta não escapando totalmente da proteção garantida pelos anticorpos após a vacinação, é bem preocupante esse cenário em que surgem novas variantes que conseguem escapar, por exemplo, de uma imunidade “natural”, como foi visto no caso das pessoas que tiveram Covid-19 naturalmente com a variante Beta e Gama, e que produzem anticorpos pouco eficiente contra a variante Delta.

    Em suma…

    Sabemos que a variante Delta é muito mais transmissível, escapa da imunidade natural causada por outras variantes, e reduz a eficácia das vacinas (mesmo que essas ainda nos protejam). 

    Sabemos também que muitos países com vacinações MUITO mais avançadas do que as nossas reabriram. Isto é, voltaram à “normalidade” e tiveram que fechar os estabelecimentos novamente. Mas porquê? Ora, tudo porque a variante Delta chegou nesses países e NENHUM deles havia atingido ainda uma imunidade coletiva. 

    Vimos o número de casos e internações aumentando nesses países, com a grande maioria das pessoas não vacinadas sendo os infectados da vez. 

    E mesmo assim, com todos esses exemplos do que não funcionou, ouvimos pessoas em nosso país, estado e/ou cidade falando sobre a retomada à normalidade e abertura dos estabelecimentos. Isso com somente 20% da população inteiramente vacinada (isto é, com duas doses). Dessa forma, a mensagem final que queremos passar é: continuem se cuidando. Tomem as vacinas (ambas as doses!!!) se na sua cidade já é possível. E principalmente, continuem usando máscaras e evitando aglomerações. Pois no caminho que estamos, o futuro que nos aguarda não é nada bom. 

    Para Saber Mais

    Reportagens

    Europa aprova plano de abertura de fronteiras para vacinados, mas lista de países habilitados só será definida depois

    O que acontecerá no Brasil quando a variante delta se espalhar pelo país inteiro?

    Países com vacinação acelerada veem aumento de casos de Covid e queda de mortes.

    Se reabertura em SP virar vale-tudo, pode haver repique de Covid, dizem especialistas

    Entenda a alta de casos de Covid-19 em países com vacinação avançada.

    Israel restringe viagens e indica novo lockdown para conter casos de  covid-19. Covid: os primeiros resultados da reabertura em seis países.

    Artigos

    Liu, C, Ginn, HM, Dejnirattisai, W, Supasa, P, Wang, B, Tuekprakhon, A, … & Screaton, GR (2021) Reduced neutralization of SARS-CoV-2 B. 1.617 by vaccine and convalescent serum Cell

    Planas, D, Veyer, D, Baidaliuk, A, Staropoli, I, Guivel-Benhassine, F, Rajah, M M, … & Schwartz, O (2021) Reduced sensitivity of SARS-CoV-2 variant Delta to antibody neutralization Nature, 1-7. 

    Lopez Bernal, J, Andrews, N, Gower, C, Gallagher, E, Simmons, R, Thelwall, S, … & Ramsay, M (2021) Effectiveness of Covid-19 vaccines against the B. 1.617. 2 (delta) variant New England Journal of Medicine.

    Este texto foi escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.

    Editorial

  • Replica-me se for capaz! Sobre vírus e mutações

    Texto de Gian Carlo Guadagnin, Stephanny dos Santos Nobre e Gildo Girotto Júnior,
    Mutações virais – parte 1

     Mutações em vírus acontecem, são uma parte da evolução e se dão de forma aleatória. Mesmo não entendendo todos os caminhos dessa mudança, é possível reconhecer alguns aspectos envolvidos no seu acontecimento, o que nos permite não só identificar variantes virais, mas também nos proteger delas. Assim, neste primeiro texto, apresentamos um panorama sobre como os vírus se constituem, funcionam, reproduzem e mutam, para começarmos a pensar em como essas mutações afetam a taxa de transmissibilidade ou podem gerar uma doença mais grave.

    O que são os vírus?

    Desde 2019 vivemos o aumento de uma preocupação popular [1] com os vírus e as doenças que eles podem causar, movimento que não foi diferente dentro dos círculos científicos, em que campos da biologia se debruçaram sobre a natureza e a origem do Sars-Cov-2, dadas as necessidades sanitárias da pandemia

    As estruturas microscópicas denominadas vírus, que têm tirado o sono de todos, são constituídas por um agrupamento de macromoléculas organizadas, podendo ser consideradas parasitas intracelulares [2]. Eles existem em um grande número de formatos e composições, o que torna difícil generalizar suas características. O que podemos dizer é que são formados por uma série de camadas. Dessa forma, a camada mais externa, o envelope ou a carcaça do vírus, é uma capa de proteínas e gorduras que protege as partes mais internas, como o nucleocapsídeo que contém o material genético. Isto é, RNA ou DNA, dependendo do tipo de vírus. É bom ressaltar que esta é a parte fundamental para o estabelecimento dos demais mecanismos e funções virais.

    Além da proteção, o envelope é responsável por iniciar o contato por meio da junção de estruturas denominadas proteínas de envelope, peplômeros ou espículas virais (spikes), com os receptores de informações químicas em nossas células — que também são responsáveis por trocar informações com células de defesa (linfócitos) e hormônios [3]. A função do conjunto da estrutura viral é levar a informação genética do parasita a salvo para dentro da célula hospedeira, fora dela, os vírus não possuem metabolismo ativo e não se reproduzem.

