Tag: coronavírus

  • Vacinômetros: quais dados estão sendo informados?

    Texto de Ana de Medeiros Arnt e Leonardo Augusto Medeiros

    Vocês já perceberam como as informações sobre o andamento da vacinação estão confusos e podem atrapalhar nossa compreensão sobre os dados? Hoje nós resolvemos olhar os famosos “vacinômetros”!

    Quando vamos analisar, há vários dados que parecem conflitantes e, até para tomarmos decisões baseados na sensação de estarmos mais ou menos seguros – individual ou populacionalmente. Verdade seja dita, não sei vocês, mas do lado de cá, cada um de nós vibra com as postagens de fotos de vacinas e com os números de vacinados crescentes!

    Mas como deveríamos olhar estes dados e que tipos de cuidados precisamos ter?

    Temos usado um termo de forma recorrente para falar de vacinação em massa que é cobertura vacinal. A cobertura vacinal nada mais é do que a quantidade de pessoas, dentro de uma população, que está com o esquema vacinal completo. Já o esquema vacinal completo, para COVID-19 seriam as duas doses e o tempo de imunização, ou a dose única e o tempo de imunização.

    Ao longo de toda a comunicação sobre vacinação também falamos sobre como seria importante ter uma alta cobertura vacinal para termos segurança no que tange à diminuição de casos e de circulação de vírus. Claro que tudo isso atrelado à manutenção de medidas não-farmacológicas tanto quanto fosse possível. Isto é: uso de máscaras (preferência para as filtrantes tipo PFF2), distanciamento físico / social, evitar ao máximo espaços fechados e não ventilados.

    Mas e quanto é uma boa cobertura vacinal? No início de 2021 apontamos que seria importante termos acima de 70% de vacinados na população para começarmos uma abertura segura. Neste meio tempo, tivemos o início da vacinação em nosso país e, também, a chegada da variante Gamma (p.1) e todo o caos de saúde pública vivenciado em Março e Abril deste ano – como se fosse pouco tudo o que tínhamos vivenciado até então.

    Em suma, temos apontado mais recentemente que seria fundamental termos 75% de cobertura vacinal – ou mais do que isto, perto de 90% frente à variante Delta. 

    Cobertura vacinal de 75% representa o quê exatamente?

    Em nosso país, considerando a totalidade da população 75% representa todos os adultos acima de 18 anos estarem vacinados com duas doses ou dose única. Todavia, antes, alguns lembretes:

    1. Se tomarmos as vacinas que têm regime de duas doses precisamos de duas doses para nos protegermos

    2. Nos protegermos significa também proteger quem está em nossa volta.

    3. Estarmos vacinados significa seguir usando medidas não farmacológicas tanto quanto for possível.

    Dados públicos de vacinação nas redes sociais e sites oficiais

    Como buscamos informações

    Sobre os dados de vacinação nos estados e municípios brasileiros, nós pedimos ajuda de quem segue nosso trabalho na rede social Twitter para ver como algumas prefeituras e estados estão divulgando os dados! Vimos vários modos de divulgação e vamos apresentar aqui alguns deles.

    Para explicar como vamos apresentar estes dados

    É importante dizer que tentamos agrupar por “como os dados estão organizados”: há quem só diga quantas doses foram aplicadas, há quem apresente porcentagens de populações ou parcelas de população vacinadas; há quem coloque vacinação junto com outros dados da COVID. Tudo isso modifica bastante a informação que está nos sendo fornecida e, também a facilidade ou não de lermos estes dados.

    De modo algum nosso intuito é desmerecer o trabalho das prefeituras que têm feito um esforço grande em deixar as populações de seus municípios informadas, já ressaltamos aqui! No entanto, conforme vamos recebendo perguntas, também percebemos que existe dificuldade de compreensão das informações que existem não só nas comunicações em si, mas em um montante de informações que a população procura em outros espaços para conseguir tomar decisões para melhor se prevenir. E, muitas vezes, é nessa quantidade de informações e dificuldade de entender números específicos, que também vamos nos confundindo… 

    Assim, organizamos tudo a partir de como consideramos que alguns dados poderiam ser apresentados os dados de vacinômetros, a partir da ideia de cobertura vacinal, já que este é um dado que nos dá uma ideia geral de como a nossa população está neste momento.

    Por fim, também ressaltamos que usamos as informações que nos foram fornecidas, isto é: não fomos atrás para ver “como mesmo” estes dados estão nas plataformas das prefeituras. Dessa maneira, compreendemos que essa decisão se faz necessária deixar clara, em função de termos apresentado nossas ideias aqui a partir de como o público coleta informações sobre a vacinação – e muitas vezes como este público vem até nós perguntar. É a partir destes dados divulgados em redes sociais e sites oficiais de seus municípios.

    Nós dividimos as informações que recebemos em três categorias para apresentar a vocês:

    1) Vacinômetros com aplicações de doses: Cidades que apresentam números totais de vacinados;

    2) Vacinômetros com porcentagens de vacinados: Cidades ou estados que apresentam porcentagem de “público vacinado”, esta categoria apresentou variações que dividimos em

    • População com primeira dose completa: considera apenas a porcentagem que tomou a primeira dose, para apresentar os dados ao público;
    • Público vacinável vacinado: Isto é, quantas pessoas entre aquelas que podem ser vacinadas foram vacinadas;
    • População Vacinada: faltando dados sobre informações de doses, população vacinável e população geral.
    • População Adulta Vacinada e População Geral Vacinada: detalhando as informações em categorias

    3) Vacinômetros com porcentagens de vacinação: porcentagens aleatórias e sem informações detalhadas: porcentagens que não informam exatamente sobre o que se trata o dado apresentado.

    Ressaltamos que recebemos uma quantidade enorme de exemplos e não foi possível usar todos, infelizmente. Foram mais de 70 mensagens recebidas, as quais agradecemos imensamente. Dessa forma, buscamos agrupar e utilizar o máximo de exemplos para diversificar a informação e mostrar informações palpáveis para compreender melhor como ler estes vacinômetros.

    Vamos aos exemplos de vocês?

    Vacinômetros com aplicações de doses

    1/3 Vacinômetros de municípios que colocam aplicações de doses como informação
    2/3 Vacinômetros de municípios que colocam aplicações de doses como informação
    3/3 Vacinômetros de municípios que colocam aplicações de doses como informação

    Vacinômetros com porcentagens de vacinados

    1/5 Vacinômetros de municípios que colocam porcentagem da população como informação
    2/5 Vacinômetros de municípios que colocam porcentagem da população como informação
    3/5 Vacinômetros de municípios que colocam porcentagem da população como informação
    4/5 Vacinômetros de municípios que colocam porcentagem da população como informação
    5/5 Vacinômetros de municípios que colocam porcentagem da população como informação

    Vacinômetros com porcentagens de vacinação

    Vacinômetros com porcentagens de vacinação

    O que podemos falar sobre estes exemplos que trouxemos aqui?

    É de suma importância que as prefeituras apresentem os dados de maneira clara e objetiva, dando ênfase sempre às informações com maior impacto sobre o combate à pandemia. Dessa forma, é bom lembrar que, em casos como os que estamos vivendo, as comunicações oficiais também têm um papel de informar as populações para melhor conduzir suas ações e decisões acerca das proteções individuais.

    Assim, nós consideramos que a porcentagem da população total que já foi vacinada, com uma dose é importante sim. Mas especialmente a parcela que já está com seu esquema vacinal completo é fundamental como dado técnico para compreendermos em que etapa estamos neste momento, de cobertura vacinal e, portanto, proteção coletiva.
    Ao fazer recortes específicos, como, por exemplo, considerar apenas o percentual de adultos vacinados, ou até mesmo divulgar apenas o percentual entre as vacinas recebidas e aplicadas, pode-se gerar confusão na população, que vê números mais altos e pode ser levada à compreensão de que a cidade já está em um patamar mais alto de imunização, portanto, em um nível maior de segurança. 

    Não priorizar esses dados, divulgando outros com menor relevância prática no combate ao vírus pode ser mais um ruído – dentre tantos que temos.

    Por outro lado, não é nosso intuito (novamente) desmerecer o trabalho que todos têm feito para informar a população. Mas também apresentar a quem tem acompanhado nosso trabalho, um pouco sobre como estes dados podem ser lidos e quais limites de informações podemos extrair dali, neste momento.

    Por fim

    Este texto, feito de forma colaborativa, só tem a agradecer a todos que ajudaram enviando imagens para que conseguíssemos ver a diversidade de formas de comunicar sobre as vacinas. É importante, dentro do nosso trabalho, afim de que nós tenhamos mais condições de entender quais são as dúvidas comuns que surgem. Além disso, compreender como as informações têm sido percebidas por todos. Por fim, novamente ressaltamos que de forma alguma este levantamento teve intenção de ser “completo”, nem uma crítica direta às prefeituras, que tem feito um esforço enorme para deixar sua população informada sobre o andamento da vacinação.

    Para Saber Mais

    Cobertura vacinal, retomadas, indivíduos e população

    Sobre aberturas, cautelas e políticas públicas

    Estratégias de vacinação: o que se leva em conta?

    Coronavírus Brasil: Site oficial | Twitter 

    Vacinômetros, via Rede Análise COVID-19

    Langdon Data Monitor da Covid: Vacinação

    Os autores

    Ana de Medeiros Arnt é bióloga, Doutora em Educação, Professora do Instituto de Biologia da Unicamp e coordenadora do Blogs de Ciência da Unicamp e do Especial COVID-19

    Leonardo Augusto Medeiros é graduado em cinema e audiovisual, é um dos administradores no grupo Coronavírus Brasil e realiza o levantamento dos dados sobre a pandemia, e divulgação dos dados da vacinação.

    Este texto é original e escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os produziram-se textos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores. Além disso, os textos passaram por revisão revisado por pares da mesma área técnica-científica na Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Ensino Fundamental e a pandemia de Covid-19: realidades e vivências (parte II)

    Texto escrito por Tanise Flores, Peterson Kepps e Mélany Santos

    Janeiro de 2021, em plena pandemia da COVID-19 a autora deste texto recebe a notícia mais improvável (ao menos para ela) por toda situação caótica que, ainda, vivemos. Recém-formada em Biologia Licenciatura, acabava de ser contratada para preencher uma vaga de professora substituta da disciplina de Ciências em uma pequena escola privada de Ensino Fundamental situada na cidade do Rio Grande/RS.

