Categoria: Vacinas

  • Desinformação e vacinas: cuidados necessários

    Recebemos hoje uma notícia animadora: as novas datas de vacinação já saíram!

    Uhuuuu! Vamos lá! Espalha essa notícia sim! Vai pro zap sim! Encaminha prá todo mundo sim!

    Não. Calma. Pera lá…

    Nunca encaminhe nenhuma mensagem antes de conferir tudo…

    Olhando com mais calma, vimos alguns sinais de alerta e já fomos conferir!

    Primeiro sinal: o site é do governo de São Paulo! Será que é o site mesmo?

    Sim, o site é real, é sobre a vacinação em São Paulo… Todavia, o restante da mensagem, não era bem assim. Aqui mora o cerne de como a desinformação se propaga! Veja, o site existe, a vacina existe (Sim! Ela existe!), mas as datas não foram confirmadas ainda. E este é só um dos detalhes…

    Também consta nesta mensagem a data de vacinação de pessoas entre 0 e 28 anos. A vacina ainda não teve seus resultados de eficácia para menores de 18 anos. Portanto, esta faixa etária de menores de idade não será vacinada por enquanto!

    A desinformação é ardilosa sabe? Ela traz informações que muitas vezes são reais (como o site do governo), aliadas com aquelas que queremos que sejam reais (datas próximas de vacinações). E isso nos atrapalha mesmo. Por isso, nós trouxemos para vocês algumas dicas para ajudar, em cima do encaminhamento que recebemos! Vamos lá?

    Sobre fake news e desinformação, vocês podem saber mais informações aqui

    Texto produzido para o especial e também para compor todo o trabalho que seguimos fazendo na campanha #todospelasvacinas

    Este texto é original e escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


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  • Como a vacina CoronaVac é produzida?

    Por Laís Granato

    Este texto foi produzido originalmente no blog Descascando a Ciência

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


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  • Tudo vale a pena por vacinas e divulgação científica? Funk e K-pop

    Semana passada fizemos parte de um grande evento de divulgação científica – bem militantes de internet, sabe? Sentados na frente da tela, e ficamos lá, por horas e horas 24/7 como dizem por aí, e no dia 21/01 aconteceu: viramos militantes de twitter.

    Como se não bastasse isso, os maiores grupos de divulgação científica do país (no fim do post a lista completa dos grupos) saíram convidando artistas e personalidades públicas para militar todos juntos.

    Descansa, militante: o mundo da ciência e suas campanhas

    Dia desses, fui interrogada sobre qual o motivo que eu achava que esta campanha feita por cientistas e divulgadores de ciência faria diferença e outras que tantas vezes fazemos – como marchas para ciência ou ações na internet – não fizeram.

    Claro que não tínhamos certeza, no momento em que a pergunta foi feita, que a campanha seria um sucesso (e ela foi). No entanto, já existiam alguns indícios de que teríamos algum destaque nas redes sociais. Assim, a confirmação de algumas personalidades influentes era um destes indícios.

    No entanto, a ideia não era apenas ter “personalidades” sorrindo e acenando para a campanha. Isto é, era – e segue sendo – defender conjuntamente ao nome “Todos pelas vacinas” que a vacina seja para todos.

    O diálogo com pessoas: nossa, isso existe!

    Um dos pontos que para mim foi interessante na campanha foi conversar com diversas personalidades famosas ou que tem lá seu público seguidor. Dessa forma, ao falar com estas pessoas, além de explicações sobre a campanha em si, eu conversava também sobre dúvidas das vacinas, a ciência e tudo mais. Às vezes a conversa engrenava para outras coisas, desde sugestão de pautas, até piadas e memes (Brasil né, mores).

    Quando eu soube que os K-pops iriam entrar no dia levantando a tag, e quando eu vi que Kondzilla divulgou nosso conteúdo eu percebi que a campanha estava acontecendo mesmo.

    E com o passar dos dias, eu soube responder meu colega melhor: essa campanha vai funcionar pois estamos conversando (ou tentando conversar) com pessoas.

    Como assim?

    Ora, existe muita dificuldade em fazer divulgação científica no nosso país ainda. Além disso, há falta de definições objetivas acerca do que é divulgação científica e diferenças de jornalismo científico ou de comunicação científica, uso de diferentes mídias e mídias sociais, dentre outros problemas que não cabem em um post…

    Todavia, há mais problemas em conseguirmos dialogar com quem é nosso “público não especialista” ou “público alvo”. O também conhecido e famoso termo “furar bolhas” ou “parar de falar para convertidos” (sinceramente, odeio este último). Mas sim, é difícil furarmos bolhas e conversarmos com quem está fora do círculo.

    Vamos lá…

    Uma das dificuldades é abordarmos a ciência de forma sisuda, fechada, ensimesmada, falando de seu rigor e robustez para si mesma, tão centrada em suas terminologias que não podem ter metáforas que ninguém além de nós mesmos, consegue entender.

    Outra dificuldade é acharmos que o que nós falamos é essencial para as outras pessoas e que elas deviam nos escutar. Afinal, estamos falando de verdades científicas relevantes de um modo supostamente acessível. Assim, nós estamos avisando… Mas não nos escutam.

    não que seja um problema comunicadores que não conseguem ser escutados, longe de mim dizer isto

    Tá, Ana… Desembucha

    Bom… talvez a gente não seja escutado por não estarmos escutando muito também. E quando eu digo escutar quero dizer parar um tempo e prestar a atenção no que outra pessoa, “gente como a gente”, está falando.

    Assim, ao invés de ridicularizar diminuir situações em que se articulam setores diferentes da nossa sociedade, talvez seja hora de cientistas e divulgadores aprenderem um pouco mais sobre como a sociedade funciona.

    O funk e o kpop não vão salvar a divulgação científica. Mas talvez nos salve de nós mesmos. Esta semana vimos um funk falando de vacinas e kpops e Army tuitando (insanamente) nossa campanha. Foram horas nos trending toppics. Teve Zé gotinha dançando até o chão, teve samba, teve chorinho, teve poesia declamada.

    Nada disso foi, em si, divulgação científica.

    Mas foi pela divulgação científica, por uma campanha promovida pela divulgação científica, tentando evidenciar conteúdos científicos dos grupos de divulgadores científicos. E foi por uma causa específica – as vacinas – para todos

    Não foi “nós (divulgadores e cientistas) por nós (divulgadores e cientistas)”. Propusemos uma campanha, para debater uma demanda social efetivamente para todos

    Para todos é K-pop. Mas, também é funk, rap, samba, frevo, milonga, moda de viola, sertanejo, axé, rock, ópera, clássico, ___ (insira aqui o ritmo que tu adoras e eu esqueci de mencionar).

    Para todos é aprendermos a olhar para a sociedade e percebermos sua não-homogeneidade. Quando falamos todos é por estarmos dispostos a ver, respeitar, pensar, ouvir a diversidade e entender (e principalmente aprender) por qual motivo as campanhas científicas nunca funcionam. Bem como, perceber que, em geral, quando falamos em todos, normalmente falamos em “grupos seletos que há décadas têm oportunidades similares às nossas”.

    O que eu aprendi como divulgadora científica?

    Nas redes, aprendi que K-pops sequestram pautas, têm posicionamento político, se baseiam em metas, se organizam e podem potencializar uma visibilidade na rede social, como podem pulverizar um movimento (e muito rapidamente).

    Com isso aprendi mais sobre algoritmos funcionando numa massa, do que em anos falando com pessoas que estudam academicamente isso e eventualmente me explicavam. Isto, óbvio, não é desmerecer colegas que arduamente tentaram me explicar. Só me fez pensar que as vezes a gente precisa quebrar a cabeça mesmo e aprender ficando embasbacado com o número girando ali na nossa frente.

    Na música, poesia e desenho, aprendi que o conceito científico não dá conta de nos emocionar e mobilizar. Mas a arte pega um detalhe da ciência e a transforma em combustível. Que faz chorar, sorrir e nos abraça e conforta de modos que métrica e estatística alguma vai dar conta de descrever, mensurar e especificar.

    Quer ver um pouco de nossa arte?
    VacinArtes

    Mas tudo aquilo se constituiu como divulgação científica?

    A divulgação científica pode ser entendida como um ato de comunicadores (cientistas e jornalistas, por exemplo) que apresentam a ciência de modo acessível a um público externo à academia ou àquela área específica que está sendo abordada (para saber mais sobre Divulgação aqui no blogs, recomendo o MindFlow).

    Tudo o que aconteceu no dia 21 de Janeiro foi dar visibilidade a uma causa, que tem como pano de fundo a ciência aplicada a uma causa social urgentíssima. #Todospelasvacinas se constituiu como uma campanha em prol da vacinação. Para que as pessoas compreendam o que é uma vacina e quais razões para confiar nas vacinas. Mas também para exigir e criar o debate de que as vacinas são um direito de todos e um dever do poder público – em todas as instâncias e níveis.

    Se o ato em si não foi divulgação (sei lá o preciosismo da questão aqui), ele foi um ato que levou às pessoas a procurar informações de divulgação científica. Sim, levou milhares de pessoas a procurar conteúdos sobre vacinas nos grupos que trabalharam no evento de lançamento.

    Sobre termos funk e kpop na campanha

    É um modo não apenas de dar visibilidade, mas também de aprender, mostrar e pensar que o que chamamos de cultura científica precisa lidar com o fato de ser cultura. E que kpop é cultura e funk é cultura.

    Talvez aqui precisemos olhar novamente para autores das áreas das humanidades e entender, novamente, o que é cultura, antes de falar que a cultura científica bibibi-bobobo não deveriam precisar disto ou daquilo se distancia de tudo isso e precisa se distanciar.

