Categoria: Sociedade

  • Flexibilizar ou não o isolamento, eis a questão.

    Nas primeiras semanas de junho, após quase dois meses de isolamento social, muitas cidades optaram por implementar planos de flexibilização do isolamento social com reabertura gradual do comércio e demais serviços ditos não essenciais. Em meio a um cenário ainda crescente do número de casos da COVID-19 e sem qualquer certeza de termos atingido o “pico da curva”, uma pergunta torna-se inquietante: qual a lógica por trás dessas ações? As medidas certamente têm por objetivo a retomada gradual da “normalidade” com foco no fortalecimento econômico. Mas, de fato, quais as consequências possíveis de tais ações? Com base nos dados expostos pelo plano São Paulo1 tentamos aqui costurar interpretações para entender a lógica que levou estados e municípios a adotarem medidas de flexibilização do isolamento social.

    Muitos devem lembrar do tal achatamento da curva, amplamente comentado no início da pandemia. A tentativa de “achatar a curva” dos casos da COVID-19 consistia em promover ações de isolamento social de modo que, ao ficarmos em casa, pudéssemos retardar a taxa de contaminação. Tínhamos que ter em mente que, enquanto não houvesse (e ainda não há) uma vacina, todos, hora ou outra, seríamos contaminados pelo corona vírus. A ideia é que isso ocorresse gradualmente de modo que o número de doentes não ultrapassasse o número de leitos disponíveis no sistema de saúde. Ou seja, imaginemos que uma determinada cidade dispõe de 100 leitos de UTI. Se tivermos 101 pacientes, 1 deles ficará sem atendimento adequado e correrá um risco maior de vir a óbito.

    Em diversas cidades, tais ações têm logrado êxito, considerando os números oficiais. 

    Mas o que mudou para que fosse possível nos libertarmos das amarras do isolamento social? Todos já se contaminaram, certo? ERRADO! Chegamos ao pico da curva? ERRADO! Descobrimos o tratamento ou a vacina? ERRADO. Então o que fez o governo flexibilizar o isolamento? Vamos tentar compreender a razão olhando os dados disponibilizados pelo governo do estado de São Paulo, que se assemelham a de outros estados da federação.

    O que é o plano SP?

    O Plano propõe que os municípios ou regiões sejam classificados em termos de “fases”. Cada fase implica um maior ou menor grau de liberação de atividades sociais e econômicas como mostrado na figura abaixo1.

    Fonte: Plano São Paulo.

    Para que uma região seja classificada em uma das fases, o governo propôs que cinco indicadores devem ser analisados: Taxa de ocupação dos leitos de UTI COVID, leitos de UTI para cada 100.000 habitantes, evolução no número de casos; evolução no número de internações e evolução no número de mortes. Desta forma, uma região que atinja a pontuação mínima para os indicadores pode adotar medidas de flexibilização do isolamento, conforme ilustra a figura abaixo1.

    Fonte: Plano São Paulo.

    Compreendido o sistema e os indicadores, a questão que nos fazemos é: o que mudou do início da quarentena até aqui?

    Dentre as ações propostas pelos governos, a construção de hospitais de campanha e a aquisição de respiradores foi, sem dúvida, a que demandou grandes esforços, culminando no aumento do número de leitos de UTI. Ou seja, não significa que o número de casos diários diminuiu ou que o número de casos tem estabilizado. Isso pode ser constatado pelos dados disponibilizados pelo próprio sistema de gerenciamento do governo2.

    A consequência do aumento do número de leitos é que com isso se consegue um menor índice de ocupação dos mesmos. Por exemplo, se temos 80 casos para 100 leitos a taxa de ocupação é de 80%. Se dobramos o número de leitos e mantermos o mesmo número de casos teremos 80 casos para 200 leitos, implicando uma taxa de ocupação de 40%. É exatamente aqui que reside o problema. Se o aumento semanal no número de casos durante o isolamento social já está sendo verificado, ao promover a reabertura obviamente este índice irá disparar, como aconteceu em todos os lugares que não implementaram o isolamento ou como tem ocorrido em regiões do BRASIL que já adotaram a flexibilização3,4.

    Então, qual a mensagem que o governo (neste caso o de São Paulo) está passando?

    Podemos dizer que, de certo modo, os gestores optaram nesse momento por contaminar mais rápido as pessoas mas tentando garantir que as mesmas tenham atendimento caso isso ocorra. Essa é a opção. Esse é o risco. Deixou-se um pouco de lado o achatamento da curva ou, como preferem alguns, foram acrescentados novos números ao estado.

    Vale ressaltar que, ocorrendo o óbvio (o aumento abrupto no número de casos), o governo pretende implementar um novo isolamento ou o retorno a fase 1. Apenas nos questionamos o quão viável seria, neste momento, aumentar a contaminação por meio da flexibilização do isolamento social? Conseguiremos retomar novamente o isolamento, caso o plano não de certo? O resultado parece poder ser visualizado desde já. Mas veremos, de fato, verificaremos as consequências nas próximas duas semanas. 

    Para saber mais

    1. Plano São Paulo. Disponível em https://www.saopaulo.sp.gov.br/wp-content/uploads/2020/06/PlanoSP-apresentacao.pdf

    2. Boletim CIVID-19 São Paulo. Disponível em: https://www.seade.gov.br/coronavirus/

    3. Folha de Pernambuco: Pernambuco freia avanço da retomada gradual em 85 cidades. Disponível em: https://www.folhape.com.br/noticias/coronavirus/pernambuco-freia-avanco-da-retomada-gradual-em-85-cidades-veja-lista/143619/

    4. Portal G1: Prefeitura de Campinas publica decreto com prorrogação da quarentena. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2020/06/12/ultimas-noticias-de-coronavirus-na-regiao-de-campinas-em-12-de-junho.ghtml

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • A estupidez dos “Especialistas” de internet em tempos de pandemia: o efeito Dunning-Kruger

    Por Daniel Nunes e Davi Carvalho

    A principal causa dos problemas no mundo de hoje é que os idiotas estão cheios de certeza enquanto as pessoas inteligentes estão cheias de dúvida.” (Bertrand Russell, em o Triunfo da estupidez)

    Você provavelmente já se deparou com comentaristas de redes sociais falando com convicção sobre um determinado tópico sem ter uma dose razoável de conhecimento necessário para isso, não? No contexto de uma pandemia, a coisa fica ainda pior: não faltam “especialistas” a versar sobre assuntos que pouco ou nada sabem, mas sempre cheios de certeza. “É só uma gripezinha”, alguns defendiam, convictos, sobre a doença causada pelo coronavírus, em que pesem várias evidência em contrário.  É muito estranho que, mesmo com bem pouco conhecimento,  tenham tanta certeza, não é mesmo? Na verdade, esse é um fenômeno bastante comum. Quando se depara com os “especialistas” de internet (e mesmo fora dela), você assiste à manifestação de um mecanismo psicológico humano dos mais recorrentes: o efeito Dunning-Kruger.

    Entendendo o conceito

    “A ignorância gera autoconfiança com mais frequência do que o conhecimento“. (Charles Darwin)

     O efeito Dunning-Kruger é um problema ligado à metacognição – a habilidade do indivíduo em monitorar seus processos cognitivos e identificar suas limitações de conhecimento e compreensão em diversas situações. Esse efeito se manifesta mais comumente nas pessoas como a incapacidade de reconhecer sua própria ignorância, alimentando, assim, uma ilusão de superioridade e conhecimento superestimados. De forma mais direta: quanto mais ignorante em determinado assunto, mais confiante a pessoa pode se sentir ao opinar sobre ele. Isso te soa familiar?

    O efeito leva o nome dos pesquisadores que primeiro o estudaram e a história de sua descoberta científica é das mais curiosas, quase cômica.

    O assalto à razão – a descoberta do efeito Dunning-Kruger

    Um caso pitoresco, ocorrido em 1996, chamou a atenção dos psicólogos David Dunning e Justin Kruger da Universidade de Cornell, EUA.  Um sujeito chamado McArthur Wheeler acreditou ter o poder de ficar invisível ao passar suco de limão no rosto e, certo dessa habilidade, assaltou dois bancos sem usar máscara alguma. Wheeler, que chegou a piscar para uma das câmeras de segurança em um dos assaltos, foi, claro, facilmente identificado pela polícia após analisarem as imagens. O mais intrigante na atitude de Wheeler é que ele não apresentava sintomas de transtornos psiquiátricos e nem estava sob efeito de entorpecentes; ele realmente acreditava em sua invisibilidade diante das câmeras ao cometer o crime. Tanto ele acreditava nisso que, relataram os policias, Wheeler ficou chocado que seu plano infalível (?) tivesse falhado e lhes teria dito, espantado: “Mas eu usei o suco de limão!”

    O que a princípio era um caso surpreendente e cômico, motivou um criterioso estudo publicado por Dunning e Kruger [1], em 1999. Nesse estudo, os pesquisadores investigaram o que leva um indivíduo a sentir-se tão confiante e a superestimar tanto suas habilidades sobre algo, ainda que não tivesse um conhecimento razoável para isso, o que, evidentemente, pode levar a pessoa a um comportamento absolutamente estúpido e ainda ter orgulho disso. A conclusão à que chegaram Dunning e Kruger foi a de que a ignorância gera realmente mais confiança e segurança do que o conhecimento.

    “Taxa de confiança x Conhecimento real” [Fonte: https://medium.com/altruísmo-eficaz-brasil/]

    No entanto, é também possível que pessoas competentes sofram de inferioridade ilusória, duvidando de suas próprias habilidades e subestimando suas capacidades, muitas vezes acreditando que são uma fraude. Quando isso ocorre, passam a acreditar que outros indivíduos menos capacitados estão no mesmo nível de conhecimento e desenvolvimento de tais habilidades do que elas. Essa distorção, que é o oposto do efeito Dunning-Kruger, é chamada síndrome do impostor e foi descrita, em 1978, pelas psicólogas Pauline Rose Clance e Suzzane Imes, da Universidade Estadual da Geórgia, EUA [2].

    A esta altura, ao entender o que é e como funciona o efeito Dunning-Kruger, é bem possível que a leitora já esteja se lembrando de situações do Brasil atual nas quais viu esse mecanismo psicológico ocorrendo, não? 

    Dunning-Kruger, estupidez e política em tempos de pandemia 
    “Especialista” de internet no ringue (Fonte: Renato Machado – cartunista)

    Tal como ocorre em época de Copa do Mundo, quando todo brasileiro se torna técnico de futebol, no Brasil atual, em função da pandemia de covid-19, muitos se tornaram epidemiologistas e microbiologistas. Até quando deve durar a quarentena? A cloroquina deve ser utilizada por quem contrair o vírus? Há milhares de cidadãos ávidos para responder a perguntas como essas país afora.

    Desnecessário seria dizer que, em um país formalmente democrático, todos são livres para ter uma opinião e para expressá-la nas redes sociais ou fora delas. Quando um cidadão comum exerce seu inalienável direito de expressão e emite uma opinião pouco ou nada embasada, distante da realidade, isso pode até ter algum impacto negativo em termos da influência de sua afirmação sobre a concepção de outras pessoas. Essa influência, porém, tende a ser bastante limitada no caso do cidadão comum. Em geral, se existente, ela é limitada a um círculo social restrito, como sua família e amigos.

