O COVID-19 agora é anunciado como pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), fazendo com que muitos países declarem estado de emergência e encerrem lugares públicos. As ferramentas de diagnóstico podem desempenhar um papel fundamental na redução da taxa de disseminação e no controle do vírus. A microfluídica tem o potencial de oferecer ferramentas de diagnóstico de ponto de atendimento rápidas e acessíveis para ajudar nessa condição. Mas primeiro, vamos dar uma olhada nos recursos desse vírus
O que são coronavírus e COVID-19?
Os coronavírus são uma família de vírus que podem causar doenças em humanos e animais. Essa família de vírus é chamada corona, pois parece uma coroa sob o microscópio. Os coronavírus podem causar infecções no sistema respiratório em humanos. Dois dos membros conhecidos desta família podem levar à Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS) ou à Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS). O membro mais recente dessa família causa a Doença do Vírus Corona, também conhecida como COVID-19.
Como é diagnosticado o COVID-19?
De acordo com as diretrizes dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), os clínicos com base nos sinais e sintomas, epidemiologia e histórico de viagens dos pacientes são incentivados a coletar amostras, incluindo uma amostra de saliva, entre outras, para enviar a um laboratório para testes. O teste inclui uma reação em cadeia da polimerase com transcrição reversa (RT-PCR) da amostra e atualmente pode levar alguns dias para ser concluída.
Por que é importante ter um método de diagnóstico rápido?
A detecção rápida é de importância crucial em uma pandemia. Milhares de novos casos estão sendo testados todos os dias, o que sobrecarrega os laboratórios. A detecção rápida pode reduzir o número de visitas desnecessárias às clínicas de saúde e ajudará o setor de saúde a salvar vidas, tratando os pacientes com resultados positivos. Além disso, reduz o risco de espalhar o vírus enquanto se aguarda os resultados ou é incerto sobre suas condições. Atualmente, existem testes rápidos disponíveis para alguns vírus que podem levar a um resultado em 30 minutos. Testes semelhantes podem aliviar a carga dos laboratórios e clínicas de saúde, se disponíveis para o COVID-19.
Como a tecnologia microfluídica pode ajudar na pandemia de COVID-19?
Como mencionado acima, uma ferramenta de diagnóstico rápido é de suma importância no momento de uma pandemia. É importante notar que pode levar até duas semanas a partir do momento da infecção para que os sintomas sejam observáveis. Isso dá a uma pessoa potencialmente infectada tempo suficiente para espalhar o vírus para 2,2 outras pessoas em média. Para isso, também devemos adicionar o tempo que o laboratório leva para gerar os resultados e devolvê-lo ao paciente e aos hospitais. Um dispositivo de diagnóstico de ponto de atendimento desejável para o COVID-19 deve ter os seguintes recursos:
Retorno rápido da amostra para o resultado;
Limite de detecção clinicamente relevante;
Acessibilidade
A tecnologia microfluídica é adequada para diagnósticos no local de atendimento. A microfluídica está associada ao manuseio de uma pequena quantidade de fluido em canais e câmaras em escala de mícrons. Essas características, juntamente com as altas relações superfície/volume, permitem que os pesquisadores manuseiem menores quantidade de amostras e reagentes com maior eficiência e gerem resultados mais rapidamente do que os métodos convencionais.
Os chips de PCR microfluídicos que foram extensivamente desenvolvidos para a detecção de patógenos como vírus ou bactérias, poderiam oferecer uma solução viável aqui, porque, se projetados adequadamente, eles podem se aproximar de um fluxo de trabalho tradicional de laboratório em RT-PCR. Além disso, eles exigem menos volume de reagentes que, por sua vez, reduzem o custo. O custo é crucial neste estágio, pois o vírus está se espalhando pelo mundo e acaba de começar a afetar os países em desenvolvimento com menos recursos disponíveis. A indisponibilidade de ferramentas de diagnóstico acessíveis pode acelerar a disseminação do vírus que estressa os sistemas de saúde.
Em suma, a pandemia do COVID-19 nos lembra a importância de uma ferramenta de diagnóstico rápida e confiável no ponto de atendimento. A disseminação do vírus poderia diminuir se tivéssemos essas ferramentas em mãos para testes rápidos do vírus. Também poderia diminuir as visitas aos hospitais e a carga de trabalho dos laboratórios, resultando em mais espaço e melhor tratamento para os pacientes e salvando mais vidas.
A microfluídica tem potencial para ser usada como uma ferramenta de diagnóstico neste contexto. Ainda estamos nos primeiros estágios dessa pandemia e podemos ter outras pandemias nos ameaçando no futuro. Portanto, temos que usar todo o nosso potencial tecnológico e científico para derrotar esses casos. Biomédicos e pesquisadores são altamente incentivados a examinar os potenciais da tecnologia microfluídica a esse respeito.
Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp.
Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.
Dicas de aulas, cursos e outras atividades para o isolamento social
Tempo de leitura: 3 min
Desde achegada do Covid-19 no Brasilem 23 de Janeiro de 2020, o País vem adotando várias restrições para evitar a disseminação da doença. O maior problema da pandemia do novo coronavírus é a rapidez com a que ele se espalha, e isto nos coloca em uma situação incomum, a do isolamento social.
Distanciamento x Isolamento x Quarentena
O distanciamento social é recomendado a todos durante a pandemia. Neste caso ainda é possível sair de casa, desde que se evite aglomerações e mantenha uma distância de no mínimo um metro e meio entre as pessoas. O isolamento social é essencial para o combate à pandemia, em que o contato entre pessoas é restrito àquelas que moram em uma mesma casa, e o isolamento pessoal é indicado aos casos suspeitos. Já a quarentena é obrigatória para os casos confirmados de Covid-19 e deve durar 14 dias, exigindo maior cuidado de higiene para conter a disseminação da doença.
Mas, além do trabalho remoto e das aulas não presenciais (ensino à distância), o que podemos fazer para evitar o tédio durante o isolamento social?
Fonte da imagem: pixabay.com
Ampliando o conhecimento
O período dentro de casa pode contribuir para o crescimento de cada um, mas ninguém deve se sentir pressionado a fazer inúmeras atividades. A estratégia é identificar um objetivo e pensar sobre ele. O simples ato de pensar sobre o que se quer alcançar e como isso será alcançado já é uma atividade, por isso a reflexão é uma sugestão para os momentos como esses de quarentena.
Para aqueles que preferem um caminho traçado, uma maneira de se manter ocupado é a inscrição nos cursos online que várias plataformas estão disponibilizando gratuitamente. A começar pelas três maiores universidades paulistas. Para quem é mais interessado em difusão científica, a USP tem uma aula específica deTópicos de Pesquisa nas Ciências Contemporâneas. Para quem tem que tomar a decisão sobre qual carreira seguir, assistir às aulas pode ser uma ótima opção para conhecer melhor os cursos e ver com qual se identifica.
Caso você queira investir em um curso técnico ou de especialização, há também diversas opções! ACursos de Formaçãooferece cursos com certificados e muitas instituições, com por exemplo aRock Universitytêm disponibilizado cursos gratuitos em decorrência do cenário atual, e também Instituições como a Fundação Bradesco, Fundação Getúlio Vargas, Insper, SEBRAE, Senai, Unicamp, Unesp, Harvard, MIT, além de sites já conhecidos como edX e Coursera1.
Se você irá prestar algum vestibular em breve, a melhor indicação seria certamente a revisão do conteúdo de ensino médio. Existem muitos cursos online das principais matérias (Matemática, Física, Química, Geografia, História, Português), como aqueles divulgados na plataformaLearnCafe,Stoodiou por vídeo aulas disponibilizadas principalmente no YouTube.
