Categoria: / Ciências da Saúde

  • Febre do Oropouche: Um Alerta Científico para a Região Norte do Brasil

    Autoria

    Mariene Amorim

    Aumento de casos de febre do Oropouche na região Norte

    O Brasil sofre com doenças causadas pelos arbovírus, que são vírus transmitidos por artrópodes, como os mosquitos. Caso exista alguma dúvida: de fato, estamos vivendo uma epidemia de Dengue, com incidência cerca de 2x maior que a observada no ano passado (Informe semanal de arboviroses). Outros arbovírus conhecidos são o Zika, Chikungunya e Febre Amarela. Mas hoje nós vamos falar sobre um vírus descoberto há mais de 60 anos, que causa doença em humanos, principalmente na região Amazônica. Dessa forma, esse é mais um vírus que causa uma doença que faz parte das chamadas “doenças tropicais negligenciadas”.

    Recentemente, em 2023, casos de uma doença de caráter febril transmitida por artrópodes têm sido diagnosticados nos estados do Amazonas, Roraima, Rondônia e Acre. 

    Trata-se da febre do Oropouche, já ouviu falar?

    Se você é da região norte do Brasil, provavelmente sim.

    Esse último surto, o qual ainda está acontecendo, já contabilizou mais de 2.000 casos. Até o dia 6 de março, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) contabilizou 1.821 casos no Amazonas, 172 em Rondônia, 51 no Acre e 12 em Roraima. A prefeitura de Manaus reportou 829 casos confirmados por critério laboratorial até o dia 2 de março de 2024 e o óbito de uma jovem, que apresentou infecção pelo vírus Oropouche (OROV) e que também estava com covid-19.

    Aqui vale ressaltar: a emergência e reemergência de arboviroses não é trivial. Dessa forma, serve de alerta para as intervenções humanas sobre o meio ambiente. Assim como para o descuido, carência em diagnóstico e a negligência em se entender o real impacto de muitas doenças tropicais.

    Entre o início de janeiro de 2024 e o dia 09 de abril de 2024 foram identificados 3.324 casos, divididos entre os estados da região Norte Amazonas (2.575),  Rondônia (592), Acre (110), Roraima (18), Pará (29). Um aumento de 400% em relação a 2023.

    Oropouche, que vírus é esse?

    Para entender a composição de um vírus, talvez seja importante entender que ele é divido em duas partes: o envelope e a partícula viral. No Oropouche o envelope é lipoproteico. Isto é, a parte de fora do vírus é uma camada composta por gordura (“lipo”) e proteínas (“proteico”).

    Já a partícula viral,  seu material genético, é de RNA de fita simples, dividido em três fragmentos: um pequeno (S), um médio (M) e um mais longo (L). A partícula possui glicoproteínas em sua superfície, e uma enzima responsável pela replicação viral, uma RNA polimerase RNA dependente (RdRp). Ou seja, uma enzima capaz de fazer molécula de RNA usando como molde uma outra molécula de RNA (Figura 1).

    Este vírus pertence à família Peribunyaviridae, junto com outros vírus causadores de doenças em seres humanos e animais. Foi descoberto em 1955, em um paciente febril na vila Vega de Oropouche em Trindade e Tobago. Desde então, já foram identificados surtos em países como Brasil, Peru, Colômbia, Guiana Francesa e Panama. Mais de 500 mil casos da doença foram reportados anteriormente. 

    Figura 1. Febre do Oropouche: partícula viral e sintomas comuns. S = fragmento pequeno, do inglês small; M = fragmento médio, L = fragmento longo; RdRp = RNA polimerase RNA dependente.

    É um número bem alto para uma doença infecciosa pouco conhecida, não acham? E não para por aí… 

    Estudos de vigilância imunológica, que avaliam a presença de anticorpos no sangue das pessoas indicando que houve uma infecção prévia, apontam que muitos outros casos podem ter passado despercebidos, sem diagnóstico, ao longo dos anos. Por exemplo, algumas regiões na Amazônia indicam uma alta soroprevalência (proporção de pessoas em uma população que têm anticorpos específicos em seu sangue, em um determinado momento), com até 50% das pessoas tendo anticorpos para Oropouche, indicando uma resposta à exposição prévia ao agente infeccioso.