    No entanto, algo bem mais problemático ocorre quando pessoas em posições-chave  no mundo da política reproduzem, com convicção, — exatamente por serem ignorantes — opiniões anticientíficas, enviesadas ou completamente equivocadas [3]. Do ministro das Relações Exteriores atribuindo o aquecimento global à posição de termostatos próximos a asfalto quente [4], passando pelo presidente criticando material didático por ter “muita coisa escrita” [5], até, mais recentemente, o ministro interino da Saúde afirmando que as regiões norte e nordeste estão ligadas ao inverno do hemisfério norte [6], tem sido muitos os exemplos de gente em posições-chave opinando, com curioso grau de segurança, sobre assuntos que nitidamente desconhecem.

    O efeito Dunning-Kruger não tem lado ideológico

    Dada a capacidade de lideranças políticas de influenciarem milhões de seguidores, em qualquer tempo isso já seria um problema; torna-se ainda mais grave, porém, podendo atentar contra a saúde pública, em um contexto de pandemia global. E na conjuntura atual, fica claro que o efeito Dunning-Kruger não poupa líderes de nenhum dos lados do espectro político-ideológico. Tanto Jair Bolsonaro, no Brasil, quanto Nicolás Maduro, na Venezuela, insistem, convictos, mesmo sem fundamentos científicos sólidos, no uso da cloroquina no combate ao coronavírus [7]. Maduro, líder latinoamericano de esquerda, chegou a postar uma receita caseira de ervas como antídoto ao coronavírus no Twitter [8]. Nos Estados Unidos, Donald Trump chegou a sugerir que injetar desinfetante poderia ajudar no combate ao coronavírus (sim, você leu certo), o que levou ao aumento de casos de intoxicação por desinfetante, em Nova York, horas após a fala do presidente estadunidense [9].

    Como é possível que, mesmo autoridades que deveriam se fiar pelos dados e pela ciência, ajam dessa maneira? Por mais trivial que a explicação possa parecer, aí vai: faltam a eles as habilidades necessárias para reconhecerem sua ignorância, ou seja, sua ignorância é tal que os impede de saberem o quão ignorantes são. Como bem resume o psicólogo social David Dunning: “Se você é incompetente, não tem como saber que é incompetente (…) As habilidades que você necessita para produzir uma resposta certa são exatamente as habilidades que você precisa ter para reconhecer o que é uma resposta certa.” [10]

    Uma conclusão pela humildade

    “Todo mundo é ignorante, mas em assuntos diferentes” Will Rogers (1879-1935)

    De agora em diante, toda vez que a leitora se deparar com palpiteiros de plantão pela internet (mas também autoridades políticas), cheios de confiança, apesar de pouquíssimo conhecimento sobre o que falam, já saberá que está diante de um viés cognitivo muito comum. É possível também que esteja se perguntando se há maneiras de evitar o efeito Dunning-Kruger no seu próprio comportamento. Você não quer contribuir para a desinformação já colossal na internet, não é mesmo? Saiba que o primeiro passo, nesse sentido, já foi dado: saber da existência do efeito. É fundamental termos a humildade de reconhecer que sabemos muito pouco sobre muitas coisas. “Só sei que nada sei”, diz a célebre frase atribuída ao filósofo grego Sócrates. Sejamos socráticos. E isso porque, arafraseando o historiador norteamericano Daniel Boorstin, o grande inimigo do conhecimento não é a ignorância. É a ilusão de conhecimento.

    E caso a leitora seja como nós, que vivemos nos envolvendo em debates na internet (quem nunca?), ao entrar na disussão de um tema qualquer, sugerimos, como “vacina” ao Dunning-Kruger, que se lembre sempre do seguinte provérbio popular, comum no mundo de língua inglesa: ao argumentar com um tolo, certifique-se que ele não está fazendo a mesma coisa.

    REFERÊNCIAS:

    1. Kruger, J., & Dunning, D. (1999). Unskilled and unaware of it: How difficulties in recognizing one’s own incompetence lead to inflated self-assessments. Journal of Personality and Social Psychology, 77(6), 1121-1134. doi:10.1037/0022-3514.77.6.1121. [Link];
    2. Clance, P.R., Imes, S. (1978). The Impostor Phenomenon in High Achieving Woman: Dynamics and Therapeutic Intervention. Georgia State University, University Plaza Atlanta, Georgia 30303 [Link];
    3. Hornsey, M.J., Finlayson, M.,Chatwood, G.,Begeny, C.T. (2020). Donald Trump and vaccination: The effect of political identity, conspiracist ideation and presidential tweets on vaccine hesitancy. Journal of Experimental Social Psychology. Volume 88, Masy 2020, 103947. [Link].
    4. Marin, D.C. (2019) Chanceler atribui aumento da temperatura da Terra a asfalto quente. Revista Veja, edição de 30 de maio de 2019 [Link];
    5. (2020). Bolsonaro diz que livros didáticos tem “muita coisa escrita” e pede estilo mais “suave”. Jornal Estadão, Edição de 3 de janeiro de 2020 [Link];
    6. (2020) Ministro interino da Saúde liga inverno europeu ao Norte e Nordeste e vira meme. Revista Istoé, Edição de 10 de junho de 2020. [Link];
    7. Barrucho, L. (2020). Cloroquina “une” Bolsonaro e Maduro em meio à pandemia de coronavírus. BBC News Brasil em Londres, Edição de 15 de maio de 2020 [Link];
    8. (2020) Post de Maduro com recomendação de mistura de ervas para combater coronavírus é deletado pelo Twitter. Estado de Minas – Internacional, Edição de 26 de março de 2020 [Link];
    9. (2020) NY registra aumento de intoxicação por desinfetante após sugestão de Trump. Revista Exame, Edição de 26 de abril de 2020 [Link];
    10. Dunning, D. (2018). The best option illusion in self and social assessment. Pages 349-362, Self and Identity – Received 17 Sep 2017, Accepted 11 Apr 2018, Published online: 24 Apr 2018 [Link].

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.


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  • Somos Todos um: A pandemia e a questão Indígena

    Lá no início dessa pandemia, em março de 2020, na postagem ‘Como divulgar informações de prevenção do Covid-19 se a língua de seu país não é a sua?’ conversamos um pouco sobre o trabalho da Profa. Dra. Taciana de Carvalho Coutinho da UFAM (Universidade Federal do Amazonas) sobre os desafios de adaptar as informações de prevenção do Covid-19 para as comunidades indígenas próximas a UFAM em Benjamin Constant.

    Agora, em junho de 2020, conhecemos outra iniciativa, agora mais perto de casa, que também se propõe a contribuir com as comunidades indígenas na prevenção da Covid-19, a Organização Não-Governamental (ONG) Kamuri – Indígenismo, Ação Ambiental, Cultura e Educação

    Criada por indigenistas, em Campinas – SP, Kamuri realiza, desde 2006, diversas ações que promovem a divulgação da questão indígena e realiza trabalhos  em  comunidades indígenas, na formação de professores, inclusão digital das comunidades indígenas, registro das línguas e cultura indígena em mídias digitais,  e produção de material didático para a educação escolar indígena, além do apoio à produção de alimentos saudáveis e divulgação de técnicas de permacultura.

    No Estado de São Paulo a Kamuri desenvolve, desde 2013, um Programa de Revitalização das Línguas Indígenas no Estado – abrangendo as línguas Kaingang, Nhandewa/Tupi-Guarani, Krenak e Terena – em parceria com o Grupo de Pesquisa Indiomas (IEL/Unicamp) e com apoio da FUNAI, programa que já rendeu 7 publicações de materiais didáticos para as comunidades de São Paulo (beneficiando também comunidades do Norte do Paraná e de Minas Gerais).

    E durante essa quarentena tivemos a feliz oportunidade de conversar com a Prof. Dra. Juracilda Veiga – Co-Fundadora e atual Coordenadora da Kamuri sobre esse trabalhom sobre o trabalho que eles vem realizando, confira:

    Com quais comunidades indígenas vocês têm trabalhado?

    R:  A Kamuri é integrada por indigenistas, pesquisadores acadêmicos (especialmente da linguística, educação e antropologia), profissionais liberais e estudantes.

    Temos uma longa atuação em programas de educação escolar indígena (sobretudo no assessoramento direto a avaliações e planejamento de escolas indígenas e na formação de professores) e realizamos periodicamente os Encontros sobre Leitura e Escrita em Sociedades Indígenas – ELESI (um dos poucos – e um dos mais importantes – eventos de âmbito nacional, aberto, sobre educação indígena no Brasil).

    Desenvolvemos ações importantes de formação de professores e junto a escolas indígenas do Rio Grande do Sul (especialmente entre 2008 e 2014); participamos do projeto Web Indígena, conduzido pelo grupo InDIOMAS, e atuamos diretamente em educação junto aos professores de uma dúzia de escolas e áreas indígenas do Estado de São Paulo, especialmente com o programa de Revitalização Linguística, iniciado em 2013.

    Material de combate a disseminação do coronavírus realizado pela Kamuri

    No caso das comunidades do Alto Solimões, nossa atuação tem sido na forma de contribuição para combater a disseminação do Coronavírus nas comunidades indígenas, especialmente os Tikuna e Kokama. O Alto Solimões compreende 13 etnias (7 em território Brasileiro) e  concentra uma população indígena de cerca de 123 mil pessoas , (68 mil indígenas em território Brasileiro, desses 46 mil são Tikunas  ou 68 % do total da população indígena na região).

    As principais comunidades Tikuna são: Feijoal, com 577 famílias e cerca de 5000 mil pessoas.  Aldeia Belém do Solimões: 1.014 famílias,  5.800 pessoas.  Aldeia Umariaçu 1.  são 504 familias, 2.191 pessoas. Aldeia Umuriaçu 2.  São 1302 familias, e 5002 pessoas. Aldeia Filadelfia, 269 famílias. 1400 pessoas. E a campanha, à medida em que segue recebendo contribuições, buscará levar apoio a todas elas, além das famílias Kokama que já ajudamos, e famílias Tikuna da divisa, oficialmente moradores da Colômbia.

    Material de combate a disseminação do coronavírus realizado pela Kamuri

    Como tem sido o trabalho de divulgação científica sobre a prevenção da Covid-19 nessas comunidades assistidas por esse grupo de apoio voluntário?

    R: E diante dessa pandemia a Kamuri se propôs a colocar em prática uma Ação Solidária com as comunidades indígenas do Alto Rio Solimões (Tikuna e Kokama e outras etnias da tríplice fronteira Brasil, Colômbia e Peru).

    O pedido de socorro chegou ao IEL Unicamp  por Ozias Guedes Alberto, um mestrando indígena da etnia Tikuna, da Aldeia Feijoal (AM), que solicitava álcool em gel e mil máscaras para seu povo. Professores do IEL decidiram lançar uma Campanha para a arrecadação de recursos, solicitando apoio da Kamuri para organizar a arrecadação e a destinação final dos recursos, visto que estamos muito longe do local de realização das ações.

    Além de disponibilizar a conta da Kamuri para receber as contribuições em dinheiro, as coordenadoras da Kamuri articularam uma rede de apoio local, apoiando-se em grupos já organizados no Amazonas (em Manaus, Tabatinga e Benjamim Constant).

    As dificuldades de transportar álcool em gel de São Paulo para Tabatinga, fez optar por soluções locais mais ágeis e, nesse contexto, mais eficientes: montar nas cidades maiores próximas das aldeias, kits de higiene com água sanitária, sabão em pó, sabão em barra e sabonete.  E, também para contornar dificuldades logísticas e garantir rapidez no atendimento das urgências, em lugar de enviar máscaras de proteção prontas, decidiu-se por produzir localmente, gerando também, com isso, oportunidade de trabalho e renda para famílias locais.