    Caracterizando os vírus

    É consenso que o que importa na identificação de um vírus, mais do que suas características fenotípicas, é o material genético.

    Pode parecer absurdo, mas o número de genomas virais conhecidos não chega a 10 mil, segundo o Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus (ICTV). Esse número foi estabelecido por meio de uma contagem que começou nos anos 1970 e ganhou impulso nos últimos anos. 

    Apenas em 2020, mais de 2 mil genomas (conjuntos de bases que formam um material genético — DNA ou RNA) virais foram identificados [4]. Mais de 2 mil espécies [5], variantes ou unidades virais foram descritas e aguardam classificação. Mas ainda conhecemos pouco. O processo de identificação é complexo e se dá por meio de diferentes métodos, como a metagenômica e processos de clonagem. Ou seja, nestes processos é possível realizar a decodificação do material genético, a classificação biológica do organismo ou vírus e monitorar suas mutações [6]. Dessa forma, os cientistas estimam que existem 1031 unidades virais só nos oceanos e boa parte delas não pertence a nenhum grupo já existente. 

    Uma mão nem sempre lava a outra

    As mutações virais dependem da maquinaria celular e estão sujeitas às condições dentro da célula. Como assim? Ora, a replicação acontece dentro da célula: ao conectar seus spikes à célula hospedeira, os vírus utilizam os processos e estruturas internos dela, como exemplificado abaixo.

    Na figura, ilustramos esse processo tendo como exemplo o vírus do HIV, um retrovírus causador da AIDS. Todavia, ressaltamos que, como os vírus são muitos e variados, não é possível fazer generalizações que cumpram com as especificidades de cada processo e uso da maquinaria celular.

    Figura 1: Ciclo replicativo do HIV / Gian Carlo Guadagnin/Sala Cinco / Adaptado de Biologia de Campbell [7]

     Os vírus que armazenam as informações genéticas sob a forma de DNA costumam ter um processo de replicação mais demorado que os com RNA. Isto acontece por os vírus de DNA serem constituídos por mais genes e porque utilizam mais a maquinaria celular [8]. Grande parte dos vírus com DNA utilizam enzimas (DNA polimerases) das células hospedeiras para revisar, reconhecer e corrigir erros durante o processo de cópia.

    Os vírus com RNA utilizam enzimas (RNA polimerases) que não possuem mecanismos de revisão. Ou seja, a suscetibilidade a erros na sequência genética aumenta [9]. Caso um erro ocorra, temos uma mutação. Porque a sequência genética final dos novos vírus será diferente daquela presente na unidade de referência que infectou a célula. Sequências genéticas virais que diferem em uma ou mais mutações observáveis por nós determinam as variantes [10].

    Vírus e a relevância das mutações

    Os vírus dependem de mecanismos para entrarem nas células do nosso corpo. No caso do SARS-CoV-2, isso se dá pela proteína Spike e seu encaixe com a proteína ACE2 das nossas células. As mutações podem desencadear alterações na estrutura da capa protéica, nas proteínas, nos spikes e outras estruturas que compõem o conjunto viral.

    As mutações podem não alterar em nada a performance dos vírus – são chamadas de neutras ou silenciosas. Mas podem, também, provocar melhorias na forma de disseminação, maior capacidade de replicação, resistência a medicamentos e vacinas ou outras adaptações vantajosas. Dessa forma, neste caso, a sequência mutante tende a se propagar. Isto é, consegue se estabelecer ou se fixar dentro de uma população. Quando a mutação prejudica a sobrevivência e multiplicação, a alteração eventualmente elimina a população. [11]

    São estas mutações que podem, ao se fixar e ser mais presentes em uma população, tornarem-se  o que chamamos de variantes.

    De graça, até injeção na testa

    Como vimos, mutações que levam a variantes virais dependem da replicação do vírus e da fixação na população. Quanto menos organismos infectados, menor a quantidade de replicações, menores são as chances de termos a produção de novas linhagens e cepas (para saber mais sobre, clique aqui). Além disso, menor a possibilidade destas se adaptarem ao meio se tornando resistentes às nossas medidas de controle, como as vacinas. A gripe, por exemplo, um vírus do tipo Influenza, infecta hospedeiros e replica-se muito rápido, levando a contínuas mutações, o que nos obriga a incrementar as vacinas existentes ano a ano para que elas passem a combater as novas formas circulantes identificadas.

    Assim, é importante lembrar que, quanto maior for o nosso cuidado e proteção contra os vírus, mais difícil será a efetivação de mutações e o surgimento de variantes transmissíveis e, eventualmente, mais perigosas. Para isso, é necessário manter processos de cuidados cotidianos diários, como o uso de máscaras (preferencialmente filtrantes tipo PFF2 bem ajustadas), distanciamento social e evitar espaços fechados e mal ventilados. Ademais, é fundamental que todos tomem as doses da vacina, assim que sua categoria for contemplada. Entretanto, lembramos ainda que a vacinação é uma estratégia populacional, isto é, para proteger a si e aos outros: as vacinas salvam vidas e, até o momento, têm abrangido a proteção contra as novas variantes do coronavírus [12].

