Categoria: V.9 N. 2 2023

  • Mulheres em ciência e tecnologia: as origens históricas da inversão de gênero

    Julia Marcolan

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    Autora

    Julia Marcolan

    As disparidades de gênero em relação à representatividade, ao acesso a oportunidades de pesquisa e ao reconhecimento acadêmico representam obstáculos significativos enfrentados pelas mulheres na carreira científica. Na história da tecnologia, no entanto, diversas mulheres fizeram contribuições expressivas e revolucionárias que têm sido fundamentais para o progresso da ciência. Um exemplo notável é Ada Lovelace, filha de Anne Isabella Byron, uma matemática da nobreza, e do poeta romântico Lord Byron. Sua mãe a incentivou a estudar música e a se aprofundar na lógica matemática. 

    Além do estímulo materno, Ada também contou com a amizade e orientação da matemática inglesa Mary Somerville. Foi Mary quem apresentou Ada a Charles Babbage, o desenvolvedor da máquina diferencial, projetada para realizar cálculos de polinômios de forma mecânica. Em 1842, Ada escreveu o primeiro algoritmo a ser processado pela máquina analítica de Charles Babbage. Esse algoritmo tinha a capacidade de calcular a sequência de Bernoulli, e por esse feito, Ada é considerada a primeira programadora da história. As pesquisas de Ada estabeleceram as bases para a computação e programação, que moldaram o mundo da tecnologia décadas mais tarde. Ada Lovelace era uma verdadeira visionária, e sua contribuição pioneira foi essencial para o desenvolvimento da lógica de programação que usamos hoje. 

    Grace Hopper é outro nome notável na história da tecnologia. Entre as décadas de 1940 e 1950, ela foi responsável pelo desenvolvimento da linguagem de programação Flow-Matic. Esta linguagem serviu como base para a criação do Common Business-Oriented Language (COBOL), que ainda é usado atualmente para o processamento de bancos de dados comerciais. Em 1959, Grace Hopper desenvolveu seu próprio compilador, reconhecido como o primeiro da história. Um compilador é capaz de traduzir um programa escrito em linguagem textual, que se assemelha à linguagem do programador, para linguagem de máquina, que o computador pode entender. Também foi Hopper quem popularizou o termo bug — inseto em inglês —, hoje amplamente utilizado nas áreas de tecnologia e no dia a dia. Segundo a história, enquanto tentava solucionar uma falha em seu computador, ela descobriu um inseto morto dentro da máquina. Desde esse episódio, o termo bug associou-se a erros ou falhas de código.

    A origem da disparidade 

    Apesar dessa representatividade histórica, se mantivermos o ritmo atual, seriam necessários cerca de 100 anos para alcançar a paridade de gênero em publicações científicas na área de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM). É o que revela um estudo publicado em 2019, pela uma pesquisa realizada pelo Allen Institute for Artificial Intelligence.

    Historicamente, a sociedade patriarcal atribuiu às mulheres atividades tidas como mais simples e de menor importância, como, por exemplo, os cuidados com a casa e a criação dos filhos, enquanto aos homens foram destinadas as atividades entendidas como de maior prestígio, como garantir o sustento da família por meio do trabalho, seja ele braçal ou intelectual. A sociedade, entretanto, está em constante transformação, impulsionada pelo avanço da ciência. Nesse contexto, uma atividade anteriormente considerada fácil, que demandava pouco conhecimento e especialização é vista como uma atividade feminina, pode ser completamente redefinida pelos avanços tecnológicos. Assim, ela pode ganhar notoriedade e importância, passando a ser considerada pela sociedade uma atividade desafiadora e masculina.

    O ato de programar passou por uma ressignificação ao longo do tempo. Houve um período em que programação era considerada uma atividade secundária e desimportante, sendo assim muitas vezes relegada às mulheres. Durante a Segunda Guerra Mundial, o ENIAC (Electronic Numerical Integrator and Computer) — primeiro computador digital e eletrônico programável do mundo — foi desenvolvido com o propósito de auxiliar em cálculos balísticos. A programação do ENIAC envolvia a utilização de fios e interruptores para definir as operações. Além disso, cartões perfurados eram usados para armazenar informações. Programar o ENIAC era um trabalho manual, árduo e sujeito a muitos erros. Como resultado, seis mulheres desempenharam um papel fundamental como suas principais programadoras: Frances Bilas, Jean Jennings, Ruth Lichterman, Kathleen McNulty, Betty Snyder e Marlyn Wescoff.

    Também podemos mencionar o caso das “mulheres computadoras” que contribuíram para o desenvolvimento do programa espacial da NASA na década de 1950. Essas “computadoras” eram responsáveis por calcular manualmente as equações de trajetórias necessárias para as viagens espaciais. A história dessas mulheres matemáticas, em particular das cientistas negras Katherine Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson, foi recentemente retratada no filme “Estrelas Além do Tempo”, de 2016. As funções exercidas por elas eram extremamente mal remuneradas, uma vez que se tratavam de atividades secundárias. 