    A partir dessa experiência, dividirei algumas de minhas vivências atuando no ensino emergencial remoto e híbrido com o olhar de quem atua na rede privada. De antemão, gostaria de comentar o quanto me sinto privilegiada em comparação com professores da rede púbica. Escrevo isso por perceber que os estudantes com os quais atuei possuem melhores condições de acesso à internet, assim como um ambiente, na maioria das vezes, calmo e tranquilo para a participação das aulas remotas.

    A escola no qual estava vinculada não deixou seus estudantes uma semana sequer afastados por completo. Alguns estudantes relataram que já na primeira semana em que as escolas foram fechadas tiveram acesso a atividades enviadas pelo Facebook. Nesse sentido, pelo relato dos estudantes, não demorou muito para a escola organizar uma plataforma para que ocorressem as aulas on-line.

    Porém não vivenciei este período inicial e o que gostaria de dividir por aqui são alguns dos momentos nos quais atuei como professora nos cômodos da minha casa. Preciso comentar que muito provavelmente pelo meu desejo forte em começar a atuar como professora, eu possa relatar experiências mais positivas do que negativas, pois foram essas que me tocaram. Me tocaram no sentido de Larrosa, que nos sugere pensar a educação a partir da experiência vivida.

    Assim, minhas primeiras lembranças deste período são dos momentos de ensino remoto com os estudantes, visto que no segundo bimestre atuei na escola no formato do ensino híbrido.

    Confesso que me adaptei rápido a este novo estilo de sala de aula, claro que ao comparar as vivências do ensino remoto (mediado pela utilização da internet) com as vivências do ensino híbrido (ensino mesclado, onde parte da turma se encontra de forma presencial com a professora e parte da turma acompanha a aula em tempo real, através de plataformas digitais, em casa) percebi com clareza o quanto é mais proveitoso para nós professores e para os estudantes quando todos conseguimos nos encontramos de forma totalmente presencial.

    Vivenciando o ensino remoto

    Tive a oportunidade de trabalhar com os 6º, 7º e 8º anos e pude perceber o quanto cada turma é única e responde de forma bem diferente ao ensino remoto. Pude perceber nos mais pequenos a animação em conhecer a professora nova, o entusiasmo com algumas atividades realizadas em aula dentre tantas outras questões que imagino se aproximarem muito de uma sala de aula presencial.

    Alguns estudantes levantavam a mão para falar, pediam para ir ao banheiro, avisavam que iam sair da aula on-line, por algum motivo, e que já retornariam. Entendo que em muito disso estava a escola que incentivava e reforçava atitudes comportamentais como estas, mas não posso deixar de pensar, com as lentes de Michel Foucault, em todo disciplinamento de muito antes da pandemia que estes estudantes receberam ao longo dos anos dentro dos muros da escola e que não foram esquecidos agora que a mesma está em suas casas.

    O celular como parte do material escolar

    Outro ponto interessante a pensar, que a vivência remota proporcionou para as escolas privadas, é a inclusão do celular como parte do material escolar. Percebi que alguns de nós professores conseguimos adaptar de forma muito positiva jogos e atividades on-line de modo que estas envolvessem os conteúdos trabalhados aproximando os estudantes de sua realidade.

    Trago como exemplo o jogo “Minecraft”, comentado com frequência pelos estudantes na sala de aula. A partir dele, consegui trabalhar conteúdos relacionados como, por exemplo, aos tipos de solo e de rochas.

    Os estudantes se entusiasmaram muito com a ideia da aula, foram participativos e inclusive atuaram como protagonistas. Um dos estudantes, de forma voluntária, compartilhou sua tela e acessou o jogo a partir de sua conta privada. Eu, enquanto professora, apenas guiava e orientava para que ele apresentasse para turma os minerais presentes no solo, as diferentes rochas e assim por diante.

    Outro jogo aplicado em sala de aula e adaptado ao conteúdo de ciências (também por sugestão dos estudantes) foi o Gartic. Este, consiste em uma espécie de Imagem e Ação on-line. Caso você nunca tenha jogado, o jogo tem como objetivo adivinhar o desenho ou mimica que está sendo realizada por um dos participantes. Claro que precisei de tempo, que talvez não tinha, para adaptar ao conteúdo de ciências (aqui caberia mais uma boa discussão).

    Assim, tentando fazer do limão uma bela limonada utilizei o tal do Gartic como forma de revisar os conteúdos trabalhados no bimestre. Para isso, modifiquei as palavras sugeridas no jogo para conceitos que estudamos em aula e um estudante por vez realizava o desenho on-line sorteado pelo próprio site do jogo. Para conseguir desenhar e/ou adivinhar o que estava sendo desenhado era preciso domínio do conteúdo.  

    Outra ferramenta muito utilizada, nesse período, foi o Jamboard (quadro interativo desenvolvido pelo Google) através dele conseguimos adaptar atividades virtuais em grupos, pois os estudantes conseguiam acessar o mesmo quadro/mural acrescentando informações em tempo real.

    A tal das câmeras desligadas

    Para não dizer que só encontrei pontos positivos no ensino remoto (longe disso), um dos pontos negativos que poderia listar foi a questão da câmera desligada por alguns estudantes, seja por falta de motivação ou alguma impossibilidade. Alguns destes interagiam pelo microfone ou chat, mas aqueles que permaneciam em total silêncio não era possível ter ideia se estavam por ali ou não. Se fazia sentido o que estava sendo trabalhado em sala ou não.

    Já os que estavam com suas câmeras abertas, por mais que nem sempre participassem de forma oral, era possível perceber pelos gestos de cabeça ou expressões faciais se estavam um pouco mais envolvidos com a aula ou não.

    A avaliação em tempos remotos

    Outro fator que me incomodou bastante e que não poderia deixar de comentar, pois me fez refletir sobre a prática docente é a questão das avaliações. Sabemos que alguns dos estudantes copiam as questões da internet (como nos trouxe o Matheus em “A plataforma Brainly e as exposições da educação brasileira”) e sequer pesquisam nas páginas indicadas, pelos professores, dos livros didáticos ou da web.

    Sinto como se fosse muito mais prático (e talvez seja), para eles, jogar no google (ou no Brainly) e copiar a primeira resposta encontrada, que por vezes possuem termos muito avançados e que sequer foram trabalhados nas aulas, do que dedicar um tempo para realizar uma busca significativa.

    Nesse sentido, percebo que os estudantes talvez não estejam familiarizados com a pesquisa, pois para responder uma prova com consulta (o que se tornaram as avaliações em tempos de ensino remoto) é preciso ao menos que se consulte mais de uma fonte, reflita sobre o que encontrou e elabore uma resposta mais próximo do que acredita ser a correta, fugindo da decoreba.

    Assim, acredito que cabe a nós docentes, dar espaço em nossa sala de aula para que sejam ensinadas, por exemplo, como usar ferramentas de busca online e como referenciar um trabalho incentivando que o estudante tenha um contato maior com a pesquisa científica já no ensino básico.


    Para saber mais…

    LARROSA, Jorge (2002) Notas sobre a experiência e o saber da experiência.

    FOUCAULT, Michel (2007) A arqueologia do Saber.

    Ensino Fundamental e a pandemia de covid-19: realidades e vivências no ensino público

    A plataforma Brainly e as exposições da educação brasileira

    Este texto foi escrito originalmente para o blog PEmCie

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores. Além disso, foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.

  • O que muda no pós-graduação com o ensino remoto?

    Antes de falar sobre o ensino remoto e a pós-graduação. Antes de mais nada, eu, professora Lavínia, gostaria de me apresentar para as inquietações e discussões que eu trouxer terem sentido para vocês. Sou professora há 21 anos! Aham, maioridade já! E posso dizer que se tem uma coisa que me inspira no trabalho como professora – no Ensino Médio, na graduação ou no pós-graduação – é o contato direto com os estudantes. Aquele cotidiano de sala de aula que nenhum outro tipo de interação é capaz de substituir. Nós enxergarmos aquele grupo à nossa frente, “olho no olho”. Os gestos feitos, as posições corporais tomadas e as frases ditas durante o processo de ensinar e de aprender não tem qualquer mecanismo tecnológico que substitua.

    Sim! Estou muito insatisfeita com o rumo que tivemos que tomar durante essa pandemia. Ouvíamos falar de gripe espanhola, de outras pestes que acometeram a população mundial ao longo da história e jamais, nem nos piores pesadelos, pensávamos passar por isso. Ainda mais ter no distanciamento social, uma das principais formas de prevenção a essa doença. Nem vamos falar nas vacinas, a segunda possibilidade de prevenção que o governo brasileiro também – assim como o distanciamento – não soube organizar nem possibilitar para a população.

    Esse ensino remoto é igual pra qualquer professor? E vale para qualquer nível de ensino?

    Vamos falar disso nos próximos textos. Mas hoje o assunto é pós graduação e, em relação ao ensino de pós-graduação – um dos níveis de ensino que trabalho atualmente – temos a possibilidade de continuidade pelo trabalho remoto, em nossas casas, com auxílio da internet. É a internet que nos une aos estudantes, aos colegas de trabalho e aos nossos grupos de pesquisa.

    Em termos de quantitativo de trabalho, em meu caso, não houve mudança. Isto é, continuo com as mesmas atividades que já divulgamos em outros textos aqui e aqui também neste blog. Inclusive, me sinto um pouco mais sobrecarregada! Isto porque os horários, no trabalho remoto, se ampliam e se mesclam aos afazeres de manutenção de uma casa. Ou seja, muitas vezes, quando me dou conta, ultrapasso o trabalho de 40h semanais, avançando a noite à frente do computador.

    Nessas horas, dá uma saudade do sinal sonoro da escola! Aquele marcador disciplinar que ditava o início e o fim das aulas. Ele marcava o momento em que eu veria outros rostos em uma turma diferente ou que avisava que era a hora de saída do trabalho! Tudo bem, vocês podem dizer que na graduação ou no pós-graduação não tem sinal.

