Categoria: Eleições 2018

  • “Nada sobre nós sem nós” ou pelo direito de representar nós mesmas

    Escrito por Maria Fernanda com Maurício Oliveira

    Desde o final do século XX se inscreveram na memória social outros sentidos possíveis para prostituição. Ressignificações trabalhistas, feministas e de luta coletiva dos trabalhadores organizados abalaram antigas certezas vitimistas e resgatistas por meio da enunciação das próprias pessoas que se prostituem, realizadas no singular ou no plural.

    Com uma longa trajetória de alianças que inclusive tutelavam suas ações políticas de mobilização coletiva a autonomia foi uma conquista trabalhosa e cativa. Passaram com bastante custo, embate e jeitinho a protagonizar sua própria história; a não mais figurar em uma narrativa construída e contada por outros grupos de pessoas, sem suas intervenções diretas e fundamentais.

    É um pouco isso que o lema “nada sobre nós sem nós” traz consigo. Referenciando os acúmulos do texto “Da integração à inclusão”, texto alusivo à luta coletiva de deficientes por direitos, publicado em site em Novembro de 2011, retomo:

    NADA quer dizer “Nenhum resultado”: lei, política pública, programa, serviço, projeto, campanha, financiamento, edificação, aparelho, equipamento, utensílio, sistema, estratégia, benefício etc. […]

    SOBRE NÓS,ou seja, “a respeito das pessoas com deficiência”. Estas pessoas são de qualquer etnia, raça, gênero, idade, nacionalidade, naturalidade etc., e a deficiência pode ser física, intelectual, visual, auditiva, psicossocial ou múltipla. Segue-se uma vírgula (com função de elipse, uma figura de linguagem que substitui uma locução verbal) que, neste caso, substitui a expressão “haverá de ser gerado”.

    SEM NÓS, ou seja, “sem a plena participação das próprias pessoas com deficiência”. Esta participação, individual ou coletiva, mediante qualquer meio de comunicação, deverá ocorrer em todas as etapas do processo de geração dos resultados acima referidos. As principais etapas são: a elaboração, o refinamento, o acabamento, a implementação, o monitoramento, a avaliação e o contínuo aperfeiçoamento (SASSAKI, 2011, grifos meus).

    Nesse recorte interseccionamos com outro movimento (o de deficientes intelectuais, físicos e sensoriais) que também luta contra a discriminação. Essa empreitada, como podemos notar com o trecho acima, não é específico da luta dos trabalhadores sexuais. Mas é nesse ensejo do movimento afirmativo de protagonismo que temos resumidamente uma síntese: nenhum resultado a respeito da luta das pessoas que são o foco do movimento organizado, sobre as quais efetivamente incidirão as políticas traçadas, haverá de ser gerado sem a plena participação dessas próprias pessoas. Não só gerado, acrescentamos, mas – parafraseando o último recorte – sem PARTICIPAÇÃO PLENA, que é elaborar, refinar, acabar, implementar, monitorar, avaliar continuamente aperfeiçoar.

    Nesse viés não me deixo levar pelo neoliberalismo parco que afirmaria, contra-argumentando então que qualquer pessoa que possa a vir assumir publicamente a condição de trabalhador sexual (seja qual for suas propostas e possíveis atuações governamentais) que não se comprometam publicamente com as demandas centrais do movimento internacional de trabalhadores dessa categoria. Ou seja, que não se opõem à criminalização e não se posicionam em prol da revogação de todas as leis e regulamentações punitivas relativas e relacionadas ao trabalho a fim de garantir que os governos defendam os direitos humanos dos profissionais do sexo.

    Afinal, com o acúmulo gerado nesses anos de construção e do qual aos poucos me filio, partimos do pressuposto de que enquanto o trabalho sexual for criminalizado – direta ou indiretamente através de leis e práticas de coerção seja dos profissionais do sexo, dos clientes ou ainda de terceiros haverá sempre um risco maior de violência (incluindo a policial), de detenções, de chantagens, de deportações e outras violações de direitos que precisam ser combatidas.
    Isto tem um peso significativo enorme quando retomamos toda a criminalização e marginalização empreendida por diversos setores da sociedade contra os sujeitos e suas práticas e, por extensão, ao trabalho sexual como um todo.