    Mas isto é tema de outro longo post.

    Este é o primeiro “Tudo vale a pena por vacinas e divulgação científica?”. Eu vou retomar o conceito de cultura, cultura científica e falar mais sobre o que aconteceu dia 21 de Janeiro e por qual motivo foi uma data histórica na divulgação científica brasileira. Também vamos falar sobre a importância de uma campanha como essa e sua continuidade, próximos passos e sobre os grupos que se envolveram de cabeça nesta empreitada. Por fim, um pouco dos bastidores da equipe e sua semana sem dormir, mas dormindo, para compor este coletivo que foi incrível.

    Todos pelas Vacinas
    Grupos que participaram:
    Observatório Covid-19
    Blogs de Ciência da Unicamp
    Rede Análise Covid-19
    UPVacina
    Equipe Halo
    Projeto Divulga
    Eu e as Plantas

    Para saber mais:

    Andrade, Karolin (2021) Organizações científicas lançam campanha “Todos pelas Vacinas”, para conscientizar sobre a importância das vacinas, Kondzilla.

    Gouvêa, Guacira (2015) A divulgação da ciência, da técnica e cidadania e a sala de aula. In: Giordan, M, Cunha, MB (org) Divulgação científica na sala de aula: perspectivas e possibilidades. 

    Kondzilla (2020) O que é Coronavírus, Covid-19?

    Kondzilla e Equipe Halo (2020) Qual é a das vacinas do Corona?

    Kusuma, A, Purbantina, AP, Nahdiyah, V, Khasanah, UU (2020) A Virtual Ethnogpraphy study: Fandom and Social Impact in Digital Era, ETNOSIA: Jurnal Etnografi Indonesia, 5(2):238–251.

    MC Fiote (2021) MC Fioti – Vai Com o Bum Bum Tam Tam (KondZilla)

    PORTO, CM, org (2009) Difusão e cultura científica: alguns recortes. Salvador: EDUFBA, A internet e a cultura científica no Brasil: difusão da ciência, p.149-165.

    Este texto foi escrito originalmente no blog PEmCie

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Vacinas: uma ação de Saúde Pública

    Vacinas são ferramentas importantes no combate à doenças e devem ser pensadas para o bem público. Elas já enfrentam o desafio da desinformação, às fake news, e capitalizar esse momento de vacinação contra a COVID-19 é colocar mais um obstáculo para sua implementação. 

    Temos acompanhado passo a passo o desenvolvimento das vacinas, seus testes, avaliações e aprovações, aprovadas. Todos temos visto, exultantes, as últimas notícias sobre as vacinas no país.

    Há, óbvio, expectativa e urgência em tudo isso. Pois, as vacinas são um dos instrumentos de saúde mais fantásticos já elaborados pela ciência. E, também, um grande passo da ciência que vem se aprimorando cada vez mais ao longo do século XX e agora no século XXI.

    Dessa forma, já houve, sim, muito questionamento acerca de sua segurança. O movimento anti-vacinas que vemos hoje não é o mesmo de décadas anteriores. Mas retoma receios da população, misturados com mentiras e falácias acerca de um (mentiroso) risco às pessoas.

    Neste post, nós vamos propor pensarmos sobre a Vacina Como Produto e a necessidade de olharmos para as Vacinas como uma conquista de cientistas e da humanidade – e não de indivíduos isolados. Vamos entender melhor sobre isso?

    As Vacinas são uma conquista de saúde pública: e é só isso?

    As vacinas são, sim, uma estratégia fundamental para combater doenças sem tratamento. É a partir das vacinas que conseguimos erradicar poliomielite, coqueluche, sarampo no Brasil. E será pelas vacinas que conseguiremos diminuir, e muito, as mortes e as contaminações por Sars-CoV-2 em nosso país e em todo mundo.

    Conquistarmos vacinas seguras e eficazes em tão pouco tempo foi um feito enorme de nossa sociedade. Não é um risco, as vacinas não foram feitas “rápido demais”. Isto foi um investimento estrondoso, nunca visto antes no mundo. Parece clichê, mas realmente foi um grande esforço científico para um bem comum e é espantoso tudo o que conquistamos, como espécie, em 10 meses de pandemia. Mas atrás desse processo, há décadas dedicadas ao estudo de vacinas. 

    Temos neste momento no Brasil, a autorização para uso emergencial de duas vacinas.

    A primeira a vacinar pessoas, logo após a aprovação da Anvisa ontem, foi a CoronaVac, da empresa Sinovac, que em parceria com o Instituto Butantã será produzida e distribuída em São Paulo para todo o Brasil. Teremos em breve, ao que tudo indica, a vacina Astrazeneca, de Oxford, em parceria com a Fiocruz, também será produzida e distribuída para todo o Brasil (a partir de fases de aplicação da vacina, estabelecidos pelo PNI).

    Ambas vacinas são seguras, eficazes e serão fundamentais para diminuirmos a incidência da doença, diminuirmos internações em UTIs, ou mesmo ambulatoriais. Repetimos, neste sentido, tudo isto é fantástico e estamos ansiosos por nossa vez para nos vacinarmos também!

    O que trazemos como questão aqui – e temos abordado ao longo dos últimos meses sobre vacinas e outros temas – é a necessidade de isto ser tratado como pauta da saúde pública. Isto é: as vacinas estão acima dos interesses político-partidários, ou de políticos específicos. E devem assim ser compreendidas! Não existe torcida para uma ou outra funcionar melhor.

    A ciência não funciona a partir de torcidas, mas a partir de observação dos fenômenos, elaboração de perguntas, elaboração de hipóteses, organização e estrutura de metodologias de coleta e tratamento de dados, análise de dados coletados, apresentação e discussão de resultados.

    A avaliação de todos estes processos acontece por pares (colegas da mesma área). A torcida não faz parte de nenhuma etapa disto que conhecemos por método científico. Isto não quer dizer que não tenhamos expectativa pela vacina e não queiramos resultados positivos de segurança e eficácia. Isto quer dizer, apenas, que nossa expectativa e esperança não coleta dados, não pode interferir no processo e, definitivamente, não adulterar resultados.

    Isto vale para cientistas, isto vale para políticos. Além disso, é fundamental a transparência no processo de desenvolvimento científico (a pesquisa sobre a vacina desde o início). Todavia, também devemos cobrar por transparência e objetividade na comunicação acerca deste desenvolvimento. Especialmente pelo momento delicado em que vivemos.

    Assim, usar a vacina como moeda de troca entre setores do governo, fazendo de cada etapa um grande espetáculo que retira das pessoas diretamente envolvidas – cientistas, profissionais de saúde e instituições públicas – o protagonismo pode ser um problema. Ademais, há também um possível descrédito gerado exatamente pela quantidade de informações, demasiadamente técnicas e – para quem não conhece todo o procedimento – contraditória.

    As vacinas obedecem protocolos científicos elaborados em conjunto por vários cientistas: não é um produto de apenas uma mente ou de uma pessoa. Elas funcionam como uma ferramenta de saúde pública por serem efetivas não quando uma ou outra pessoa se vacina, mas quando a maioria de uma população se vacina. Isto é o que chamamos de cobertura vacinal.

    A Desinformação e  as Vacinas

    As vacinas e as campanhas de vacinação não se fundamentam, apenas, no conhecimento técnico científico. Tampouco conseguimos convencer pessoas que estão amedrontadas sobre a segurança de seus filhos, pais idosos ou parentes em grupos de risco apenas afirmando que “é científico, nada de mal vai acontecer”.

    Estes movimentos de desinformação e fake news que implantam o medo são complexos e não se desenrolam apenas apresentando a informação verdadeira, cientificamente embasada.

    É fundamental fazermos isto que chamamos de “trabalho de formiguinha”. Isto é, conversar e propor diálogo, responder perguntas, apontar caminhos, artigos, argumentos e não perder a paciência. Há que se ter em mente que muitos conhecimentos técnicos são desconhecidos por grande parte da população. Não por que possuem uma linguagem difícil ou impossível de compreender-se, mas por ainda não fazerem parte cultura geral da nossa sociedade Eles acabam sendo pouco acessíveis na linguagem. Ou, ainda, pouco divulgado a um público diferente do público habituado ao discurso científico e acadêmico.

    Ainda sobre Desinformação

    A desinformação, em tempos de internet, segue lógicas de grande financiamento, criação de perfis falsos (os chamados bots) que servem para espalhar rapidamente um termo, tag ou tipos de publicações específicas, criando artificialmente “trending toppics”. Também conhecidos como Assuntos do Momento no Twitter.

    Este modelo de espalhar desinformação, de forma organizada e financiada, vem sendo combatida a partir da denúncia em massa de determinados perfis e da tentativa de rastrear de onde vem a informação primária – para eventualmente derrubar estes perfis e/ou publicações.

    Explicando assim, parece até simples de executar a tarefa.

    No entanto, há dificuldades em apagar publicações falaciosas, mentirosas ou com informações duvidosas e sem embasamento. Além disso, muitas vezes, derrubar estes perfis é um processo demorado, o que pode causar bastante estrago enquanto o tempo passa.

    O procedimento de inserir um comunicado de que a informação é contrária às indicações médicas e da OMS é um importante passo no combate à desinformação e algumas redes sociais têm começado a aderir a isto de forma mais comprometida.

    Há outros movimentos que buscam rastrear empresas que financiam propagandas em sites – e eventualmente sites que propagam desinformação. Assim, com estas denúncias, há empresas que têm retirado o financiamento em sites que espalham essas notícias falsas. O grupo mais famoso no Brasil é o Sleeping Giant, muito atuante no Twitter.

