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  • Conheça a Dra. Katalin Karikó, a cientista que desenvolveu a técnica da vacina de RNAm para a COVID-19

    Katalin Karikó durante o doutorado em 1980 no Laboratório de RNA do Centro de Pesquisa Biológica na Academia de Ciências Húngara. Imagem retirada de https://www.telegraph.co.uk/global-health/science-and-disease/redemption-one-scientists-unwavering-belief-mrna-gave-world/

    Texto escrito em colaboração por Carolina Francelin e Gabriela Mendes, com contribuições de Juliana Lobo.

    No final do ano passado, em meio às notícias de que as primeiras vacinas para a COVID-19 haviam sido aprovadas ao redor do mundo, começamos a pesquisar sobre a Dra. Katalin Karikó, pioneira no uso da tecnologia de RNAm, que prontamente foi escolhida para ser o tema do primeiro texto da categoria “Colírios Científicos” no Ciência Pelos Olhos Delas em 2021.

    Diante da pandemia causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), a ciência provou sua magnitude no século XXI e vários laboratórios pelo planeta lançaram, em tempo recorde, diferentes tipos de vacina com eficácia comprovada. Em meio a uma verdadeira corrida contra o relógio para frear o avanço pandêmico, não há como não destacar o trabalho inovador da Dra. Katalin Karikó na criação da vacina de RNA mensageiro (RNAm), a molécula responsável por produzir as proteínas codificadas pelo DNA dentro das células.

    A tecnologia desenvolvida pela Dra. Karikó está nas vacinas aplicadas pelas empresas de biotecnologia Moderna (EUA) e BioNTech (Alemanha), sendo que essa última atua em acordo de produção e distribuição da vacina com a farmacêutica Pfizer. Por causa da extensa pesquisa feita por Katalin e por seus colegas nas últimas décadas, e também devido à tecnologia disponível atualmente, a produção da vacina de RNAm específica para o novo coronavírus foi feita num curtíssimo espaço de tempo (de dezembro de 2020 a janeiro de 2021) e doses dela já foram distribuídas e aplicadas em vários países, como Estados Unidos e Inglaterra. 

    Com esse texto sobre a Dra. Katalin Karikó, queremos ressaltar o quão importante foram a perseverança e a resiliência dessa cientista que, durante décadas, trabalhou incansavelmente em um tema de pesquisa que ela acreditava ter um grande potencial terapêutico. Além disso, compartilhamos também um pouco da sua vida pessoal e trajetória como imigrante nos Estados Unidos.

    A vida e o início da carreira da Dra. Katalin Karikó

    Katalin Karikó nasceu na Hungria em 1955, logo após a reinstalação do regime comunista no país. Assim que concluiu seu doutorado pela University of Szeged, ela se viu limitada a continuar a pesquisa em seu país por dois motivos: a Hungria passava por uma recessão financeira que restringia o incentivo à pesquisa, e seu tema de estudo, já então sobre o RNA¹, era menosprezado e até mal visto frente às novidades acerca do DNA². Dessa forma, em 1985 ela migrou com seu esposo e sua filha de dois anos para os Estados Unidos para assumir um cargo de pós-doutorado na Universidade da Pensilvânia, na Filadélfia. 

    Mesmo enquanto cientista nos EUA, a insistência e o interesse de Katalin na pesquisa envolvendo terapias com base no RNAm fizeram com que ela fosse desprezada muitas vezes durante a sua carreira. Na vida científica – e principalmente no meio acadêmico – isso significa ter pedidos de financiamento para desenvolver a pesquisa negados diversas vezes, tanto por agências federais quanto privadas. 

    Essas negativas prejudicaram a produção de artigos da Dra. Karikó, e também resultaram em  descrédito pelos colegas da área. Durante o seu trajeto para alcançar uma posição como professora da Universidade da Pensilvânia, a pilha de pedidos de financiamento negados aumentava e a instituição recusou a promoção de Katalin. Mas ela foi persistente e o sonho de salvar vidas por meio da terapia com RNAm sintético a fez insistir e seguir adiante a cada crítica negativa recebida.

    Katalin trabalhando em um laboratório. Image retirada de https://nypost.com/2020/12/05/this-scientists-decades-of-mrna-research-led-to-covid-vaccines/

    Os 40 anos de pesquisa sobre RNAm 

    Em uma época em que o DNA tinha acabado de ser sequenciado, por volta de 1962, a descoberta do RNAm abriu novas oportunidades para terapias pontuais. Naquele tempo, Katalin já acreditava que para tratar algumas doenças não era necessário mudar os genes, no DNA,  e sim somente produzir, ou deixar de produzir, a proteína de interesse por um determinado momento, durante um tratamento terapêutico, por exemplo. 

    Para isso, ela desenvolveu a terapia de RNAm, que consiste em injetar uma sequência de RNAm no paciente através de uma injeção intramuscular. O RNAm consegue entrar nas células e, uma vez dentro delas, induzirá a produção da proteína de interesse. Contudo, os experimentos de Katalin não traziam resultados satisfatórios, principalmente porque após o RNAm ser injetado, as células do sistema imune do paciente reconheciam a molécula como estranha, e tentavam combatê-la e eliminá-la antes mesmo dela conseguir desempenhar sua função de produzir a proteína específica dentro de uma célula. 

    A mudança de trajetória e o sucesso da vacina de RNAm para a COVID-19

    Durante esses anos difíceis, sem resultados concretos e sem financiamento, a Dra. Karikó foi rebaixada de cargo na Universidade da Pensilvânia e somente ao se encontrar com o Dr. Drew Weissman, em 1997, que ela ganhou novos ânimos. O trabalho de 7 anos da dupla culminou na descoberta do método para prevenir a resposta do sistema imune do organismo ao RNAm sintético. Eles descobriram que ao mudar apenas uma letra do código genético do RNA, as células do sistema imune do paciente não reconheciam mais a molécula como estranha, permitindo sua ação dentro da célula. 

    Essa descoberta ocorreu em 2004 e gerou para a Universidade da Pensilvânia a venda de patentes da metodologia para criar o RNAm modificado e, com isso, a reputação da Dra. Katalin se transformou. Com a venda das patentes, um grupo de cientistas estadunidenses fundou a Moderna, em 2010, e comprou os direitos sobre as patentes de Karikó e Weissman. O rumo da carreira de Katalin mudou de direção e além do cargo de professora e pesquisadora da Universidade da Pensilvânia, em 2013 ela começou a trabalhar na empresa BioNTech, que também adquiriu as patentes da biotecnologia de RNAm sintético, e onde atualmente é vice-presidente

     A inovação da vacina de RNAm é que não há partícula viral ativando o sistema imunológico para produzir anticorpos e células de memória para combater uma possível infecção. Essa partícula de RNAm sintética é o código para a produção de proteína viral, que sozinha não é capaz de causar doença, mas que ativa células do sistema imune a ficarem de prontidão para a eventual contaminação com agente infeccioso. Ou seja, o RNAm induz nosso sistema imune a produzir anticorpos contra o patógeno em questão – nesse caso, o novo coronavírus. 

    O primeiro RNAm sintético foi criado em 1961 e o objetivo dos cientistas era utilizar as células tratadas com ele para produzirem substâncias de interesse terapêutico. Somente em 2020, quase sessenta anos depois, essa tecnologia foi efetivamente aplicada como a vacina para combater a COVID-19.

    Foto recente de Katalin trabalhando em home office durante a atual pandemia. Imagem retirada de https://www.statnews.com/2020/11/10/the-story-of-mrna-how-a-once-dismissed-idea-became-a-leading-technology-in-the-covid-vaccine-race/

    Sem dúvidas, a história da Dra. Karikó é um verdadeiro exemplo de resiliência de uma cientista que, em meio a tantas dificuldades, persistiu com a pesquisa do RNA mensageiro, cuja importância ela sempre acreditou. Em entrevista recente para o The New York Post, ela afirmou que “ninguém deveria ter medo de tomar a vacina”, frase que pode soar simples, mas que é extremamente simbólica ao considerarmos não só o trajeto de Katalin, como também a necessidade de ressaltar o valor da ciência e de combater desinformações a respeito da vacinação. Tanto ela quanto o Dr. Weissman foram as primeiras pessoas a receber a vacina produzida pela BioNTech. 

    Começamos 2021 com mais esperança de que a pandemia chegará ao fim com a imunização das pessoas ao redor do mundo, conquista possibilitada pela pesquisa fundamental da Dra. Katalin Karikó. Depois de uma trajetória com altos e baixos, hoje vários cientistas, incluindo os fundadores da Moderna, opinam que a Katalin deve receber o Prêmio Nobel de Química por sua contribuição à ciência. 

    Notas:

    ¹ RNA: Molécula complementar ao DNA que, ao ser decodificada, produz as proteínas necessárias para o funcionamento do nosso organismo.

    ² DNA: Conhecido também como código genético, a molécula de ácido desoxirribonucléico fica dentro do núcleo da célula e é responsável por codificar todas as informações sobre as células do nosso corpo. 

    Referências:

    https://nypost.com/2020/12/05/this-scientists-decades-of-mrna-research-led-to-covid-vaccines/

    https://www.telegraph.co.uk/global-health/science-and-disease/redemption-one-scientists-unwavering-belief-mrna-gave-world/

    https://edition.cnn.com/2020/12/16/us/katalin-kariko-covid-19-vaccine-scientist-trnd/index.html

    https://www.theguardian.com/science/2020/nov/21/covid-vaccine-technology-pioneer-i-never-doubted-it-would-work

    https://www.timesofisrael.com/the-hungarian-immigrant-behind-messenger-rna-key-to-covid-19-vaccines/

    Este texto foi escrito originalmente no blog Ciência Pelos Olhos Delas

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Corrigindo boatos de forma estratégica

    Postagem por Dayane Machado (@DayftMachado) e Minéya Fantim (@mifantim)

    Você não aguenta mais receber “fake news” no grupo da família? Já cansou de corrigir os mesmos boatos toda semana?