Os alunos que estão estudando para o vestibular também possuem uma ótima oportunidade de se dedicar aos estudos, por exemplo, mediante o treinamento por simulados disponibilizados gratuitamente pelos cursinhos2-4. Fazer questões é a chave nos exames competitivos e é possível apenas separar uma meta: 20 questões por dia durante a semana, 10 no período da manhã e 10 no período da tarde, cada bloco de uma matéria diferente. Quando chegar o final de semana, já haverá uma primeira fase inteira do vestibular feita e treinada.
E, ainda, para os mais práticos, uma opção é se candidatar para um trabalho voluntário. A ONU, por exemplo, diariamente, abre inscrição paravoluntários remotos, em diversas áreas. Além de trabalhar para uma organização internacional, a maioria dessas atividades voluntárias é para empresas que desenvolvem um projeto social e para governos de outros países, promovendo uma conexão global que com certeza trará destaque ao currículo.
Atividades divertidas
Outra atividade muito interessante é visitar os maiores museus do mundo. Vários museus disponibilizaram a exploração virtual por meio de tour online5-7. Aqui no Brasil, por exemplo, oMuseu Casa de Portinaripermite a exploração de cada exposição e das obras de arte nele contidas, além de apresentar o processo de criação do artista Cândido Portinari, que retratou e expôs ao mundo a sociedade brasileira, com inspiração nos movimentos do cubismo e do surrealismo.
O museu de ciências da UNICAMP também está oferecendo lives e oficinas online no seu Instagram @mcunicamp. Um exemplo interessante é o vídeo de como construir um microscópio em casa. Assistam e tentem fazer!
O Duolingo é um aplicativo muito divertido, que oferece cursos de vários idiomas e tem umaversão gratuita. Outra opção é seguir contas no Instagram que oferecem algum tipo de conteúdo gratuito para línguas, como @voalearningenglish, @carinafragozo, @rhavicarneiro, @luisaensinaespanhol. No youtube também existem diversos canais com aulas gratuitas, como a @rachelenglish.
Atividades físicas em casa
Outra forma de passar o tempo em casa é fazendo exercícios físicos, que além de manterem a saúde do corpo, também ajudam com a saúde mental nesses tempos de afastamento social. Várias contas no Instagram apresentam diversos tipos de exercícios que podem ser feitos em casa, como yoga @angelicabanhara, meditação @zenappbrasil e pilates @vivi.pilates, ajudando o nosso corpo e mente a ficarem ativos.
Ainda no tema de saúde mental, o aplicativoVitalktem uma versão gratuita que nos ajuda na detecção de problemas de depressão e ansiedade.
Esperamos que tenham gostado das nossas dicas e coloquem nos comentários o que vocês têm feito para passar o tempo dentro de casa.
Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp.
Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.
Por Profa. Paula Dornhofer Paro Costa e Júlia Perassolli De Lázari (FEEC) Imagem COVID-19: Carol Frandsen
Pouco a pouco, um vocabulário que antes só fazia parte de filmes de ficção, foi se tornando realidade, invadindo nossas vidas sem pedir licença: coronavirus, COVID-19, pandemia, quarentena e, infelizmente, COLAPSO, palavra que nos trará dias dolorosos. Dias que não sairão de nossas memórias e que imprimirão cicatrizes profundas em muitas famílias.
A narrativa mais simples para se chegar ao colapso tem uma sequência clara:
É um fato que parte dos portadores de COVID-19 precisarão de tratamento intensivo, ou seja, leitos de UTI.
Também é um fato que existe um número finito de UTIs.
Se o número de casos confirmados se tornar tal que a porcentagem de casos que tipicamente necessitam de UTI se tornar maior que o número de leitos de UTI disponível, o colapso acontece.
Unidade de Terapia Intensiva (UTI): área crítica destinada à internação de pacientes graves, que requerem atenção profissional especializada de forma contínua, materiais específicos e tecnologias necessárias ao diagnóstico, monitorização e terapia. Fonte: Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, RESOLUÇÃO Nº 7, DE 24 DE FEVEREIRO DE 2010
Em poucas palavras, profissionais da saúde terão que decidir quem ocupará o leito e quem será fadado à falta de tratamento. Obviamente, os profissionais da saúde farão de tudo para minimizar essas escolhas à custa de horas extras e condições de trabalho não-ideiais e, infelizmente, muitos deles começarão a adoecer, agravando o colapso por falta de recursos humanos capacitados e em suas melhores condição de trabalho. Mais ou menos nesse ponto, as pessoas começarão a conhecer pelo menos uma pessoa que morreu de COVID-19 e os números deixarão de ser números para se tornarem “gente que você conhece”, com nome, sobrenome, esposa, marido, pai, mãe, filhos, netos.
Mas muitos talvez ainda se perguntem: já estamos no caminho do colapso? Quando ele acontecerá?
O colapso pode ser mais doloroso para alguns estados
O Brasil também é um país com grande desigualdades em sua infraestrutura de saúde. São Paulo, o epicentro da pandemia no Brasil, só não entrou em evidente colapso devido à sua avantajada proporção de leitos de UTI/habitante, comparável a países de primeiro mundo. Essa situação é similar para outros estados do Sudeste e Sul (Tabela 1).
No entanto, o mesmo não acontece para outros estados brasileiros, em particular da região Norte. Um número inferior de casos confirmados pode levar a região rapidamente para o colapso (Tabela 2).
Estado
Leitos de UTI Adulto SUS
Leitos de UTI Adulto Privados
São Paulo
4071
5349
Rio de Janeiro
1379
3084
Minas Gerais
2309
1218
Paraná
1471
876
Rio Grande do Sul
1267
673
Tabela 1 – Estados Brasileiros que têm maior disponibilidade de leitos de UTI (Fonte: DATASUS-02/2020, foram considerados leitos adultos (UTI1,UTI2, UTI3), coronarianos (2 e 3) e de isolamento.
Estado
Leitos de UTI Adulto SUS
Leitos de UTI Adulto Privados
Rondônia
182
82
Tocantins
90
62
Acre
64
15
Amapá
33
35
Roraima
43
8
Tabela 2 – Estados Brasileiros com menor disponibilidade de leitos de UTI (Fonte: DATASUS-02/2020, foram considerados leitos adultos (UTI1,UTI2, UTI3), coronarianos (2 e 3) e de isolamento.
Estamos longe do colapso?
A resposta é: infelizmente NÃO.
Justifica-se então as notícias da construção de hospitais de campanha por todo o país.
Os gráficos abaixo mostram que estados brasileiros do Norte e Nordeste serão os primeiros a entrarem em colapso, possivelmente já nas próximas semanas. Para estes estados, as ações de isolamento social parecem ser essenciais para “ganhar tempo”.
Para realizar essas projeções, foram considerados os seguintes aspectos:
Foram considerados as capacidades de leitos de UTI para adultos reportados pelo DATASUS incluindo UTI-a Tipo II, Tipo III, UCO Tipo II e Tipo III e Unidade de Isolamento conforme definições no anexo da Portaria N° 895 do Ministério da Saúde de 31 de março de 2017. Neste caso, assumindo uma posição otimista, partindo do pressuposto que determinados leitos de UTI adultos voltados, por exemplo, para doenças coronarianas, podem ser revertidos em leitos para pacientes da COVID-19.
Partiu-se da hipótese razoável de que muitos dos leitos de UTI disponíveis nos estados já estavam ocupados antes da crise global da COVID-19. Baseamo-nos na cobertura da imprensa, considerando o pior caso, no qual apenas 22% da infraestrutura disponível está vaga. “Coronavírus: leitos de UTI têm mais de 70% de ocupação em 17 estados”, O Globo, Março, 2020, último acesso 04/04/2020
Finalmente, consideramos a distribuição das faixas etárias brasileiras para estimar a porcentagem de internações de UTI no Brasil em aproximadamente 1,44%. Veja como chegamos nesse valor AQUI.