    O que queremos dizer com isto afinal?

    Que é urgente priorizar o que, neste momento, realmente importa: a população. As rusgas via mídias sociais e coletivas de imprensa acusando um ou outro setor, desmentindo, alardeando e promovendo discussões, mais do que informar e propor políticas rápidas e eficientes, que salvarão vidas, têm gerado palco de protagonismo que atrasam a política, geram insegurança na população e, de fato, pouco informam.

    Isto, de modo algum é despolitizar as vacinas. Fazer política pública é atuar pelo público. É preciso que as decisões sejam tomadas para o bem da população e não para promoção de pessoas e nomes que queiram, como costumamos dizer, capitalizar com este momento.

    Por fim

    Tendo em vista este trabalho de formiguinha, o Blogs de Ciência da Unicamp e outros GIGANTES que também são formiguinhas maravilhosas lançaram hoje o site Todos Pelas Vacinas. Uma ação que mostra que formiguinhas juntas, podem ter ações de impacto! Lá vocês encontram textos, vídeos, podcasts, artes, informações e uma parte de tudo o que temos batalhado, juntos, para um mundo cientificamente informado e empaticamente responsável!

    Blogs de Ciências da Unicamp, Observatório Covid-19, Rede Análise Covid-19, Equipe Halo (ONU), ABRASCO, Sociedade Brasileira de Imunologia, União Pró-Vacina, Instituto Questão de Ciência: Todos Pelas Vacinas

    Campanha Todos Pelas Vacinas (arte oficial da campanha)

    A ciência e a divulgação científica seguem batalhando para que as informações científicas e as produções da ciência (neste caso específico, as vacinas) sejam acessíveis à população, como direito humano básico. Compartilhe esta ideia! 😉

    Para saber mais

    Bisol J (2020) Politização da vacina é irresponsabilidade sanitária. Cadernos Ibero-Americanos de Direito Sanitário 9(4): 192-197.

    Garcia, LP, Duarte, E (2020) Infodemia: excesso de quantidade em detrimento da qualidade das informações sobre a COVID-19, Epidemiologia e Serviços de Saúde Pública 29 (4), 

    Oliveira, T (2020) Como enfrentar a desinformação científica? Desafios sociais, políticos e jurídicos intensificados no contexto da pandemia, Liinc em Revista

    PROGRAMA RADIS DE COMUNICAÇÃO E SAÚDE (2020) Vacinas na corrida: da politização aos esforços da ciência, RADIS: Comunicação e Saúde, n218, p6-7, nov.

    Este texto é original e escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Estratégias de vacinação: o que se leva em conta?

    Nunca se debateu tanto vacinas e vacinação: o que é eficácia, segurança, testes, grupos de risco, planos nacional, estadual, etc.

    Por muito tempo no Brasil, o Programa Nacional de Imunização ocorria anualmente, com campanhas, grupos prioritários e estratégias de imunização para diminuir a incidência de doenças evitáveis sem que houvesse qualquer polêmica atrelada a isto. 

    Talvez uma das perguntas que agora fundamentais de responder: existem critérios para a escolha dos grupos prioritários para a vacinação? A ciência possui metodologias e estudos que apontem como isto deveria organizar-se?

    Estas perguntas são importantes. Por um lado, já temos indicação de quais grupos podem se vacinar – pelos testes tanto de segurança, quanto de eficácia. Por outro lado, por toda a estrutura de vacinas ser muito recente, não teremos vacinas imediatamente para todo o mundo. Sendo assim, é preciso priorizar, montando listas de acordo com algum critério.

    Considerando que estamos vivendo uma pandemia, de uma doença altamente contagiosa, os profissionais de saúde ocupam um dos postos prioritários para a vacinação. Por quê? Ora! É fundamental que estes profissionais mantenham-se saudáveis e bem, para seguir trabalhando na urgência que temos precisado.

    A discussão ronda o “segundo lugar” das prioridades – e todos os lugares que se sucedem ao segundo… Montar uma lista de prioridades, neste caso que vivemos, é basear-se em modelos epidemiológicos e matemáticos de como a doença avança e como podemos interromper este avanço, com a vacina.

    Nós sabemos que a função prioritária da vacina é fazer com que os indivíduos vacinados consigam gerar uma proteção contra as doenças. Mas também já conversamos aqui no Blogs sobre como isto não é sobre um indivíduo protegido, mas sobre bloquear o avanço da doença na população.

    Pois bem: é sobre isto que estes modelos tratam.

    Um estudo publicado em preprint em dezembro de 2020 (1), mostra que para a COVID-19, vacinas com acima de 50% de eficácia já reduziriam muito o avanço da doença. Além disso, evitaria-se 50% de mortes com pelo menos 35% da população vacinada (fenômeno conhecido como Cobertura Vacinal) – comparando-se com o cenário de não termos tratamentos para a doença. Vacinas com esta eficácia e ampla cobertura vacinal, já atingiriam a meta (nos Estados Unidos) de ocupação dos leitos de UTI dentro das demandas passíveis de serem atendidas.

    Assim, no modelo proposto pelos autores, uma cobertura vacinal de 70% da população, com uma vacina que apresentasse 60% ou mais de eficácia, conteria a pandemia de Covid-19. (Este dado leva em conta uma baixa transmissão na população!). *Atualização: este texto foi elaborado antes do debate sobre as novas variantes. Tal dado tem sido revisto em novas análises e deve ser levado em consideração para um debate mais preciso [nota da autora].

    Tudo isto parece bem interessante e já temos visto bastantes notícias sobre a importância da cobertura vacinal… Todavia, como priorizar quem será vacinado primeiro?

    Depende…

    Ué! Como assim?

    Temos dito aqui no Blogs: a vacinação é uma estratégia de governo, uma política do país, para minimizar efeitos de uma doença na população. Por ser estratégica, ela deve possuir metas específicas a serem atingidas – e estas metas são organizadas a partir de estudos técnicos pelas instâncias de gestão de saúde pública. No nosso caso: Ministério da Saúde, Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde.

    Como não teremos vacinas para toda a população desde o início, existe a necessidade de estabelecimento destas metas e objetivos. Por exemplo, neste modelo indicado anteriormente, os autores dizem que dependendo da eficácia das vacinas (e outros fatores): 

    • Se a meta consiste em diminuir infecções sintomáticas e hospitalizações fora da UTI, deveria-se priorizar os grupos jovens, pois interrompe-se a transmissão em um dos grupos que mais circula;
    • Entretanto, se a meta é diminuir infecções em UTIs, com possibilidade de agravamento e morte, idosos devem ser prioridade de vacinação;

    Sugere-se estes modelos de modo generalista e os próprios autores propõem que novos parâmetros devem adicionarem-se adicionados, dependendo da realidade do sistema de saúde pública de cada país e, além disso, as questões de desigualdade social.

    Em outra pesquisa, também em preprint(2), os cientistas reforçam a ideia dos critérios de vacinação por idade, devido à alta mortalidade vista neste grupo.

    Mas então os critérios se restringem à idade?

    Também não. Para compreender como controlar a doença, as pesquisas usam esses modelos matemáticos elaborados a partir de modelos anteriores. Por exemplo, usamos modelos de gripe, mas vamos inserindo características da Covid-19 – até que esse novo modelo seja funcional para a nova doença e a represente com mais fidedignidade. Da mesma forma,  a Covid-19 servirá de modelo para alguma outra doença respiratória viral que  iremos enfrentar no futuro.

    As modelagens para controle da doença, via vacinação, levam em conta as taxas de infecção por idade e grupo de risco. Todavia, também buscam compreender e calcular a partir do desenvolvimento da doença em cada país ou região. Além disso, é preciso considerar a eficácia das vacinas, a cobertura vacinal para cada faixa etária e grupo de risco analisado.

    Por exemplo, países com populações que vivem abaixo da linha da pobreza ou em situação de vulnerabilidade, precisam ter incluídas na conta  como a transmissão e o risco de infecção atingem estas populações. Com isto, elaboramos as estratégias de vacinação a partir de riscos específicos. O mesmo pode ser dito e pensado acerca das prioridades de trabalhos e demandas sociais – escolas, transportes, setores alimentícios, populações urbanizadas ou rurais, etc.

    Cada um destes itens pode (e na medida do possível, deve) ser adicionado aos modelos que calculam o avanço da doença – ou sua contenção – junto com instrumentos como a vacina.

    A vacinação e as políticas públicas

    É sempre bom retomar a ideia de que sendo a vacinação da Covid-19 um acontecimento recente (por motivos óbvios), é imprescindível que ela seja planejada e estruturada para atingir não apenas uma grande cobertura vacinal, mas também grupos prioritários que vão diminuir a pressão em leitos hospitalares.

    Isto é, os grupos prioritários também são pensados em função de ocupação de leitos hospitalares e, portanto, diminuição de mortes de Covid-19, de outras doenças que atualmente estão sem leitos hospitalares e custos elevadíssimos para a saúde pública.

    Vacinar se torna, assim, uma ferramenta crucial para diminuir contágios e mortes, mas também gastos com a saúde de toda a população. Vou falar novamente, pois acho fundamental lembrar e bater nesta tecla:

    Para saber mais

    1. Matrajt, L; Eaton, J; Leung, T; Brown, E. (2020) Vaccine optimization for COVID-19: who to vaccinate first? 
    2. Bubar, K; Reinholt, K; Kissler, SM; Lipsitch, M; Cobey, S; Grad, YH; Larremore, DB (2020) Model-informed COVID-19 vaccine prioritization strategies by age and serostatus

    Outras Referências

    Brasil (2020) Programa Nacional de Imunização

    Brasil (2020) PLANO NACIONAL DE OPERACIONALIZAÇÃO DA VACINAÇÃO CONTRA A COVID-19

    Kornfield, M (2020) When will children get a coronavirus vaccine? Not in time for the new school year, experts fear. The Washington Post

    Outros textos do Especial sobre vacinas:

    Vacinas: se eu quiser eu tomo!                           