    Rã Zinza AntiFakenews de 1 De Novembro De 2018 Por Rafael Marçal https://vacilandia.com/ra-zinza-antifakenews/

    Pois você não está sozinho. Desde que os primeiros casos de Covid-19 começaram a ser registrados, os potenciais riscos das desinformações deixaram de ser assunto para pequenos grupos de cientistas e invadiram o dia-a-dia de boa parte da sociedade.

    Nesses últimos meses, muita gente teve que aprender a checar informações. Além disso, tem ajudado colegas e familiares a filtrar o conteúdo que anda circulando por aí.

    Mas, apesar disso, o resultado desse tipo de interação nem sempre é o esperado e, como consequência, muita gente tem ficado frustrada e sem entender por que parece que certas correções não funcionam.

    Numa tentativa de popularizar o que a gente já sabe a partir das pesquisas sobre desinformação, um grupo de mais de 20 especialistas no tema se reuniu para publicar:

    O Manual da Desmistificação 2020. (BAIXE AQUI)

    O documento resume os resultados dos principais trabalhos da área e transforma tudo isso em um conjunto de recomendações simples e diretas para você aplicar na sua rotina.

    Assim, a proposta é que cada vez mais pessoas entendam o problema e que a partir daí, possam ajudar no enfrentamento da desinformação de forma estratégica.

    Por exemplo, você sabia que nem sempre vale a pena corrigir um boato?

    Se ele tiver pouca visibilidade, a correção pode até sair pela culatra, tornando o boato mais popular em vez de realmente combatê-lo (veja mais detalhes na figura abaixo).

    O pessoal mal-intencionado, especialmente quem já faz parte de movimentos negacionistas, sabe disso e tenta surfar na popularidade de jornalistas e celebridades para alcançar um público maior.

    Infelizmente, muita gente vem mordendo a isca. Dessa forma, vemos veículos jornalísticos validando desde teorias da conspiração sobre o resultado das eleições norte-americanas a questionamentos sobre a segurança das vacinas contra a Covid-19.

    O panorama estratégico da desmistificação

    Entretanto, através do manual, você também vai entender por que certos boatos continuam “grudando” na cabeça das pessoas, independente de quantas vezes eles sejam corrigidos, vai aprender a evitar que isso aconteça e, quando não for possível prevenir, vai saber como corrigir os boatos de forma efetiva, aumentando as chances de que a correção realmente funcione.

    O Manual da Desmistificação 2020 chega poucos meses depois da publicação do Manual das Teorias da Conspiração e é produzido pelos pesquisadores Stephan Lewandowsky e John Cook e também disponível em português.

    Em suma, você encontra os dois documentos, além de outros recursos para combater o negacionismo e a desinformação na página do Centro para a Comunicação das Mudanças Climáticas da Universidade George Mason e na página do Skeptical Science.

    Sobre o Manual da Desmistificação 2020

    Outras informações: https://skepticalscience.com/translationblog.php?n=4886&l=10

    Para baixar: https://skepticalscience.com/docs/DebunkingHandbook2020-Portuguese.pdf

    Para saber mais:

    Este texto foi escrito originalmente no blog Mindflow

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • E as escolas, devem voltar?

    Texto escrito por Ana Arnt e Isaac Schrarstzhaupt

    Vivemos um momento em que há uma tensão no ar, com impasses difíceis de resolver. Por um lado, temos crianças e adolescentes que estão afastados da escola e de tudo o que isto implica – vivência social, aprendizados do espaço coletivo, contato com amigos, etc. Por outro lado, temos uma doença que assola o mundo – e nosso país de maneira intensa – e cujo os contatos interpessoais é a grande propulsora dos contágios e adoecimento.

    Sim, as escolas são fundamentais para a estrutura social que nós vivemos no mundo contemporâneo. Mas será que temos condições de abrirmos com segurança sanitária para todos?

    Assim, temos noção que precisaríamos urgentemente de um planejamento para retomar inúmeras atividades presenciais, tendo em vista a continuidade da pandemia, por mais tempo do que outrora imaginado.

    Recomendações para aberturas

    É imprescindível olharmos para algumas recomendações para o planejamento de abertura do espaço escolar, embasando-nos em princípios científicos e pressupostos da Organização Mundial da Saúde (OMS), além das regulamentações, leis e normativas do estado, para que a retomada seja repensada para um planejamento mais seguro a todos os trabalhadores da educação.

    Vamos olhar, por estarmos situados no estado de São Paulo, para as resoluções daqui, tendo em vista a abertura desde o dia 08 de Fevereiro. Segundo a Resolução SEDUC 11, de 26-01-2021, publicada no diário oficial (SÃO PAULO, 2021a), é considerado que, para o retorno existe

    “a necessidade de se assegurar as condições que favoreçam a realização de atividades escolares presenciais de forma segura para estudantes e profissionais da educação”.

    Dentre as condições, nós gostaríamos de destacar a distribuição de Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs), prevista pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, que aponta o uso de máscaras de tecido como obrigatória para servidores.

    É sabido que máscaras de tecido de algodão, com duas camadas, são eficientes como barreira mecânica. Entretanto, não são um equipamento de proteção individual. Ou seja, elas funcionam como barreiras de proteção a terceiros, caso o indivíduo em questão esteja contaminado, para minimizar riscos de outros indivíduos próximos. Isto é, por ser uma barreira mecânica, ela impede a dispersão de aerossóis. Mas para o indivíduo que utiliza a máscara, tem um efeito menor de proteção. Além disso, as máscaras de tecido frequentemente tem escapes de aerossóis, por não terem um isolamento adequado.

    Tendo em vista a necessidade de proteção dos servidores, como manutenção do serviço prestado à comunidade, os EPIs adequados deveriam atentar-se não apenas à proteção de quem convive no mesmo espaço, mas dos indivíduos trabalhadores em si.

    Dessa maneira, alguns especialistas têm indicado as máscaras N95 ou PFF2, que no início da pandemia eram desencorajadas, por estarem em falta para o corpo médico que atuava na linha de frente. A indicação destas máscaras não se restringem ao ambiente de trabalho, mas a espaços como transporte público e escolar.

    Todavia, na ausência destas máscaras, a OMS têm preconizado o uso de máscaras de tecido, com 3 camadas: uma camada hidrofílica interna, duas camadas (uma intermediária e uma externa) com características hidrofóbicas.

    Assim, a OMS ainda aponta fortemente a necessidade de testes e rastreamento de contatos, não limitando-se ao aparecimento de sintomas e casos suspeitos.

    Parece exagerado falar isso? Tal como já temos debatido em outros textos, reforçamos o fato de que o Brasil é o 3º país do mundo em casos confirmados de Covid-19. Não bastando este número, somos também o 2º do mundo em quantidade de óbitos. Todavia, em números totais de testes, somos o 11º país do mundo. Mas, pior que isto, em testes por milhão de habitantes, estamos em 116º lugar no mundo (WORLDOMETERS, 2021).

    Afinal, o que estes números indicam?

    Isto indica que, à revelia da intencionalidade de rastreio e testagem das escolas, nós temos falhado (E MUITO) nas testagens de qualquer brasileiro.

    Outras informações relevantes

    Ao olharmos o documento Volta às aulas Seguras, 2021 (SÃO PAULO, 2021b), consta que o retorno deveria ser feito após a testagem negativa, em casos suspeitos. No entanto, nossa pergunta, neste caso, é: onde este teste será feito? Como serão os encaminhamentos de testes? Haverá garantia para testes a todos os estudantes e servidores da rede? Isto deveria ser respondido, tendo em vista a baixa testagem em nosso país, ainda.

    Todas estas questões somam-se ao fato de que o Estado de São Paulo tem registrado diariamente mais do que 10 mil casos, com óbitos que ultrapassam 300 por dia. Por outro lado, analisando-se a Média móvel de internações, nas últimas semanas vemos um aumento da taxa de internações, mesmo com a mobilidade urbana estável, ou diminuindo.

    Figura 1. Internações de confirmados com COVID-19 em 2021 – Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, São João da Boa Vista e Taubaté. Fonte: SEADE, São Paulo

    Figura 2. Internações de confirmados com COVID-19 em 2021 – Marília, Presidente Prudente, Piracicaba, Registro. Fonte: SEADE, São Paulo
    Figura 3. Internações de confirmados com COVID-19 em 2021 – Bauru, Campinas, Barretos e Granca. Fonte: SEADE, São Paulo

    O que as Médias Móveis de Internação representam?

    Mais do que apenas a taxa diária de ocupação dos leitos, é fundamental em uma crise sanitária como esta, observar a tendência de internações – se estamos aumentando ou diminuindo em um tempo determinado e analisar quais os motivos estão nos levando a esta tendência (de aumento ou diminuição das internações).

    Segundo os dados do SEADE, pode-se ver que à revelia de termos UTIs não ocupadas (temos ocupação de 66,7% segundo os dados de hoje, 10/02), conforme indicado pela Secretaria de Saúde do Estado, vivemos atualmente um aumento de casos de internação, considerando a manutenção do isolamento – e fechamento e controle de horários de estabelecimentos de comércio, bares e restaurantes durante o final de semana.

