Tag: cobertura vacinal

  • Vacinômetros: quais dados estão sendo informados?

    Texto de Ana de Medeiros Arnt e Leonardo Augusto Medeiros

    Vocês já perceberam como as informações sobre o andamento da vacinação estão confusos e podem atrapalhar nossa compreensão sobre os dados? Hoje nós resolvemos olhar os famosos “vacinômetros”!

    Quando vamos analisar, há vários dados que parecem conflitantes e, até para tomarmos decisões baseados na sensação de estarmos mais ou menos seguros – individual ou populacionalmente. Verdade seja dita, não sei vocês, mas do lado de cá, cada um de nós vibra com as postagens de fotos de vacinas e com os números de vacinados crescentes!

    Mas como deveríamos olhar estes dados e que tipos de cuidados precisamos ter?

    Temos usado um termo de forma recorrente para falar de vacinação em massa que é cobertura vacinal. A cobertura vacinal nada mais é do que a quantidade de pessoas, dentro de uma população, que está com o esquema vacinal completo. Já o esquema vacinal completo, para COVID-19 seriam as duas doses e o tempo de imunização, ou a dose única e o tempo de imunização.

    Ao longo de toda a comunicação sobre vacinação também falamos sobre como seria importante ter uma alta cobertura vacinal para termos segurança no que tange à diminuição de casos e de circulação de vírus. Claro que tudo isso atrelado à manutenção de medidas não-farmacológicas tanto quanto fosse possível. Isto é: uso de máscaras (preferência para as filtrantes tipo PFF2), distanciamento físico / social, evitar ao máximo espaços fechados e não ventilados.

    Mas e quanto é uma boa cobertura vacinal? No início de 2021 apontamos que seria importante termos acima de 70% de vacinados na população para começarmos uma abertura segura. Neste meio tempo, tivemos o início da vacinação em nosso país e, também, a chegada da variante Gamma (p.1) e todo o caos de saúde pública vivenciado em Março e Abril deste ano – como se fosse pouco tudo o que tínhamos vivenciado até então.

    Em suma, temos apontado mais recentemente que seria fundamental termos 75% de cobertura vacinal – ou mais do que isto, perto de 90% frente à variante Delta. 

    Cobertura vacinal de 75% representa o quê exatamente?

    Em nosso país, considerando a totalidade da população 75% representa todos os adultos acima de 18 anos estarem vacinados com duas doses ou dose única. Todavia, antes, alguns lembretes:

    1. Se tomarmos as vacinas que têm regime de duas doses precisamos de duas doses para nos protegermos

    2. Nos protegermos significa também proteger quem está em nossa volta.

    3. Estarmos vacinados significa seguir usando medidas não farmacológicas tanto quanto for possível.

    Dados públicos de vacinação nas redes sociais e sites oficiais

    Como buscamos informações

    Sobre os dados de vacinação nos estados e municípios brasileiros, nós pedimos ajuda de quem segue nosso trabalho na rede social Twitter para ver como algumas prefeituras e estados estão divulgando os dados! Vimos vários modos de divulgação e vamos apresentar aqui alguns deles.

    Para explicar como vamos apresentar estes dados

    É importante dizer que tentamos agrupar por “como os dados estão organizados”: há quem só diga quantas doses foram aplicadas, há quem apresente porcentagens de populações ou parcelas de população vacinadas; há quem coloque vacinação junto com outros dados da COVID. Tudo isso modifica bastante a informação que está nos sendo fornecida e, também a facilidade ou não de lermos estes dados.

    De modo algum nosso intuito é desmerecer o trabalho das prefeituras que têm feito um esforço grande em deixar as populações de seus municípios informadas, já ressaltamos aqui! No entanto, conforme vamos recebendo perguntas, também percebemos que existe dificuldade de compreensão das informações que existem não só nas comunicações em si, mas em um montante de informações que a população procura em outros espaços para conseguir tomar decisões para melhor se prevenir. E, muitas vezes, é nessa quantidade de informações e dificuldade de entender números específicos, que também vamos nos confundindo… 

    Assim, organizamos tudo a partir de como consideramos que alguns dados poderiam ser apresentados os dados de vacinômetros, a partir da ideia de cobertura vacinal, já que este é um dado que nos dá uma ideia geral de como a nossa população está neste momento.