    Este texto é original e escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os produziram-se textos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores. Além disso, os textos passaram por revisão revisado por pares da mesma área técnica-científica na Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Vacinas: se eu quiser eu tomo!

    Quando lemos sobre vacinas, temos visto um acirrado debate acerca de sua obrigatoriedade e as ações do governo para garantir a vacinação a todos. Além disso, há toda uma polêmica sobre o rápido desenvolvimento das vacinas.

    Todavia, hoje gostaríamos de falar de outra questão. Pois, talvez seja pouco compreendido (ou falado?) sobre como vacinas se transformaram, no mundo, em grandes ferramentas e estratégias por aliarem um conjunto enorme de áreas científicas: estatística, epidemiologia, virologia, biologia molecular, genética, demografia, geografia, ciências sociais, educação… 

    Vamos falar sobre Saúde Pública e vacinas?

    Situar a importância do advento das vacinas e a sua relação com a saúde pública, coletiva e individual torna-se fundamental.

    A saúde é um conceito complexo, que não se resume a ter uma doença ou à ausência de sintomas. Para a Organização Mundial da Saúde, Saúde é uma condição de “bem estar físico e mental”. E esta noção engloba uma série de fatores que falam mais do que termos sintomas específicos de alguma patologia. Este conceito aponta para, além de não termos sintomas, nos sentirmos bem (em aspectos amplos) conosco mesmos.

    Esta visão, no entanto, aponta para uma questão que é individual – ela conceitua a partir de um indivíduo consigo mesmo. A ideia de Saúde Pública, no entanto, precisa de outros indicadores. Quando falamos de saúde aqui no blogs, não estamos nos limitando à ideia de “ausência de doenças”, seja no nível individual, seja populacional.

    Assim, a saúde representa bem mais do que um ato médico – e não se limita ao saber deste profissional. Temos visto nestes tempos de Covid-19 profissionais biomédicos, farmacêuticos, químicos, biólogos, economistas, cientistas políticos e sociais, educadores, enfermeiros, historiadores falando sobre o tema a partir de diferentes pontos de vista e – cada um dentro de sua área – nos ajudando a entender tudo o que temos vivido sobre esta doença. 

    Além disso, também temos que compreender que a saúde, não apenas pensando sobre o “bem estar físico e mental”, como preconiza a OMS, mas de como uma população está vivenciando seu cotidiano – e como podemos observar estas vivências a fim de aumentar sua qualidade.

    Ah tá, quer dizer agora que eu tenho que pensar em todo o mundo da população…

    Calma! Não é que tenhamos que pensar em todo o mundo. Mas ao falar de saúde pública estamos tratando de população – que é o conjunto de indivíduos que vivem em um determinado território (cidade, estado, país, por exemplo…).

    Dessa forma, a questão é bem mais abrangente do que pode parecer! A ideia de população é recente em nossa história ocidental. “População” é um conceito que se relaciona, conceitualmente, à noção de estatística. 

    Como assim?

    É isso mesmo que tu leste! População não é uma ideia “natural” e que sempre existiu em nossa civilização. Esse conceito tornou-se presente vinculado a cálculos que mensuram indivíduos a partir de características específicas. Isto é, quando começamos a calcular unidades, a partir de similaridades que buscávamos entender. Por exemplo: quantidades de nascimentos em uma determinada região (uma cidade, por exemplo). Quantidade de mortes, nesta mesma região. Sobre as mortes, além de quantas mortes, do que será que estas pessoas morreram? Adoecimentos por patologias definidas, acidentes, assassinatos? 

    A partir do século XVII, embora mais presente no século XVIII, a estatística começa a tornar-se uma ferramenta central para governar populações, compreender a vida em sociedade e planejar em curto, médio e longo prazo como a vida dessa população, em um determinado espaço, deve acontecer.

    Nós conhecemos a ferramenta do CENSO, por exemplo, pesquisa feita pelo IBGE no Brasil, para levantar dados de como nossa população está naquele momento. Pois bem, como o CENSO é feito de maneira regular, temos ao longo do tempo indicadores que nos permitem avaliar como a nossa população está no momento em que o censo foi feito, mas também como foi se modificando ao longo das décadas e séculos. 

    Tudo bem. Mas o que isso tem a ver com a vacinação?

    Tu podes estar te perguntando “aonde mesmo esse post vai parar”. Pois bem… Quando falamos de saúde, censo, estatística, população estamos falando de aspectos da saúde pública e de conhecimentos técnicos que servem para governar uma população. 

    Algumas pessoas têm falado sobre a vacinação ser um ato individual e que cabe a cada um decidir por si se vai ou não se vacinar. Também andamos escutando que a vacina não deve ser obrigatória e tudo mais… Falas como:

    eu vou me vacinar e aí está tudo bem no mundo, azar de quem não quer ou não pode
    ou
    eu já peguei Covid-19 e não preciso mais me preocupar com medidas sanitárias, nem com a vacina no país
    ou ainda
    eu não quero me vacinar, é um direito individual meu!

    Quando temos uma situação como a que estamos vivendo – de uma pandemia – ou de doenças que acometem uma parcela GRANDE de pessoas, temos alguns debates éticos fundamentais. A vacinação é um destes pontos de embates

    Embora os atos individuais sejam importantes e fundamentais para terem seus direitos resguardados, a segurança da população não é algo que pode ser negligenciado por governos. Desta forma, um governo precisa, simultaneamente, respeitar sim as individualidades, mas fundamentalmente ter a maior quantidade de ferramentas possíveis para proporcionar saúde e segurança a todos os indivíduos de uma população.

    hm, sei…

    Já comentamos anteriormente que a estatística é uma ferramenta para compreender e gerenciar a população. A partir dos cálculos estatísticos, nós conseguimos saber, por exemplo, quantas pessoas precisam ser vacinadas para que determinadas doenças não se espalhem em uma determinada região. Isto quer dizer que existem cálculos que nos permitem avaliar a quantidade de vacinas que aplicaremos, quais grupos mais emergenciais para serem vacinados primeiro para que a menor quantidade de pessoas possível seja contaminada e a doença pare de circular em nossa cidade, estado ou país

    Claro que tomar vacina, como indivíduo, diminui drasticamente as chances deste indivíduo adoecer. E isso é importante para este indivíduo.

    Entretanto, a vacinação é um ato de saúde pública. Ela funciona não apenas para que UMA pessoa não adoeça. Vacinas são conhecimento científico, desenvolvido para conter doenças simultaneamente em indivíduos e em populações.

    É contenção populacional pois quando muitos indivíduos são vacinados, cada vez menos os vírus têm pessoas para contaminar. Quando alguém se contamina, o vírus fica limitado àquela pessoa e não consegue contaminar mais gente ao redor.

    Cobertura vacinal

    É isto que temos chamado de cobertura vacinal: a porcentagem de pessoas, em uma população, que estão cobertas pela vacina (tomaram vacina, portanto).

    Temos visto uma queda na cobertura vacinal em várias vacinas. Se olharmos o Data SUS, veremos que, por exemplo, Hepatite B em crianças de até 30 dias, tinha uma cobertura vacinal de 90,93% em 2015. Em 2019 tivemos uma cobertura vacinal de 78,57%. No ano de 2020 tivemos uma queda ainda maior, chegando à 59,30%. 

    A Poliomelite (também conhecida como paralisia infantil) foi uma das grandes conquistas de erradicação via vacinas. No ano 2000, tínhamos uma cobertura vacinal de 101,44%, em 2010 tínhamos a cobertura em 99,35%. Entretanto, o ano de 2020 esta cobertura vacinal caiu para 72,74%!

    Dessa forma, doenças que eram consideradas erradicadas podem sim retornar e circular em nossa população! A hesitação em tomar vacina é característica e têm ganhado força no Brasil e no mundo. Sato aponta que:

    “As consequências são as frequentes epidemias de doenças imunopreveníveis, como sarampo e coqueluche que ocorrem atualmente em todo o mundo, e a ameaça da reintrodução da poliomielite em regiões nas quais já foi eliminada. Na Europa, nos primeiros oito meses de 2018 ocorreram mais de 41.000 casos de sarampo. Nos Estados Unidos, proporção substancial dos casos de sarampo ocorreu em indivíduos intencionalmente não vacinados. Da mesma forma, a hesitação vacinal também desempenhou um papel importante no ressurgimento da coqueluche, apesar de ser atribuído à perda de imunidade”.

    E a Covid-19?

    Estamos falando de um protocolo de vacinação que esta recém iniciando. As pesquisas realizadas para o coronavírus, claro, são recentes (uma vez que a doença é nova). Mas as tecnologias desenvolvidas para estas vacinas são antigas conhecidas das ciências. Assim, as etapas de testes de segurança e eficácia foram cumpridas e, reforçamos, a vacina não é um ato para quem toma ficar protegido.

    Ao tomarmos a decisão de não nos vacinarmos, não é apenas nós como indivíduos que corremos o risco. Ou seja, é abrirmos corredores dentro da população para o vírus circular e permanecer adoecendo mais e mais pessoas. Não é adoecermos amanhã: é um ato de deixar o vírus sobreviver por anos, circulando e adoecendo a população. Mais do que isso: matando e ocupando leitos hospitalares, trazendo custos sociais elevadíssimos, para algo que é fundamentalmente evitável.