    E o que o aumento de casos de internação nos diz? Que estamos com aumento de pessoas contaminadas! Ainda assim, lembramos sempre que as internações se referem à infecções ocorridas há pelo menos 10 dias. Isto levando-se em conta o período de incubação da doença e mais o atraso na notificação da internação. Como podemos propor um aumento de mobilidade em uma situação de aumento de internações?

    Sobre as escolas e o isolamento

    O retorno das escolas representa exatamente o avesso da “manutenção de isolamento”. Isto é, um aumento significativo de pessoas circulando, especialmente em transporte público e escolar. Além disso, o óbvio aumento do contato direto diariamente – mesmo seguindo-se todas as recomendações apontadas em documentos oficiais e restringindo-se a 35% de crianças dentro do ambiente escolar.

    Estamos vivendo um momento de apreensão, com as novas variantes aparecendo – e se espalhando. Ao que tudo indica, com uma transmissibilidade maior do que o vírus original. Também temos vivido um relaxamento das regras de isolamento social em vários setores da sociedade.

    Percebemos, sim, as falas de: cansaço de pessoas, falta de convívio social das crianças com outras crianças, trabalho das mães que não podem fazer home office e cuidados necessários por avós que ficam das crianças.

    Entendemos que a escola também não é apenas conteúdo técnico e científico. Pois as perdas são muito maiores do que aprender regras de subtração, divisão celular, ou capitais de estados e países. A vivência escolar é incomensuravelmente maior que tudo isto. E jamais diríamos o contrário.

    E a APEOESP?

    Por fim, alertamos que a APEOESP – Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo – tem lançado os comunicados com escolas em que casos de contaminação estão acontecendo e, até o momento, há 100 escolas com contaminação registradas, inclusive com servidores em estado grave e registro de óbitos.

    Em suma, o retorno se apresenta com poucas condições para a manutenção segura e saudável dos nossos alunos e servidores – ainda considerando-se a quantidade de contatos que cada indivíduo tem (familiares próximos) que potencializa o risco iminente de surtos com complicações em pouquíssimo tempo.

    Entretanto…

    A centralidade de nosso ponto é que estamos falando em um aumento da média móvel de internações, estamos batendo recordes de mortes diárias, novamente. Temos uma campanha de vacinação que avança muito lentamente – e está longe de chegar ao alcance de servidores das escolas (que não foram priorizados nesta primeira fase) e familiares próximos.

    Vivemos um momento em que absolutamente todas as decisões têm sido tomadas em âmbitos individuais, pressionadas por posicionamentos do Estado que parecem não olhar para estes números de mortes, médias móveis de internações e para as condições precárias que milhões de famílias estão passando.

    A título de ilustração, abordamos um estudo (ainda em preprint) analisando cenários de retorno das atividades escolares na Europa. Neste estudo, levou-se em conta a diferença de transmissibilidade da Covid-19 em crianças e adolescentes. Assim, seria importante analisar a necessidade de abertura das escolas em cada uma das etapas de ensino. Nesta pesquisa, evitar a retomada do ensino fundamental e médio, em situações de aumento de casos – ou mesmo estabilidade – foi a recomendação.

    Além disso, em qualquer cenário analisado, os testes e rastreamentos seriam uma das ferramentas imprescindíveis para controle da Covid-19 (Domenico, 2021).

    Outra pesquisa, brasileira, também em preprint aponta que os critérios para abertura das escolas têm seguido parâmetros de:
    – Redução na propagação do vírus.
    – Sistema de Saúde com condições de abarcar casos graves;
    – Monitoramento (testes em larga escala e rastreamento de contatos)

    A partir destas questões

    O nosso ponto é: como podemos olhar para a escola como PRIORIDADE quando há denúncias de falta de condições, professores com medo e estabelecimentos comerciais não essenciais abertos? Assim, como priorizar escolas sem um plano em que servidores estejam vacinados e, com isso, protegidos entre si, e também em relação às crianças (que não poderão se vacinar ainda)?

    A pressão pelo retorno não poderia esperar por mais um mês? Em tempos em que estamos em uma corrida contra o tempo para os processos de vacinação, talvez fosse importante investir em diminuição dos casos. Isso enfatizando que, até que uma nova fase da vacinação se desenrolasse e tivéssemos, de fato, uma possibilidade de estes profissionais terem sua saúde garantida.

    Por fim, o retorno das escolas como política pública – mesmo que em âmbito de escolas privadas – deve ter recomendações específicas, com estratégias que visem proteção e segurança sanitária de servidores, crianças e familiares. Isto é, incluir EPIs adequados, testes em massa, rastreamento de contatos. Assim como, também seria fundamental repensar a retomada a partir de critérios específicos. Por exemplo, tomando estudos de lugares que fizeram a abertura das escolas e, também, análise de cenários destas aberturas.

    Nossos Materiais:

    Como Funciona a N95?

    Vamos abrir as escolas?

    Materiais de Parceiros

    Kokubun, F, Schrarstzhaupt, I, Fontes-Dutra, M, Santana, L (2020) Reabertura das escolas, Rede Análise Covid-19

    Mori, Vitor (2021) Qual máscara usar

    Material de referência

    Di Domenico, L, Pullano, G, Sabbatini, CE, Boëlle, PY, Colizza, V (2021) Modelling safe protocols for reopening schools during the COVID-19 pandemic in France

    SÃO PAULO (2021a) Resolução SEDUC 11, de 26-01-2021, Diário Oficial de São Paulo,Volume 131, Número 16, São Paulo, segunda-feira, 25 de janeiro de 2021.

    SÃO PAULO (2021b) Volta às aulas segura 2021.

    Letícia Soares, Teresa Helena Schoen (2021) Medidas de prevenção à Covid-19 no retorno às aulas:Protocolos de 13 países

    SEADE (2021) Leitos e Internações (Data até 06/01/2021).

    WHO (2020). Mask use in the context of COVID-19

    WORLDOMETER (2021) Coronavírus (6 de Fevereiro de 2021)

    Os Autores

    Isaac Schrarstzhaupt é Cientista de dados e Coordenador na Rede Análise Covid-19 (@analise_covid19) e gentilmente nos ajudou a levantar os dados, analisá-los para debatê-los com vocês.

    Ana de Medeiros Arnt é licenciada em Ciências Biológicas, pesquisadora do Grupo Pesquisa em Educação em Ciências (PEmCie) e coordena o Blogs de Ciência da Unicamp e o Especial Covid-19

    Este texto foi escrito originalmente no blog PEmCie, teve sua primeira versão publicada dia 10 de fevereiro, e revisado (especialmente o final do post) dia 12 de Fevereiro

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Acredite na vacina e também no aquecimento global

    Se sairmos logo desta pandemia, o clima deve ser o tema de preocupação global mais urgente

    Se havia esperança de que o ano de 2021 seria diferente, pelo menos este primeiro semestre vai lembrar muito 2020. Mas 2020 não foi só o ano da pandemia. Foi também o segundo mais quente da história. A agência europeia Copernicus (2021), a partir de dados analisados, informou que 2020 se igualou a 2016 como o ano mais quente da história, com 1.25°C acima dos níveis pré-industriais. No ano passado, houve ondas de calor devastadoras na Europa, incêndios florestais sem precedentes no Brasil e na Austrália, milhares de mortes devido ao ciclone Idai na África, e uma série de outros eventos climáticos extremos.  

    E o que o coronavírus tem a ver com o clima? Os impactos do clima aumentam a probabilidade do surgimento de pandemias por consequência de mudanças nos habitats de vetores de doenças ou aumento do contato entre espécies resultante do desmatamento.

    No caso da COVID-19, os efeitos na saúde não param na infecção em si, pois são amplificados com consequências socioeconômicas que podem impactar gerações. O Banco Mundial já previu uma retração econômica em todo o mundo de 4,3% em 2020. Entre 40 e 60 milhões de pessoas serão levadas à pobreza extrema, uma perda equivalente a três anos no esforço de redução da pobreza. No Brasil, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) projetou queda de 5% do Produto Interno Bruno (PIB).

    Da mesma forma, as mudanças climáticas geram eventos em escala que afetam da produção agrícola à migração forçada de populações. Portanto, apesar desta crise de saúde sem precedentes, as mudanças climáticas ameaçam produzir choques de maior magnitude em períodos de tempo mais longos.

    Foto de Markus Spiske no Pexels

    Sem medidas suficientes, os impactos da crise climática na saúde e na economia tendem a ser crescentes e contínuos. A OMS já alertou que a poluição do ar custou quase US$ 3 trilhões, o equivalente a mais de 3% do PIB global, apenas em 2018, sendo responsável por 7 milhões de mortes todos os anos.  

    No Brasil, o transporte de passageiros é a fonte de emissão de gases de efeito estufa (GEE) que mais cresce. Dados do Observatório do Clima (2018) mostram que entre 1990 e 2012, houve um aumento de 84 para 204 mi/ton., sendo a principal fonte de emissões municipais e o segundo em nível nacional, perdendo apenas para a agropecuária. E em São Paulo, a poluição será responsável por mais de 50 mil mortes até 2030, segundo pesquisa do Instituto Saúde e Sustentabilidade e Escola Paulista de Medicina (2014).

    E agora, humanos?

    Podemos ter um vislumbre de esperança? Sim! Embora o caminho para controlar o coronavírus seja marcado por polêmicas e escolhas difíceis, há sinais de esperança. Os países estão provando que é possível achatar a curva e aproximar-se de uma imunização global a partir de esforços coletivos.