    É… Não tem! Mas os marcadores do que este sinal representa dentro do contexto educacional persistem dentro de nós. Estão introjetados! Assim como a forma de nos acomodarmos em sala de aula, sejamos estudantes ou professores. E assim também, como as tarefas que temos de entregar e os objetivos que temos de alcançar, sejamos alunos ou professores. Essas tarefas e objetivos permanecem, mesmo no trabalho remoto.

    Marcadores na escola e na sociedade: os mecanismos disciplinares…

    Estamos falando aqui de mecanismos disciplinares! Desde que nascemos somos interpelados por eles. E claro que eles nos ajudam a nos tornar o que somos. Assim, vamos sendo disciplinados pela organização familiar, pelos tempos definidos para cada ação ou atividade dentro dela. Também pelo espaço que ocupamos dentro de nossa casa tanto corporalmente, quanto nas funções que assumimos nessa instituição familiar.

    Depois, conforme vamos nos desenvolvendo, outros tipos destes mecanismos de disciplina corporal, de tempo, do espaço, ou funcional nos produzem dentro da escola, e de outras instituições que vivenciamos. Aprendemos, nessas vivências, que há modos de falar e se portar em determinados contextos. Aprendemos que não se pode falar ou fazer qualquer coisa a qualquer hora! Assim, os mecanismos disciplinares são aqueles que agem sobre nossos corpos para torná-los produtivos e parte da nossa sociedade (FOUCAULT, 2002).

    Voltando ao nosso tema sobre o ensino remoto na pós-graduação, percebo que não temos tantas dificuldades em relação ao desenvolvimento das aulas, pois os estudantes do nível de pós-graduação já estão muito bem disciplinados. Foram, no mínimo, 16 anos de escola, incluindo Educação Básica e Ensino Superior.

    E é por isso que estes pós-graduandos abrem suas câmeras, sem receio de mostrar o rosto. Eles participam abertamente das aulas, têm muito menos vergonha de se expor, e fazem todas as tarefas disponibilizadas a eles. Neste futuro pesquisador que está se formando, os mecanismos disciplinares já estão bem internalizados no corpo e na mente.

    Mecanismos disciplinares são produtivos, qual é o problema no ensino remoto?

    Então, professora, se parece que está tudo bem ao nível de pós-graduação, o que a incomoda tanto? Aí, eu posso dizer que nem só de disciplina vive o humano… hehe!

    Como professora, não tenho queixas ou problematizações acerca do trabalho no pós-graduação em relação ao comprometimento dos estudantes. No entanto, assim como todos nós que estamos nessa “bolha” profissional daqueles que podem desenvolver trabalho remoto, a falta da convivência direta com o outro que nos abate! Essa ausência de contato físico, o “olho no olho” que comentei no início atrapalha bastante o andamento das atividades. Assim, essa ausência é sentida pelos professores – e também pelos alunos, como vocês verão na sequência da série – em qualquer nível de ensino.

    O que nos move é o contato! O contato com os espaços físicos da universidade, com os colegas no cafezinho no Centro de Convivência. Aquele papo aleatório no corredor com o colega que não via há um tempo, ou apenas a conversa que trocamos com o/a porteiro/a do prédio! É isto que a pandemia tem tirado dos professores!!!

    O que vem agora no ensinar e aprender?

    Aqueles que já vivenciaram as duas formas de ensino: presencial e remota, entendem o que tenho dito. Dessa forma, fico me perguntando se criaremos um novo modo de entender e produzir a educação nas escolas? Penso naquelas crianças que nunca vivenciaram outra forma de ensino a não ser esta mediada por tarefas impressas ou por tarefas postadas em plataformas digitais. Ou ainda, quando possível, por conversas mediadas via computadores e acesso à internet.

    Em suma, elas estão tendo um outro tipo de disciplinamento. E aquilo que há pouco me referi como o que mais move o professor em sua sala de aula, talvez possa não existir para elas. Um novo de ensinar, de aprender e de disciplinar os sujeitos vem sendo desenhado. Quais os resultados disso? Outras pesquisas e textos nos dirão.

    Para saber mais sobre o que foi trazido aqui…

    Foucault e a educação: entre o poder disciplinar e as técnicas de si (é possível educar para a liberdade?). Artigo de Fábio Antonio Gabriel e Ana Lucia Pereira, publicado na Educação em revista. V19. 2018.

    O texto clássico de Michel Foucault sobre o poder disciplinar é do livro Vigiar e Punir, cuja 12ª edição é da Editora Vozes. 2002.

    Este texto foi elaborado originalmente no Blog Pemcie

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores. Além disso, foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.

  • Reflexões sobre o Ensino Remoto: da escola à universidade!

    Vocês já pararam para pensar como nos formamos e de que modo nos inserimos dentro de determinados grupos sociais?

    Pois esta é uma das linhas que analisamos e pesquisamos: “como nos tornamos quem somos”. Dessa forma, em tempos de pandemia, este debate tem sido frequente no PEmCie. Assim como somos todos professores, também temos estudado sobre estas formações que tivemos – e temos ainda – a partir do ensino remoto.

    Resolvemos compartilhar com vocês um pouco destes nossos estudos e reflexões, a partir desta semana!

    Em nossas discussões semanais no grupo de pesquisa PEmCie, percebemos que estamos em constante formação desde que nascemos. A partir das leituras que fazemos, sabemos que mesmo algumas características pessoais, que parecem ser nossas desde a nascença, não são tão naturais assim. 

    Após nascermos, conforme vamos crescendo, passamos a conviver com pessoas diferentes de nossos núcleos familiares, de locais diversificados, em situações inesperadas, com outros modos de ver e pensar o mundo. Então, vamos nos constituindo enquanto sujeitos de uma época, de um local, de uma família conforme vamos crescendo e outros discursos vão nos interpelando.

    A pandemia e o tempo de docência

    Em especial, nesse Brasil de 2020 e 2021, o que mais tem mexido com nossas subjetividades de professores e pesquisadores – lembrem que somos múltiplas facetas – é este momento pandêmico. As pequenas atitudes ou as ações diárias que fazíamos se modificaram com: o trabalho remoto (ou a ausência dele), as dificuldades de grande parte da população em conseguir obter uma renda para se manter, com os preços de alimentos subindo, as restrições de saída para “arejar a cabeça” num barzinho, numa festa (ou numa reunião de amigos), o uso constante de máscaras e álcool gel; entre outros. 

    O nosso grupo, como vocês já sabem aqui pelos textos do blog, discute questões que envolvem educação, ciência, cultura e política e produz pesquisas em educação e, mais especificamente, educação em ciências. Mas não é só isso, nós Somos pesquisadores de diferentes graduações como Matemática, Pedagogia, Biologia. Além disso, somos todos professores ou quase lá. 

    Assim,  o que vamos falar nessa série de textos a partir de hoje é o que mudou com o ensino remoto.

    Já de início, destacamos que a série que passamos a produzir agora será feita de reflexões, pensamentos, questionamentos… Dessa forma, colocaremos aqui o que esse contexto pandêmico tem causado neste grupo de professores pesquisadores no sul do país.

    Logo que começou o ensino remoto, este tema frequentemente surgia em nossas reuniões de pesquisa. Larrosa sempre nos ensinou que aquilo que nos toca de alguma maneira, nos constitui e assim passamos a pensar em divulgar o que temos pensado sobre este assunto. E é isso que vais encontrar nas próximas postagens!

    Série Reflexões sobre o Ensino remoto: da escola à universidade! 

    Os dois primeiros textos desta série envolvem as nossas reflexões com o ensino e a pesquisa remotos na pós-graduação. Assim, Lavínia inicia essa discussão, apontando seu olhar como professora no Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências (PPGEC). 

    Depois deste primeiro texto, Priscila, que entrou no mestrado ainda no modo presencial antes da pandemia em 2019, e traz para nossa discussão sua visão da Pós-Graduação antes da pandemia e do momento presente. E Roseana entrou na seleção de novembro de 2020, quando todas as etapas foram feitas de forma online e continuam assim até hoje. Por isso, ela trará para nós algumas reflexões sobre esse processo.

    A formação docente via EAD na graduação

    O quarto texto consiste na visão de dois alunos de graduação, bolsistas no grupo PemCie: o Pedro Leal, que participa do  grupo há dois anos e o Jonathan Cardoso que participa do grupo há um ano, ambos perto da conclusão do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas. Assim, nesses textos, os dois falam sobre a suas vivências durante uma formação em ensino remoto, articulando lados positivos e negativos de estar inseridos neste contexto.

    Seguindo a série, os autores Mélany Santos e Peterson Keeps cursam a segunda licenciatura em Pedagogia no modo EAD, contudo já ingressaram no curso durante o período de pandemia. No quinto texto, eles apontam suas vivências, e falam como tem sido essa adaptação com as atividades que seriam de modo presencial, como, por exemplo, os estágios,  no modo remoto. 

    A educação escolar e o Ensino Remoto

    Já no penúltimo texto da série, vamos trazer inquietações e vivências sobre a educação escolar no Ensino Fundamental. Assim, novamente, Mélany e Peterson escrevem, agora como professores que atuam na rede pública de ensino. E, a partir disso, relatam de forma mais específica certos acontecimentos do chamado ensino emergencial. Além disso, apontam críticas ao modo como a Secretaria de Educação Municipal conduziu o processo; apresentando as dificuldades encontradas neste período, bem como os desafios superados.

    Por fim, em continuidade à postagem sobre a educação básica, Tanise irá abordar algumas  experiências vividas por ela como professora recém formada que atuou no ensino híbrido em uma escola privada de Ensino Fundamental.

    Finalizando

    Em suma, com essa apresentação de todos textos e autores da série, convidamos a seguir atento às postagens e a trocar conosco ideias sobre o ensino remoto em tempos de pandemia!

    Por fim, organizamos uma tabela abaixo é para você não perder nenhuma postagem dos olhares sobre o ensino remoto em diferentes níveis educacionais, desde a Educação Básica até o Ensino Superior.