    Características da Febre do Oropouche

    A doença, conhecida como febre do Oropouche, tem um período de incubação de 4 a 8 dias. Ou seja, desde a transmissão até o aparecimento dos sintomas. Os sintomas mais comuns são febre em torno de 39॰C, dores musculares (mialgia), dores nas articulações (artralgia), calafrios, náuseas, vômito e tontura.

    Além disso, algumas pessoas podem apresentar uma condição denominada fotofobia, que é quando os olhos se tornam muito sensíveis à luz, causando desconforto. Mas, também podem aparecer dor na região dos olhos, anorexia e fraqueza.

    Os sintomas duram em torno de 7 dias, sendo que aproximadamente 60% das pessoas podem apresentar recidiva (reaparecimento dos sintomas após um período de remissão ou recuperação) cerca de duas semanas depois, os quais podem voltar mais severos. Isto é, os sintomas podem voltar a aparecer como consequência desta infecção, não se configurando em uma nova infecção.

    Sintomas menos frequentes

    Sintomas menos frequentes descritos na literatura incluem fenômenos hemorrágicos como sangramento gengival e aparecimento de manchas vermelhas na pele, período menstrual intenso ou prolongado (menorragia) e aborto espontâneo.

    Por fim, o Oropouche é capaz de causar infecção no sistema nervoso central, como observado em surtos anteriores, com evidências também levantadas em estudos realizados em laboratório. Dessa forma, é importante ficar atento às dores de cabeça intensas. Este sintoma em particular torna-se relevante, uma vez que pode preceder o desenvolvimento de meningite asséptica ou viral. Assim, neste caso, os sintomas incluem rigidez no pescoço, tonturas, náuseas, vômitos, letargia, visão dupla (diplopia) e um movimento involuntário e repetitivo dos olhos (nistagmo), que podem persistir por até duas semanas.

    Apesar desta lista longa de sintomas (e alguns bem graves), a febre do oropouche pode ser tratada, sem deixar sequelas. Destacamos, nesse sentido, a importância da realização do diagnóstico e acompanhamento médico.

    Esse vírus tem grande potencial de disseminação?

    Primeiramente, vamos observar os dois ciclos de transmissão do vírus, como mostrado na figura 2. O Oropouche circula em regiões de floresta (ciclo silvestre), podendo infectar animais silvestres como preguiças, primatas não-humanos, pequenos roedores e pássaros. Os vetores do vírus, ou seja, os responsáveis por transmitir a doença, são mosquitos, que ainda são pouco estudados pela ciência.

    Além disso, o Oropouche também circula em áreas urbanas (ciclo urbano) em seres humanos, transmitido pela picada de pequenas moscas hematófagas, também conhecidas como maruim ou mosquito-pólvora. A espécie Culicoides paraensis, encontrada principalmente na região Norte do Brasil, é apontada como vetor principal (Figura 2). Os seres humanos, ao adentrar as florestas, podem contrair o vírus e levar para a área urbana, funcionando como uma “ponte” entre os dois ciclos (Figura 2).

    Figura 2. Os ciclos silvestre e urbano do vírus Oropouche.

    Figura 2. Culicoides paraensis, o maruim ou mosquito-pólvora. Créditos da imagem: Maria Luiza Felippe-Bauer, Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

    Figura 3. Culicoides paraensis, o maruim ou mosquito-pólvora. Créditos da imagem: Maria Luiza Felippe-Bauer, Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

    Sempre é relevante lembrar que as alterações severas no ambiente são parte do aumento de doenças como esta!

    Como as intervenções humanas sobre as florestas e vida silvestre tem se intensificado ao longo dos anos, as chances de aparecerem novos surtos também aumentaram. De fato, estudos apontam para um aumento do número de casos de Oropouche em regiões impactadas por queimadas e outras atividades que promovem o desmatamento.

    Agora temos um segundo ponto: os vetores. Além disso, sobre o C. paraensis já foi demonstrado que mosquitos mais comuns, como a espécie Culex quinquefasciatus (a famosa e insolente muriçoca), encontrada em diversas regiões do Brasil, nas Américas, entre outros continentes, também é um vetor potencial do vírus.

    Ou seja, precisamos ficar atentos, não é mesmo?