    A computação passou a assumir um papel de destaque no mundo pós-guerra, em virtude de seu papel decisivo como uma ferramenta na máquina de guerra. Consequentemente, ela começou a ser percebida como uma atividade predominantemente masculina. Dessa maneira, a partir da década de 1970, houve uma grande inversão de gênero na área de tecnologia no mundo todo. Por exemplo, a primeira turma do curso de Bacharelado em Ciências da Computação do Instituto de Matemática e Estatística (IME), em São Paulo, no ano de 1974, era formada por 70% de mulheres. Essa porcentagem se reduziu drasticamente não só no IME, que chegou à marca de 15% de mulheres em 2016, mas em diversos outros institutos das áreas de ciências exatas. 

    O Instituto de Física de São Carlos, por exemplo, oferece três especializações dentro do curso de graduação em Física: Física Teórica e Experimental, Física Biomolecular e Física Computacional. Dados fornecidos pela comissão de graduação do instituto mostram que 36% dos ingressantes no IFSC no ano de 2023 eram mulheres. Esse número pode parecer alto à primeira vista. Mas, se analisarmos um recorte mais específico, podemos identificar que 51% dessas mulheres optaram pela especialização biomolecular, que apresenta uma interdisciplinaridade muito grande com a biologia, tornando o curso uma exceção nas áreas de exatas em geral. Analisando com mais cuidado, percebemos que apenas 25,6% do total de ingressantes na Física Teórica e Experimental são mulheres; na Física Computacional, o número se reduz para 22,5%.

    O apagamento das mulheres na Física

    Enquanto na área da tecnologia as mulheres eram direcionadas para funções secundárias e mal remuneradas, nas demais áreas acadêmicas elas enfrentavam um processo cruel de invisibilidade. O fenômeno de atribuir a homens o reconhecimento por trabalhos científicos que na verdade haviam sido realizados por mulheres foi identificado como um padrão persistente na comunidade científica, pela historiadora Margaret W. Rossiter, que cunhou o termo “Efeito Matilda”. Esse termo é uma homenagem a Matilda Joslyn Gage, que já percebia essa tendência de apagamento ainda no século XIX. Existem centenas de casos conhecidos de mulheres que foram afetadas pelo Efeito Matilda, e talvez mais uma centena de casos de mulheres das quais nunca ouviremos falar.  

    Em 1883, Matilda Joslyn Gage escreveu o artigo “Woman as an Inventor,” publicado na The North American Review. Nesse artigo, Matilda refutou a ideia de que as mulheres não possuíam genialidade inventiva, citando exemplos práticos de invenções realizadas por mulheres em diversos campos criativos, que iam desde inovações na química até técnicas de parto. Ela destacou a contribuição significativa das mulheres para o mundo das inovações e desafiou os estereótipos de gênero que desvalorizavam suas realizações.

    No início do século XX, a geneticista Nettie Stevens, responsável pela descoberta do sistema de cromossomos XY, viu seu orientador de doutorado, Thomas Hunt Morgan, receber todo o crédito pelo trabalho que ela havia realizado. Nettie faleceu em 1912, antes de conseguir uma posição como professora. Em 1933, seu orientador recebeu um Prêmio Nobel pela descoberta. Outra pioneira, a matemática Emmy Noether, contribuiu significativamente para a álgebra abstrata e formulou um dos teoremas mais fundamentais da física, conhecido como o “Teorema de Noether,” que estabelece uma relação entre simetrias físicas e leis de conservação. Embora seja agora reconhecida como uma das maiores matemáticas de sua época, Emmy Noether trabalhou por anos como assistente de um colega na Universidade de Göttingen, sem nem ao menos receber salário.

    Marie Curie é considerada uma das maiores cientistas que já existiu. Ela foi a primeira mulher a ganhar o Prêmio Nobel. Também a primeira pessoa a ganhá-lo duas vezes em áreas distintas, na química e física, ambos chamados de ciências duras. Marie Curie foi pioneira nas pesquisas sobre radioatividade, o que lhe rendeu o primeiro Nobel, o de Física, em 1903. Ela dividiu o Prêmio Nobel com seu marido, Pierre Curie, e com Henri Becquerel, que trabalharam junto a ela nas pesquisas. 

    Ademais, Marie também descobriu dois elementos químicos, o polônio e o rádio, que lhe conferiram o Prêmio Nobel de Química em 1911. A vida acadêmica de Marie não foi fácil: logo após concluir o ensino médio, ela não conseguiu prosseguir com seus estudos em sua cidade natal, pois a Universidade de Varsóvia não admitia mulheres. Além disso, devido ao fato de ser mulher, Marie frequentemente teve que publicar artigos sob pseudônimos para que tivessem peso para a comunidade científica da época.

    Dados mais recentes 

    Voltando para os dias atuais, segundo dados da Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), entre 2014 e 2017, o Brasil publicou aproximadamente 53,3 mil artigos, sendo que 72% deles têm autoras mulheres. No entanto, apesar desse impacto na pesquisa, as mulheres ainda enfrentam desafios significativos para alcançar cargos de liderança em grupos de pesquisa. De acordo com dados recentes apresentados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), apenas um terço dos bolsistas de pós-graduação nas áreas de exatas são mulheres. Dados públicos do Programa de Pós-Graduação do Instituto de Física de São Carlos mostram que as mulheres representam apenas 37,83% dos ingressantes na pós-graduação em 2023. Fazendo uma análise mais precisa, 59% ingressaram no programa de pós-graduação em Física Biomolecular, 25% na Física Teórica e Experimental, e apenas 23% na Física Computacional.