    Por fim, também ressaltamos que usamos as informações que nos foram fornecidas, isto é: não fomos atrás para ver “como mesmo” estes dados estão nas plataformas das prefeituras. Dessa maneira, compreendemos que essa decisão se faz necessária deixar clara, em função de termos apresentado nossas ideias aqui a partir de como o público coleta informações sobre a vacinação – e muitas vezes como este público vem até nós perguntar. É a partir destes dados divulgados em redes sociais e sites oficiais de seus municípios.

    Nós dividimos as informações que recebemos em três categorias para apresentar a vocês:

    1) Vacinômetros com aplicações de doses: Cidades que apresentam números totais de vacinados;

    2) Vacinômetros com porcentagens de vacinados: Cidades ou estados que apresentam porcentagem de “público vacinado”, esta categoria apresentou variações que dividimos em

    • População com primeira dose completa: considera apenas a porcentagem que tomou a primeira dose, para apresentar os dados ao público;
    • Público vacinável vacinado: Isto é, quantas pessoas entre aquelas que podem ser vacinadas foram vacinadas;
    • População Vacinada: faltando dados sobre informações de doses, população vacinável e população geral.
    • População Adulta Vacinada e População Geral Vacinada: detalhando as informações em categorias

    3) Vacinômetros com porcentagens de vacinação: porcentagens aleatórias e sem informações detalhadas: porcentagens que não informam exatamente sobre o que se trata o dado apresentado.

    Ressaltamos que recebemos uma quantidade enorme de exemplos e não foi possível usar todos, infelizmente. Foram mais de 70 mensagens recebidas, as quais agradecemos imensamente. Dessa forma, buscamos agrupar e utilizar o máximo de exemplos para diversificar a informação e mostrar informações palpáveis para compreender melhor como ler estes vacinômetros.

    Vamos aos exemplos de vocês?

    Vacinômetros com aplicações de doses

    1/3 Vacinômetros de municípios que colocam aplicações de doses como informação
    2/3 Vacinômetros de municípios que colocam aplicações de doses como informação
    3/3 Vacinômetros de municípios que colocam aplicações de doses como informação

    Vacinômetros com porcentagens de vacinados

    1/5 Vacinômetros de municípios que colocam porcentagem da população como informação
    2/5 Vacinômetros de municípios que colocam porcentagem da população como informação
    3/5 Vacinômetros de municípios que colocam porcentagem da população como informação
    4/5 Vacinômetros de municípios que colocam porcentagem da população como informação
    5/5 Vacinômetros de municípios que colocam porcentagem da população como informação

    Vacinômetros com porcentagens de vacinação

    Vacinômetros com porcentagens de vacinação

    O que podemos falar sobre estes exemplos que trouxemos aqui?

    É de suma importância que as prefeituras apresentem os dados de maneira clara e objetiva, dando ênfase sempre às informações com maior impacto sobre o combate à pandemia. Dessa forma, é bom lembrar que, em casos como os que estamos vivendo, as comunicações oficiais também têm um papel de informar as populações para melhor conduzir suas ações e decisões acerca das proteções individuais.

    Assim, nós consideramos que a porcentagem da população total que já foi vacinada, com uma dose é importante sim. Mas especialmente a parcela que já está com seu esquema vacinal completo é fundamental como dado técnico para compreendermos em que etapa estamos neste momento, de cobertura vacinal e, portanto, proteção coletiva.
    Ao fazer recortes específicos, como, por exemplo, considerar apenas o percentual de adultos vacinados, ou até mesmo divulgar apenas o percentual entre as vacinas recebidas e aplicadas, pode-se gerar confusão na população, que vê números mais altos e pode ser levada à compreensão de que a cidade já está em um patamar mais alto de imunização, portanto, em um nível maior de segurança. 

    Não priorizar esses dados, divulgando outros com menor relevância prática no combate ao vírus pode ser mais um ruído – dentre tantos que temos.