    Afinal, a diversidade de vetores pode favorecer a circulação do vírus além da região Amazônica. E casos de Oropouche já foram identificados em outros locais, como São Paulo, Bahia, Curitiba e mais recentemente no Rio de Janeiro, oriundos de viajantes que estiveram na região Norte. 

    Os rearranjos dos genomas e a variabilidade genética

    O universo dos vírus, assim como a sua história, é algo intrigante! E já sabemos o quanto é importante estudar a sua estrutura submicroscópica. Pesquisadores em Manaus conseguiram identificar uma particularidade no genoma do vírus Oropouche que está causando o surto atual.

    O que seria?

    Veja bem, depois da pandemia da covid-19, ficou claro que precisamos de uma vigilância genômica atrelada à vigilância epidemiológica, para acompanhar variações nos genomas virais que podem favorecer sua disseminação. E o que foi observado em amostras de Oropouche do surto atual foi uma variação genética em que houve um rearranjo dos segmentos virais, fenômeno conhecido como “rearranjo gênico”, do inglês reassortment

    Esse fenômeno pode acontecer entre vírus de genoma segmentado, em que duas partículas da mesma espécie, porém com algumas diferenças genéticas, infectam a mesma célula. Nesses casos, ocorre um rearranjo dos segmentos no momento da produção de novos vírus. Isso resulta na geração de descendentes virais híbridos, com uma combinação única de características genéticas (Figura 4).

    Figura 4. Rearranjo genético, ou reassortment. 

    É importante saber que isso pode ter um impacto no surgimento de novos surtos.

    Os vírus Influenza A, por exemplo, também são segmentados, podendo ocorrer rearranjo entre duas variantes, o que confere variabilidade genética. Esse evento é chave para o surgimento de novos vírus Influenza A causadores de grandes pandemias. 

    E o que sabemos sobre o aumento da variabilidade genética no contexto dos vírus?

    Sabemos que isso pode ocasionar alguns benefícios para o vírus, entre eles escape da resposta imunológica, ou até mesmo uma melhor adaptação a vetores, o que também é algo preocupante e precisa ser investigado!

    Mas esse assunto vai ficar para o nosso próximo texto!

    Sendo assim, vamos ficar alerta a emergência e reemergência das arboviroses, que são muitas. Você já conhecia a febre do Oropouche?

    Para mais informações

    Chiang, JO et al (2021) Neurological disease caused by Oropouche virus in northern Brazil: should it be included in the scope of clinical neurological diseases? Journal of NeuralVirology, v 27, p. 626–630.

    Naveca, FG et al (2024) Emergence of a novel reassortant Oropouche virus drives persistent outbreaks in the Brazilian Amazon region from 2022 to 2024. Virological

    Organização Pan-Americana da Saúde / Organização Mundial da Saúde. Atualização Epidemiológica: Oropouche na Região das Américas, 6 de março de 2024. Washington, D.C.: OPAS/OMS; 2024.

    Romero-Alvarez, D & Escobar, LE (2017) Vegetation loss and the 2016 Oropouche fever outbreak in Peru Mem Inst Oswaldo Cruz, v112, n4, p 292-298. 

    ___ Oropouche fever, an emergent disease from the Americas Microbes and Infection, v20, n3, p135-146.

    Secretaria Municipal de Saúde (Semsa Manaus) (2024) Boletim Arboviroses 2024. Semsa.Wesselmann, KM et al (2024) Emergence of Oropouche fever in Latin America: a narrative review, Lancet Infectious Disease, p1-14.

    Bonora Junior, M (2023) O que é Dengue?, Blogs de Ciência da Unicamp, EMRC.

    Sobre quem escreveu

    Mariene Amorim Natural de Salvador, Bahia, e biomédica formada pela Universidade Tiradentes – Aracaju, Sergipe. Mestre em Genética e Biologia Molecular pela Unicamp, na área de Virologia. Trabalha com vírus emergentes desde 2015. Atualmente é doutoranda em Genética e Biologia Molecular pela Unicamp, e participa de um estudo genômico-epidemiológico e de multi ômicas do novo coronavírus (SARS-CoV-2), a fim de acompanhar a evolução molecular do vírus, entender o desenvolvimento da COVID-19 e acompanhar o avanço da pandemia na cidade de Campinas e região metropolitana. Mariene também é membro da Força-Tarefa contra a COVID-19 da Unicamp.