    Uma outra pesquisa revelou, por meio da  análise de dados da Digital Science, usando seu banco de dados de publicações, que as mulheres foram massivamente afetadas pelos lockdowns impostos durante a pandemia de COVID-19. De acordo com esses dados, a taxa de publicação de mulheres como autoras principais de artigos caiu sete pontos percentuais entre janeiro e maio de 2020, em comparação com o ano de 2015. Segundo as conclusões da pesquisa, uma das possíveis justificativas para essa queda é que os lockdowns obrigaram o confinamento em casa, resultando em um aumento da carga de trabalho relacionada ao cuidado, tanto nas tarefas domésticas quanto na educação das crianças, que recaiu majoritariamente sobre as mulheres acadêmicas neste ambiente.

    Apesar da participação expressiva das mulheres na ciência, ainda persistem desafios consideráveis. Continuamos ocupando posições de menor destaque e enfrentando o apagamento de nossas vozes em muitos contextos acadêmicos. Além disso, existe a persistente ideia patriarcal de que as atividades de cuidado são predominantemente atribuídas às mulheres, sendo consideradas simples e de pouca necessidade de carga intelectual ou grande importância perante à sociedade capitalista, enquanto as tarefas de “maior prestígio” — trabalhos intelectuais em quaisquer campo, ou mesmo trabalhos braçais de pouco prestígio, mas que garantam o sustento do lar — são reservadas aos homens. Essas desigualdades de gênero no ambiente de trabalho e na sociedade como um todo são importantes e precisam ser abordadas para promover uma verdadeira equidade de oportunidades.

    Incentivo e representatividade

    Uma característica comum entre a maioria das mulheres que alcançaram notoriedade por seus grandes feitos na história da ciência e tecnologia é o incentivo que receberam. Ada Lovelace, por exemplo, contou com o apoio de sua mãe e de sua mentora, Mary Somerville. Marie Curie teve o respaldo de seu marido, Pierre, ao longo de toda a sua jornada acadêmica. Uma pesquisa realizada pela Microsoft revelou que, em geral, as meninas costumam manifestar interesse por ciência e tecnologia até os 11 anos, mas esse interesse tende a diminuir, e aos 15 anos, muitas delas começam a desistir. De acordo com o estudo, a ausência de modelos femininos nessas áreas é uma das razões para esse fenômeno. Desta maneira, é de extrema importância que continuemos a reescrever a  história das mulheres na ciência exaltando e compartilhando seu pioneirismo. 

    Com o objetivo de promover a diversidade no campo de STEM, ao longo dos anos, surgiram várias iniciativas independentes destinadas a incentivar as meninas a seguir carreiras científicas. Uma dessas iniciativas é o projeto “Meninas Programadoras” do ICMC/USP, coordenado pela professora Maria da Graça Campos Pimentel. A principal meta desse programa é proporcionar às alunas do ensino médio e concluintes a oportunidade de desenvolver habilidades de programação e solução de problemas por meio de aulas que combinam teoria e prática.

    Outro projeto de destaque é o “Laboratório de Talentos”, promovido pelo Instituto Angelim. Esse projeto tem como propósito sensibilizar jovens alunas do Ensino Médio da rede pública acerca das oportunidades de carreira nas áreas de ciência, tecnologia, artes e economia criativa, por meio de atividades práticas e do contato direto com mulheres que atuam ou estudam nos diversos campos do conhecimento.

    Na Unicamp existe o projeto Meninas Supercientistas, que tem como objetivo apresentar a meninas do Ensino Fundamental II a carreira na área científica, incentivando-as a percorrer essa trajetória. O projeto é totalmente organizado por mulheres (docentes, funcionárias e alunas) e recebe cientistas para palestrar e debater ciência com as meninas em fase escolar.

    A grande maioria das meninas que responderam à pesquisa da Microsoft acreditam que não estão tendo experiência prática suficiente com matérias STEM. Além disso, 60% delas admitiram que se sentiriam mais confiantes em seguir uma carreira nas áreas STEM se homens e mulheres fossem igualmente empregados nessas profissões, recebendo salários equivalentes. É imprescindível que políticas públicas sejam implementadas visando a equidade nos cargos de trabalho e salários para as mulheres nas carreiras de STEM. A revolução digital está transformando o mercado, e, atualmente, as mulheres representam apenas 25% da força de trabalho na indústria de tecnologia. Incluir as mulheres nesse mercado é fundamental para garantir sua autonomia e independência financeira.

    Para saber mais 

    Agência Brasil (2019) Mulheres assinam 72% dos artigos científicos publicados pelo Brasil, Agência Brasil

    Câmara dos Deputados (2023) Mulheres são apenas 1/3 de pós-graduandos em ciências exatas e tecnológicas e têm financiamento menor, Câmara dos Deputados.

    Gage, Matilda Joslyn (1883) Woman as an Inventor, The North American Review 136, n 318, p 478–89.

    Pereira, LG, Da Silva, M N;Souza, VP de; Rezende, YC (2018) Hostilidade em jogos online: perspectiva feminina, Múltiplos Olhares em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v7, n2. 

    USP (2018) Por que as mulheres desapareceram dos cursos de computação, Jornal da Universidade de São Paulo.

