Categoria: Sociedade

  • Preprints: o que são e como fazer sua divulgação científica

    Em janeiro do ano passado, um grupo de pesquisadores da Escola de Ciências Biológicas Kusuma, na Índia, publicou um manuscrito em que apontava uma “misteriosa semelhança” entre o novo Coronavírus e o (Vírus da Imunodeficiência Humana, em inglês, Human Immunodeficiency Virus) HIV, vírus causador da Aids.

    No texto, os autores especulavam que essa coincidência dificilmente teria ocorrido ao acaso, abrindo espaço para teorias conspiratórias que afirmavam que partes do código genético do vírus foram inseridas intencionalmente.  

    O manuscrito continha falhas metodológicas grosseiras e, após receber críticas generalizadas da comunidade científica, foi retirado do repositório onde havia sido publicado, o bioRxiv. Mas o estrago já havia sido feito, e perfis nas redes sociais, veículos de imprensa e até um Nobel de medicina divulgaram amplamente que o coronavírus havia sido criado em laboratório por cientistas chineses. 

    Como um estudo com tão pouca qualidade conseguiu ser publicado? Isso aconteceu porque se tratava de um preprint, um relato de pesquisa que não passou pela avaliação dos pares e que é compartilhado em um servidor público antes de ir para um periódico científico. O principal objetivo dos preprints é acelerar o processo de comunicação das pesquisas entre os especialistas, uma vez que a divulgação em revistas acadêmicas pode demorar meses ou até mesmo anos, o que faz deles uma boa opção para as áreas que costumam ter urgência na publicação de seus resultados, como é o caso da saúde. 

    Desvantagens dos preprints

    Por ser um trabalho que ainda não passou pela avaliação por pares, os preprints também apresentam desvantagens, como a possibilidade de publicação de pesquisas com erros metodológicos, pouco confiáveis ou até mesmo fraudulentas. Embora os repositórios (atualmente existem mais de 60) possuam seus sistemas de triagem, estes ocorrem de forma superficial e são concluídos em poucos dias. Em geral, as avaliações buscam detectar apenas se há plágio, conteúdo ofensivo ou não científico e risco à saúde da população, sem verificar os métodos, conclusões ou qualidade do artigo. 

    A principal forma de controle de qualidade desses trabalhos ocorre por meio do feedback dos leitores – que são, na maior parte das vezes, cientistas – como um mecanismo de autocorreção. No entanto, ainda existem poucos estudos que indiquem a frequência com que esses preprints são examinados ou como os autores lidam com as críticas recebidas. O que se sabe é que os principais servidores ou não moderam a seção de comentários ou controlam apenas aqueles que são ofensivos e não pertinentes, além de ser um recurso pouco utilizado, com apenas 10% de todos os preprints recebendo algum tipo de comentário.  

    Por todos esses fatores, é preciso ter cautela ao fazer a divulgação científica de um preprint, para não correr o risco de dar como fato estabelecido um conhecimento que ainda está em construção ou uma conclusão enganosa. 

    Abaixo, apresento cinco dicas de cuidados que podem ser tomados ao escrever uma reportagem sobre esses estudos. Embora essas dicas tenham sido pensadas com o intuito de auxiliar jornalistas em suas matérias, elas podem ser aplicadas por qualquer divulgador científico e são interessantes mesmo para o caso de pesquisas que já passaram pela avaliação dos pares.

    1) Seja claro 

    Informe aos seu públicos-alvo que o estudo que está sendo divulgado é um preprint, que os resultados ainda são preliminares e podem ser contestados no futuro. Se possível, explique como ocorre o processo científico e a avaliação por pares e lembre-se que o sensacionalismo pode criar falsas expectativas em seu público, especialmente no caso de tratamento para doenças graves como a Covid. Tome cuidado para não apresentar como cura algo que é apenas o primeiro de vários passos ou, pior, algo que não é eficaz. 

    2) Verifique a reputação dos autores

    Qual é a formação desses cientistas? Eles são especialistas no assunto sobre o qual estão escrevendo? Em qual instituição eles trabalham? Há algum conflito de interesses que possa trazer desconfiança para os resultados? Eles já estiveram envolvidos em alguma polêmica ética, como acusações de fraude ou plágio? Já publicaram trabalhos em periódicos renomados? 

    Tenha em mente que dentro de uma área mais ampla existem várias subcategorias e que um biólogo não vai necessariamente entender de microbiologia, da mesma forma que um microbiologista nem sempre será especialista em virologia. 

    Se o pesquisador for brasileiro, é possível encontrar o currículo dele na plataforma Lattes, disponibilizada pelo CNPq. Se for um autor estrangeiro, esses dados podem ser procurados em locais como o ResearchGate, o ORCID ou o perfil deles no Google Scholar. 

    3) Busque a avaliação de especialistas independentes 

    É muito comum que os veículos de mídia entrevistem apenas os autores do estudo em suas reportagens. Embora essa consulta seja importante para entender como foi feita a pesquisa, é preciso ter em mente que existe um conflito de interesses e que nenhum cientista irá apresentar as limitações do próprio estudo ou confessar que errou nas conclusões. 

    Procure especialistas (idealmente, mais de um) na área do preprint e peça a opinião dele sobre o estudo. Pergunte sobre as metodologias, conclusões e cálculos estatísticos e verifique se é algo que realmente vale a pena publicar ou se é melhor esperar a publicação oficial em um periódico. 

    4) Desconfie de tudo   

    As conclusões da pesquisa se opõem ao atual conhecimento sobre o assunto, são muito sensacionalistas ou abrem espaço para teorias da conspiração? Nem sempre um jornalista sem formação em ciência será capaz de identificar falhas na metodologia – por isso a importância do tópico anterior –, mas tenha cautela com cientistas e pesquisas que afirmem ter respostas para tudo. 

    Dê preferência a fontes honestas, que reconheçam as próprias limitações e não tenham medo de dizer quando não sabem de alguma coisa. A ciência é construída por meio do trabalho coletivo de indivíduos, grupos e instituições ao redor do mundo, então olhe para o volume de opiniões e não para o que apenas uma pessoa diz. 

    5) Se errar, corrija! 

    Você divulgou um preprint muito interessante, mas que foi retratado algum tempo depois. O que fazer agora? Seguir o exemplo da comunicação entre pares e publicar uma errata que tenha o mesmo destaque da publicação original. Ninguém gosta de admitir que errou, mas estudos apontam que o público tende a ser mais benevolente e a avaliar a integridade de autores que cometem erros de forma mais positiva quando eles corrigem a informação.  

    Isso se torna ainda mais importante na atual epidemia de fake news e desinformações, em que grupos tentam deliberadamente confundir e manipular pessoas por meio de informações desonestas, como ocorreu no caso que abre este texto. Embora os autores daquele preprint pareçam ter cometido um erro honesto, ele foi amplamente utilizado por teóricos da conspiração para influenciar um comportamento xenófobo e ainda hoje, mais de um ano depois, existem pessoas que acreditam que o coronavírus foi criado em laboratório. 

    Nesse contexto, dar à correção a mesma visibilidade concedida ao preprint torna mais fácil o processo de verificação. Mas, tome cuidado para não reforçar a informação errônea quando for refutá-la, efeito conhecido como “tiro pela culatra”. 

    Aqui, você pode ler um texto bastante interessante do Roberto Takata sobre como evitar cair nessa armadilha.

    Referências

    BARATA, Germana. Pandemia acelera produção e acesso a preprints. Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/covid-19/pandemia-acelera-producao-e-acesso-a-preprints/ 

    FORSTER, Victoria. No, the coronavirus was not genetically engineered to put pieces of HIV in It. Disponível em: https://www.forbes.com/sites/victoriaforster/2020/02/02/no-coronavirus-was-not-bioengineered-to-put-pieces-of-hiv-in-it/?sh=e8d59a356cbc 

    MAKRI, Anita. What do journalists say about covering Science during COVID-19 pandemic? Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41591-020-01207-3  

    MARIOSA, Erica. Fake News, Desinformação e Infodemia. Qual a diferença? Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/mindflow/?p=634 

    MARQUES, Fabrício. Correção veloz de erros: Produção científica sobre o novo coronavírus tem trabalhos cancelados por equívocos e falhas metodológicas, na maioria cometidos de boa-fé. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/correcao-veloz-de-erros/ 

    ORDWAY, Denise-Marie. Covering biomedical research preprints amid the coronavirus: 6 things to know. Disponível em: https://journalistsresource.org/health/medical-research-preprints-coronavirus/ 

    SANT’ANA, Fabiano. Entenda o que são e como funcionam os preprints. Disponível em: https://galoa.com.br/blog/entenda-o-que-sao-e-como-funcionam-os-preprints 

    SPINAK, Ernesto. Acelerando a comunicação científica via preprints. Disponível em: https://blog.scielo.org/blog/2019/10/04/acelerando-a-comunicacao-cientifica-via-preprints/#.YGtkvOhKhPY 

    TAKATA, Roberto. Errei. E agora? Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/blog/errei-e-agora/ 

    TIJDINK, Joeri; MALICKI, Mario; GOPALAKRISHNA, Gowri; BOUTER, Lex. Preprints são um problema? Cinco formas de melhorar a qualidade e credibilidade dos preprints. Disponível em: https://blog.scielo.org/blog/2020/10/15/preprints-sao-um-problema-cinco-formas-de-melhorar-a-qualidade-e-credibilidade-dos-preprints/#.YGtj2uhKhPZ 

    Este texto é original e exclusivo do Especial Covid-19

    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.

  • Dados da Covid: como pesquisadores e imprensa toureiam o Quinto Risco

    Texto produzido por Marcelo Soares

    Há um ano, comecei a observar com lupa as informações disponíveis sobre o espalhamento da doença. Isto às vésperas daquele breve momento em que São Paulo parou quase completamente para evitar o espalhamento do então novo coronavírus. Queria ter uma ideia do que se sabia sobre o vírus. A resposta era simples: muito pouco. 

    O Ministério da Saúde tinha um painel atualizado diariamente, mas apenas com o estado conhecido do vírus naquele dia. Os dados eram granulares apenas por Estado, o que não permitia muita sofisticação de análise.

    Uma das principais peculiaridades de um país do porte do Brasil é ter cidades mais populosas que países inteiros. Antes do distanciamento social, consegui ir duas vezes de uma cidade tão populosa quanto a Bolívia (São Paulo) para outra tão populosa quanto o Chipre (Campinas). A razão das viagens eram minhas primeiras aulas no mestrado do Labjor. Ao sair de casa às seis da manhã, usava um moletom. Todavia, ao chegar à Unicamp, estava suando em bicas mesmo com o moletom na mochila. A área de São Paulo é semelhante à do Reino Unido inteiro. E o vírus se espalha de maneiras diferentes conforme as diferentes populações mudam de comportamento. Nesse contexto, dados agregados por Estado não são tão úteis para entender a dinâmica da pandemia.

    Os dados de Coronavírus no Brasil

    Inicialmente, o painel federal trazia três categorias de números. Primeiramente, o número de casos suspeitos (ou seja, pessoas que buscaram atendimento e foram testadas). Também tinha os casos descartados (ou seja, testes negativos) e, por fim, confirmados – até ali, ainda não havia mortes. Em seguida, passaram a ser publicados apenas os casos confirmados. Em 9 de março, tornei meus gráficos públicos pela primeira vez, no site da minha empresa, Lagom Data

    A fonte era o Ministério da Saúde, que por qualquer lógica seria a única fonte legítima de informações sobre saúde no país. Entra governo, sai governo, o corpo técnico do Sistema Único de Saúde é altamente qualificado e estaria preparado para qualquer parada. 

