Tag: coronavírus

  • Isolamento social: o que fazer em casa?

    Dicas de aulas, cursos e outras atividades para o isolamento social

    Tempo de leitura: 3 min

    Desde a chegada do Covid-19 no Brasil em 23 de Janeiro de 2020, o País vem adotando várias restrições para evitar a disseminação da doença. O maior problema da pandemia do novo coronavírus é a rapidez com a que ele se espalha, e isto nos coloca em uma situação incomum, a do isolamento social.

    Distanciamento x Isolamento x Quarentena

    O distanciamento social é recomendado a todos durante a pandemia. Neste caso ainda é possível sair de casa, desde que se evite aglomerações e mantenha uma distância de no mínimo um metro e meio entre as pessoas. O isolamento social é essencial para o combate à pandemia, em que o contato entre pessoas é restrito àquelas que moram em uma mesma casa, e o isolamento pessoal é indicado aos casos suspeitos. Já a quarentena é obrigatória para os casos confirmados de Covid-19 e deve durar 14 dias, exigindo maior cuidado de higiene para conter a disseminação da doença.

    Mas, além do trabalho remoto e das aulas não presenciais (ensino à distância), o que podemos fazer para evitar o tédio durante o isolamento social? 


    Fonte da imagem: pixabay.com

    Ampliando o conhecimento

    O período dentro de casa pode contribuir para o crescimento de cada um, mas ninguém deve se sentir pressionado a fazer inúmeras atividades. A estratégia é identificar um objetivo e pensar sobre ele. O simples ato de pensar sobre o que se quer alcançar e como isso será alcançado já é uma atividade, por isso a reflexão é uma sugestão para os momentos como esses de quarentena.

    Para aqueles que preferem um caminho traçado, uma maneira de se manter ocupado é a inscrição nos cursos online que várias plataformas estão disponibilizando gratuitamente. A começar pelas três maiores universidades paulistas. Para quem é mais interessado em difusão científica, a USP tem uma aula específica de Tópicos de Pesquisa nas Ciências Contemporâneas. Para quem tem que tomar a decisão sobre qual carreira seguir, assistir às aulas pode ser uma ótima opção para conhecer melhor os cursos e ver com qual se identifica. 

    Caso você queira investir em um curso técnico ou de especialização, há também diversas opções! A Cursos de Formação oferece cursos com certificados e muitas instituições, com por exemplo a Rock University têm disponibilizado cursos gratuitos em decorrência do cenário atual, e também Instituições como a Fundação Bradesco, Fundação Getúlio Vargas, Insper, SEBRAE, Senai, Unicamp, Unesp, Harvard, MIT, além de sites já conhecidos como edX e Coursera1.

    Se você irá prestar algum vestibular em breve, a melhor indicação seria certamente a revisão do conteúdo de ensino médio. Existem muitos cursos online das principais matérias (Matemática, Física, Química, Geografia, História, Português), como aqueles divulgados na plataforma LearnCafe, Stoodi ou por vídeo aulas disponibilizadas principalmente no YouTube.

    Os alunos que estão estudando para o vestibular também possuem uma ótima oportunidade de se dedicar aos estudos, por exemplo, mediante o treinamento por simulados disponibilizados gratuitamente pelos cursinhos2-4. Fazer questões é a chave nos exames competitivos e é possível apenas separar uma meta: 20 questões por dia durante a semana, 10 no período da manhã e 10 no período da tarde, cada bloco de uma matéria diferente. Quando chegar o final de semana, já haverá uma primeira fase inteira do vestibular feita e treinada.

    E, ainda, para os mais práticos, uma opção é se candidatar para um trabalho voluntário. A ONU, por exemplo, diariamente, abre inscrição para voluntários remotos, em diversas áreas. Além de trabalhar para uma organização internacional, a maioria dessas atividades voluntárias é para empresas que desenvolvem um projeto social e para governos de outros países, promovendo uma conexão global que com certeza trará destaque ao currículo.

    Atividades divertidas

    Outra atividade muito interessante é visitar os maiores museus do mundo. Vários museus disponibilizaram a exploração virtual por meio de tour online5-7. Aqui no Brasil, por exemplo, o Museu Casa de Portinari permite a exploração de cada exposição e das obras de arte nele contidas, além de apresentar o processo de criação do artista Cândido Portinari, que retratou e expôs ao mundo a sociedade brasileira, com inspiração nos movimentos do cubismo e do surrealismo.

    O museu de ciências da UNICAMP também está oferecendo lives e oficinas online no seu Instagram @mcunicamp. Um exemplo interessante é o vídeo de como construir um microscópio em casa. Assistam e tentem fazer!

    Além disso, a Faber-castell disponibilizou cursos de desenhos gratuitos. Vale a pena conferir!

    Que tal aprender um novo idioma?

    O Duolingo é um aplicativo muito divertido, que oferece cursos de vários idiomas e tem uma versão gratuita. Outra opção é seguir contas no Instagram que oferecem algum tipo de conteúdo gratuito para línguas, como @voalearningenglish, @carinafragozo, @rhavicarneiro, @luisaensinaespanhol. No youtube também existem diversos canais com aulas gratuitas, como a @rachelenglish. 

    Atividades físicas em casa

    Outra forma de passar o tempo em casa é fazendo exercícios físicos, que além de manterem a saúde do corpo, também ajudam com a saúde mental nesses tempos de afastamento social. Várias contas no Instagram apresentam diversos tipos de exercícios que podem ser feitos em casa, como yoga @angelicabanhara, meditação @zenappbrasil e pilates @vivi.pilates, ajudando o nosso corpo e mente a ficarem ativos.

    Ainda no tema de saúde mental, o aplicativo Vitalk tem uma versão gratuita que nos ajuda na detecção de problemas de depressão e ansiedade. 

    Esperamos que tenham gostado das nossas dicas e coloquem nos comentários o que vocês têm feito para passar o tempo dentro de casa.

    Referências

    1https://viacarreira.com/sites-que-oferecem-cursos-online-gratuitos/

    2https://www5.usp.br/ensino/cursos-on-line/

    3https://www.estrategiavestibulares.com.br/cursos/gratis/ 

    4https://www.qconcursos.com/questoes-de-vestibular/questoes

    5https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2020/03/17/coronavirus-como-visitar-museus-sem-sair-de-casa-durante-o-periodo-de-isolamento.ghtml

    6https://www.museucasadeportinari.org.br/TOUR-VIRTUAL/

    7https://www.infoescola.com/biografias/candido-portinari/

    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.

  • Semanas cruciais para o sistema de saúde brasileiro: o risco do colapso em gráficos

    Por Profa. Paula Dornhofer Paro Costa e Júlia Perassolli De Lázari (FEEC)
    Imagem COVID-19: Carol Frandsen

    Pouco a pouco, um vocabulário que antes só fazia parte de filmes de ficção, foi se tornando realidade, invadindo nossas vidas sem pedir licença: coronavirus, COVID-19, pandemia, quarentena e, infelizmente, COLAPSO, palavra que nos trará dias dolorosos. Dias que não sairão de nossas memórias e que imprimirão cicatrizes profundas em muitas famílias.

    A narrativa mais simples para se chegar ao colapso tem uma sequência clara:

    • É um fato que parte dos portadores de COVID-19 precisarão de tratamento intensivo, ou seja, leitos de UTI.
    • Também é um fato que existe um número finito de UTIs.
    • Se o número de casos confirmados se tornar tal que a porcentagem de casos que tipicamente necessitam de UTI se tornar maior que o número de leitos de UTI disponível, o colapso acontece.