    Por outro lado, não é nosso intuito (novamente) desmerecer o trabalho que todos têm feito para informar a população. Mas também apresentar a quem tem acompanhado nosso trabalho, um pouco sobre como estes dados podem ser lidos e quais limites de informações podemos extrair dali, neste momento.

    Por fim

    Este texto, feito de forma colaborativa, só tem a agradecer a todos que ajudaram enviando imagens para que conseguíssemos ver a diversidade de formas de comunicar sobre as vacinas. É importante, dentro do nosso trabalho, afim de que nós tenhamos mais condições de entender quais são as dúvidas comuns que surgem. Além disso, compreender como as informações têm sido percebidas por todos. Por fim, novamente ressaltamos que de forma alguma este levantamento teve intenção de ser “completo”, nem uma crítica direta às prefeituras, que tem feito um esforço enorme para deixar sua população informada sobre o andamento da vacinação.

    Para Saber Mais

    Cobertura vacinal, retomadas, indivíduos e população

    Sobre aberturas, cautelas e políticas públicas

    Estratégias de vacinação: o que se leva em conta?

    Coronavírus Brasil: Site oficial | Twitter 

    Vacinômetros, via Rede Análise COVID-19

    Langdon Data Monitor da Covid: Vacinação

    Os autores

    Ana de Medeiros Arnt é bióloga, Doutora em Educação, Professora do Instituto de Biologia da Unicamp e coordenadora do Blogs de Ciência da Unicamp e do Especial COVID-19

    Leonardo Augusto Medeiros é graduado em cinema e audiovisual, é um dos administradores no grupo Coronavírus Brasil e realiza o levantamento dos dados sobre a pandemia, e divulgação dos dados da vacinação.

    Este texto é original e escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

    logo_

    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os produziram-se textos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores. Além disso, os textos passaram por revisão revisado por pares da mesma área técnica-científica na Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Cobertura vacinal, retomadas, indivíduos e população

    Texto de Carol Frandsen , Maurílio Bonora Junior e Ana Arnt  

    Temos visto muito debate acerca do avanço da vacinação contra COVID-19, no Brasil e no mundo. O que parece ser, evidentemente, uma ótima notícia! Porém, junto com a esperança renovada de que venceremos esta pandemia que já nos assola há 17 meses, também percebemos que as aberturas de comércio, serviços e espaços públicos (abertos e fechados) se tornam cada vez mais frequentes. Não só aqui, mas em todo o mundo .

    Sim, sabemos que as medidas de isolamento social estão sendo cada vez menos seguidas e estimuladas. Também já cansamos de dizer que as políticas públicas brasileiras nunca possibilitaram um real isolamento e proteção das pessoas no enfrentamento da COVID-19.

    PNI e estratégias de controle de doenças

    O Programa Nacional de Imunizações (PNI) completará 50 anos em 2023. Ao longo de sua história, se consagrou como uma das grandes conquistas no controle de doenças infecciosas em nosso país. Para alcançar este patamar, aliou diferentes ferramentas: vacinações de rotina, dias nacionais de vacinação, campanhas periódicas e vigilância epidemiológica. Isto, claro, levando-se em conta o PNI inteiro – não apenas relacionada à COVID-19.

    desenho de @clorofreela

    Mas o ponto aqui é: a vacinação nunca está sozinha. A ela se aliam outros elementos. Primeiramente, vamos falar aqui de dias nacionais, campanhas periódicas e vigilância epidemiológica. A vacinação da COVID-19 alia estes elementos (ou deveria aliar). Temos datas específicas para vacinar cada parcela da população. Seja por faixa etária, seja por profissão, seja por condição de saúde, dividimos a população em grupos, lançamos datas específicas e divulgamos para que a informação atinja a todos (a princípio). 

    Das campanhas

    A campanha é mais do que a organização das datas e da distribuição de vacinas e profissionais. A campanha é, literalmente, todo o marketing publicitário e informativo, junto da vacinação das pessoas. Neste sentido, a campanha envolve logística, público alvo, mídias pagas (televisão, rádio, redes sociais…) para que a maior quantidade de pessoas possível tenha compreensão de quando vão ocorrer os procedimentos da vacinação para cada grupo que precisa se vacinar.