    USP (2020) Produção científica feminina cai devido à pandemia, ABCD USP – Agência de Bibliotecas e Coleções Digitais da USP.

    PIMENTEL, MGC; EUSEBIO, JML; GOULARTE, R; LEITE, UV; PICOLI, H (2023) Meninas Programadoras: Promovendo o Engajamento Feminino em Computação via Cursos Curtos Online de Programação, In: ANAIS DO WORKSHOP DE FERRAMENTAS E APLICAÇÕES – SIMPÓSIO BRASILEIRO DE SISTEMAS MULTIMÍDIA E WEB (WEBMEDIA), Porto Alegre: Sociedade Brasileira de Computação, p107-110.  

    ANDREW, T (2017) Why don’t European girls like science or technology? Microsoft news.

    WANG, LL et al (2021) Gender trends in computer science authorship, Communications of the ACM, v64, n3, p78-84.

    Sobre a autora

    Julia Marcolan é graduada em Física com ênfase em Física Computacional pela UFF/2019 e Mestre em Ciências pelo IFSC/USP. Atualmente, é doutoranda em Física Computacional também no IFSC/USP onde pesquisa Imagens por Ressonância Magnética (MRI) de tempos de relaxação ultra curtos, aplicadas a  avaliação de sementes. Além da pesquisa acadêmica, tem interesse em divulgação de ciência e tecnologia e neste sentido atua principalmente na divulgação e projetos de inclusão de mulheres nas áreas de STEM.

    Nota da editora

    Julia Marcolan é a autora convidada do vol.9, n.2, da Revista Blogs Unicamp.

    Como citar: 

    Marcolan, Julia. (2023). Mulheres em ciência e tecnologia: as origens históricas da inversão de gênero. Revista Blogs Unicamp, V.9, N.2. Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/revista/2023/11/27/mulheres-em-ciencia-e-tecnologia-as-origens-historicas-da-inversao-de-genero/ Acesso em dd/mm/aaaa

    Sobre a imagem destacada:

    Imagem gerada geradas em outubro de 2023 via Dall.e 3 (modelo de linguagem generativa multimodal). Edição por Carolina Frandsen.

  • MAGMA fora do vulcão? Conheça o Museu Aberto de Geociências, Mineralogia e Astronomia do interior paulista

    Magma fora do vulcão? Conheça o Museu Aberto de Geociências, Mineralogia e Astronomia do interior paulista

    Autor

    Vinicius Nunes Alves

    A ciência é dinâmica, mas tem coisa que não mudou até hoje. Ainda está valendo aquela definição que se aprende na escola sobre magma, como sendo uma camada de rochas fundidas, derretidas e extremamente quentes que ficam abaixo da superfície da Terra. Às vezes, o magma sobe por vulcões ativos em erupção e quando entra em contato com a atmosfera e se resfria, já chamamos de lava. Mas no interior paulista, existe um museu que se chama magma por outros motivos, é o Museu Aberto de Geociências, Mineralogia e Astronomia – MAGMA, que se localiza na Rodovia Gastão Dal Farra, Km 4, Botucatu-SP. O MAGMA é um dos poucos museus do Brasil que dispõe de uma coleção com mais de 2 mil peças moldadas pela história da Terra, contando com rochas, minerais e fósseis de milhões de anos da cuesta de Botucatu e outras regiões do mundo.  

    Uma persona em foco que compartilha uma história de experiências com o MAGMA, bem como suas fases e planos futuros é Berenice Balsalobre. Ela é advogada por formação (Direito-USP), depois, por influência do museu, também se graduou em Geografia (Universidade de Brasília) e fez outras especializações na área. Até hoje Berenice é atuante dessas áreas e compõe a diretoria do MAGMA, exercendo funções de curadora e tesoureira. 

    Nesta entrevista exclusiva (originalmente publicada no blog Natureza Crítica), conheça uma pitada desse distinto e belo museu do interior paulista, que é bastante ativo e longe de se estagnar.

     

    Arquivo pessoal: Berenice Balsalobre

     

    Em 2006, o Museu de Mineralogia Aitiara foi fundado pelo alemão Erich Otto Blaich, que teve uma trajetória de vida como artista, pintor, escultor, mineralogista e educador por vocação e formação. Pouco depois, em 2008, veio o estatuto da Associação Museu de Mineralogia Aitiara. A elaboração do Estatuto foi um processo feito a várias mãos e atores?

    Foi feito a várias mãos, sim, porque essa coleção do professor Blaich já era muito antiga e o desejo dele sempre foi de proteger essa coleção passando adiante para mais pessoas. Inicialmente, ele achou que a escola Aitiara poderia ficar com a coleção para cuidar e explorar sozinha, mas passados alguns anos, ele viu que isso era uma tarefa difícil para ficar só com a escola. Um museu tem necessidades particulares e uma escola também. Por isso Blaich decidiu fundar uma Associação para proteger melhor o acervo e foi quando, formalmente, o museu ganhou uma pessoa jurídica. Mas esse estatuto, desde sua concepção, foi elaborado junto com um professor da escola, além de uma equipe bem reduzida que já ajudava no museu. Eu atuei nesse processo como advogada e, então, nós criamos essa pessoa jurídica para responder pelo museu e também para ter uma administração plural. Nesse momento, o acervo não era só do Erick Blaich, mas da Associação Museu de Mineralogia.