    O Quinto Risco

    Estaria preparado, exceto uma situação… Se estiver mais vulnerável do que de costume ao que Michael Lewis chamou de “O Quinto Risco”. Ou seja, “o risco que a sociedade corre quando adota o hábito de sanar riscos de longo prazo com soluções de curto prazo”. O livro trata do governo Trump, mas aplica-se bem aos governos que tentam imitá-lo. Por lá, como mostra o livro, o que por diversas vezes salvou a sociedade dos ímpetos de um político populista, foi o espírito público do funcionalismo estável e qualificado. 

    Nas semanas seguintes, veríamos dois ministros serem “fritados” e, mesmo não sendo ministros dos sonhos, serem substituídos por um pesadello. Dessa forma, toureando com uma das mãos uma emergência global de saúde e com a outra o Quinto Risco, fornecer dados da melhor maneira possível acabou se encaixando nas prioridades do ministério primeiro como uma filigrana e depois como um campo de batalha. 

    Quando esse gráfico acima foi publicado, eu já tinha percebido um padrão curioso. Por exemplo, a Bahia permaneceu por uns três dias com apenas três casos confirmados da doença. Por curiosidade – principal ferramenta de trabalho de um jornalista -, chequei o site da Secretaria da Saúde da Bahia. Estavam lá nove casos. A forma de coleta de dados do Ministério da Saúde consistia em aguardar o telefonema das secretarias estaduais para atualizar os dados. Isto segundo explicou uma reportagem do “El País”. Isso mesmo que vocês leram. Temos um Sistema Único de Saúde, presente em todos os municípios brasileiros e, bem ou mal, equipado para centralizar alertas sobre doenças de notificação compulsória. Mas o Ministério aguardava telefonemas com dados.

    Garimpando dados “na unha”

    Então, comecei a visitar diariamente os sites das 27 secretarias estaduais de saúde do Brasil para coletar os novos dados. Para quem cobriu eleições nos anos 90, nos primórdios da internet e do voto eletrônico, quando a apuração durava dias e dias, não era nada de outro mundo. 

    A lógica era simples: assim como o governo federal detalhava por Estados, os estaduais detalhariam por município. E foi o que fizeram. Só que, sem orientação central sobre como fazê-lo, cada secretaria fez isso do jeito que achou melhor. Umas publicavam releases: “Ontem, foram identificados X casos na cidade Y”. Outras publicavam cards em redes sociais. Algumas outras, em PDF – um formato que permite fazer de conta que se abre dados mesmo dificultando a vida de quem quer analisá-los. Outras ainda, em tabelas no site. Entretanto, uma minoria publicava em planilhas. Assim, em poucos dias, um levantamento que me tomava 15 minutos já estava tomando uma hora. E depois aumentou.

    Essa bagunça de formatos só mudou quando a ONG Open Knowledge Brasil criou um ranking de transparência dos Estados com os dados da Covid-19. Para subir no ranking, cada Estado pôs pressão em suas equipes para melhorar o formato de divulgação dos dados. Em dois meses, os maiores fiascos de março eram modelos de transparência. 

    Apenas em maio, às vésperas da saída do segundo ministro da Saúde da pandemia, o ministério passou a publicar os dados por município. Até aquele ponto, as únicas fontes de dados que compilavam informações de todos os municípios do Brasil, eram o monitoramento da Lagom Data e uns dois ou três outros que surgiram depois com a mesma lógica.

    Por algumas vezes, jornalistas e pesquisadores diziam que esses monitoramentos eram a fonte mais confiável de informações sobre a doença. Sempre achei isso perigoso.

    Seguro ou completo? Para que serve um monitoramento de dados?

    Mais completos, com certeza os bancos de dados independentes eram – a finalidade de um monitoramento assim é justamente mostrar ao poder público, que gera as informações, que esses dados são cruciais para monitorar a emergência e que eles podem ser organizados de maneira mais útil. A confiabilidade, porém, sempre esteve longe das nossas mãos.

    É um erro achar que dados obtidos de segunda mão possam ser mais confiáveis do que dados de primeira mão. Por melhor organizados que estejam, eles dependem dos dados de primeira mão para existir. E a primeira mão é necessariamente a de quem define e executa as políticas de enfrentamento da doença nos municípios, Estados e governo federal. É a mão de quem pode frear o Quinto Risco. Lá na ponta, costumo dizer, os dados são profundamente humanos. No caso dos dados da Covid, eles são anotados em fichas de papel pelos mesmos profissionais da saúde exaustos que atendem a pacientes em casos emergenciais com escassez de equipamentos de proteção individual e outros recursos. 

    Para haver um número de casos confirmados, precisaríamos de mais testes aplicados.

    O Brasil sempre testou muito menos do que outros países, em parte pelo gigantesco tamanho da sua população. Mais ainda: o Brasil no agregado é uma ficção; as extremas desigualdades do país apareceram com força no combate à Covid. Nos testes, cada Estado aplicou do jeito que pôde ou achou mais conveniente. Em Minas Gerais, por exemplo, o secretário da Saúde dizia em março que até tinha testes para aplicar, mas testava pouco porque estava guardando esses preciosos recursos para quando se fizessem realmente necessários. Sabe-se lá quando seria esse dia, não sei se ele já chegou. Mas, com critérios diferentes de testagem em toda parte, era temerário comparar os dados róseos de Minas Gerais com os dados assombrosos que vinham de Pernambuco, um dos primeiros Estados cujo sistema de saúde entrou em colapso. 

    Para haver um número de mortes confirmadas, era preciso que o paciente estivesse ao menos com suspeita de Covid.

    Os primeiros pacientes a morrer de Covid no Brasil sequer eram considerados casos suspeitos da doença. Pela orientação original do Ministério da Saúde, deviam ser testados apenas os pacientes que tivessem viajado ao exterior ou soubessem ter tido contato com alguém que viajou. Enquanto o primeiro a ter a doença confirmada, em São Paulo, era um empresário que voltou de viagem à Lombardia, a primeira senhora que morreu, no Rio, era a diarista cuja patroa havia voltado de viagem. O primeiro morto em São Paulo era um porteiro. Nenhum dos dois estava sendo tratado como um caso de Covid antes da morte.

    Enquanto isso, os hospitais iam lotando numa medida que não refletia exatamente os dados oficiais da Covid. Ao final de março, os pesquisadores do Infogripe, da Fiocruz, alertaram para uma alta nos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave de causa não identificada, uma classificação genérica criada quando não se tem como confirmar o que causou a internação. Em Belo Horizonte, capital daquele Estado que guardou os testes para quando fossem necessários, em junho havia 9 mortes de SRAG para cada uma confirmada como sendo de Covid. Já em 2021, a Fiocruz cravou que 70% dos casos de SRAG não identificada no Brasil eram Covid mesmo. 

    O fato é que a pressão da sociedade civil, especialmente da imprensa e de pesquisadores independentes, fez com que se tivesse muito mais dados disponíveis no país. Desde maio, é possível baixar os microdados de SRAG, com informações sobre cada paciente. O governo que não me ouça, mas os dados do painel do Ministério da Saúde melhoraram muito em disponibilidade e qualidade depois da pressão exercida de fora. 

    Uma pausa? [lógico que não]

    No início de junho, parecia que o monitoramento da Lagom Data não tinha mais razão para existir. Ao menos em termos de informação fornecida oficialmente, estava tudo mais tranquilo. Não precisávamos mais ser caçadores e coletores, poderíamos trabalhar mais no processamento dos dados, na análise de suas lacunas. Lógico que eu estava errado. 

    Dia após dia, naquela fase em que o servidor batia seu cartão pela manhã sem saber quem seria seu chefe à tarde, o Ministério da Saúde foi jogando para mais tarde a divulgação dos dados federais. Em 5 de junho, eles divulgaram o dado depois das 21h30, e nas palavras do próprio inquilino do Alvorada isso ocorreu para que o número de 1.005 mortes confirmadas em um só dia não fosse notícia no Jornal Nacional. 

    O Quinto Risco “estava on” com todas as barrinhas acesas.

    Inclusive nos dias seguintes, o governo ativamente buscou sabotar o fornecimento de dados, inclusive tirando seu painel do ar por alguns dias. (Mesmo nesse período, os dados continuavam sendo atualizados diariamente no site no formato que o inquilino do Alvorada queria extirpar. O funcionalismo estável com espírito público continuou cumprindo sua missão, apesar da bateção de cabeça no topo.)

    Esse breve apagão não teve impacto no trabalho que a Lagom Data fazia, nem mesmo afetou o que as outras iniciativas coletavam. Pois, desde o começo, elas se organizaram a fim de suprir a falta de informações centralizadas no governo federal. Pelo contrário, isso emprestou ainda mais relevância ao nosso trabalho de caçadores e coletores. Tanto que rapidamente surgiu um novo caçador e coletor na área: um consórcio que reunia os principais meios de comunicação brasileiros. Montou-se uma parceria historicamente inédita. Ou seja: fazer exatamente a mesma coisa que meia dúzia de iniciativas independentes e mal financiadas já vinham fazendo havia três meses. Dessa forma, vendo que não adiantava esconder o dado, e pressionado por decisões judiciais, o governo voltou imediatamente a publicar o que tentou esconder. E nunca mais voltou atrás. 

    Nos meses seguintes, o campo de batalha mudou por diversas vezes.

    A questão do número diário de casos e mortes conhecidas foi pacificada a partir dali. Isto é, há pouco questionamento no debate público sobre o tamanho da subnotificação (que continua existindo). A transparência de outros dados passou a se tornar importante. 

    Um dos motivos pelos quais milhões de testes apodreceram num depósito foi justamente a baixa transparência sobre a disponibilidade e aplicação destes. Assim, agora em março de 2021, meses depois da descoberta dos testes vencendo, o governo tentou generosamente doá-los ao Haiti, que os recusou por estarem vencidos. Dias depois do começo da vacinação, o Ministério da Saúde começou a publicar diariamente microdados detalhados sobre as vacinas aplicadas no país. Todavia, isso aconteceu após o questionamento de casos de “vacinas de vento”. Esses microdados tinham muitas inconsistências, mas quando a mesma ONG Open Knowledge os tornou públicos, eles começaram a sanadá-las em poucos dias. 

    Se os dados básicos de certa maneira já estão resolvidos, hoje não podemos falar em apagão na disponibilidade dos dados. A grande questão agora centralizava-se na qualidade dos dados e das decisões de política pública que os governos tomam a partir deles. As idas e vindas das medidas de supressão da circulação do vírus em São Paulo, por exemplo, seguem mais pesquisas de popularidade do que pesquisas epidemiológicas. Dessa forma, há meses existem dados suficientes para ajudar a dar foco a um plano de contenção. Todavia, mesmo assim as medidas e exceções parecem decidir-se na base de quem grita mais alto. Poucos têm os pulmões dos cartolas das igrejas e dos times de futebol, por exemplo. 

    Ou seja, o Quinto Risco não é apenas federal. E ele não deve acabar tão cedo.

    Pesquisadores e jornalistas estão exaustos após doze meses aparentemente gritando ao vento. Mas sempre que pusemos nossos neurônios e análises nessa tarefa, fazendo uma divulgação científica competente, conseguimos fazer as políticas públicas avançarem alguns passos. Isso mesmo que pequenos. Por mais que um governo possa despriorizar a voz da ciência, o que o último ano mostrou é que o corpo técnico estável ouve essa voz. E eles são quem mais consegue defender a sociedade do Quinto Risco.