    Por fim, no próximo texto abordaremos um pouco mais dos estudos sobre mutações já identificadas e analisadas para o novo coronavírus.

    Para saber mais:

    [1] Nova pesquisa revela preocupações dos brasileiros em relação à covid-19 IBPAD.

    [2] KROSMAN, SN et al (2014) VIROLOGIA Rio de Janeiro: GEN Guanabara Koogan, E-BOOK.

    [3] Receptores celulares IBB Unesp

    [4] Introdução à taxonomia de vírus ICTV.

    [5] Beyond coronavirus: the virus discoveries transforming biology. Nature

    [6] FRANÇA, FS (2019) Micologia e virologia Coautoria de Samantha Brum Leite, Porto Alegre: SER – SAGAH. E-BOOK.

    SANTOS, NS de O (2015) Virologia humana, Coautoria de Maria Teresa Villela Romanos e Marcia Dutra Wigg, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, E-BOOK

    [7] REECE, JB et al (2015) Biologia de Campbell, Porto Alegre: Artmed.

    [8] The Virus: How do mutations cause viral evolution? YALE School of medicine.

    Com a evolução não se Brinca, Instituto de Biologia/USP

    [9] FLEISCHMANN, WR Viral genetics. In: S Baron (Ed), Medical microbiology Galveston, TX: University of Texas Medical Branch at Galveston

    The coronavirus is mutating — but what determines how quickly? National Geographic

    [10] O que são mutações, linhagens e cepas Fiocruz

    [11] CURSO DE VIROLOGIA BÁSICA, UFRGS

    [12] BERNAL, JL et al (2021) Effectiveness of Covid-19 Vaccines against the B.1.617.2 (Delta) Variant The New England Journal of Medicine

    [13] Cartilha de Vacinas, Ministério da Saúde do Brasil.

    Este texto foi escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.

    Editorial

  • Ensino Fundamental e a pandemia de Covid-19: realidades e vivências (parte II)

    Texto escrito por Tanise Flores, Peterson Kepps e Mélany Santos

    Janeiro de 2021, em plena pandemia da COVID-19 a autora deste texto recebe a notícia mais improvável (ao menos para ela) por toda situação caótica que, ainda, vivemos. Recém-formada em Biologia Licenciatura, acabava de ser contratada para preencher uma vaga de professora substituta da disciplina de Ciências em uma pequena escola privada de Ensino Fundamental situada na cidade do Rio Grande/RS.

    A partir dessa experiência, dividirei algumas de minhas vivências atuando no ensino emergencial remoto e híbrido com o olhar de quem atua na rede privada. De antemão, gostaria de comentar o quanto me sinto privilegiada em comparação com professores da rede púbica. Escrevo isso por perceber que os estudantes com os quais atuei possuem melhores condições de acesso à internet, assim como um ambiente, na maioria das vezes, calmo e tranquilo para a participação das aulas remotas.

    A escola no qual estava vinculada não deixou seus estudantes uma semana sequer afastados por completo. Alguns estudantes relataram que já na primeira semana em que as escolas foram fechadas tiveram acesso a atividades enviadas pelo Facebook. Nesse sentido, pelo relato dos estudantes, não demorou muito para a escola organizar uma plataforma para que ocorressem as aulas on-line.

    Porém não vivenciei este período inicial e o que gostaria de dividir por aqui são alguns dos momentos nos quais atuei como professora nos cômodos da minha casa. Preciso comentar que muito provavelmente pelo meu desejo forte em começar a atuar como professora, eu possa relatar experiências mais positivas do que negativas, pois foram essas que me tocaram. Me tocaram no sentido de Larrosa, que nos sugere pensar a educação a partir da experiência vivida.

    Assim, minhas primeiras lembranças deste período são dos momentos de ensino remoto com os estudantes, visto que no segundo bimestre atuei na escola no formato do ensino híbrido.

    Confesso que me adaptei rápido a este novo estilo de sala de aula, claro que ao comparar as vivências do ensino remoto (mediado pela utilização da internet) com as vivências do ensino híbrido (ensino mesclado, onde parte da turma se encontra de forma presencial com a professora e parte da turma acompanha a aula em tempo real, através de plataformas digitais, em casa) percebi com clareza o quanto é mais proveitoso para nós professores e para os estudantes quando todos conseguimos nos encontramos de forma totalmente presencial.

    Vivenciando o ensino remoto

    Tive a oportunidade de trabalhar com os 6º, 7º e 8º anos e pude perceber o quanto cada turma é única e responde de forma bem diferente ao ensino remoto. Pude perceber nos mais pequenos a animação em conhecer a professora nova, o entusiasmo com algumas atividades realizadas em aula dentre tantas outras questões que imagino se aproximarem muito de uma sala de aula presencial.

    Alguns estudantes levantavam a mão para falar, pediam para ir ao banheiro, avisavam que iam sair da aula on-line, por algum motivo, e que já retornariam. Entendo que em muito disso estava a escola que incentivava e reforçava atitudes comportamentais como estas, mas não posso deixar de pensar, com as lentes de Michel Foucault, em todo disciplinamento de muito antes da pandemia que estes estudantes receberam ao longo dos anos dentro dos muros da escola e que não foram esquecidos agora que a mesma está em suas casas.