    Texto 1Reflexões sobre o ensino remoto na educação: da escola à Universidade!
    Texto 2 O que muda na pós-graduação com ensino remoto?
    Texto 3 O ensino e a pesquisa remotos no pós-graduação sob olhar das mestrandas
    Texto 4Aprendizagens e defasagens com o ensino remoto numa licenciatura
    Texto 5E a licenciatura em ead? mudou muito?
    Texto 6 Ensino Fundamental e a pandemia de covid-19: realidades e vivências no ensino público
    Texto 7Ensino Fundamental e a pandemia de covid-19 II: realidades e vivências no ensino privado

    Para saber mais sobre a formação de como nos tornamos o que somos…

    LARROSA, Jorge (2002) Notas sobre a experiência e o saber da experiência.

    Gostou deste texto? Pois vocês podem gostar também de:

    Disciplina e escola: que sujeitos queremos formar?

    Identidade, cultura e música em dias de sol

    Como pensamos? Os sistemas de pensamento na história

    Este texto foi elaborado originalmente no Blog PEmCie

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Comunicação comandada e a exaustão de quem debate

    Ana de Medeiros Arnt e Erica Mariosa Moreira Carneiro | Imagens por Carolina Frandsen

    O presidente da república nos deu uma aula sobre como a comunicação, ao longo de toda a sua gestão, vem sendo absolutamente eficiente e tem pautado uma corrida desesperada de cientistas, jornalistas e divulgadores da ciência em redes sociais e veículos de comunicação.

    Se por um lado, há quem ainda considere pesado usar o termo “genocida” associada à figura do presidente. Por outro lado, no entanto, se ainda há alguma dúvida, fica cada vez mais difícil passar desapercebido, a falta de medidas efetivas para nos defender da pandemia e poupar vidas da população.

    Entretanto, nossa questão hoje foi: é preciso nos atentarmos, quando em eventos como os de ontem, de que não estamos lidando com falas aleatórias do senhor que ocupa o posto máximo de comando do nosso país. Não são metáforas que precisam ser traduzidas e explicadas posteriormente por outros cargos do executivo em entrevistas. As falas de ontem foram, literalmente, para que as pessoas da população adotem comportamentos específicos.

    Assim, ter acesso aos conhecimentos científicos, ter condições de um amparo técnico qualificado, ter nas mãos a maquinaria que possibilita tomar decisões para poupar vidas, e não fazê-lo é, sim, um ato que se aproxima do conceito que temos de genocídio intencional e responsabilizável por não evitar mortes. Ou seja, é ter condições técnicas, científicas e econômicas para tomar decisões que evitam mortes e seguir em uma linha diretiva diametralmente oposta.

    Muitos tem falado sobre o conceito de necropolítica na condução do governo. Mas hoje, só hoje, não é sobre isto que vamos abordar aqui. Nós queríamos trazer ao debate o quanto a cada verso proferido, não existe incompetência e rompantes de ideias que passam pela cabeça “na hora”, como um furor do momento.

    “Olha a matéria para a imprensa amanhã, vou dar matéria para vocês aqui” *

    *Fala proferida pelo atual presidente da república em evento oficial do governo federal na tarde de quinta-feira (10/06/2021) em Brasília-DF

    Há uma declaração que indica intencionalidade, objetivo e pleno domínio dos acontecimentos que se sucederão a seguir. E nós? Nós choramos, corremos para nos posicionar indignados nas redes sociais, vamos à exaustão e, eventualmente, desistimos.

    Todos os dias desde o início da pandemia temos sucumbido e nos erguido novamente. Tudo isso para no dia seguinte continuar falando de ciência, dos cuidados básicos, lendo artigos, debatendo melhores saídas para minimizar contágios, circulação do vírus, conscientização de pequenos hábitos que podem salvar vidas.

    Enquanto isso, em lives ou coletivas de imprensa, o presidente tem pautado a imprensa, tem pautado a divulgação científica. E temos caído, sistematicamente, em sua linha de ação e direcionamento de falas.

    Ah, mas a divulgação científica cresceu muito neste tempo sabe?

    Embora tenhamos crescido em quantidade seguidores, nos debates propostos, como comunidade. Mesmo que tenhamos SIM ganhado espaço na grande mídia, por exemplo, é absolutamente insuficiente para nos estabelecermos como discurso.

    Quando eu falo em discurso é por, exatamente, não sermos a ordem do dia. Isto é, não é nossa a pauta e, muito menos, a narrativa. Mas o que pode uma fala? O que podem estas palavras pronunciadas, dentro de um enunciado, do presidente? Discurso é mais do que um conjunto de palavras proferidas. Discursos são falas que definem modos de pensar e (mais do que pensamento) modos de agir socialmente.

    Os discursos são mais do que palavras, exatamente, por gerarem ações. Neste caso específico, as ações são tanto do descaso com medidas protetivas, quanto de todos nós que temos atuado na comunicação científica correndo atrás da narrativa, buscando minimizar impactos. Será que temos conseguido?

    Um dia desses comentamos sobre um canal que tinha mais de 400 mil seguidores no Youtube. Tratava-se de vídeos com mais de 1 milhão de visualizações. Os vídeos são longos, repletos de jargões, cheios de “cientificamente comprovados” ao longo da fala. Também nos chamou a atenção, claro, que seguiam na linha da presidência e do negacionismo científico. Ou seja, a questão aqui é que os vídeos eram também cheios de esperança em medicamentos que trariam a resposta rápida, indolor e muito, muito simplesmente.

    Então temos que rebater AGORA!

    E temos reiterado que não é possível termos respostas rápidas quando trabalhamos com conhecimento. Conhecimento verificável precisa de etapas ao longo da produção. Conferências entre pares, diálogo, debate, questionamento. Este tem sido um dos pontos que temos debatido, aqui no Especial Covid-19, sobre não fazer “pautas quentes”. Isto é, não sair correndo publicando a cada acontecimento estrondoroso (para o bem ou para o mal). Exatamente para conseguirmos agir com a cautela e o rigor que o conhecimento científico e a comunicação científica precisam.

    E nem estamos nos vangloriando – há dias que sucumbimos (e sucumbimos muito!). Nos deixamos levar pelo embalo do momento. Mas, é preciso este tempo (e discutimos isso há meses atrás) exatamente para cair cada vez menos. E o trabalho coletivo tem ajudado nisso, certamente.

    Não é novidade o que diremos aqui

    Tem sido MUITO difícil para todos nós e, cada vez, vemos um (ou vários) caindo, tristes e exauridos. Enquanto isso, vemos aberturas nos municípios e estados, falta de condições da população, e pessoas que SIM acreditam no governo – acreditam mesmo, tem fé na presidência…

    Ontem, algumas horas antes da coletiva do presidente, nós e alguns colegas negamos entrevistas a uma rede de notícias, que tem articuladores absolutamente alinhados à presidência. Temos tido uma imprensa omissa nos posicionamentos e críticas – no sentido real. E é um embate bem duro: dar entrevista e, talvez, furar bolhas, alçar voos maiores, ou ponderar e tentar produzir e dialogar de outras formas, como temos nos proposto? Decidimos, ontem, não falar.

    Mais sobre isso: Divulgação na Pandemia

    Sobre os posicionamentos em geral da mídia e da comunicação, temos pontuado entre nós e hoje faremos algo que não fazemos muito por aqui. Todavia, tendo em vista a situação deste momento exato, resolvemos escrever…

    Não adianta falar mal do presidente e fazer vista grossa para as políticas econômicas de Paulo Guedes (que reforçam as falas do presidente e dão força ao discurso e medidas diárias). Não basta falar mal da condução do governo na pandemia e apontar que temos escolhas difíceis pela frente. Assim, de nada importa proferirmos tempos de “despiora” do governo, sem apontar com força e ênfase as lutas das ruas, das favelas, das periferias, da população na miséria, ignorando que as trajetórias da rua são maiores do que as faltas de pauta deste ou daquele lado. Por fim, não adianta falar mal do presidente e romantizar população comprando ovo e mudando sua dieta, quando na verdade não há condições de consumir carne.

    Também não é de bom tom romantizar professor fazendo busca ativa de alunos, quando na verdade o ensino foi abandonado e os ideários de retorno não fazem sentido por seus protocolos e falta de cuidado com crianças, adolescentes, docentes e todos os funcionários do ensino.

    e mais…

    Acusar pessoas de conseguir atestado falso, sem qualquer investigação, em tom condenatório e vago, sendo fiscal de PNI também é uma cobertura triste de nossa miséria humana, pois a questão é que não compramos vacinas suficientes em tempo hábil para salvar a todos – e todos nós deveríamos estar vacinados. Assim, não deveríamos estar com “inveja” por um ou outro ter sua vez garantida antes de nós. Bem como deveríamos ter garantido um PNI bem coordenado, cientificamente embasado e bem implementado, com diretrizes claras e objetivas.

    Não adianta descrever o quanto as instâncias federais tem feito conduções que nos levam à morte em massa, mas fazer vista grossa para os governantes dos estados e municípios – que também tem ações bem fortes no descaso com a população, pedindo seu sacrifício vital, alinhando-se com a exposição em massa, em teores de abandono e genocídio.

    Em suma, temos, sistematicamente, caído nas armadilhas.

    Vamos caindo aqui nos discursos e sucumbindo às pautas apressadas. Sim, nós estamos muito tristes. Todos os dias é um “81 x 1” na nossa vida e de milhões de brasileiros.

    Nós perdemos pessoas que poderiam ter sido vacinadas antes de contraírem a doença. Que deveriam ter sido vacinadas antes de contraírem a doença. Perdemos amigos, professores, companheiros, parentes. Vemos o luto e sofrimento diário de pessoas próximas adoecendo, na compreensão de que se precisassem, não encontrariam vagas no hospital para resguardar sua vida.

    Conhecemos profissionais exauridos pelo dia a dia. Acompanhamos pessoas que, mesmo vacinadas, seguem com receio e têm seguido as recomendações de uso de máscara, isolamento social quando possível e distanciamento social sempre. Dessa maneira, temos medo, sim, dos pequenos descuidos diários que podem nos levar à contaminação.

    Há dias de raiva raiva, ódio, choros engasgados na garganta que não tem nem nome mais, só pesar. E não conseguem sair, com medo da ressaca do pranto.