    Para Saber Mais:

    LEWIS, Michael (2019) “O Quinto Risco” Intrínseca, 2019

    www.lagomdata.com.br/coronavirus

    O autor

    Marcelo Soares é jornalista, diretor do estúdio de inteligência de dados Lagom Data, membro do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) e mestrando no Labjor/Unicamp.

    Este texto é original e exclusivo do Especial Covid-19

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Pessoas mais expostas à COVID-19 são também as mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas

    Com 5 prioridades para a ação climática e a equidade social o mundo pós-pandemia pode ser socioambientalmente mais justo

    A crise global instalada pela pandemia do coronavírus mostra como as desigualdades sociais são agravadas em situações em que grupos vulneráveis ficam mais expostos à contaminação: pessoas de baixa renda, minorias e grupos marginalizados que muitas vezes atuam em setores essenciais, incluindo empregos autônomos e informais.

    Foto de Max Böhme no Unsplash

    Com milhões de infectados, mais da metade da força de trabalho global está em risco de perder seus meios de subsistência. Isso sem considerar aqueles já enfrentavam o problema da fome, intensificado pela perda de renda, o aumento dos preços dos alimentos e a interrupção das cadeias de abastecimento dos alimentos durante a pandemia.  

    A Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO)[1] já chamou a COVID-19 de “vírus da fome” ao concluir que uma entre nove pessoas no mundo sofre de desnutrição crônica (cerca de 265 milhões), 54 milhões sendo crianças[2], em especial, nos países em desenvolvimento, onde os meios de subsistência são precários.

    Em um ano marcado pela pandemia global, 2020 também registrou uma onda global de protestos que destacou a necessidade urgente de abordar a ação climática e a justiça social. Isso inclui o movimento Black Lives Matter (vidas negras importam), contra o racismo, iniciado nos Estados Unidos após a morte de George Floyd em consequência de truculência policial

    Manifestações do movimento Black Lives Matter contra o racismo se espalharam pelo mundo em 2020. Foto de Sushil Nash no Unsplash

    A insatisfação global sobre os rumos do planeta com o crescimento exponencial da contaminação pelo coronavírus gera uma oportunidade para que os países repensem estratégias de recuperação mais sustentáveis e resilientes. Para isso, incluir o combate à desigualdade social e ambiental precisa estar no cerne de suas políticas públicas.

    A estratégia de recuperação pós-COVID – oxalá consigamos garantir imunização para todos o quanto antes – deve abordar a desigualdade, a crise econômica e as mudanças climáticas numa perspectiva integrada. Para isso, cinco iniciativas viáveis podem contribuir com esse objetivo:

    1. Políticas de proteção social

    Garantir renda básica e acesso aos cuidados de saúde para grupos excluídos, como moradores de rua, trabalhadores informais e migrantes pode ser particularmente importante para os cidadãos afetados pela falta de emprego resultante das restrições impostas pela pandemia. Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT)[3], o mundo perdeu 255 milhões de postos de trabalho na pandemia. Isso inclui os pequenos agricultores, que sofrem diretamente os impactos do clima na sua produção.

    2. Empregos verdes

    A perda de trabalho durante a pandemia prejudicou o sustento de famílias em todo o mundo. O investimento em atividades verdes que podem incentivar a segurança alimentar, como energia limpa e restauração de ecossistemas, é fundamental para gerar novos postos de trabalho mais sustentáveis após a pandemia. Planos de recuperação e requalificação profissional também podem ser elaborados para apoiar estratégias de transição para trabalhadores e comunidades que dependem de setores que precisam encolher ou se adaptar para reduzir sua pegada de carbono, como é o caso da indústria do petróleo.

    3. Equidade de gênero

    Medidas de longo prazo são necessárias para apoiar as mulheres, que já representam quase 40% da força de trabalho em todo o mundo, segundo deste ano do Banco Mundial[4]. Só no setor de saúde e serviço social, por exemplo, 70% dos 136 milhões de profissionais são mulheres. Isso significa que manter a atual política desigual de salários é inviável.

    4. Agricultura familiar

    Práticas agroecológicas bem planejadas são essenciais para o clima e freiam o risco de insegurança alimentar. Dados do Censo Agropecuário 2017-2018[5], realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que 76,8% dos 5,073 milhões de estabelecimentos rurais do Brasil foram caracterizados como pertencentes à agricultura familiar. Em muitos países, as importações restritas de suprimentos essenciais de alimentos e a falta de trabalhadores para colher as safras levaram à escassez de produtos alimentícios.  

    5. Transporte de baixo carbono

    Se o transporte público não for melhorado, com tecnologias mais limpas e preço mais acessível, a mobilidade de populações vulneráveis vai ser ainda mais prejudicada. Mobilidade equitativa e sustentável, como ônibus elétricos, sistemas de ônibus rápido e mobilidade ativa – ciclismo e caminhada, devem ser impulsionados para avançarmos nos objetivos de saúde pública e climáticos. O transporte de passageiros é a fonte de emissão de gases de efeito estufa (GEE) que mais cresce no Brasil – entre 1990 e 2012, subiu de 84 para 204 mi/ton – sendo a principal fonte de emissões municipais e o segundo no Brasil depois da agropecuária, conforme dados divulgados pelo Observatório do Clima.[6]

    “A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 7 milhões de mortes são causadas pela má qualidade do ar em todo o mundo” (WHO, 2015)[7]


    Durante a pandemia, o modelo de trabalho home office deve se estabelecer, com impacto considerável no modelo vigente de locomoção. No entanto, vale ressaltar o gap digital como outro fator de desigualdade no Brasil. Isso foi visto de forma mais flagrante com a escolaridade inadequada para famílias de baixa renda, com dificuldade no acesso à banda larga e internet em todas as regiões do país.


    Por uma sociedade com mais justiça social e climática

    Conforme a recuperação toma forma, investimentos em ambiente e sociedade de longo prazo serão necessários em todos os níveis de governo. Neste sentido, a dicotomia homem-natureza deve ser diluída e mais recursos financeiros devem ser aportados para apoiar o mundo pós COVID-19.

    Além das medidas mencionadas, políticas fiscais equitativas, precificação de carbono, tributação justa e revisão da dívida de países vulneráveis são igualmente importantes.

    A redução das desigualdades também requer a participação ativa dos cidadãos para que uma nova agenda socioambientalmente justa possa acolher a voz das populações mais vulneráveis com adesão efetiva de suas demandas. Afinal, os dados cotidianos sobre a pandemia continuam a dar sinais de que ela está longe de ser extinta. E os países pobres já ficaram para trás na corrida pela vacina. 

    #mudançasclimáticas #COVID-19 #coronavírus #ambienteesociedade #vulnerabilidade #justiçaclimática #governançaambiental #sociologiaambiental #todospelasvacinas #blogsunicamp

    Referências:

    [1] The impact of COVID-19 on food security and nutrition. Disponível em: http://www.fao.org/policy-support/tools-and-publications/resources-details/es/c/1287907/https://www.wfp.org/stories/risk-hunger-pandemic-coronavirus-set-almost-double-acute-hunger-end-2020

    [2] FORE, Henrietta H. et al. Child malnutrition and COVID-19: the time to act is now. The Lancet, v. 396, n. 10250, p. 517-518, 2020. Disponível em: https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(20)31648-2/fulltext?rss=yes#articleInformation

    [3] ILO Monitor: COVID-19 and the world of work. Seventh edition. Disponível em: https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/@dgreports/@dcomm/documents/briefingnote/wcms_767028.pdf

    [4] https://data.worldbank.org/indicator/SL.TLF.TOTL.FE.ZS

    [5] https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/agricultura-e-pecuaria/21814-2017-censo-agropecuario.html

    [6] OBSERVATÓRIO DO CLIMA (2008). Diretrizes para Formulação de Políticas Públicas em Mudanças Climáticas no Brasil. Disponível em: http://intranet.gvces.com.br/arquivos/mudancasclimaticasnobrasil.pdf.

    [7] WORLD HEALTH ORGANIZATION. Reducing Global Health Risks through mitigation of Short- Lived Climate Pollutants. Scoping Report for Policy-makers. Scovronick N, editor. Switzerland; 2015.

    Jaqueline Nichi é graduada em Jornalismo e Sociologia, com mestrado em Sustentabilidade pela EACH-USP. Atualmente, é doutoranda no Programa Ambiente e Sociedade do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (NEPAM-UNICAMP). Sua área de pesquisa é centrada nas dimensões sociais e políticas das mudanças climáticas nas cidades e governança local.

    Este texto foi escrito orinalmente no blog Natureza Crítica

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Divulgação científica em tempos de pandemia: como elaboramos conteúdos?

    Talvez vocês se perguntem sobre o processo de fazer divulgação científica em canais virtuais. Bem como lidamos com a desinformação, os artigos publicados, preprints… Talvez ainda como avaliamos se nós deveríamos postar tudo o que nos chega assim naquele último minuto?

    A primeira questão é que não: nós não saímos publicando tudo o que vemos pela frente!

    Em geral, o trabalho de divulgação envolve várias etapas que são importantes. Ao ler um capítulo do livro “Pedagogia Profana” para nosso encontro do Grupo de Pesquisa, achei que era importante falarmos sobre isso…

    “A verdade é a verdade”.

    Esse é o trecho de abertura, analisado no capítulo “Agamenon e seu porqueiro”, por Jorge Larrosa. Em um primeiro momento, o porqueiro pode parecer um típico negacionista. Todavia, conforme vamos percorrendo a leitura deste capítulo, vemos que Larrosa aponta sobre a impossibilidade de sabermos quem é que afirma o que é “a verdade”. Além disso, o porqueiro impõe exatamente esta questão – eu não preciso aceitar a verdade, caso não saiba de onde ela vem.

    Como assim?

    O porqueiro de Agamenon é alguém que não toma a verdade como algo desconectado de quem está falando. Ele também não se desconecta da racionalidade vinculada à “verdade” – para tanto, quer saber de onde ela vem e onde se ampara…

    A partir daí, inicia-se um debate sobre o que é ou não real. Isso em função das narrativas criadas em diversas instâncias (educacionais, mídia de massa, governamentais, etc.). É interessante que este texto é escrito em 1998 e provoca desconforto ao trazer a problemática da “existência” da realidade.

    E o que isto tem a ver com o ritmo de postagens da Divulgação Científica? Ou com como postamos e que tipo de conteúdo em tempos de pandemia?

    Bom, dentro do trabalho da divulgação científica, temos várias análises acontecendo simultaneamente. E temos algumas etapas possíveis para realizarmos nosso trabalho no dia a dia. Hoje eu resolvi trazer um pouco sobre 4 etapas. Vamos a elas?

    1º nossa área de formação propriamente dita!

    Esta nos dá condições de não apenas fazer um fio sobre um artigo qualquer. Assim como cards explicativos no instagram, ou textões no facebook, vídeos no youtube, etc.

    Ela nos dá, antes disso, condições para termos CONHECIMENTO TÉCNICO E CIENTÍFICO para entendermos um artigo, pois temos uma bagagem de conhecimento prévio. Isto é: conhecemos os jargões, os símbolos a linguagem específica, etc.

    Isto quer dizer que quem não tem formação científica – ou não é cientista não pode trabalhar com Divulgação Científica? Não! Não é este o ponto. Portanto, a questão é: precisa, sim adentrar no mundo da linguagem científica. É fundamental aprender os jargões das áreas, compreender as etapas de método científico. Assim como, reconhecer os modos de fazer ciência – e compreender que existem diferenças significativas entre áreas bem próximas. E uma área de formação técnica científica te ajuda nisso (e muito).