    Como citar:  

    Amorim, Mariene. (2024). Febre do Oropouche: Um Alerta Científico para a Região Norte do Brasil. Revista Blogs Unicamp, Vol. 10, N.1. Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/revista/2024/05/02/febre-do-oropouche-um-alerta-cientifico-para-a-regiao-norte-do-brasil/. Acesso em: DD/MM/AAAA 

    Sobre a imagem destacada:

    Foto: Reprodução de figura integrante da tese: Fauna de Culicoides (Diptera: Ceratopogonidae) do estado de Rondônia, Brasil / Luis Paulo Costa de Carvalho. — Manaus: [s.n.], 2016.

    Edição: clorofreela

  • E se você adicionar a PREP nas suas ações de 2024?

    Autoria

    Alexandre Borin

    O HIV e a AIDS são um desafio para a ciência e a saúde pública desde meados de 1980. Uma das formas mais eficazes conhecidas de prevenção é a PREP.

    O que é PREP?

    Desde o surgimento do HIV e da AIDS na década de 80, a ciência já avançou muito em relação ao entendimento, tratamento e prevenção da infecção. Uma das formas mais eficazes conhecidas atualmente é a PREP. Mas por que ela é tão importante?

    A PREP é a Profilaxia Pré-Exposição, e serve como uma medida preventiva frente a possíveis infecções pelo vírus da imunodeficiência humana, o HIV. Seu fornecimento acontece pelo Sistema Único de Saúde do Brasil desde 2017. Atualmente existem dois protocolos para o uso de PREP: A PREP diária e a PREP sob demanda. A aplicação dos protocolos dependem de uma análise de risco, feita junto ao médico, levando em consideração a vida de cada pessoa.

    A PREP diária é a administração de um comprimido por dia, de forma contínua. Ela não tem efeito imediato, por isso é importante estar atento às orientações do serviço de saúde.

    Já a PREP sob demanda possui recomendação apenas em casos específicos. Costuma ser realizada no esquema de 2 comprimidos em um período de 2 a 24 horas antes da relação sexual, + 1 comprimido 24 horas após a dose inicial de dois comprimidos + 1 comprimido 24 horas após a segunda dose.

    Mas qual a importância da PREP, se ela só protege contra o HIV?

    Apesar da PREP em si ser uma prevenção ao HIV, para fazer a retirada do medicamento é necessário um acompanhamento médico a cada 3 meses, que consiste em uma série de exames para teste de HIV, e detecção de outras infecções sexualmente transmissíveis além do acompanhamento do bom funcionamento do seu fígado e rins.

     

     

    Mandala de Prevenção Combinada / Ministério da Saúde

    É importante lembrar que além de tratamento, o diagnóstico e monitoramento de infecções é uma das principais medidas de saúde pública. A visita clínica para o encaminhamento para PREP não está isolada de outras medidas. Isto é, existe sempre o incentivo ao uso de preservativos e de sexo seguro e consciente. Além disso, nos postos de saúde há, disponível para retirada, camisinhas e lubrificante. Esse esquema é chamado de Prevenção Cruzada. Ela busca articular sexo seguro, reduzir os estigmas e preconceitos em relação ao assunto, e realizar o controle de ISTs.

    Pensar em estratégias de proteção cruzada são um avanço nas medidas de contenção da AIDS e na melhora da qualidade de vida de toda a população!

    Rolou uma emergência e talvez eu esteja exposto ao HIV.  E agora?

    Em casos de imprevistos ou emergências, em que a pessoa possa estar exposta a uma infecção pelo HIV, é possível solicitar atendimento nos postos de saúde para o tratamento com a PEP, a Profilaxia Pós-Exposição. Ela também é uma combinação de antiretrovirais. O que isso quer dizer? Antiretrovirais são remédios que impedem que o vírus se instale e se replique nas células, o que ocasionaria uma infecção.

    Para que seja eficaz, os medicamentos para a PEP devem ser tomados durante 28 dias ininterruptos. 

    Desse modo, a pessoa que enfrentou uma situação de risco deve iniciar o tratamento logo após a exposição de risco. Preferencialmente, nas duas primeiras horas após a exposição. Mas o tratamento pode ter início em até 72 horas. Lembrando mais uma vez que os medicamentos devem ser tomados durante 28 dias ininterruptos.