    A equipe que fundou essa Associação era composta por um mantenedor, um professor da escola, eu como advogada e a geóloga Valéria Teixeira. Ela foi cofundadora da escola Aitiara e se tornou professora da pedagogia Waldorf. O tempo que essa geóloga atuou foi muito importante para começar a expor toda a coleção, pois era quem tinha bastante conhecimento por formação e sempre teve muito amor pelas peças do Blaich. Em 2006, o acordo que o professor Blaich fez com a escola para fundar o Museu foi que ele pudesse ocupar uma das salas de aula da escola para estudar, cuidar e expor minerais. Esse acordo que ele fez com a escola entrou como uma doação de um fundo financeiro que essa iniciativa tinha para construir um museu.  A escola cedeu uma sala para ele e todo o acervo dele, que estava guardado em muitas caixas em sua casa, começou a sair e preencher o museu. No começo era bem precário e muitas peças ficavam em mesas improvisadas. Para deixar mais bonito, a gente colocava um pano azul sobre as mesas e em cima dispunha os minerais. A primeira exposição foi assim e depois, devagarzinho, foram sendo construídas prateleiras, daí os minerais deixaram as mesas e começaram a ir para as prateleiras.

     

    Desde a sua concepção, Erich vinculou o museu à Aitiara Escola Waldorf. Pensando em uma explicação para o público amplo, como basicamente a Pedagogia Waldorf potencializa a proposta do museu?

    Blaich, entre outras coisas, era um professor e sempre foi muito querido e carismático pelas escolas da pedagogia Waldorf que ele visitava. No início, o acervo dele ficou em uma escola Rudolf Steiner/SP que segue a pedagogia Waldorf e fica em São Paulo. Mas lá também não conseguiram ter um museu na escola e, quando o professor se mudou para Botucatu, a ideia foi vincular com a escola Aitiara, mas não com a escola tomando a frente, pois uma escola já tem o tempo ocupado por várias atividades. Então o museu passou a ser mais ligado à área da cultura, embora um museu de mineralogia seja transversal passando pelas áreas de meio ambiente, educação e artes. Dentro da grade curricular das escolas Waldorf tem uma época dedicada à mineralogia, principalmente no sexto ano. As escolas Waldorf abordam o assunto por épocas, então quando tem a época da mineralogia, os estudantes passam cerca de quatro semanas imersos em aulas desse assunto. São aulas estendidas de uma hora e meia só trabalhando mineralogia. O mesmo acontece quando é uma outra época da grade curricular, por exemplo, cultura grega é a época que as turmas só trabalham questões que envolvem direta ou indiretamente essa temática. A época da mineralogia é bastante importante dentro do currículo do ensino fundamental e os estudantes realizam inclusive uma viagem de quatro dias explorando minerais do ambiente. Uma viagem de campo leva as turmas até o Pico de Itatiaia, no Parque Nacional do Itatiaia. E por aqui na nossa região também tem visitas de campo para estudar o arenito e o basalto. Por exemplo, nessa época de mineralogia as turmas vão atrás de quartzos que ocorrem no basalto da cuesta. Todas essas atividades da época de mineralogia fazem muito sucesso dentro do ensino fundamental e é uma época muito esperada pelos alunos, então foi quase que natural essa extensão do museu para escola.

    Cada dia o museu apresenta minerais diferentes com objetivo de despertar e manter o encantamento dos alunos. A pedagogia Waldorf busca muito o encantamento para o aprendizado e quando os estudantes veem beleza, aprendem junto com o encanto. Sabemos que a Geociências tem o potencial de mostrar muitas belezas da Terra, né? A natureza já tem muitas joias naturalmente e Erick Blaich sempre teve esse olhar, não só como professor, mas também como artista plástico. Os minerais que ele queria mostrar para os estudantes tinham que ser sempre lindos. Blaich nunca se acomodava, quando ele alcançava aquele mineral lindo, ele achava que aquele era bom, mas devia ter um mais lindo que aquele. Então o que a gente tem no acervo é uma seleção de peças realmente muito bonitas. Se a gente considerar o grande museu que tem no estado de São Paulo que é o de Geociências da USP, não acho que deixamos nada a dever para ele em termos de beleza de acervo. A gente tem quartzos maravilhosos de ametista no museu que fazem sucesso entre os alunos, inclusive um quartzo verde que é uma grande drusa verde que conseguimos depois. É importante dizer também que a gente faz isso sempre respeitando as questões do meio ambiente, pois hoje a sociedade e a educação estão muito preocupadas com a sustentabilidade para não agirmos de forma predatória. Sabemos e rastreamos de onde veio aquele mineral e como foi feito aquele garimpo. É importante que a gente admire os minerais, sem deixar devastação para trás.

     

    A ideia do nome do espaço ser Museu Aberto de Geociências, Mineralogia e Astronomia – MAGMA contempla a interdisciplinaridade. Pode comentar sobre isso?