    É demasiadamente importante incorporar-se à luta pela vacinação. Cobrar para que ela seja aplicada na população, com campanhas de massa, respeitando os grupos de riscos – no próximo post falaremos mais sobre isto e por que motivo defendemos que ela seja pública, gratuita, via SUS e feita de modo ágil e coordenado pelo governo federal, estadual e municipal, com apoio de todos os setores públicos.

    Para saber mais: 

    Ministério da Saúde (BR), Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Informações de saúde (TABNET)

    Moran-Gilad J, Kaliner E, Gdalevich M, Grotto I (2016) Public health response to the silent reintroduction of wild poliovirus to Israel, 2013-2014. Clin Microbiol Infect, 22 Suppl 5:S140-5

    Phadke VK, Bednarczyk RA, Salmon DA, Omer SB (2016) Association between vaccine refusal and vaccine-preventable diseases in the United States: a review of measles and pertussis. JAMA. 2016;315(11):1149-58.

    Sato, Ana Paula Sayuri (2018) What is the importance of vaccine hesitancy in the drop of vaccination coverage in Brazil? Revista de Saúde Pública, v52, 96

    Senra, Nelson de Castro. (1999). Informação estatística: política, regulação, coordenação. Ciência da Informação, 28(2), 124-135. 

    SENRA, Nelson (2008) Pesquisa histórica das estatísticas: temas e fontes, História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v15, n2,p.411-425. 

    Senra, Nelson (2018) Da DGE até hoje, com o IBGE, uma sucessão em linha reta Estadística y Sociedad, México, p.56-81, n.5 Noviembre. 2018

    Outras postagens do blogs sobre vacinas

    Especial Covid-19: vacinas

    Este texto é original e escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Vacina em camelô? Será fake news?

    BREAKING ~FAKE~ NEWS*

    O Brasil, ao que parece, não brinca em serviço…

    Recebemos em vários de nossos canais a notícia de que a vacina contra o coronavírus já está sendo vendida em camelôs na terrabrasilis!

    Será que funciona mesmo? Será que é real?

    Nós queremos muito dar uma boa notícia a todos vocês. Por exemplo, que o Plano Nacional de Imunização para a vacina contra a Covid-19 já está sendo implementado aqui no nosso país, com uma política EFICIENTE e campanha em massa para todos os brasileiros!

    No entanto, ainda não é a realidade!

    Dessa forma, a vacina que está sendo vendida nas ruas (e aplicada na hora) NÃO É VERDADEIRA e não sabemos ao certo que tipo de produto está sendo comercializado e TODO CUIDADO É POUCO!

    Isto é, temos sim a imensa tentação de se ver livre do coronavírus! Entretanto, com este produto não teremos imunização ainda!

    Assim, seguimos alertando: cuidado com as fake news e mensagens que chegam pelas redes sociais, sem confirmação de veículos oficiaIs ou canais confiáveis! O Blogs da Unicamp tem material específico sobre isso.

    No entanto, sim, há novidades sobre as vacinas no Brasil!

    Ontem, dia 21/12/2020, por exemplo, a Anvisa concedeu à Sinovac – empresa que produz a CoronaVac o certificado de “Boas Práticas de Fabricação de Medicamentos”, publicado no Diário Oficial da União! Esta é uma ótima notícia, tendo em vista que isto adianta os processos para assim que os resultados forem divulgados, o andamento dos planos de vacinação possam ser implementados! Mas ainda há etapas a serem executadas – isso inclui recebermos os resultados da CoronaVac que está prevista para amanhã!

    E agora?

    Seguimos em casa, organizando materiais a vocês. Entretanto, como está chegando o final do ano e é fundamental lembrarmos que as recomendações ainda seguem as mesmas:

    • Mantenha distanciamento social e, se possível, NÃO SAIA DE CASA (isso inclui compras natalinas em shoppings lotados ou compras de vacina em camelôs);
    • Uso correto de máscaras – sim, precisa incluir o nariz dentro da máscara, não coloque a mão sem higienização na máscara para arrumá-la, não tire a máscara para tossir/espirrar, use SEMPRE a máscara em locais públicos
    • Se estiver em casa, com suspeitas de ter se contaminado, a regra da máscara também vale! Familiares também se contaminam com familiares! Cuide de quem mora com você!
    • Higienização das mãos e rosto. Água e sabão sempre que possível. Nas mãos use álcool em gel.
    • Não aglomerar (vale para happy hour, shopping lotado, praias, baladas e a sala de casa recebendo visitas)
    • Lembrar SEMPRE de conferir a veracidade de notícias que chegam para nós nas redes sociais! Especialmente aquelas soluções milagrosas e mágicas

    Relembrando 

    Só retomando que sobre “políticas públicas baseadas em ciência” nós e a Rede Análise Covid-19 produzimos uma carta e estamos pedindo ajuda e empenho de todos vocês para juntar um número maior e mais significativo para enviar a representantes políticos!

    Por fim, se cuidem, planejem este final do ano para ficarem o mais resguardados possível, combatam fake news e voltem sempre, a casa é sua!

    Este texto é original e escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • E aqueles resultados das vacinas? (Parte 3)

    Hoje vamos continuar a nossa série de textos sobre os resultados que estão saindo das vacinas candidatas para COVID-19. Nós já falamos sobre como funcionam as fases de testes delas, o que é a sua eficácia e a relação disso com a memória imunológica. Nesse post, nós vamos falar (finalmente!) sobre os resultados em si. Isto é, o que eles significam para nós, os prós e contras e os possíveis problemas relacionados com cada uma delas.

    E então, o que são realmente esses resultados que estão saindo?

    Vamos detalhar um pouco sobre 3 vacinas: a Pfizer/Biontech, Moderna e Astrazeneca/Oxford e seus resultados. Depois compará-las para, por fim, dos acordos brasileiros com cada uma delas. Lembrando que esta última parte muda diariamente, em função dos resultados que vêm saindo e prioridades do Governo Federal.

    Pfizer/Biontech

    Para começar, vamos falar da vacina da Pfizer/Biontech 1. Tanto aqui quanto nas outras, vamos ter de falar de números, mas prometo que será rápido. Ela foi testada em cerca de 43 mil pessoas. Sua eficácia ficou em 95%. Isto é, de todos os 43 mil participantes do teste que tiveram Covid-19 (170 pessoas), somente 5% estavam no grupo que tinha recebido a vacina (8 pessoas). Além disso, 10 pessoas desenvolveram a forma grave da doença, mas somente 1 havia recebido a vacina (9 eram do grupo placebo). Isto demonstra uma eficácia de 90% em reduzir a gravidade da forma de Covid-19 desenvolvida.

    Se você não lembra da explicação da eficácia, confere o nosso primeiro texto aqui.

    Em relação às reações, a vacina foi bem tolerada. Em uma análise prévia feita pelos pesquisadores, os únicos efeitos adversos graves que as pessoas disseram ter sentido foram cansaço e dor de cabeça. E isto em uma pequena porcentagem dos casos. Alguns idosos reportaram febre e efeitos colaterais leves. Mas isso já era um resultado esperado e não compromete a segurança da vacina.

    Moderna

    A candidata da vacina da Moderna 2,3 foi testada em 30 mil pessoas nos Estados Unidos. Ela possui uma eficácia muito parecido com a da Pfizer/Biontech, de aproximadamente 94,1%. Ou seja, de todos as pessoas testadas 196 tiveram Covid-19, dessas somente 11 estavam no grupo que tinha recebido a vacina (5,9%).

    Houve também 30 pessoas que desenvolveram a forma severa da Covid-19, mas todos estavam no grupo placebo. Este dado demonstra uma eficácia de 100% em proteger os pacientes imunizados de desenvolver a forma severa da doença.

    Essa vacina também foi bem tolerada e teve poucas reações. Sendo que a grande maioria dos efeitos colaterais que foram reportados terem sido leves e moderados. Durante a aplicação da primeira dose, o único efeito adverso grave que foi dito pelos pacientes foi a dor local da aplicação. Já após a segunda dose, uma pequena quantidade de pacientes disseram ter tido cansaço, dor muscular, dor nas juntas, dor de cabeça, e vermelhidão no local da injeção.

    Astrazeneca/Oxford

    Por fim, a vacina da Astrazeneca/Oxford 4,5 veio com resultados um pouco diferentes. A princípio eles testaram duas dosagens diferentes para aplicação e cada uma delas teve uma eficácia.

    Os pacientes que receberam uma meia-dose na primeira aplicação e uma dose inteira na segunda tiveram uma eficácia de 90%. Enquanto os pacientes que receberam doses inteiras nas duas aplicações tiveram uma eficácia de 62%. No total, a média da eficácia foi de 70%. Isto é, de todos os pacientes que foram testados 131 tiveram Covid-19. Mas destes somente 39 haviam recebido a vacina. Confuso? Sim! Todavia vamos explicar melhor isso daqui a pouco. Esses testes já foram feitos em 23 mil pessoas no Reino Unido, Brasil e África do Sul. No entanto, os pesquisadores esperam testar 60 mil pessoas até o fim do ano. Isso com testes que já estão sendo conduzidos em outros países da América Latina, Europa, Ásia e África.

    Também de acordo com os pesquisadores, a vacina foi bem tolerada por todos os grupos, mas eles não entraram em detalhes sobre os efeitos colaterais.

    OK, muito bonito! Mas traduz pra mim: o tudo isso significa? Tem algum problema ou diferencial com alguma delas?