    Diferente da PREP, que é de uso contínuo, a PEP deve ser utilizada apenas em casos excepcionais.

    E como a PREP funciona?

    Cada frasco de PrEP contém 30 comprimidos de uma combinação de dois compostos, o Tenofovir e a Emtricitabina. Essa combinação foi utilizada inicialmente para o tratamento de pessoas com HIV (talvez você já tenha ouvido falar do TRUVADA). Além de ser usado nessa população, vários estudos já comprovaram que esse remédio pode proteger as pessoas se tomado de maneira preventiva.

    Os dois compostos que compõem a PrEP atrapalham uma enzima do HIV, a transcriptase reversa. Ao impedir o funcionamento da transcriptase reversa, o DNA viral não será incorporado ao DNA da célula. Dessa forma, não será possível realizar a produção de novas partículas virais, impedindo que o HIV consiga se multiplicar nas células das pessoas.

    A novidade é ela, a PrEP injetável!

    A ANVISA aprovou em junho um novo tipo de PrEP, o cabotegravir. Ele é um medicamento que afeta outra enzima, a integrase. Ao impedir o funcionamento correto dessa enzima, ele impedirá que o DNA viral se integre ao DNA humano.

    Portanto, este medicamento atua em uma etapa diferente do ciclo de replicação do vírus. Além disso, ele é um medicamento injetável, que possui como atual recomendação a aplicação a cada 2 meses. Isso é ótimo para quem tem problemas em conseguir a rotina de tomar a PrEP de maneira contínua. O cabotegravir também está disponível em comprimido oral. No entanto, apenas para avaliação da tolerabilidade dos efeitos do medicamento e em casos de emergência para quem perdeu a dose programada da injeção.

    A PrEP tem efeitos colaterais?

    Assim como todo remédio, a PrEP pode causar efeitos colaterais. Mas sua frequência é baixa e possui pouca relevância em relação aos benefícios que a prevenção traz. A maioria dos efeitos acontecem na fase inicial, e podem ser dor de cabeça, dor de estômago, perda de apetite, náuseas, flatulência, dentre outros. Os efeitos, caso ocorram, desaparecem em poucos meses. Todavia, em casos de permanência, recomenda-se procurar o atendimento médico. Em alguns casos raros, também podem acontecer alterações no fígado e nos rins, por isso é importante o acompanhamento regular do serviço de saúde.

    Qualquer um pode usar PrEP?

    Não! Como falamos, o uso de PrEP deve realizar-se apenas com acompanhamento médico. Dessa maneira, torna-se necessária uma avaliação para saber se você, ou a pessoa que buscou o atendimento médico, se encaixa nas situações com recomendação desse tipo de prevenção. No quadro abaixo, apresentamos alguns exemplos.

    Algumas situações que podem indicar o uso da PrEP segundo recomendação do Ministério da Saúde:

    – Homens que fazem sexo com homens (HSH), travestis e mulheres transexuais

    – Frequentemente deixa de usar camisinha em suas relações sexuais (anais ou vaginais);

    – Faz uso repetido de PEP (Profilaxia Pós-Exposição ao HIV);

    – Apresentar histórico de episódios de Infecções Sexualmente Transmissíveis;

    – Contextos de relações sexuais em troca de dinheiro, objetos de valor, drogas, moradia, etc.

    – Chemsex: prática sexual sob a influência de drogas psicoativas (metanfetaminas, Gama-hidroxibutirato (GHB), MDMA, cocaína, poppers) com a finalidade de melhorar e facilitar as experiências sexuais.

    Usando PrEP ou não, não deixe de pensar na sua saúde e na prevenção e diagnóstico de ISTs neste novo ano!

    Saiba Mais!

    Ministério da Saúde, Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis:

    Serviços de Saúde por estado

    Prevenção combinada

    PEP (Profilaxia Pós-Exposição ao HIV)

    Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)

    Anvisa aprova novo medicamento para prevenção do HIV

    São Paulo, Secretaria de Saúde

    Informações sobre PrEP

    Outras Informações

    CDC

    About PREP

    Pre-Exposure Prophylaxis (PrEP)

    Sobre quem escreveu

    Alexandre Borin, ou Koda, é biólogo, doutorando em genética e biologia molecular pela UNICAMP. Trabalha com vírus transmitidos por mosquitos e faz Divulgação Científica em diferentes redes sociais.