    Informações atualizadas em 27/05/2020 sobre a situação da covid-19 nas comunidades indígenas, outras informações atualizadas podem ser conferidas aqui

    Local de Cobertura
    Casos Confirmados
    Casos que vieram a óbito

    Nos fale mais sobre o SOS TIKUNAS.

    R: A Campanha SOS TIKUNAS com o objetivo de apoiar as comunidades indígenas do Alto Rio Solimões contra a pandemia do o COVID 19 começou dia 7 de Maio de 2020 por iniciativa dos professores do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL-Unicamp).

    A propósito, imediatamente iniciada aqui, um docente do IEL atuando como Professor Visitante na Universidade de Pequim, divulgou a campanha também lá, entre docentes e estudantes, e enviaram um importante aporte em dinheiro para ajuda aos Tikuna.

    Junto desse trabalho, já realizado pela Kamuri, procuramos minimizar os efeitos da pandemia entre os indígenas daquela região, disponibilizando informações, materiais de divulgação cientifica em língua tikuna e português, apoio e tradução das comunidades interessadas.

    Também há ações de ajuda comunitária de promoção de kits de higiene, cestas básicas e a confecção de máscaras de pano para essas comunidade, que seguem junto com materiais de divulgação científica.

    A Kamuri também promove divulgação científica sobre a Covid-19 em libras, confira aqui

    Outros materiais de divulgação científica sobre a Covid-19 em Língua Tikuna podem ser encontrados aqui

    Quais os retornos que a Kamuri tem recebido sobre esse trabalho?

    R: Temos recebido mensagens carinhosas das comunidades que ajudamos, tanto Tikunas como Kokamas.

    Da China, além do apoio financeiro, vieram mensagens muito significativas de jovens estudantes da Universidade de Pequim, dirigidas aos próprios Tikuna.

    Mas o retorno mais importante são as fotografias e as informações que nos repassam, por mensagem, das aldeias, mostrando os equipamentos, kits e alimentos sendo entregues a cada família, contribuindo, seguramente, e muito, para diminuir os impactos da pandemia e conter sua propagação nas aldeias, em uma região onde os equipamentos de saúde são limitados e precários.

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.


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  • Conheça Debora Diniz, antropóloga referência na discussão sobre igualdade de gênero e saúde pública no Brasil durante epidemias

    Debora Diniz. Arquivo pessoal. Todos os direitos reservados.

    Ao conversarmos sobre a possibilidade de fazer um ciclo temático no blog sobre as mulheres que atuaram e atuam em contextos de Epidemias, nós, da equipe do Ciência Pelos Olhos Delas, vimos como essencial visibilizar também as pesquisadoras que trabalham nas esferas do conhecimento ligadas às ciências sociais e humanas – algo que foi trazido à pauta com a entrevista que a Carolina Francelin fez com a pedagoga, professora e pesquisadora Telma Vinha.

    Por que Debora Diniz?

    Quase que de imediato, me veio em mente Debora Diniz, antropóloga, documentarista e professora licenciada da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília – UnB. Tomei conhecimento do trabalho da professora Debora em 2015, quando participei como ouvinte do “Fórum Fale Sem Medo”, uma iniciativa do Instituto Avon que tem como objetivo discutir as violências sofridas por meninas e mulheres.

    Naquela edição do Fórum, Debora foi uma das participantes da mesa de debates sobre violência de gênero no contexto universitário. Confesso que fiquei admirada com sua eloquência, didática e clareza ao falar. Nos anos seguintes, a acompanhei esporadicamente por meio de notícias de grandes jornais.

    Nos últimos dois anos, venho seguindo mais de perto o trabalho de Debora, que passou a estar presente nas redes sociais – primeiro com uma conta no Twitter e, mais recentemente, com um perfil no Instagram

    Debora Diniz. Arquivo pessoal. Todos os direitos reservados.

    Antes de abordar como tem sido a atuação da pesquisadora durante a pandemia da COVID-19, vou falar um pouco mais sobre a trajetória de Debora e sobre suas importantes contribuições para o progresso da discussão acerca dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres no Brasil.

    A trajetória acadêmica

    Debora Diniz Rodrigues nasceu em 1970 em Maceió, Alagoas. Graduou-se em Ciências Sociais em 1993 pela UnB, mesma instituição onde obteve seu mestrado em 1995 e seu doutorado em 1999, ambos em Antropologia. A tese de doutorado de Debora – orientada pela reconhecida antropóloga argentina Rita Segato – foi intitulada “Da Impossibilidade do Trágico: Conflitos Morais e Bioética”.

    Desde então, Debora tem se debruçado sobre a Bioética¹ (“a ética da vida”) sob uma perspectiva de atenção à saúde de mulheres e meninas, num esforço interdisciplinar entre as Ciências da Saúde e as Ciências Humanas.

    A Anis – Instituto de Bioética

    Em 1999, o mesmo ano em que defendeu seu doutorado, Debora fundou a Anis – Instituto de Bioética, “a primeira organização não-governamental, sem fins lucrativos, voltada para a pesquisa, assessoramento e capacitação em bioética na América Latina.”² 

    Nas duas últimas décadas, a Anis – cuja sede é em Brasília – tem atuado em todas as esferas do poder político brasileiro visando assegurar o avanço, como já mencionado, dos direitos sexuais e reprodutivos de mulheres e meninas brasileiras.

    Aqui é importante conceituar direitos sexuais e reprodutivos como essenciais para a garantia dos direitos humanos. Em artigo publicado em 2014³, Adriana Lemos, doutora em Saúde Coletiva pela UERJ, explica que o deslocamento do uso da terminologia “saúde da mulher” para “direitos reprodutivos” visa englobar o exercício pleno da capacidade de reproduzir-se e da liberdade de como e quando reproduzir-se, e o acréscimo do conceito de “direitos sexuais” como uma forma de desestigmatizar sexualidades diversas.

    Nesse sentido, a Anis foi instrumental para garantir que mulheres grávidas de fetos anencéfalos tivessem o direito de interromper a gestação em procedimentos legais e seguros, conforme decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2012. 

    Debora, como fundadora e diretora da Anis, encabeçou a realização de duas Pesquisas Nacionais sobre o Aborto (PNA), a primeira publicada em 2010 e a segunda em 2016.

    As pesquisas serviram de base para diversas outras produções acadêmicas em várias áreas e continuam a ser utilizadas como referências na discussão acerca da criação de políticas de saúde pública visando preservar a vida das mulheres.

    “Zika – do Sertão Nordestino à Ameaça Global”

    Em meio à luta de Debora e da equipe da Anis pelo avanço dos direitos reprodutivos das mulheres no país, o Brasil tornou-se epicentro da epidemia do Zika vírus em 2015. Transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, o vírus Zika pode causar complicações como a microcefalia, uma malformação congênita que afeta o desenvolvimento do cérebro.

    Contudo, no começo de 2015 a correlação entre o vírus Zika e a microcefalia em recém-nascidos ainda não estava estabelecida; naquele ano, começaram a surgir, às centenas, casos de bebês nascidos com microcefalia, sobretudo nos estados da Paraíba e de Pernambuco. Debora, então, foi a campo.

    De sua etnografia – que é o trabalho de pesquisa e coleta de dados utilizado na antropologia e que tem como pressuposto o contato direto entre o pesquisador e o objeto da pesquisa – nasceu o livro “Zika – do Sertão Nordestino à Ameaça Global”, publicado em agosto de 2016.

    Caoa do livro "Zika: Do Sertão Nordestino à Ameaça Global"

    Capa do livro “Zika: Do Sertão Nordestino à Ameaça Global”. Editora Civilização Brasileira. Todos os direitos reservados.

    Resenhas da obra destacam o caráter jornalístico da pesquisa. A antropóloga documenta que houve uma “disputa” pela identificação do vírus entre médicos pesquisadores – o que, para Debora, evidenciou as tensões geopolíticas entre os chamados médicos de “jaleco branco” do Sul e do Sudeste, e aqueles profissionais nomeados de “beira de leito”, que estavam em contato direto com pacientes que primeiro manifestaram a doença no Nordeste e no Norte do país.

    Nesse contexto, Debora destaca a atuação da Dra. Adriana Melo, de Campina Grande. Proporcionando um atendimento humanizado às gestantes atingidas pelo Zika, Adriana “olhou para o líquido amniótico de duas grávidas e constatou que a microcefalia era causada por uma transmissão vertical.”⁴ 

    Muito além de acompanhar os profissionais de medicina, Debora voltou especial atenção para a história das gestantes atingidas pelo vírus Zika. Há uma divisão entre a “primeira geração” de gestantes – antes da correlação Zika/microcefalia ser comprovada – e a “segunda geração”.

    Ela percebeu que algumas das mulheres da segunda geração, cientes do drama vivido pela primeira geração de gestantes, chegavam até a não fazer exames e ultrassons, com receio do possível diagnóstico.⁵

    Débora produziu e dirigiu o documentário “Zika”, que tem cerca de 30 minutos de duração e retrata algumas das mulheres abordadas pelo livro. Esse esforço documental é riquíssimo e emocionante, e mostra a realidade vivenciada por mulheres atingidas pelo vírus Zika – que, em sua maioria, são nordestinas, trabalhadoras do campo e possuem baixa renda.

    É a partir desse recorte de perfil das gestantes que Debora posteriormente avalia que o Zika não se configurou como epidemia global justamente porque suas vítimas eram mulheres “invisíveis” na sociedade.

    Tal vírus não atingiu, em números significativos, mulheres das classes média e alta e não viajou além das fronteiras de países considerados subdesenvolvidos ou em desenvolvimento – tanto que a OMS retirou o Zika como ameaça global poucos meses depois de sua inclusão em 2016.

    O exílio forçado

    Com a publicação do livro em 2016 – que ganhou o 1º lugar na categoria Ciências da Saúde no prêmio Jabuti em 2017 – Debora continuou seu trabalho na Anis, sempre discutindo em entrevistas o impacto do Zika na vida das mulheres nordestinas. 

    Então, no final de 2017, teve início a discussão de uma ação no STF sobre a descriminalização do aborto. Como reportou o jornal digital Nexo, a Anis foi consultora de uma proposta, protocolada pelo partido PSOL, que pedia a descriminalização do aborto voluntário até a 12ª semana de gestação.

    Até agosto de 2018, Debora acompanhou a proposta protocolada ao Superior Tribunal Federal e falou numa audiência pública do STF em 03/08/2018 em prol da descriminalização do aborto.

    Pelo seu ativismo, ela passou a receber ameaças contra sua integridade física, a de seus alunos e colegas da UnB, o que a levou a prestar queixa numa Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) e entrar no Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos, do governo federal.

    Debora Diniz em audiência pública no STF em 03/08/2018.

    Debora Diniz em audiência pública no STF em 03/08/2018. Carlos Moura/STF. Todos os direitos reservados.

    Com o aumento e o agravamento das ameaças, Debora teve que deixar o Brasil pouco depois de sua fala no STF. Desde então, ela tem recorrido às redes sociais como forma de exercer seu ativismo político, respaldado por mais de duas décadas de etnografias e de pesquisas teóricas. Atualmente, ela é pesquisadora visitante no Centro de Estudos Latino-americanos e Caribenhos da Universidade Brown, nos Estados Unidos.