    2º estudar comunicação e o veículo utilizado

    Isto é algo que vemos cada vez mais cientistas se dando conta. Como assim? Não basta ter o conhecimento técnico, eu tenho que APRENDER a falar com as pessoas, usando ferramentas e linguagens específicas. Aqui no Blogs, por exemplo, além das postagens de texto, nós temos uma equipe inteira que estuda as redes sociais. Esta equipe busca organizar os conteúdos das postagens para as redes sociais. E cada rede têm uma atenção especial e materiais em formatos específicos! A Erica Mariosa vem produzindo conteúdo específico sobre isto e, recentemente, falou da nossa equipe das redes sociais e as etapas de trabalho desenvolvidas!

    3º ler, ler muito, mas ler até ficar zonzo – e aprender a organizar as ideias 

    Parece meio besta falar isto. Mas é verdade: parte da divulgação científica não é apenas ter formação técnica, nem só compreender os veículos de comunicação. Nosso cotidiano passa longe de ficar só nisso.

    Dessa forma, aprender a se organizar nas leituras é estabelecer diálogos entre vários fatores. Por exemplo:

    – os jargões prévios da nossa área;
    – novos conhecimentos de artigos recém publicados e
    – pensar em modos de esquadrinhar isto em ideias para uma população específica.

    Tudo isto sem perder o foco de que em “tempos de covid” que saem muitas publicações todos os dias.

    Então temos os artigos técnicos e científicos – e eventualmente trabalhos de colegas da Divulgação Científica que são publicados cotidianamente. Mas nós também estamos sempre atentos à jornais, revistas, informações em geral. Isto para ver se existe algum ponto que está nos escapando, ou se existem questões sociais urgentes para trabalharmos!

    Assim, aqui chegamos onde eu queria chegar! É fundamental neste esquadrinhamento nós selecionarmos conteúdos. Com isto realizamos recortes para divulgarmos o conteúdo da maneira mais acessível possível a quem acompanha nosso material – seja no veículo que for.

    E que tipo de ação é esta?

    Comecemos pelo o que nosso conteúdo não é!

    – Isto não é uma “tradução” de conteúdo. Ou seja: nós não traduzimos de um suposto idioma científico para um idioma das ruas

    – Também não é “transposição” didática. Isto é, transformações adaptativas para o conteúdo

    – Muito menos “simplificação” ou (a pior de todas na minha percepção) um “conteúdo pouco aprofundado”. Ou seja, pessoas não especialistas não são rasas para precisarem de um conteúdo “pouco aprofundado”. Tampouco são incapazes de compreender ciência a ponto de precisarmos de uma simplificação.

    Assim, a Divulgação Científica trabalha com a produção de conteúdos e conhecimentos técnicos e científicos acessíveis. Quando eu falo “produção de conteúdos”, estou me referindo, como diz Larrosa, a esta construção de sentidos, significados, simbologias através da linguagem. É, portanto, uma escrita completamente nova e diferente de um artigo científico – seja ele avaliado por pares ou preprint.

    Os conteúdos de Divulgação Científica articulam conhecimento técnico científico a outros elementos da cultura. Bem como, vinculam-se a diferentes valores sociais e como todo processo comunicativo – são interessados e endereçados (no nosso caso: interessantes também!). 

    E escrevemos por quê?

    Muitas vezes, estes conteúdos que produzimos é instigado por artigos incríveis que chegam em nossas mãos. Outras vezes, por perguntas de quem nos acompanha! (Sim!!! Isso é absolutamente comum e o diálogo é motor de pesquisa e estudo!).

    Também acontece de lermos conteúdos que estão espalhando desinformação. Neste caso, eles podem causar risco potencial para a população – o que em tempos de Covid-19 e negacionismo, sempre gera um alerta imenso! E nós já falamos sobre isto no Blogs e consideramos cada ponto deste toda a vez!

    O que me faz chegar no 4º e último ponto:

    4º A responsabilidade sobre o que produzimos.

    É claro que cientistas erram e divulgadores erram. E é claro que reavaliamos constantemente nossas ações. Estamos em grupos e mais grupos (e mais grupos e outros grupos ainda mais) com outros comunicadores, debatendo o quê, quando e onde publicarmos.

    Discutimos artigos, debatemos se determinado preprint é bem organizado, escrito e robusto. Também pensamos conjuntamente e – de maneira geral – podemos dizer que existe bastante apoio entre comunicadores.

    Bueno, mas e aí?

    Temos debatido também outras estratégias para analisarmos a desinformação e quando devemos intervir e falar sobre algum dado recente. Tudo isto mexe com algo muito delicado acerca da responsabilidade com a informação, que diz respeito à ética!

    Isto é: como decidir falar sobre dados, quando eles podem não ser satisfatórios?

    Veja, trabalhar com comunicação responsável é se dar conta que estamos sempre selecionando conhecimentos, fazendo recortes e produzindo novos textos, novas informações, novos conhecimentos.

    É isso a que Larrosa se refere quando fala da “produção, dissolução e uso da realidade”. Isto é, significa mais do que manipular informação (e evitamos usar esta palavra pela conotação negativa). Estamos:

    – Esmiuçando a informação inteira, destrinchando-a (dissolução)
    – Escrevendo outro tipo de informação (produção) quando
    – Divulgamos conhecimento técnico científico (uso).

    Ter noção destas etapas é fundamental para estabelecermos uma relação ética com o conhecimento e com quem têm acesso a este conhecimento pela divulgação. E é por isso que, muitas vezes, decidimos apresentar dados que ainda são incipientes. Nós analisamos e assumimos o conhecimento técnico da leitura que fazemos, sim. Ressalto aqui que isto passa a milhas e milhas de distância da arrogância. É análise mesmo do material, passando por estas etapas que eu fui mencionando no texto!

    Mas é mais do que isso

    Por termos analisado de que maneira ele está sendo divulgado, em que tipo de “bolhas”, quem nos faz perguntas, como chegam as perguntas, tomamos decisão. Por exemplo, elaboramos o risco de, ao ver tudo isto, não falar nada sobre…

    São decisões importantes que não se restringem ao saber técnico, mas são uma junção destes 4 pontos que tocam nosso trabalho na divulgação.

    Além disso, é fundamental apresentarmos a ciência também a partir de suas contradições, seus erros e percalços. A ciência não é linear, não se faz só por acúmulo de ideias e conhecimentos. Ela é um campo de debates – é e deve ser sempre.

    O porqueiro de Agamenon…

    Assim o porqueiro de Agamenon, que contesta a frase “a verdade é a verdade”, o faz não por ser negacionista ou birrento. Talvez ele esteja à espera de um debate mais aprofundado acerca do que fundamenta esta verdade e onde ela se ancora – dados, debates, ideias.

    Também não é apenas reiterar uma postura crítica “só porque sim” e contestar tudo. Pois é uma busca pelos tempos de pensar, analisar e buscar mais conhecimento para tomar decisões.

    Assim, se partimos do pressuposto (e defendemos) que o acesso ao conhecimento faz parte de um processo fundamental da democratização da ciência. E se assumimos que isto tem que ser a base de nosso trabalho – não estamos aqui para apenas divulgar notícias maravilhosas. 

    Nem resolvemos trabalhar com divulgação científica para dizer que tudo vai dar certo. Quando nos chegam materiais (artigos, vídeos, perguntas) que apresentam riscos de aumentar a desinformação, nós vamos SIM elaborar um conteúdo. Vamos apontar suas limitações, vamos destrinchar suas potencialidades. E, tal como o porqueiro de Agamenon, diremos “não me convence”, se assim acharmos pertinente!

    O estabelecimento das enunciações científicas é, ou deveria ser, a partir do diálogo por possíveis “não convencimentos”. E isto mais do que por aceitação em silêncio, sem contrapontos a serem analisados.

    A verdade é a verdade” – dita por uma voz que não sabemos de quem é, mas temos que aceitar, só indica crença metafísica e inquestionável. Não é assim que a divulgação científica deveria trabalhar. Nem é assim que nos dirigimos a quaisquer pessoas que nos acompanham e/ou que buscam dialogar para compreender mais, tirar dúvidas, apontar falhas.

    Não é assim que a ciência deveria se fundamentar.

    E não é assim que um trabalho que se supõe construção coletiva de conhecimento deve atuar. Especialmente, tendo em vista que ninguém sabe tudo e que aprendemos uns com os outros.

    A Divulgação Científica é (e tem que ser) maior que a soberba do suposto saber. Ela tem que ser ponte, ciente, responsável e ética – entre pares e extra pares. E calcada no diálogo que constrói mais do que nas assertivas que seguem, tal como a oculta personagem de Agamenon, apontando a verdade como a verdade. Ou seja, sem possibilidade de questionamento.

    A todos nossos colegas que, mesmo exaustos, seguem se abrindo para o diálogo. Àqueles que seguem apontando para as trajetórias da ciência com ética e responsabilidade. Aos que assumem isto como rumo e lembrando sempre que a ciência, sem questionamento e diálogo, é só outra religião dogmática. A todas as divulgadoras científicas e divulgadores científicos incansáveis: dedico este texto de hoje. Por construções mais saudáveis e caminhos mais suaves.

    Para saber mais:

    Gouvêa, G. (2015) A divulgação da ciência, da técnica e cidadania e a sala de aula. In: Giordan, M., Cunha, M.B. (org) Divulgação Científica na sala de aula. Ijuí: Editora Unijuí. pp.13-42.

    Larrosa, Jorge (2003) Pedagogia Profana

    Mariosa, Erica (2021) Como fazemos a divulgação da divulgação científica no Blogs de Ciência da Unicamp?

    Machado, Dayane (2021) Corrigindo boatos de forma estratégica

    Este texto foi escrito originalmente no blog PEmCie

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Como a percepção do risco afeta nosso comportamento na pandemia?

    Texto escrito por Marco Antonio Coelho Bortoleto*

    Viver com a iminência do risco 

    O risco representa um elemento da vida, uma ameaça, um impulsionador, uma razão para pensá-la. Da filosofia clássica à ciência moderna o risco vem sendo objeto de inúmeras reflexões. E, algumas situações acabam ampliando nossa atenção sobre o risco, como vem sendo o caso do atual período da pandemia Covid-19.

    Como vemos cotidianamente, podemos analisar o risco nas suas mais variadas dimensões (econômica, reconhecimento social, saúde, êxito profissional, etc)1. Nos interessa aqui, tratar do risco à integridade/manutenção do estado de bem estar e da própria vida. Uma conversa que perpassa, portanto, a noção de segurança, de prevenção, controle e mitigação do risco, que em conjunto compõem um sub-campo denominado gestão do risco.

    Sociologia do risco

    Nesse ainda efervescente contexto pandêmico, a sociologia do risco emerge como uma possibilidade2. Mais ainda, a noção de PERCEPÇÃO DO RISCO tão relevante para essa área do conhecimento, pode ajudar a melhor entender o modo individual (cada um de nós) e coletivo (grupos sociais) com que as pessoas vivem a ameaça viral e como constroem e reconstroem seu enfrentamento.

    De entrada vemos polarizações semelhantes àquelas já encontradas nas posições políticas, mostrando algumas pessoas/grupos despreocupadas (ao menos discursivamente), outras atentas e buscando atender às medidas de contenção/prevenção e, por fim, outras oscilando entre um lado ou outro. Assim, discursos e comportamentos refletem desde a percepção de uma gripezinha até mesmo a hipertrofia do medo com crises de pânico e depressão. Um problema de saúde pública, como poucos que já vivemos. Eis a razão que explicaria que tantos profissionais e veículos de comunicação têm abordado o fato!