    O celular como parte do material escolar

    Outro ponto interessante a pensar, que a vivência remota proporcionou para as escolas privadas, é a inclusão do celular como parte do material escolar. Percebi que alguns de nós professores conseguimos adaptar de forma muito positiva jogos e atividades on-line de modo que estas envolvessem os conteúdos trabalhados aproximando os estudantes de sua realidade.

    Trago como exemplo o jogo “Minecraft”, comentado com frequência pelos estudantes na sala de aula. A partir dele, consegui trabalhar conteúdos relacionados como, por exemplo, aos tipos de solo e de rochas.

    Os estudantes se entusiasmaram muito com a ideia da aula, foram participativos e inclusive atuaram como protagonistas. Um dos estudantes, de forma voluntária, compartilhou sua tela e acessou o jogo a partir de sua conta privada. Eu, enquanto professora, apenas guiava e orientava para que ele apresentasse para turma os minerais presentes no solo, as diferentes rochas e assim por diante.

    Outro jogo aplicado em sala de aula e adaptado ao conteúdo de ciências (também por sugestão dos estudantes) foi o Gartic. Este, consiste em uma espécie de Imagem e Ação on-line. Caso você nunca tenha jogado, o jogo tem como objetivo adivinhar o desenho ou mimica que está sendo realizada por um dos participantes. Claro que precisei de tempo, que talvez não tinha, para adaptar ao conteúdo de ciências (aqui caberia mais uma boa discussão).

    Assim, tentando fazer do limão uma bela limonada utilizei o tal do Gartic como forma de revisar os conteúdos trabalhados no bimestre. Para isso, modifiquei as palavras sugeridas no jogo para conceitos que estudamos em aula e um estudante por vez realizava o desenho on-line sorteado pelo próprio site do jogo. Para conseguir desenhar e/ou adivinhar o que estava sendo desenhado era preciso domínio do conteúdo.  

    Outra ferramenta muito utilizada, nesse período, foi o Jamboard (quadro interativo desenvolvido pelo Google) através dele conseguimos adaptar atividades virtuais em grupos, pois os estudantes conseguiam acessar o mesmo quadro/mural acrescentando informações em tempo real.

    A tal das câmeras desligadas

    Para não dizer que só encontrei pontos positivos no ensino remoto (longe disso), um dos pontos negativos que poderia listar foi a questão da câmera desligada por alguns estudantes, seja por falta de motivação ou alguma impossibilidade. Alguns destes interagiam pelo microfone ou chat, mas aqueles que permaneciam em total silêncio não era possível ter ideia se estavam por ali ou não. Se fazia sentido o que estava sendo trabalhado em sala ou não.

    Já os que estavam com suas câmeras abertas, por mais que nem sempre participassem de forma oral, era possível perceber pelos gestos de cabeça ou expressões faciais se estavam um pouco mais envolvidos com a aula ou não.

    A avaliação em tempos remotos

    Outro fator que me incomodou bastante e que não poderia deixar de comentar, pois me fez refletir sobre a prática docente é a questão das avaliações. Sabemos que alguns dos estudantes copiam as questões da internet (como nos trouxe o Matheus em “A plataforma Brainly e as exposições da educação brasileira”) e sequer pesquisam nas páginas indicadas, pelos professores, dos livros didáticos ou da web.

    Sinto como se fosse muito mais prático (e talvez seja), para eles, jogar no google (ou no Brainly) e copiar a primeira resposta encontrada, que por vezes possuem termos muito avançados e que sequer foram trabalhados nas aulas, do que dedicar um tempo para realizar uma busca significativa.

    Nesse sentido, percebo que os estudantes talvez não estejam familiarizados com a pesquisa, pois para responder uma prova com consulta (o que se tornaram as avaliações em tempos de ensino remoto) é preciso ao menos que se consulte mais de uma fonte, reflita sobre o que encontrou e elabore uma resposta mais próximo do que acredita ser a correta, fugindo da decoreba.

    Assim, acredito que cabe a nós docentes, dar espaço em nossa sala de aula para que sejam ensinadas, por exemplo, como usar ferramentas de busca online e como referenciar um trabalho incentivando que o estudante tenha um contato maior com a pesquisa científica já no ensino básico.


    Para saber mais…

    LARROSA, Jorge (2002) Notas sobre a experiência e o saber da experiência.

    FOUCAULT, Michel (2007) A arqueologia do Saber.

    Ensino Fundamental e a pandemia de covid-19: realidades e vivências no ensino público

    A plataforma Brainly e as exposições da educação brasileira

    Este texto foi escrito originalmente para o blog PEmCie

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores. Além disso, foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.

  • O TikTok e a educação pró-vacinas

    Foi-se o tempo em que fazer “dancinha” no TikTok (1) era exclusividade da Geração Z. Para além do entretenimento, o aplicativo tem sido usado por sites noticiosos, pela divulgação científica, por políticos e até pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). 

    Figura 1: OMS entra no TikTok para oferecer conselhos confiáveis e oportunos sobre saúde pública. Fonte: Captura de tela do perfil no TikTok da Organização Mundial de Saúde (OMS, “World Health Organization” em inglês). 29 jul. 2021

    Popular entre os jovens, ele pode ser mais uma ferramenta para levar informações confiáveis sobre vacinas, em especial sobre as da Covid-19, diminuindo assim a hesitação vacinal de parte da população, fator que põe em risco a imunidade de grupo, preconizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que também entrou na plataforma desde 2020 para combater a desinformação. Mas, como tem sido essa comunicação até hoje?