    A pandemia da COVID-19

    Desde que a pandemia do novo coronavírus chegou ao Brasil, Debora tem dado diversas entrevistas e participado de uma série de transmissões ao vivo e de debates. Exilada nos Estados Unidos, ela vê sua presença digital como um canal para se posicionar e para chamar a atenção para os impactos da pandemia em diversas camadas da população.

    No início da pandemia, havia uma narrativa de que a COVID-19 era uma doença “democrática”, estando todos os indivíduos suscetíveis à contaminação. Contudo, ao longo das semanas, foi identificado que as taxas de mortalidade pela COVID-19 são mais altas nos bairros periféricos e centrais com menor renda per capita de São Paulo se comparado aos bairros considerados de classe alta.

    A antropóloga, em suas falas, ressalta que aqueles que já se encontravam em situação de vulnerabilidade antes da pandemia hoje estão ainda mais vulneráveis – pessoas sem acesso a uma nutrição adequada e aos aparelhos de saúde pública são mais propensas a desenvolver e a tratar inadequadamente as comorbidades associadas à COVID-19.

    Assim, Debora salienta que o impacto da COVID-19 deve ser analisado considerando fatores como raça, classe social e idade. Além disso, outro ponto crucial na análise de Débora durante a pandemia é o trabalho de cuidado, majoritariamente exercido por mulheres. Com a imobilidade social imposta pela quarentena, crianças, idosos e pessoas com deficiência também ficam restritos à esfera doméstica e requerem atenção.

    Dessa forma, às mulheres cabe exercer essa função do cuidado – sobretudo às mulheres de classe baixa, negras e indígenas. A pandemia escancarou como esse trabalho é essencial para a manutenção da vida – conceito que, no campo das Ciências Sociais, é chamado de “trabalho reprodutivo”.⁶

    Em entrevistas ao UOL, à Folha de São Paulo e à rádio CBN, Debora apontou que está enxergando uma maior circulação de valores feministas nas discussões em âmbito digital e na mídia. Conceitos como trabalhos essenciais e cuidado são intrinsecamente ligados à vida das mulheres e estão em pauta no cenário atual. É sempre válido lembrar que, de acordo com a OMS, 70% dos profissionais que atuam na linha de frente da pandemia são mulheres.

    Nesse contexto, a pesquisadora faz uma provocação: para ela, a quarentena ressalta que a normalidade na qual vivíamos antes da pandemia era, na verdade, anormal, tendo em vista a naturalização gritante das desigualdades sociais.

    Portanto, Debora acredita que há um potencial criativo a ser desenvolvido para a construção de um novo normal, que levará em consideração as pessoas mais vulneráveis na elaboração de políticas públicas e de novas formas de viver.

    A atuação nas redes sociais

    Nas últimas semanas, Debora tem feito paralelos entre a epidemia do Zika e a pandemia da COVID-19. Ela destaca que o Brasil continua tendo casos de bebês com Zika em 2020 – até agora, foram 227 notificações e não há mais destaque na mídia para isso; indo além, a pesquisadora chama a atenção para a situação de extrema vulnerabilidade das nordestinas atingidas pelo Zika agora com a pandemia da COVID-19.

    Passando das mulheres invisíveis no sertão nordestino para as vítimas anônimas da COVID-19, Debora começou um projeto em parceria com o artista gráfico Ramon Navarro: o perfil de Instagram Reliquia.rum (palavra que lembra a grafia de “Relicário” em latim). 

    Relicários são pequenas lembranças do que se foi, e, assim, Debora e Ramon buscam homenagear e tornar visíveis algumas das mulheres vítimas da COVID-19 no Brasil para que elas deixem de ser apenas números numa estatística. Até o momento da publicação deste texto, o perfil contava com 89 relicários.

    https://www.instagram.com/p/B-GACxAB0EY/
    Primeiro post do Reliquia.rum. Arte por Ramon Navarro. Todos os direitos reservados.

    Debora também encabeça outra conta no Instagram chamada Women in Times of Pandemic. Uma parceria de Debora com a argentina Giselle Carino e a venezuelana Valentina Fraiz, o Women in Times conta histórias de mulheres latino-americanas e caribenhas afetadas pela pandemia, e cada post é publicado em português, espanhol e inglês.

    https://www.instagram.com/p/B_1_a_GhLiP/
    Post do Women in Times publicado em 6 de maio de 2020 retratando a história real de uma família do Rio de Janeiro afetada pela epidemia do Zika e pela pandemia do novo coronavírus. Todos os direitos reservados.

    O merecido reconhecimento e a importância do trabalho de Debora

    Debora Diniz foi reconhecida como uma das pensadoras globais (“global thinkers”) de 2016 pela revista Foreign Policy e recebeu no começo de 2020 o prêmio internacional Dan David na categoria “Igualdade de Gênero” pela sua destacada atuação em prol dos direitos de mulheres e meninas.

    Com seu trabalho, Debora nos lembra que as Ciências Sociais também são um campo de pesquisa essencial durante epidemias e pandemias, já que investigam e analisam os impactos desses contextos de emergência global nas mais diversas camadas das populações – o que é indispensável para a posterior formulação de políticas públicas visando a melhoria das condições de vida das pessoas.

    Ao ir a campo no sertão nordestino em meio à eclosão de casos de microcefalia em recém-nascidos, Debora registrou as vidas reais que foram afetadas pela epidemia do vírus Zika. O livro e o documentário, resultados desse trabalho de campo, são materiais fundamentais para profissionais de múltiplas áreas que realizam pesquisas com o objetivo de mitigar os efeitos de epidemias e pandemias. 

    Indo além, as iniciativas atuais de Debora – agora no campo digital – em meio à pandemia da COVID-19 nos lembram que pessoas de diferentes raças, gêneros, idades e camadas sociais são impactadas de forma desigual pelo novo coronavírus, o que requer estratégias e medidas de proteção que levem em conta essas particularidades. 

    Reforçando, ajudar a tornar visíveis quem por tanto tempo esteve à margem é uma das “tarefas” das pesquisas em Ciências Sociais, sobretudo em momentos como esse que estamos todos vivendo.

    Leia os textos que já publicamos sobre a atuação de mulheres cientistas durante epidemias:

    Celebrando a Dra. June Almeida – a mulher que descobriu o primeiro coronavírus humano

    A ciência pelos olhos da Profª Drª Tania Ueda-Nakamura

    Conheça algumas divulgadoras científicas brasileiras que estão produzindo conteúdo de qualidade durante a pandemia do novo coronavírus

    A Anis – Instituto de Bioética possui um canal no YouTube chamado Vozes da Igualdade. Vale muito a pena conferir o conteúdo do canal, em especial a série Quinquilharia, onde Debora aborda as principais inquietações e dúvidas dos alunos de graduação (e de pós-graduação) sobre como fazer pesquisa.

    Notas

    ¹ Para saber mais sobre bioética, veja a página 2 da cartilha “Bioética”, de autoria de Cilene Rennó Junqueira, publicada pela UNASUS – Universidade Aberta do SUS da UNIFESP.

    ² Citação obtida na seção “Quem Somos” do site institucional da Anis – Instituto de Bioética.

    ³ LEMOS, Adriana. Direitos sexuais e reprodutivos: percepção dos profissionais da atenção primária em saúde. 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/sdeb/v38n101/0103-1104-sdeb-38-101-0244.pdf 

    ⁴ DA SILVA, Lucivânia Gosaves. Resenha do livro “Zika: do sertão Nordestino à Ameaça Global”. Revista Textos Graduados, p. 131. Julho de 2019. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/tg/article/view/26191/23011

    ⁵ DINIZ, Debora. Vírus Zika e mulheres. Caderno Saúde Pública, p. 3. Rio de Janeiro. Maio de 2016. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/csp/v32n5/1678-4464-csp-32-05-e00046316.pdf 

    ⁶ Para saber mais sobre trabalho reprodutivo, veja a aula “Divisão Sexual do Trabalho”, parte do curso online “Feminismo e democracia”, ministrado pela cientista política Flávia Biroli no canal de YouTube da Editora Boitempo: https://youtu.be/EWM3X-BMbQg 

    Referências 

    http://lattes.cnpq.br/3865117791041119

    http://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/zika-virus

    https://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/microcefalia

    http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT757558-1666-1,00.html

    https://www.scielo.br/pdf/icse/v22n66/1807-5762-icse-22-66-0967.pdf

    https://www.scielo.br/pdf/sess/n24/1984-6487-sess-24-00246.pdf

    https://revistamarieclaire.globo.com/Mulheres-do-Mundo/noticia/2020/04/debora-diniz-stf-deve-responder-o-que-significa-o-zika-virus-pra-vida-das-mulheres.html

    https://brasil.elpais.com/brasil/2018/12/15/politica/1544829470_991854.html

    https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/07/25/Quem-é-a-pesquisadora-ameaçada-por-sua-atuação-no-debate-sobre-aborto

    https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/04/mundo-pos-pandemia-tera-valores-feministas-no-vocabulario-comum-diz-antropologa-debora-diniz.shtml

    https://www.uol.com.br/ecoa/reportagens-especiais/o-mundo-pos-covid-19-2—comportamento-por-debora-diniz

    https://cbn.globoradio.globo.com/media/audio/298913/pandemia-escancara-desigualdades-e-privilegios-de-.htm

    https://www.uol.com.br/universa/reportagens-especiais/ultimo-adeus/

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Ciência para crianças! Profissionais essenciais

    Durante a pandemia de Covid-19, muitos setores do comércio e indústria estão parados por conta do isolamento social. Contudo, existem alguns profissionais que são de áreas essenciais, ou seja, não podem parar de trabalhar, e por isso estão se arriscando todos os dias para manter tudo funcionando. 

    Junto com o Dragonino, confira quais são os profissionais que estão atuando na linha de frente do combate ao coronavírus e que estão salvando muitas vidas nos hospitais. Entenda também o papel de se manter em casa para diminuir os riscos de contaminação dos profissionais essenciais que estão nos supermercados, farmácias, entre outros que não podem parar.

    Por fim, a equipe do projeto Nas Asas do Dragão faz uma homenagem e um agradecimento especial para todos esses profissionais que estão fazendo sua parte nesse momento tão delicado!

    Quadrinho "Ciência para crianças!" com o tema "profissionais essenciais".

    Você pode conferir a lista completa dos profissionais essenciais na matéria abaixo:

    https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/05/12/senado-amplia-lista-de-profissionais-que-terao-prioridade-em-testes-de-coronavirus

    Fonte: Agência Senado

    Essa mesma matéria reforça a importância de trabalhadores essenciais terem prioridade nos testes para Covid-19, pois quando o resultado dá positivo, significa que eles precisam se afastar por um tempo do trabalho (ficar em isolamento social) para se tratar e para evitar contaminar outras pessoas. Depois que ficarem bem, eles devem fazer o teste novamente, e se o resultado der negativo para Covid-19, eles podem voltar ao trabalho para continuar ajudando a manter os serviços essenciais funcionando!

    Cuidem-se bem!