    Um olhar atento à complexidade do risco, pode revelar o que está nas entrelinhas do reconhecimento e o trato do risco. A análise dos múltiplos indicadores (objetivos e subjetivos) faz-se necessária e, como temos visto, pode variar muito entre profissionais (especialistas) e também entre a população em geral. Aliás, opinar é importante, ao revelar o grau de liberdade e de existência numa sociedade democrática, contudo, eleva o grau de risco uma vez que proliferam todos os tipos de análises, criando, com frequência, um estado de confusão ainda maior.

    Logo, quer seja utilizando ferramentas estatísticas, métodos de prospecção probabilísticos, ou mesmo, opiniões fundadas em preceitos religiosos e de sentido comum, o que observamos é um sem fim de comportamentos reforçando ou criticando/negando o risco da pandemia. Enganam-se aqueles que acham que somente os “leigos” erram, ou que os especialistas sempre acertam. Há muito risco – explicado pela epidemiologia dos acidentes – no ambiente doméstico, na condução de veículos por vias próximas e conhecidas, na conduta  do trabalhador experiente. E, certamente há muito ainda que aperfeiçoar nos modelos e algoritmos que utilizamos para predizer a dinâmica de um fenômeno tão complexo quanto essa pandemia, como todos vimos acontecer ao longo de décadas com os dispositivos utilizados para previsão meteorológica, por exemplo.

    Percebendo o risco – estamos diante de um dilema

    É precisamente, a Percepção do Risco, que nos ajuda a refletir em como, entre outras coisas, alguns pesquisadores e profissionais da saúde – que se enquadram na categoria de especialistas – seguem negando a pandemia, sua amplitude bem como alguns ou todos os mecanismos preventivos adotados pelas autoridades. Ou, também, como amigos, pessoas próximas e familiares divergem tanto um dos outros nesse tema. Esse dilema, nos apresentou mais uma CRISE, que já tinha sido notada no campo da política-eleitoral recentemente.

    Assim, a negação ou a minimização do risco pode converter-se num comportamento de risco: ou seja, em condutas que podem ampliar o risco já elevado e, suas consequências. Pior, ainda que eu queira ser esperançoso, muitas vezes, a tentativa de esconder ou infra valorizar o risco representa uma estratégia que visa redirecionar a atenção para outras dimensões da vida individual ou social (econômica, política, ética, laboral, afetiva, …). o referido comportamento de ignorar e/ou minimizar o risco já foi amplamente observado – no campo da sociologia – quando um conjunto de pessoas experienciaram o estado de guerra por um tempo prolongado, ou quando enfrentam uma pandemia, como a do vírus HIV. Temos, então, mais um indicador que contribui para entender o que temos visto Brasil afora, após um ano de pandemia. 

    Cabe relembrar que não é uma novidade a proliferação de frases de efeito, para combater o risco, como, por exemplo: “precisamos viver”, “abram tudo”, “apenas alguns vão morrer”, “é melhor enfrentar o vírus de peito aberto do que fugir dele”, “essa doença é para os fracos”, …  um discurso forte, repetido e maquiado por agumentos supostamente válidos, pode assumir o controle do comportamento de algumas pessoas e, algumas vezes, das massas.

    Em poucas palavras, notamos que a percepção do risco – como construção subjetiva – pode variar significativamente, considerando o quão distante estamos do problema (o imaginamos estar), quais informações temos sobre os riscos, quanto temos a perder, entre outros aspectos. Com efeito, a opinião de uma pessoa, pode, quando reverberada nos meios e com a força adequada, tornar-se uma percepção coletiva. Por isso, o poder conferido às autoridades e, de certa forma tod@s @s internautas das redes e dos apps, representam, na atualidade, um poderoso mediador dessas percepções. Por conseguinte, relevantes indicadores para a sociologia do risco.

    Controlar o risco – mais que uma opção, uma necessidade

    A mesma sociologia do risco indica que, a observação dos fatos (acidentes, epidemias, lesões, …) e dos comportamentos, constituem uma boa metodologia para o controle do risco. Aprendemos, pois, que a busca por mecanismos redundantes de verificação (medir a temperatura, testagem em massa, …). Possuir uma “cópia de segurança”, solicitar uma segunda opinião no diagnóstico, verificar a informação em outra fonte, exigir um segundo laudo pericial, utilizar outra ferramenta/algoritmo para os cálculos, são alguns dos mecanismos de redundância empregados em distintas áreas. Deixar de realizar essas operações, como usar outro amigo do mesmo grupo do whatsapp pode, pelo contrário, promover a confirmação de um diagnóstico equivocado.

    Por isso, a instauração de um olhar complexo incluindo variáveis biológicas/genéticas, psicológicas, afetivas, econômica e sociais, são fundantes para a constituição de uma “cultura de segurança” que, mesmo incapaz de extinguir o risco pode ajudar na instauração de um controle amplo e tolerável, oferecendo condições para a normalização da vida.

    Desse modo, os protocolos sanitários (uso de EPI, verificação constante dos avanços farmacológicos e procedimentais, emprego amplo da vacinação, …) são empregados como modelos a serem seguidos. Isto é, são necessários para enfrentar o caos que temos observado nos discursos e nas práticas de governantes, gestores, especialistas e da comunidade em geral. 

    O controle do risco, por meio de mecanismos preventivos e sua consequente ampliação do estado de segurança, é apontado pela sociologia e com forte apoio das pesquisas em Saúde Pública e Economia, como uma ação mais efetiva. O tratamento, uma vez instaurado o problema (o contágio pelo vírus nesse caso), é mais oneroso, lento e exigente, ampliando os sacrifícios pessoais e institucionais. 

    Isso posto, mesmo não existindo uma solução simples, pragmática e rápida, apesar da urgência e gravidade da situação, fomentar os procedimentos de controle do risco representa uma missão de todos, principalmente das autoridades.

    Comportamento de risco – ponderando sobre nossas decisões

    Devemos entender que nossas decisões e, por consequência, nosso comportamento na esfera íntima e, especialmente, na pública, não deveria balizar-se numa conduta de risco deliberado como numa APOSTA3. Perder, quando a integridade da vida é o que se está apostando, pode representar o fim, uma tragédia para nós e/ou para muitos que convivem conosco. Sendo assim, “apostar” no não uso da máscara em meio a tantas evidências de sua eficácia no controle (diminuição) do contágio, representa um bom exemplo de comportamento de risco. Uma clara sinalização de estarmos subestimando o risco real por razões que carecem de comprovação factual, como já mencionamos.

    Esse e outros comportamentos que negam a magnitude da atual pandemia mundial, vêm construindo uma percepção turva dos riscos4, um cenário confuso que entorpece as decisões (individuais e coletivas), ao ponto de ignorar muitas das estratégias preventivas, como o isolamento social, a higienização recorrente das mãos, entre outras5. Constitui-se, dessa forma, um cenário favorável para a emergência de diferentes condutas de risco 2, muitas vezes inadvertidas e que ignoram o risco e suas consequências para a vida. 

    O controle do risco é, com frequência, mais eficiente quando realizado com múltiplos agentes, estando ainda baseado em distintas perspectivas teórico-metodológicas. A prevenção, como estratégia, costuma ser mais barata e eficiente, do que a remediação, como já dissemos. Consequentemente, a implementação de procedimentos avaliativos e preventivos que contribuam para minimizar os riscos e aumentar o controle de segurança, torna-se um empreendimento de co-responsabilidade (individual-coletivo). Em suma, um dever de tod@s!

    Em oposição, condutas temerárias, como a de publicar ou reverberar informações dúbias, fake news ou mesmo narrativas representam um ato de construção de uma percepção negacionista do risco, ampliam nossa dificuldade de afrontar a pandemia. O mesmo se aplicaria à condutas como dirigir embriagado, não utilizar EPI em trabalhos que os exijam, indicar medicação sem o devido diploma para tal, dentre tantas outras.

    Vale lembrar que o risco não deve ser encarado como um aspecto negativo, como algo RUIM, mas como uma dimensão da vida que pode ajudar na sua manutenção. Reconhecendo sua natureza ambivalente6. Por isso, numa sociedade superprotetora parece-me ainda mais urgente, rever o processo de educação do RISCO, nem subestimando-o, nem promovendo a hipertrofia do medo. 

    Fica patente que a gestão do risco deve integrar todos, mostrando que somos CO-RESPONSÁVEIS, individual e coletivamente. A busca e a difusão dos protocolos e dos comportamentos devem compor a agenda universal. Evidentemente, a gestão do risco pode e deve ser debatida considerando diferentes perspectivas (das teorias psicológicas à matemática da Teoria dos Jogos). Mas esse será tema para uma outra conversa.

    Para saber mais

    1. COLLARD, L., « Le risque calculé dans le défisportif », L’Année sociologique, n° 2, vol. 52,2002.

    2a. LE BRETON, David. La sociologie du risque. Paris: PUF , 2016.

    2b. Le Breton D (2017) Conduites à risque. Des jeux de mort au jeu de vivre. Paris: PUF.

    3. COHEN, J (1956) Risk and gambling, New York: Longmans, Green and Co Inc.

    4. BRETON, David Le (2019) Ambivalences du risque. Sociologias,  Porto Alegre ,  v21, n52, p34-48.

    5. Percepção do risco e prevenção na pandemia (2020)

    Saber mais 

    Aplicabilidade no campo da segurança do trabalho (Risco e Segurança no Circo) – Reportagem Revista CIPA

    Lupton Deborah (ed.). Risk and Sociocultural Theory: New Directions and Perspectives. Cambridge: Cambridge University Press,  1999.

    O que é risco 

    O autor

    Marco Antonio Coelho Bortoleto Professor Associado do Departamento de Educação Física e Humanidades (DEFH) da FEF/UNICAMP Suas pesquisas no campo da Sociologia e particularmente da Sociologia do Risco tiveram início devido ao interesse na noção de risco (e algumas derivadas: segurança, prevenção, …) no campo das práticas acrobáticas – principalmente da Ginástica Artística e do Circo.  Há mais de 15 anos estabeleceu a “cultura de segurança” como uma linha de pesquisa, com diversas publicações, com destaque para a co-organização de um livro “Segurança no Circo: questão de prioridade”; e um recente capítulo publicado na França sobre a percepção do risco entre artistas circenses brasileiros.

    BORTOLETO, MAC. Perception du risque et causes d’accidents, un challenge permanent dans l’éducation des artistes brésiliens. IN: GOUDARD, Philippe; BARRAULT, Denys. (ed.). 

    Médicine et Cirque, Sauramps Medical, Montpelier, 2020.

    FERREIRA, D.; BORTOLETO, MAC.; SILVA, E. Segurança no Circo: questão de prioridade. Várzea Paulista, Ed. Fontoura, 2015. 

    Este texto foi escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • O Paradoxo COVID: aumento de cirurgias ortopédicas na quarentena.

    Texto escrito por Alessandro Zorzi

    Estudo realizado no Hospital de Clínicas da UNICAMP para avaliar o impacto da quarentena sobre a formação do médico residente em Ortopedia e Traumatologia, detectou aumento do número de cirurgias ortopédicas de urgência entre Março e Julho de 2020 (período mais rígido da quarentena), em comparação com o mesmo período de 2019.

    Em Janeiro de 2020 o mundo tomou ciência de uma epidemia na China por uma nova cepa do coronavírus, chamada COVID-19. No mês seguinte, o vírus se espalhou rapidamente pela Europa e assistimos aterrorizados o impacto devastador da doença na Itália. No Brasil, o temor do colapso do sistema de saúde diante de um pico previsto para Março, levou as autoridades a decretarem quarentena. Com a demora da chegada do pico, a quarentena foi se estendendo até meados de Julho, quando finalmente as autoridades divulgaram um plano gradual de reabertura.