    As diferenças entre as vacinas

    Bem, a princípio a primeira grande diferença entre as vacinas é o tipo delas. Principalmente entre a da Pfizer/Biontech e Moderna com a da Astrazeneca/Oxford 6.

    No caso das duas primeiras, o que é injetado é uma “receita” de como produzir a proteína Spike. Esta proteína está envolta por uma bolha de gordura. Já no segundo caso, na vacina Astrazeneca/Oxford, o que é injetado é um vírus que causa resfriado (adenovírus) em chimpanzés. Mas é importante ressaltar que o material genético dele foi modificado. Com isso, este vírus modificado não consegue se multiplicar ou causar o resfriado. Além disso, ainda carrega as ordens de como produzir essa mesma proteína Spike. Em termos mais simples, esse vírus funciona como um “cavalo de tróia” para a receita da Spike. É necessário dizer que nesse caso, não há necessidade de se preocupar com esse vírus, visto que não consegue se replicar dentro das nossas células.

    Além dessa óbvio diferença, um grande ponto que vem sendo discutido é em que temperatura essas vacinas precisam ser armazenadas. A candidata da Pfizer/Biontech necessita de temperaturas próximas do -70oC. Enquanto que a candidata da Moderna necessita de -20oC. Já a Astrazeneca/Oxford pode ficar armazenada em temperaturas entre 2-8oC. O grande motivo disso é o tipo de tecnologia usada nas vacinas.

    A receita para produzir a proteína Spike

    A “receita”, que comentamos mais cedo para produzir a Spike, é o chamado RNA mensageiro (RNAm). Esta é uma molécula facilmente degradada no ambiente. Um exemplo disso é que na nossa lágrima, suor, saliva e outras secreções temos enzimas capazes de destruí-las. Como se não bastasse, ainda há a camada de gordura que recobre e protege esse RNA mensageiro que também não é muito estável. Por causa disso são necessárias temperaturas tão baixas. Pois assim essas enzimas são inativadas, e toda a estrutura do RNAm – além da capa de gordura – é preservada 7

    Já na vacina da Astrazeneca/Oxford, o que recobre o material genético entregue para a célula é a cobertura de um vírus comum (basicamente proteínas). E isto é muito mais tolerante à temperaturas mais altas. No fim, o impacto real disso será na logística de distribuição das vacinas (que será comentado mais à frente).

    Sobre os números de pacientes

    Um outro ponto problemático vem sendo comentado entre cientistas 8. A falta de clareza em relação aos números de pacientes nos resultados comentados pela Astrazeneca/Oxford foi ponto de debate. Em especial comparado a Pfizer/Biontech e Moderna. Principalmente referente aos pacientes que desenvolveram a forma severa da Covid-19 e a porcentagem de pacientes que tiveram sintomas colaterais.

    Por fim, a principal questão que se discutiu há alguns dias foi referente ao problema de produção das doses. Em relação à duração da fase 3 de testes da Astrazeneca/Oxford 9,10, fez com que uma porcentagem dos participantes recebesse uma primeira dose com meia dosagem. Isso ao invés de inteira, o que no fim das contas, se mostrou bem mais efetivo do que uma primeira dose completa. O motivo da resposta imune ter sido melhor é desconhecido para a comunidade científica. Todavia, algumas hipóteses já estão sendo pensadas. Por exemplo: um número menor de vírus poderia estimular melhor um subgrupo de linfócitos T que auxiliam na geração de anticorpos. Uma outra hipótese em potencial debate sobre o desenvolvimento de uma resposta imune também contra o vírus “Cavalo de Tróia”. Assim, essa resposta a ele pode ter camuflado a resposta contra a Spike em si 11

    Tá, e quanto elas vão custar pra mim? O Brasil tem acordo com alguma dessas empresas? 

    A princípio tem se falado que a vacina mais barata será a da Astrazeneca/Oxford. Inclusive, o Brasil tem acordos – ficando em torno de 3-4 dólares por dose. Já para a vacina da Moderna e da Pfizer/Biontech tem se falado em aproximadamente 20 dólares por dose. No entanto, pode chegar até a 32 ou 35 dólares 12,13. Para essas duas últimas, nós não temos qualquer acordo, até o momento. 

    A da Pfizer/Biontech precisará equipamentos muito mais caros para conseguirem ser armazenadas dos que as suas duas concorrentes. O que pode ser um problema para países subdesenvolvidos, visto que isso encarece o preço da dose (que comentaremos mais à frente também)

    O grande motivo das candidatas da Moderna e Pfizer/Biontech serem mais caras é toda a logística necessária para o transporte. No caso da PfizerBiontech, também há a questão da necessidade de baixíssimas temperaturas. Dessa forma, há um encarecimento do processo visto que é preciso equipamentos bem mais caros para conseguir se armazenar as doses da vacina. Além disso, há todo um esforço da Universidade de Oxford para que a sua candidata seja vendida a custo de produção. Especialmente durante essa fase mais difícil da pandemia. Assim, países que não possuem condições financeiras tão favoráveis para a compra de vacinas mais caras, teriam acesso14.

    Referências:

    1. Pfizer and Biontech conclude phase 3 study of covid-19 vaccine candidate, meeting all primary efficacy endpoints.
    2. Moderna’s COVID-19 Vaccine Candidate Meets its Primary Efficacy Endpoint in the First Interim Analysis of the Phase 3 COVE Study.
    3. Moderna Announces Primary Efficacy Analysis in Phase 3 COVE Study for Its COVID-19 Vaccine Candidate and Filing Today with U.S. FDA for Emergency Use Authorization
    4. AZD1222 vaccine met primary efficacy endpoint in preventing COVID-19
    5. Oxford University breakthrough on global COVID-19 vaccine
    6. Lowe, D (2020) Coronavirus Vaccine Update, July 7.
    7. Kaiser, J (2020) Temperature concerns could slow the rollout of new coronavirus vaccines.
    8. Booth, W, Johnson, CY (2020) AstraZeneca coronavirus vaccine up to 90% effective and easily transportable, company says.
    9. Cohen, J (2020) After dosing mix-up, latest COVID-19 vaccine success comes with big question mark.
    10. The Guardian (2020) Oxford Covid vaccine hit 90% success rate thanks to dosing error.
    11. Callaway, E (2020) Why Oxford’s positive COVID vaccine results are puzzling scientists, Nature.
    12. New York Times (2020) Early Data Show Moderna’s Coronavirus Vaccine Is 94.5% Effective
    13. The Guardian (2020) Oxford AstraZeneca Covid vaccine: everything we know so far.
    14. The Guardian (2020) Oxford AstraZeneca vaccine to be sold to developing countries at cost price.

    Este texto é original e escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • E aqueles resultados das vacinas? – Parte 2: Memória Imunológica

    No texto anterior, nós explicamos rapidamente como eram e o que se verificava em cada uma das fases de testes do desenvolvimento de uma vacina. Além disso, falamos sobre o que era a “eficácia” delas que tanto se fala na mídia nesses dias. Mais recentemente, entretanto, também se tem falado muito que as vacinas precisam ter “eventos” nos testes de eficácia…

    Tá, mas o que são esses tais eventos?

    Esse termo “eventos”, quanto aos resultados prévios das vacinas, é utilizado para se referir àquelas pessoas que se infectaram com o SARS-CoV-2 (e possivelmente desenvolveram alguma forma da Covid-19) após receber a candidata à vacina ou o placebo.

    Como assim? A pessoa é vacinada e se contagia?

    Calma… Na verdade, são esses eventos que servem para – entre outras coisas – descobrir a eficácia que comentamos na postagem anterior. Confuso? Vamos lembrar o exemplo que usamos anteriormente para entender o que era a eficácia:

    “Suponha que 50.000 pessoas serão testadas, 25.000 com a vacina e 25.000 com o placebo. Desses 50.000, 100 se contaminaram com o patógeno em um período de 3 anos. Analisando essas 100 pessoas que se infectaram, descobriu-se que 97 delas estava no grupo que recebeu o placebo e somente 3 no grupo vacinado. Fazendo uma divisão simples, descobre-se então que a vacina tem uma eficácia de 97%.”

    Nesse exemplo em específico, essas 100 pessoas que se infectaram são os chamados “Eventos”. Isto é, simplesmente uma forma mais impessoal e técnica de se referir aos pacientes nesses tipos de estudo, algo muito comum dentro da linguagem científica. Mas um pouco difícil de entender para não especialistas.

    Com as notícias dos testes sendo veiculados mais rapidamente, alguns termos técnicos acabam entrando nos noticiários, sem que a gente detalhe muito o significado!

    Ok, entendi isso, mas e a pergunta de ouro: quanto tempo a imunidade gerada por essas vacinas dura?

    Bom, já essa pergunta, junto com “A pessoa vacinada é capaz de não transmitir o vírus?” são perguntas bem mais complicadas de se responder, uma vez que demandam muito mais tempo e testes. 