    Unidade de Terapia Intensiva (UTI): área crítica destinada à internação de pacientes graves, que requerem atenção profissional especializada de forma contínua, materiais específicos e tecnologias necessárias ao diagnóstico, monitorização e terapia. Fonte: Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, RESOLUÇÃO Nº 7, DE 24 DE FEVEREIRO DE 2010

    Em poucas palavras, profissionais da saúde terão que decidir quem ocupará o leito e quem será fadado à falta de tratamento. Obviamente, os profissionais da saúde farão de tudo para minimizar essas escolhas à custa de horas extras e condições de trabalho não-ideiais e, infelizmente, muitos deles começarão a adoecer, agravando o colapso por falta de recursos humanos capacitados e em suas melhores condição de trabalho. Mais ou menos nesse ponto, as pessoas começarão a conhecer pelo menos uma pessoa que morreu de COVID-19 e os números deixarão de ser números para se tornarem “gente que você conhece”, com nome, sobrenome, esposa, marido, pai, mãe, filhos, netos.

    Mas muitos talvez ainda se perguntem: já estamos no caminho do colapso? Quando ele acontecerá?


    O colapso pode ser mais doloroso para alguns estados

    O Brasil também é um país com grande desigualdades em sua infraestrutura de saúde. São Paulo, o epicentro da pandemia no Brasil, só não entrou em evidente colapso devido à sua avantajada proporção de leitos de UTI/habitante, comparável a países de primeiro mundo. Essa situação é similar para outros estados do Sudeste e Sul (Tabela 1).

    No entanto, o mesmo não acontece para outros estados brasileiros, em particular da região Norte. Um número inferior de casos confirmados pode levar a região rapidamente para o colapso (Tabela 2).

    Estado Leitos de UTI Adulto
    SUS
    Leitos de UTI Adulto
    Privados
    São Paulo 4071 5349
    Rio de Janeiro 1379 3084
    Minas Gerais 2309 1218
    Paraná 1471 876
    Rio Grande do Sul 1267 673
    Tabela 1 – Estados Brasileiros que têm maior disponibilidade de leitos de UTI (Fonte: DATASUS-02/2020, foram considerados leitos adultos (UTI1,UTI2, UTI3), coronarianos (2 e 3) e de isolamento.

    Estado Leitos de UTI Adulto
    SUS
    Leitos de UTI Adulto
    Privados
    Rondônia 182 82
    Tocantins 90 62
    Acre 64 15
    Amapá 33 35
    Roraima 43 8
    Tabela 2 – Estados Brasileiros com menor disponibilidade de leitos de UTI (Fonte: DATASUS-02/2020, foram considerados leitos adultos (UTI1,UTI2, UTI3), coronarianos (2 e 3) e de isolamento.


    Estamos longe do colapso?

    A resposta é: infelizmente NÃO.

    Justifica-se então as notícias da construção de hospitais de campanha por todo o país.

    Os gráficos abaixo mostram que estados brasileiros do Norte e Nordeste serão os primeiros a entrarem em colapso, possivelmente já nas próximas semanas. Para estes estados, as ações de isolamento social parecem ser essenciais para “ganhar tempo”.

    Para realizar essas projeções, foram considerados os seguintes aspectos:

    • Foram considerados as capacidades de leitos de UTI para adultos reportados pelo DATASUS incluindo UTI-a Tipo II, Tipo III, UCO Tipo II e Tipo III e Unidade de Isolamento conforme definições no anexo da Portaria N° 895 do Ministério da Saúde de 31 de março de 2017. Neste caso, assumindo uma posição otimista, partindo do pressuposto que determinados leitos de UTI adultos voltados, por exemplo, para doenças coronarianas, podem ser revertidos em leitos para pacientes da COVID-19.
    • Partiu-se da hipótese razoável de que muitos dos leitos de UTI disponíveis nos estados já estavam ocupados antes da crise global da COVID-19. Baseamo-nos na cobertura da imprensa, considerando o pior caso, no qual apenas 22% da infraestrutura disponível está vaga. “Coronavírus: leitos de UTI têm mais de 70% de ocupação em 17 estados”, O Globo, Março, 2020, último acesso 04/04/2020
    • Finalmente, consideramos a distribuição das faixas etárias brasileiras para estimar a porcentagem de internações de UTI no Brasil em aproximadamente 1,44%.  Veja como chegamos nesse valor AQUI.

    Esperar pelo melhor, preparar-se para o pior

    Neste momento, inúmeros pesquisadores trabalham em modelos matemáticos para tentar prever a evolução da pandemia no Brasil e no mundo. Tais modelos são ferramentas essenciais para que tomadores de decisão possam decidir quando, onde e como agirem para diminuírem os impactos de uma doença que se alastra rapidamente.

    Nossas projeções assumem cenários pessimistas: uma evolução exponencial da doença e uma baixa disponibilidade de leitos de UTI. Esperamos que estes cenários não se concretizem, mas parece ser prudente olhar com atenção para estes estados brasileiros.


    Uma descrição detalhada da análise de dados que gerou os gráficos deste artigo pode ser encontrada aqui. Este trabalho é o resultado de uma força tarefa de alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC), do Instituto de Computação (IC) e Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (IMECC) e Faculdade de Ciências Médicas (FCM). A força tarefa também conta com a parceria do Prof. Dalton Martins, da Faculdade de Ciência da Informação (FCI) da Universidade de Brasília (UnB).

    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.

  • A Covid-19 e o negacionismo

    Enquanto a Covid-19 faz milhares de vítimas fatais pelo mundo e as autoridades em saúde pública orientam o isolamento social como método mais eficaz de contenção de sua disseminação, parte da sociedade assiste, estarrecida, ao discurso de políticos que seguem negando os fatos com foco na recuperação da economia, mesmo ao custo de “algumas” vidas. Veiculados como gesto em prol do trabalhador, conceitos formulados por Noam Chomsky e Antonio Gramsci mostram que o discurso negacionista tem outros beneficiários.

    O fenômeno do negacionismo não é novo, remonta aos anos 1940, em que se tentou provar a ausência de culpa da Alemanha pela Segunda Guerra Mundial. Isso se fez a partir da  banalização, justificativa ou mesmo negação da existência dos campos de extermínio e do holocausto. Em síntese, da defesa e da reabilitação de Adolf Hitler (MORAES, 2004:757). Apesar de se autodenominarem “revisionistas históricos”, os negacionistas nada têm de revisores, uma vez que a revisão histórica se dá diante de novas evidências ou de novas questões que se colocam. Já os negacionistas estão preocupados em negar as evidências, sem apresentar algum fato que o permita fazê-lo.

    Sob uma perspectiva psicológica, o jornalista Michael Specter, explica que, para todos nós que já estivemos diante de verdades dolorosas, a negação parece ser a única forma de lidar com elas. Specter afirma também que nessas circunstâncias os fatos, por mais detalhados ou irrefutáveis, raramente fazem diferença. Assim, para o escritor americano, o Negacionismo “é negação em larga escala – quando um segmento inteiro da sociedade, muitas vezes lutando com o trauma da mudança, se afasta da realidade em favor de uma mentira mais confortável” (SPECTER, 2009).

    Dessa forma, temos duas vertentes de negacionistas: os históricos, que negam o Holocausto, e os científicos, dentre os quais estão os climáticos (que negam o Aquecimento Global), os terraplanistas (que negam as evidências de um planeta aproximadamente esférico) e até os da AIDS (que negam, acreditem, o vírus HIV ser o causador da síndrome). Sem falar nos movimentos de design inteligente, antivacinas, e outros tantos que ganharam força com o advento da internet e das redes sociais. 