    A comunicação em saúde e o TikTok

    Não é nova a adoção das mídias sociais na comunicação em saúde. Isto foi demonstrado por um estudo (2) desenvolvido por pesquisadores dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos (EUA). Ele aborda essa utilização por organizações de saúde pública e profissionais de saúde. Assim, esse estudo tem como finalidade disseminar informação em massa para a promoção da saúde. Além disso, tinha como objetivo a construção de relacionamento médico-paciente, vigilância da saúde pública e melhoria de qualidade.

    Em 2020, pesquisadores da Universidade Huazhong de Ciência e Tecnologia (China) e da Universidade de Brunel (Inglaterra) realizaram uma pesquisa (3) em que analisaram o conteúdo de 962 microvídeos enviados por 31 perfis de TikTok administrados pelos Comitês Provinciais de Saúde (PHC, na sigla em inglês para Provincial Health Committees) chineses durante o mês de agosto de 2019.

    Assim, nesta pesquisa verificou-se 100 microvídeos mais curtidos entre todos os PHCs. Dentre os temas mais produzidos, 38% foram sobre os profissionais de saúde. Posteriormente seguidos de conhecimento sobre doenças, alimentação diária e reforma sanitária (para os quais não foram colocados percentuais exatos). Dessa maneira, o estudo concluiu (entre outras coisas) que esses usuários do TikTok se engajam mais quando os microvídeos estão correlacionados ao seu entendimento de difíceis termos médicos ou jargões.

    A Comunicação sobre a COVID-19 no TikTok

    Figura 2: Continue lavando essas mãos: captura de tela de postagem com foco em precaução pessoal contra a Covid-19. 
    Fonte: Perfil no TikTok da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha (IFRC na sigla em inglês). 04 mai. 2020

    Todos concordam que uma comunicação eficaz em saúde pública é fundamental. Mas será que a rápida expansão do TikTok foi aproveitada pelos agentes de saúde pública para informar e educar as pessoas sobre a Covid-19? 

    Dessa maneira, foi o que buscaram compreender os pesquisadores das universidades americanas de New Jersey e do Arkansas (4) ao analisar 331 vídeos com alguma hashtag relacionada à Covid-19 postados por perfis oficiais de oito agências de saúde pública (como o da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha) e pelas Nações Unidas (como a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) até maio de 2020. Eles identificaram sete categorias de temas de vídeo: 

    1. vídeos com foco em precauções pessoais; 
    2. vídeos de incentivo;
    3. conhecimento da doença; 
    4. antiestigma / antirrumor;
    5. gestão de crise social;
    6. reconhecimento e;
    7. relatório de trabalho

    Os vídeos com foco nas precauções pessoais tenham sido os mais prevalentes. Todavia, o estudo não encontrou diferenças substanciais nas visualizações. Tampouco nas curtidas, comentários e compartilhamentos de vídeos nos sete temas elencados, sendo mais populares aqueles que apresentam dança, devido às características da plataforma. Assim, uma das conclusões é que, apesar do potencial de envolver e informar que tem essa mídia social, as agências e organismos de saúde pública ainda estão num estágio bastante inicial de criação e entrega de conteúdo. 

    Para falar com os jovens

    Um levantamento foi realizado entre janeiro e fevereiro de 2021 pelo think tank estadunidense Pew Research Center (5). Neste estudo, apresentou-se que 48% dos usuários norte-americanos do TikTok têm entre 18 e 29 anos e que 22%, têm entre 30 e 49 anos. Embora as evidências anteriores tenham sugerido que a doença poderia ser menos grave entre os jovens (6), essas faixas etárias são importantes na comunicação de saúde da Covid-19. Isto porque estudos recentes indicam que ela pode se prolongar mesmo entre adultos jovens sem condições médicas crônicas subjacentes (7). Além disso, um em cada três jovens pode apresentar sintomas graves (8). 

    Assim, por ser tão popular entre os jovens, o TikTok pode ter uma utilidade imensa na comunicação de saúde e consequente educação desse público. Conforme se observa em recentes reportagens informando que os jovens estão usando o TikTok para aliviar seus medos do coronavírus. Assim, a empresa, atenta à questão, criou um centro de informações para oferecer aos seus usuários conteúdo confiável sobre a doença. Além disso, no Brasil, firmou parcerias com instituições de pesquisa em saúde, como é o caso da realizada com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em maio de 2021.

    Health Literacy

    Os pesquisadores de Huazhong e Brunel (3) informam que o Conselho de Estado da China mantém desde 2016 um Comitê de Promoção da China Saudável. Este conselho realiza um trabalho sob a perspectiva holística da mídia na educação e comunicação em saúde pública. Dessa forma, possui o objetivo de levar à sua população a alfabetização em saúde (ou health literacy, no termo em inglês). Assim, esse movimento demonstra que a comunicação e a educação em saúde por meio de mídias integradas é uma preocupação nacional, naquele país.

    Figura 3: Conhecimento e bom humor. Fonte: capturas de tela de vídeos dos perfis do virologista Rômulo Neris (@oromulismo), à esquerda (19 jan. 2021), e do ator Emerson Espíndola (@mister.emerson), à direita (27 jul. 2021).