Esperar pelo melhor, preparar-se para o pior
Neste momento, inúmeros pesquisadores trabalham em modelos matemáticos para tentar prever a evolução da pandemia no Brasil e no mundo. Tais modelos são ferramentas essenciais para que tomadores de decisão possam decidir quando, onde e como agirem para diminuírem os impactos de uma doença que se alastra rapidamente.
Nossas projeções assumem cenários pessimistas: uma evolução exponencial da doença e uma baixa disponibilidade de leitos de UTI. Esperamos que estes cenários não se concretizem, mas parece ser prudente olhar com atenção para estes estados brasileiros.
Uma descrição detalhada da análise de dados que gerou os gráficos deste artigo pode ser encontrada aqui. Este trabalho é o resultado de uma força tarefa de alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC), do Instituto de Computação (IC) e Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (IMECC) e Faculdade de Ciências Médicas (FCM). A força tarefa também conta com a parceria do Prof. Dalton Martins, da Faculdade de Ciência da Informação (FCI) da Universidade de Brasília (UnB).
Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp.
Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.
Primeiro, é importante ter em mente que ainda não temos evidências científicas de que as máscaras caseiras de pano são efetivas para proteger os indivíduos saudáveis contra a SARS-CoV-2. O mais importante é o mantra Uma mão lava a outra (com água e sabão), limpar as superfícies e o isolamento social (físico).
“Além de eficiente, é um equipamento simples, que não exige grande complexidade na sua produção e pode ser um grande aliado no combate à propagação do coronavírus no Brasil, protegendo você e outras pessoas ao seu redor.” Ministério da Saúde. Acesso em 5 Abr. 2020.
Mas de que tipo de proteção eles devem estar falando? Para entender um pouco mais vamos começar sobre as formas de manifestação ou não do vírus.
Sintomáticos e assintomáticos
Um pessoa infectada pelo SARS-CoV-2 pode não apresentar sintomas, ou seja, ser assintomática ou apresentar sintomas, que podem ser leves, parecidos com a de uma gripe, ou mais severos e que precisam de atendimento imediato.
Até o momento a Organização Mundial de Saúde NÃO RECOMENDA o uso de máscaras por pessoas que não tenham os sintomas. A exceção é o uso por pessoas que estejam cuidando de outras que possam estar com COVID-19. Além disso, a OMS não faz menção ao uso de máscaras caseiras e deixa claro que as máscaras descartáveis só devem ser usadas uma vez e dispensadas.
Ainda de acordo com a OMS, o uso de máscaras sozinho não previne a propagação da COVID-19. Deve-se ficar atento às recomendações sobre higienização das mãos por meio de água e sabão ou álcool gel 70% e de superfícies. Aliados ao isolamento social (físico), essas medidas tem se mostrado as mais eficazes para romper a propagação da doença.
Uma máscara de qualquer material serve?
Não. Nem todo o material pode ser usado na confecção de máscaras no combate ao SARS-CoV-2. O vírus SARS-CoV-2 (severe acute respiratory syndrome coronavirus 2) que causa a doença COVID-19 tem tamanho que varia entre 70 a 90 nm.
Para se ter uma ideia, as réguas escolares são divididas em centímetros com 10 divisões menores, que são de 10 em 10 milímetros. O vírus é 900.000 menor do que 1 milímetro. Invisível a olho nu. Como ele viaja em partículas/gotículas e possivelmente em (bio)aerossóis o conjunto aumenta um pouco de tamanho, mas ainda continua em uma escala imperceptível aos nossos olhos.
Legenda: A imagem feita por meio de uma técnica chamada de microscopia eletrônica de transmissão mostra o SARS-CoV-2. Credito: NIAID-RML
Recentemente, em um canal no YouTube, surgiu a sugestão de uma máscara feita a partir de plástico e papel filtro de café. Você já olhou o papel filtro de perto? Nós conseguimos ver os furinhos a olho nú!
As máscaras usadas como Equipamento de Proteção Individual (EPI) são regulamentadas e servem como um filtro, impedindo que algumas partículas passem e outras não. Mas cuidado! Existem vários tipos de máscaras, cada uma para um fim específico. Veja o post Máscaras caseiras são eficientes contra o coronavírus?em que abordamos aspectos históricos sobre a confecção de máscaras caseiras.
Um estudo publicado no dia 4 de Abril, comparou as máscaras cirúrgicas e a N95 usada por profissionais de saúde e avaliou seu possível uso para a proteção contra SARS-CoV-2. O estudo mostrou que eles não são similares. Elas não são capazes de proteger contra os aerossóis expelidos pelos pacientes e mesmo na proteção contra gotículas, que são maiores do que os aerossóis, as máscaras apresentam “baixa evidência de efetividade”.
NÃO protege adequadamente o usuário de patologias transmitidas por aerossóis (veja alguns exemplos no Quadro 2), pois, independentemente de sua capacidade de filtração, a vedação no rosto é precária neste tipo de máscara;
NÃO é um EPR”. Agência Nacional de Vigilância Saninária. Acesso em 5 Abr. 2019
EPR é a sigla para Equipamento de Proteção Respiratória, isso quer dizer que a máscara cirúrgica não garante que uma pessoa saudável possa ser contaminada por alguns tipos de patógenos, como o SARS-CoV-2.
Mas se ela não protege, por que ela tem sido indicada para pessoas com sintomas da COVID-19? Porque ela funciona como uma barreira mecânica, diminuindo a dispersão do SARS-CoV-2 no ambiente. Um efeito parecido com o tossir no cotovelo e ou sobre um papel (lembre-se de jogar fora e lavar as mãos depois).
Como a máscara médica descartável funciona? Ela impede que as gotículas do espirro ou tosse voem longe, diminuindo a contaminação do ambiente.
Vídeo da página Nunca Vi um Cientista
Existem dois principais motivos para não se recomendar a compra/uso de máscara cirúrgica por pessoas que não apresentam sintomas:
1.Não há evidência de que elas podem proteger uma pessoa saudável de contrair o vírus SARS-CoV-2 e
2.A diminuição da disponibilidade de máscaras em situações que realmente são necessárias, ou seja, por profissionais da saúde.
Uma pessoa saudável usando uma máscara cirúrgica não tem garantia de que ela está protegida contra a COVID-19, o mesmo se aplica ao uso de máscara caseira feita de pano.
Um comentário publicado no jornal The Lancet sobre o uso racional de máscaras durante a pandemia por COVID-19 traz uma observação importante: “there is an essential distinction between absence of evidence and evidence of absence”. Ou seja, há uma distinção essencial entre a ausência de evidência e a evidência da ausência, isto é, ainda são muito pequenas as evidências de que o uso de máscaras possa permitir uma proteção contra essa infecção respiratória.
Quando devo usar uma máscara?
O consenso científico é que as pessoas devem cobrir tosses e espirros e usar máscaras caso estejam doentes. As máscaras cirúrgicas descartáveis usadas pelos SINTOMÁTICOS ajudam a diminuir a propagação do vírus no ar por reter gotículas de água.
Mas e para as pessoas que estão com sintomas leves? O uso de máscaras cirúrgicas é recomendado quando na presença de outras pessoas, mas lembre-se de que elas não devem ser reutilizadas e só podem ser usadas por no máximo 3 horas. Além disso é importante fazer o descarte adequado das máscaras cirúrgicas.
E os assintomáticos? Os estudos mostram que as pessoas assintomáticas podem transmitir o vírus a outras pessoas que podem desenvolver sintomas.
Um estudo mostrou que no grupo de japoneses que foram evacuados de Wuhan para o Japão, havia cerca de 30.8% de assintomáticos. Isso significa que uma pessoa com a aparência saudável pode ser portadora do vírus.
Outras estimativas, em estudos com grupos diferentes, mostram porcentagens diferentes. É bom lembrar que essas porcentagens estão em relação a um grupo infectado/testado e não a população geral.