    Neste período de quarentena mais rígida, houve uma diminuição da circulação de veículos no transito das grandes cidades. Sabemos que o número de acidentes de transito tem relação com a quantidade de veículos na rua. Logo, era lógico imaginar uma diminuição no número de cirurgias para tratamento de lesões causadas por acidentes motociclísticos e automobilísticos. Certo? Errado.

    Muitos hospitais interromperam o atendimento da maioria das doenças para reservar leitos e se preparar para o pico. Hospitais de campanha e tendas foram montados em várias cidades. Internações eletivas foram proibidas e ambulatórios fechados. Diante deste cenário, somente os casos urgentes, aqueles traumas graves, trazidos de helicóptero ou por ambulâncias do SAMU, poderiam ser recebidos pela equipe da Ortopedia no HC da UNICAMP.

    Imediatamente surgiram ações para adaptar o ensino teórico dos médicos residentes. Aulas presenciais foram substituídas por aulas online a distância. Mas como ensinar uma cirurgia? Chegou-se a cogitar a proposta de considerar 2020 um ano perdido e fazer os residentes repetirem um ano em sua formação. Mas o que observamos na prática foi exatamente o contrário.

    Um estudo conduzido pelo residente Renato Schneider Laurito, com auxílio e orientação de médicos e professores do Departamento de Ortopedia, Reumatologia e Traumatologia da UNICAMP, constatou um aumento da atividade dos residentes da Ortopedia no centro cirúrgico. Os resultados deste estudo foram apresentados no Congresso Brasileiro de Ortopedia e Traumatologia em Novembro de 2020 (CBOT 2020) e estão sendo preparados para publicação.

    De acordo com o estudo, não houve prejuízo grave na formação dos médicos residentes neste período, porque apesar da proibição das internações eletivas e da realização de cirurgias não emergenciais, ocorreu um aumento do número de fraturas expostas e outros traumatismos com necessidade de tratamento cirúrgico urgente. Além disso, os médicos residentes foram afastados de outras atividades hospitalares, tais como o atendimento ambulatorial, passando a frequentar um maior número de horas no centro cirúrgico, em virtude do aumento da demanda.

    A figura abaixo mostra a comparação do número de cirurgias de urgência nos dois períodos. Urgência significa todo tratamento que precisa ser instituído o mais rápido possível, não excedendo oito horas de espera, para evitar prejuízos graves e sequelas ao paciente. As cirurgias que podem esperar mais de oito horas ou que podem ser realizadas no dia seguinte são classificadas como eletivas.

    Foram registradas 169 cirurgias ortopédicas urgentes entre Março e Julho de 2019, enquanto no mesmo período de 2020, em plena quarentena, esse número saltou para 188. Um aumento de 11,2%.

    Enquanto isso, o número de cirurgias eletivas, aquelas realizadas em pacientes com problemas ortopédicas crônicos ou que permitem espera, despencou de 300 de Março a Julho de 2019 para apenas 196 no mesmo período de 2020.

    Parece razoável pensar que o número de acidentes deveria diminuir durante a quarentena, com a menor circulação de pessoas no transito. Entretanto, uma possível explicação para este resultado foi o aumento exponencial da demanda por entregas e serviços de “delivery”. A maioria realizada por motocicletas. Além do aumento da demanda, houve um grande aumento do número de pessoas que buscaram no ramo de entregas uma forma de sobrevivência diante de demissões e fechamentos de empresas. Muitos com pouca ou nenhuma experiencia na condução de motocicletas.

    Estes dados ajudam a entender a dinâmica da sociedade e o impacto na demanda por serviços hospitalares diante de situações que exijam quarentenas no futuro, para que haja um melhor planejamento na distribuição dos recursos. É necessário fazer estudos mais extensos, com dados de outros hospitais, para confirmar estes achados.

    O Autor

    Alessandro Zorzi

    Médico ortopedista e pesquisador na UNICAMP e no Hospital Albert Einstein, com mestrado e doutorado em ciências da cirurgia pela UNICAMP e especialização em pesquisa clínica pela Harvard Medical School.

    Este texto foi escrito originalmente no blog Fêmur Distal

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Volta as aulas presenciais! – Vídeo

    Vídeo por Beatriz Durlin (@beatriz.durlin )e Caio Silvano Serafim ( @caio170321)

    Ref. do Vídeo:

    Por Helena Vetorazo blogs.unicamp.br/prometeus/2019 

    e Todos Pelas Vacinas @tdspelasvacinas  #todospelasvacinas todospelasvacinas.info

    Este texto é original e escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • E as escolas, devem voltar?

    Texto escrito por Ana Arnt e Isaac Schrarstzhaupt

    Vivemos um momento em que há uma tensão no ar, com impasses difíceis de resolver. Por um lado, temos crianças e adolescentes que estão afastados da escola e de tudo o que isto implica – vivência social, aprendizados do espaço coletivo, contato com amigos, etc. Por outro lado, temos uma doença que assola o mundo – e nosso país de maneira intensa – e cujo os contatos interpessoais é a grande propulsora dos contágios e adoecimento.

    Sim, as escolas são fundamentais para a estrutura social que nós vivemos no mundo contemporâneo. Mas será que temos condições de abrirmos com segurança sanitária para todos?

    Assim, temos noção que precisaríamos urgentemente de um planejamento para retomar inúmeras atividades presenciais, tendo em vista a continuidade da pandemia, por mais tempo do que outrora imaginado.

    Recomendações para aberturas

    É imprescindível olharmos para algumas recomendações para o planejamento de abertura do espaço escolar, embasando-nos em princípios científicos e pressupostos da Organização Mundial da Saúde (OMS), além das regulamentações, leis e normativas do estado, para que a retomada seja repensada para um planejamento mais seguro a todos os trabalhadores da educação.

    Vamos olhar, por estarmos situados no estado de São Paulo, para as resoluções daqui, tendo em vista a abertura desde o dia 08 de Fevereiro. Segundo a Resolução SEDUC 11, de 26-01-2021, publicada no diário oficial (SÃO PAULO, 2021a), é considerado que, para o retorno existe

    “a necessidade de se assegurar as condições que favoreçam a realização de atividades escolares presenciais de forma segura para estudantes e profissionais da educação”.

    Dentre as condições, nós gostaríamos de destacar a distribuição de Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs), prevista pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, que aponta o uso de máscaras de tecido como obrigatória para servidores.

    É sabido que máscaras de tecido de algodão, com duas camadas, são eficientes como barreira mecânica. Entretanto, não são um equipamento de proteção individual. Ou seja, elas funcionam como barreiras de proteção a terceiros, caso o indivíduo em questão esteja contaminado, para minimizar riscos de outros indivíduos próximos. Isto é, por ser uma barreira mecânica, ela impede a dispersão de aerossóis. Mas para o indivíduo que utiliza a máscara, tem um efeito menor de proteção. Além disso, as máscaras de tecido frequentemente tem escapes de aerossóis, por não terem um isolamento adequado.

    Tendo em vista a necessidade de proteção dos servidores, como manutenção do serviço prestado à comunidade, os EPIs adequados deveriam atentar-se não apenas à proteção de quem convive no mesmo espaço, mas dos indivíduos trabalhadores em si.

    Dessa maneira, alguns especialistas têm indicado as máscaras N95 ou PFF2, que no início da pandemia eram desencorajadas, por estarem em falta para o corpo médico que atuava na linha de frente. A indicação destas máscaras não se restringem ao ambiente de trabalho, mas a espaços como transporte público e escolar.

    Todavia, na ausência destas máscaras, a OMS têm preconizado o uso de máscaras de tecido, com 3 camadas: uma camada hidrofílica interna, duas camadas (uma intermediária e uma externa) com características hidrofóbicas.

    Assim, a OMS ainda aponta fortemente a necessidade de testes e rastreamento de contatos, não limitando-se ao aparecimento de sintomas e casos suspeitos.

    Parece exagerado falar isso? Tal como já temos debatido em outros textos, reforçamos o fato de que o Brasil é o 3º país do mundo em casos confirmados de Covid-19. Não bastando este número, somos também o 2º do mundo em quantidade de óbitos. Todavia, em números totais de testes, somos o 11º país do mundo. Mas, pior que isto, em testes por milhão de habitantes, estamos em 116º lugar no mundo (WORLDOMETERS, 2021).

    Afinal, o que estes números indicam?

    Isto indica que, à revelia da intencionalidade de rastreio e testagem das escolas, nós temos falhado (E MUITO) nas testagens de qualquer brasileiro.

    Outras informações relevantes

    Ao olharmos o documento Volta às aulas Seguras, 2021 (SÃO PAULO, 2021b), consta que o retorno deveria ser feito após a testagem negativa, em casos suspeitos. No entanto, nossa pergunta, neste caso, é: onde este teste será feito? Como serão os encaminhamentos de testes? Haverá garantia para testes a todos os estudantes e servidores da rede? Isto deveria ser respondido, tendo em vista a baixa testagem em nosso país, ainda.

    Todas estas questões somam-se ao fato de que o Estado de São Paulo tem registrado diariamente mais do que 10 mil casos, com óbitos que ultrapassam 300 por dia. Por outro lado, analisando-se a Média móvel de internações, nas últimas semanas vemos um aumento da taxa de internações, mesmo com a mobilidade urbana estável, ou diminuindo.

    Figura 1. Internações de confirmados com COVID-19 em 2021 – Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, São João da Boa Vista e Taubaté. Fonte: SEADE, São Paulo

    Figura 2. Internações de confirmados com COVID-19 em 2021 – Marília, Presidente Prudente, Piracicaba, Registro. Fonte: SEADE, São Paulo
    Figura 3. Internações de confirmados com COVID-19 em 2021 – Bauru, Campinas, Barretos e Granca. Fonte: SEADE, São Paulo

    O que as Médias Móveis de Internação representam?

    Mais do que apenas a taxa diária de ocupação dos leitos, é fundamental em uma crise sanitária como esta, observar a tendência de internações – se estamos aumentando ou diminuindo em um tempo determinado e analisar quais os motivos estão nos levando a esta tendência (de aumento ou diminuição das internações).

    Segundo os dados do SEADE, pode-se ver que à revelia de termos UTIs não ocupadas (temos ocupação de 66,7% segundo os dados de hoje, 10/02), conforme indicado pela Secretaria de Saúde do Estado, vivemos atualmente um aumento de casos de internação, considerando a manutenção do isolamento – e fechamento e controle de horários de estabelecimentos de comércio, bares e restaurantes durante o final de semana.

    E o que o aumento de casos de internação nos diz? Que estamos com aumento de pessoas contaminadas! Ainda assim, lembramos sempre que as internações se referem à infecções ocorridas há pelo menos 10 dias. Isto levando-se em conta o período de incubação da doença e mais o atraso na notificação da internação. Como podemos propor um aumento de mobilidade em uma situação de aumento de internações?

    Sobre as escolas e o isolamento

    O retorno das escolas representa exatamente o avesso da “manutenção de isolamento”. Isto é, um aumento significativo de pessoas circulando, especialmente em transporte público e escolar. Além disso, o óbvio aumento do contato direto diariamente – mesmo seguindo-se todas as recomendações apontadas em documentos oficiais e restringindo-se a 35% de crianças dentro do ambiente escolar.