    No Brasil, há iniciativas pontuais, como o excelente trabalho realizado pelo ator Emerson Espíndola, que após o início da pandemia criou um perfil no TikTok com o codinome Mister Emerson e tem produzido microvídeos muito interessantes sobre as vacinas contra a Covid-19, além de outros temas relacionados à saúde. Há também cientistas, como o virologista e biofísico  Rômulo Neris (9) que também divulga informações sobre as vacinas contra a Covid-19, além de conteúdo relacionado ao Coronavírus, visto que pesquisa o assunto. Além disso, em nível governamental, podemos destacar para a Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, em cujo perfil institucional são postadas informações educativas para o público em geral.

    Finalizando

    Em um governo que trocou o ministro da saúde 4 vezes em plena pandemia da Covid-19, como no âmbito federal, tivemos campanha oficial contra o isolamento social e contra a obrigatoriedade das vacinas. Dessa forma, chega a ser devaneio supor que se faça uso de formas inovadoras de comunicação em saúde pública. Nessa seara, o país está à mercê de uma maioria de criadores comuns de conteúdo. Ainda que bem intencionados, por não terem formação para tal, eventualmente, podem cometer equívocos e desinformar. 

    Portanto, Health Literacy por meio do Tiktok já é uma realidade em canais oficiais de países e agências de saúde em diversas partes do mundo. Embora ainda esteja em um estágio inicial. Em suma, Brasil, dependente dos esforços dos divulgadores de ciência (profissionais ou não), infortunadamente, segue sem um direcionamento coordenado, o que pode estar custando centenas de milhares de vidas.

    P.S. [nota do editorial]: Em breve um texto específico sobre o Todos Pelas Vacinas e ações de divulgação no TikTok também!

    Update em 18/08/2021 – Entrevista a CBN 

    Saiba mais:

    (1) Desenvolvido na China, o TikTok é uma plataforma de mídia social que permite aos seus usuários a criação de vídeos curtos (microvídeos) de 15 a 60 segundos (noticiário recente informa esse tempo aumentou para até 03 minutos), possui funções de edição, permite a inserção de músicas, efeitos especiais e o compartilhamento com a comunidade. Assim, dados de 2019, mostram que o aplicativo já tinha, à época, mais de 500 milhões de usuários ativos e um bilhão de downloads no mundo.

    (2) HELDMAN, AB, SCHINDELAR, J & WEAVER, JB (2013) Social Media Engagement and Public Health Communication: Implications for Public Health Organizations Being Truly “Social” Public Health Reviews, Vol 35, Nº 1.

    (3) ZHU, Chengyan et al (2020) How health communication via Tik Tok makes a difference: a content analysis of Tik Tok accounts run by Chinese Provincial Health Committees International journal of environmental research and public health, v. 17, n1, p 192.

    .

    (4) LI, Yachao; GUAN, Mengfei; HAMMOND, Paige; BERREY, Lane E (2021) Communicating COVID-19 information on TikTok: a content analysis of TikTok videos from official accounts featured in the COVID-19 information hub Health Education Research, 261-271. 

    (5) AUXIER, Brooke;  ANDERSON, Mônica (2021) Social Media Use in 2021 Pew Research Center, Washington (EUA) 7/Abr/2021 

    (6) CASTAGNOLI, Riccardo et al (2020) Severe acute respiratory syndrome coronavirus 2 (SARS-CoV-2) infection in children and adolescents: a systematic review JAMA pediatrics, v174, n 9, p 882-889.

    (7) TENFORDE, Mark W. et al (2020) Symptom duration and risk factors for delayed return to usual health among outpatients with COVID-19 in a multistate health care systems network, Morbidity and Mortality Weekly Report, v 69, n 30, p 993.

    (8) ADAMS, Sally H et al (2020) Medical vulnerability of young adults to severe COVID-19 illness—data from the national health interview survey Journal of Adolescent Health, v 67, n 3, p 362-368.

    (9) Néris em 2020 era doutorando em Imunologia e Inflamação, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e foi um dos sete pesquisadores brasileiros selecionados para estudar a covid-19 com uma bolsa da Dimensions Sciences para estudar a genética do vírus e suas mutações, além de alterações observadas no indivíduo durante a infecção, como metabólicas e pulmonares. (Mariana Alvim, da BBC News Brasil. 08 jun. 2020).

    Este texto foi escrito originalmente para o Mindflow

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores. Além disso, foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.

  • Vacinação e Pandemia de Covid-19: desencontros narrativos

    Texto escrito por Marina Fontolan e Dayane Machado

    No texto anterior, falamos sobre a história da vacinação e a criação do Zé Gotinha, hoje nós vamos falar sobre a vacinação no Brasil no cenário da pandemia de COVID-19 especificamente.

    Como a vacinação no país, embora avançando, ainda está mais lenta do que gostaríamos e ainda não possuímos doses suficientes para toda a população, fizemos um recorte histórico.

    Assim, no texto de hoje, começaremos abordando o anúncio dos testes da Coronavac em território nacional e até o final do ano de 2020. Ainda que seja um recorte histórico muito breve, ele deixa claro como o governo federal reagiu à vacina e como foi mudando seu discurso ao longo do tempo, estratégia essa que continua sendo empregada ainda hoje.