    Por isso, na véspera da eleição de 2018, destacaremos nessa blogagem coletiva da edição especial do Blogs de Ciência da Unicamp de Ciência e Política as candidaturas políticas de prostitutas no Brasil. Destacando as atuais e retomando algumas das anteriores, convidamos a todos conhecer um pouco mais de perto as propostas de cada representante.

    1. Cida Vieira , em 2004, 14 anos atrás, já disputava o cargo de vereadora de Belo Horizonte. Com uma trajetória de campanha mais longa que de suas companheiras, concorreu mais quatro vezes também para deputada estadual e deputada federal, todas por Minas Gerais: 2006, 2008, 2014 e 2018. Se filiou inicialmente ao Partido Trabalhista Nacional e hoje faz parte do Partido Comunista do Brasil. Esse ano novamente se empenha em gritar por você
    2. Célia Gomes, por sua vez, marinheira de primeira viagem, concorre neste ano a deputada estadual pelo Partido de Trabalhista Cristão e representa o estado do Piauí.

    3. Se lançando neste mar bravo, nem sempre piedoso, Ana Santos pelo Partido de Mobilização Nacional concorre também a deputada estadual mas por Amazonas.

    Essas integrantes e protagonistas do movimento, no entanto não foram as primeiras a se lançarem na carreira política se juntando a outras companheiras que também ousaram traçar esse caminho espinhoso que nem sempre nos admite sequer na arquibancada.

    E foi assim que, como sempre vanguarda, uma das personalidades mais consolidadas na defesa do direito dos profissionais do sexo:

    • há 16 anos Lourdes Barreto já se lançava como candidata a deputada estadual concorrendo em 2002 pelo Partido dos Trabalhadores.
    • Posteriormente Gabriela Leite, também fundadora do movimento, concorreu a deputada federal pelo Partido Verde nas eleições de 2010, há oito anos.

    2016, ineditamente, foi o ano de representações travestis e transgêneras:

    • Indianara Siqueira em 2016 concorreu ao cargo de vereadora do Rio de Janeiro em 2016 pelo Partido Socialismo e Liberdade e
    • Amara Moira que concorre para o mesmo cargo, mas na cidade de Campinas.

    Para finalizar, destaco ainda o inestimável valor dessas parcerias na estrutura do movimento sólido que temos hoje. Jovem, robusto e sólido. E, ao mesmo tempo, realçar que por mais aderência que os apoiadores aliados possam ter ao discurso dos grupos de trabalhadores sexuais organizados, ainda não estarão na mesma posição que uma prostituta, um michê, uma travesti profissional do sexo. Até porque, mesmo que a nível verbal haja semelhanças, pontos de convergência e sintonia, o lugar não só social como também de fala é outro. A posição social é outra. Inclusive, a relação de forças entre essas duas posições são de sustentação, apoio, e não de equivalência.

    Neste outro momento, bastante diferente dos fundadores, do final dos anos 1980 e das décadas que se seguiram (1990, 2000 e 2010) corro o risco de dizer (parafraseando a noção de porta-voz de Pêcheux (1990)) que conseguimos a duras penas constituir um nós discursivo que passe a sustentar enunciações e demandas políticas em nome próprio, sem a necessidade de um técnico apoiador no papel de mediador discursivo.

    Digo isto porque costurando a chamada “função social” da ciência atualmente, que sofre tantos ataques via cortes orçamentários e desqualificação enquanto produtor de conhecimentos, viemos tecer conexões levando ao nosso público leitor mais informações sobre nosso papel na sociedade encadeando com reflexões teóricas que fundamentam essa parceria de extensão universitária com as três redes de articulação do movimento nacional de profissionais do sexo.

    E é por isso que reforço que essa posição de porta-voz, conceituada por Pêcheux em 1990, noção de caráter contraditório e paradoxal, é extremamente privilegiada para ser ocupada apenas por colegas que simpatizam com nossas pautas. Essa posição, a de representação política no governo, é tão valiosa que, nas palavras deste autor com o qual eu tanto me identifico, permite não só a narração do presente que vivemos como também delineia os contornos do futuro que estamos hoje construindo.

    Quando aqui falo desse movimento duplo que representantes legítimos podem ocupar falo da possibilidade de narrar acontecimentos quanto de propor ações. Em outras palavras, retomo as duas posições visíveis na qual se desdobra o porta-voz: uma de ator, “aquele que se expõe ao olhar do poder que ele afronta”; outra a de agente que resiste e fala “em nome daqueles que ele representa, sob o seu olhar” (p.17).