    Para estabelecer a relação deles com a Economia vamos relembrar um filósofo (por coincidência) italiano chamado Antonio Gramsci (1891-1937) que elaborou os conceitos de Bloco Histórico, Hegemonia, e Bloco Ideológico. Para ele, o Bloco Histórico de um sistema é composto por uma Estrutura socioeconômica, relacionada às forças produtivas, e por uma Superestrutura de natureza político-ideológica. Deduz-se que as grandes corporações do setor privado atuam na estrutura do bloco, formando a classe dirigente fundamental e os políticos e os intelectuais atuam na superestrutura. Para que uma classe dirigente em minoria consiga subordinar uma maioria é necessário que estes tenham um comportamento social adequado à necessidade produtiva daqueles. 

    Esse comportamento pode ser conseguido por meio da força (a coerção é sempre latente, mas não desejável) e do consentimento. Na maioria das vezes, a hegemonia é suficiente para assegurar o comportamento social esperado (Cox, 1993:52). Por isso, a atuação do o Bloco Ideológico é tão importante, pois, formado pelos intelectuais orgânicos e atuando na superestrutura, ele vai impregnar na sociedade os valores culturais necessários para que os dominados sigam consentindo essa dominação. Ou como explicou o dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-1956) no texto Se Os Tubarões Fossem Homens: “Se os tubarões fossem homens (…) Se cismaria nos peixes pequenos que esse futuro / Só estaria garantido se aprendessem a obediência”. (BRECHT, 2018)

    E qual a relação disso com a atual negação da letalidade da Covid-19 por políticos?

    O Bloco Histórico vigente é o sistema capitalista neoliberal. Segundo Noam Chomsky (2017), o triunfo ideológico das “doutrinas de livre mercado” possibilita que decisões políticas se traduzam em polpudos lucros pagos a altos executivos e suas empresas. Na prática, as grandes empresas que têm grande poderio econômico, financiam campanhas eleitorais de atores políticos, de diferentes espectros ideológicos (diga-se). Isso, para que eles, uma vez eleitos e legitimados pelo voto popular (embora tenham prometido trabalhar em favor deste), possam ser representantes dos interesses dessas empresas, passando a legislar a seu favor, aqueles a que Chomsky vai chamar de “servos do capital privado”. Dessa forma, elas vão acumular ainda mais lucros e concentrar ainda mais renda, fechando o círculo.

    Assim, à medida em que a Covid-19 afeta a Economia, informações para minimizar esse impacto passam a ser produzidas e disseminadas pelo Bloco Ideológico (Blogs, sites, perfis de redes sociais, influenciadores) e pelos simpatizantes do sistema vigente. Então, não é difícil encontrar nos meios de comunicação dos apoiadores do atual governo mais e mais teorias da conspiração negando a letalidade do vírus e, mais recentemente, ao se depararem com a realidade das mortes, passaram a negar sua causa

    Entendidos esses aspectos, a frase do atual Presidente da República do Brasil “Vão morrer alguns, do vírus? Sim, vão morrer (…) Lamento. Tá? Agora não podemos criar esse clima todo que está aí. Prejudica a economia!” suscita uma interpretação diversa daquela que inicialmente seu emissor pretendeu transmitir.

    O Brasil não pode parar, sobretudo quando o interesse do grande capital está em jogo. Se todos vão morrer um dia, que seja indo alegres “para as goelas dos tubarões”.

    Bibliografia

    • BRECHT, Bertolt. Se os tubarões fossem homens. Olho de Vidro, 2018.
    • CHOMSKY, Noam. Quem manda no mundo?, São Paulo, Planeta. 2017.
    • COX, Robert W. Gramsci, hegemony and international relations: an essay in method. Cambridge Studies in International Relations, Cambridge, Cambridge University Press, v. 26, p. 49-66, 1993. Disponívelç em <encurtador.com.br/lFX78> Acesso em 28 mar. 2020 
    • GASTALDI, Fernanda C. Gramsci e o negacionismo climático estadunidense: a construção do discurso hegemônico no Antropoceno. Revista Neiba, Cadernos Argentina Brasil, v. 7, n. 1, 2018. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/neiba/article/view/39247 Acesso em 28 mar. 202
    • GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere, v. 2 — Antonio Gramsci: os intelectuais. O princípio educativo. Jornalismo. Ed. e trad. de Carlos N, Coutinho. Coed. de Luiz S. Henriques e Marco A. Nogueira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000
    • MORAES, Luís E. S. “O Revisionismo Negacionista” In: SANTOS, Ricardo Pinto dos (org.) Enciclopédias de Guerras e Revoluções do século XX. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
    • SPECTER, Michael. Denialism: How irrational thinking harms the Planet and threatens our lives. Penguin, 2009. 

    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.

  • Coronavirus, quarentena, e energia

    E aí pessoal? Como estão.

    No dia que este texto é publicado, existe uma situação de quarentena devido ao coronavírus. Fiquem em casa quando puder, e escutem sempre os especialistas em relação ao coronavírus e como preveni-lo.

    Esse texto é para abordar o consumo de energia atual (ano de 2019) e o correspondente estado de pandemia.

    Covid-19 Vírus Coronavírus - Imagens grátis no Pixabay

    Contextualizando

    Segundo o recente relatório da OMS, o consumo de energia no geral tem previsão de queda de 0,9% em 2020, sendo que a previsão anterior era um aumento de 4,2%. Tanto que na segunda quinzena de março desse ano, o consumo de energia caiu 8%, sendo que 9,4% é correspondente ao mercado livre de energia e 7,4% do mercado cativo (comércio de rua e residências)[1][2].

    Isto pois o consumo das outras classes, como o comercial, diminuíram, com exceção do consumo residencial, que aumentou. No consumo residencial, por exemplo, o uso da internet aumentou, tendo em vista compras virtuais, serviços de streaming (Netflix), dentre outros[3][4]. Como as pessoas estão ficando mais em casa, é normal que o consumo de energia aumente nesses locais.

    Inclusive, devido a essa crise, há projetos sendo implementados, como suspensão de pagamento de contas básicas, como a de luz, água, dentre outras[5].

    Futuro

    Bem, o futuro não se sabe muito dele ainda, mas pode-se fazer as previsões:

    – Aumento em investimento em sistemas de ventilação, de forma que eles previnam que as pessoas contraiam o coronavírus. As aplicações seriam em veículos públicos, como o metro, ou em locais de trabalho[6]. Nunca se sabe quando uma nova pandemia irá surgir.

    – Incentivo maior a fontes renováveis de energia, tais que elas possam suprir parte do consumo de energia do usuário (inclusive em sistemas não conectados a rede elétrica). Tal medida visa a redução das suas contas, tendo em vista que situações como essa aumentam o consumo doméstico[7].

    – Maior educação energética, de forma a orientar as pessoas a reduzir ou otimizar seu consumo. Neste mesmo blog, há uma série sobre dimensionamento de fontes de energia, cujo primeiro texto trata sobre o consumo dos aparelhos de cada local. Tal texto é importante para se ter uma noção do estudo de consumo.

    Mais alguma previsão? Deixe nos comentários. Até a próxima.

    Referências

    [1] PAMPLONA, Nicola, Consumo de energia cai 8% em primeiras semanas de isolamento por coronavírus, Folha de São Paulo, disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/04/consumo-de-energia-cai-8-em-primeiras-semanas-de-isolamento-por-coronavirus.shtml>, acesso em: 5 abr. 2020.