    Vacinação no Brasil

    No Brasil, a vacinação para a Covid-19 já possui um histórico ”longo”. Ele começa em 2020, quando o governador do estado de São Paulo, João Dória, anunciou em meados de junho que o instituto Butantan produziria a vacina. Um mês depois, afirmou que a vacina poderia estar disponível à população em Janeiro de 2021. Um discurso problemático que já estava sendo adotado por outros países: Estados Unidos e Rússia, por exemplo, já estavam anunciando o lançamento de possíveis vacinas para agosto daquele ano.

    No entanto, o final de Agosto de 2020 marcou o início de uma grande discussão acerca da vacinação de Covid-19 no país. O Ministério da Saúde tentava negociar a compra de vacinas da Oxford (hoje conhecidas como AstraZeneca).

    Alguns poréns

    Enquanto isso, o presidente da república, Jair Bolsonaro, dizia a apoiadores que “Ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina”. Ao mesmo tempo, João Dória começou a defender a vacinação obrigatória. A partir deste momento, tivemos um embate de narrativas, que politizou o debate em torno da vacinação e de possíveis tratamentos para a Covid-19.

    Em Outubro de 2020, Dória declarou que a vacinação seria obrigatória no estado de São Paulo, sendo rebatido por Bolsonaro no mesmo dia. Este afirmou que o governo federal não obrigaria a vacinação, mesmo tendo assinado uma lei que permitia aos estados tornar a vacinação compulsória.

    Ainda no mês de Outubro, o Ministério da Saúde anunciou a compra da vacina chinesa da Sinovac, a Coronavac, por meio de um acordo com o governo do estado de São Paulo. O presidente reagiu no dia seguinte, falando em traição do Ministério da Saúde e disse que seu governo não compraria a “vacina chinesa”. Esta fala foi contrariada pelo então vice-presidente da república, o general Hamilton Mourão, que afirmou que o governo federal compraria a vacina chinesa sim. Fala esta que veio acompanhada da estimativa do presidente da Anvisa de que o Brasil teria vacinas disponíveis no 1º semestre de 2021, momento em que o país já tinha mais de 150 mil mortes pela Covid-19.

    Protestos e intenções de se vacinar: as contradições brasileiras

    As falas do presidente da república em relação à vacina geraram reação da população brasileira, sobretudo aquela que apóia o presidente. Um grupo a favor dele chegou a realizar um protesto na Avenida Paulista no início de novembro de 2020, criticando Doria e a obrigatoriedade da vacina de Covid-19 em SP.

    Nessa época, uma pesquisa do Datafolha mostrou que 72% da população tomaria a vacina da Covid-19, 57% aceitariam o imunizante de origem chinesa e 58% aceitavam a obrigatoriedade. Em outras palavras, as falas do presidente já estavam possivelmente contribuindo para a confusão da população em relação às vacinas e em relação às políticas públicas em torno da vacinação. Por exemplo, a obrigatoriedade que o presidente dava a entender que seria implementada, era aquela da Revolta da Vacina, algo muito distante da realidade.

    Da suspensão temporária de testes às mudanças de narrativas

        Ao constatar a morte de um participante dos testes da Coronavac no estado de São Paulo em meados de novembro de 2020, a Anvisa pediu a suspensão dos testes. Isto acontece para que as circunstâncias da morte fossem melhor analisadas, e os testes foram retomados dois dias depois. A notícia fez com que Bolsonaro comemorasse “Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”.

    Esse ponto marcou uma certa mudança de discurso vindo do governo federal em relação às vacinas. Isto é, Dória anunciou que a vacina poderia ser aplicada no Brasil sem a autorização da Anvisa, a Anvisa rebateu a fala. Além disso, Bolsonaro afirmou que o Brasil iria fornecer a vacina, desde que a Anvisa a aprovasse. Este mês terminou com o Ministério da Saúde descartando a possibilidade de acesso à vacina para toda a população em 2021 e com a Anvisa fazendo inspeções na China relacionadas à produção da Coronavac. 

    Já o mês de Dezembro de 2020 iniciou com o Ministério da Saúde afirmando que a vacina da PFizer não atendia ao perfil desejado pelo Brasil e a Anvisa definindo requisitos para uso emergencial de vacinas. Além disso, o então presidente da câmara, Rodrigo Maia, tentou definir um plano de vacinação e uma discussão acerca de quanto tempo a Anvisa teria para avaliar os pedidos de uso emergencial das vacinas.

    Termo de responsabilidade e movimento antivacina

    Em meados de dezembro, Bolsonaro pediu a divulgação de dados sobre periculosidade das vacinas contra Covid-19. Neste momento, ele afirmava que exigiria das pessoas que tomassem vacina a assinatura de um termo de responsabilidade e, também, afirmou que ele próprio não tomaria.

    Neste discurso, Bolsonaro juntou algumas táticas usadas pelos movimentos antivacina. Quais? Ora, o questionamento gratuito dos processos de desenvolvimento das vacinas. Como a suposição de que elas não são seguras, independente do volume de evidências indicando o contrário. Além disso, também apontou a suposta relação de  liberdade de escolha. Para tanto, ele (e todos adeptos a este discurso) ignoram o fato de que as vacinas são uma política de saúde pública coletiva e que a perspectiva individualizada não faz o menor sentido nessa discussão.