    A vigilância epidemiológica é outro procedimento. Este diz respeito ao rastreamento de casos confirmados da doença e tentativa de bloqueio, isolamento de pessoas contaminadas e diminuição da circulação do vírus. É uma estratégia complementar e fundamental para o enfrentamento de doenças. Todos nós sabemos e já discutimos há meses como não temos feito vigilância epidemiológica eficientemente sobre a Covid-19 em nosso país. 

    Porém é relevante apontar que nunca é tarde para começar e é emergencial que se faça isto inclusive com a vacinação avançando em nosso país!

    E o que isto tem a ver com o tema de hoje?

    Por exemplo, no dia de hoje (para quem nos lê do futuro, dia 28 de julho de 2021), o Estado de São Paulo anuncia a ampliação do funcionamento de atividades econômicas, aumento da capacidade de atendimento presencial nos comércios e serviços não essenciais (isto inclui os espaços religiosos), e sinaliza interesse no retorno às aulas.

    No entanto, consideramos importante apontar para este aligeiramento das propostas de abertura que temos visto… Elas têm levado em conta tanto melhoras nos índices de saúde (quedas consecutivas nos números de internações e óbitos), mas principalmente vacinação.

    Mas será que isto é a cobertura vacinal que temos preconizado cientificamente?

    Primeiro: “cobertura vacinal” é o termo que usamos para designar a proporção de pessoas que estão com o regime completo para uma vacina específica ou para um conjunto de vacinas, em uma dada população.

    Assim, não é apenas a quantidade de pessoas vacinadas que importa, mas a quantidade em relação à população de um território. As porcentagens e comparações são feitas em relação ao todo e não em números absolutos. E neste momento, a cobertura vacinal se torna, portanto, uma questão fundamental e tão comentada.

    Existe um senso comum que diz que “tomar uma vacina me protege”, e que portanto é uma questão de opção individual para que uma doença não me afete, individualmente. No entanto, não é desta forma que se analisa a questão das vacinas. Quando se trata de uma doença transmissível, combatida por uma medida como a vacinação, estamos falando de um planejamento que precisa atingir as populações em massa.

    Cobertura vacinal, indivíduo e população

    Quando falamos em vacinação de uma massa de pessoas e da relevância da cobertura vacinal, estamos também considerando uma quantidade de pessoas que não estará protegida por não se vacinar (seja lá por que motivo for – por ter alguma alergia, uma doença que a impeça de vacinar, não termos vacinas para aquela faixa etária, ou mesmo por ser antivacinação, …), mas estará protegida por ter muitas pessoas vacinadas ao seu redor. É bem aquele bordão dos três mosqueteiros: “Um por todos.. e todos por um!”

    A cobertura vacinal cria, neste sentido, uma verdadeira barreira para a circulação do vírus entre as pessoas. Quanto mais pessoas estão vacinadas, é mais difícil para o vírus conseguir infectar uma pessoa que não se vacinou (por exemplo, por ser alérgica a algum componente da vacina). Assim, a probabilidade dessa pessoa se infectar e desenvolver uma doença é menor, por (quase) todas as pessoas ao redor dela estarem vacinadas e protegendo-a.

    Cenários imaginários (porém nem tanto)

    Perceba os três cenários acima. Cada pessoa (ou bonequinho) representa 1 pessoa em uma população de 100 (1% portanto). As pessoas em vermelho não estão vacinadas com as duas doses (ou dose única). Isto é: não estão com o esquema vacinal completo e, portanto, não estão plenamente protegidas contra o coronavírus.

    No primeiro cenário nós temos 20 pessoas vacinadas em 100. No segundo, 60 pessoas vacinadas em 100. Por fim, no último cenário temos 75 pessoas vacinadas em 100. Vocês conseguem perceber como as pessoas vacinadas fazem, no último cenário, uma barreira para aquelas não vacinadas?