    Todavia, nós realmente tínhamos que aprender as dinâmicas e conseguir não cair nas armadilhas cotidianas. “Olha a matéria para amanhã”, na avidez de nossa gana, pranto, desespero, saiu hoje. Na imediatez fugaz de nosso caos, zapearam em segundos.

    No pesar dos nossos dias, não existe amanhã. Tem que ser dito agora, instantaneamente.

    Quem não aguenta mais, não aguenta por estar vivo. E quem está vivo e lutando, segue em uma relação aversiva entre a empatia e o ódio. Não podemos desistir, mas não deveríamos mais cair nas armadilhas.

    E, sim, temos voz. Mas ela ainda é pouca (e não por falta de grito).

    Com isso, encerramos, com nosso desejo de que hoje: fiquem bem, queridos. Só mais hoje. Nós estamos fazendo tudo o que nos está ao alcance, de verdade.

    Fiquem vivos, mais um dia. Respirem fundo, pois o ar (ainda) nos está permitido, a quem está permitido.

    Amanhã teremos mais gritos presos com nós (em rede).

    #redescontracovid

    Outros materiais do Especial COVID-19 que recomendamos a leitura:

    Este texto foi escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores. Além disso, foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Não existe tratamento precoce para a COVID-19 [capítulo de hoje: Hidroxicloroquina]

    Desde o início da pandemia, criou-se um grande alvoroço sobre a polêmica hidroxicloroquina. Concomitante à possibilidade dela funcionar no tratamento e prevenção da Covid-19, no chamado Kit-Covid. Assim, nesse texto, nós vamos esclarecer tudo o que você precisa saber sobre esse assunto. E para começar, já podemos lhe dizer: não, ela não funciona.

    Mas calma lá, “vamos por partes”, como diria o velho Jack (O Estripador)…

    Para que serve e como funciona a Hidroxicloroquina?

    A princípio, a hidroxicloroquina foi uma forma alternativa da cloroquina. Assim, desenvolveu-se esta forma para combater os variantes do patógeno da malária que tinham desenvolvido resistência a própria cloroquina. Isto acontece de maneira similar com as bactérias que desenvolvem resistência a antibióticos. Dessa forma, a hidroxicloroquina surgiu como um antimalárico. Contudo, alguns estudos demonstraram que ela também era capaz de atuar de forma benéfica no cenário de algumas doenças autoimunes. Tais como artrite reumatóide e lúpus eritematoso (1, 2).

    Funcionamento da Hidroxicloroquina

    Basicamente, o principal mecanismo da hidroxicloroquina no combate a malária é impedir que uma enzima muito específica do parasita destrua a hemoglobina das nossas hemácias. Além disso, a hidroxicloroquina se acumula em uma parte específica do parasita, chamada de lisossomo, aumentando o pH dessa região. Caso não tenha visto, temos um texto muito bom explicando o que é o pH.

    Mas tem mais, esse medicamento tem a mesma capacidade de se acumular nos lisossomos (e endossomos, uma outra parte das células) nas nossas células humanas. Assim, isto dificulta a realização de alguns processos relacionados à resposta imune (3). E é daí que vêm a sua capacidade de influenciar doenças autoimunes, levando a uma consequente melhora dessas. Por fim, ainda se viu que a hidroxicloroquina tinha a capacidade de diminuir a formação de coágulos no corpo, também chamada de antitrombótica.

    Entretanto, nem tudo é um mar de rosas. Ao mesmo tempo que esse remédio mostra vários benefícios em alguns cenários, ele também tem seus efeitos colaterais. Dentre eles, o principal e que mais chama atenção é o de causar arritmias nas pessoas. Isto é, um descompasso dos batimentos do coração, tornando-os mais lentos ou mais rápidos (4, 5). Além disso, essa informação, soma-se ao fato de que o SARS-CoV-2 pode infectar células do coração e causar danos a ele. Ou seja, como a própria arritmia e insuficiência cardíaca, que você pode entender melhor nesse texto aqui. Tais questões tornam mais delicada a tomada de decisão no uso ou não da hidroxicloroquina.

    De onde vem a ideia de se usar um remédio de malária contra um vírus?

    Mas foi justamente dessa capacidade de se armazenar nos nossos endossomos, aumentando o pH deles, que alguns cientistas começaram a questionar se isso poderia ajudar no combate ao SARS-CoV-2. Visto que os endossomos também são uma porta de entrada do vírus nas nossas células. 

    Com essa hipótese em mente, os pesquisadores decidiram investigar os impactos do tratamento da covid-19 com a hidroxicloroquina. Dessa forma, os primeiros estudos publicados, analisaram a ação do vírus in vitro. Isto é, em células numa placa de laboratório, portanto, um ambiente mega controlado. Assim, nestas pesquisas, a cloroquina e hidroxicloroquina conseguiram diminuir a infecção do SARS-CoV-2 em células de rim de macaco (6, 7). E aqui entra a nossa ressalva.

    Esse tipo de estudo é muito importante pois é o pontapé inicial para mostrar se um medicamento é capaz ou não de combater uma infecção. Entretanto, definitivamente NÃO é a partir dele que podemos dizer com toda certeza (como muitos políticos tem feito) que esse remédio funcionará de verdade, no mundo real, quando for dado a nós.

    Um dos motivos: testou-se em células de macaco, e não humanas. Essas “linhagens celulares” como chamamos, são muito efetivas nesse tipo de teste por serem extremamente resistentes a toxicidade. Todavia, aí entramos em outro ponto! A dose de hidroxicloroquina dada para essas células para impedir a infecção do SARS-CoV-2 foi muito superior àquela permitida para nós, humanos, consumirmos. Ou seja, em um cenário em que nós ingeríssemos a mesma dose, ela seria extremamente danosa e até mesmo LETAL para nós.

    Como então a hidroxicloroquina foi liberada para uso?

    No início da pandemia, publicou-se estes primeiros artigos. Alguns médicos começaram a utilizar a hidroxicloroquina em casos graves da Covid-19, em que não havia mais o que ser feito. Assim, a partir daí, começaram-se a publicar alguns artigos. Dessa forma, o argumento relacionava-se ao fato de que mesmo uma dose menor do medicamento era capaz de auxiliar na melhora dos pacientes. Isto incluía casos em que a administração do medicamento acontecia junto com a azitromicina, parte disso, gerou o conhecido kit covid. Esses estudos foram recebidos com animação por parte de alguns cientistas. Mas também com muitas dúvidas. Várias perguntas baseava-se em limitações dos estudos como um baixo número de pessoas analisadas e pequeno tempo de acompanhamento (8, 9).

    Pois com base nesses primeiros artigos, muitas figuras políticas (como o presidente Trump e Bolsonaro), começaram a divulgar os aparentes “benefícios” da hidroxicloroquina. Tais ações se encaminham na contra-mão de várias entidades como o Ministério da Saúde dos respectivos países. Além disso, órgãos regulamentadores e a própria OMS diziam ser muito cedo para falar esse tipo de coisa com 100% de certeza.

    Mas então, a hidroxicloroquina funciona ou não?

    Após essas publicações preliminares de pesquisa, um grupo cada vez maior de pesquisadores começou a se questionar. Será que a hidroxicloroquina era realmente eficaz no combate a Covid-19? A proposta neste momento vinculava-se a estudos randomizados com um número muito maior de pessoas.

    Pois então, agora, trago algumas das conclusões que esses estudos tiveram:

    A hidroxicloroquina é incapaz de impedir o desenvolvimento dos sintomas da Covid-19. Isto em pessoas que começaram a tomar o remédio após terem contato com alguém que estava com Covid-19 (10).

    Neste trabalho, os cientistas analisaram cerca de 800 pessoas que tiveram contato com alguém da família que estava com Covid-19 (confirmado por RT-qPCR). Dessas pessoas, 400 delas foram tratadas por 5 dias com hidroxicloroquina, enquanto as outras 400 receberam o tratamento comum. Assim, ao final do estudo, o que se concluiu? Os pesquisadores viram que a porcentagem de pessoas que tratadas com hidroxicloroquina se aproximava muito parecido do havia recebido o tratamento padrão (11,8% vs 14,8%). 

    O tratamento com hidroxicloroquina não reduz a mortalidade de pacientes internados. (11).

    Nesse estudo, os pesquisadores acompanharam 4.500 pessoas que tiveram Covid-19 (confirmada com RT-qPCR) e acabaram sendo internados. Algumas pessoas precisaram de ventilação mecânica (os casos graves, de UTI). Outras precisaram somente de oxigênio e outros não precisando de nenhuma das opções. O que foi visto é que em nenhum dos cenários observados houve melhora dos pacientes com o uso de hidroxicloroquina por 6 dias. O tratamento com ela não diminuiu o número de mortes, o número de intubações e tempo no hospital comparado com o tratamento sem ela. 

    O tratamento combinado de hidroxicloroquina e azitromicina não melhora a recuperação de pacientes internados com casos leves e moderados (12).

    Nessa publicação, os cientistas avaliaram cerca de 600 pacientes que tinham casos confirmados leves ou moderados (com uso de oxigênio mas sem intubação) de Covid-19. Esses pacientes foram divididos em três grupos: 1º recebeu o tratamento comum; 2º recebeu o tratamento com hidroxicloroquina; 3º recebeu tratamento combinado de hidroxicloroquina e azitromicina. Ao final da pesquisa, os autores viram que não havia diferença na evolução da Covid-19 com o tratamento de hidroxicloroquina sozinha ou combinada com azitromicina. Como sempre, em estudos assim, quando comparada com o tratamento comum. Em outras palavras, o medicamento sozinho ou combinado não influenciou a melhora ou piora dos pacientes de alguma forma.

    Dito tudo isso…

    Quero terminar esse texto relembrando para todos: até o momento não há qualquer medicamento aprovado que seja eficaz no combate a Covid-19! Até agora a nossa melhor ferramenta contra a pandemia ainda são as vacinas. Mas somente elas não nos salvarão. Temos que continuar usando máscara (mesmo você que já foi vacinado). Ficar em casa o máximo possível, cobrar medidas de restrição em escala nacional e, principalmente, respeitá-las o máximo possível. 