Na China, das 72.314 pessoas examinados até 11 de Fevereiro, 61,8% testaram positivo e deles, apenas 1.2% se mostraram assintomáticos.
Liu e Zhang afirmaram que o uso de máscara por uma pessoa infectada com sintomas leves foi capaz de garantir que outras não fossem infectadas. Mas e as que ainda não desenvolveram os sintomas, as pré-sintomáticas que podem começar a ter sintomas após o 3 ao 14 dia após a infecção? E as pessoas assintomáticas? Será que o uso de máscaras é efetivo?
Em uma carta publicada no The National Academies of Science, Engineering and Medicine, o médico e chefe do Emerging Infectious Diseases and 21st Century Health Threats, Harvey V. Fineberg, reportou que alguns estudos encontraram a presença do vírus a partir de (bio)aerossóis expelidos na respiração normal e ao falar por pacientes com SARS-CoV-2, indicando uma POSSÍVEL rota de contaminação. De acordo com uma publicação da Science, nem todos os especialistas concordam com a transmissão por essa via, assim como especialistas da Organização Mundial de Saúde que apontam que, até aquele momento, dos 75.000 casos que haviam sido reportados na China, nenhum deles resultou de uma infecção a partir dessa rota.
A carta escrita por Fineberg cita um outro trabalho que mostra que o uso de máscaras cirúrgicas por crianças e adultos com doença respiratória aguda reduzem a proporção de um outro vírus da família do coronavírus (outro que não o SARS-CoV-2) nas gotículas e aerossóis liberados do outro lado da máscara. Outro artigo, publicado na Nature, mostrou que o uso de máscaras cirúrgicas por pessoas sintomáticas reduz a quantidade de vírus expelido pelos pacientes com coronavírus. No entanto, ainda não há comprovação científica de que o uso de máscaras proteja indivíduos saudáveis.
E as máscaras caseiras de pano? Não há um conjunto de evidências científicas que provem a eficácia do uso de máscaras caseiras como forma de prevenção de um indivíduo saudável contrair o SARS-CoV-2. Há especulações de que as máscaras de pano usadas por pessoas infectadas possam funcionar como uma barreira mecânica, impedindo a ampla dispersão do vírus, mas os estudos ainda apontam a necessidade de mais estudos científicos.
Na última sexta-feira, dia 3 de Abril, o Centro de Controle e Prevenção Doenças (CDC) dos Estados Unidos reviu a sua posição e passaram a indicar o uso de máscaras ou proteção de tecido no rosto em locais públicos. De acordo com o CDC, a recomendação do uso de máscaras de pano está relacionado à preocupação com a transmissão do vírus por pessoas assintomáticas ou pré-sintomáticas.
Mas e se você decidir usar uma máscara caseira de pano?
É importante [nós diríamos que é FUNDAMENTAL] ter alguns cuidados para que ela não cause mais mal do que bem. Ou seja, ela pode ser uma fonte de contaminação se não tomados os cuidados necessários, como evitar tocar a máscara durante o tempo de uso para não contaminar as mãos. Também é necessário que após o uso sua máscara seja lavada de maneira adequada.
Bartoszko, JJ et al. Medical Masks vs N95 Respirators for Preventing COVID‐19 in Health Care Workers A Systematic Review and Meta‐Analysis of Randomized Trials. Influenza and other Respiratory Viroses. Wiley (2020). Disponível em <https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/irv.12745>. Acesso em 5 de Abr. 2020.
Day, M. Covid-19: identifying and isolating asymptomatic people helped eliminate virus in Italian village (2020). BJM. Disponível em <https://www.bmj.com/content/368/bmj.m1165.long>. Acesso em 6 Abr. 2020
Fineberg, HV. Rapid Expert Consultation on the Possibility of Bioaerosol Spread of SARS-CoV-2 for the COVID-19 Pandemic (2020). The National Academies of Science, Engineering and Medicine. Disponível em <https://www.nap.edu/read/25769/chapter/1>. Acesso em 6 Abr. 2020.
Leung, N.H.L. et al. Respiratory virus shedding in exhaled breath and efficacy of face masks. Nature Med (2020). Disponível em <https://www.nature.com/articles/s41591-020-0843-2>. Acesso em 5 Abr. 2020
Lu, S. et al. Alert for non‐respiratory symptoms of Coronavirus Disease 2019 (COVID‐19) patients in epidemic period: A case report of familial cluster with three asymptomatic COVID‐19 patients. Journal of Medical Virology. Disponível <https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/jmv.25776>. Acesso em 5 de Abr. 2020.
Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp.
Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.
Enquanto a Covid-19 faz milhares de vítimas fatais pelo mundo e as autoridades em saúde pública orientam o isolamento social como método mais eficaz de contenção de sua disseminação, parte da sociedade assiste, estarrecida, ao discurso de políticos que seguem negando os fatos com foco na recuperação da economia, mesmo ao custo de “algumas” vidas. Veiculados como gesto em prol do trabalhador, conceitos formulados por Noam Chomsky e Antonio Gramsci mostram que o discurso negacionista tem outros beneficiários.
O fenômeno do negacionismo não é novo, remonta aos anos 1940, em que se tentou provar a ausência de culpa da Alemanha pela Segunda Guerra Mundial. Isso se fez a partir da banalização, justificativa ou mesmo negação da existência dos campos de extermínio e do holocausto. Em síntese, da defesa e da reabilitação de Adolf Hitler (MORAES, 2004:757). Apesar de se autodenominarem “revisionistas históricos”, os negacionistas nada têm de revisores, uma vez que a revisão histórica se dá diante de novas evidências ou de novas questões que se colocam. Já os negacionistas estão preocupados em negar as evidências, sem apresentar algum fato que o permita fazê-lo.
Sob uma perspectiva psicológica, o jornalista Michael Specter, explica que, para todos nós que já estivemos diante de verdades dolorosas, a negação parece ser a única forma de lidar com elas. Specter afirma também que nessas circunstâncias os fatos, por mais detalhados ou irrefutáveis, raramente fazem diferença. Assim, para o escritor americano, o Negacionismo “é negação em larga escala – quando um segmento inteiro da sociedade, muitas vezes lutando com o trauma da mudança, se afasta da realidade em favor de uma mentira mais confortável” (SPECTER, 2009).
Dessa forma, temos duas vertentes de negacionistas: os históricos, que negam o Holocausto, e os científicos, dentre os quais estão os climáticos (que negam o Aquecimento Global), os terraplanistas (que negam as evidências de um planeta aproximadamente esférico) e até os da AIDS (que negam, acreditem, o vírus HIV ser o causador da síndrome). Sem falar nos movimentos de design inteligente, antivacinas, e outros tantos que ganharam força com o advento da internet e das redes sociais.
Para estabelecer a relação deles com a Economia vamos relembrar um filósofo (por coincidência) italiano chamado Antonio Gramsci (1891-1937) que elaborou os conceitos de Bloco Histórico, Hegemonia, e Bloco Ideológico. Para ele, o Bloco Histórico de um sistema é composto por uma Estrutura socioeconômica, relacionada às forças produtivas, e por uma Superestrutura de natureza político-ideológica. Deduz-se que as grandes corporações do setor privado atuam na estrutura do bloco, formando a classe dirigente fundamental e os políticos e os intelectuais atuam na superestrutura. Para que uma classe dirigente em minoria consiga subordinar uma maioria é necessário que estes tenham um comportamento social adequado à necessidade produtiva daqueles.
Esse comportamento pode ser conseguido por meio da força (a coerção é sempre latente, mas não desejável) e do consentimento. Na maioria das vezes, a hegemonia é suficiente para assegurar o comportamento social esperado (Cox, 1993:52). Por isso, a atuação do o Bloco Ideológico é tão importante, pois, formado pelos intelectuais orgânicos e atuando na superestrutura, ele vai impregnar na sociedade os valores culturais necessários para que os dominados sigam consentindo essa dominação. Ou como explicou o dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-1956) no texto Se Os Tubarões Fossem Homens: “Se os tubarões fossem homens (…) Se cismaria nos peixes pequenos que esse futuro / Só estaria garantido se aprendessem a obediência”. (BRECHT, 2018)
E qual a relação disso com a atual negação da letalidade da Covid-19 por políticos?