    Pois é. No Brasil, se todos os adultos se vacinarem contra a COVID-19 teremos um cenário próximo ao último cenário. No atual momento, estamos em uma situação comparável ao do primeiro cenário, pois temos 18,5% da população total (39,1 milhões de pessoas) com o esquema vacinal completo. 

    O Brasil e sua cobertura vacinal

    Hoje, no Brasil, nós temos uma população estimada de 212 milhões de pessoas e uma população adulta (18 anos ou mais) correspondente a cerca de 160 milhões.

    Para termos uma cobertura vacinal razoável da população brasileira deveríamos ter 100% da população prevista no PNI para a COVID-19 vacinada. Isto é: quando TODOS os brasileiros adultos se vacinarem, teremos um total de 75% da população brasileira completamente vacinada, 159 em 212 milhões.

    Pode soar repetitivo, mas veja: hoje temos 39 milhões com o esquema completo.

    Extinguir a pandemia com 75% de cobertura vacinal de toda a população seria possível, em teoria¹. Até lá, as medidas de contenção do coronavírus, como distanciamento e uso de máscaras, diminuir ao máximo a permanência em espaços fechados não ventilados não podem ser abandonadas! Estarmos acelerando a vacinação é uma notícia maravilhosa, mas hoje ainda não é o momento de relaxar as outras frentes de combate à pandemia. Na verdade, era a hora de mantê-las, e assim garantir que teremos a chance de salvar mais e mais vidas enquanto a cobertura vacinal vai se ampliando.

    Esta estimativa, aliada a medidas não farmacológicas contribuiriam significativamente para diminuirmos (talvez controlarmos) a COVID-19. Todavia, bom lembrar, estas medidas incluiriam uma vigilância epidemiológica eficiente, o que não vem ocorrendo desde o início da pandemia. 

    Mas estamos tão mal assim?

    Não é isso que estamos dizendo. Porém, é um pouco também. Nós temos aumentado significativamente a quantidade de pessoas vacinadas. Há muitas pessoas com uma dose de vacina aplicada, aguardando a segunda dose. Entretanto, como temos dito, não é suficiente para segurarmos a circulação do vírus SARS-CoV-2!

    Gráfico das médias móveis de vacinação no país: desde junho, vacinamos mais de um milhão de pessoas todos os dias! E a velocidade só aumenta.

    A pergunta que talvez tenhamos que nos fazer é:
    – Será que já atingimos uma boa cobertura vacinal para a COVID-19?
    A resposta é bem fácil e curta:
    – NÃO.
    E qual o motivo de escrevermos este texto neste momento?

    Para além de preocupações casuais, nós temos noção de que, por vezes, parecemos negativos em relação à pandemia. Isso inclui bater na tecla de que os modos de vida vivenciados nos últimos 500 dias, incluindo a adoção de políticas públicas, “nem sempre” fazem sentido (para combater a COVID-19).

    No entanto, há dois fatores que nos fazem produzir este post:

    1. A variante Delta e tudo o que ela vem “revolucionando” de comportamentos em países com a COVID-19 controlada (voltaremos a este tema em breve, por enquanto vamos só indicar os fios da Mellanie no fim do texto);
    2. Os anúncios de abertura de tudo, marcada para daqui 20 dias, no estado de São Paulo (onde o Blogs Unicamp acompanha de forma mais intensa, em função de ser nossa residência…).

    Sob qual justificativa abriremos tudo?

    É que parece que tudo vai bem aqui em São Paulo com a vacinação da COVID-19…

    Vimos estes anúncios do Governador de São Paulo, apontando a antecipação do término da Vacinação da 1ª dose contra COVID-19 e uma suposta “retomada segura” no Estado.

    Cabe lembrar que, sim, os casos notificados e os óbitos têm registro de queda no Estado de São Paulo. Mas é uma queda estilo usando paraquedas e pensando se vai parar no meio do caminho para tentar subir novamente… Isto quer dizer que estamos, sim, diminuindo casos diários, mas temos redução dessa diminuição nas últimas semanas. É preciso acompanhar estes dados e, mais do que isto, lembrar que temos a variante Delta está chegando e precisamos permanecer atentos e com muito cuidado e manutenção de medidas não farmacológicas.