    Como citar:  

    Borin, Alexandre. E se você adicionar a PREP nas suas ações de 2024? Revista Blogs Unicamp, Vol.10, N.1, Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/revista/2024/05/02/e-se-voce-adicionar-a-prep-nas-suas-acoes-de-2024/. Acesso em DD/MM/AAAA.

     

    Sobre a imagem destacada:

    Foto: Renderização 3D de comprimidos da PREP por niphon no iStock (original) e expansão generativa Canva.

    Edição: clorofreela

  • Alimentação no inverno

    Adicione o texto do seu título aqui

    Autores

    Texto escrito por Helena Previato

    Como citar:  

    Previato,Helena (2023) Alimentação no inverno. Revista Blogs Unicamp, V.09, N.01, 2023. Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/revista/2023/08/04/alimentacao-no-inverno/ 
    Acesso em dd/mm/aaaa
    Sobre a imagem destacada:

    Sobreposição de fotos: à esquerda tem uma pessoa sentada pensando, parcialmente coberta, ao centro tem uma porção de caldo amarelo em uma tigela e à direta há um gato preto e branco com uma roupa com listras amarelas e azuis.

    Atribuição:

    Fotografias disponibilizada via Pexels, no Canva; arte por Clorofreela

  • Desembalando mais, descascando menos: A alimentação do Brasil de hoje

    Adicione o texto do seu título aqui

    Autores

    Texto escrito por Guilherme Caitano e Gildo Girotto Jr.
    Revisão por Alissa Bonomi

    Como citar:  

    Caitano,Guilherme. Girotto Jr, Gildo (2023) Desembalando mais, descascando menos: A alimentação do Brasil de hoje. Revista Blogs Unicamp, V.09, N.01, 2023. Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/revista/2023/08/02/desembalando-mais-descascando-menos-a-alimentacao-do-brasil-de-hoje/  
    Acesso em dd/mm/aaaa
    Sobre a imagem destacada:

    Montagem de sobreposição de fotos: no centro se vê uma profusão de produtos industrializados em prateleiras; ao redor se vêem frutas e legumes frescos.

    Atribuição:

    Fotografias por Pexels, no Canva; arte por Clorofreela.

  • Anticoncepcionais: Pra que te quero?

    Adicione o texto do seu título aqui

    Como citar:  

    Almeida, Cyntia. Sayuri, Letícia (2023) Anticoncepcionais: Pra que te quero?. Revista Blogs Unicamp, V.09, N.01, 2023. Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/revista/2023/08/02/anticoncepcionais-pra-que-te-quero/
    Acesso em dd/mm/aaaa

    Autores

    Texto escrito por Cyntia Almeida e Letícia Sayuri

    Sobre a imagem destacada:

    Fotografia de alguns métodos anticoncepcionais: uma cartela de pílulas, uma pílula do dia seguinte, um diafragma, DIU, preservativo de látex, um implante subcutâneo.

    Atribuição:

    Edição por Clorofreela.

  • Por que aborto é um tema de Saúde Pública?

    Texto por Ana Arnt

    O Brasil vive um cenário de eterno retorno à questão do aborto entre debates morais, criminais, de saúde, planejamento familiar e educação sexual e reprodutiva. Assim, não é incomum estas falas aparecerem em períodos eleitorais, como palco de intensas disputas entre grupos religiosos, feministas, acadêmicos e científicos, de saúde, dentre outros.

    Além disso, é usual, também, apontar que o aborto deve ser tratado como um tema de saúde pública e que isso independe de opiniões individuais sobre ser favorável ou não à prática do aborto. Vamos compreender um pouco mais sobre o tema, pensando acerca de diferentes abordagens?

    Saúde é um conceito

    Sempre é bom conceituar o que é saúde e o que é saúde pública. O conceito de saúde não é simples ou definitivo. Em geral temos duas grandes ideias usuais (que não são muito compatíveis em vários sentidos):

    • Ausência de doença;
    • Completo bem estar físico, mental e social.