    Esse porta-voz se trata de uma figura discursiva que, em termos de como funciona na prática, em suas palavras, circula entre as posições de profeta, de dirigente e de homem de Estado. Se constitui como o agente de contradições e deslocamentos, porque atua entre o mundo existente e a possibilidade de um outro mundo. É o corpo (tão desejado) talvez impulsionado pela semente da resistência que perturba o campo do político, que pode vir a promover mudanças, rupturas – ou, em tempos sombrios e temerosos, estagnações, retrocessos.

    Além disso, em acúmulos consolidados no grupo de pesquisa que faço parte (o Mulheres em Discurso) consideramos que iniciativas como essas na qual sujeitos que não pertencem ao grupo do qual falam em nome de, recusando-se a ceder o protagonismo a quem efetivamente o detém, funcionam mais de modo a interceder por do que lutar com. Em outras palavras, operam o silenciamento condicional quando há a elaboração e enunciação de demandas coletivas através de mecanismos nos quais se é falado por (INDURSKY, 2000) a partir do discurso sobre (ORLANDI, 1990). Ou seja, algo que, por mais que estejam “na melhor das intenções” pode vir a ser extremamente nocivo para os acúmulos gerados pelo movimento nacional de prostitutas.

    Como pudemos acompanhar, segurando o boi pelo chifre e batendo o pé no chão, as protagonistas desde a virada do século mais do que nunca na história deste país tiveram condições de não depender de mediadores facilitadores. Mas de representantes, de sujeitos legitimados pelo movimento que falam por e em nome de uma coletividade da qual pertencem.

    Rumo à Câmara dos Vereadores e ao Congresso Nacional:
    TODO PODER ÀS PUTAS

    ***

    Agradeço ainda a todas as lideranças das três redes do movimento brasileiro de prostitutas na revisão e escrita conjunta desse texto: Rede Brasileira de Prostitutas, Central Única de Trabalhadoras Sexuais e Articulação Nacional de Profissionais do Sexo. Meus agradecimentos mais carinhosos se estendem a Vânia Rezende (Pernambuco), Cida Vieira (Minas Gerais), Célia Gomes (Piauí), Indianara Siqueira (Rio de Janeiro), Ana Santos (Amazonas) e Diana Soares (Rio Grande do Norte).

    Referências Bibliográficas

    • BEIJO DA RUA. Rio de Janeiro: Coletivo Davida. Ano 28, número 2, Dezembro de 2017.
    • DIVULGACANDCONTAS – Detalhes de Candidaturas brasileiras atuais e anteriores. Disponível em <http://divulgacandcontas.tse.jus.br/divulga/#>. Acessado em 17 de Setembro de 2018.
    • DZIUBAN, Agata; STEVENSON Luca et all. Nothing About Us Without Us!: Ten Years of Sex Workers’ Rights Activism and Advocacy in Europe. Amsterdam: International Comittee on the Rights of Sex Workers in Europe. Dezembro de 2015.
    • INDURSKY, Freda. A função enunciativa do porta-voz do discurso sobre o MST. Rio de Janeiro, Alea, v.2, p.17-26, Do Programa de Pós Graduação em Letras Neolatinas, UFRJ, set. 2000.
    • ORLANDI, Eni. Terra à vista. Discurso do confronto: Velho e Novo Mundo. Campinas: Ed, Unicamp, 2a ed., (1990), 2008.
    • ORLANDI, Eni. Silêncio e Implícito (produzindo a monofonia). In: GUIMARÃES, E (org). História e sentido na linguagem, incluindo o texto de Michel Bréal. Campinas, 2ª edição aumentada, Editora RG, 2008. p.39-46
    • PÊCHEUX, M. Delimitações, inversões e deslocamentos. Tradução de José Horta Nunes. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, v.19, p.7-24, 1990.
    • SASSAKI, Romeu Kazumi. Nada sobre nós, sem nós: da integração à inclusão. Disponível em <https://www.researchgate.net/publication/289245278/download>, publicado em 22 de Junho de 2018 e acessado em 17 de Setembro de 2018.
    • SKACKAUSKAS, Andreia. Prostituição, gênero e direitos: noções e tensões nas relações entre prostitutas e Pastoral da Mulher Marginalizada. 2014. 313 p.

    Publicado originalmente em: #Linguística.

  • Editorial 2018 – Open Philosophy

    “No século IV a.C., a República de Platão oferecia a primeira utopia sócio-política – uma especulação sobre o melhor modo de organizar a vida (particular e) pública que haveria de se tornar objeto de interpretação e crítica constante no resto da história ocidental.