    [2] LIS, Laís, Coronavírus: isolamento social altera horário de pico de consumo de energia, diz governo, G1, disponível em: <https://g1.globo.com/economia/noticia/2020/04/02/coronavirus-isolamento-social-altera-horario-de-pico-de-consumo-de-energia-diz-governo.ghtml>, acesso em: 5 abr. 2020.

    [3] PEZZOTTI, Renato, Estudo aponta tendências do “novo consumo” em tempos de coronavírus, UOL, disponível em: <https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/03/20/estudo-aponta-tendencias-do-novo-consumo-em-tempos-de-coronavirus.htm>, acesso em: 5 abr. 2020.

    [4] OLIVEIRA, Priscilla, Coronavírus altera hábitos de consumo e impacta mercado, Mundo do marketing, disponível em: <https://www.mundodomarketing.com.br/ultimas-noticias/38582/coronavirus-altera-habitos-de-consumo-e-impacta-mercado.html>, acesso em: 5 abr. 2020.

    [5] GUEDES, Aline, Projetos preveem suspensão da cobrança de contas básicas durante crises, Agência Senado, disponível em: <https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/03/25/projetos-preveem-suspensao-da-cobranca-de-contas-basicas-durante-crises>, acesso em: 5 abr. 2020.

    [6] CONCA, James, The Coronavirus pandemic and the long-term energy outlook, Forbes, disponível em: <https://www.forbes.com/sites/jamesconca/2020/03/31/the-coronavirus-pandemic-and-the-long-term-energy-outlook/#5015fa8c7d39>, acesso em: 5 abr. 2020.

    [7] BAHAR, Heymi, The coronavirus pandemic could derail renewable energy’s progress. Governments can help., International Energy Agency – IEA, disponível em: <https://www.iea.org/commentaries/the-coronavirus-pandemic-could-derail-renewable-energy-s-progress-governments-can-help>, acesso em: 5 abr. 2020.

    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.

  • Fake News e Auxílios em tempos de Pandemia

    Em tempos como os que temos vivenciado agora, é comum montarmos redes de apoio às instituições como hospitais, centros de saúde e de pesquisa, instâncias de distribuição de alimentos e roupas à comunidades desabastecidas e em fragilidade social. Tudo isto não só é válido, mas é fundamental, pois mesmo quando o poder público é organizado e tem ações efetivas, as emergências nos tempos de calamidade são demasiadas.

    No entanto, também é tempo de termos cuidado redobrado com golpes que se apresentam cotidianamente nas redes sociais, em especial em compartilhamentos em mensagens instantâneas, como grupos de WhatsApp, por exemplo. 

    Assim, alguns cuidados específicos em relação às doações para a unicamp são fundamentais:

    1. Desconfie de pedidos de depósitos em que a pessoa jurídica não seja diretamente a UNICAMP ou o Hospital de Clínicas da Unicamp;
    2. Confira todas as informações da mensagem: a quanto tempo as associações e fundações que estão pedindo ajuda existem? O CNPJ delas confere? É relacionado ao que está dizendo ser, na carta ou mensagem recebida? Existe rede social desta instituição? Existe informações precisas, nomes dos envolvidos? No site da Unicamp e do Hospital de Clínicas estas informações também estão presentes nos canais de ajuda?
    3. Confira sempre e toda a vez o site da Unicamp e do Hospital de Clínicas para ter certeza absoluta que esta parceria existe;
    4. A Unicamp tem um link específico para doações, se realmente quiseres ajudar, estes canais são diretamente relacionado à instituição:
      https://www.unicamp.br/unicamp/coronavirus/doacoes
      https://www.unicamp.br/unicamp/orientacoes-sobre-como-proceder-para-realizar-doacoes
      Vocês também podem se informar melhor pelos e-mails:
      amigosdohcunicamp@hc.unicamp.br
      combatecorona@unicamp.br
      Ou ainda pelo telefone (19) 3521-2020 (fixo e WhatsApp)
    5. Todos os sites têm especificações que nos ajudam a rastrear falsidades. Todas as informações da unicamp estão em endereços dentro do domínio “unicamp.br”, sempre verifique esse detalhe no seu navegador. O Hospital, por exemplo tem como endereço na internet:
      https://www.hc.unicamp.br
      o Blogs de Ciência da Unicamp, que é outro portal que tem apresentado notícias e informações sobre o covid, também apresenta o mesmo domínio:
      https://www.blogs.unicamp.br e https://www.blogs.unicamp.br/covid-19

    Em outras universidades e hospitais públicos também você deve ter o mesmo cuidado! Especialmente em um período como este, os golpes estão proliferando nas redes sociais e nem todo golpe é simples de identificar! Sempre procure os canais oficiais de comunicação das instituições que você gostaria de auxiliar, é mais seguro e eficiente.

    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.

  • Solidariedade: saúde para todos

    Szachna Eliasz Cynamon (1955-2007), um dos maiores sanitaristas e pesquisadores da Fiocruz, em 1990 afirmou que “solidariedade à saúde tem de ser para todos. É um aforisma tecnicamente provado que ‘sem a saúde do vizinho, a tua corre risco’”.

    Temos visto muitas recomendações e indicações de cuidados próprios. Lavar as mãos o mais frequente possível, não passar a mão no rosto (boca, nariz, olhos…), tapar boca e nariz ao espirrar, passar álcool gel nas mãos, dentre outras prescrições.

    #fiqueemcasa

    A recomendação mais contundente de todas têm sido, entretanto, o “fique em casa”. Prescrição difícil de seguir em um país como o Brasil, aquele clássico clichê (não menos verdade por isso), “um país de dimensão continental”. Um país com o povo acostumado à rua, ao sol, às lidas diárias no campo, aos transportes públicos abarrotados nos centros urbanos, às praias no litoral, aos bares ao fim de tarde, o chimarrão na calçada com vizinhos, almoços coletivos aos finais de semana, conversas aleatórias com desconhecidos em filas de bancos e padarias… Em suma, uma vida de intensa interação social, com muitos trabalhos que não podem deixar de serem feitos… E agora? Como se cumpre isso em um país como o nosso?

    São tempos de solidariedade, como nos disse Cynamon. Há quem, realmente, não possa parar de transitar. Há quem não tenha sabão para se limpar. Também há quem não tenha acesso e condições de aferir informações… Vamos pensar juntos sobre isso?

    Sobre as informações e nossas ações…

    Temos publicado aqui no blogs, assim como temos visto em diversos outros espaços de jornalismo científico e divulgação científica, inúmeros materiais sobre cuidado de si e informações que nos possibilitam compreender melhor o que é o vírus e como ele se dissemina. 

    Uma das grandes dificuldades em tempos de pandemia é filtrarmos informações, não cairmos na tentação de nos agarrarmos em promessas de curas rápidas e discursos sedutores de que tudo vai melhorar ali, logo após a curva. 

    São montantes de informações que vocês (e nós), leitores e consumidores de notícias, recebem diariamente. E são vários e vários artigos e relatórios científicos publicados também apressadamente para ampliarmos a rede de debate e compreensão da doença e de como combatê-la.

    Veja, a informação deve ser filtrada (seja nos grupos de whatsapp, lives com especialistas, jornais televisionados, em rádios, seja de youtubers e, até, dos blogs de ciência, óbvio!) de modo a gerar uma eficiência em nossa vida. Como assim? Que eu compreenda a doença e os cuidados necessários para mim e quem está próximo, mas que não potencialize a ansiedade de cada um de nós (para saber mais sobre excesso de informações, pode ler aqui). 