    As vacinas são medidas de prevenção. Os medicamentos são medidas de tratamento. Para o controle da pandemia e recuperação da economia (como muitos desejam) é muito mais eficaz nós evitarmos a contaminação de pessoas. Não adianta confiarmos que poderemos ser tratados caso nos infectemos, sem qualquer indício de que teremos tratamento – pois não existe mesmo. Com a infecção há um gasto muito maior relacionado a outros medicamentos, intubação e hospitalizações. Enquanto com a prevenção da infecção com a vacina, o dinheiro gasto é muito menor.

    Fiquem em casa, se vacinem. E cobrem (cada vez mais) que o investimento na ciência, na produção de vacinas e na importação das IFAs aconteça.

    Para saber mais

    1. Petri M (2011) Use of hydroxychloroquine to prevent thrombosis in systemic lupus erythematosus and in antiphospholipid antibody-positive patients, Curr Rheumatol Rep ,13(01):77–80 

    2. Ruiz-Irastorza G, Ramos-Casals M, Brito-Zeron P, Khamashta MA (2010) Clinical efficacy and side effects of antimalarials in systemic lupus erythematosus: a systematic review, Ann Rheum Dis 69(01):20–28

    3. Informativo elaborado pelo grupo de trabalho “Ciências Farmacêuticas e a Covid-19. As bases científicas do uso da cloroquina e da hidroxicloquina sobre a covid-19.

    4. Bikdeli, B, Madhavan, MV, Gupta, A, Jimenez, D, Burton, JR, Der Nigoghossian, C, & Group, TC (2020) Pharmacological agents targeting thromboinflammation in COVID-19: review and implications for future research, Thrombosis and haemostasis, 120(7), 1004.

    5. Dhakal, BP, Sweitzer, NK, Indik, JH, Acharya, D, & William, P (2020) SARS-CoV-2 infection and cardiovascular disease: COVID-19 heart, Heart, Lung and Circulation.

    6. Wang, M, Cao, R, Zhang, L, Yang, X, Liu, J, Xu, M, & Xiao, G (2020) Remdesivir and chloroquine effectively inhibit the recently emerged novel coronavirus (2019-nCoV) in vitro, Cell research, 30(3), 269-271.

    7. Liu, J, Cao, R, Xu, M, Wang, X, Zhang, H, Hu, H, … & Wang, M (2020) Hydroxychloroquine, a less toxic derivative of chloroquine, is effective in inhibiting SARS-CoV-2 infection in vitro, Cell discovery, 6(1), 1-4.

    8. Mégarbane, B (2020) Chloroquine and hydroxychloroquine to treat COVID-19: between hope and caution, Clin Toxicol (Phila), 1-2.

    9. Gautret, P, Lagier, JC, Parola, P, Meddeb, L, Mailhe, M, Doudier, B, … & Raoult, D (2020) Hydroxychloroquine and azithromycin as a treatment of COVID-19: results of an open-label non-randomized clinical trial, International journal of antimicrobial agents, 56(1), 105949.

    10. Boulware, DR, Pullen, MF, Bangdiwala, AS, Pastick, KA, Lofgren, SM, Okafor, EC, … & Hullsiek, KH (2020) A randomized trial of hydroxychloroquine as postexposure prophylaxis for Covid-19, New England Journal of Medicine, 383(6), 517-525.

    11. RECOVERY Collaborative Group (2020) Effect of hydroxychloroquine in hospitalized patients with Covid-19 New England Journal of Medicine, 383(21), 2030-2040.

    12. Cavalcanti, AB, Zampieri, FG, Rosa, RG, Azevedo, LC, Veiga, VC, Avezum, A, … & Berwanger, O (2020) Hydroxychloroquine with or without Azithromycin in Mild-to-Moderate Covid-19, New England Journal of Medicine, 383(21), 2041-2052.

    Outros artigos mostrando a ineficácia da hidroxicloroquina sozinha ou combinada com azitromicina:

    • Magagnoli, J, et al. “Outcomes of hydroxychloroquine usage in United States veterans hospitalized with Covid-19.” Med 1.1 (2020): 114-127.
    • Fiolet, T, Guihur, A, Rebeaud, ME, Mulot, M., Peiffer-Smadja, N, & Mahamat-Saleh, Y (2021). Effect of hydroxychloroquine with or without azithromycin on the mortality of coronavirus disease 2019 (COVID-19) patients: a systematic review and meta-analysis. Clinical Microbiology and Infection, 27(1), 19-27.
    • Mitjà, O, Corbacho-Monné, M, Ubals, M, Alemany, A, Suñer, C, Tebé, C, … & Clotet, B (2020). A cluster-randomized trial of hydroxychloroquine for prevention of Covid-19, New England Journal of Medicine.
    • Bakadia, BM, He, F, Souho, T, Lamboni, L, Ullah, MW, Boni, BO, … & Yang, G (2020). Prevention and treatment of COVID-19: Focus on interferons, chloroquine/hydroxychloroquine, azithromycin, and vaccine. Biomedicine & Pharmacotherapy, 111008.
    • Gautret, P, Lagier, JC, Parola, P, Meddeb, L, Mailhe, M, Doudier, B, … & Raoult, D (2020). Hydroxychloroquine and azithromycin as a treatment of COVID-19: results of an open-label non-randomized clinical trial. International journal of antimicrobial agents, 56(1), 105949.
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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores. Além disso, foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Por que não podemos nos precipitar com o reposicionamento de fármacos?

    Vamos supor que você está andando de bicicleta pela sua cidade, quando de repente seu pneu fura. Naquele momento você não consegue ir até um borracheiro, ou comprar um pneu novo. Então você pega o chiclete que você estava mascando, e tenta interromper a saída de ar naquele momento emergencial. Mesmo sabendo que depois você precisará dedicar mais tempo para arrumar o pneu, o chiclete conseguiu te ajudar durante um período. Essa analogia está relacionada com o que vimos de reposicionamento de fármacos durante a pandemia de COVID-19. 

    Sobre o reposicionamento de fármacos

    O reposicionamento é uma estratégia rápida, barata, e segura, desde que siga algumas etapas! Basicamente ele utiliza moléculas conhecidas para tratar algumas doenças e tenta utilizá-las em outras. O exemplo mais famoso de reposicionamento de fármacos é o viagra. Inicialmente, desenvolveu-se para tratar hipertensão e angina, uma dor no peito. Mas durante as etapas de estudo clínico acabou reposicionado e agora utiliza-se para tratar disfunção erétil. 

    Com o aparecimento da COVID-19, vimos tentativas de reposicionamento serem muito utilizadas e comentadas até mesmo por pessoas leigas. Esse método de pesquisa trouxe resultados para algumas respostas. No entanto, ele não pode ser levado como uma verdade absoluta. Afinal, nada na ciência é irrefutável.

    Reposicionar por quê?

    Reposicionar um remédio custa aproximadamente 300 milhões de dólares, enquanto que desenvolver um remédio “do zero” pode custar até bilhões de dólares! Além de economizar dinheiro, também é possível reduzir o tempo de pesquisa, já que “pulamos” algumas etapas, como por exemplo a criação e descrição da molécula. Apesar disso, algumas outras etapas não podem ser puladas, e é aí que o remédio pode dar resultados negativos. 

    Assim como outras pesquisas, o reposicionamento começa com a formulação de uma hipótese e reconhecimento de moléculas que possam apresentar algum tipo de efeito no que está sendo estudado, no caso a COVID-19. Depois de uma primeira rodada de testes, é necessário realizar uma etapa de estudos pré-clínicos, ou seja, dentro do laboratório. Normalmente esses testes realizam-se em culturas de célula para determinar qual a concentração efetiva do remédio, tentar entender como ele age, se ele de fato elimina o vírus, ou se ele interfere nas células, entre outros. Além dos testes in vitro, é nessa etapa que ocorrem os testes com modelos in vivo, ou seja, utilizando algum modelo animal. Seres vivos são organismos bem mais complexos do que uma cultura de um único tipo de célula, então testes que possivelmente foram positivos in vitro, podem não ser efetivos in vivo. 

    Entretanto…

    Aqui temos alguns exemplos de remédios que não passaram dessa segunda fase de testes de reposicionamento. A cloroquina funcionou em um tipo de cultura de células, mas quando testada em outros não funcionou. Já a ivermectina apresentou uma boa atividade. Todavia, a quantidade necessária era tão grande que inviabilizava tornar-se um remédio para a covid-19. 

    E você acha que acabou? NÃO! Os remédios podem funcionar muito bem nas etapas 1 e 2 de reposicionamento de fármacos, mas depois disso eles precisam dos testes nos ensaios clínicos. Nessa etapa, os remédios são dados para pacientes voluntários, que vão tomar de forma “cega” ou o remédio, ou um placebo. Depois disso, os resultados são coletados, analisados e o remédio pode ser aprovados ou não. O exemplo mais atual de um ensaio clínico foi o SOLIDARITY, organizado pela OMS que testou diversos remédios de reposicionamento. 

    Até agora, o único reposicionamento aprovado para uso é o do remdesivir, que já era estudado para Hepatite C e Ebola. Por isso, é muito importante que a população em geral tenha calma! Muitos testes são necessários para que um remédio, mesmo que seja de reposicionamento, seja considerado seguro para uso. 

    Isso significa que o reposicionamento é ruim? 

    Não! Como não conhecíamos todos os efeitos da COVID-19 e do coronavírus causador da doença, tivemos que realizar muita pesquisa de base antes de poder encontrar tratamentos efetivos. No início da pandemia não sabíamos quase nada sobre o novo coronavírus e diversos testes de reposicionamento ajudaram a entendermos mais sobre como o vírus se comporta dentro das células e do nosso organismo. 

    E porque não posso tomar remédio por minha conta e risco?

    Apesar de serem remédios que possuem aprovação de órgãos reguladores como a Agência Americana de Alimentos e Medicamentos (FDA) e a ANVISA, todo remédio possui uma faixa de segurança para uso e o uso indiscriminado de remédios pode causar tanto problemas de saúde para quem está tomando, como por exemplo hepatite medicamentosa, até problemas mais sérios que podem nos levar a pandemias futuras, como bactérias e parasitas super resistentes a remédios! 