    Entre as teses mais controversas, há uma de especial interesse: grande conhecedor da psicologia humana, Platão sugere no Livro V de República uma estratégia para evitar os desvios produzidos pela ambição, à qual se inclina naturalmente todo sujeito (e em especial os detentores do poder), pode ser encontrado na abolição da propriedade privada, em especial para a classe governante, tornando comuns não apenas os bens materiais mas também os filhos e todos os laços sanguíneos, de modo que todos concebam o mesmo como “próprio” e o interesse particular não danificasse o comunitário, o bem comum à maioria.

    Anos depois o discípulo de Platão, Aristóteles, reagia à especulação do mestre e à ideia da comunidade de bens e família. Na Política, Aristóteles defende que a pretensão platônica é não apenas impossível mas, ainda que realizável, absolutamente indesejável. A propriedade privada – anota Aristóteles, outro grande conhecedor da vida subjetiva – constitui uma das maiores fontes de motivação e prazer humano, e a sua abolição resultaria justamente no efeito contrário do pretendido: ser de todos não equivale, diz Aristóteles, a ser de cada um mas, paradoxalmente, a ser de ninguém. Com o qual o que é comum seria igualmente negligenciado por todos.

    Há aqui uma clara polarização das perspectivas e um exemplo clássico de bom debate político. Tanto a polarização quanto o debate tiveram início há mais de dois milênios, e são ainda arena de agitada disputa na época contemporânea”

    Há aqui uma clara polarização das perspectivas e um exemplo clássico de bom debate político. Tanto a polarização quanto o debate tiveram início há mais de dois milênios, e são ainda arena de agitada disputa na época contemporânea.

    “Hoje, aliás, o debate político é especialmente imprescindível.

    Que significa hoje ser de esquerda? que de direita?

    É ainda pertinente esta nomenclatura? Se sim: qual a sua utilidade?

    Qual a ideia de “progresso” defendida por cada uma das vertentes?

    Qual é o discurso hegemônico de cada uma no que toca à justiça, e à justiça social principalmente?

    Existe uma dogmática própria da esquerda e da direita no que toca à educação e à ciência?

    Quais as propostas dos presidenciáveis no contexto eleitoral do Brasil atual?

     

    Open Philosophy – https://www.blogs.unicamp.br/openphilosophy/

    Conheça mais sobre o Blog https://www.blogs.unicamp.br/openphilosophy/sobre/

  • Ciência também é política e economia

    Texto por Victor Augusto Ferraz Young

    Nestes dias que antecedem às eleições presidenciais de 2018, nos deparamos com os recentes cortes orçamentários por parte do governo federal no que se refere à promoção e ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia no Brasil.

    A redução neste e em outros gastos tem como base o fato de que o Estado deve garantir que parte daquilo que arrecada seja direcionado para o pagamento de suas dívidas depois de abatidas as despesas – grosso modo. Que o Estado deva cumprir com seus compromissos, isso não é objeto de discussão, ele deve pagá-los. Os termos da dívida contratada e sua rolagem, a qualidade do gasto realizado e a forma como se obtém a receita são, porém, objeto de acalorado debate, principalmente entre economistas. Ou seja, há espaço para várias formas de se abordar essa questão. Mencionamos o pleito presidencial, pois a forma de se gerir o gasto, a arrecadação e o endividamento é, em grande medida, uma opção política. Não fosse assim, este tema não estaria em todos os programas de governo de cada candidato e não seria um assunto tão debatido como o é nesse momento de escolha do futuro governante.

    Não pretendemos agora abordar toda a discussão sobre a gestão de recursos do Estado, faremos isso ao longo dos próximos meses, assim que o futuro blog de economia estiver pronto. Pretendemos, todavia, salientar nosso ponto de vista quanto à questão do suporte governamental para o desenvolvimento e para a produção de ciência e de tecnologia.