    Uma lição aprendida foi que a coordenação entre os países na corrida por uma vacina em tempo recorde resultou em parcerias bem-sucedidas a partir da ciência e da tecnologia. No entanto, a falta deste mesmo tipo de coordenação global para políticas climáticas decepciona. Uma governança ambiental global é mais do que necessária.

    Foto de Markus Spiske no Pexels

    Mas alguns países como a Japão, Canadá e Reino Unido já têm assumido compromissos “net zero” tanto na arena empresarial quanto governamental. A China tem feito esforços massivos para descarbonizar sua economia, investindo em energias limpas e cidades inteligentes, com a meta de neutralizar a emissão de carbono até 2060. E essa pauta deve se fortalecer com o retorno dos Estados Unidos à Agenda de Paris.

    E neste ano, a Conferência do Clima da ONU (COP 26), que acontece em novembro, em Glasgow, na Escócia, será decisiva ao reavaliar os objetivos e metas de redução de emissões do Acordo de Paris, que acaba de completar cinco anos.

    Mais do que nunca, temos a responsabilidade de fazer as coisas de maneira diferente para que o velho normal do insustentável “business as usual” não volte a ser o status quo e que a saúde das pessoas e do planeta seja prioridade.

    Fontes:

    COPERNICUS. Copernicus: 2020 warmest year on record for Europe; globally, 2020 ties with 2016 for warmest year recorded. Disponível em: https://climate.copernicus.eu/copernicus-2020-warmest-year-record-europe-globally-2020-ties-2016-warmest-year-recorded. Acesso em 08/01/2021.

    OMS. 7 million premature deaths annually linked to air pollution. Disponível em: https://www.who.int/mediacentre/news/releases/2014/air-pollution/en/. Acesso em 20/01/2021.

    OBSERVATÓRIO DO CLIMA. SEEG 8 – Análise das emissões brasileiras de gases de efeito estufa e suas implicações para as metas de clima do Brasil (1970-2019). Disponível em: http://www.observatoriodoclima.eco.br/seeg-8-analise-das-emissoes-brasileiras-de-gases-de-efeito-estufa-e-suas-implicacoes-para-metas-de-clima-brasil-1970-2019/. Acesso em 20/01/2021.

    VORMITTAG, E. M. P. A. A.; COSTA, R. R.; BRAGA, A. A.; MIRANDA, M. J.; NASCIMENTO, N. C.; SALDIVA, P. H. Monitoramento da qualidade do ar no Brasil. Instituto Saúde e Sustentabilidade, 2014. Disponível em: http://www.saudeesustentabilidade.org.br/site/wp-content/uploads/2014/07/Monitoramento-da-Qualidade-do-Ar-no-Brasil-2014.pdf. Acesso em 01/02/2021.

    Jaqueline Nichi é graduada em Jornalismo e Sociologia, com mestrado em Sustentabilidade pela EACH-USP. Atualmente, é doutoranda no Programa Ambiente e Sociedade do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (NEPAM-UNICAMP). Sua área de pesquisa é centrada nas dimensões sociais e políticas das mudanças climáticas nas cidades e governança local.

    Este texto foi escrito originalmente no blog Natureza de Fato

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • O código genético

    Atualmente, temos ouvido/lido muito sobre os termos código genético do vírus, DNA e RNA mensageiro. Mas o que esses termos significam?

    Nós não estamos sozinhos na Terra. Ela é a casa de mais de 8.7 milhões de espécies, isso contando apenas os eucariontes – daqui a pouco conto o que eles/nós temos de especial – e não inclui as bactérias e vírus. Já parou para pensar em como essas espécies garantem que a sua prole tenha as mesmas características da espécie?  

    A ideia de como as informações sobre como os organismos fazem cópias de si mesmos, assim como a instrução para a construção de estruturas e funcionamento de um novo organismo, foi um mistério por um longo tempo. As primeiras peças do quebra-cabeça para enterdemos como as informações estão organizadas nos organismos começou a ser encontrada há muitos anos atrás. 

    Para se ter uma ideia, a célula, a estrutura mínima que compõe os seres vivos, foi descoberta por volta de 1660 graças a invenção do microscópio. Quando Robert Hooke olhou para as fatias finas de cortiça através do microscópio, viu que elas eram compostas por pequenas estruturas, que lembravam buraquinhos de um favo de mel a que ele deu o nome de célula (pequena cela). 

    Esse foi só o início. Com o desenvolvimento da ciência e o aparecimento de novos  instrumentos e técnicas continuamos a descobrir cada vez mais sobre essa pequena unidade que nos compõe.

    O núcleo de tudo isso

    A unidade morfológica em que se baseia a vida, a célula, pode ser classificada em dois grupos principais, as eucarióticas, que possuem núcleo envolto por uma membrana e que contém o material genético – dos quais fazemos parte –  e os procariotos que não possuem núcleo e o material genético fica disperso no citoplasma, como é o caso das bactérias. 

    Apesar da diferença quanto a presença de núcleo, tanto as células eucarióticas quanto as procarióticas possuem membrana plasmática que separa o interior da célula do seu ambiente. Ela tem um papel extremamente importante e acaba selecionando o que entra no interior da célula por meio de diferentes processos. 

    Representação simplificada de uma célula eucariótica.  A imagem foi criada com  BioRender.com.

    Além disso, as células são compostas pelo citosol, ou seja, o interior da célula. Ele é repleto de espécies químicas e organelas, o citoplamas. As organelas são estruturas celulares com funções específicas e separadas do citoplasma por meio de uma membrana. 

    A maior organela da célula  eucariótica é o núcleo. Ele abriga o DNA (ácido desoxirribonucleico), que contém a informação genética para todas as funções  da célula/organismo. 

    Mas essa informação não está escrita de maneira como lemos esse texto, seria muito texto para tantos comandos que nosso organismo executa. Ao invés disso, a informação está codificada, ou escrita por meio de códigos moleculares. Como uma sequência de blocos menores, as bases nitrogenadas constituem a molécula de DNA. 

    O DNA 

    O DNA é composto de quatro tipos diferentes de bases nitrogenadas, representadas pelas letras A,T, C, G (de adenina, timina, citosina e guanina). 

    As bases nitrogenadas estão em sequência na molécula de DNA, cuja estrutura é em dupla hélice, em que as duas fitas compõem o DNA que interagem e dão forma à molécula. A interação entre as fitas do DNA ocorre graças a complementaridade entre as bases nitrogenadas, em que A (adenina) se liga com T (timina) e a C (citosina) com a G (guanina).

    A complementaridade entre as bases nitrogenadas no DNA. A imagem foi criada com  BioRender.com.

    Essa complementaridade entre as fitas é importante, pois torna possível a replicação (duplicação) da molécula de DNA. Quando ocorre a duplicação do DNA, as duas fitas se separam e a partir do molde são formadas as fitas-filhas complementares.

    Em células eucarióticas, como as dos seres humanos, tanto a replicação quanto a transcrição do DNA acontecem no núcleo. A imagem foi criada com  BioRender.com.

    A descoberta da estrutura em hélice do DNA

    A informação chave para a estrutura do DNA foi obtida por Rosalind Franklin que conseguiu uma fotografia do DNA por uma técnica chamada de difração de raio X. A partir desse achado de Rosalind, dois pesquisadores, Watson e Crick, determinaram a estrutura do DNA – nunca mencionaram a pesquisadora – e anos mais tarde foram laureados com o prêmio Nobel.

    Para saber mais sobre Rosalind Franklin leia o texto Celebrando Rosalind Franklin – a mulher que ajudou a desvendar a estrutura do DNA no Ciência pelos Olhos dela do Blogs Unicamp. 

    O sistema de tradução da informação do DNA em proteínas é regulado por uma série de interações e reações químicas. Além disso, a informação necessária não é entregue de forma direta para a preparação de proteínas pelos ribossomos, uma organela presente no citoplasma das células. 

    DNA como molde para o ácido ribonucleico, RNA

    Além de se replicar no procesos de duplicação, o DNA também serve de molde para a preparação de uma outra molécula importante na síntese de proteínas, o RNA mensageiro, mRNA, em um processo chamado de transcrição. A partir dessa última molécula é que ocorre a tradução com a síntese de proteínas. 

    Então, o DNA tem a informação transmitida ao mRNA. A partir do mRNA é que há a tradução – daquela informação codificada – em proteínas. Essa tradução ocorre fora do núcleo em uma outra organela da célula, no ribossomo. 

    Não é sopa de letrinha

    A sequência desses bloquinhos de base nitrogenada no DNA não é aleatória. A combinação de cada três bloquinhos é traduzida pela célula em um aminoácido – a menor parte da estrutura de uma proteína. O conjunto de aminoácidos ligados é que dá origem a uma proteínas. Quantidade e sequências diferentes de aminoácidos estão associados a proteínas diferentes. E é nelas que está a beleza da vida. Entre outras coisas, as proteínas fazem parte de estruturas das células, transportam o oxigênio necessário para a nossa respiração, conseguem deixar as reações químicas mais rápidas nos organismos. Enfim são fundamentais para a manutenção e funcionamento dos organismos.

    Combinando as sequências

    O interessante sobre o código genético é que a sequência das bases nitrogenadas presentes em um códon (sequência de três bases nitrogenadas) específica corresponde a um aminoácido específico e isso é praticamente universal entre todas as formas de vida na Terra. 