    Além disso, é importante destacar que em humanos, o uso de medicamentos como um “combo” ou “coquetel” ou “kit” precisam, também, de testes específicos para analisar as interações entre os medicamentos. E não faz sentido isto, sem um controle rígido laboratorial, pois não temos como medir os efeitos dos medicamentos nos organismos com precisão. Isto é, os medicamentos podem interagir entre si e provocar outros efeitos colaterais (ou benéficos), completamente desconhecidos. Para isto, não apenas o reposicionamento precisa de várias etapas de análise, a medicalização por kits ou coquetéis também são tratamentos que necessitam análises específicas!

    Por isso, esteja sempre atento à medicação que você irá tomar, e continue utilizando as únicas medidas que são efetivas até agora: o distanciamento social, a máscara e o apoio à vacinação! 

    Quer saber mais?

    Artigos sobre o tema em inglês:

    Reposicionamento durante a Pandemia de COVID-19

    Reposicionamento de fármacos: Avanços e Desafios

    Desafios de Reposicionamento durante a pandemia de COVID-19

    Textos do Especial Covid-19 sobre o tema:

    Não existe tratamento precoce para Covid-19 [capítulo de hoje: ivermectina]

    1 Ano sem encontrar o tratamento de COVID-19

    Deus, hidroxicloroquina e unicórnios: é impossível demonstrar um negativo?

    Uma pandemia impulsionando outra – Parte 1: O uso de antimicrobianos durante a pandemia da covid-19

    Uma pandemia impulsionando outra – Parte 2: Resistência bacteriana a antimicrobianos: por que se preocupar?

    Antibiótico contra vírus? O curioso caso da azitromicina contra a COVID-19

    Mais rápido, mais preciso e mais fármacos: Triagens de Alto Desempenho.

    Descobrindo e Redescobrindo medicamentos: Como podemos tratar a COVID-19?

    Porque acreditar num remédio para a COVID-19 pode não ser uma boa saída

    Hidroxi-cloroquina, já ouvi este nome!

    Se acharmos um tratamento, o que acontece?

    Este texto foi escrito com exclusividade para o Especial Covid-19


    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.

    Editorial

  • A importância e os desafios de se comunicar ciência no Brasil em tempos de COVID-19

    Desde março de 2020, quando a OMS decretou a Covid-19 como uma pandemia, mudamos completamente nossa forma de viver. Ficamos perdidos com o a grande quantidade de informações conflituosas que nos chegam pela TV, redes sociais e grupos de whatsapp. Nesse contexto, diversas iniciativas, surgiram para contribuir para a conscientização da população. Eu tive uma pequena participação nisso também, mas não chega nem perto do trabalho que grandes divulgadores/comunicadores estão fazendo. Esse texto é uma forma de agradecer e reforçar a importância de cada uma dessas iniciativas (que foram muitas). Obrigado! Vocês estão salvando vidas!

    *Esse post é a versão completa do miniensaio que apresentei para processo seletivo do Amerek – Curso de Especialização em Comunicação Pública da Ciência, da UFMG, que teve como tema: “Como a pandemia afetou a relação entre ciência e sociedade e qual o papel da comunicação da ciência nisso?”

    A RELAÇÃO ENTRE CIÊNCIA E SOCIEDADE NO BRASIL E OS IMPACTOS DA PANDEMIA DE COVID-19

    A pandemia da Covid-19 promoveu uma grande mudança social: nunca se falou tanto sobre ciência, nunca se observou tão de perto os processos científicos e nunca houve tanta gente opinando sobre os resultados de artigos. Isso é importante, mas, também, é um grande desafio para a comunicação pública da ciência, uma vez que estamos sendo expostos de forma muito rápida a uma quantidade excessiva de informações (independentemente de sua acurácia) – chamamos essa situação de infodemia (uma epidemia de informações).

    Neste momento torna-se, portanto, importante e necessário fornecer meios para que o público consiga analisar e encontrar informações acuradas, atualizadas e confiáveis, em meio a abundância de outras incorretas e negacionistas. Esperamos que, assim, possamos permitir que a população tenha participação e protagonismo na cultura científica e nas decisões públicas de forma efetiva. Esse grande desafio da comunicação pública da ciência no Brasil é, também, um desafio em todo o mundo.

    Costuma-se falar que os brasileiros e a ciência não têm uma relação das mais amistosas, mas pesquisas sobre a percepção pública da ciência nos mostram que os brasileiros confiam nos cientistas e nos profissionais da saúde e, também, que há interesse desse mesmo público em temas científicos. Observamos que 79% da população acredita nos benefícios da ciência – somo um dos povos mais otimistas em relação à ciência no mundo!

    Mas, então, como poderíamos explicar o negacionismo científico que estamos presenciando atualmente no nosso país?

    Talvez a explicação que nos ajude a entender esse momento esteja no distanciamento entre a população e o modus operandi da ciência (que é lento e produzido “às escondidas” nas universidades) e, também, no fato de estarmos vivendo na era da pós-verdade.

    COMO O DISTANCIAMENTO DA CIÊNCIA E A ERA DA PÓS-VERDADE PODEM EXPLICAR O QUE OBSERVAMOS NO BRASIL

    O distanciamento entre a população e a produção do conhecimento científico é observado quando vemos que a grande maioria dos brasileiros não sabe nomear um cientista (90%) ou uma instituição de pesquisa (88%) — veja que 90% da ciência nacional é feita em universidades públicas. Nesse ponto, ressaltamos que, a pandemia, de uma hora para outra, trouxe o processo científico para o cotidiano, sem que a população a entendesse adequadamente. Produzir ciência é um processo que demanda tempo, envolve diversas etapas e é dinâmico, atualizando-se a medida em que novos estudos são realizados e novas evidências são acumuladas. Mostrar isso à população não é descrédito ou demérito e é necessário.

    A pós-verdade é um termo que busca resumir esse momento no qual as experiências individuais/pessoais e o apelo às emoções e às crenças influenciam mais do que os fatos objetivos e as evidências. Há, assim, uma desvalorização do conhecimento bem estabelecido e baseado na razão e na ciência.

    Feitas essas considerações, precisamos entender o consumo de conteúdo pelos brasileiros. Das pessoas com mais de 10 anos de idade, 74% utilizam a internet de alguma forma e, talvez por causa disso, observa-se que o consumo de conteúdo pela TV (66%) equivale ao das mídias sociais (67%). Dentre as mídias mais utilizadas, estão o Facebook (54%), WhatsApp (48%) e Instagram (45%) – o Twitter tem um alcance de apenas 17%. As pessoas usam as mídias sociais para consumir, mas, também, para compartilhar conteúdo, coletar notícias, informações e opiniões e, também, para participarem de discussões sociais.

    Quando falamos de compartilhamento de informação/conteúdo, observamos um ponto muito problemático: com frequência ocorre a recirculação das informações recebidas sem que tenha havido seu efetivo consumo – ou seja: o compartilhamento de notícias sem que o remetente tenha lido o seu conteúdo – contribuindo assim, com a infodemia. Isso acontece porque as pessoas confiam que seu círculo de contatos compartilha informações corretas e, assim, ocorre a disseminação de informações falsas, ainda que de forma não intencional – situação agravada por situações pandêmicas que, sabidamente, são acompanhadas por um aumento de informações sensacionalistas, rumores, distorções e boatos.

    No Brasil essa situação se agrava ainda mais pelas tensões político-ideológicas/partidárias que são observadas. Essas abordagens polarizadas desviam o foco original e afastam grupos inteiros de discussões relevantes, reduzindo a possibilidade de diálogo a disputas intensas por valores e identidades.

    O presidente Jair Bolsonaro incentiva essa tensão ao usar em suas lives semanais uma retórica baseada em argumentos de autoridade, experiências individuais (evidências anedóticas), emoção e desconhecimento da metodologia científica. Assim, objetiva: 1) defender convicções desprovidas de embasamento técnico, formal e objetivo (p.ex., tratamentos e medicamentos comprovadamente ineficazes); 2) expressar o ceticismo na ciência; 3) criticar a velocidade e flexibilidade do processo científico; e 4) enfatizar a liberdade individual de escolha (do paciente e do médico) para o tratamento, ainda que possa ter consequências prejudiciais. O presidente adotou uma estratégia na qual ele culpa todos à sua volta pela situação do país, exceto a ele mesmo, que sempre tem a solução apropriada – mas é ignorado por todos. É assustador ver que o discurso iniciado em março de 2020 continua, mesmo depois de mais de um ano de pandemia, e traz consigo mais de 300 mil mortes.

    O Conselho Federal de Medicina (CFM), adota uma posição semelhante, ao se isentar de omitir um posicionamento formal conta o uso dos medicamentos do chamado “kit-covid” (ivermectina, cloroquina, zitromicina, nitazoxanida) – mesmo com todas as evidências de sua ineficácia e o posicionamento contrário de associações, sociedades e órgãos médicos importantes nacionais e internacionais (AMB, SBI, OMS, NIH, FDA, dentre outros).

    Desinformação, negacionismo e ideologias político-partidárias estão colocando pessoas em risco. (Sim, pessoas estão morrendo por isso!). Este cenário está aí para desafiar ainda mais Comunicação Pública da Ciência no Brasil. E os comunicadores decidiram aceitar o desafio!

    COMO A COMUNICAÇÃO PÚBLICA DA CIÊNCIA ENFRENTA ESSES DESAFIOS

    A comunicação pública da ciência é um processo plural que acontece em várias mídias e possui diferentes objetivos; mas entendo que o comunicador deve ter em mente a responsabilidade em divulgar informações precisas e acessíveis a seu público-alvo, permitindo que este participe do debate público e social com informações baseadas em evidências. Para conseguirmos fazer isso de forma eficaz, temos que considerar que a divulgação é uma via de múltiplas mãos e que envolve o diálogo e a participação entre academia, cientistas, jornalistas, instituições científicas, ONGs, indústria e a própria população.

    Isso está sendo feito! Observamos, neste último ano, o surgimento ou o incremento de diversas iniciativas individuais ou coletivas que se mobilizam para estimular e estabelecer o diálogo sobre ciência, saúde, mídia, cultura e sociedade e atuam na produção de conteúdo, formação e atualização de profissionais e checagem de fatos. É uma mobilização gigantesca na área da comunicação pública da ciência, com aumento de produção de conteúdo e ocupação das diferentes mídias.