    Equipe: 

    • Design: Giovanna S. Veiga
    • Pesquisas e roteiro: Edilaine C. Guimarães e Carla R. de Souza
    • Supervisão: Vinicius Saragiotto, Verônica Dos S. Sales, Bianca B. De M. Fonseca
    • Orientação e Revisão: Carolina S. Mantovani e Lúcia E. Alvares

    English version

    Translation: Allan Cavalcante and Giovanna S. Veiga

    Quadrinho "Ciência para crianças!" com o tema "profissionais essenciais", traduzido para o inglês.
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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.
  • Coronacrise: emissão de moeda e inflação

    Por: Ulisses Rubio e Victor Young

    Os jovens que hoje cursam o ensino superior nasceram, em sua maioria, num período em que a ideia de inflação – ou seja, o aumento generalizado de preços – aparece como se tivesse uma só origem e uma só solução. A chamada vertente ortodoxa da economia, que está por trás dessa concepção, sempre considera que a inflação é causada por gastos demasiados do governo e que este deve, portanto, contê-la, realizando cortes nas suas despesas[1]. A “Coronacrise” tem colocado alguns limites a este “samba de uma nota só”[2]. Diante das medidas de gasto adotadas pelo governo, ouvimos interrogações sobre de onde virá o dinheiro (quem vai pagar?). Diante da resposta de que isto possa ser financiado simplesmente pela emissão de moeda, vem em seguida a pergunta que expõe bem o alcance da ortodoxia:

    – Mas isto não vai gerar inflação?

    Respondemos:

    – Não. De acordo com o pensamento dos economistas ortodoxos, não.

    Vejamos. Conforme a ortodoxia econômica, um aumento na oferta de moeda à sociedade por meio de impressão de dinheiro que seja maior do que quantidade total de bens e serviços produzidos em um ano – que é o PIB (Produto Interno Bruto)[3] – produzirá inflação. O raciocínio pode ser explicado de maneira bastante simplificada da forma como segue. Suponhamos que toda a economia produzisse e consumisse apenas dez sacos de batata por ano. Dado o montante de dinheiro existente na mão das pessoas, o preço de cada saco poderia ser, por exemplo, dois reais. Suponhamos ainda que, no ano seguinte, a produção não tenha aumentado e o governo, por alguma razão, viesse a emitir mais dinheiro e o disponibilizasse na mão do povo. Como as pessoas não teriam mais nada para comprar (porque a produção não aumentou), cada pessoa buscaria comprar mais sacos de batata. O aumento na procura pelos mesmos dez sacos de batata faria com que o preço do saco se elevasse a mais de dois reais. Conclusão: a emissão de moeda pelo governo teria, portanto, gerado inflação.

    Os alunos mais inquietos poderão perguntar:

    – E por que não aumentou a produção de sacos de batata?

    Neste caso, o raciocínio ortodoxo pressupõe que todos os fatores de produção estão sendo utilizados, isto é, todas as fábricas estão com suas máquinas e equipamentos em plena operação, todas as terras para plantio e criação estão produzindo na sua capacidade máxima, e todos os trabalhadores estão empregados (os que não estão, é porque decidiram que o salário não compensa). Ora, neste caso, não há como aumentar a produção. Para aumentar a produção, a sociedade precisaria diminuir seu consumo e direcionar parte dos recursos que produzem bens de consumo e serviços para a produção de bens de capital[4]. Isso permitiria aumentar a capacidade produtiva, isto é, a sociedade precisaria diminuir o consumo para aumentar o investimento.

    Convenhamos. Na situação atual, o estudante já não precisa ser inquieto para constatar que os setores produtivos não estão operando com sua capacidade máxima[5]. Temos uma situação em que a indústria e o setor de serviços querem aumentar sua produção ao mesmo tempo em que muitos trabalhadores desejam escapar de uma situação de desemprego forçada que se traduz numa taxa de desocupação para lá de alarmante.

    E qual a implicação disto para o assunto aqui tratado?

    Ao verificarmos os dados de nossa produção recente, o PIB brasileiro já está abaixo de sua capacidade há um bom tempo. No ano de 2014, este praticamente não cresceu. Se utilizarmos o exemplo das batatas, considerando que produzíamos 10 sacos de batata naquele ano, em 2015, com a recessão e a queda da demanda promovida pelas medidas de redução de gastos dadas pelo governo, diminuímos nossa produção para 9,5 sacos de batata. Em 2016, no pior momento econômico dos últimos anos, produzimos 9 sacos de batatas. A lenta e dificultosa recuperação dada por um Estado ainda bastante rigoroso na contenção das despesas fez com que a produção chegasse em 2019 a apenas 9,2 sacos de batata[6]. Para o ano de 2020, em função das restrições ocasionadas pela crise sanitária do corona vírus, a projeção é a de que venhamos a produzir 8,7 sacos de batatas em uma economia que pode ultrapassar, com folga, aqueles 10 sacos de 2014 [7]. Não há, dessa maneira, por que temer a inflação numa situação tão extrema em que o potencial produtivo não realizado se encontra em níveis tão elevados. A solução mais adequada para um problema tão adverso é o Estado emitir, transferir e manter um sólido fluxo de dinheiro para a mão das pessoas para que o máximo de potencial produtivo possível se realize.

    Se é para seguir apenas um pensamento econômico, como vem fazendo grande parte da mídia nos últimos anos, devemos considerar que, existindo considerável capacidade ociosa na economia, um aumento da procura por bens e serviços ocasionado pela transferência de dinheiro para a população e pequenas empresas por parte do Estado será acompanhado por um aumento da produção e, portanto, não pressionará a economia para um aumento de preços expressivo, como prevê a própria ortodoxia econômica.

    [1] O economista norte-americano, Milton Friedman (1902-2006), é geralmente a referência mais utilizada pela corrente do pensamento econômico ortodoxo no período contemporâneo. Esta vertente econômica se contrapõe, na maioria das vezes, às ideias econômicas heterodoxas que, em grande medida, se referência no economista inglês, John Maynard Keynes (1883-1946).

    [2] O termo foi utilizado pelo economista, André Lara Resende. Disponível em: https://valor.globo.com/eu-e/noticia/2020/04/24/andre-lara-resende-quem-vai-pagar-essa-conta.ghtml. Acessado em 03 de maio de 2020.

    [3] O PIB é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos pela economia de um dado território em um determinado período.

    [4] Bens de Capital são bens que servem para a produção de outros bens, como, por exemplo, máquinas, equipamentos e infraestrutura produtiva.

    [5] Conforme dados do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em abril de 2020, a indústria de transformação operou com 57,5% da capacidade instalada, sem considerar o setor de serviços e de produção rural. Disponível em: https://portal.fgv.br/artigos/impactos-pandemia-covid-19-sobre-nivel-utilizacao-capacidade-instalada-industria. Acessado em 30 de maio de 2020. Conforme dados do IBGE, a taxa de desocupação dos trabalhadores é de 12,6%. Taxa de desocupação é a porcentagem de pessoas na força de trabalho que estão desempregadas. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/busca.html?searchword=desemprego&searchphrase=all. Acessado em 30 de maio de 2020.

    [6] Estamos considerando aqui o crescimento do PIB conforme dados do IBGE. Disponível em: ibge.gov. br. Acessado em 3 de maio de 2020.

    [7] LAMUCCI, Sérgio. FMI projeta retração de 5,3% para economia brasileira em 2020. Valor, São Paulo, 14 de abril de 2020. Disponível em: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2020/04/14/fmi-projeta-retracao-de-53percent-para-economia-brasileira-em-2020.ghtml. Acessado em: 03 de maio de 2020.

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.
  • Estudo de pesquisadores do Instituto de Economia da Unicamp compara experiências econômicas internacionais no combate à crise atual

    Por: Alex Palludeto, Newton Silva, Renan Araujo, Roberto Borghi e Vítor Alves

    Em estudo intitulado Política econômica em tempos de pandemia: experiências internacionais selecionadas, pesquisadores do Centro de Estudos de Relações Econômicas Internacionais (CERI), do Instituto de Economia da Unicamp, abordam as medidas econômicas já tomadas por alguns países no intuito de mitigar os efeitos econômicos negativos provocados pela pandemia da covid-19.
    Os autores buscam ponderar a importância das medidas diante da mais grave crise sanitária do século XXI, e de uma crise econômica que indica não ter precedentes na história mundial recente. O enfrentamento destas crises, como se observa, requer, fundamentalmente a ação imediata dos Estados Nacionais, dada sua capacidade de promover e orientar políticas com a amplitude necessária para garantir a prevenção e combate a Covid-19 assim como a preservação do tecido social e produtivo.
    No que se refere em particular à atual crise econômica, argumenta-se que esta pode ser dividida em dois períodos: um primeiro momento, com duração estimada entre 3 e 6 meses, correspondendo à fase mais aguda de transmissão do novo coronavírus, o que requer a tomada de medidas de distanciamento social e, consequentemente, a paralisação de uma série de atividades econômicas; e um segundo momento, de 6 meses a 2 anos, no qual, uma vez tendo-se conseguido conter a disseminação do vírus, o distanciamento social poderá ser gradativamente suspenso, e as atividades econômicas poderão ser gradualmente retomadas.
    O estudo também aponta que em cada um desses prazos temporais um tipo específico de atuação econômica dos Estados faz-se necessário: no primeiro deles, os governos precisam adotar medidas emergenciais, visando, entre outras coisas, a garantir o poder aquisitivo das pessoas, a impedir a falência das empresas e a promover a estabilidade dos sistemas financeiros; já no segundo, os países precisarão contar com medidas para a recuperação econômica, a fim de que seus níveis de produção (PIB) e emprego retornem aos patamares desejáveis.
    Atualmente, embora os países do mundo estejam em fases distintas da pandemia, ainda se encontram predominantemente no primeiro desses momentos. Assim sendo, são as políticas já adotadas nesse contexto que o estudo aborda, apresentando os casos de nove diferentes países: China, Estados Unidos, Espanha, França, Reino Unido, Itália, Alemanha, Argentina e Brasil.
    Como conclusão possível, os autores indicam ser falsa a dicotomia “salvar a saúde ou salvar a economia”, a qual é bastante difundida no debate corrente. Ao contrário disso, ponderam que tanto a saúde como a economia podem e devem ser salvas e que os enfrentamentos à crise de saúde pública e à crise econômica não são objetivos excludentes, mas complementares. O distanciamento social adotado no início do processo de contágio e de maneira rigorosa, aliado a medidas econômicas de suporte a trabalhadores e empresas, pode assegurar que um menor número de pessoas venha a se infectar e morrer, ao passo que permite que as atividades econômicas sejam retomadas mais rapidamente.
    Por fim, os autores enfatizam a necessidade de reflexões sobre as políticas futuras, já que a ação dos Estados Nacionais continuará sendo necessária no processo posterior de retomada econômica e de fortalecimento dos sistemas de proteção social. Nesse sentido, condenam a defesa que alguns economistas têm feito da adoção futura de medidas de austeridade fiscal, entendendo que estas poderão ter o poder de agravar e aprofundar a crise econômica.
    O estudo completo encontra-se disponível para download no link: http://www.eco.unicamp.br/covid19/politica-economica-em-tempos-de-pandemia-experiencias-internacionais.

    Autores do Estudo:

    Alex Palludeto – Professor Doutor do Instituto de Economia da Unicamp

    Roberto Borghi – Professor Doutor do Instituto de Economia da Unicamp

    Newton Silva – Pesquisador do CERI e doutorando do Instituto de Economia da Unicamp

    Renan Araujo – Pesquisador do CERI e doutorando do Instituto de Economia da Unicamp

    Vítor Alves – Pesquisador do CERI e doutorando do Instituto de Economia da Unicamp

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.
  • Eugenia, Seleção Natural e um “tanto faz” de vidas e mortes por Covid-19

    No dia 24 de Maio, vários de nós vimos mais uma transmissão ao vivo do biólogo e divulgador científico Átila Iamarino. Dessa vez com o convidado Leandro Karnal, historiador brasileiro.