    Um pouco de matemática

    Podemos inferir a quantidade de combinações possíveis de bases nitrogenadas para a formação de códons por meio de uma fórmula matemática chamada de Arranjo com Repetição:

    A(n, r)  = nr, em que

    n é o número de elementos do conjunto, no caso são quatro (A, T, C, G)

    r é a quantidade de elementos por agrupamento, no códon são 3. 

    Dessa forma, 

    A  = 43

    A = 64

    Existem 4 pares de base nitrogenadas diferentes (A, T, C e G). A combinação entre elas em uma das três posições em um códon nos dá a possibilidade de 64 códons diferentes. Desses 64 códons, 61 são traduzidos em aminoácidos e 3 estão associados a uma espécie de sinalização para a parada de tradução da sequência do DNA, os códons de Parada (Stop codons). 

    Mas alguns códons diferentes sinalizam para a produção de um mesmo aminoácido. Os 61 códons produzem apenas 20 aminoácidos diferentes. Por esse motivo, o código genético é considerado redundante ou degenerado,

    A sequência de aminoácidos que compõem uma determinada proteína é codificada por um gene específico. Dessa forma, o DNA contém o genoma da célula que é a totalidade da informação genética que além de dar origem a milhares de proteínas, também regula quando e onde elas serão feitas.

    A replicação refere-se ao processo de duplicação do DNA e em células eucarióticas acontece no núcleo. A transcrição, o processo de produção de RNA a partir do DNA também acontece no núcleo. A tradução é um processo de produção de proteínas a partir do mRNA (RNA mensageiro). Ela acontece nos ribossomos, organelas presentes no citosol da célula. As células não conseguem produzir DNA a partir do RNA, mas alguns vírus possuem em sua maquinária uma enzima, um tipo de proteína, capaz de fazer esse processo, a transcriptase reversa.

    Material genético materno

    Na reprodução sexuada, a composição do DNA presente no núcleo das células eucarióticas é uma contribuição de 50% de cada um dos sexos. 

    Além disso, a célula eucariótica abriga outra organela com material genético próprio, a mitocôndria. Como regra, o material genético presente na mitocôndria é de origem apenas materna. Se compararmos com o DNA do núcleo, a quantidade de informação genética presente na mitocondria é bem menor, mas ambas informações são muito importantes. 

    Mas e os vírus?

    Os vírus não têm a maquinaria para fazer cópias de si mesmos, nem mesmo para a transcrição e tradução em proteínas, mas contém a informação genética para a sua produção, o mesmo acontece com o SARS-CoV-2, o vírus que causa a COVID-19. 

    Para saber um pouco mais sobre a necessidade dos vírus por um hospedeiro leia Valentões dentro da célula, sensíveis fora dela: os vírus

    Dica

    Em comemoração aos 20 anos de existência, o Instituto Suiço de Bioinformática (Swiss Institute of Bioinformatics) lançou o jogo Gene Jumper. O jogo é gratuito e está disponível em 3 idiomas, inglês, francês e alemão. Apesar de não ter disponível a versão em português, é bem divertido jogar e se tem uma idéia do processo de tradução do DNA. 

    Para saber mais

    Alberts, B.; Johnson, A. Lewis, J.; Morgan, D.; Raff, M.; Roberts, K. Walter, P.; Molecular Biology of the Cell. Sixth Edition. 2015

    Mora C, Tittensor DP, Adl S, Simpson AGB, Worm B (2011) How Many Species Are There on Earth and in the Ocean? PLoS Biol 9(8): e1001127. doi:10.1371/journal.pbio.1001127 

    Voet, D. e Voet, JG. Bioquímica. 4 Edição. Editora Artmed. 2011. 

    Este texto foi escrito originalmente no blog Ciência de Fato

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Desinformação e vacinas: cuidados necessários

    Recebemos hoje uma notícia animadora: as novas datas de vacinação já saíram!

    Uhuuuu! Vamos lá! Espalha essa notícia sim! Vai pro zap sim! Encaminha prá todo mundo sim!

    Não. Calma. Pera lá…

    Nunca encaminhe nenhuma mensagem antes de conferir tudo…

    Olhando com mais calma, vimos alguns sinais de alerta e já fomos conferir!

    Primeiro sinal: o site é do governo de São Paulo! Será que é o site mesmo?

    Sim, o site é real, é sobre a vacinação em São Paulo… Todavia, o restante da mensagem, não era bem assim. Aqui mora o cerne de como a desinformação se propaga! Veja, o site existe, a vacina existe (Sim! Ela existe!), mas as datas não foram confirmadas ainda. E este é só um dos detalhes…

    Também consta nesta mensagem a data de vacinação de pessoas entre 0 e 28 anos. A vacina ainda não teve seus resultados de eficácia para menores de 18 anos. Portanto, esta faixa etária de menores de idade não será vacinada por enquanto!

    A desinformação é ardilosa sabe? Ela traz informações que muitas vezes são reais (como o site do governo), aliadas com aquelas que queremos que sejam reais (datas próximas de vacinações). E isso nos atrapalha mesmo. Por isso, nós trouxemos para vocês algumas dicas para ajudar, em cima do encaminhamento que recebemos! Vamos lá?

    Sobre fake news e desinformação, vocês podem saber mais informações aqui

    Texto produzido para o especial e também para compor todo o trabalho que seguimos fazendo na campanha #todospelasvacinas

    Este texto é original e escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Como fazemos a divulgação da divulgação científica no Blogs de Ciência da Unicamp?

    Faz muito tempo que gostaria de escrever (aqui no Mindflow) sobre como é feita a divulgação da divulgação científica no Blogs de Ciência da Unicamp. Um trabalho de formiguinha que foi desenvolvido com muito suor, horas a fio, estudo, tentativas, acertos, erros e discussão com colegas divulgadores de ciência e comunicadores.

    A ideia desse texto é demonstrar o passo a passo e a linha de raciocínio que fazemos todos os dias no projeto. Trabalho este que por 03 anos fiz sozinha, mas agora conto com a ajuda da minha querida equipe*.

    De 2016 até aqui…

    Desde que iniciei o trabalho de comunicação do Blogs de Ciência da Unicamp duas perguntas, volta e meia aparecem e frequentemente nesta ordem:

    A primeira sobre a morte iminente dos blogs (que foi respondido neste texto) e em segundo lugar sobre como fazemos a divulgação da divulgação científica no Blogs de Ciência da Unicamp sem o uso de recursos financeiros.

    Não sei se você sabe, caro leitor, mas o projeto iniciou-se a partir de voluntários (mais sobre essa história) e sem nenhum recurso financeiro disponível no início e ao longo dos anos. Verdade seja dita que a Unicamp nos dá suporte físico, de equipamentos, bolsistas BAS e, é claro, de seu nome e credibilidade.

    Mesmo assim com a falta de recursos financeiros e a continuidade de cortes na ciência optar por investir em estratégias de divulgação pagas nas redes sociais ou em qualquer outra forma de comunicação era e, ainda é, impossível.

    Portanto toda a construção da comunicação do projeto manteve-se focado em encontrar estratégias de divulgação sem o uso de recursos financeiros e, principalmente, driblando os blocks* e as mudanças de algoritmos das redes sociais. Uma vez cheguei a ficar sem acesso a 3 contas por 4 meses, neste momento, inclusive, estou bloqueada por 15 dias.

    E de pouco em pouco o projeto conseguiu garantir um público cativo que frequenta nossas páginas.

    Compartilhado de: crimsonredjackettcoat

    No final de 2019 o projeto já havia crescido bastante em números de acessos, leitores, de blogueiros/divulgadores de ciência e de voluntários. Dessa forma conseguimos ampliar nossas atividades e colocar em prática projetos engavetados. Nosso primeiro encontro da equipe (quase completa) foi em 10 de Janeiro de 2020. Olha nossa foto aqui:

    https://www.instagram.com/p/B7JozNrHQLr/?utm_source=ig_web_copy_link

    Fizemos a reunião, nos conhecemos, nos animamos, fizemos planos e aí!!!!!

    A pandemia.

    Com o anúncio da suspensão das aulas na Unicamp, em 12 de março de 2020, devido ao COVID-19, o Blogs de Ciência da Unicamp decidiu então focar seus esforços em divulgar conteúdo científico sobre a pandemia e em apenas 09 dias colocamos no ar o Especial Covid-19, um volume atualizado (quase que diariamente) sobre tudo que fosse possível ser produzido sobre o tema a partir de cientistas/blogueiros que já participam do projeto e outros cientistas convidados. (Mais sobre essa história)

    E para que isso funcionasse a equipe de voluntários se dividiu entre os que organizavam a plataforma, a equipe que estudava sobre os temas, escrevia ou buscava convidados para escrever, os que liam e verificam os conteúdos e a equipe de comunicação que divulga os conteúdos prontos (e foi aí que me tornei coordenadora de comunicação do Blogs de Ciência da Unicamp, chick, né!).

    Então mãos a obra!

    Nesse primeiro momento nos reunimos virtualmente como equipe, tiramos todas as dúvidas iniciais, entendemos qual era o nível de conhecimento de cada um sobre comunicação e redes sociais e como tem sido realizada a comunicação do projeto até este momento. A partir disso montamos a rotina de funcionamento diário:

    Passo 1- Escolher o conteúdo a ser divulgado

    Antes de começar a divulgar é preciso se informar sobre o que está acontecendo no mundo. E apesar de parecer exaustivo, principalmente durante a pandemia, entender o que está acontecendo de importante e quais são as atualizações ajudam a escolher o conteúdo a ser divulgado.