    De alguma forma, temos essas três áreas aqui. Estamos em um espaço de apenas 90 metros quadrados, mas também fazemos exposições itinerantes como a do Aquífero Guarani. A gente percebeu que a equipe fala muito mais do que só sobre os minerais e vai além de Geociências. A divulgação científica também ocorre de diversas formas pelo museu, por exemplo, colocamos placas educativas e explicativas sobre o Morro de São Cristóvão na escadaria da prefeitura de Botucatu. A própria Geociências é um campo aberto para outras áreas, como meio ambiente e astronomia. A formação da Terra conta muitas histórias e nosso planeta interage com o espaço, objetos como meteoritos são buscados para nosso acervo. Na escola quando chega a época da Mineralogia que comentei, os alunos não deixam de passar por Astronomia, pois acabam estudando o céu. Lembramos que os elementos químicos que estão aqui na Terra e no nosso corpo também estão no Cosmos. Já o nome “aberto” é porque o museu conversa com áreas culturais e artísticas, além de receber exposições e trabalhar para ampliar a acessibilidade. Eu sempre falo para jovens, e não só alunos da Aitiara, que o museu aos sábados é aberto à visitação pública. Nós estamos em processo de mudança para outro espaço maior na Demétria e lá nós teremos mais horários para visitação. Nesse novo espaço também teremos um pequeno observatório astronômico que será coordenado pelo geólogo e astrônomo Paulo Varela. Aliás, ele foi quem fez a feliz sugestão para do nome MAGMA para o museu.

     

     

    Qual o parentesco de Han Jorg Blaich, atual presidente do MAGMA, com o saudoso Erich Blaich? Ele também herdou a admiração pelas pequenas coisas da natureza, como uma pedra, uma flor ou um inseto?

    Filho e pai. A gente chama o Hans Jorg de “Jorge”, é como ele ficou conhecido por aqui. O Jorge veio para a Demétria nos anos 70. Nessa época havia atividades na Estância Demétria, que era uma fazenda e era o núcleo do bairro. Quando a fazenda começou aumentar de trabalhadores, foi quando a escola começou a ser pensada para os filhos dos trabalhadores. Cada ano escolar foi criado aos poucos e, com a escola, também começaram a nascer os condomínios. O pai do Jorge, Erich Blaich, veio depois que se aposentou em São Paulo. Ele foi professor lá há muitos anos e se mudou para cá depois de aposentado. Aqui ele não era mais professor de alunos, mas sim de professores. Dava aula de artes e mineralogia. Mas gostava de chamar os alunos da escola para visitar a sua casa e conhecer sua coleção de minerais. Na casa do Erich, a gente “tropeçava” em minerais e ele ensinava muitas histórias. Como a escola que estava nascendo é particular, havia também uma preocupação com a integração social de boa parte das crianças dos trabalhadores que não tinham condição financeira para pagar a mensalidade. Erich vendia parte dos seus minerais para Alemanha e com o dinheiro ele ajudava a construir salas de aula e bazares.  Ele construiu muitas salas de aula, inclusive no Chile e na Argentina pediram para ele fazer um bazar para arrecadar dinheiro e construir sala de aula.

    O Jorge sempre teve muita ligação com o pai e a casa onde nasceu e cresceu já era praticamente um museu. Erich sempre gostou de minerais e Jorge herdou isso do pai. As pequenas coisas da natureza estão no coração do Jorge. Ele adora minerais, mas o coração dele bate mais forte pelas plantas e ele foi um dos pioneiros na construção da fazenda Estância Demétria. Uma grande parte das árvores que existe aqui, Jorge que plantou porque quando eles chegaram aqui já era uma área não vegetada e com terra pobre, já usada por sucessivas monoculturas. Jorge tem formação na área de Agronomia. Até ano passado, ele fazia consultoria para Centro Flora nas áreas de cultivo de abelhas, de plantação de ervas e de extração de óleos orgânicos. Então sua ligação com a natureza é imensa.

     

    Você, Berenice Balsalobre, é a curadora e a tesoureira do MAGMA, além de geógrafa por formação. Na sua história, quais são as principais motivações e circunstâncias que levaram você a trabalhar com Geologia?

    Minha formação original é em Direito e foi depois de muito tempo que cursei Geografia. Eu também fiz mestrado na Unicamp na área de Geociências, mas devido algumas circunstâncias pessoais, acabei não defendendo. Mas em toda a minha vida me dediquei à área jurídica como advogada. Eu me formei em Direito na USP em 1981 e antes mesmo de me formar eu já exercia a profissão de alguma forma. Entre 2004 e 2005, fui presidente da mantenedora da escola Aitiara na época que estava construindo o ensino médio, então eu estava bastante envolvida com a gestão da escola. Foi quando fizemos o acordo com o professor Blaich sobre o museu junto com a escola. Na época faltava um pouco de dinheiro para acabar as obras e Blaich tinha um fundo de doações de campanhas. No acordo, ele doou esse dinheiro para terminar a escola, enquanto a escola doou uma sala para ele expor os minerais até construir o museu. Aí vieram as mesas de cavalete onde ele expunha suas caixas de minerais. Nessa época, em 2006, ele já tinha uns 86 anos e, às vezes, ele me chamava para ajudar a limpar os minerais. Ele era uma pessoa bem-humorada e super agradável de ficar junto. Foi em um desses dias de limpeza e arrumação, que ele e eu pensamos em abrir o museu todo sábado para quem quisesse visitar. Depois de um tempo, ele até me deu uma chave da porta do museu e assim meu envolvimento com esse espaço e com essa área de conhecimento foi crescendo. Daí após cinco anos, ele morreu, o museu ficou órfão e eu também fiquei órfã junto.