    Ao final da transmissão, Átila encaminha a discussão com Leandro Karnal, falando sobre como pessoas apresentam o desprezo que têm com outras pessoas e como minimizam a morte do outro. Átila inicia falando de AIDS e segue com a questão da idade, diabetes, gordos. “São só os gordos, quem mandou comer demais?”, sobre o que já leu na internet. Karnal responde apontando a eugenia do mundo como uma grande distopia – a busca por um ideal padrão tal qual no Admirável Mundo Novo do Huxley.
    Antes de mais nada, eu vou dizer que este livro deveria ser leitura obrigatória em cursos de formação de biologia, traçando debates éticos sobre ciência e seres humanos.

    Mas voltando à questão, Karnal fala que defende a vida até de políticos.

    “Toda a relativização de vida, fulano é marginal deve morrer, fulano é criminoso deve morrer, fulano é pobre não é tão dramático, fulano é velho (…) é o início de uma infecção. E essa infecção não é controlada só naquele grupo. A gente tem que reprimir inclusive a nossa vontade de que alguns líderes morram, temos que reprimir inclusive isso (…) Nem para eles. Nem para eles se pode desejar doença ou morte: todos são humanos” (Karnal, 2020, na #livedoatila).

    Eu vou hoje analisar algumas falas que circulam “por aí” na sociedade que falam da pandemia, banalizam mortes e como isto se relaciona com a eugenia. Eugenia, como assim? A eugenia é uma distopia da busca pelo ideal… É eugenia cada vez que legitimamos vida, morte, ou investimentos em seres humanos a partir de premissas que dividem seres humanos com características que se supõe puramente biológicas. 

    Como assim, puramente biológicas? Como assim “supõe?

    Apontamos uma característica humana, por exemplo, “sobrepeso” ou “obesidade”, classificando em grupos: “uns” e “outros”. O que estamos fazendo? Agrupando e segmentando, simplificando causalidades, naturalizando como algo único o que no fundo são características complexas que estão enredadas em múltiplos fatores biológicos, sociais, culturais.

    Junto a isso, há o cerne da ideia eugenista: a escolha por quem vive, quem morre e quem pode e merece atenção e investimento. E isto é crueldade por tomar como simples, puro e biológico algo que é um emaranhado de conceitos, ideias, sem linearidade causal fácil de ser traçada.

    A busca de políticas públicas deve se pautar, sim, por escolhas técnicas, lógicas e racionais. No entanto, mesmo o olhar técnico apresenta, sempre, relações com o seu tempo e o pensamento de grupos sociais. Não existe isenção e neutralidade, mesmo nas escolhas lógicas e racionais (para saber mais sobre a construção do conhecimento científico, temos este texto aqui).

    Assim, neste sentido específico, é fundamental demarcar: políticas pautadas em características humanas que são dispensáveis foram, são e serão execráveis e assassinas. Alia-se a isso uma população, de acordo ou não com o governo, que apoia este discurso em muitos sentidos. Reforça-se neste conjunto governo e população que há, sim, quem seja dispensável. A morte destes “outros”, neste sentido, só potencializa o quanto “uns” estão no lado do “ideal”. 

    Tá, mas e para quê este falatório todo? Onde é que viste tanta eugenia assim?

    O que temos visto em diversos espaços – seja jornalístico, seja na política pública, seja em conversas informais em redes sociais – são muitos cortes biologizantes, com ares de descuidado de si e, portanto, merecimento de morte – o obeso, o diabético, o idoso, o fura quarentena, o conspiracionista que não acredita na severidade da situação.

    Pois bem, lembremos que basicamente para uma pessoa se contaminar, ela precisa entrar em contato com alguém contaminado (ou um objeto contaminado por uma pessoa). Podemos também simplificar o contágio como a prática do contato social “descontrolado” – em outras palavras o que era nossa vida social antes do mês de março.

    Para que a pessoa adoeça, no entanto, e entre em um modo crítico ou severo da doença, existem múltiplos fatores – e nenhum deles é possível prever individualmente… Isto é: quando apontamos uma possibilidade estatística de adoecimento, estamos falando de uma população. Existem características humanas que estatisticamente aparecem com maior probabilidade de acarretar em um agravamento da doença – o que geram os chamados grupos de risco. 

    Há três falas mais genéricas que eu gostaria de analisar, hoje: a Seleção Natural, a imunização de rebanho, e sobre as comorbidades (em especial a ideia de “ninguém mandou se comportar de maneira X”). Nessas três falas há uma série de itens ignorados (deliberada e cientemente ou não) que legitimam a morte de pessoas, tomando-os não apenas como menos importantes socialmente. É pior do que isso.

    Estas ideias apontam para a intencionalidade da morte como causa justa para desonerar quem vive e merece seguir vivo. Isto é, todas as falas são falas que usam ideias científicas em defesa de si mesmos como o ideal a ser seguido.

    Tão arrogante, quanto patético, tais discursos desconsideram inúmeras questões.

    A seleção natural quando apontada para aquele que fura a quarentena, no fundo aponta que este ato é deliberadamente colocar-se em risco e, portanto, merecidamente ser atingido. 

    A imunidade de rebanho insere uma lógica biologicista de recursos infinitos para atender todos os doentes em tempo hábil e morte só dos que “não teriam condições mesmo” e estão “dentro da estatística de letalidade da doença”. Naturaliza, também, o mais fraco como fatídico e sem solução.

    Por fim, a ideia do “ninguém mandou se comportar de maneira X”, relacionado às inúmeras doenças humanas simplifica fatores de adoecimentos, individualizando a culpa e a responsabilidade. Eximem, assim, necessidade de as políticas públicas terem qualquer ação real com os indivíduos.

    Neste último item, é importante apontar que existem múltiplos fatores (biológicos e sociais) para adoecimentos que, agora na COVID-19 que acabam agravando a situação. Incutir a culpa em obesos pois “era só não comer”, ou diabéticos pois era “só controlar a glicose”, é ignorar a multiplicidade de condições para sermos saudáveis (ou melhor: prescrições de uma vida saudável) que nenhum de nós segue. 

    Este discurso é sim biologicista, na medida em que torna a doença algo mecânico e simples de ser tratado, como simples rota metabólica a ser arrumada (só comer bem, só cuidar glicose, só fazer exercício regularmente…). É também um discurso moralista, que aponta – sempre no outro, claro – comportamentos condenatórios e não compatíveis ao que “nós” (o grupo de bem) consideramos correto.

    Estes são discursos cruéis, montados em uma biologização e naturalização da doença, usando (sim!) ideias científicas. No entanto, as usam a partir de distorções, carregadas de preconceitos a partir de contextos sociais, políticos, econômicos, culturais específicos. que são distorcidas às vezes, mas são preconceituosas sempre, pois apontam que há grupos que nós não precisaríamos nos preocupar. Há trechos de DNA, sequências específicas, fisiologias determinadas, anatomias escancaradas, faixas etárias declaradas que não precisam ser salvas, melhor seria deixar sucumbir de vez. Assim restariam os que são imunes às problemáticas atuais. Seleção Natural, imunização dos fortes, morte dos indisciplinados e enfermos: a sociedade, enfim, poderá voltar à normalidade (sem trocadilhos). A estatística populacional neutra e límpida mostrará a régua do que deve permanecer! (Será?).

    [Por outro lado]

    Em governos que agem à revelia, fazendo feriado ao invés de propor fechamento das cidades/estados, promovendo abertura de comércio “com protocolo de segurança anti-covid-19”, retirando do auxílio emergencial categorias profissionais inteiras por considerá-las essenciais (sem protocolo de segurança, sem EPI indicado, sem essencialidade comprovada), que indicam medicamentos para tratamento com evidências científicas apontando riscos severos no seu uso, que trocam de cargos máximos de instâncias de saúde (nos deixando sem representante) em um período de crise como este, que reduzem transporte público “pois há menos pessoas na rua” – tornando-os lotados pela quantidade reduzida, ao invés de proporcionar aos trabalhadores que precisam circular, espaço com segurança… Em governos que se eximem das responsabilidades de gerenciamento da crise, riem da morte de sua população – por COVID-19 ou por miséria…

    [pausa para respirar]

    (ufa) Em governos que agem como estamos vendo agir, com populações que poderiam reforçar a segurança e contenção da doença, mas não o fazem por ignorância ou impossibilidade: não se faz piada biologizando a doença, usando a seleção natural como fato simples. Especialmente nestes tempos, não se reforça ideais eugênicos como política pública válida e socialmente aceita. Não se retira a responsabilidade pública, coletiva e social por individualizar situações e culpabilizar pessoas, especialmente sem analisar a complexidade do que vivemos.

    Quando falamos que nem todos que se arriscam merecem adoecer, logo se pensa em profissionais da medicina e enfermagem, inclusive os tomando como heróis. Pois em um país como o nosso, cada indivíduo que caiu nas malhas dos trabalhos informais e “microempreededorismos individuais”, autônomos e aquele conjunto de pessoas que foi empobrecendo e colocando sua vida como negociata para pouco mais que nada de dinheiro, e que têm sido sistematicamente descartado como parte do que importa de vida aos gestores deste imenso território chamado Brasil – que tenta salvar grandes CNPJs e descarta CPFs… – biologizar as causas de mortes evitáveis é aceitar o genocídio “dos outros” como fato inconteste e natural.

    É naturalizar, literalmente, que ações políticas não têm efeito sob o atual cenário. É rir de todos aqueles que não têm condições de se resguardar de tudo isso.

    Não se ironiza Seleção Natural como se nossa sociedade estivesse isenta de políticas e ações que mudam a nossa vida e suas condições. Não se desfaz, ou dá de ombros quando há grupos de pessoas historicamente determinando quem pode ou não viver. Tampouco se ironiza o adoecimento, usando ciência para criar cortes de vida e morte, enquanto homens sentam-se em volta de uma mesa, com toalhas brancas, sãos e salvos, determinando quais dinheiros podem ser gastos sem problema amparando-se em intelectuais nazistas, que definem que investimento na sociedade e em humanos é quebrar o país, que leis devem ser aprovadas para se passar a boiada, que os membros de um dos pilares da democracia devem estar presos, enquanto discursos dispersos para desviar a atenção se fazem e seres humanos cotidianamente morrem por falta de ação real.

    Não se faz piada, enquanto subsistência se faz a céu aberto em vala comum. Nunca. Jamais.

    Para saber mais

    ARNT, Ana de Medeiros (2013) Genomas, sexualidade, seleção de parceiros, anomalias, defeitos, aborto, seleção de embriões: educando e governando vidas e sujeitos pelo determinismo biológico enunciado genes na revista ciência hoje

    IAMARINO, Atila; KARNAL, Leandro (2020) Live 24/05 – O pior lado da Pandemia, com Leandro Karnal #FiqueEmCasa.

    KECK, Frédéric e RABINOW, Paul (2008) Invenção e representação do corpo genético. In: CORBIN, Alain; COURTINE, Jean-Jacques e VIGARELLO, George História do corpo: as mutações do Olhar, O século XX. Petrópolis: Vozes, p.83-105.

    LEWONTIN, Richard (2002) O Sonho do Genoma Humano, Revista Adusp.

    MBEMBE, Achille (2018) Necropolítica, 3ed, São Paulo, 2018.

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.
  • Os 7 tipos de Fake News sobre a Covid-19

    Autoria de Cesar Augusto Gomes

    Conforme escrevi neste Especial Covid-19, há dois meses, a pandemia trouxe consigo a necessidade de estancar a disseminação de falsas informações a respeito dessa terrível doença.