    Estamos vivendo um momento de apreensão, com as novas variantes aparecendo – e se espalhando. Ao que tudo indica, com uma transmissibilidade maior do que o vírus original. Também temos vivido um relaxamento das regras de isolamento social em vários setores da sociedade.

    Percebemos, sim, as falas de: cansaço de pessoas, falta de convívio social das crianças com outras crianças, trabalho das mães que não podem fazer home office e cuidados necessários por avós que ficam das crianças.

    Entendemos que a escola também não é apenas conteúdo técnico e científico. Pois as perdas são muito maiores do que aprender regras de subtração, divisão celular, ou capitais de estados e países. A vivência escolar é incomensuravelmente maior que tudo isto. E jamais diríamos o contrário.

    E a APEOESP?

    Por fim, alertamos que a APEOESP – Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo – tem lançado os comunicados com escolas em que casos de contaminação estão acontecendo e, até o momento, há 100 escolas com contaminação registradas, inclusive com servidores em estado grave e registro de óbitos.

    Em suma, o retorno se apresenta com poucas condições para a manutenção segura e saudável dos nossos alunos e servidores – ainda considerando-se a quantidade de contatos que cada indivíduo tem (familiares próximos) que potencializa o risco iminente de surtos com complicações em pouquíssimo tempo.

    Entretanto…

    A centralidade de nosso ponto é que estamos falando em um aumento da média móvel de internações, estamos batendo recordes de mortes diárias, novamente. Temos uma campanha de vacinação que avança muito lentamente – e está longe de chegar ao alcance de servidores das escolas (que não foram priorizados nesta primeira fase) e familiares próximos.

    Vivemos um momento em que absolutamente todas as decisões têm sido tomadas em âmbitos individuais, pressionadas por posicionamentos do Estado que parecem não olhar para estes números de mortes, médias móveis de internações e para as condições precárias que milhões de famílias estão passando.

    A título de ilustração, abordamos um estudo (ainda em preprint) analisando cenários de retorno das atividades escolares na Europa. Neste estudo, levou-se em conta a diferença de transmissibilidade da Covid-19 em crianças e adolescentes. Assim, seria importante analisar a necessidade de abertura das escolas em cada uma das etapas de ensino. Nesta pesquisa, evitar a retomada do ensino fundamental e médio, em situações de aumento de casos – ou mesmo estabilidade – foi a recomendação.

    Além disso, em qualquer cenário analisado, os testes e rastreamentos seriam uma das ferramentas imprescindíveis para controle da Covid-19 (Domenico, 2021).

    Outra pesquisa, brasileira, também em preprint aponta que os critérios para abertura das escolas têm seguido parâmetros de:
    – Redução na propagação do vírus.
    – Sistema de Saúde com condições de abarcar casos graves;
    – Monitoramento (testes em larga escala e rastreamento de contatos)

    A partir destas questões

    O nosso ponto é: como podemos olhar para a escola como PRIORIDADE quando há denúncias de falta de condições, professores com medo e estabelecimentos comerciais não essenciais abertos? Assim, como priorizar escolas sem um plano em que servidores estejam vacinados e, com isso, protegidos entre si, e também em relação às crianças (que não poderão se vacinar ainda)?

    A pressão pelo retorno não poderia esperar por mais um mês? Em tempos em que estamos em uma corrida contra o tempo para os processos de vacinação, talvez fosse importante investir em diminuição dos casos. Isso enfatizando que, até que uma nova fase da vacinação se desenrolasse e tivéssemos, de fato, uma possibilidade de estes profissionais terem sua saúde garantida.

    Por fim, o retorno das escolas como política pública – mesmo que em âmbito de escolas privadas – deve ter recomendações específicas, com estratégias que visem proteção e segurança sanitária de servidores, crianças e familiares. Isto é, incluir EPIs adequados, testes em massa, rastreamento de contatos. Assim como, também seria fundamental repensar a retomada a partir de critérios específicos. Por exemplo, tomando estudos de lugares que fizeram a abertura das escolas e, também, análise de cenários destas aberturas.

    Nossos Materiais:

    Como Funciona a N95?

    Vamos abrir as escolas?

    Materiais de Parceiros

    Kokubun, F, Schrarstzhaupt, I, Fontes-Dutra, M, Santana, L (2020) Reabertura das escolas, Rede Análise Covid-19

    Mori, Vitor (2021) Qual máscara usar

    Material de referência

    Di Domenico, L, Pullano, G, Sabbatini, CE, Boëlle, PY, Colizza, V (2021) Modelling safe protocols for reopening schools during the COVID-19 pandemic in France

    SÃO PAULO (2021a) Resolução SEDUC 11, de 26-01-2021, Diário Oficial de São Paulo,Volume 131, Número 16, São Paulo, segunda-feira, 25 de janeiro de 2021.

    SÃO PAULO (2021b) Volta às aulas segura 2021.

    Letícia Soares, Teresa Helena Schoen (2021) Medidas de prevenção à Covid-19 no retorno às aulas:Protocolos de 13 países

    SEADE (2021) Leitos e Internações (Data até 06/01/2021).

    WHO (2020). Mask use in the context of COVID-19

    WORLDOMETER (2021) Coronavírus (6 de Fevereiro de 2021)

    Os Autores

    Isaac Schrarstzhaupt é Cientista de dados e Coordenador na Rede Análise Covid-19 (@analise_covid19) e gentilmente nos ajudou a levantar os dados, analisá-los para debatê-los com vocês.

    Ana de Medeiros Arnt é licenciada em Ciências Biológicas, pesquisadora do Grupo Pesquisa em Educação em Ciências (PEmCie) e coordena o Blogs de Ciência da Unicamp e o Especial Covid-19

    Este texto foi escrito originalmente no blog PEmCie, teve sua primeira versão publicada dia 10 de fevereiro, e revisado (especialmente o final do post) dia 12 de Fevereiro

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Acredite na vacina e também no aquecimento global

    Se sairmos logo desta pandemia, o clima deve ser o tema de preocupação global mais urgente

    Se havia esperança de que o ano de 2021 seria diferente, pelo menos este primeiro semestre vai lembrar muito 2020. Mas 2020 não foi só o ano da pandemia. Foi também o segundo mais quente da história. A agência europeia Copernicus (2021), a partir de dados analisados, informou que 2020 se igualou a 2016 como o ano mais quente da história, com 1.25°C acima dos níveis pré-industriais. No ano passado, houve ondas de calor devastadoras na Europa, incêndios florestais sem precedentes no Brasil e na Austrália, milhares de mortes devido ao ciclone Idai na África, e uma série de outros eventos climáticos extremos.  

    E o que o coronavírus tem a ver com o clima? Os impactos do clima aumentam a probabilidade do surgimento de pandemias por consequência de mudanças nos habitats de vetores de doenças ou aumento do contato entre espécies resultante do desmatamento.

    No caso da COVID-19, os efeitos na saúde não param na infecção em si, pois são amplificados com consequências socioeconômicas que podem impactar gerações. O Banco Mundial já previu uma retração econômica em todo o mundo de 4,3% em 2020. Entre 40 e 60 milhões de pessoas serão levadas à pobreza extrema, uma perda equivalente a três anos no esforço de redução da pobreza. No Brasil, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) projetou queda de 5% do Produto Interno Bruno (PIB).

    Da mesma forma, as mudanças climáticas geram eventos em escala que afetam da produção agrícola à migração forçada de populações. Portanto, apesar desta crise de saúde sem precedentes, as mudanças climáticas ameaçam produzir choques de maior magnitude em períodos de tempo mais longos.

    Foto de Markus Spiske no Pexels

    Sem medidas suficientes, os impactos da crise climática na saúde e na economia tendem a ser crescentes e contínuos. A OMS já alertou que a poluição do ar custou quase US$ 3 trilhões, o equivalente a mais de 3% do PIB global, apenas em 2018, sendo responsável por 7 milhões de mortes todos os anos.  

    No Brasil, o transporte de passageiros é a fonte de emissão de gases de efeito estufa (GEE) que mais cresce. Dados do Observatório do Clima (2018) mostram que entre 1990 e 2012, houve um aumento de 84 para 204 mi/ton., sendo a principal fonte de emissões municipais e o segundo em nível nacional, perdendo apenas para a agropecuária. E em São Paulo, a poluição será responsável por mais de 50 mil mortes até 2030, segundo pesquisa do Instituto Saúde e Sustentabilidade e Escola Paulista de Medicina (2014).

    E agora, humanos?

    Podemos ter um vislumbre de esperança? Sim! Embora o caminho para controlar o coronavírus seja marcado por polêmicas e escolhas difíceis, há sinais de esperança. Os países estão provando que é possível achatar a curva e aproximar-se de uma imunização global a partir de esforços coletivos.

    Uma lição aprendida foi que a coordenação entre os países na corrida por uma vacina em tempo recorde resultou em parcerias bem-sucedidas a partir da ciência e da tecnologia. No entanto, a falta deste mesmo tipo de coordenação global para políticas climáticas decepciona. Uma governança ambiental global é mais do que necessária.

    Foto de Markus Spiske no Pexels

    Mas alguns países como a Japão, Canadá e Reino Unido já têm assumido compromissos “net zero” tanto na arena empresarial quanto governamental. A China tem feito esforços massivos para descarbonizar sua economia, investindo em energias limpas e cidades inteligentes, com a meta de neutralizar a emissão de carbono até 2060. E essa pauta deve se fortalecer com o retorno dos Estados Unidos à Agenda de Paris.

    E neste ano, a Conferência do Clima da ONU (COP 26), que acontece em novembro, em Glasgow, na Escócia, será decisiva ao reavaliar os objetivos e metas de redução de emissões do Acordo de Paris, que acaba de completar cinco anos.

    Mais do que nunca, temos a responsabilidade de fazer as coisas de maneira diferente para que o velho normal do insustentável “business as usual” não volte a ser o status quo e que a saúde das pessoas e do planeta seja prioridade.

    Fontes:

    COPERNICUS. Copernicus: 2020 warmest year on record for Europe; globally, 2020 ties with 2016 for warmest year recorded. Disponível em: https://climate.copernicus.eu/copernicus-2020-warmest-year-record-europe-globally-2020-ties-2016-warmest-year-recorded. Acesso em 08/01/2021.

    OMS. 7 million premature deaths annually linked to air pollution. Disponível em: https://www.who.int/mediacentre/news/releases/2014/air-pollution/en/. Acesso em 20/01/2021.

    OBSERVATÓRIO DO CLIMA. SEEG 8 – Análise das emissões brasileiras de gases de efeito estufa e suas implicações para as metas de clima do Brasil (1970-2019). Disponível em: http://www.observatoriodoclima.eco.br/seeg-8-analise-das-emissoes-brasileiras-de-gases-de-efeito-estufa-e-suas-implicacoes-para-metas-de-clima-brasil-1970-2019/. Acesso em 20/01/2021.

    VORMITTAG, E. M. P. A. A.; COSTA, R. R.; BRAGA, A. A.; MIRANDA, M. J.; NASCIMENTO, N. C.; SALDIVA, P. H. Monitoramento da qualidade do ar no Brasil. Instituto Saúde e Sustentabilidade, 2014. Disponível em: http://www.saudeesustentabilidade.org.br/site/wp-content/uploads/2014/07/Monitoramento-da-Qualidade-do-Ar-no-Brasil-2014.pdf. Acesso em 01/02/2021.

    Jaqueline Nichi é graduada em Jornalismo e Sociologia, com mestrado em Sustentabilidade pela EACH-USP. Atualmente, é doutoranda no Programa Ambiente e Sociedade do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (NEPAM-UNICAMP). Sua área de pesquisa é centrada nas dimensões sociais e políticas das mudanças climáticas nas cidades e governança local.