    E as implicações sobre as informações não se restringem à “biologia” da doença. Cada fala nossa diz respeito a vidas humanas, com complexidades que, quando em nosso âmbito privado, falam de todos e de ninguém ao mesmo tempo. Dizemos isto pois números, definitivamente, não são e não representam as pessoas. Mas falam das suas vidas, seus adoecimentos e suas mortes.

    Sobre a solidariedade…

    Ser solidário é, dentre outras coisas, compreender que não somos nós, individualmente, que a doença atinge. Cuidar da saúde dos outros é cuidar da nossa, como disse Cynamon em 1990. Ademais, a máxima “conhecer para governar” nunca fez tanto sentido. Não é possível governar com base em opiniões pessoais. É preciso debate com decisões rápidas sim, com corpo técnico, com grupos e redes de consultas e conhecimento acumulado também, para uma decisão que vise ao bem de todos e não de pequenas parcelas.

    O isolamento social, por exemplo, é historicamente uma ação prática e efetiva em doenças em que o contágio se dá pelo toque entre pessoas (já falamos disso aqui). É, à primeira vista, prejudicial socialmente e economicamente, mas salva vidas na prática imediata. Viabiliza que contenhamos o espalhamento da doença, enquanto ganhamos tempo para compreendê-la melhor e aprimoremos os modelos epidemiológicos já existentes para pandemias e epidemias anteriores.

    Há exemplos de silenciamento dos casos e de não disponibilizar informações seguras à população que pioraram, e muito, o quadro de adoecimento em epidemias que poderiam ter matado menos pessoas (como o caso da epidemia de meningite no Brasil, entre 1971 e 1975). Há modelos sendo pensados, a partir de negligências e acertos sobre a pandemia da gripe espanhola, em 1918.

    Nenhum destes modelos fará com que vidas parem de serem exterminadas pelo SARS-Covid-2, causador da Covid-19. Mas nos possibilita olhar comportamentos que potencializaram ou minimizaram perdas. Semana passada, por exemplo, tivemos a notícia do auxílio emergencial (aprovado hoje, dia 30/03, no Senado Federal). Também emergem no país diversas ações solidárias para bairros e populações com menor condição financeira para manterem-se neste período de isolamento.

    E aí? O que fazer de tudo isto?

    Ao fim e ao cabo, nossa fala não diz respeito a tirar esperança das pessoas com números mais ou menos assustadores. Mas mostrar que não há milagre, fora a teimosia cotidiana de seguirmos vivos.

    Nesta semana que passou, ouvimos relatos de São Paulo – a maior capital brasileira e o maior epicentro do coronavírus, esvaziar e encher – mesmo sem lotar – de gente novamente (como nas fotos abaixo da rua São Bento, destacando para o dia 27/03, após discurso público minimizando a importância da quarentena). 

    Fotos de arquivo pessoal de alguém que (ainda) não foi liberado de seu trabalho, tiradas no mesmo ponto da rua São Bento (Centro Histórico, São Paulo/SP), entre os dias 23 e 30 de Março de 2020.

    Reiteramos, aqui, nossa crítica a qualquer fala que amenize a gravidade da situação e proporcione um aumento da circulação de pessoas às ruas. Afirmamos, assim, que a solidariedade, a que nos remete Cynamon, se faz debatendo ciência – questionando-a também (visto que é com questionamento que avançamos e este é o pressuposto mais básico e fundamental da ciência). Solidariedade se faz combatendo “milagres que curam” (mas não curam nada) e vãs esperanças, notícias falsas e opiniões fraudulentas. Solidariedade se faz, por fim, ficando em casa também, batalhando para poder ficar e cobrando (inclusive de órgãos competentes e do poder público) para que possamos ficar, possibilitando uma diminuição do contágio.

    Leia também neste blog

    Alguns questionamentos sobre governo, um vírus e a fome

    Para saber mais:

    CYNAMON, Szachna Eliasz. (1990). Saúde Pública, qualidade de vida. Cadernos de Saúde Pública, 6(3), 243-246. https://doi.org/10.1590/S0102-311X1990000300001.

    FOUCAULT, Michel. (2002). Em defesa da Sociedade. São Paulo: Martins Fontes.

    ___. (2008). Segurança, Território e População. São Paulo: Martins Fontes.

    GENSINI, Gian Franco; YACOUB, Magdi H.; CONTI, Andrea A. (2004). The concept of quarantine in history: from plague to SARS. Journal of Infection. 49(4), 257-261. https://doi.org/10.1016/j.jinf.2004.03.002

    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.

  • Alguns questionamentos sobre governo, um vírus e a fome

    “Eu tenho quase certeza que não vou morrer por causa desse vírus aí, mas se eu parar de trabalhar eu e toda a minha família vamos morrer de fome”.

    “Eu tenho quase certeza que não vou morrer por causa desse vírus aí, mas se eu parar de trabalhar eu e toda a minha família vamos morrer de fome”.

    Foi no dia 18 de março que ouvi pela primeira vez essa frase, dita por um motorista de Uber, e que logo depois se tornou tão popular na mídia conjuntamente à progressão da pandemia de COVID 19 no país. Naquele dia fui à São Paulo para participar em um programa de rádio sobre Fome e Direitos Humanos. A universidade na qual eu realizo minha pesquisa de doutorado, Unicamp, havia cancelado todas as atividades até o dia 14 de abril e eu já estava em uma quarentena auto imposta pois tinha participado de muitos eventos com pessoas recém chegadas da Europa.  Por esses e outros motivos, a ida para São Paulo me deixava um pouco ansiosa, principalmente ao saber que a cidade se configurava como o epicentro da doença no Brasil. Depois de confirmar com os organizadores do programa que a entrevista ia acontecer de qualquer maneira, me preparei para a viagem tentando seguir ao máximo as medidas de higiene recomendadas.

    No entanto, ao entrar na cidade fui percebendo que a vida por ali estava beirando a normalidade. Pessoas estavam trabalhando em lojas, havia vendedores de água e salgadinhos nos semáforos, os restaurantes estavam cheios e os ônibus municipais estavam tão lotados como usual. Assim, temendo contaminar alguém com a doença que nem sabia se tinha, resolvi chamar um Uber e, no caminho, comecei uma conversa que resultou na frase com a qual iniciei este texto.

    A afirmação do motorista ficou martelando na minha cabeça durante todo o dia. Mais do que isso, foi essencial para me fazer pensar na relação entre a fome, os direitos sociais básicos e a epidemia que estávamos por enfrentar – o que acabou sendo o principal tópico de discussão da entrevista naquela manhã.

    A comida sempre foi boa para pensar, como afirmou Lévi-Strauss (1929). Mas em relação à pandemia do COVID-19, a comida é objeto essencial para entendermos melhor os efeitos desta doença, não apenas compreendendo-a como epifenômeno de relações sociais mais amplas. Principalmente, porque o novo coronavírus tem suposta origem no consumo de animais exóticos e porquê sua epidemia impôs quarentena e distanciamento social para um número massivo da população mundial. E isto acabou impedindo ou alterando o acesso a direitos sociais mais básicos, tais como alimentação, habitação e saúde, que a atenção ao tema da comida e à garantia de acesso a ela é de extrema relevância.

    Estou certa, assim como diversos pesquisadores e cientistas das mais variadas áreas, que a atual pandemia pode ser compreendida como um momento crucial para repensarmos categorias  estruturais de nossa vida em sociedade como a economia, a política, o governo e o Estado. Assim, a discussão sobre o acesso à comida enquanto necessidade básica para a sobrevivência parece ser um bom ponto de partida.