    Neste sentido, o presente texto pretende analisar e classificar os tipos de desinformação que circulam relacionados à Covid-19 e indicar um roteiro de perguntas básicas que você deve fazer antes de acreditar e / ou compartilhar informações que vale tanto para o Coronavírus quanto para as demais fake news sobre saúde, que circulam desde sempre.

    Para esta análise e classificação utilizo como método os 7 Tipos de Desinformação, inspirado na classificação feita por Wardle e Derakhshan (2017), para quem o termo fake news é inadequado, ambíguo e simplista para descrever o fenômeno da produção, difusão e consumo de uma gama variada de informações e não dá conta tanto da natureza quanto da escala do problema:

    Neste relatório, evitamos usar o termo “fake news” por dois motivos. Primeiro, é lamentavelmente inadequada para descrever os complexos fenômenos da poluição da informação. O termo também começou a ser apropriado por políticos de todo o mundo para descrever organizações de notícias cuja cobertura eles acham desagradável. Desta forma, está se tornando um mecanismo pelo qual os poderosos podem reprimir, restringir, minar e contornar a liberdade de imprensa. (WARDLE e DERAKHSHAN 2017:05)

    As informações foram coletadas entre os dias 26 de fevereiro de 2020 (data do 1° caso de Covid-19 registrado no Brasil) até o dia 10 de maio de 2020 (data da produção deste texto) e serão elencadas por ordem cronológica a partir do momento em que elas foram publicadas[1] pelas agências e editorias de fact-checking brasileiras, além Projeto Comprova, que atualmente se empenham em fazer o debunk das informações não factuais que circulam. Houve a seleção de um único exemplo de desinformação por categoria, com o intuito único de ilustrar os mesmos e não se buscou quantificá-los, hierarquizá-los nem relacioná-los a quaisquer correntes políticas ou a seus interesses subjacentes.

    Há, sem dúvida, a menção à política dentro das explicações porque ela atravessa o tema aqui estudado.

    (1) Manipulação do Conteúdo: quando a informação ou imagem genuína é manipulada para enganar.

    Foto editada publicada em post nas mídias socias (à esquerda) e frame de reportagem do canal pago GloboNews (à direita)

    31/03. A linguista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Roxane Rojo (2012), ao diferenciar mídias digitais e analógicas, explica que estas faziam parte de um processo de comunicação unilateral em que o receptor estava incapacitado de responder ou interagir com a informação ou conteúdo que recebia.

    Por outro lado, aquelas, com a evolução tecnológica, permitem “que o usuário – ou o leitor/produtor de textos humano – interaja em vários níveis e com vários interlocutores – interface, ferramentas, outros usuários, textos/discursos etc.” (ROJO, 2012:23).

    Assim, o fácil acesso às tecnologias digitais permite não apenas receber conteúdos passivamente, mas interagir com eles e até interferir, produzindo outros conteúdos a partir do que foi lido, publicá-los e ser lido em qualquer parte do mundo por milhares de pessoas que tenham a acesso à internet.

    Essas possibilidades, que inegavelmente democratizam a comunicação de uma maneira nunca antes vista, podem estar se tornando uma armadilha para a Democracia, pois, têm servido a interesses de grupos de que delas se aproveitam para obter dividendos econômicos, e políticos, inclusive para defender o fim da Democracia, passando ao largo do interesse público.

    Portanto, a Manipulação do Conteúdo é um claro exemplo concreto dessa distorção, pois, no caso em destaque, o autor se utiliza de um frame de uma reportagem sobre chuvas do ano anterior e sobrepõe – por meio de uma legenda que imita a fonte da emissora de TV – uma informação não factual envolvendo a Covi-19. Um leitor desavisado e que não tenha a curiosidade de investigar a veracidade da informação, certamente vai absorver a versão transmitida por meio da montagem.

    (2) Conteúdo Fabricado: conteúdo novo que é 100% falso, criado para ludibriar, prejudicar.

    Frames de vídeo publicado no YouTube (à esquerda) e ilustração de fórmulas químicas (à direita)

    14/04. A produção de fake news não é exclusividade de um partido ou de uma corrente política, não agora, mas na história da humanidade. No entanto, no caso específico da Covid-19, no Brasil de 2020, uma corrente específica manifesta claramente o seu desprezo pelas determinações dos cientistas, o que não é segredo para ninguém, muito pelo contrário, alguns se orgulham disso. Isso talvez justifique a ansiedade (talvez, não seja nem maldade) de se produzir uma cura, que venha a desmentir tudo o que as pesquisas e os cientistas disseram até agora, revelado pela frase dita ao final do vídeo pela autora: “Isso a Globo não te conta!”.

    A protagonista (é bom pontuar porque ajuda a explicar o contexto da produção) tem pretensões político-eleitorais, conforme um site local e o perfil de seu partido num site de rede social noticiam que ela foi “aprovada no processo seletivo para Vereadora de Campo Grande/MS”. Se o objetivo era divulgar seu nome, deu certo, pois, num único perfil do site de rede social Twitter ela teve mais de 2 milhões de visualizações. É exatamente para isso que muitas vezes se produzem Fake News: dado o absurdo de algumas narrativas, uma parte das pessoas acabam compartilhando para criticar o que foi dito e outra parte, por concordar. De um modo ou de outro, a pessoa consegue aquilo que buscava: notoriedade. A estratégia tem se mostrado bastante eficiente, principalmente para fins eleitorais, como parece o caso.

    Podemos classificar como Conteúdo Fabricado todas as Fake News que circulam propondo algum tipo de cura para a Covid-19, sem nenhuma comprovação científica, como é o caso da recomendação para beber água quente ou ingerir Vitamina C e chá de erva-doce.

    (3) Falsa Conexão: quando manchetes ilustrações ou legendas não confirmam o conteúdo.

    Post que circula nas mídias sociais (à esquerda) e captura de tela (screenshot) de decreto emitido pelo Governo Federal (à direita).

    14/04. Outro caso bem comum de se encontrar, novamente ligado à política, porque no Brasil de 2020 a pandemia ganhou uma dimensão política, aparece uma linha de produção de Fake News que busca isentar a figura do presidente da república das consequências econômicas inevitáveis que virão pós pandemia. Isso do ponto de vista do debate democrático é legítimo, desde que feito baseado em fatos. Não é o caso do post acima que circulou nos sites de redes sociais ligados a determinado espectro político.

    A Falsa Conexão – muito parecida com o Conteúdo Enganoso – procura, a partir de um fato, distorcer parte da informação. A diferença é que o Conteúdo Enganoso distorce os dados omitindo as fontes e comunicando aquilo que lhe convém. Já a Falsa Conexão apresenta sim uma fonte oficial, porém distorce o conteúdo dessa fonte oficial, apostando no hábito do leitor ubíquo de não pesquisar a fonte e se contentar com o que está ali colocado para acredita na postagem. Logicamente isso está associado a uma série de questões como o viés de confirmação e tantos outros motivos que levam as pessoas a acreditar em Fake News, mas que não vamos discutir neste momento.

    (4) Falso Contexto: quando o conteúdo genuíno é compartilhado com informação contextual falsa.

    Frame de vídeo que circula no aplicativo WhatsApp (à esquerda) e frame de vídeo que ilustra reportagem da EPTV São Carlos, pertencente ao Grupo Globo (à direita)

    30/04. Com o agravamento da pandemia no Brasil, o Amazonas despontou como um dos primeiros Estados que apresentaram colapso em seu sistema de saúde. Como há uma questão política envolvendo a Covid-19 no país, não tardaram surgir desinformações questionando o número de mortos e as medidas de isolamento social.

    Na falta de provas materiais de seus interesses, os produtores de fake news encontraram na rede um vídeo genuíno, porém, gravado em 2017 em que uma exumação foi realizada e encontradas pedras em lugar de ossos humanos. Assim se caracteriza o Falso Contexto: uma informação factual, ocorrida num momento diferente, porém trazida a público como se fosse atual, com a clara intenção de enganar.

    (5) Conteúdo Enganoso: uso enganoso de informações para enquadrar uma questão ou um indivíduo.

    Montagem de posts que circulam nas mídias sociais (à esqueda) e captura de tela (screenshot) dos dados de mortos por Covid-19 no Amazonas (à direita)

    07/05. Ainda no Amazonas, o ex-Ministro da Saúde, Nelson Teich, visitou o Estado no último dia 04 de maio para acompanhar de perto as ações desenvolvidas no enfrentamento à COVID-19, no Estado. Rapidamente, pipocaram nas mídias sociais informações de que o número de mortos havia diminuído após a chegada do político (conforme ilustração acima). Como de costume, este tipo de desinformação não apresenta nenhuma fonte oficial e circula por meio de imagens e vídeos de perfis ligados a determinadas posições políticas.

    Está caracterizado, assim, o Conteúdo Enganoso: partir de uma informação factual – no caso, a visita do ministro – e distorcer informações ou dados decorrentes desta – no caso a informação de que os óbitos em decorrência da Covid-19 teriam caído a 02 pessoas quando na verdade eles giraram entre 36 e 102, durante a passagem do ministro. A intenção é clara: levar os (e)leitores a deduzir que se a primeira informação é factual, a segunda também o será.

    (6) Sátira ou Paródia: nenhuma intenção de prejudicar, mas tem potencial para enganar.

    (7) Conteúdo Impostor: quando fontes genuínas são imitadas.

    Capturas de tela (à esquerda) de post publicado no site de rede social Twitter e (à direita) descrição do perfil da autora do post no mesmo site.

    A produção de notícias falsas como elemento de humor e ironia não começa com a internet. A revista Casseta Popular (paródia da Gazeta Popular) foi criada em 1978, por estudantes de engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e o jornal Planeta Diário surgido em 1984 – que chegou a alcançar a tiragem mensal de 100 mil exemplares – inauguraram um tipo de humor tendo como conteúdo paródias e notícias falsas baseadas em fatos reais. A união das duas redações deu origem em 1988 ao Casseta & Planeta, que ficou no ar pela TV Globo entre 1992 e 2010, cujo lema era “Jornalismo mentira, humorismo verdade”.

    Ocorre que, naqueles suportes – impresso e TV – havia condições de identificar o objetivo da publicação e a não veracidade das “notícias” publicadas. Com a chegada das mídias digitais – no sentido que Rojo (2012) lhe atribui, conforme dito anteriormente – houve a migração desse tipo de humor para as plataformas de mídias sociais, o que tornou a vida do leitor muito difícil para – no afã de compartilhar um grande volume de informações que lhe chegam a todo momento em seus dispositivos – diferenciar uma piada com ares de verdade e uma notícia factual, produzida pela mídia denominada tradicional, aqui entendida como “o conjunto de meios enquanto indústria da comunicação, com suas empresas e rotinas próprias” (GUAZINA, 2007:54).

    O Conteúdo Impostor, ao que se tem notícia, é utilizado no Brasil apenas para sites de humor, como a Falha de S. Paulo, paródia do jornal paulistano Folha de S. Paulo, e o G17, paródia do portal G1, do Grupo Globo. Embora não se descarte sua intencionalidade político-partidária, a Sátira ou Paródia, diferentemente dos demais tipos de desinformaçãonão têm o objetivo de enganar, mas sim, entreter.

    7 Dicas para identificar uma notícia falsa

    Segundo o biólogo Atila Iamarino nesta pandemia o raciocínio negacionista está sendo desconstruído pelo rápido confrontamento com os fatos. As fake news, que em boa medida bebem nas fontes negacionistas, estão tendo o mesmo destino. Embora saibamos que o alcance de uma desinformação é muito maior do que o seu desmentido, no curto prazo, as agências e editorias de fact-checking têm um papel fundamental, valorizando ainda mais os profissionais do jornalismo.