    Este texto foi escrito originalmente no blog Natureza de Fato

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Como fazemos a divulgação da divulgação científica no Blogs de Ciência da Unicamp?

    Faz muito tempo que gostaria de escrever (aqui no Mindflow) sobre como é feita a divulgação da divulgação científica no Blogs de Ciência da Unicamp. Um trabalho de formiguinha que foi desenvolvido com muito suor, horas a fio, estudo, tentativas, acertos, erros e discussão com colegas divulgadores de ciência e comunicadores.

    A ideia desse texto é demonstrar o passo a passo e a linha de raciocínio que fazemos todos os dias no projeto. Trabalho este que por 03 anos fiz sozinha, mas agora conto com a ajuda da minha querida equipe*.

    De 2016 até aqui…

    Desde que iniciei o trabalho de comunicação do Blogs de Ciência da Unicamp duas perguntas, volta e meia aparecem e frequentemente nesta ordem:

    A primeira sobre a morte iminente dos blogs (que foi respondido neste texto) e em segundo lugar sobre como fazemos a divulgação da divulgação científica no Blogs de Ciência da Unicamp sem o uso de recursos financeiros.

    Não sei se você sabe, caro leitor, mas o projeto iniciou-se a partir de voluntários (mais sobre essa história) e sem nenhum recurso financeiro disponível no início e ao longo dos anos. Verdade seja dita que a Unicamp nos dá suporte físico, de equipamentos, bolsistas BAS e, é claro, de seu nome e credibilidade.

    Mesmo assim com a falta de recursos financeiros e a continuidade de cortes na ciência optar por investir em estratégias de divulgação pagas nas redes sociais ou em qualquer outra forma de comunicação era e, ainda é, impossível.

    Portanto toda a construção da comunicação do projeto manteve-se focado em encontrar estratégias de divulgação sem o uso de recursos financeiros e, principalmente, driblando os blocks* e as mudanças de algoritmos das redes sociais. Uma vez cheguei a ficar sem acesso a 3 contas por 4 meses, neste momento, inclusive, estou bloqueada por 15 dias.

    E de pouco em pouco o projeto conseguiu garantir um público cativo que frequenta nossas páginas.

    Compartilhado de: crimsonredjackettcoat

    No final de 2019 o projeto já havia crescido bastante em números de acessos, leitores, de blogueiros/divulgadores de ciência e de voluntários. Dessa forma conseguimos ampliar nossas atividades e colocar em prática projetos engavetados. Nosso primeiro encontro da equipe (quase completa) foi em 10 de Janeiro de 2020. Olha nossa foto aqui:

    https://www.instagram.com/p/B7JozNrHQLr/?utm_source=ig_web_copy_link

    Fizemos a reunião, nos conhecemos, nos animamos, fizemos planos e aí!!!!!

    A pandemia.

    Com o anúncio da suspensão das aulas na Unicamp, em 12 de março de 2020, devido ao COVID-19, o Blogs de Ciência da Unicamp decidiu então focar seus esforços em divulgar conteúdo científico sobre a pandemia e em apenas 09 dias colocamos no ar o Especial Covid-19, um volume atualizado (quase que diariamente) sobre tudo que fosse possível ser produzido sobre o tema a partir de cientistas/blogueiros que já participam do projeto e outros cientistas convidados. (Mais sobre essa história)

    E para que isso funcionasse a equipe de voluntários se dividiu entre os que organizavam a plataforma, a equipe que estudava sobre os temas, escrevia ou buscava convidados para escrever, os que liam e verificam os conteúdos e a equipe de comunicação que divulga os conteúdos prontos (e foi aí que me tornei coordenadora de comunicação do Blogs de Ciência da Unicamp, chick, né!).

    Então mãos a obra!

    Nesse primeiro momento nos reunimos virtualmente como equipe, tiramos todas as dúvidas iniciais, entendemos qual era o nível de conhecimento de cada um sobre comunicação e redes sociais e como tem sido realizada a comunicação do projeto até este momento. A partir disso montamos a rotina de funcionamento diário:

    Passo 1- Escolher o conteúdo a ser divulgado

    Antes de começar a divulgar é preciso se informar sobre o que está acontecendo no mundo. E apesar de parecer exaustivo, principalmente durante a pandemia, entender o que está acontecendo de importante e quais são as atualizações ajudam a escolher o conteúdo a ser divulgado.

    Além dos jornais também é altamente recomendável verificar as redes sociais e grupos de chat, como WhatsApp e Telegram, por exemplo, são nesses canais que aparecem as dúvidas das pessoas.

    Escolher conteúdos sobre assuntos da atualidade e que as responde dúvidas das pessoas além de ajudar no engajamento das redes sociais e consequentemente aumentar a visualização do seu conteúdo aproxima a ciência da sociedade, demonstrando sua utilidade no dia a dia.

    Fonte: https://thelolgifs.tumblr.com/post/44651690209

    Todos os dias nossa equipe de comunicação se informava e discutia antes de escolher qual conteúdo era mais pertinente naquele momento e caso não houvesse nenhum conteúdo pronto repassávamos a demanda a outra equipe que as providenciava com os cientistas.

    Passo 2 – Adequar as mídias que seriam utilizadas para divulgar.

    Aqui no Mindflow falamos mais extensivamente sobre como fazer e qual a importância de adequar seu conteúdo as mídias que irá utilizar e ao público que pretende divulgar.

    Coloco abaixo uma listinha de textos que recomendo dar uma olhadinha antes de continuar a leitura:

    Passo 3 – Planejamento

    Decidimos então que divulgaríamos uma postagem de conteúdo do Especial Covid-19 por dia e assim mantemos até Agosto.

    Informamos aos blogueiros do projeto que conteúdos sobre a pandemia seriam priorizados e que os outros conteúdos seriam divulgados a partir do segundo semestre, quando passamos a divulgar em 3 dias da semana conteúdos sobre a pandemia e em dois conteúdos gerais do projeto.

    Todos os dias fazíamos o passo 1 e 2 e discutíamos em conjunto qual seria a melhor forma de divulgarmos o conteúdo via nossas redes sociais, respeitando os seguintes critérios:

    • Mantemos uma lista de postagens realizadas e seu resultado de acesso, sempre olhamos essa lista antes de escolher um conteúdo para evitar repetição e conferir as estratégias que deram melhor resultado;
    • Escolhemos uma imagem ou vídeo respeitando os direitos de uso de imagem (mais sobre isso);
    • Escolhemos uma frase chamada que se adeque a cada rede social e que incentive o público a ir até o texto completo;
    • Incluímos na postagem o nome do autor e do blog original (no caso do Especial Covid-19)

    Passo 4 – Reuniões para discussão, análise e estudo

    Fonte: https://giphy.com/luisricardo

    Percebemos que as conversas via WhatsApp inibiam discussões sobre mudanças, dúvidas, novas ideias e problemas do dia a dia, então decidimos que a cada 15 dias nos reuniríamos para estudar sobre comunicação. Em nossas reuniões eram sugeridos temas com material bibliográfico de suporte, convite a especialistas e discussões sobre o trabalho diário.

    Os encontros foram muito além do aprofundamento em conteúdos sobre comunicação, mídias sociais e divulgação científica, se tratava sobre darmos suporte uns aos outros para enfrentarmos os desafios do dia a dia do trabalho e da vida na pandemia.

    Passo 5 – Nem tudo são flores

    Não é novidade para nenhum divulgador científico o enorme desafio que é lidar com as fakes news e o negacionismo, esse é uma parte do nosso trabalho e é preciso estar preparado para isso.

    Contudo a quantidade insana de material que todos os dias apareciam em nossas redes sociais, pessoais e do projeto, o crescimento da demanda de resposta a comentários (interessados reais, bots e haters), descontentamento, cobrança e reclamações de parceiros, constante atualização sobre a pandemia e os problemas pessoais de cada um estafou a equipe.

    Mais sobre isso:

    E com o andar dos dias nosso trabalho acabou por ficar mecânico e sem espaço para novas ideias.

    Percebemos que na urgência de entendermos a pandemia para responder aos comentários, pautas importantes as serem trabalhadas, as dificuldades do trabalho voluntário e de fazer comunicação em mídias sociais sem recurso financeiro e os desdobramentos político-sociais brasileiros acabou por nos afastar do nosso público.

    E era preciso parar, respirar e rever tudo.

    https://giphy.com/southpark

    Passe 6 – Readequações

    Acho que o primeiro passo para a mudança era entender que somos um canal de divulgação científica e não de jornalismo científico. Parece bobo e óbvio dizer isso, mas com o tempo (e por termos excelentes jornalistas na equipe) acabamos por entrar no mesmo ritmo do jornalismo diário.

    Como canal de divulgação científica trabalhamos com a responsabilidade social de divulgar informações sobre ciência de forma acessível, ampla e o mais compreensível possível e para que isso seja possível é preciso que haja planejamento, maturação da informação, consulta a pares e em outras fontes de conhecimento.

    E não é só isso, temos também a responsabilidade de responder ao nosso público sempre com ética e embasamento, além da criação de conteúdo para o combate a fake news e o negacionismo.

    E para tudo isso precisamos de tempo!

    Nesse sentido é importante pensarmos no trabalho de divulgação científica de forma coletiva. O Blogs de Ciência da Unicamp é coletivo, procuramos como equipe levar a divulgação científica a sociedade de TODAS as ciências e para isso contamos com diversos cientistas, comunicadores e parceiros.

    Essa é a melhor estratégia para conseguirmos TEMPO (aquele que eu estava comentando algumas linhas acima).

    Mais sobre isso:

    Fazer Divulgação Científica sobre pandemia em uma sociedade do espetáculo

    Divulgação e comunicação científica: para além e avante

    E como fazemos isso?

    *Trabalhando em um planejamento que deve ser seguido ao longo do ano, (é claro que é preciso ter espaço para novas ideias e é natural que a equipe se perca as vezes), mas se preparar dá tranquilidade a equipe e ajuda ao projeto a chegar aos resultados pré-estabelecidos.

    *Entendendo, como equipe, qual o nosso papel, objetivo e onde queremos chegar para que todos falem a mesma língua e busque os mesmos resultados.

    *Usando nossa rede de colegas, amigos e parceiros, privilegiando a expertise de cada um e compartilhando seu conteúdo em nossas redes, além de ajudar a diversidade de informação para o nosso público ajudamos ao colega a crescer também.

    Reafirmo, como no início desse texto, que nosso trabalho é fruto de muita luta, suor, alegrias e erros e esse relato do nosso trabalho serve não só como registro histórico, mas também como ajuda a outros divulgadores científicos que continuam lutando pela ciência brasileira.

    *Dedico esta postagem a equipe atual de comunicação do Blogs de Ciência da Unicamp que foi fundamental nessa pandemia:
    • Coordenadora geral do projeto: Ana de Medeiros Arnt
    • Coordenadora da equipe de comunicação: Erica Mariosa Moreira Carneiro
    • Equipe de comunicação: Paula Penedo P. de Carvalho, Luisa Fernanda Rios Pinto, Graciele Almeida de Oliveira, José Felipe Teixeira Da Silva Santos, Jaqueline Nichi.
    • Equipe de artes: Beatriz Caroline Paduanello Durlin, Caio Silvano Serafim e Carolina Frandsen P. Costa

    Equipe Completa do Blogs de Ciência da Unicamp: https://www.blogs.unicamp.br/quem-somos/

    Outros assuntos importantes:

    Este texto foi escrito originalmente no blog MindFlow

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

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