    Os recentes cortes orçamentários nestes itens do governo obedecem, em grande medida, a uma agenda que estabelece que um governo deve gastar não muito mais do que arrecada, realizando e rolando dívidas em meio a reiterados cortes sobre aquilo que não faria parte de suas funções. O mantra desta ideologia é o de que o Estado não deve auxiliar o desenvolvimento da economia local. Ou seja, a melhor ajuda é deixá-la sem auxílio para enfrentar corporações gigantescas em um mercado aberto e globalizado. Caberia ao empresário brasileiro arcar com o custo, o risco e o prazo para a maturação de um investimento em inovação. Isso sem considerarmos aqui um conjunto prévio de produtos avançados e conhecimentos técnicos necessários para a produção de algo novo e rentável. Dada esta ordem de coisas, não é difícil escutar entre candidatos que, neste cenário, do nada, o investidor estrangeiro viria ao Brasil trazer e desenvolver tecnologias de ponta. Ele virá, se houver um mercado aberto e com moeda estável para a retirada de seus lucros, mas a questão da transferência de tecnologias de fronteira me parece remota, quando não improvável.

    Por último, é muito importante enfatizar que historicamente não houve país que se tornasse altamente desenvolvido sem a interferência do Estado. Este apoiou o capital nacional, o progresso da ciência e, como resultado, promoveu a criação de empregos de alto nível para seus habitantes. Também não há nação nessa estatura que tenha seguido, nos momentos cruciais de seu desenvolvimento científico, tecnológico e industrial, uma agenda como esta que descrevemos acima e que está sendo proposta nestas eleições. A chamada proposta “liberal”, eufemismo que substitui o termo neoliberal, não tem como conduzir o país para o mundo dos países desenvolvidos, pois sem o apoio do Estado, não há como desenvolver um dos elementos imprescindíveis e fundamentais para se chegar lá: a criação de tecnologias e inovações com base no conhecimento científico.

    Texto por Victor Augusto Ferraz Young – Doutorando em Desenvolvimento Econômico pela UNICAMP e Colaborador do Blogs de Ciência da Unicamp.

  • A importância da ciência para o estudo da energia

    Texto por Rafael Henrique

    Vocês já devem estar familiarizados com a notícia do corte de bolsas da CAPES previsto para agosto de 2019, correto?

    Certamente quando eu li isto foi como se fosse um soco no estômago. Por causa disto, eu decidi fazer um texto sobre o porque a ciência é importante para o estudo da energia, da mesma forma de o porque de conscientizar as pessoas sobre o prejuízo que os ataques a ciência podem causar para quem estuda nesta área. Como o caso de Engenheiros de Energia ou áreas relacionadas.

     

    O que é ciência?

    A definição de ciência em si já explica a sua importância no estudo da energia. Ciência é o conhecimento obtido através da prática ou estudos. Basicamente, através da pesquisa. Logo, a ciência é necessária para o aprofundamento das mais variáveis áreas, inclusive a que o Blog é focada(8;9).

    Energia Eólica

    É incerto o tempo exato da criação da energia eólica. Existem evidências que o modelo de eixo vertical tenha surgido em volta de 200 antes de cristo no Irã. Outras demonstram que teria sido originada na Persia. Mas uma coisa é certa. A metodologia para o desenvolvimento do uso dos ventos, foi baseado em conhecimento científico. Considerando também que antigamente era estudado o uso do vento para outros usos, como irrigação. O estudo dos moinhos de vento também é um antecessor para as atuais torres eólicas. Da mesma forma que sua evolução feita por vários países, em especial a Holanda e na Dinamarca (na qual os modelos para geração de eletricidade foram criados)(2).

    Turbina eólica Charles Blush (1888)

    No Brasil, também há estudos para aplicação da energia eólica. Através de metodologias em diferentes estados (envolvendo instituições diferentes), foram feitos diferentes atlas eólicos, com o intuito de avaliar o potencial eólico nestes estados. Inclusive, o estudo destes projetos pode auxiliar inclusive na geração de empregos e aumentar a segurança energética do país(6).

    Energia Solar

    Muitos métodos foram desenvolvidos para captar energia dos raios de sol. Um experimento feito por Georges Louis Leclerc (Comte de Buffon), focalizava os raios de sol em um único ponto, com este intuito. Assim como a eólica, o descobrimento desta fonte renovável foi baseado em viés científico. Da mesma forma que o estudo foi evoluindo, como William Grylls Adams e seu estudante Richard Evans Day fizeram em 1876, na qual introduziram a relação da energia solar com a geração de eletricidade(3).

    Fonte: Gardner (2010)

    No Brasil o governo procura investir no uso da energia solar. Estudos são feitos, por exemplo, sobre o Payback que regiões tem após aderirem a um sistema de aquecimento solar, feito pela SWERA. Inclusive, há estudos para a aplicação da energia solar em regiões, cujos painéis não estão localizados. Em outras palavras, utilizar a energia solar para abastecer uma região distante de seu local de instalação. Todos estes estudos são possíveis graças a magica da ciência(6).