    Além dos jornais também é altamente recomendável verificar as redes sociais e grupos de chat, como WhatsApp e Telegram, por exemplo, são nesses canais que aparecem as dúvidas das pessoas.

    Escolher conteúdos sobre assuntos da atualidade e que as responde dúvidas das pessoas além de ajudar no engajamento das redes sociais e consequentemente aumentar a visualização do seu conteúdo aproxima a ciência da sociedade, demonstrando sua utilidade no dia a dia.

    Fonte: https://thelolgifs.tumblr.com/post/44651690209

    Todos os dias nossa equipe de comunicação se informava e discutia antes de escolher qual conteúdo era mais pertinente naquele momento e caso não houvesse nenhum conteúdo pronto repassávamos a demanda a outra equipe que as providenciava com os cientistas.

    Passo 2 – Adequar as mídias que seriam utilizadas para divulgar.

    Aqui no Mindflow falamos mais extensivamente sobre como fazer e qual a importância de adequar seu conteúdo as mídias que irá utilizar e ao público que pretende divulgar.

    Coloco abaixo uma listinha de textos que recomendo dar uma olhadinha antes de continuar a leitura:

    Passo 3 – Planejamento

    Decidimos então que divulgaríamos uma postagem de conteúdo do Especial Covid-19 por dia e assim mantemos até Agosto.

    Informamos aos blogueiros do projeto que conteúdos sobre a pandemia seriam priorizados e que os outros conteúdos seriam divulgados a partir do segundo semestre, quando passamos a divulgar em 3 dias da semana conteúdos sobre a pandemia e em dois conteúdos gerais do projeto.

    Todos os dias fazíamos o passo 1 e 2 e discutíamos em conjunto qual seria a melhor forma de divulgarmos o conteúdo via nossas redes sociais, respeitando os seguintes critérios:

    • Mantemos uma lista de postagens realizadas e seu resultado de acesso, sempre olhamos essa lista antes de escolher um conteúdo para evitar repetição e conferir as estratégias que deram melhor resultado;
    • Escolhemos uma imagem ou vídeo respeitando os direitos de uso de imagem (mais sobre isso);
    • Escolhemos uma frase chamada que se adeque a cada rede social e que incentive o público a ir até o texto completo;
    • Incluímos na postagem o nome do autor e do blog original (no caso do Especial Covid-19)

    Passo 4 – Reuniões para discussão, análise e estudo

    Fonte: https://giphy.com/luisricardo

    Percebemos que as conversas via WhatsApp inibiam discussões sobre mudanças, dúvidas, novas ideias e problemas do dia a dia, então decidimos que a cada 15 dias nos reuniríamos para estudar sobre comunicação. Em nossas reuniões eram sugeridos temas com material bibliográfico de suporte, convite a especialistas e discussões sobre o trabalho diário.

    Os encontros foram muito além do aprofundamento em conteúdos sobre comunicação, mídias sociais e divulgação científica, se tratava sobre darmos suporte uns aos outros para enfrentarmos os desafios do dia a dia do trabalho e da vida na pandemia.

    Passo 5 – Nem tudo são flores

    Não é novidade para nenhum divulgador científico o enorme desafio que é lidar com as fakes news e o negacionismo, esse é uma parte do nosso trabalho e é preciso estar preparado para isso.

    Contudo a quantidade insana de material que todos os dias apareciam em nossas redes sociais, pessoais e do projeto, o crescimento da demanda de resposta a comentários (interessados reais, bots e haters), descontentamento, cobrança e reclamações de parceiros, constante atualização sobre a pandemia e os problemas pessoais de cada um estafou a equipe.

    Mais sobre isso:

    E com o andar dos dias nosso trabalho acabou por ficar mecânico e sem espaço para novas ideias.

    Percebemos que na urgência de entendermos a pandemia para responder aos comentários, pautas importantes as serem trabalhadas, as dificuldades do trabalho voluntário e de fazer comunicação em mídias sociais sem recurso financeiro e os desdobramentos político-sociais brasileiros acabou por nos afastar do nosso público.

    E era preciso parar, respirar e rever tudo.

    https://giphy.com/southpark

    Passe 6 – Readequações

    Acho que o primeiro passo para a mudança era entender que somos um canal de divulgação científica e não de jornalismo científico. Parece bobo e óbvio dizer isso, mas com o tempo (e por termos excelentes jornalistas na equipe) acabamos por entrar no mesmo ritmo do jornalismo diário.

    Como canal de divulgação científica trabalhamos com a responsabilidade social de divulgar informações sobre ciência de forma acessível, ampla e o mais compreensível possível e para que isso seja possível é preciso que haja planejamento, maturação da informação, consulta a pares e em outras fontes de conhecimento.

    E não é só isso, temos também a responsabilidade de responder ao nosso público sempre com ética e embasamento, além da criação de conteúdo para o combate a fake news e o negacionismo.

    E para tudo isso precisamos de tempo!

    Nesse sentido é importante pensarmos no trabalho de divulgação científica de forma coletiva. O Blogs de Ciência da Unicamp é coletivo, procuramos como equipe levar a divulgação científica a sociedade de TODAS as ciências e para isso contamos com diversos cientistas, comunicadores e parceiros.

    Essa é a melhor estratégia para conseguirmos TEMPO (aquele que eu estava comentando algumas linhas acima).

    Mais sobre isso:

    Fazer Divulgação Científica sobre pandemia em uma sociedade do espetáculo

    Divulgação e comunicação científica: para além e avante

    E como fazemos isso?

    *Trabalhando em um planejamento que deve ser seguido ao longo do ano, (é claro que é preciso ter espaço para novas ideias e é natural que a equipe se perca as vezes), mas se preparar dá tranquilidade a equipe e ajuda ao projeto a chegar aos resultados pré-estabelecidos.

    *Entendendo, como equipe, qual o nosso papel, objetivo e onde queremos chegar para que todos falem a mesma língua e busque os mesmos resultados.

    *Usando nossa rede de colegas, amigos e parceiros, privilegiando a expertise de cada um e compartilhando seu conteúdo em nossas redes, além de ajudar a diversidade de informação para o nosso público ajudamos ao colega a crescer também.

    Reafirmo, como no início desse texto, que nosso trabalho é fruto de muita luta, suor, alegrias e erros e esse relato do nosso trabalho serve não só como registro histórico, mas também como ajuda a outros divulgadores científicos que continuam lutando pela ciência brasileira.

    *Dedico esta postagem a equipe atual de comunicação do Blogs de Ciência da Unicamp que foi fundamental nessa pandemia:
    • Coordenadora geral do projeto: Ana de Medeiros Arnt
    • Coordenadora da equipe de comunicação: Erica Mariosa Moreira Carneiro
    • Equipe de comunicação: Paula Penedo P. de Carvalho, Luisa Fernanda Rios Pinto, Graciele Almeida de Oliveira, José Felipe Teixeira Da Silva Santos, Jaqueline Nichi.
    • Equipe de artes: Beatriz Caroline Paduanello Durlin, Caio Silvano Serafim e Carolina Frandsen P. Costa

    Equipe Completa do Blogs de Ciência da Unicamp: https://www.blogs.unicamp.br/quem-somos/

    Outros assuntos importantes:

    Este texto foi escrito originalmente no blog MindFlow

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


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  • Estratégias de vacinação: o que se leva em conta?

    Nunca se debateu tanto vacinas e vacinação: o que é eficácia, segurança, testes, grupos de risco, planos nacional, estadual, etc.

    Por muito tempo no Brasil, o Programa Nacional de Imunização ocorria anualmente, com campanhas, grupos prioritários e estratégias de imunização para diminuir a incidência de doenças evitáveis sem que houvesse qualquer polêmica atrelada a isto. 

    Talvez uma das perguntas que agora fundamentais de responder: existem critérios para a escolha dos grupos prioritários para a vacinação? A ciência possui metodologias e estudos que apontem como isto deveria organizar-se?

    Estas perguntas são importantes. Por um lado, já temos indicação de quais grupos podem se vacinar – pelos testes tanto de segurança, quanto de eficácia. Por outro lado, por toda a estrutura de vacinas ser muito recente, não teremos vacinas imediatamente para todo o mundo. Sendo assim, é preciso priorizar, montando listas de acordo com algum critério.

    Considerando que estamos vivendo uma pandemia, de uma doença altamente contagiosa, os profissionais de saúde ocupam um dos postos prioritários para a vacinação. Por quê? Ora! É fundamental que estes profissionais mantenham-se saudáveis e bem, para seguir trabalhando na urgência que temos precisado.

    A discussão ronda o “segundo lugar” das prioridades – e todos os lugares que se sucedem ao segundo… Montar uma lista de prioridades, neste caso que vivemos, é basear-se em modelos epidemiológicos e matemáticos de como a doença avança e como podemos interromper este avanço, com a vacina.

    Nós sabemos que a função prioritária da vacina é fazer com que os indivíduos vacinados consigam gerar uma proteção contra as doenças. Mas também já conversamos aqui no Blogs sobre como isto não é sobre um indivíduo protegido, mas sobre bloquear o avanço da doença na população.

    Pois bem: é sobre isto que estes modelos tratam.

    Um estudo publicado em preprint em dezembro de 2020 (1), mostra que para a COVID-19, vacinas com acima de 50% de eficácia já reduziriam muito o avanço da doença. Além disso, evitaria-se 50% de mortes com pelo menos 35% da população vacinada (fenômeno conhecido como Cobertura Vacinal) – comparando-se com o cenário de não termos tratamentos para a doença. Vacinas com esta eficácia e ampla cobertura vacinal, já atingiriam a meta (nos Estados Unidos) de ocupação dos leitos de UTI dentro das demandas passíveis de serem atendidas.