    Começou então um outro momento no museu que foi chamar uma museóloga para catalogar todo o acervo. Fui percebendo que o museu é um espaço não só lindo e que as pessoas olham e querem voltar, mas também um espaço social e de questionamento. Questionar a partir daquilo que está vendo, por exemplo, qual função tem isso na natureza? Como isso foi retirado da natureza? Tem muito ou pouco disso na natureza? Então o museu foi nascendo e eu fui gostando muito dessa área, por isso decidi fazer Geografia. Fiz o curso de bacharelado pela Universidade de Brasília, que tinha um polo à distância em parceria com a Universidade Aberta do Brasil. Mas fiz muitas aulas presenciais também que foram muito ricas. Assim, eu descobri uma nova profissão, mas a minha profissão de origem e onde eu me sustento é como advogada. Como curadora do Magma, meu trabalho é quase totalmente voluntário, mas eu gosto muito do que faço, pois considero um engrandecimento espiritual trabalhar com a natureza, além de ser muito prazeroso.

     

    O Erich, em corpo e alma, deixou a Terra em 2011, mas a sua coleção ficou para educação e sociedade. Desde então, o quanto o acervo cresceu e por quais meios vocês buscam arrecadar verba e ampliar a coleção? E como está o Plano Museológico do Magma?

    Depois do Erich, acho que a gente comprou mais de 200 peças, pois a gente fez um amigo em Marrocos que é comerciante e nos ajuda bastante com doações para o acervo. Com ele e em feiras a gente já adquiriu materiais muito lindos. A gente também pede um subsídio com visitas de escolas não públicas. Todo ano a gente recebe escolas de São Paulo e de Bauru, principalmente da Pedagogia Waldorf. Pedimos uma colaboração por cada criança e temos também uma lojinha no museu. E todo fim de ano, a gente tem o bazar de Natal da escola Aitiara que ajuda também. Outra verba vem de oficinas ligadas ao nosso acervo e que servem para capacitação museológica. Todos esses valores nós vamos juntando e o museu tem pouca despesa fixa, por isso conseguimos aumentar o acervo devagar e sempre. Às vezes, aparece alguma peça que a gente fica com muita vontade de comprar como meteorito palacito que é bastante raro, daí lançamos uma campanha pública para doações até conseguir comprar. Mas os projetos que escrevemos e enviamos para editais, como os do Programa de Ação Cultural do governo do estado de São Paulo, não são para manter o museu nem para aumentar o acervo, mas sim destinados para desenvolver projetos educativos e culturais. Projetos para financiar a estrutura do museu precisam ser projetos formatados, como o que fizemos para mudar o mobiliário do museu. Nesse caso, a gente uniformizou toda a marcenaria, construímos a estante de vidro e tudo vem de dinheiro carimbado que a gente fala. O maior projeto que temos no momento é o que ganhamos para fazer o nosso plano museológico, disponível em nosso site, que contou com uma série de especialistas e questionários. Estamos saindo de 90 metros quadrados e indo para 500 metros quadrados. Então é muita mudança, um verdadeiro desafio. A gente vai para um prédio doado em comodato pela Associação Cambará que ficou mais de 15 anos fechado. Ele também fica no bairro Demétria e precisa de reformas estruturais. Estamos com metade do espaço pronto, onde já realizamos algumas oficinas com experimentações têxteis e arqueológicas. 

     

    Em 2021, eu tive o prazer de receber com minhas turmas de Ensino Fundamental II e Ensino Médio de escolas estaduais onde trabalhei as visitas didáticas da equipe do MAGMA com o Projeto Proteção das águas: Aquífero Guarani, apoiado pelo Programa de Ação Cultural São Paulo – PROAC. O que você destaca dessa experiência?  

    Esse projeto era para ser presencial e foi transformado em online por causa da pandemia e depois ele também teve o formato híbrido como foi com suas turmas. Por exemplo, a parte do trailer contando a história da transformação do deserto em cuesta foi por vídeo e não com a apresentação do trailer. Mas as suas turmas já tiveram a oficina de pintura com terra presencialmente. Para mim, esse projeto serve como uma mosquinha que pica o aluno para ele perceber que essa área é legal e, então, o olhar dele se abre. Eu percebo isso quando acompanho turmas que ficam três dias conhecendo a Cuesta, entrando em contato com a paisagem e colhendo cristais de quartzo da região. Esse tipo de experiência descortina o olhar dos alunos que percebem que o mundo físico é muito interessante. Uma visita pode mostrar que um simples barranco tem muita memória que pode ser interessante. Quando você só fala sobre um fato aos alunos é uma coisa, quando você fala mostrando uma pegada é outra coisa. Nesse exemplo você coloca os alunos para imaginar um animal que andou numa areia fresca, deixou a pegada, o vento cobriu e hoje a gente está vendo a pegada desse dinossaurinho ou desse mamífero. Acho que o potencial da Geologia é subestimado dentro das escolas que também precisam de mais formas de estímulo.

     

    Trailer de projeto itinerante sobre a Cuesta e o Aquífero Guarani. Uma das atividades do Programa Guarani, realizado pelo MAGMA em escolas e praças públicas de Botucatu e região, com apoio do ProAC

     

    Visitas didáticas como a dos meus sétimos anos da Emef Profª Elda Moscogliato ao Magma é uma forma de estímulo?