    Enquanto o primeiro conceito olha para pessoas a partir apenas de suas características físicas (anatômicas e fisiológicas), ignorando fatores sociais amplos que podem contribuir para adoecimentos ou estados saudáveis; o segundo conceito aponta para a necessidade de olharmos para fatores psicológicos e sociais, traz a implicação do Estado para a manutenção da saúde (via questões sociais, mais amplas e que fogem ao controle de indivíduos), bem como insere a subjetividade no conceito, tendo em vista que diz respeito ao modo como lidamos com doenças, sintomas e muitos aspectos de nossa vida. Todavia, este segundo conceito insere, também, uma saúde inalcançável, tendo em vista que o conjunto “físico, mental e social” estando em completo bem estar não é, exatamente, a situação mais simples que existe.

    Saúde Pública

    Saúde Pública diz respeito a uma prática, que deveria ser embasada em dados técnicos e científicos, para direcionar políticas públicas que aumentem qualidade de vida, diminuam mortes, possibilitem uma vida sadia a uma população.

    Lembrando que quando falamos de população, estamos falando de um conjunto de pessoas que vivem em um determinado território. Portanto, a Saúde Pública diz respeito a um conjunto de políticas públicas, direcionadas a uma população de um determinado lugar (município, estado, país, continente, mundo, por exemplo).

    A Saúde Pública busca a saúde de uma população a partir de dados complexos, estatísticas de curto, médio e longo prazo, análises epidemiológicas e vigilância sanitária constantes.

    E o que isto têm a ver com Aborto???

    Tratar o aborto como temática de saúde pública é olhar, sem julgamento de valor, para a saúde de pessoas com útero, que estão gestando um feto e ver quais são as causas de adoecimento e morte destas pessoas. Dessa forma, ao constatar que aborto é uma destas causas, também procura-se interferir neste fator, diminuindo ele como causa de morte.

    Quando eu falo de saúde pública, estamos falando sobre a diminuição de causas de mortes e adoecimentos em uma população, em modos de interferir em causas de mortes e adoecimentos. Não é, necessariamente, uma interferência médica, mas sim de interferências que podem abranger diversas áreas, em um trabalho interdisciplinar que diminua estes números de adoecimentos e mortes.

        Entretanto, é claro que não é tão simples assim. Como podemos interferir em algo como o aborto? Primeiro devemos caracterizar a população que aborta. A segunda questão é perceber alguns dos fatores que levam ao óbito, mulheres que abortam. De maneira simples, parece óbvio: são complicações com o procedimento do aborto.

        Ao olharmos com mais cuidado, um dos problemas é a busca por instâncias de saúde, quando estas complicações acontecem. Em função do aborto ser ilegal em nosso país, estas mulheres correm o risco de serem acionadas juridicamente, para responder pelo crime, previsto no código penal. Neste caso, a falta de assistência, por um receio de prisão, é uma das consequências sofridas por estas mulheres, que podem falecer.

    Pensando a partir de dados públicos

    Os dados trazidos a seguir são de Bonfim e colegas (2021), a partir de um levantamento e análise do banco de dados DataSUS. Entre 2010 e 2019, o Brasil teve cerca de 650 mil casos de abortos (procedimentos legalizados ou não), segundo dados do DataSUS. Destes casos, 44.70% tem entre 20-29 anos, 48.59% se autodeclara parda; 38.91% tem apenas ensino fundamental e 62.56% declara-se solteira. Em relação às internações durante uma gestação, nosso país registra cerca de 500 por dia, causadas por aborto (espontâneos/naturais ou provocados). Ao longo dos anos de 2009 e 2018, o Brasil registrou mais de 700 óbitos em decorrência de aborto, sendo 60% destas mulheres, pardas ou negras. Por fim, mas não menos importante, entre 2010 e 2019 o país registrou 24 mil internações por aborto, crianças entre 10 e 14 anos. 

    E aí?

    Em suma, a questão, olhada como saúde pública, é buscar entender o que leva a um abortamento da gestação e atender a estas pessoas, diminuindo os efeitos na saúde delas. Assim, a proibição legal, neste caso, fragiliza exatamente por expor a riscos de complicação, sem busca de socorro especializado, além do risco do aprisionamento.

    Dessa maneira, a preocupação imediata é que estas pessoas tenham atendimento seguro, com procedimentos que acolham e atendam às necessidades de manutenção de suas integridades físicas, psicológicas, por ações sociais.