    A princípio não sabemos quanto tempo a imunidade dessas vacinas dura. Assim, mesmo dentro da comunidade científica ainda há muitas dúvidas e todo dia vemos notícias de pesquisadores falando que a imunidade pode durar desde poucos meses até alguns anos 1-5. Toda essa confusão acontece pois a pandemia começou há poucos meses (apesar de não parecer visto o tempo que muitos de nós estamos em casa). Isto é, só agora estão começando a aparecer estudos que avaliam como o sistema imune humano tem respondido ao SARS-CoV-2 em um segundo contato 6-8

    Além disso, muitos dos primeiros estudos que saíram avaliando a duração da imunidade focaram nos anticorpos, mostrando que após poucos meses os níveis deles estavam bem baixo, o que é algo que pode assustar quando falamos. No entanto, é comum dentro da resposta imune, que estudamos usualmente 9-12. Contudo, é necessário lembrar que os anticorpos são somente “um braço” da resposta imune adaptativa. De poucos meses para cá já começaram a sair estudos que trazem mais informações sobre como os linfócitos T e B, o “braço celular” da resposta imune adaptativa, se comportam durante e após a infecção de Covid-19 13-17

    Memória Imunológica

    Vamos relembrar que os linfócitos são os responsáveis por gerar a Memória Imunológica (já comentada nestes textos aqui, aqui e aqui). Isto é o fenômeno que permite que nosso corpo responda mais forte, mais rápido e de forma mais eficiente em um segundo contato com um patógeno (no nosso caso, o vírus SARS-CoV-2). Toda a ideia por trás das vacinas é simular exatamente o primeiro contato com esse patógeno. Assim, quando nós entrarmos em contato de verdade com o vírus, já teremos células de memória e responderemos melhor contra ele. Mais do que isso, entramos em contato com o vírus sem sentir todos os sintomas da doença causada por ele. 

    Sobre a duração da imunidade

    Para responder a pergunta sobre a duração da imunidade, os pesquisadores que estão trabalhando com as novas candidatas a vacinas precisarão olhar para essas células: os linfócitos B e T. Entretanto, que os níveis de anticorpos caem após algum tempo nós já sabemos. Mas como disse anteriormente, isso é normal.

    Veja, após resolver a infecção, o corpo não vai querer continuar gastando energia e recursos preciosos para produzir milhões de cópias de anticorpos. O nosso corpo vai diminuir então a quantidade de anticorpos produzidos pelos linfócitos B de memória – agora chamados de Plasmócitos – para níveis bem baixos. Assim, os Plasmócitos ficam guardados na Medula Óssea. No entanto, eles não ficam completamente ausentes do corpo não!

    Esses plasmócitos ficam “dormindo” na medula óssea, enquanto liberam pequenas quantidades de anticorpos durante todo o tempo. Uma vez que o corpo entre em contato novamente com o patógeno, esses plasmócitos são reativados e começam a liberar grandes quantidades de anticorpos no sangue, para combater o patógeno mais uma vez.

    Linfócitos T

    Quanto aos Linfócitos T, primeiro é preciso lembrar que há dois deles: o Auxiliar e o Citotóxico. O primeiro deles é responsável por coordenar toda a resposta imune inata e adaptativa, ajudando as outras células a realizarem suas funções a partir da liberação de moléculas chamadas Citocinas. Já o segundo tem uma função muito mais direta: matar células modificadas (cancerígenas ou infectadas por um patógeno, como um vírus).

    Após um primeiro contato, assim como acontece para os linfócitos B, também são formados linfócitos T auxiliares e citotóxicos de memórias. Estes ficam guardados – em sua grande maioria – no baço e linfonodos (pequenos órgãos anexos à circulação linfática e distribuídos por todo o nosso corpo).

    Contudo, algumas dessas células ficam viajando entre os linfonodos e tecidos corporais de forma que dizemos que eles estão patrulhando o corpo. Por exemplo, em tecidos de órgãos como os pulmões, cérebro, intestino, fígado, rins, bexiga, etc. A partir do momento que as células patrulheiras encontram o mesmo patógeno de novo, elas liberam uma série de moléculas no sangue. Estas moléculas viajam até onde as células de memória estão guardadas. Assim, as células de memória são ativadas (“acordadas”) por essas moléculas e se juntam ao novo combate ao patógeno. 

    Análise por grupos de pessoas

    Dito tudo isso, é somente analisando as respostas por parte dessas células que os cientistas vão conseguir determinar qual a duração da imunidade contra o SARS-CoV-2. Para isso eles terão que analisar e comparar a atividade dessas células periodicamente durante os próximos meses em pessoas dos grupos:

    • Vacinado que não se infectou,
    • Vacinado que se infectou,
    • Controle que não se infectou,
    • Controle que se infectou.

    Para complicar ainda mais toda a situação e colocar mais uma variável, precisamos ficar de olho ainda para possíveis mutações que o vírus sofra nesse tempo, pois caso o nível de mutações dele seja muito alto (por exemplo como o vírus Influenza, causador da gripe comum), a vacina pode parar de ser efetiva em sua prevenção.

    Mas, e essas ressalvas?

    Essas ressalvas sobre as pesquisas seguem sendo feitas, mas não fazem com que as vacinas não sejam seguras!

    As vacinas que estão na fase 3 de testes já têm sua segurança testada (nosso texto anterior fala isso com mais detalhes!). Dessa forma, estas análises que serão continuadas após liberarmos a vacina é para conseguirmos averiguar por quanto tempo elas manterão sua eficácia. Ou seja, se uma dose será suficiente para toda a vida, se precisaremos nos vacinar anualmente ou a cada 10 anos, por exemplo! 

    Nós sabemos que já falamos aqui, mas não custa ressaltar: as vacinas que estão nestas fases de teste são seguras sim!

    Por fim, agora que entendemos tudo isso, fica ligado que no próximo texto. Vamos começar a discutir os resultados preliminares das vacinas que saíram recentemente, suas diferenças e algumas questões levantadas por pensadores ao redor do mundo.

    Para Saber mais

    1. BBC (2020) Coronavírus: o que a Ciência já sabe sobre imunidade pós-covid
    2. SCIENCE NEWS (2020) We still don’t know what COVID-19 immunity means or how long it lasts.
    3. Immunity to SARS-CoV-2 Lasts at Least Six Months, Data Show
    4. Immunity to the Coronavirus May Last Years, New Data Hint.
    5. Coronavirus immunity can last more than six months, study suggests
    6. To, KKW, Hung, IFN, Ip, JD, Chu, AWH, Chan, WM, Tam, AR, … & Lee, LLY (2020) COVID-19 re-infection by a phylogenetically distinct SARS-coronavirus-2 strain confirmed by whole genome sequencing. Clinical infectious diseases. Disponível:
    7. Tillett, R. L., Sevinsky, J. R., Hartley, P. D., Kerwin, H., Crawford, N., Gorzalski, A., … & Farrell, M. J. (2020). Genomic evidence for reinfection with SARS-CoV-2: a case study, The Lancet Infectious Diseases.
    8. Mulder, M., van der Vegt, D. S., Munnink, B. B. O., GeurtsvanKessel, C. H., van de Bovenkamp, J., Sikkema, R. S., … & Wegdam-Blans, M. C. (2020). Reinfection of Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2 in an Immunocompromised Patient: A Case Report. Clinical Infectious Diseases: An Official Publication of the Infectious Diseases Society of America
    9. Why You Shouldn’t Worry About Studies Showing Waning Coronavirus Antibodies. Acessado em: 30/11/2020. Disponível em:
    10. Iyer, AS, Jones, FK, Nodoushani, A, Kelly, M, Becker, M, Slater, D, … & Astudillo, M (2020) Persistence and decay of human antibody responses to the receptor binding domain of SARS-CoV-2 spike protein in COVID-19 patients, Science immunology, 5(52).
    1. Wajnberg, A, Amanat, F, Firpo, A, Altman, DR, Bailey, MJ, Mansour, M, … & Stadlbauer, D (2020) Robust neutralizing antibodies to SARS-CoV-2 infection persist for months, Science.
    2. Wu, J, Liang, B, Chen, C, Wang, H, Fang, Y, Shen, S, … & Wu, Y (2020). SARS-CoV-2 infection induces sustained humoral immune responses in convalescent patients following symptomatic COVID-19, MedRxiv.
    3. Rodda, LB, Netland, J, Shehata, L, Pruner, KB, Morawski, PA, Thouvenel, CD, … & Fahning, ML (2020) Functional SARS-CoV-2-specific immune memory persists after mild COVID-19, Cell.
    4. Sekine, T, Perez-Potti, A, Rivera-Ballesteros, O, Strålin, K, Gorin, JB, Olsson, A, … & Wullimann, DJ (2020) Robust T cell immunity in convalescent individuals with asymptomatic or mild COVID-19, Cell, 183(1), 158-168.
    5. Dan, JM, Mateus, J, Kato, Y, Hastie, KM, Faliti, C, Ramirez, SI, … & Peters, B (2020) Immunological memory to SARS-CoV-2 assessed for greater than six months after infection, bioRxiv.
    6. Schulien, I, Kemming, J, Oberhardt, V, Wild, K, Seidel, LM, Killmer, S, … & Binder, B (2020) Characterization of pre-existing and induced SARS-CoV-2-specific CD8+ T cells, Nature medicine, 1-8.
    7. Le Bert, N, Tan, AT, Kunasegaran, K, Tham, CY, Hafezi, M, Chia, A, … & Chia, WN(2020) SARS-CoV-2-specific T cell immunity in cases of COVID-19 and SARS, and uninfected controls, Nature, 584(7821), 457-462.

    Para mais informações sobre a resposta imune humoral contra COVID-19:

    Ripperger, TJ, Uhrlaub, JL, Watanabe, M, Wong, R, Castaneda, Y, Pizzato, H A, … & Erickson, HL (2020) Orthogonal SARS-CoV-2 serological assays enable surveillance of low-prevalence communities and reveal durable humoral immunity, Immunity.

    Gudbjartsson, DF, Norddahl, GL, Melsted, P, Gunnarsdottir, K, Holm, H, Eythorsson, E, … & Thorsteinsdottir, B (2020) Humoral immune response to SARS-CoV-2 in Iceland, New England Journal of Medicine, 383(18), 1724-1734.