    Em 1948, com a criação das “Nações Unidas”, após o fim de uma das maiores crises globais até então vivida, foi assinado a “Declaração Universal dos Direitos Humanos”, na qual o artigo 24 afirma:

    “Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle” (ONU, 1948).

    Essa declaração, apesar de não constituir uma obrigação jurídica para os Estados, se propunha como uma resolução com o objetivo de evitar uma nova situação catastrófica como aquela experienciada durante a Segunda Guerra Mundial. 

    No momento atual, ao prestarmos atenção nas implicações que a epidemia de COVID-19 pode trazer para a sociedade como um todo, somos incitados a questionar se esses direitos foram em algum momento realmente garantidos, pelo menos para parte da população mundial.

    Retomando a afirmação do motorista de Uber, mas também considerando o que os trabalhadores das mais diversas áreas têm reivindicado nesse momento, podemos nos atentar para a precariedade de muitas vidas. Talvez, grande parte da população nunca teve garantido “o direito à segurança em caso de perda dos meios de subsistência fora de seu controle” (ONU, 1948).

    Penso, então, que o que essa pandemia está nos ensinando reside precisamente nos efeitos do vírus para além do tempo da ‘declarada pandemia’, modificando ou questionando ideias acerca do próprio conceito de ‘vida’ e subsistência.

    A comida que é usualmente um objeto renegado ao setor privado de nossas vidas, o domínio do oikos, vista como parte de uma esfera afastada da política, define agora, talvez mais do que nunca, aqueles que podem viver ou os que são deixados para morrer. E nesse processo, acaba por definir também o que é entendido por economia (oikos) e qual a sua importância na ‘feitura do Estado’ (Lima, 2012).

    De acordo com o Ministro da Saúde, Luis Henrique Mandetta, “a vida não se resume a uma doença, a um vírus”. Essa afirmação pode sim ser um consenso, no entanto, podemos questionar, a que se resume a vida então? Quais são os mínimos vitais que precisam ser estabilizados para que algo possa ser definido como vida? Que vida é essa que seguiremos tendo após a resolução dessa pandemia (e aqui não penso uma resolução no sentido de fim ou cura do problema)?

    Um dia após essa constatação do Ministro da Saúde, o presidente Jair Bolsonaro aprovou uma medida provisória (MP) que buscava soluções para a crise econômica decorrente do COVID-19. Um dos pontos mais polêmicos da medida permitia a suspensão de contratos de trabalho por até quatro meses durante o período de calamidade pública no país, desde que fossem disponibilizados cursos de formação online para os trabalhadores. Esse ponto foi rapidamente removido da MP após grande mobilização virtual da população, mas o poder executivo federal segue tentando barrar toda possibilidade de criação de medidas que garantam um padrão de vida adequado para todos os cidadãos, com a justificativa de que essas ações poderiam quebrar a economia do país. 

    No entanto, se nos atentarmos aos dados sobre trabalho no país percebemos que a taxa de informalidade é de 41%, o que equivale à 38,8 milhões de trabalhadores sem carteira registrada. Esses números sugerem então um baixo impulso na economia, pois normalmente o trabalho informal está associado à baixos salários, além de não permitir a garantia de estabilidade e segurança no provimento familiar. Em um contexto de crise são esses trabalhadores e suas famílias que são colocados, de uma hora para outra, em condição de total precariedade.

    Face a esse problema, no dia 24 de março, o presidente Jair Bolsonaro, fez um pronunciamento oficial televisionado em todo o país, mostrando sua preocupação com a atual situação econômica. Em sua fala, tentando minimizar os efeitos da crise, afirmou que o COVID-19 não passa de uma “gripezinha” e que por isso somente os idosos e os casos suspeitos deveriam ser mantidos em quarentena e o resto da população deveria continuar vivendo normalmente, isto é, produzindo e consumindo.

    A oposição entre economia e vida parece ser elemento central na forma de gestão do atual governo, o que nos incentiva a questionar então, como garantir um padrão de subsistência adequado para toda a população se o Estado não está disposto a manter grande parte dos cidadãos protegidos do vírus?

    Apesar de parecer um questionamento um tanto inocente, penso que o novo coronavírus pode trazer a possibilidade de repensarmos algumas oposições dadas como ‘naturais’ que operam em nossa vida em sociedade, sendo a principal delas a oposição entre a esfera da economia e a da política. Acredito que o direito à comida ou próprio fenômeno da fome podem nos ajudar a trazer luz aos aspectos mais materiais que informam esse dualismo.

    Se pensamos a economia enquanto diretamente associada à manutenção da vida, isto é, como instrumento de produção e reprodução das condições materiais necessárias à existência humana digna, essa oposição entre economia e vida, ou entre economia e política se desmancha. Mas se seguirmos entendendo essas esferas como separadas continuaremos presos a uma ideia de vida totalmente desnuda de humanidade. O vírus terá então nos ensinado muito pouco sobre nós mesmos.

    Leia também:

    Solidariedade: saúde para todos

    Para saber mais:

    Lévi-Strauss, Claude.[1929] (1965) Le triangle culinaire. L’Arc.

    Lima, Antonio Carlos de Souza, (2012). O estudo antropológico das ações governamentais como parte dos processos de formação estatal. In: Dossiê. Fazendo Estado. Revista de Antropologia. Vol. 55, N. 02 de 2012, São Paulo, USP.

    ONU. (1948) Declaração Mundial dos Direitos Humanos. Paris: III Assembléia das Nações Unidas, 10/12/1948. Res. No 217 A. Disponível em: http://www.onu -brasil.org.br/documentos_direitos humanos.php.

    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.

  • Máscaras caseiras são eficientes contra o coronavírus?

    Com medo de contrair o coronavírus, ou COVID-19, várias pessoas estão costurando e comprando máscaras caseiras para usar na rua, principalmente quando vão às compras. Esses equipamentos de proteção produzidos em casa sem embasamento científico têm tudo para dar errado. Nesse texto, explico o porquê com um exemplo histórico.

    A máscara de gás foi criada na Primeira Guerra Mundial como uma forma de proteger os combatentes no front, pois foi em um ataque em 1915 que as armas químicas passaram a ser utilizadas em massa pela primeira vez. Os primeiros ataques foram realizados com o gás cloro, mas ao longo do conflito outros tipos de gases mais letais foram desenvolvidos, como por exemplo o gás fosgênio e o mostarda.

    As primeiras máscaras eram bastante simples e consistiam basicamente em um pedaço de tecido embebido em soluções neutralizadoras que deveria ser atado ao nariz e a boca. Uma bastante conhecida é o respirador feito com véu negro desenvolvido por John Scott Haldane, o black veil respirator. Chegar ao design de uma máscara aparentemente tão simples não foi uma tarefa fácil. Como o tecido deveria necessariamente ser embebido com soluções neutralizadoras, ele precisava permitir a passagem de ar quanto úmido, já que muitas vezes os combatentes vestiam a máscara logo após mergulhá-la na substância neutralizadora e também ser capaz de neutralizar os efeitos dos gases quando seco.

    Por isso a black veil respirator era feita com um tipo específico de fibra de algodão, além de utilizar como faixa fixadora um véu – negro porque era o mais produzido no momento, já que era usado por viúvas ou mulheres como símbolo luto. Mas nem todos os tecidos permitem a passagem de ar quando estão molhados e desconhecer essa informação causou a morte de muitos soldados. 