    O Governador indica que a partir do dia 17 de agosto a população já estará vacinada. Mas será que é desta forma mesmo?

    Retrato da cobertura vacinal no Estado de São Paulo dia 28 de julho:

    No dia 28 de Julho, nós temos 23,2% da população com mais de 18 anos vacinada completamente (regime de duas doses ou dose única). Nós temos neste momento 58% da população com mais de 18 anos com ou nenhuma ou uma dose apenas.

    Parece redundante…

    É redundante e não nos importamos, inclusive, em insistir na redundância: não dá para falar em “população vacinada” quando estamos falando de uma parcela da população. Ou seja, uma parte da população que é inferior à proporção que seria aconselhável para as pessoas começarem a circular de forma segura.

    Além disso, falar em “população vacinada” um dia depois de terminado o cronograma de vacinação seria supor que ao tomar a primeira dose estamos imediatamente protegidos. E não é verdade. Temos um tempo necessário para produzir a proteção em nosso organismo – cerca de 15 dias após a SEGUNDA dose (ou 30 dias em casos de dose única).

    Se formos levar em conta que a data indicada pelo governo de São Paulo apenas considera a primeira dose: não faz sentido apontar que a população está protegida.

    Parece redundante, é redundante e não nos importamos em insistir na redundância…

    Não há proteção contra a COVID-19 que se faça por mágica em uma seringa. Nosso corpo precisa de um tempo para se proteger individualmente. Nossa população precisa de cobertura vacinal para se proteger em massa.

    E cobertura vacinal é regime completo no braço, com tempo para o corpo desenvolver a proteção contra o vírus.

    Não há protocolo diferente deste em local algum do mundo: não haverá nada que barre um vírus por decreto de governantes dizendo que estamos em retomada segura. Os casos no mundo inteiro estão subindo e “vida normal” não pode ser retomada com mais e mais mortes do que já tivemos até agora.

    Então é o fim da esperança?

    Longe de nós apostar em algo tão dramático assim. Mas seguimos apontando a linha de análises que PRECISAM de políticas públicas que levem em conta o que a ciência vem debatendo como protocolo, cobertura vacinal e vigilância epidemiológica desde os primórdios de tudo isto.

    Precisamos manter a esperança, sim. Mas isso significa que precisamos colocar em prática comportamentos e cobranças políticas reais e efetivas para voltarmos a um ritmo de vida saudável – e isto deveria ser o alvo da normalidade.

    Por fim, para não deixar dúvidas, usamos os números e casos de São Paulo como exemplos. Não é o único estado que tem ações nesta direção.

    Agradecimento especial deste post para Isaac Schrarstzhaupt que ajudou com os gráficos.

    Para Saber Mais:

    ¹ Bartsch, Sarah M et al (2020) “Vaccine Efficacy Needed for a COVID-19 Coronavirus Vaccine to Prevent or Stop an Epidemic as the Sole Intervention” American journal of preventive medicine vol 59,4 (2020): 493-503.

    Brasil, Ministério da Saúde (2003) Programa Nacional de Imunizações, 30 anos

    de Moraes, José Cássio, de Almeida Ribeiro, Manoel Carlos Sampaio, Simões, Oziris, de Castro, Paulo Carrara, & Barata, Rita Barradas (2003) Qual é a cobertura vacinal real?. Epidemiologia e Serviços de Saúde, 12(3), 147-153. 

    São Paulo (2021) SP amplia funcionamento de atividades econômicas até 0h a partir de domingo | Governo do Estado de São Paulo (saopaulo.sp.gov.br)

    Vaccine registration to open for those aged 16 and 17 (rte.ie)

    Textos de Divulgação

    Fios de Mellanie Fontes-Dutra

    Nosso normal: variantes, festas e aumentos de casos

    Vacinas: uma ação de Saúde Pública

    Estratégias de vacinação: o que se leva em conta?

    Este texto foi escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

    logo_

    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.

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