O Bloco Histórico vigente é o sistema capitalista neoliberal. Segundo Noam Chomsky (2017), o triunfo ideológico das “doutrinas de livre mercado” possibilita que decisões políticas se traduzam em polpudos lucros pagos a altos executivos e suas empresas. Na prática, as grandes empresas que têm grande poderio econômico, financiam campanhas eleitorais de atores políticos, de diferentes espectros ideológicos (diga-se). Isso, para que eles, uma vez eleitos e legitimados pelo voto popular (embora tenham prometido trabalhar em favor deste), possam ser representantes dos interesses dessas empresas, passando a legislar a seu favor, aqueles a que Chomsky vai chamar de “servos do capital privado”. Dessa forma, elas vão acumular ainda mais lucros e concentrar ainda mais renda, fechando o círculo.
Assim, à medida em que a Covid-19 afeta a Economia, informações para minimizar esse impacto passam a ser produzidas e disseminadas pelo Bloco Ideológico (Blogs, sites, perfis de redes sociais, influenciadores) e pelos simpatizantes do sistema vigente. Então, não é difícil encontrar nos meios de comunicação dos apoiadores do atual governo mais e mais teorias da conspiração negando a letalidade do vírus e, mais recentemente, ao se depararem com a realidade das mortes, passaram a negar sua causa.
Entendidos esses aspectos, a frase do atual Presidente da República do Brasil “Vão morrer alguns, do vírus? Sim, vão morrer (…) Lamento. Tá? Agora não podemos criar esse clima todo que está aí. Prejudica a economia!” suscita uma interpretação diversa daquela que inicialmente seu emissor pretendeu transmitir.
O Brasil não pode parar, sobretudo quando o interesse do grande capital está em jogo. Se todos vão morrer um dia, que seja indo alegres “para as goelas dos tubarões”.
Bibliografia
BRECHT, Bertolt. Se os tubarões fossem homens. Olho de Vidro, 2018.
CHOMSKY, Noam. Quem manda no mundo?, São Paulo, Planeta. 2017.
COX, Robert W. Gramsci, hegemony and international relations: an essay in method. Cambridge Studies in International Relations, Cambridge, Cambridge University Press, v. 26, p. 49-66, 1993. Disponívelç em <encurtador.com.br/lFX78> Acesso em 28 mar. 2020
GASTALDI, Fernanda C. Gramsci e o negacionismo climático estadunidense: a construção do discurso hegemônico no Antropoceno. Revista Neiba, Cadernos Argentina Brasil, v. 7, n. 1, 2018. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/neiba/article/view/39247 Acesso em 28 mar. 202
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere, v. 2 — Antonio Gramsci: os intelectuais. O princípio educativo. Jornalismo. Ed. e trad. de Carlos N, Coutinho. Coed. de Luiz S. Henriques e Marco A. Nogueira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000
MORAES, Luís E. S. “O Revisionismo Negacionista” In: SANTOS, Ricardo Pinto dos (org.) Enciclopédias de Guerras e Revoluções do século XX. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
SPECTER, Michael. Denialism: How irrational thinking harms the Planet and threatens our lives. Penguin, 2009.
Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp.
Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.
No dia que este texto é publicado, existe uma situação de quarentena devido ao coronavírus. Fiquem em casa quando puder, e escutem sempre os especialistas em relação ao coronavírus e como preveni-lo.
Esse texto é para abordar o consumo de energia atual (ano de 2019) e o correspondente estado de pandemia.
Contextualizando
Segundo o recente relatório da OMS, o consumo de energia no geral tem previsão de queda de 0,9% em 2020, sendo que a previsão anterior era um aumento de 4,2%. Tanto que na segunda quinzena de março desse ano, o consumo de energia caiu 8%, sendo que 9,4% é correspondente ao mercado livre de energia e 7,4% do mercado cativo (comércio de rua e residências)[1][2].
Isto pois o consumo das outras classes, como o comercial, diminuíram, com exceção do consumo residencial, que aumentou. No consumo residencial, por exemplo, o uso da internet aumentou, tendo em vista compras virtuais, serviços de streaming (Netflix), dentre outros[3][4]. Como as pessoas estão ficando mais em casa, é normal que o consumo de energia aumente nesses locais.
Inclusive, devido a essa crise, há projetos sendo implementados, como suspensão de pagamento de contas básicas, como a de luz, água, dentre outras[5].
Futuro
Bem, o futuro não se sabe muito dele ainda, mas pode-se fazer as previsões:
– Aumento em investimento em sistemas de ventilação, de forma que eles previnam que as pessoas contraiam o coronavírus. As aplicações seriam em veículos públicos, como o metro, ou em locais de trabalho[6]. Nunca se sabe quando uma nova pandemia irá surgir.
– Incentivo maior a fontes renováveis de energia, tais que elas possam suprir parte do consumo de energia do usuário (inclusive em sistemas não conectados a rede elétrica). Tal medida visa a redução das suas contas, tendo em vista que situações como essa aumentam o consumo doméstico[7].
– Maior educação energética, de forma a orientar as pessoas a reduzir ou otimizar seu consumo. Neste mesmo blog, há uma série sobre dimensionamento de fontes de energia, cujo primeiro texto trata sobre o consumo dos aparelhos de cada local. Tal texto é importante para se ter uma noção do estudo de consumo.
Mais alguma previsão? Deixe nos comentários. Até a próxima.
Referências
[1] PAMPLONA, Nicola, Consumo de energia cai 8% em primeiras semanas de isolamento por coronavírus, Folha de São Paulo, disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/04/consumo-de-energia-cai-8-em-primeiras-semanas-de-isolamento-por-coronavirus.shtml>, acesso em: 5 abr. 2020.
[2] LIS, Laís, Coronavírus: isolamento social altera horário de pico de consumo de energia, diz governo, G1, disponível em: <https://g1.globo.com/economia/noticia/2020/04/02/coronavirus-isolamento-social-altera-horario-de-pico-de-consumo-de-energia-diz-governo.ghtml>, acesso em: 5 abr. 2020.
[3] PEZZOTTI, Renato, Estudo aponta tendências do “novo consumo” em tempos de coronavírus, UOL, disponível em: <https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/03/20/estudo-aponta-tendencias-do-novo-consumo-em-tempos-de-coronavirus.htm>, acesso em: 5 abr. 2020.
[4] OLIVEIRA, Priscilla, Coronavírus altera hábitos de consumo e impacta mercado, Mundo do marketing, disponível em: <https://www.mundodomarketing.com.br/ultimas-noticias/38582/coronavirus-altera-habitos-de-consumo-e-impacta-mercado.html>, acesso em: 5 abr. 2020.
[5] GUEDES, Aline, Projetos preveem suspensão da cobrança de contas básicas durante crises, Agência Senado, disponível em: <https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/03/25/projetos-preveem-suspensao-da-cobranca-de-contas-basicas-durante-crises>, acesso em: 5 abr. 2020.
[6] CONCA, James, The Coronavirus pandemic and the long-term energy outlook, Forbes, disponível em: <https://www.forbes.com/sites/jamesconca/2020/03/31/the-coronavirus-pandemic-and-the-long-term-energy-outlook/#5015fa8c7d39>, acesso em: 5 abr. 2020.
[7] BAHAR, Heymi, The coronavirus pandemic could derail renewable energy’s progress. Governments can help., International Energy Agency – IEA, disponível em: <https://www.iea.org/commentaries/the-coronavirus-pandemic-could-derail-renewable-energy-s-progress-governments-can-help>, acesso em: 5 abr. 2020.
Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp.
Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.
Em tempos como os que temos vivenciado agora, é comum montarmos redes de apoio às instituições como hospitais, centros de saúde e de pesquisa, instâncias de distribuição de alimentos e roupas à comunidades desabastecidas e em fragilidade social. Tudo isto não só é válido, mas é fundamental, pois mesmo quando o poder público é organizado e tem ações efetivas, as emergências nos tempos de calamidade são demasiadas.
No entanto, também é tempo de termos cuidado redobrado com golpes que se apresentam cotidianamente nas redes sociais, em especial em compartilhamentos em mensagens instantâneas, como grupos de WhatsApp, por exemplo.
Assim, alguns cuidados específicos em relação às doações para a unicamp são fundamentais:
Desconfie de pedidos de depósitos em que a pessoa jurídica não seja diretamente a UNICAMP ou o Hospital de Clínicas da Unicamp;
Confira todas as informações da mensagem: a quanto tempo as associações e fundações que estão pedindo ajuda existem? O CNPJ delas confere? É relacionado ao que está dizendo ser, na carta ou mensagem recebida? Existe rede social desta instituição? Existe informações precisas, nomes dos envolvidos? No site da Unicamp e do Hospital de Clínicas estas informações também estão presentes nos canais de ajuda?
Confira sempre e toda a vez o site da Unicamp e do Hospital de Clínicas para ter certeza absoluta que esta parceria existe;
Todos os sites têm especificações que nos ajudam a rastrear falsidades. Todas as informações da unicamp estão em endereços dentro do domínio “unicamp.br”, sempre verifique esse detalhe no seu navegador. O Hospital, por exemplo tem como endereço na internet: https://www.hc.unicamp.br o Blogs de Ciência da Unicamp, que é outro portal que tem apresentado notícias e informações sobre o covid, também apresenta o mesmo domínio: https://www.blogs.unicamp.br e https://www.blogs.unicamp.br/covid-19
Em outras universidades e hospitais públicos também você deve ter o mesmo cuidado! Especialmente em um período como este, os golpes estão proliferando nas redes sociais e nem todo golpe é simples de identificar! Sempre procure os canais oficiais de comunicação das instituições que você gostaria de auxiliar, é mais seguro e eficiente.
Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp.
Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.
Szachna Eliasz Cynamon (1955-2007), um dos maiores sanitaristas e pesquisadores da Fiocruz, em 1990 afirmou que “solidariedade à saúde tem de ser para todos. É um aforisma tecnicamente provado que ‘sem a saúde do vizinho, a tua corre risco’”.
Temos visto muitas recomendações e indicações de cuidados próprios. Lavar as mãos o mais frequente possível, não passar a mão no rosto (boca, nariz, olhos…), tapar boca e nariz ao espirrar, passar álcool gel nas mãos, dentre outras prescrições.
#fiqueemcasa
A recomendação mais contundente de todas têm sido, entretanto, o “fique em casa”. Prescrição difícil de seguir em um país como o Brasil, aquele clássico clichê (não menos verdade por isso), “um país de dimensão continental”. Um país com o povo acostumado à rua, ao sol, às lidas diárias no campo, aos transportes públicos abarrotados nos centros urbanos, às praias no litoral, aos bares ao fim de tarde, o chimarrão na calçada com vizinhos, almoços coletivos aos finais de semana, conversas aleatórias com desconhecidos em filas de bancos e padarias… Em suma, uma vida de intensa interação social, com muitos trabalhos que não podem deixar de serem feitos… E agora? Como se cumpre isso em um país como o nosso?
Temos publicado aqui no blogs, assim como temos visto em diversos outros espaços de jornalismo científico e divulgação científica, inúmeros materiais sobre cuidado de si e informações que nos possibilitam compreender melhor o que é o vírus e como ele se dissemina.
Uma das grandes dificuldades em tempos de pandemia é filtrarmos informações, não cairmos na tentação de nos agarrarmos em promessas de curas rápidas e discursos sedutores de que tudo vai melhorar ali, logo após a curva.
São montantes de informações que vocês (e nós), leitores e consumidores de notícias, recebem diariamente. E são vários e vários artigos e relatórios científicos publicados também apressadamente para ampliarmos a rede de debate e compreensão da doença e de como combatê-la.
Veja, a informação deve ser filtrada (seja nos grupos de whatsapp, lives com especialistas, jornais televisionados, em rádios, seja de youtubers e, até, dos blogs de ciência, óbvio!) de modo a gerar uma eficiência em nossa vida. Como assim? Que eu compreenda a doença e os cuidados necessários para mim e quem está próximo, mas que não potencialize a ansiedade de cada um de nós (para saber mais sobre excesso de informações, pode ler aqui).
E as implicações sobre as informações não se restringem à “biologia” da doença. Cada fala nossa diz respeito a vidas humanas, com complexidades que, quando em nosso âmbito privado, falam de todos e de ninguém ao mesmo tempo. Dizemos isto pois números, definitivamente, não são e não representam as pessoas. Mas falam das suas vidas, seus adoecimentos e suas mortes.
Sobre a solidariedade…
Ser solidário é, dentre outras coisas, compreender que não somos nós, individualmente, que a doença atinge. Cuidar da saúde dos outros é cuidar da nossa, como disse Cynamon em 1990. Ademais, a máxima “conhecer para governar” nunca fez tanto sentido. Não é possível governar com base em opiniões pessoais. É preciso debate com decisões rápidas sim, com corpo técnico, com grupos e redes de consultas e conhecimento acumulado também, para uma decisão que vise ao bem de todos e não de pequenas parcelas.
O isolamento social, por exemplo, é historicamente uma ação prática e efetiva em doenças em que o contágio se dá pelo toque entre pessoas (já falamos disso aqui). É, à primeira vista, prejudicial socialmente e economicamente, mas salva vidas na prática imediata. Viabiliza que contenhamos o espalhamento da doença, enquanto ganhamos tempo para compreendê-la melhor e aprimoremos os modelos epidemiológicos já existentes para pandemias e epidemias anteriores.
Há exemplos de silenciamento dos casos e de não disponibilizar informações seguras à população que pioraram, e muito, o quadro de adoecimento em epidemias que poderiam ter matado menos pessoas (como o caso da epidemia de meningite no Brasil, entre 1971 e 1975). Há modelos sendo pensados, a partir de negligências e acertos sobre a pandemia da gripe espanhola, em 1918.
Nenhum destes modelos fará com que vidas parem de serem exterminadas pelo SARS-Covid-2, causador da Covid-19. Mas nos possibilita olhar comportamentos que potencializaram ou minimizaram perdas. Semana passada, por exemplo, tivemos a notícia do auxílio emergencial (aprovado hoje, dia 30/03, no Senado Federal). Também emergem no país diversas ações solidárias para bairros e populações com menor condição financeira para manterem-se neste período de isolamento.
E aí? O que fazer de tudo isto?
Ao fim e ao cabo, nossa fala não diz respeito a tirar esperança das pessoas com números mais ou menos assustadores. Mas mostrar que não há milagre, fora a teimosia cotidiana de seguirmos vivos.
Nesta semana que passou, ouvimos relatos de São Paulo – a maior capital brasileira e o maior epicentro do coronavírus, esvaziar e encher – mesmo sem lotar – de gente novamente (como nas fotos abaixo da rua São Bento, destacando para o dia 27/03, após discurso público minimizando a importância da quarentena).
Fotos de arquivo pessoal de alguém que (ainda) não foi liberado de seu trabalho, tiradas no mesmo ponto da rua São Bento (Centro Histórico, São Paulo/SP), entre os dias 23 e 30 de Março de 2020.