    Biodiesel

    Não apenas para o diesel, mas também para o biodiesel, foi utilizado de métodos científicos. Os motores a diesel, por exemplo, estão relacionados com os motores a vapor. Isto tendo como base um modelo conhecido como “Hero of Alexandria”. O ciclo a Diesel foi sendo desenvolvido com o tempo, a partir de pesquisas com queima de combustíveis, idem parâmetros necessários, como o volume e o tipo de combustível. Da mesma forma que foram necessárias adaptações, como reduzir os ruídos do motor e até mesmo as emissões. E o avanço também permitiu o uso de combustíveis alternativos ao motor a diesel, como é o caso do biodiesel atualmente(7).

    No Brasil o uso do biodiesel encontra-se bastante incentivado. Inclusive, busca aumentar a porcentagem de biodiesel em conjunto com o diesel ano após ano. Mas antes, busca-se testar a mistura, na qual utiliza-se de métodos científicos. E o Brasil possui uma quantidade grande de insumos para o biodiesel, o que faz a área de estudos de biodiesel ter inúmeras possibilidades. Como por exemplo, os estudos feitos para o aumento na mistura do biodiesel, considerando a redução de emissões, idem o não esgotamento de tais recursos(5).

    Conclusão

    O avanço da ciência foi crucial para a criação e avanço, não só das fontes citadas, mas também de outras não citadas neste texto (tanto renováveis quanto não renováveis). Se o Brasil investir em ciência, certamente poderá fazer mais estudos de aplicações das fontes de energia, inclusive resolver soluções de seus problemas. Por isto qualquer ataque a ciência é também uma afronta ao desenvolvimento de novos estudos de energia. Desta forma, peço que divulguem esta mensagem final a todos aqueles que visam estudar sobre a energia. E para os mesmos não deixarem isto acontecer, pois isto afeta a todos desta área(1,4).

    E nestas eleições (ou nas próximas) cobrar dos seus candidatos uma posição sobre a ciência no Brasil. Sugiro votar em candidatos que estimulam a pesquisa cientifica no Brasil, e não votar em quem pensa o oposto. Caso o seu candidato não tenha nenhum interesse na pesquisa científica (e que deveria ter), mas você discorda deste posicionamento e ainda assim irá votar nele (o que eu desaconselho), COBRE uma satisfação sobre o ocorrido para evitar tal acontecimento.

    E este foi mais um texto. Os links para este texto estão na descrição, e vou pedir para verem e compartilhar especialmente o item 1, porque ele fala do assunto de uma forma mais ampla até mesmo para quem não é da área em que o blog é focado. E aproveitem e curtam o Blog em suas redes sociais (Facebook e Twitter).

    Referências:

    (1) FERNANDES, S. Os cortes na CAPES e a pesquisa no Brasil | 030. Brasil, Youtube, 2018. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=yaA2bIqNUww>

    (2) FLEMING, P. D.; PROBEN, S. D. The Evolution of Wind-Turbines : An Historical Review. Applied Energy, v. 18, p. 163–177, 1984.

    (3) GARDNER, L. The sun’s power went into battle for the Greeks and now heats homes. Professional Engineering, n. 31 March 2010, p. 21, 2010.

    (4) MORI, L. Corte de bolsas da Capes afetará vacinas, energia, agricultura e até economia, diz presidente da SBPC. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45063428>. Acesso em: 4 ago. 2018.

    (5) OLIVEIRA, F. C. DE; COELHO, S. T. History , evolution , and environmental impact of biodiesel in Brazil : A review. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 75, n. July 2015, p. 168–179, 2017.

    (6) RAMOS, F.; PEREIRA, E. B. Enhancing information for solar and wind energy technology deployment in Brazil. Energy Policy, v. 39, n. 7, p. 4378–4390, 2011.

    (7) SHRINIVASA, U. The Evolution of Diesel Engines. Resonance, n. April, p. 365–377, 2012.

    (8) Significado de Ciência. Disponível em: <https://www.significados.com.br/ciencia/>. Acesso em: 4 ago. 2018.

    (9) Significado de Ciência. Disponível em: <https://www.significadosbr.com.br/ciencia>. Acesso em: 4 ago. 2018.

plugins premium WordPress