    Em uma tentativa de auxiliar nos esforços da guerra, o governo britânico fez uma chamada para que civis fizessem um mutirão para confeccionar máscaras. Milhares delas foram confeccionadas da noite para o dia e enviadas para o front. Como se verificou da pior maneira, elas eram não só inúteis, como perigosas. Como foram confeccionadas com o tipo inadequado de fibra de algodão, essas máscaras não protegiam do gás quando secas e molhadas não permitiam a passagem do ar. Como consequência, no meio de um ataque muitos soldados ficaram desprotegidos ou precisaram tirar a máscara úmida e acabaram sendo feridos ou mortos pelos gases. A partir desse episódio, a produção de máscaras e outros equipamentos de proteção passou a ser centralizada por um departamento criado especificamente para lidar com as questões das armas químicas: o Gas Service. Além de produzirem equipamentos, esse destacamento era responsável por treinar os combatentes para que eles pudessem usar o equipamento de forma correta, já que só assim ele seria efetivo.

    Desenvolver um equipamento exige muita pesquisa e muitos testes. As coisas não funcionam porque elas parecem funcionar, mas sim porque elas acumulam tecnologias desenvolvidas a partir de muitas pesquisas e experiências. E eles só funcionam quando são utilizados de forma adequada, seguindo protocolos rigorosos de uso estabelecidos após numerosos testes.

    As máscaras que estão sendo criadas em casa ou vendidas por costureiras – e até mesmo aquelas cirúrgicas – não impedem a inalação do COVID-19. Elas somente são efetivas quando usadas por pessoas contaminadas, já que impedem a dispersão do vírus no ar através de gotículas. A pessoa saudável que usa uma máscara caseira está, na verdade, criando uma armadilha para concentrar o vírus (e outros microrganismos) no próprio rosto. Além disso, tocar na máscara, deslocá-la pelo rosto até a área dos olhos ou abaixá-la no pescoço para falar acabam, na verdade, aumentando as chances de contaminação. Por isso essas máscaras podem ser tão perigosas: elas criam uma sensação falsa de segurança, o que acaba aumentando as chances de contaminação.

    As únicas máscaras capazes de impedir a inalação dos vírus são aquelas que possuem um sistema para barrar partículas minúsculas, biológicas ou não, dispersadas por aerossol. E como dito anteriormente: elas só funcionam quando usadas de forma rigorosamente correta e por tempo limitado. Se não conhecemos o comportamento e o tamanho do vírus e as especificidades dos tecidos, e se não sabemos quais são os protocolos de segurança no uso, criar e usar máscaras caseiras é irresponsável e perigoso. Não existe equipamento milagroso contra a contaminação. Para diminuir os riscos de contrair a doença devemos ficar em casa e evitar aglomerações, lavar frequentemente as mãos com água e sabão por pelo menos 20 segundos, não tocar a face e manter ambientes ventilados.

    Se você não apresenta sintomas, não compre máscara de nenhum tipo! Deixe para as pessoas que trabalham na área da saúde e seus familiares, que estão expostos cotidianamente ao vírus, e para as pessoas que precisam cuidar de familiares e amigos doentes. Somente use máscaras se você estiver contaminado.

    Um último lembrete: precisamos proteger e investir na ciência brasileira, pois é somente através de pesquisas e experiências que encontraremos soluções eficientes para os nossos problemas, como é o caso da atual pandemia.

    Update 06/04/2020 (Coordenação do Blogs de Ciência da Unicamp): Até o presente momento a Organização Mundial de Saúde segue sem recomendações de uso de máscara por pessoas não contaminadas. O MS e o CDC mudaram suas recomendações, especialmente em função de pessoas que podem estar infectadas mas não sabem. Todas as recomendações mais recentes são apenas para usar máscara como barreira mecânica de quem está infectado. O Blogs de Ciência da Unicamp decidiu manter este post no ar, uma vez que traz um panorama histórico importante dos riscos de produções sem cuidados técnicos e científicos. Quaisquer recomendações feitas por este veículo de Divulgação Científica estão e estarão, sempre, de acordo com preceitos científicos e embasados teoricamente. Reiteramos, ainda, que quaisquer comentários desrespeitosos com a autora, ou o blogs, não serão aceitos. 

    Para Saber mais

    AULD, S. J. M. Gas and flame in modern warfare. Nova York: George H. Doran, 1918.

    FRANKE, I. A fotografia e a máscara: uma antropologia da imagem. 2019. 109 f. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.

    GRAYZEL, S. R. Defence against the indefensible: the gas mask, the State and British Culture during and after the First World War. Twentieth Century British History, vol. 25. n. 3, 2014, pp. 418-434.

    JONES, S.; HOOK, R. World War I gas warfare tactics and equipment. Colchester: Osprey, 2007.

     

    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.

  • Uma mão lava outra com sabão no combate ao COVID-19.

    Na nossa pele, a sujeira, que pode conter vírus, como o COVID-19, fica rodeada por uma camada de gordura. Lavar as mãos apenas com água não é eficaz para remover a gordura das mãos ou destruir o COVID-19, isto é, usar apenas água não é uma forma adequada de limpar as mãos. Precisamos usar o sabão/sabonete para lavar as mãos.

    Daí fica a importância do uso de uma invenção bem antiga, o sabão. 

    Mas afinal, o que é o sabão?

    O sabão pode ser classificado como um sal de um ácido carboxílico de cadeia carbônica longa: um composto orgânico com vários átomos de carbono e hidrogênio na sua estrutura, como o estearato de sódio

    O efeito disso é que a cadeia longa de carbono no sabão forma uma cauda que não se mistura com a água, uma cauda hidrofóbica,  enquanto a “cabeça” , no exemplo com o carboxilato (perceba a carga negativa), é hidrofílica, é capaz de ser solvatada, ou dissolvida pela água. 

    Em água, cada uma das moléculas que compõem o sabão não fica isolada. Elas se juntam e formam um aglomerado esférico em que a parte carregada negativamente fica voltada para a superfície. Esse aglomerado organizado é chamado de micela.

    Como o sabão age?

    Quando lavamos as nossas mãos com sabão/sabonete líquido/sabonete e água, estamos expondo as nossas mãos e as sujeiras presentes nela a essas micelas, que se re-organizam e interagem tanto com a água quanto com a gordura. 

    O coronavírus têm um estrutura protetora ao seu redor formado basicamente por lipídios (“gordura”) e proteínas. O sabão é eficaz contra o coronavírus, pois é capaz de interagir com a gordura presente na membrana (ou envelope). O sabão separa os componentes individuais presentes na estrutura que recobre o vírus, destruindo essa estrutura e, consequentemente, destruindo o vírus. 

    As partículas de sabão se organizam de novo, e toda a sujeira grudada na gordura e os pedacinhos do que foi o vírus vão para dentro dmidascelas, que acabam sendo levadas pela água quando você enxagua a mão. 

    O sabonete e os detergente sintéticos também são capazes de destruir o coronavírus. Todos eles têm a longa cadeia formada de carbono e hidrogênio (também chamada de alquílicas), que se esconde da água, e outra extremidade que “gosta” da água.  

    A diferença do detergente sintético em relação ao sabão preparado a partir de gorduras e óleos vegetais, é que no lugar do grupo carboxilato, os detergentes sintéticos contém grupos formados por sulfonatos de sódio e sulfato de sódio, todos hidrofílicos.

    Referências

    Burrows, A. et al. Química: Introdução à Química Inorgânica, Orgânica e Físico-Química. Volume 3. Rio de Janeiro: LTC. 2013

    Solomons, TWG; Fryhle, C.B. Química Orgânica. 10 Edição. Rio de Janeiro: LTC. 2013.

    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.

  • Coronavírus: conhecendo o vilão COVID-19 e combatendo a infecção

    O que é o vírus, como ocorre a sua disseminação e por quê devemos mudar nossos hábitos para combatê-lo

     

    Tempo de leitura: 3 min

     

    O que é um vírus?