    Certamente, e de escola municipal acho que foi a primeira que recebemos como visita guiada. Eu estou conversando com a Secretária da Educação para mais alunos visitarem o museu. Isso é importante e está no plano municipal de educação a recomendação de aproveitar os instrumentos educacionais e culturais do município. Falar que existem minerais lindos é uma coisa, ir ao museu e ver esses materiais lindos é outra coisa. A partir desse contato podemos buscar mais diálogo com os alunos, inclusive o museu é um lugar de perguntas, não só de observar. É importante, por exemplo, a pergunta de onde e como são conseguidos esses minerais, pois precisa ser de modo sustentável, respeitando as leis e os limites da natureza. Todo material adquirido para o museu deve ter rastreabilidade. 

     

    Visita do sétimo da Emef Profª Elda Moscogliato ao MAGMA como atividade do componente de Ciências

     

    Para Carlos Vogt, os museus são espaços fundamentais do ensino para a ciência e contribuem para compor a espiral da cultura científica. Além dos horários de visitação aberta aos sábados, vocês têm objetivos e projetos de receberem jovens com visitas guiadas?

    A nossa coluna vertebral hoje ainda é o conjunto de projetos que fazemos com as escolas. A gente recebe as escolas e faz monitoria, falando da formação da crosta terrestre, o seu tempo geológico e os tipos de rochas. O planeta Terra faz esse grande palco estruturado da crosta terrestre, a gente mostra os minerais mais bonitos, os mais importantes e os mais abundantes. Então é uma visita que, dependendo do grupo, às vezes as turmas ficam duas horas dentro do museu porque a gente convida os alunos para escolherem o mineral e desenharem. Com as crianças, esses projetos acabam sendo de sensibilização e de observação. A primeira coisa que eu falo quando entram no museu, deixem os celulares no bolso. Olhem antes de tirar foto, a ideia é desenvolver o olhar e, nesse sentido, a gente tem acumulado experiências prazerosas e formativas. Para o ensino de ciências, também temos textos de congresso de geologia falando sobre o Aquífero Guarani da nossa região que também podem ser aproveitados em aulas.  

     

    No site do MAGMA consta o projeto “Caminhos Geológicos / SP” que tem parceria com Departamento de Recursos Minerais (DRM) do RJ, da Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados de Transporte do Estado de São Paulo (ARTESP), do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) e outras instituições. Em que pé está?

    Esse projeto foi inspirado em outro projeto parecido que é o “Caminhos Geológicos-RJ”. Nós queremos replicar o que esse projeto realiza há anos e já tem mais de 150 placas no estado do Rio de Janeiro, buscando despertar interesse geológico de forma dirigida através de placas rodoviárias. A nossa ideia é instalar painéis com informações do Sistema Aquífero Guarani (SAG) em toda a Rodovia Castelo Branco, começando pelo KM 166. A gente propôs uma placa nesse ponto para anunciar o começo do Aquífero Guarani e também outras placas de conscientização sobre esse importante e enorme aquífero na Rodovia Marechal Rondon. Nós escrevemos esse projeto e enviamos para a ARTESP, foram feitas algumas reuniões com os coordenadores, mas ainda não tivemos sucesso com esse projeto. Nós não desistimos e já conseguimos instalar duas placas no Morro de São Cristóvão, que fica às margens da R. Marechal Rondon, que trazem informações sobre o Aquífero Guarani. Lá é um ótimo lugar para aulas práticas sobre a geologia da região. Na Prefeitura de Botucatu, nós instalamos uma placa informando que o piso da escadaria é de mármore estromatolítico datado de 2,2 bilhões de anos. E também no gabinete do prefeito, existe uma grande placa com informações sobre a Cuesta que o MAGMA ofereceu. Queremos instalar muito mais placas educativas sobre pontos geológicos.

     

    Em 15 anos de funcionamento do MAGMA com a Escola Aitiara, alguns jovens já se inspiraram em vocês e embarcaram em áreas científicas relacionadas?

    Em geral, os alunos da escola gostam e aproveitam bastante o museu. Conheço muitos que saíram do ensino médio e foram cursar Geografia. Mas geólogos eu conheço poucos e não sei exatamente o porquê. Eu ainda não conheço nenhum ex-aluno nosso que se tornou geólogo. Mas a gente segue semeando e a colheita virá.

     

    Sobre o autor

    Vinícius Nunes Alves é biólogo pela Unesp-IBB, mestre em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais pela UFU-Inbio e especialista em Jornalismo Científico pela Unicamp-Labjor. É ex-professor substituto em Filosofia da Ciência na Unesp-IBB, atua como professor de Ciências na Prefeitura de Botucatu e como colunista no jornal Notícias Botucatu.

    Como citar:  

    Alves, Vinicius Nunes. (2023). Magma fora do vulcão? Conheça o Museu Aberto de Geociências, Mineralogia e Astronomia do interior paulista. Revista Blogs Unicamp, V.9, N.2.
    Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/revista/2023/11/26/magma-fora-do-vulcao-conheca-o-museu-aberto-de-geociencias-mineralogia-e-astronomia-do-interior-paulista/. Acesso em dd/mm/aaaa.

    Sobre a imagem destacada:

    Fotos de Tess AI

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