    Para citar algumas iniciativas coletivas: Especial covid-19 do Blogs de Ciência da Unicamp; Coletivos como Observatório Covid-19, Todos pelas vacinas, Covid-19 DivulgAção Científica, União Pró-vacina, Rede Análise Covid-19, Força Tarefa Amerek; a criação do consórcio de imprensa (G1, O Globo, Extra, Estadão, Folha e UOL); o fomento de ações pelo Instituto Serrapilheira; e a atuação das Agências Bori e Lupa. Entre as iniciativas individuais, vou citar as lives do Átila Iamarino, mas temos muitas outras que dariam uma lista imensa (e tem gente em blog, no Twitter, no Facebook, no TikTok, no Instagram, no YouTube – opção não falta, é só procurar direitinho – por exemplo, seguindo indicações feitas pelas iniciativas coletivas)!

    Entender a dispersão do conteúdo produzido por essas ações é necessário para o direcionamento eficaz dos nossos esforços. Temos que entender quem e como atingimos nosso público quando divulgamos em redes sociais (Twitter, Facebook, TikTok), plataformas de streaming (Spotify, YouTube) ou em aplicativos de mensagens (Whatsapp). Mas, também, é precisamos saber como é a concorrência pela atenção do público entre conteúdos incorretos e os divulgados pelos agentes da divulgação científica.

    É importante saber que conteúdos incorretos são publicados em menor quantidade, mas geram mais engajamento do que conteúdos acurados – o que mostra que aquele tipo de conteúdo tem uma dispersão mais rápida nas mídias sociais. E, tendo isso em mente, temos que considerar que não basta divulgar conteúdo correto em grande quantidade, mas estratégias devem ser pensadas para engajamento e, para isso, os conteúdos precisam ser envolventes e direcionados à audiência em seus canais favoritos.

    O surgimento de novas informações é muito rápido, contudo, corrigir informações falsas parece não funcionar muito bem. Assim, os comunicadores também devem atuar rapidamente, de forma a prever e agir contra a desinformação. Combater o negacionismo e valorizar a ciência devem ser estratégias realizadas com narrativas efetivas, precisas e que forneçam ao público (população e governantes) condições de tomarem decisões e participarem de debates.

    DIVULGAR CIÊNCIA É SIM UM ATO POLÍTICO!

    O conteúdo midiático afeta a opinião pública. É por isso que divulgar ciência é um ato político – o que não implica ser partidário ou ideológico –, e a decisão dos conteúdos e da forma de abordagem escolhidos pelo divulgador também o é.

    Por fim, nesse momento crítico de saúde pública, temos que ter em mente que divulgar ciências envolve responsabilidade, clareza, precisão e credibilidade. E que ela contribui para salvar vidas, pois tem participação na percepção de risco pela população estimulando, assim, o engajamento público. Divulgar ciência é defender a saúde pública e a ciência… Divulgar ciência é defender a democracia.

    Agora, se essas mudanças serão permanentes? Teremos que esperar mais um pouco para saber. Tem gente achando que não, mas a gente espera que sim!

    REFERÊNCIAS

    Agência Bori. (2021). Disponível em: <https://abori.com.br/>

    Agência Lupa. (2021). Disponível em: <https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/>

    Arnt A. (2021). Divulgação científica em tempos de pandemia: como elaboramos conteúdos? Especial Covid-19 – Blogs de Ciência da Unicamp. Publicado em 03/03/2021.

    CGEE – Centro de Gestão e Estudos Estratégicos. (2019). Percepção Pública da C&T no Brasil – 2019. Resumo executivo. Brasília, DF: 24p.

    Consórcio de Imprensa (G1, O Globo, Extra, Estadão, Folha e UOL). (2020). Veículos de comunicação formam parceria para dar transparência a dados de Covid-19.

    COST – European Cooperantion in Science & Technology. (2021). Communicanting Science in times of Covid-19Ç a selective overview of good practices.

    Covid-19 DivulgAção Científica. (2021). Disponível em: <http://coronavirusdc.com.br/>

    Força Tarefa Amerek. (2021). Disponível em: <https://amerek.com.br/>

    Instituto Serrapilheira. (2021). Disponível em: <https://serrapilheira.org/>

    Massarani L, Waltz I, Leal T. (2020). A COVID-19 no Brasil: uma análise sobre o consumo de informação em redes sociais. Journal of Science Communication, 19(07).

    Monari AC, Santos A, Sacramento I. (2020). COVID-19 and (hydroxy)chloroquine: a dispute over scientific truth during Bolsonaro’s Weekly Facebook live streams. Journal of Science Communication, 19(07).

    Observatório Covid-19. (2021). Disponível em: <https://covid19br.github.io/>

    OECD – The Organisation for Economic Co-operation and Development. (2020). Transparency, communication and trust: The role of public communication in responding to the wave of disinformation about the new Coronavirus. Publicado em 03/07/2020.

    Rede Análise Covid-19. (2021). Disponível em: <https://imef.furg.br/pesquisa-sobre-covid-19?view=article&id=1362&catid=52>

    Todos pelas vacinas. (2021). Disponível em: <https://www.todospelasvacinas.info/>

    União Pró-vacina. (2021). Disponível em: <https://sites.usp.br/iearp/uniao-pro-vacina/>

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    Este texto publicado no Especial Covid-19 foi escrito originalmente no Blog Meio de Cultura

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Assim, os autores produzem os textos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional. Além disso, os textos são revisados por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Dessa forma, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Novo chip microfluídico pode fornecer resultados rápidos de teste de COVID-19 em celulares

    Image by Elchinator from Pixabay

    Pesquisadores da Universidade Rice, em Houston, EUA, desenvolveram um sistema microfluídico com grânulos magnéticos (magnetic beads, em inglês) de superfície modificada aliado a um biossensor eletroquímico para a detecção da proteína característica de COVID-19 e, com o auxílio de um potenciostato, a leitura foi realizada em um smartphone.O potenciostato é um equipamento que aplica um potencial e mede a corrente resultante em um sistema eletroquímico.

    A principal vantagem nesse sistema microfluídico, é não precisar de um laboratório para realizar as análises, podendo ser geradas em hospitais, clínicas ou farmácias podendo ser manipulado por pessoas com experiência em coletas e calibragem do dispositivo. O estudo foi publicado no periódico ACS Sensor.

    De forma geral, o microdispositivo é facilmente transportado e prático, gerando resultados ainda mais rápidos e precisos que exames de PCR.

    O que chama atenção na pesquisa é a especificidade do biossensor, podendo realizar detecções de até 230 pg/mL, e o processo de captação das proteínas N de SARS-CoV-2.

    Como funciona a detecção pelo celular? 

    Ilustrações esquemáticas de (A) chip imunossensor microfluídico destacando a concentração magnética dos grânulos na superfície do sensor, (B) chip imunossensor microfluídico para o dispositivo de diagnóstico baseado em smartphone e (C) configuração experimental e esquema de detecção eletroquímica usando a técnica desenvolvida pelos pesquisadores. Fonte da imagem: American Chemical Society, DOI: https://doi.org/10.1021/acssensors.0c02561

    A amostra é coletada por um tubo capilar por onde também são inseridos os grânulos magnéticos onde são transportados até uma câmara de reação onde ficam em contato com a amostra. Na superfície dos grânulos são ligados os anticorpos de detecção onde a proteína N é ligada.

    Quando os grânulos com a proteína passam pelo campo magnético gerado pelos eletrodos, se conectam com os anticorpos de captura presentes no biossensor, gerando uma corrente proporcional à concentração do biomarcador na amostra. A corrente é lida pelo potenciostato que envia um sinal para o telefone que possui uma curva de calibração baseado na corrente e na concentração.

    Apesar de ainda estar em estágio inicial, necessitando de resultados mais contundentes com relação a acoplar o dispositivo no celular sem a necessidade de utilizar bombas de seringa, a pesquisa nos faz imaginar um futuro em que teríamos equipamentos para acoplar no smartphone como uma capinha e iriamos até a farmácia apenas comprar os testes (biossensores), realizar uma leitura de uma curva de calibração correspondente àquele teste e realizar uma leitura para o exame que for necessário.

    Provavelmente isso não reduziria a importância de resultados em laboratórios clínicos, porém, em casos em que é necessário um positivo ou negativo, como é no caso da COVID-19, esse tipo de tecnologia iria acelerar diagnósticos e até dosagens de medicamentos.

    O Futuro é Agora.

    Este texto foi escritp originalmente no blog Microfluídica e Engenharia Química

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


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  • Ciência para crianças! A vacina do Butantan

    No quadrinho anterior, pudemos acompanhar o pequeno Dragonino aprendendo sobre o que são os vírus. Antes disso, Dragonino também aprendeu sobre a importância do isolamento social para combater a pandemia de Covid-19. Hoje, Draco explicará a seu filho como a ciência deu mais um importante passo nessa batalha! Venha junto com o Dragonino para conhecer mais sobre a vacina do Butantan!

    Quadrinhos da série "Ciência para Crianças!", com o tema "A vacina do Butantan".

    Os cientistas de diversas partes do mundo estão trabalhando bastante para ajudar a combater o novo coronavírus! Algumas vacinas que foram desenvolvidas em diferentes laboratórios já foram testadas, aprovadas e estão sendo produzidas e distribuídas para a população.

    Draco e Dragonino estão muito felizes com o início da vacinação, mas sabem que ainda é preciso manter todos os cuidados. Ainda não é hora de voltar a fazer aglomerações ou sair de casa sem usar máscara! É preciso ter paciência e esperar até que a maioria da população esteja vacinada. Só assim será possível reduzir a circulação do vírus e garantir que menos pessoas fiquem doentes.

    Enquanto isso, que tal aproveitarmos para aprender mais sobre como as vacinas funcionam? Fiquem de olho nos próximos quadrinhos, pois Dragonino está muito curioso e ainda tem muitas dúvidas que precisam ser esclarecidas!

    Fontes de informações:

    Equipe: 

    • Design, pesquisas e roteiro: Giovanna S. Veiga e Carolina S. Mantovani

    Este texto foi escrito originalmente no blog Nas asas do dragão

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