    No médio prazo, os legisladores propõem projetos para tentar coibir quem divulga fake news com pesadas multas. No entanto, no longo prazo somente a educação para leitura crítica da mídia pode vir a dirimir esse problema.

    Infelizmente, a Covid-19 nem as fake news sobre ela vão esperar, assim, inspirado no método de identificação de notícias falsas da International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA), enumero a seguir 7 considerações às quais o leitor deve levar em conta antes de compartilhar uma história:

    1. Considere a fonte: clique fora da história para investigar o site, sua missão e contato.
    2. Considere o título: ele corresponde ao conteúdo do texto ou só quer obter cliques?
    3. Considere o autor: há um autor que assina o texto?  Ele tem credibilidade?
    4. Considere a data: repostar notícias antigas como se fossem atuais, é uma estratégia.
    5. Considere outras fontes: a história aparece em outros sites com a mesma versão?
    6. Considere sua ideologia: seus valores e crenças afetam seu julgamento nessa história?
    7. Considere o Humor: pesquise se o site de origem é adepto do gênero humorístico.

    No passado, na Grécia Antiga, a Ágora ateniense era o espaço, físico, onde o cidadão fazia discussões políticas, entre outras atividades. Por ser o espaço da cidadania, era considerada um símbolo da democracia direta e, em especial, da democracia ateniense, na qual todos os cidadãos tinham igual voz. Hoje, as mídias sociais são os espaços (virtuais) mais frequentes em que os cidadãos (onde há dispositivos eletrônicos e conexão de internet) encontram “palco” para se manifestar. Infelizmente, essa Ágora Moderna está sendo destruída por quem não tem apreço à democracia, muito menos à vida humana, pois uma pessoa que tem a coragem de espalhar uma desinformação sobre saúde está (ou deveria estar) consciente de que sua atitude pode levar uma pessoa a deixar de tomar um remédio que poderia lhe salvar a vida ou tomar um que pode lhe tirar. O mundo todo está enfrentando a pandemia da Covid-19, no entanto os brasileiros enfrentam duas.

    Referências:

    GUAZINA, Liziane. O conceito de mídia na comunicação e na ciência política: desafios interdisciplinares. Porto Alegre. Revista Debates, v. 1, n. 1, p. 49-64, jul.-dez. 2007.

    RODA VIVA. Entrevista a Atila Iamarino. TV Cultura. São Paulo. | 30/03/2020. Disponível em https://youtu.be/s00BzYazxvU acesso em 14 mai. 2020;

    ROJO, Roxane; MOURA, Eduardo. (Org.). Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola Editorial, 2012. 264p.

    WARDLE, Claire; DERAKHSHAN, Hossein. Information Disorder – Toward an interdisciplinary framework for research and policy making. Council of Europe. Estrasburgo, França. 27 out 2017. Disponível em https://rm.coe.int/information-disorder-toward-an-interdisciplinary-framework-for-researc/168076277c. Acesso em 15 mai. 2020


    [1] Exceção feita à Sátira e ao Conteúdo Impostor que, por pertencerem ao gênero humorístico, não passam por checagem das agências.

    Autoria de Cesar Augusto Gomes


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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • E a escola, como vai?

    O ensino remoto nos faz retornar a décadas passadas, onde o acesso à educação era para poucos, num formato totalmente tecnicista, com um currículo imutável e por meio da aplicação de uma mesma “técnica pedagógica”.

    É provável que muitos dos que irão ler este texto tenham filhos em idade escolar ou conheçam pessoas que os tem. É provável também que se perguntem como têm sido as atividades desenvolvidas pelas escolas e se há sentido a educação remota imposta pelo confinamento social. Um fato é, dentre pais, professores, gestores e estudantes, provavelmente encontraremos grande insatisfação com esse formato. Mas enfim, o que fazer em relação a esta situação? E se tivermos um segundo semestre também a distância?
    Sabemos que no Brasil há muitos formatos de educação dentro de um mesmo sistema. Estados, municípios, redes militares, redes federais e privadas compõem um espectro de modelos educacionais e, nesse período de isolamento, toda essa variedade migrou para o caráter remoto. Nessa migração, à outrora importantíssima diversidade do sistema educacional brasileiro tem se colocado como um desafio por vezes insuperável para as instituições e os resultados a se esperar de todo esse processo não tem sido tão promissores.

    Olhando para as propostas
    Ao percorrer os modelos de ensino remoto implementados vemos semelhanças e diferenças. O estado de São Paulo, por exemplo, adotou a proposta remota pela implementação de um aplicativo de celular para disponibilização de conteúdos por meio de arquivos e aulas, com preparo de um material específico para o momento da pandemia além das salas virtuais por meio da plataforma google classroom. Nesse formato, os estudantes da rede entram TODOS ao mesmo tempo no aplicativo para assistir as aulas (que tem horário definido por série) ou o fazem por meio do canal digital da tv cultura, minando qualquer possibilidade de interação). O material produzido não carrega conteúdos síncronos com aqueles estabelecidos em cada série(1).
    Numa linha totalmente diferente, o Instituto Federal de São Paulo (IFSP), por sua vez, optou pela suspensão das atividades, mantendo ações de vínculo com os estudantes enquanto planeja ações futuras. Nesta estratégia são desenvolvidas ações como clubes de leituras, debates sobre filmes, temas atuais, etc., mas sem a cobrança de uma formalização do ensino ou cumprimento de conteúdos curriculares.
    Já as redes privadas, para desespero dos pais, têm adotado cada qual a sua estratégia de sobrevivência. Aulas síncronas ou gravadas, plantões online, disponibilização de materiais e tarefas que devem ser elaboradas e entregues para o acompanhamento pelo professor, dentre outras. O objetivo, na maior parte dos casos, é manter o conteúdo em dia, preocupação que pode girar em torno da manutenção do número de matrículas (e pagamentos) como também em relação aos exames vestibulares.
    A linha comum de todas as propostas no entanto, se mantêm: os estudantes, juntamente com seus responsáveis (no caso da Educação Fundamental), devem acessar o conteúdo em casa, realizar ações e de algum modo apresentar uma devolutiva. Tudo remotamente. É diante deste cenário que estamos e que podemos pensar um pouco a respeito. Me proponho a colocar três questões das inúmeras que são possíveis para o debate.
    Primeiramente, como já apresentado por Natália Flores e Ana Arnt, para além do acesso aos recursos, nem todos os estudantes têm condições adequadas de aprendizado no ambiente domiciliar. Podemos considerar que a escola é um espaço pensado para prover condições mínimas de estudo (ainda que consideremos as condições problemáticas de algumas instituições). Independente de uma proposta tradicional, construtivista, sócio-interacionista, etc., o ambiente escolar possibilita um espaço-tempo onde é possível ler, escrever, dialogar, além, é claro, de obter orientações do e com o profissional professor. Nas casas, o conteúdo produzido (neste momento de forma pouco planejada) é transmitido para um aluno que muitas vezes não possui condições físicas para estudar nem orientação adequada para tal. Na na escola reconhecemos os ritmos e nos adequamos a eles enquanto que no ensino remoto isso não tem sido possível.
    O segundo ponto que toco é a forma como a implementação das ações foi pensada e quais aspectos foram considerados. Todos que trabalham com educação conhecem bem os termos avaliação diagnóstica e planejamento. A ideia de avaliação diagnóstica vai além de conhecer conhecimentos prévios de física, química, matemática ou qualquer outra área. Soma-se a isso, conhecer quem são os estudantes e suas realidades para que o planejamento educacional seja feito e refeito quantas vezes for necessário.
    E então nos questionamos: que dados diagnósticos foram considerados na proposição de uma plataforma única de acesso a conteúdos? Distribuem-se aplicativos a quem não tem acesso, propõe-se um material diferente do currículo e que nem ao menos tem-se a certeza de estarem chegando aos domicílios. Propõem-se que os pais realizem as tarefas com os filhos quando estes também têm trabalho remoto a fazer (na melhor das hipóteses).
    Para além dos dados gerais como os da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PNAD 2017, que mostra que o acesso dos municípios à banda larga temos os dados específicos, das escolas, as quais conhecem os estudantes matriculados. Quando se propõe a implementação de um único projeto a populações totalmente distintas, incorre-se no erro crasso de acreditar que todos são perfeitamente iguais em temos de condições e de aprendizagem. Ou seja, nessa proposta, esquecemos o fundamental: quem são os alunos!
    Soma-se a este fato, como terceiro aspecto, a supervalorização da técnica frente ao objeto do aprendizado. Nunca antes se falou tanto em tecnologias educacionais como antes. Nós, professores, buscamos aprender a lidar com ferramentas novas de um dia para o outro (literalmente), empurramos aos alunos e pais que também aprendessem. E produzimos conteúdos digitais de maneiras como nunca faríamos, não fosse a pandemia, com uma falsa impressão momentânea de que com isso venceríamos toda a problemática imposta. Triste fim.
    Ainda que todos tivessem acesso, esquecemos que o formato digital imposto é, sim, limitador a uma proposta tecnicista de ensino uma vez que vem tolhe a interação e o diálogo, impondo um mesmo conteúdo apresentado da mesma forma à todos. A diversidade, outrora aspecto de possibilidades para o ensino, é nesse momento desprezada pois a técnica, por mais atualizada que seja, não considera a realidade. O ensino remoto nos faz retornar à décadas passadas, onde o acesso a educação era para poucos, num formato tradicional, com um currículo imutável e por meio da aplicação de uma mesma “técnica pedagógica”.
    O que podemos fazer diante deste cenário? Manter ou cancelar o ano? Trabalhar conteúdos ou não trabalhar? E o vestibular?
    Obviamente não há saída mágica para a situação. Mas é fato que dados nos auxiliam em ações. Estamos a completar quase dois meses de isolamento e, dependendo do sistema, de duas a oito semanas de ensino remoto. Temos, além dos dados que foram desconsiderados inicialmente, de quem são nossos estudantes, temos ainda o número de acessos, materiais recebidos, respostas ao sistema e podemos ainda acessar outros, se assim for desejável. Então, consideremos estes e nos perguntemos “O que aprendemos com isso e como podemos nos utilizar desses dados para repensar e replanejar as ações?” Na iminência de um segundo semestre também a distância, o mais coerente a se fazer é planejar com bases e não com achismos. Observar que as escolas, mesmo fazendo parte de um mesmo sistema educacional tem especificidades e buscar agir de acordo com estas características é crucial. E se tivermos um segundo semestre a distância? Muitos erros estão aí. Cabe a nós planejarmos as ações, para não cometê-los novamente.

    1. Portal de notícias do Estado de São Paulo: https://www.saopaulo.sp.gov.br/ultimas-noticias/educacao-retoma-ano-letivo-com-ensino-remoto-e-distribuicao-de-material-pedagogico/

    2. Nota da Reitoria do Instituto Federal de São Paulo. Disponível em: https://www.ifsp.edu.br/images/pdf/Noticias/Comunicado_01_2018_PRE.pdf
    3. Natália Flores. Ensino Remoto Emergencial: não é só sobre acesso e equipamentos… disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/covid-19/ensino-remoto-emergencial-nao-e-so-sobre-acesso-e-equipamentos/.
    4. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2017 – disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101631_informativo.pdf


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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.


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