    Além disso, o custo do SUS para remediar, cuidar e salvar mulheres que chegam aos hospitais a partir de procedimentos de risco, é altíssimo. Aliás, isso não é sobre ideias aleatórias, novamente é bom lembrar que esta defesa se faz por dados públicos. Por exemplo, segundo estudo recente, quase metade de gestantes (48%) precisa de internação para finalizar o procedimento de abortamento. Neste sentido, há risco de denúncia e, consequentemente, prisão. Além do risco de agravamento da saúde e possibilidade de óbito.

    Todos estes dados constroem esta compreensão de que oferecer um serviço seguro de aborto diminui os riscos e a vulnerabilidade destas pessoas. E aqui, novamente, estamos falando de saúde pública. Isto é, diminuição de casos de morte e agravamento de riscos de saúde

    – Ah, mas eu acho que o aborto não deveria ocorrer

    Olhar o ato do aborto, como saúde pública, não é julgar os motivos pelos quais ele ocorre, mas assegurar que pessoas que precisem recorrer a este serviço, não se exponham a riscos à sua saúde. Dessa forma, neste caso, uma das medidas de saúde pública também é investir em educação sexual e reprodutiva desde períodos escolares e planejamento familiar em espaços de saúde pública, como postos de saúde, com distribuição de preservativos e contraceptivos.

    Todavia, tratar deste tema como saúde pública, é mais do que apenas isso. Uma vez que precisamos trabalhar com campanhas reais, sem debates morais ao estilo “não transem”, que geram culpabilização e fragilização destas pessoas que podem engravidar. Ou seja, trabalhar com prevenção ao aborto, como medida de saúde pública, é trabalhar não na responsabilização de indivíduos, mas ações efetivas de educação, planejamento, prevenção.

    Assim, o aborto, neste caso, é a última saída ou subterfúgio para assegurar a saúde das pessoas que precisam abortar.

    É preciso encarar como saúde pública este dado, pois todos os anos pessoas morrem por falta de acesso a práticas seguras. É fundamental encarar o aborto como saúde pública, pois é tarefa deste setor social garantir saúde, minimizar mortes, promover vidas sadias, especialmente àquelas vulneráveis.

    Finalizando

    O aborto, como questão moral, pode e deve ser debatida publicamente. Mas é fundamental e emergente que tomemos estas questões como fundamentais para salvar vidas de pessoas vivas, mantendo sua integridade, sem expor a riscos desnecessários, causados por falta de políticas públicas de saúde eficientes para estas pessoas.

    Ainda não concorda com o aborto? Ora, nos parece que a questão tangencia uma abordagem moral, de construção familiar, de aspectos sociais específicos e individuais. Mas aqui estamos falando de saúde pública, e a saúde pública trabalha com dados populacionais, proporcionando base para práticas para promoção à saúde – e não em detrimento desta.

    Por fim, quer saber mais sobre questões individuais? O nosso próximo texto abordará estas relações! Por hoje, seguimos batendo nesta tecla: aborto, como prática em debate público, precisa analisar dados públicos e promoção à saúde.

    Para saber mais

    BOMFIM, VVB da S; ARRUDA, MDIS; EBERHARDT, EdaS; CALDEIRA, NV; SILVA, HFda; OLIVEIRA, ARdo N; SANTOS, ERdos; SILVA, LRMda; SOARES, LL; BEZERRA, MELdeM; OLIVEIRA, MPde; ANJOS, GFde PFdos; CAVALCANTE, RP; FERREIRA, PdeF; SILVA, JFT (2021) Abortion mortality in Brazil: Profile and evolution from 2000 to 2020, Research, Society and Development, [Sl], v10, n7.

    BRASIL (2021) Mortalidade proporcional por grupos de causas em mulheres no Brasil em 2010 e 2019, Boletim Epidemiológico n29, v52

    CARDOSO, BB, VIEIRA, FM (2020) dos Santos Barbeiro e Saraceni, ValeriaAborto no Brasil: o que dizem os dados oficiais? Cadernos de Saúde Pública, v36, nSuppl 1.

    LICHOTTI, C, MAZZA, L, BUONO, R (2020) Os abortos diários do Brasil, Revista Piaui

    MAIA, G; ZANLORENSSI, G, GOMES, L (2020) O direito ao aborto e a legislação ao redor do mundo, Jornal Nexo.

    Este texto foi publicado originalmente no blog PemCie.

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