Reiteramos, aqui, nossa crítica a qualquer fala que amenize a gravidade da situação e proporcione um aumento da circulação de pessoas às ruas. Afirmamos, assim, que a solidariedade, a que nos remete Cynamon, se faz debatendo ciência – questionando-a também (visto que é com questionamento que avançamos e este é o pressuposto mais básico e fundamental da ciência). Solidariedade se faz combatendo “milagres que curam” (mas não curam nada) e vãs esperanças, notícias falsas e opiniões fraudulentas. Solidariedade se faz, por fim, ficando em casa também, batalhando para poder ficar e cobrando (inclusive de órgãos competentes e do poder público) para que possamos ficar, possibilitando uma diminuição do contágio.
FOUCAULT, Michel. (2002). Em defesa da Sociedade. São Paulo: Martins Fontes.
___. (2008). Segurança, Território e População. São Paulo: Martins Fontes.
GENSINI, Gian Franco; YACOUB, Magdi H.; CONTI, Andrea A. (2004). The concept of quarantine in history: from plague to SARS. Journal of Infection. 49(4), 257-261. https://doi.org/10.1016/j.jinf.2004.03.002
Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp.
Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.
“Eu tenho quase certeza que não vou morrer por causa desse vírus aí, mas se eu parar de trabalhar eu e toda a minha família vamos morrer de fome”.
“Eu tenho quase certeza que não vou morrer por causa desse vírus aí, mas se eu parar de trabalhar eu e toda a minha família vamos morrer de fome”.
Foi no dia 18 de março que ouvi pela primeira vez essa frase, dita por um motorista de Uber, e que logo depois se tornou tão popular na mídia conjuntamente à progressão da pandemia de COVID 19 no país. Naquele dia fui à São Paulo para participar em um programa de rádio sobre Fome e Direitos Humanos. A universidade na qual eu realizo minha pesquisa de doutorado, Unicamp, havia cancelado todas as atividades até o dia 14 de abril e eu já estava em uma quarentena auto imposta pois tinha participado de muitos eventos com pessoas recém chegadas da Europa. Por esses e outros motivos, a ida para São Paulo me deixava um pouco ansiosa, principalmente ao saber que a cidade se configurava como o epicentro da doença no Brasil. Depois de confirmar com os organizadores do programa que a entrevista ia acontecer de qualquer maneira, me preparei para a viagem tentando seguir ao máximo as medidas de higiene recomendadas.
No entanto, ao entrar na cidade fui percebendo que a vida por ali estava beirando a normalidade. Pessoas estavam trabalhando em lojas, havia vendedores de água e salgadinhos nos semáforos, os restaurantes estavam cheios e os ônibus municipais estavam tão lotados como usual. Assim, temendo contaminar alguém com a doença que nem sabia se tinha, resolvi chamar um Uber e, no caminho, comecei uma conversa que resultou na frase com a qual iniciei este texto.
A afirmação do motorista ficou martelando na minha cabeça durante todo o dia. Mais do que isso, foi essencial para me fazer pensar na relação entre a fome, os direitos sociais básicos e a epidemia que estávamos por enfrentar – o que acabou sendo o principal tópico de discussão da entrevista naquela manhã.
A comida sempre foi boa para pensar, como afirmou Lévi-Strauss (1929). Mas em relação à pandemia do COVID-19, a comida é objeto essencial para entendermos melhor os efeitos desta doença, não apenas compreendendo-a como epifenômeno de relações sociais mais amplas. Principalmente, porque o novo coronavírus tem suposta origem no consumo de animais exóticos e porquê sua epidemia impôs quarentena e distanciamento social para um número massivo da população mundial. E isto acabou impedindo ou alterando o acesso a direitos sociais mais básicos, tais como alimentação, habitação e saúde, que a atenção ao tema da comida e à garantia de acesso a ela é de extrema relevância.
Estou certa, assim como diversos pesquisadores e cientistas das mais variadas áreas, que a atual pandemia pode ser compreendida como um momento crucial para repensarmos categorias estruturais de nossa vida em sociedade como a economia, a política, o governo e o Estado. Assim, a discussão sobre o acesso à comida enquanto necessidade básica para a sobrevivência parece ser um bom ponto de partida.
Em 1948, com a criação das “Nações Unidas”, após o fim de uma das maiores crises globais até então vivida, foi assinado a “Declaração Universal dos Direitos Humanos”, na qual o artigo 24 afirma:
“Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle” (ONU, 1948).
Essa declaração, apesar de não constituir uma obrigação jurídica para os Estados, se propunha como uma resolução com o objetivo de evitar uma nova situação catastrófica como aquela experienciada durante a Segunda Guerra Mundial.
No momento atual, ao prestarmos atenção nas implicações que a epidemia de COVID-19 pode trazer para a sociedade como um todo, somos incitados a questionar se esses direitos foram em algum momento realmente garantidos, pelo menos para parte da população mundial.
Retomando a afirmação do motorista de Uber, mas também considerando o que os trabalhadores das mais diversas áreas têm reivindicado nesse momento, podemos nos atentar para a precariedade de muitas vidas. Talvez, grande parte da população nunca teve garantido “o direito à segurança em caso de perda dos meios de subsistência fora de seu controle” (ONU, 1948).
Penso, então, que o que essa pandemia está nos ensinando reside precisamente nos efeitos do vírus para além do tempo da ‘declarada pandemia’, modificando ou questionando ideias acerca do próprio conceito de ‘vida’ e subsistência.
A comida que é usualmente um objeto renegado ao setor privado de nossas vidas, o domínio do oikos, vista como parte de uma esfera afastada da política, define agora, talvez mais do que nunca, aqueles que podem viver ou os que são deixados para morrer. E nesse processo, acaba por definir também o que é entendido por economia (oikos) e qual a sua importância na ‘feitura do Estado’ (Lima, 2012).
De acordo com o Ministro da Saúde, Luis Henrique Mandetta, “a vida não se resume a uma doença, a um vírus”. Essa afirmação pode sim ser um consenso, no entanto, podemos questionar, a que se resume a vida então? Quais são os mínimos vitais que precisam ser estabilizados para que algo possa ser definido como vida? Que vida é essa que seguiremos tendo após a resolução dessa pandemia (e aqui não penso uma resolução no sentido de fim ou cura do problema)?
Um dia após essa constatação do Ministro da Saúde, o presidente Jair Bolsonaro aprovou uma medida provisória (MP) que buscava soluções para a crise econômica decorrente do COVID-19. Um dos pontos mais polêmicos da medida permitia a suspensão de contratos de trabalho por até quatro meses durante o período de calamidade pública no país, desde que fossem disponibilizados cursos de formação online para os trabalhadores. Esse ponto foi rapidamente removido da MP após grande mobilização virtual da população, mas o poder executivo federal segue tentando barrar toda possibilidade de criação de medidas que garantam um padrão de vida adequado para todos os cidadãos, com a justificativa de que essas ações poderiam quebrar a economia do país.
No entanto, se nos atentarmos aos dados sobre trabalho no país percebemos que a taxa de informalidade é de 41%, o que equivale à 38,8 milhões de trabalhadores sem carteira registrada. Esses números sugerem então um baixo impulso na economia, pois normalmente o trabalho informal está associado à baixos salários, além de não permitir a garantia de estabilidade e segurança no provimento familiar. Em um contexto de crise são esses trabalhadores e suas famílias que são colocados, de uma hora para outra, em condição de total precariedade.
Face a esse problema, no dia 24 de março, o presidente Jair Bolsonaro, fez um pronunciamento oficial televisionado em todo o país, mostrando sua preocupação com a atual situação econômica. Em sua fala, tentando minimizar os efeitos da crise, afirmou que o COVID-19 não passa de uma “gripezinha” e que por isso somente os idosos e os casos suspeitos deveriam ser mantidos em quarentena e o resto da população deveria continuar vivendo normalmente, isto é, produzindo e consumindo.