    Assim, no modelo proposto pelos autores, uma cobertura vacinal de 70% da população, com uma vacina que apresentasse 60% ou mais de eficácia, conteria a pandemia de Covid-19. (Este dado leva em conta uma baixa transmissão na população!). *Atualização: este texto foi elaborado antes do debate sobre as novas variantes. Tal dado tem sido revisto em novas análises e deve ser levado em consideração para um debate mais preciso [nota da autora].

    Tudo isto parece bem interessante e já temos visto bastantes notícias sobre a importância da cobertura vacinal… Todavia, como priorizar quem será vacinado primeiro?

    Depende…

    Ué! Como assim?

    Temos dito aqui no Blogs: a vacinação é uma estratégia de governo, uma política do país, para minimizar efeitos de uma doença na população. Por ser estratégica, ela deve possuir metas específicas a serem atingidas – e estas metas são organizadas a partir de estudos técnicos pelas instâncias de gestão de saúde pública. No nosso caso: Ministério da Saúde, Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde.

    Como não teremos vacinas para toda a população desde o início, existe a necessidade de estabelecimento destas metas e objetivos. Por exemplo, neste modelo indicado anteriormente, os autores dizem que dependendo da eficácia das vacinas (e outros fatores): 

    • Se a meta consiste em diminuir infecções sintomáticas e hospitalizações fora da UTI, deveria-se priorizar os grupos jovens, pois interrompe-se a transmissão em um dos grupos que mais circula;
    • Entretanto, se a meta é diminuir infecções em UTIs, com possibilidade de agravamento e morte, idosos devem ser prioridade de vacinação;

    Sugere-se estes modelos de modo generalista e os próprios autores propõem que novos parâmetros devem adicionarem-se adicionados, dependendo da realidade do sistema de saúde pública de cada país e, além disso, as questões de desigualdade social.

    Em outra pesquisa, também em preprint(2), os cientistas reforçam a ideia dos critérios de vacinação por idade, devido à alta mortalidade vista neste grupo.

    Mas então os critérios se restringem à idade?

    Também não. Para compreender como controlar a doença, as pesquisas usam esses modelos matemáticos elaborados a partir de modelos anteriores. Por exemplo, usamos modelos de gripe, mas vamos inserindo características da Covid-19 – até que esse novo modelo seja funcional para a nova doença e a represente com mais fidedignidade. Da mesma forma,  a Covid-19 servirá de modelo para alguma outra doença respiratória viral que  iremos enfrentar no futuro.

    As modelagens para controle da doença, via vacinação, levam em conta as taxas de infecção por idade e grupo de risco. Todavia, também buscam compreender e calcular a partir do desenvolvimento da doença em cada país ou região. Além disso, é preciso considerar a eficácia das vacinas, a cobertura vacinal para cada faixa etária e grupo de risco analisado.

    Por exemplo, países com populações que vivem abaixo da linha da pobreza ou em situação de vulnerabilidade, precisam ter incluídas na conta  como a transmissão e o risco de infecção atingem estas populações. Com isto, elaboramos as estratégias de vacinação a partir de riscos específicos. O mesmo pode ser dito e pensado acerca das prioridades de trabalhos e demandas sociais – escolas, transportes, setores alimentícios, populações urbanizadas ou rurais, etc.

    Cada um destes itens pode (e na medida do possível, deve) ser adicionado aos modelos que calculam o avanço da doença – ou sua contenção – junto com instrumentos como a vacina.

    A vacinação e as políticas públicas

    É sempre bom retomar a ideia de que sendo a vacinação da Covid-19 um acontecimento recente (por motivos óbvios), é imprescindível que ela seja planejada e estruturada para atingir não apenas uma grande cobertura vacinal, mas também grupos prioritários que vão diminuir a pressão em leitos hospitalares.

    Isto é, os grupos prioritários também são pensados em função de ocupação de leitos hospitalares e, portanto, diminuição de mortes de Covid-19, de outras doenças que atualmente estão sem leitos hospitalares e custos elevadíssimos para a saúde pública.

    Vacinar se torna, assim, uma ferramenta crucial para diminuir contágios e mortes, mas também gastos com a saúde de toda a população. Vou falar novamente, pois acho fundamental lembrar e bater nesta tecla:

    Para saber mais

    1. Matrajt, L; Eaton, J; Leung, T; Brown, E. (2020) Vaccine optimization for COVID-19: who to vaccinate first? 
    2. Bubar, K; Reinholt, K; Kissler, SM; Lipsitch, M; Cobey, S; Grad, YH; Larremore, DB (2020) Model-informed COVID-19 vaccine prioritization strategies by age and serostatus

    Outras Referências

    Brasil (2020) Programa Nacional de Imunização

    Brasil (2020) PLANO NACIONAL DE OPERACIONALIZAÇÃO DA VACINAÇÃO CONTRA A COVID-19

    Kornfield, M (2020) When will children get a coronavirus vaccine? Not in time for the new school year, experts fear. The Washington Post

    Outros textos do Especial sobre vacinas:

    Vacinas: se eu quiser eu tomo!                           

    Este texto é original e escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os produziram-se textos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores. Além disso, os textos passaram por revisão revisado por pares da mesma área técnica-científica na Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Vacinas: se eu quiser eu tomo!

    Quando lemos sobre vacinas, temos visto um acirrado debate acerca de sua obrigatoriedade e as ações do governo para garantir a vacinação a todos. Além disso, há toda uma polêmica sobre o rápido desenvolvimento das vacinas.

    Todavia, hoje gostaríamos de falar de outra questão. Pois, talvez seja pouco compreendido (ou falado?) sobre como vacinas se transformaram, no mundo, em grandes ferramentas e estratégias por aliarem um conjunto enorme de áreas científicas: estatística, epidemiologia, virologia, biologia molecular, genética, demografia, geografia, ciências sociais, educação… 

    Vamos falar sobre Saúde Pública e vacinas?

    Situar a importância do advento das vacinas e a sua relação com a saúde pública, coletiva e individual torna-se fundamental.

    A saúde é um conceito complexo, que não se resume a ter uma doença ou à ausência de sintomas. Para a Organização Mundial da Saúde, Saúde é uma condição de “bem estar físico e mental”. E esta noção engloba uma série de fatores que falam mais do que termos sintomas específicos de alguma patologia. Este conceito aponta para, além de não termos sintomas, nos sentirmos bem (em aspectos amplos) conosco mesmos.

    Esta visão, no entanto, aponta para uma questão que é individual – ela conceitua a partir de um indivíduo consigo mesmo. A ideia de Saúde Pública, no entanto, precisa de outros indicadores. Quando falamos de saúde aqui no blogs, não estamos nos limitando à ideia de “ausência de doenças”, seja no nível individual, seja populacional.

    Assim, a saúde representa bem mais do que um ato médico – e não se limita ao saber deste profissional. Temos visto nestes tempos de Covid-19 profissionais biomédicos, farmacêuticos, químicos, biólogos, economistas, cientistas políticos e sociais, educadores, enfermeiros, historiadores falando sobre o tema a partir de diferentes pontos de vista e – cada um dentro de sua área – nos ajudando a entender tudo o que temos vivido sobre esta doença. 

    Além disso, também temos que compreender que a saúde, não apenas pensando sobre o “bem estar físico e mental”, como preconiza a OMS, mas de como uma população está vivenciando seu cotidiano – e como podemos observar estas vivências a fim de aumentar sua qualidade.

    Ah tá, quer dizer agora que eu tenho que pensar em todo o mundo da população…

    Calma! Não é que tenhamos que pensar em todo o mundo. Mas ao falar de saúde pública estamos tratando de população – que é o conjunto de indivíduos que vivem em um determinado território (cidade, estado, país, por exemplo…).

    Dessa forma, a questão é bem mais abrangente do que pode parecer! A ideia de população é recente em nossa história ocidental. “População” é um conceito que se relaciona, conceitualmente, à noção de estatística. 

    Como assim?

    É isso mesmo que tu leste! População não é uma ideia “natural” e que sempre existiu em nossa civilização. Esse conceito tornou-se presente vinculado a cálculos que mensuram indivíduos a partir de características específicas. Isto é, quando começamos a calcular unidades, a partir de similaridades que buscávamos entender. Por exemplo: quantidades de nascimentos em uma determinada região (uma cidade, por exemplo). Quantidade de mortes, nesta mesma região. Sobre as mortes, além de quantas mortes, do que será que estas pessoas morreram? Adoecimentos por patologias definidas, acidentes, assassinatos? 

    A partir do século XVII, embora mais presente no século XVIII, a estatística começa a tornar-se uma ferramenta central para governar populações, compreender a vida em sociedade e planejar em curto, médio e longo prazo como a vida dessa população, em um determinado espaço, deve acontecer.

    Nós conhecemos a ferramenta do CENSO, por exemplo, pesquisa feita pelo IBGE no Brasil, para levantar dados de como nossa população está naquele momento. Pois bem, como o CENSO é feito de maneira regular, temos ao longo do tempo indicadores que nos permitem avaliar como a nossa população está no momento em que o censo foi feito, mas também como foi se modificando ao longo das décadas e séculos. 

    Tudo bem. Mas o que isso tem a ver com a vacinação?

    Tu podes estar te perguntando “aonde mesmo esse post vai parar”. Pois bem… Quando falamos de saúde, censo, estatística, população estamos falando de aspectos da saúde pública e de conhecimentos técnicos que servem para governar uma população. 