    O vírus é formado por uma cápsula de proteínas contendo material genético e que é capaz de se multiplicar dentro das células de organismos. As partículas virais infecciosas são montadas em uma célula hospedeira, geralmente são partículas metaestáveis e robustas o suficiente para proteger o genoma viral fora da célula1. Para explicar melhor, o Blogs de Ciência da Unicamp fez um vídeo explicativo e didático explicando o que é um vírus e como ele se propaga.

    Fonte: Conteúdo científico e roteiro – Luisa Fernanda Rios Pinto; Narrativa-Paula Penedo; Arte e animação- Carolina Frandsen; Produção-Equipe Blogs de Ciência da Unicamp.

    Mas o que é o COVID-19?

    O COVID-19, ou Sars-Cov-2, é uma doença infecciosa causada por um vírus recém descoberto e pertencente a família corona. O nome corona vem do fato de que quando os cientistas olham para o vírus pelo microscópio, o vírus parece ter uma “coroa” em volta de si.

    Fonte:Wikimedia Commons

    Existem vários tipos de coronavírus em humanos e animais, e a razão pela qual o COVID-19 tem ganhado tanta atenção é que este vírus foi detectado em humanos pela primeira vez em dezembro de 2019 e, até o momento (24/03/2020), segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)2 já infectou mais de 370 mil pessoas ao redor do mundo. Sua capacidade de contágio é bastante alta comparada aos vírus anteriormente descritos e a severidade da síndrome respiratória causada (uma forte pneumonia) tem alertado o mundo para o perigo desta pandemia. Os dados ainda são bastante insipientes e a cada dia novas informações são descobertas a respeito dessa doença. 

    Nos Estados Unidos, a porcentagem das pessoas infectadas que desenvolvem os sintomas mais severos, necessitando tratamento intensivo (UTI), varia entre a faixa etária, sendo em média 10,5%3 e até 30,1%4 para pacientes entre 75-84 anos, segundo estudos estatísticos. Além disso, devido ao rápido contágio e a limitação dos sistemas de saúde, se sabe que a taxa de mortalidade pelo COVID-19 depende do país, mas está em torno de 0,36-8%, com uma baixa taxa reportada na Alemanha e a maior na Itália5

    É importante ressaltar aqui que ainda não há vacina ou remédio que sejam eficazes contra o COVID-19. Muitos laboratórios ao redor do mundo estão correndo contra o tempo para desenvolver um tratamento, mas as melhores estimativas são de que não teremos uma solução acessível à população pelo menos até o final de 2020.

    O Brasil

    No dia 23 de março, o Brasil contava com 1891 casos diagnosticados da doença e 34 mortes6. O crescimento é alarmante, sabendo que no dia 15 de março se reportavam 162 casos positivos para o COVID-19. Isso significa que em oito días (de 15 a 23 de março), os casos aumentaram mais de 11 vezes. Isso nos dá um bom indicativo de como a doença se espalha rapidamente, o que pode levar ao esgotamento dos leitos disponíveis em hospitais para o tratamento dos doentes. 

    O Brasil conta com uma população de cerca de 210 milhões de habitantes. Se imaginarmos que somente 50% da população terá contato com o vírus, e que 50% dessa pessoas desenvolvem sintomas, o número de pessoas sintomáticas no Brasil pode chegar a 50 milhões de pessoas. Desses 50 milhões, estima-se que 5% precisaria de tratamento hospitalar7. Imagine agora se todas essas pessoas ficarem doentes ao mesmo tempo. Seria humanamente impossível tratar todos os doentes, ademais somando-se os pacientes com outras doenças e acidentes. Repare que todos esses números são baseados nos dados que temos disponíveis de outros países, e que ao final dessa crise, esse cenário poderá ter sido melhor, ou ainda pior. 

    Diante desse cenário, podemos ver a importância de diminuir a disseminação do vírus, para que assim não tenhamos um sistema de saúde sufocado e sem a capacidade de tratar todas as pessoas doentes. 

    Qual o melhor combate ao coronavírus? 

     

    Higiene

    Criar hábitos de limpeza é muito importante nessa jornada. O melhor que podemos fazer para ajudar a sociedade é nos isolar em casa. Mas as vezes precisamos sair para ir ao mercado ou algum lugar que seja urgente. Para isto precisamos ter uma rotina de limpeza para entrar em casa e recomendamos alguns passos:

    1. Coloque as chaves perto da porta e não pegue-as se não for sair; se puder, limpe.

    2. Assim que chegar em casa, tire os sapatos e a roupa e deixe do lado de fora, depois lave a roupa com água e sabão. 

    3. Ao entrar em casa, não toque em nada antes de se higienizar.

    4. De preferência tome banho, se não puder, lave bem todas as áreas expostas com água e sabão. 

    5. Limpe o celular com um lenço e um pouco de álcool 70%, se não tiver álcool pode passar um paninho com água (não precisa ser muita) e um pouco de sabão e depois retirar o excesso com um lenço úmido (quase seco).

    6. Se tiver óculos, lave os óculos com água e sabão. 

    7. Quando estiver em casa, lave as mãos frequentemente com água e sabão durante 20 segundos.

    8. Não precisa ficar de máscara na casa se não estiver doente ou positivo com coronavírus. 

    9. Tente fazer o máximo de compras online. Se pedir alguma coisa pelo delivery, evite falar com a pessoa, pegue a caixa, limpe com álcool e entre em casa; evite contato, use cartão para pagar a conta. 

    10. Evite passar as mãos na boca ou nariz.

    11. Evite o pânico.

     

    Se possível #fiqueemcasa, mas se precisa sair para algum lugar, evite o uso de transporte público, evite aglomerações e evite tocar em superfícies. Lembre-se: sempre que puder, lave as mãos e siga a rotina acima da limpeza no retorno a casa.

     

    Isolamento

    Neste momento é melhor ficar em casa e evitar circular pelas ruas. O isolamento serve para combater ou impedir o espalhamento do vírus. Serve para que a doença não seja transmitida para as demais pessoas e com o isolamento, evitamos a propagação massiva da COVID-19 a superlotação de hospitais por pessoas infectadas e que o sistema de saúde entre em colapso. É importante manter o distanciamento social. Muitos países decretaram quarentena (isolamento físico e temporário de pessoas) para evitar o contágio, e é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). 

     

    Para saber mais:

    https://www.blogs.unicamp.br/covid-19/os-isolamentos-sao-importante-sim-senhor-e-nao-e-de-hoje-essa-pratica/

     Depende de todos para que este vírus não se espalhe pelo país e o isolamento é uma maneira de cuidarmos e cuidar dos nossos familiares. 

     

    #ficaemcasa #coronavírus

     

    Referências

     

    [1] Mateu MG. The Structural Basis of Virus Function. Structure and Physics of Viruses. Acesso:https://link.springer.com/chapter/10.1007/978-94-007-6552-8_1

    [2]https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019

    [3]https://www.statista.com/chart/21173/hospitalization-icu-admission-and-fatality-rates-for-reported-coronavirus-cases/

    [4]https://www.cdc.gov/mmwr/volumes/69/wr/mm6912e2.htm

    [5]https://brasil.elpais.com/brasil/2020/03/20/ciencia/1584729408_422864.html

    [6]https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6101:folha-informativa-novo-coronavirus-2019-ncov&Itemid=875

    [7]https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/03/18/protocolo-elaborado-pelo-incor-vai-orientar-o-tratamento-dos-casos-graves-de-coronavirus-em-sp.ghtml

    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.

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