    Seow, J, Graham, C, Merrick, B, Acors, S, Pickering, S, Steel, KJ, … & Betancor, G (2020) Longitudinal observation and decline of neutralizing antibody responses in the three months following SARS-CoV-2 infection in humans, Nature Microbiology, 1-10.

    Gaebler, C, Wang, Z, Lorenzi, JC, Muecksch, F, Finkin, S, Tokuyama, M, … & Oliveira, TY (2020) Evolution of Antibody Immunity to SARS-CoV-2, Biorxiv.

    Este texto é original e escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • De graça, até injeção na testa? (parte 2)

    Texto de Gian Guadagnin, Gildo Girotto Júnior e Ana Arnt

    O que é uma vacina e quais os tipos de vacina

    As vacinas são produtos biológicos que promovem o desenvolvimento do que chamamos de memória imunológica ativa. Isto ocorre por meio da interação do organismo (nosso corpo) com os agentes causadores de doenças (vírus e bactérias) mortos, enfraquecidos ou fragmentados ativando a produção de anticorpos e células de memória (os nossos agentes de proteção). Assim, esses “agentes” atuarão futuramente contra o invasor biológico ativo (o vírus) caso o indivíduo seja infectado pela doença no futuro. E o melhor, os materiais biológicos da vacina são intensamente testados para não causarem reações adversas.

    A imunização ativa promovida pela vacina é semelhante a de quando o indivíduo contrai a doença naturalmente, com a diferença de que a vacina não vai causar problemas uma vez que o causador da doença (patógeno) está morto, desativado ou o que injeta é apenas um fragmento. Isto é, ele apenas servirá de alerta, ou de demonstração de suas características para o organismo estar preparado para atuar no caso de uma infecção real. 

    “Ah, mas eu ouvi dizer que uma pessoa tomou vacina e passou mal”.

    Existem casos em que no desenvolvimento da imunidade o corpo possa ter sintomas leves da doença, mas isso não gera riscos à saúde de quem tomou. 

    Espera aí que nós vamos repetir mais uma vez:

    VACINAS SÃO TESTADAS PARA NÃO CAUSAREM RISCOS.

    Por exemplo, o artigo publicado no dia 17/11/2020, na revista The Lancet, traz os resultados da vacina CoronaVac (desenvolvida pela chinesa Sinovac) mostrando eficiência de 97% enquanto a Pfizer divulgou, no mesmo dia, estudo com eficiência de 95% para seu produto com efeitos colaterais em apenas 2 a 3,8% dos pacientes. Ainda assim, não há efeitos graves noticiados.

    As ressalvas são para quem apresenta alguma reação alérgica à substância da vacina ou a uma doença específica. Dessa forma, nesse caso, é importante lembrarmos da responsabilidade social na chamada imunidade de rebanho. Ou seja, aqueles que não apresentam reações (a imensa maioria) precisam tomar a vacina para diminuir a probabilidade de disseminação dos vírus ou bactérias, protegendo a si mesmo e à quem não pode tomar a substância.

    “Mas eu li que têm mais de um tipo de vacina, e uma delas pode fazer mal”

    Bom, é importante saber que são três os principais tipos de vacina: as de agentes atenuados (ou seja, vivos mas incapazes de causar a doença), as de agentes inativados e as de subunidades (proteínas, partes ou fragmentos, quando é impossível utilizar o patógeno todo). Além disso, há diferentes técnicas ou formas de entrada destes agentes no nosso corpo (sobre os tipos de vacina você pode consultar esse texto aqui).

    Destaca-se aqui que a vacina produzida pela Pfizer utiliza uma tecnologia inédita mas não nova. É uma tecnologia que vem sendo estudada desde meados dos anos 1990. Como assim? A tecnologia está sendo usada pela primeira vez em humanos, sim.

    Todavia, vem sendo desenvolvida e testada há anos, seguindo protocolos de segurança rígidos tanto para vírus, como para bactérias e até doenças autoimunes. Isto é, as etapas de segurança – que envolvem testes com animais – já estão consolidadas e não apresentam risco algum. Tal como as outras técnicas de desenvolvimento de vacinas. Sim! Todas as técnicas possuem etapas de desenvolvimento com cobaias, antes de testarem em seres humanos.

    Assim, parte da “rapidez” que temos desenvolvido neste momento é por estarmos testando vacinas cujas etapas de segurança se relacionam às etapas testadas em animais previamente – antes dos testes de segurança em seres humanos. E estas etapas são absolutamente necessárias, testadas e seguras.

    A terapia de vacinação gênica é fruto do desenvolvimento de pesquisas no campo da biotecnologia e com desenvolvimento da técnica em si, aprimorada ao longo deste tempo. Ela consiste basicamente em fazer nosso corpo produzir uma proteína do vírus.

    Mas é seguro?

    Em suma, a vacina gênica induz nosso corpo a produzir uma proteína e, em seguida, estimula uma resposta imune muito precisa. Dessa forma, estas pesquisas têm demonstrado que as vacinas gênicas são mais seguras, mais rápidas de serem produzidas e mais eficazes. No caso específico da vacina que vem sendo produzida pela Pfizer, a grande questão reside, ainda, no armazenamento. Vocês já devem ter visto noticiado que esta vacina precisa ser armazenada em freezers que se mantêm a temperaturas de -70ºC e há muito pouca estrutura para isto – no Brasil e, talvez, no mundo.

    Todavia, isto também tem sido fonte de debate e pesquisa, para contornarmos este problema!

    Quer saber mais desta vacina? Recomendamos estes dois fios da @mellziland  e da @dogarret no Twitter

    Bom, mas sempre bom lembrar:

    Independentemente do tipo, as vacinas têm se mostrado bastante eficientes na proteção a várias doenças. Por exemplo, um caso especial, queridíssimo da ciência (e não à toa) é o da poliomielite, ou paralisia infantil, erradicada no Brasil em 1989 exatamente por causa da ampla vacinação no território nacional. Mas ainda lembrando (como falamos no texto anterior) que esta doença gravíssima corre o risco de voltar com o crescimento do movimento anti-vacina. 

    Ah mas será que dá pra confiar na vacina chinesa?”

    Quem produz as vacinas? Como ter certeza que seguem um método rigoroso de testes e de preparo? Estas questões juntamente com informações desconexas que circulam por aí podem causar certo receio. No entanto, as vacinas são desenvolvidas segundo um código de práticas internacionais rígido, que regula a produção de insumos para a saúde em todos os países, da Estônia ao Brasil, da Alemanha à Índia.

    No próximo texto

    Nós vamos responder: Mas que protocolos são esses? Calma que logo logo a gente já volta a falar sobre isso! Aguarde!

    Para saber mais

    BBC (2020) Vacina da Pfizer: como funciona a nova tecnologia que pode revolucionar a imunização

    Brasil, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Resolução RDC nº 4, de 10 de fevereiro de 2009, Brasília: Anvisa; 2009

    Costa, C e Tombesi, C (2020) Covid-19: os três passos do método revolucionário para criar vacinas de RNA, BBC.

    Domingues, CMAS, & Teixeira, AMS (2013) Coberturas vacinais e doenças imunopreveníveis no Brasil no período 1982-2012: avanços e desafios do Programa Nacional de Imunizações, Epidemiologia e Serviços de Saúde, 22(1), 9-27.

    Ferrera F, La Cava A, Rizzi M, Hahn BH, Indiveri F, Filaci G (2007) Gene vaccination for the induction of immune tolerance, Ann N Y Acad Sci, 2007 Sep,1110:99-111.

    Fiocruz: Vacinas: as origens, a importância e os novos debates sobre seu uso.

    Homma, A, Martins, RM; Leal, MLF, Freire, MS, Couto, AR (2011) Atualização em vacinas, imunizações e inovação tecnológica, Ciênc saúde coletiva vol16 no2.

    Pinto, EF, Matta, NE e Cruz, AM (2011) Vacinas: progressos e novos desafios para o controle de doenças imunopreveníveis, Acta Biol Colômbia.

    Reinhardt, G, Walflor, HSM, Trigo, JHB, Ribas, JLC (2017) Desenvolvimento e aplicações de vacinas gênicas no tratamento e prevenção de doenças, Saúde e Desenvolvimento, v11, n7.

    Yanjun Zhang, Gang Zeng, Hongxing Pan, Prof Changgui Li, Yaling Hu, Kai Chu, Safety, tolerability, and immunogenicity of an inactivated SARS-CoV-2 vaccine in healthy adults aged 18–59 years: a randomised, double-blind, placebo-controlled, phase 1/2 clinical trial, The Lancet Infectuous Diseases.

    Textos do Blogs sobre Vacinas:

    E aqueles resultados das Vacinas? (Parte 1)

    Obrigatoriedade da Vacina: discurso contrário vem do século XIX

    Vacinas: de onde vêm e para onde vão

    Sobre Vacinas, método científico e transparência na ciência (parte 1)

    Vacina, Estado e Liberdade: a manipulação do debate – Parte 1

    De graça, até injeção na testa? (parte 1)

    Os Autores

    Ana Arnt é Bióloga, Mestre e Doutora em Educação. Professora do Departamento de Genética, Evolução, Microbiologia e Imunologia, do Instituto de Biologia (DGEMI/IB) da UNICAMP e do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática (PECIM).

    Gildo Girotto Junior é Licenciado em Química (UNESP), Doutor em Ensino de Química (USP) e atualmente é professor e pesquisador no Instituto de Química da Unicamp

    Gian Carlo Guadagnin é estudante de graduação em Licenciatura em História (UNICAMP)

    Este texto é original e escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


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