A oposição entre economia e vida parece ser elemento central na forma de gestão do atual governo, o que nos incentiva a questionar então, como garantir um padrão de subsistência adequado para toda a população se o Estado não está disposto a manter grande parte dos cidadãos protegidos do vírus?
Apesar de parecer um questionamento um tanto inocente, penso que o novo coronavírus pode trazer a possibilidade de repensarmos algumas oposições dadas como ‘naturais’ que operam em nossa vida em sociedade, sendo a principal delas a oposição entre a esfera da economia e a da política. Acredito que o direito à comida ou próprio fenômeno da fome podem nos ajudar a trazer luz aos aspectos mais materiais que informam esse dualismo.
Se pensamos a economia enquanto diretamente associada à manutenção da vida, isto é, como instrumento de produção e reprodução das condições materiais necessárias à existência humana digna, essa oposição entre economia e vida, ou entre economia e política se desmancha. Mas se seguirmos entendendo essas esferas como separadas continuaremos presos a uma ideia de vida totalmente desnuda de humanidade. O vírus terá então nos ensinado muito pouco sobre nós mesmos.
Lévi-Strauss, Claude.[1929] (1965) Le triangle culinaire. L’Arc.
Lima, Antonio Carlos de Souza, (2012). O estudo antropológico das ações governamentais como parte dos processos de formação estatal. In: Dossiê. Fazendo Estado. Revista de Antropologia. Vol. 55, N. 02 de 2012, São Paulo, USP.
Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp.
Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.
Com medo de contrair o coronavírus, ou COVID-19, várias pessoas estão costurando e comprando máscaras caseiras para usar na rua, principalmente quando vão às compras. Esses equipamentos de proteção produzidos em casa sem embasamento científico têm tudo para dar errado. Nesse texto, explico o porquê com um exemplo histórico.
A máscara de gás foi criada na Primeira Guerra Mundial como uma forma de proteger os combatentes no front, pois foi em um ataque em 1915 que as armas químicas passaram a ser utilizadas em massa pela primeira vez. Os primeiros ataques foram realizados com o gás cloro, mas ao longo do conflito outros tipos de gases mais letais foram desenvolvidos, como por exemplo o gás fosgênio e o mostarda.
As primeiras máscaras eram bastante simples e consistiam basicamente em um pedaço de tecido embebido em soluções neutralizadoras que deveria ser atado ao nariz e a boca. Uma bastante conhecida é o respirador feito com véu negro desenvolvido por John Scott Haldane, o black veil respirator. Chegar ao design de uma máscara aparentemente tão simples não foi uma tarefa fácil. Como o tecido deveria necessariamente ser embebido com soluções neutralizadoras, ele precisava permitir a passagem de ar quanto úmido, já que muitas vezes os combatentes vestiam a máscara logo após mergulhá-la na substância neutralizadora e também ser capaz de neutralizar os efeitos dos gases quando seco.
Por isso a black veil respirator era feita com um tipo específico de fibra de algodão, além de utilizar como faixa fixadora um véu – negro porque era o mais produzido no momento, já que era usado por viúvas ou mulheres como símbolo luto. Mas nem todos os tecidos permitem a passagem de ar quando estão molhados e desconhecer essa informação causou a morte de muitos soldados.
Em uma tentativa de auxiliar nos esforços da guerra, o governo britânico fez uma chamada para que civis fizessem um mutirão para confeccionar máscaras. Milhares delas foram confeccionadas da noite para o dia e enviadas para o front. Como se verificou da pior maneira, elas eram não só inúteis, como perigosas. Como foram confeccionadas com o tipo inadequado de fibra de algodão, essas máscaras não protegiam do gás quando secas e molhadas não permitiam a passagem do ar. Como consequência, no meio de um ataque muitos soldados ficaram desprotegidos ou precisaram tirar a máscara úmida e acabaram sendo feridos ou mortos pelos gases. A partir desse episódio, a produção de máscaras e outros equipamentos de proteção passou a ser centralizada por um departamento criado especificamente para lidar com as questões das armas químicas: o Gas Service. Além de produzirem equipamentos, esse destacamento era responsável por treinar os combatentes para que eles pudessem usar o equipamento de forma correta, já que só assim ele seria efetivo.
Desenvolver um equipamento exige muita pesquisa e muitos testes. As coisas não funcionam porque elas parecem funcionar, mas sim porque elas acumulam tecnologias desenvolvidas a partir de muitas pesquisas e experiências. E eles só funcionam quando são utilizados de forma adequada, seguindo protocolos rigorosos de uso estabelecidos após numerosos testes.
As máscaras que estão sendo criadas em casa ou vendidas por costureiras – e até mesmo aquelas cirúrgicas – não impedem a inalação do COVID-19. Elas somente são efetivas quando usadas por pessoas contaminadas, já que impedem a dispersão do vírus no ar através de gotículas. A pessoa saudável que usa uma máscara caseira está, na verdade, criando uma armadilha para concentrar o vírus (e outros microrganismos) no próprio rosto. Além disso, tocar na máscara, deslocá-la pelo rosto até a área dos olhos ou abaixá-la no pescoço para falar acabam, na verdade, aumentando as chances de contaminação. Por isso essas máscaras podem ser tão perigosas: elas criam uma sensação falsa de segurança, o que acaba aumentando as chances de contaminação.
As únicas máscaras capazes de impedir a inalação dos vírus são aquelas que possuem um sistema para barrar partículas minúsculas, biológicas ou não, dispersadas por aerossol. E como dito anteriormente: elas só funcionam quando usadas de forma rigorosamente correta e por tempo limitado. Se não conhecemos o comportamento e o tamanho do vírus e as especificidades dos tecidos, e se não sabemos quais são os protocolos de segurança no uso, criar e usar máscaras caseiras é irresponsável e perigoso. Não existe equipamento milagroso contra a contaminação. Para diminuir os riscos de contrair a doença devemos ficar em casa e evitar aglomerações, lavar frequentemente as mãos com água e sabão por pelo menos 20 segundos, não tocar a face e manter ambientes ventilados.
Se você não apresenta sintomas, não compre máscara de nenhum tipo! Deixe para as pessoas que trabalham na área da saúde e seus familiares, que estão expostos cotidianamente ao vírus, e para as pessoas que precisam cuidar de familiares e amigos doentes. Somente use máscaras se você estiver contaminado.
Um último lembrete: precisamos proteger e investir na ciência brasileira, pois é somente através de pesquisas e experiências que encontraremos soluções eficientes para os nossos problemas, como é o caso da atual pandemia.
Update 06/04/2020 (Coordenação do Blogs de Ciência da Unicamp): Até o presente momento a Organização Mundial de Saúde segue sem recomendações de uso de máscara por pessoas não contaminadas. O MS e o CDC mudaram suas recomendações, especialmente em função de pessoas que podem estar infectadas mas não sabem. Todas as recomendações mais recentes são apenas para usar máscara como barreira mecânica de quem está infectado. O Blogs de Ciência da Unicamp decidiu manter este post no ar, uma vez que traz um panorama histórico importante dos riscos de produções sem cuidados técnicos e científicos. Quaisquer recomendações feitas por este veículo de Divulgação Científica estão e estarão, sempre, de acordo com preceitos científicos e embasados teoricamente. Reiteramos, ainda, que quaisquer comentários desrespeitosos com a autora, ou o blogs, não serão aceitos.
Para Saber mais
AULD, S. J. M. Gas and flame in modern warfare. Nova York: George H. Doran, 1918.
FRANKE, I. A fotografia e a máscara: uma antropologia da imagem. 2019. 109 f. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.
GRAYZEL, S. R. Defence against the indefensible: the gas mask, the State and British Culture during and after the First World War. Twentieth Century British History, vol. 25. n. 3, 2014, pp. 418-434.
JONES, S.; HOOK, R. World War I gas warfare tactics and equipment. Colchester: Osprey, 2007.
Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp.
Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.