    Algumas pessoas têm falado sobre a vacinação ser um ato individual e que cabe a cada um decidir por si se vai ou não se vacinar. Também andamos escutando que a vacina não deve ser obrigatória e tudo mais… Falas como:

    eu vou me vacinar e aí está tudo bem no mundo, azar de quem não quer ou não pode
    ou
    eu já peguei Covid-19 e não preciso mais me preocupar com medidas sanitárias, nem com a vacina no país
    ou ainda
    eu não quero me vacinar, é um direito individual meu!

    Quando temos uma situação como a que estamos vivendo – de uma pandemia – ou de doenças que acometem uma parcela GRANDE de pessoas, temos alguns debates éticos fundamentais. A vacinação é um destes pontos de embates

    Embora os atos individuais sejam importantes e fundamentais para terem seus direitos resguardados, a segurança da população não é algo que pode ser negligenciado por governos. Desta forma, um governo precisa, simultaneamente, respeitar sim as individualidades, mas fundamentalmente ter a maior quantidade de ferramentas possíveis para proporcionar saúde e segurança a todos os indivíduos de uma população.

    hm, sei…

    Já comentamos anteriormente que a estatística é uma ferramenta para compreender e gerenciar a população. A partir dos cálculos estatísticos, nós conseguimos saber, por exemplo, quantas pessoas precisam ser vacinadas para que determinadas doenças não se espalhem em uma determinada região. Isto quer dizer que existem cálculos que nos permitem avaliar a quantidade de vacinas que aplicaremos, quais grupos mais emergenciais para serem vacinados primeiro para que a menor quantidade de pessoas possível seja contaminada e a doença pare de circular em nossa cidade, estado ou país

    Claro que tomar vacina, como indivíduo, diminui drasticamente as chances deste indivíduo adoecer. E isso é importante para este indivíduo.

    Entretanto, a vacinação é um ato de saúde pública. Ela funciona não apenas para que UMA pessoa não adoeça. Vacinas são conhecimento científico, desenvolvido para conter doenças simultaneamente em indivíduos e em populações.

    É contenção populacional pois quando muitos indivíduos são vacinados, cada vez menos os vírus têm pessoas para contaminar. Quando alguém se contamina, o vírus fica limitado àquela pessoa e não consegue contaminar mais gente ao redor.

    Cobertura vacinal

    É isto que temos chamado de cobertura vacinal: a porcentagem de pessoas, em uma população, que estão cobertas pela vacina (tomaram vacina, portanto).

    Temos visto uma queda na cobertura vacinal em várias vacinas. Se olharmos o Data SUS, veremos que, por exemplo, Hepatite B em crianças de até 30 dias, tinha uma cobertura vacinal de 90,93% em 2015. Em 2019 tivemos uma cobertura vacinal de 78,57%. No ano de 2020 tivemos uma queda ainda maior, chegando à 59,30%. 

    A Poliomelite (também conhecida como paralisia infantil) foi uma das grandes conquistas de erradicação via vacinas. No ano 2000, tínhamos uma cobertura vacinal de 101,44%, em 2010 tínhamos a cobertura em 99,35%. Entretanto, o ano de 2020 esta cobertura vacinal caiu para 72,74%!

    Dessa forma, doenças que eram consideradas erradicadas podem sim retornar e circular em nossa população! A hesitação em tomar vacina é característica e têm ganhado força no Brasil e no mundo. Sato aponta que:

    “As consequências são as frequentes epidemias de doenças imunopreveníveis, como sarampo e coqueluche que ocorrem atualmente em todo o mundo, e a ameaça da reintrodução da poliomielite em regiões nas quais já foi eliminada. Na Europa, nos primeiros oito meses de 2018 ocorreram mais de 41.000 casos de sarampo. Nos Estados Unidos, proporção substancial dos casos de sarampo ocorreu em indivíduos intencionalmente não vacinados. Da mesma forma, a hesitação vacinal também desempenhou um papel importante no ressurgimento da coqueluche, apesar de ser atribuído à perda de imunidade”.

    E a Covid-19?

    Estamos falando de um protocolo de vacinação que esta recém iniciando. As pesquisas realizadas para o coronavírus, claro, são recentes (uma vez que a doença é nova). Mas as tecnologias desenvolvidas para estas vacinas são antigas conhecidas das ciências. Assim, as etapas de testes de segurança e eficácia foram cumpridas e, reforçamos, a vacina não é um ato para quem toma ficar protegido.

    Ao tomarmos a decisão de não nos vacinarmos, não é apenas nós como indivíduos que corremos o risco. Ou seja, é abrirmos corredores dentro da população para o vírus circular e permanecer adoecendo mais e mais pessoas. Não é adoecermos amanhã: é um ato de deixar o vírus sobreviver por anos, circulando e adoecendo a população. Mais do que isso: matando e ocupando leitos hospitalares, trazendo custos sociais elevadíssimos, para algo que é fundamentalmente evitável.

    É demasiadamente importante incorporar-se à luta pela vacinação. Cobrar para que ela seja aplicada na população, com campanhas de massa, respeitando os grupos de riscos – no próximo post falaremos mais sobre isto e por que motivo defendemos que ela seja pública, gratuita, via SUS e feita de modo ágil e coordenado pelo governo federal, estadual e municipal, com apoio de todos os setores públicos.

    Para saber mais: 

    Ministério da Saúde (BR), Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Informações de saúde (TABNET)

    Moran-Gilad J, Kaliner E, Gdalevich M, Grotto I (2016) Public health response to the silent reintroduction of wild poliovirus to Israel, 2013-2014. Clin Microbiol Infect, 22 Suppl 5:S140-5

    Phadke VK, Bednarczyk RA, Salmon DA, Omer SB (2016) Association between vaccine refusal and vaccine-preventable diseases in the United States: a review of measles and pertussis. JAMA. 2016;315(11):1149-58.

    Sato, Ana Paula Sayuri (2018) What is the importance of vaccine hesitancy in the drop of vaccination coverage in Brazil? Revista de Saúde Pública, v52, 96

    Senra, Nelson de Castro. (1999). Informação estatística: política, regulação, coordenação. Ciência da Informação, 28(2), 124-135. 

    SENRA, Nelson (2008) Pesquisa histórica das estatísticas: temas e fontes, História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v15, n2,p.411-425. 

    Senra, Nelson (2018) Da DGE até hoje, com o IBGE, uma sucessão em linha reta Estadística y Sociedad, México, p.56-81, n.5 Noviembre. 2018

    Outras postagens do blogs sobre vacinas

    Especial Covid-19: vacinas

    Este texto é original e escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • 6 graus de co(VID)nexões

    Sim, estou falando com você que está lendo.

    É pouco provável que nos conheçamos pessoalmente (nesse caso teríamos grau de conexão 1);

    Porém é um pouco mais provável que alguma das pessoas que eu conheço você também conheça (nesse caso teríamos grau de conexão 2);

    Contudo, é bem mais provável que das pessoas que eu conheço, alguma delas conheça alguma das pessoas que você conhece (nesse caso teríamos grau de conexão 3).

    Podemos seguir nessa lógica até afirmarmos com quase 100% de certeza de que estamos a no máximo 6 graus de conexão.
    Surpreendente não acha?

    Mas isso também significa muito em questão de proliferar uma doença. Pois se eu estiver infectado, há no máximo 6 pessoas que me separam de você. Por exemplo:

    1. Posso apertar a mão de João no ônibus;
    2. João compartilha o computador com Pedro no trabalho;
    3. Pedro dá um abraço em Luiza na faculdade;
    4. Luiza vende trufas para sua vizinha Mariana;
    5. Mariana janta com sua mãe Cristina;
    6. Cristina visita você.

    [uma nota sobre contatos…]

    Esse é apenas um exemplo bem específico, mas se considerarmos todas as pessoas que conhecemos, todas as pessoas que cada pessoa conhecida nossa conhece, e assim vai. Percebemos que estamos separados de todas as outras a no máximo 6 graus.

    Em tempos de festividades de final de ano, é importante termos esta ideia presente em nossos pensamentos, pois cada “furada” de isolamento, estes 6 graus de conexão trazem possibilidades de infecção que vão se multiplicando.

    E esta “furada” nem está sendo julgada – nós, aqui do Blogs de Ciência da Unicamp – sabemos que está muito difícil manter o isolamento, muitos estão sendo obrigados a trabalhar, pegar transporte público e se expor de maneiras que não são passíveis de controle.

    Mas é fundamental pensarmos se, ao multiplicarmos as chances de contaminação, a cada contato, vale a pena nos reunirmos nestas festas de final de ano, em nome de tradições que inclusive cultuam empatia.

    [vamos pensar se abrir mão dos encontros este ano, não seria uma possibilidade de termos encontros nos próximos anos?]

    Se ficou interessado neste tema, no repositório do M³ temos um material muito legal em áudio explicando/justificando/contextualizando essa temática e também um guia do professor, para que você não se surpreenda como uma pessoa do outro lado do mundo pode estar próxima o suficiente de você a ponto de infectá-lo. Estes e muitos outros materiais podem ser encontrados no repositório do M³, mas para facilitar sua busca, abaixo está o link para estes materiais em específico.

    https://m3.ime.unicamp.br/recursos/1329

    Se gostou, tem alguma dúvida ou crítica, poste nos comentários, ficaremos felizes em respondê-los 🙂

    Imagem de capa de Miroslava Chrienova por Pixabay

    Autor: Zero

    Este texto foi publicado originalmente no Blog M3

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


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