    O Superior Tribunal Federal reagiu a esta fala, autorizando medidas restritivas às pessoas que não tomassem vacina e rejeitando o recurso que desobrigava os pais a vacinarem os filhos. Bolsonaro respondeu, dizendo que não haveria vacina para todos. Outra fala é que não havia razão para ter pressa pra comprar vacinas (discurso que mudou no dia 28/12). Por fim, que não ligava para o fato do Brasil estar atrasado na vacinação e nas negociações de compras de vacinas e que era responsabilidade dos laboratórios negociar as doses com o Brasil. Fundamental lembrar que tal fato chegou a ser feito pela Pfizer insistentemente, mas ela continuou sendo ignorada).

    Análise de dados: qual o resultado disso?

        Há uma clara confusão gerada acerca das vacinas, direcionando a circulação de desinformação à população. Quais?

    Por exemplo, a falta de uma campanha em defesa da vacinação por parte do governo federal (uma marco negativo na história da vacinação no Brasil, considerando a trajetória do PNI). Além disso, temos as suspeitas sobre as vacinas, desde a segurança até a eficácia, levantadas constantemente pelo presidente. Por fim, podemos citar também as informações desencontradas divulgadas por diferentes instituições (imprensa, instituições de pesquisa e diferentes setores do governo).

    Reforçamos estes exemplos com a popularidade de boatos de que as vacinas não seriam seguras, de que poderiam causar doenças e de que não protegeriam contra a Covid-19. Em entrevista ao Jornal Valor Econômico, Aurélio Tenharim, um líder indígena no Amazonas, afirmou o seguinte: “Muitos parentes não querem tomar a vacina (…) Os parentes dizem: ‘Se o presidente diz que não vai tomar a vacina porque diz que não precisa, porque eu vou tomar?”. Parentes se referem às pessoas que se identificam como indígenas – independente da etnia. 

    Mas isto não se deu de forma isolada

    Os discursos nada consistentes vindos do governo federal, sobretudo a partir da figura do presidente da república, não alimentaram a hesitação vacinal só entre os povos tradicionais no Brasil. Como visto, a pesquisa do Datafolha do ano passado já indicava a possibilidade de hesitação e, de acordo com os pesquisadores da Rede de Pesquisa Solidária, a falta de vacinas também contribuiu para a população hesitar em se vacinar. Essa hesitação vacinal está chegando a ponto de sobrarem vacinas em algumas unidades básicas de saúde e de pessoas morrerem de Covid-19 por não terem tomado a vacina, como este caso reportado pelo Youtuber Felipe Neto.

        Essa hesitação vacinal se torna um problema cada vez maior no país. Afinal, a falta de vacinas de um lado e a hesitação de outro, fazem com que a pandemia não consiga ser controlada. Isso resulta no país permitindo que mais pessoas morram e levando mais tempo para conseguir retomar suas atividades econômicas – alerta dado inclusive pela OCDE

    Como lidar com essa situação?

        Quando estamos diante de uma pessoa espalhando desinformação, sendo essa relacionada à vacinas ou não, podemos seguir alguns passos. Primeiro: identificar o público: quem é essa pessoa? De onde ela tirou esta desinformação? A maior parte das pessoas acaba espalhando desinformação sem saber que se trata de desinformação. É importante lembrar que todos estão suscetíveis a desinformação e podem cair nelas.

    O segundo passo é conversar com a pessoa no privado e evitar ataques, sem fazer um estardalhaço em grupo, pois isso pode travar o diálogo.

    O terceiro passo é ouvir a pessoa de verdade e fazer muitas perguntas: de onde ela recebeu aquele dado? Quem enviou? Por que isso faz sentido pra ela?, faça isso reconhecendo os sentimentos das pessoas. Lembrem-se: estamos numa pandemia e é normal as pessoas sentirem medo. Isso faz com que as pessoas acreditem nas maiores bobagens sem pensar.

    O quarto passo é encontrar pontos em comum entre o que a pessoa fala e o dado que você tem, mas cuidado! Evite usar jargões e inundar a pessoa com dados e muitas informações, isso tende a fazê-la se fechar e passar a te ignorar. Por fim, repita os fatos sempre que possível

        Você percebeu que a pessoa está com muito contato com redes de desinformação? Além dos passos que já dissemos, é legal você mostrar para ela redes sérias de divulgação científica. Abaixo indicamos alguns destes locais:

    InfoVid – Twitter; Instagram e Facebook

    Especial COVID-19 

    Todos Pelas Vacinas

    Observatório COVID-19

    Rede Análise COVID-19

    Agência Lupa

    Organização Mundial da Saúde

    Associação Brasileira de Saúde Coletiva

    Central of Disease Control and Prevention

    Para Saber Mais

    Eve Dubé, Maryline Vivion & Noni E MacDonald (2015) Vaccine hesitancy, vaccine refusal and the anti-vaccine movement: influence, impact and implications, Expert Review of Vaccines, 14:1, 99-117.


    Lazarus, J.V., Ratzan, S.C., Palayew, A. et al. A global survey of potential acceptance of a COVID-19 vaccine. Nat Med 27, 225–228 (2021).

    Este texto foi escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.

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