Há uma história da matemática bem curiosa e contraintuitiva. Ela envolve uma equipe de estatísticos, que durante a Segunda Guerra Mundial eram responsáveis por analisar os aviões que voltavam das batalhas, para decidir onde valeria a pena aumentar a blindagem do avião (dado que isso envolve colocar mais peso para voar, que exige mais combustível, o que deveria ser evitado a menos das regiões tidas como essenciais de se proteger).
Facilmente analisando os aviões que retornaram das batalhas, podiam identificar os locais mais atingidos por balas. A princípio podemos pensar em aumentar o revestimento dessas regiões, afinal, de todos os aviões que retornaram, essas foram as regiões mais atingidas.
Sugestão de blindagem reforçada (Imagem adaptada de talha khalil por Pixabay)
Porém, o mais coerente a se pensar seria aumentar o revestimento das regiões que não tem marcas de balas no conjunto de aviões que retornaram da batalha. Mas por que? Se não temos nenhuma marca de bala nessas regiões, elas então não seriam as menos prováveis de serem atingidas?
Melhor sugestão de blindagem reforçada (Imagem adaptada de talha khalil por Pixabay)
O contraponto que justifica esse argumento está no nosso conjunto de amostras, dado que todos os aviões que analisamos tem como característica comum “conseguirem voltar da batalha”.
E os aviões que não analisamos são aqueles que “sucumbiram na batalha”. Logo, se pensarmos assim, dos aviões que analisamos, nenhum deles tinha marcas de bala atingindo diretamente o piloto, ou o motor, pois se isso ocorresse, o avião simplesmente não conseguiria retornar.
Assim como o cenário dos aviões da Segunda Guerra Mundial, em diversas situações temos no nosso conjunto de informações a analisar, apenas aqueles que “conseguiram retornar da batalha”, enquanto que o mais coerente seria pensar no que aconteceu com aqueles que “não conseguiram retornar da batalha”?
Sugestão de blindagem reforçada com base na hipótese de regiões críticas (Imagem adaptada de talha khalil por Pixabay)
De maneira ingênua, acabamos assumindo que isso represente um padrão, como a história de um rapaz que começou a vender panelas de porta em porta, e 20 anos depois controla a principal empresa do ramo de utensílios de cozinha. Essas histórias são como os aviões que retornaram da batalha, analisamos o que aconteceu com essas pessoas, vemos as “regiões em que elas foram atingidas” como por exemplo “pobreza”, “falta de estudo”, “família pouco estruturada”. Porém nesse contexto, esquecemos de nos preocupar com as regiões que essas pessoas “não foram atingidas”, como por exemplo “saúde debilitada”, “redução do poder de consumo da população”, “concorrentes de negócio”, dados estes que podem representar justamente a razão de outros “aviões” não conseguirem retornar destas batalhas.
De forma semelhante, vejo com certa frequência histórias de pessoas que encontravam-se doentes, enfrentando uma grande adversidade em questões de saúde, e que relatam terem sido curadas a partir da sua fé em uma entidade sobrenatural.
Não duvido que isso tenha de fato ocorrido, porém levanto o questionamento, será que ao focarmos nesses relatos não acabamos nos concentrando apenas nas “marcas nos aviões que retornaram da batalha”, nos esquecendo das regiões nas quais eles “não foram atingidos” e que podem ter influenciado diretamente o seu retorno? Como por exemplo:
se houve a extinção de um hábito não declarado aos médicos (como fumar, beber ou usar drogas) que afetava os exames ou o tratamento;
se o tratamento após meses/anos finalmente surtia efeito;
se algum diagnóstico inicial estava errado, levando o paciente a um tratamento para outra doença, o qual agravava mais sua saúde;
se havia algum fator psicológico que interferia nos sintomas e foi sanado com a convicção de cura pela fé;
se algum fator genético incomum nesse paciente possibilitou que seu organismo conseguisse se curar;
se parte da sua rotina, alimentação ou trabalho era responsável por alguns dos sintomas.
Essas possibilidades levantadas, são equivalentes às regiões não atingidas nos aviões que retornaram da batalha. Elas representam assim aspectos que permitiram ao piloto conduzir seu avião até o retorno seguro à base. Ou no caso dos pacientes, aqueles que conseguiram se curar a partir da fé. Mas se consideramos apenas esse lado da história, estamos ignorando as hipóteses que levaram os aviões a “não retornarem da batalha”, ou sendo mais direto nesse contexto, as “histórias das pessoas que não se curaram a partir da fé”.
Este texto foi publicado originalmente no Blog Zero
Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.
É pouco provável que nos conheçamos pessoalmente (nesse caso teríamos grau de conexão 1);
Porém é um pouco mais provável que alguma das pessoas que eu conheço você também conheça (nesse caso teríamos grau de conexão 2);
Contudo, é bem mais provável que das pessoas que eu conheço, alguma delas conheça alguma das pessoas que você conhece (nesse caso teríamos grau de conexão 3).
Podemos seguir nessa lógica até afirmarmos com quase 100% de certeza de que estamos a no máximo 6 graus de conexão. Surpreendente não acha?
Mas isso também significa muito em questão de proliferar uma doença. Pois se eu estiver infectado, há no máximo 6 pessoas que me separam de você. Por exemplo:
1. Posso apertar a mão de João no ônibus; 2. João compartilha o computador com Pedro no trabalho; 3. Pedro dá um abraço em Luiza na faculdade; 4. Luiza vende trufas para sua vizinha Mariana; 5. Mariana janta com sua mãe Cristina; 6. Cristina visita você.
[uma nota sobre contatos…]
Esse é apenas um exemplo bem específico, mas se considerarmos todas as pessoas que conhecemos, todas as pessoas que cada pessoa conhecida nossa conhece, e assim vai. Percebemos que estamos separados de todas as outras a no máximo 6 graus.
Em tempos de festividades de final de ano, é importante termos esta ideia presente em nossos pensamentos, pois cada “furada” de isolamento, estes 6 graus de conexão trazem possibilidades de infecção que vão se multiplicando.
E esta “furada” nem está sendo julgada – nós, aqui do Blogs de Ciência da Unicamp – sabemos que está muito difícil manter o isolamento, muitos estão sendo obrigados a trabalhar, pegar transporte público e se expor de maneiras que não são passíveis de controle.
Mas é fundamental pensarmos se, ao multiplicarmos as chances de contaminação, a cada contato, vale a pena nos reunirmos nestas festas de final de ano, em nome de tradições que inclusive cultuam empatia.
[vamos pensar se abrir mão dos encontros este ano, não seria uma possibilidade de termos encontros nos próximos anos?]
Se ficou interessado neste tema, no repositório do M³ temos um material muito legal em áudio explicando/justificando/contextualizando essa temática e também um guia do professor, para que você não se surpreenda como uma pessoa do outro lado do mundo pode estar próxima o suficiente de você a ponto de infectá-lo. Estes e muitos outros materiais podem ser encontrados no repositório do M³, mas para facilitar sua busca, abaixo está o link para estes materiais em específico.
Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.
O novo coronavírus foi identificado pela primeira vez em meados de novembro de 2019 na cidade de Wuhan, China, e desde então tem se alastrado por todo o mundo, levando a coronavirus disease 19 (COVID-19) a ser considerada uma pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS), já em Fevereiro de 2020. O vírus SARS-CoV-2, causador da COVID-19, já infectou milhões de pessoas no mundo e matou milhares de pessoas.
Na época da escrita desse texto (dezembro de 2020), houve 67 210 778 casos confirmados de COVID-19, incluindo 1 540 777 mortes, relatados à OMS. Números estes que não param de crescer tendo em vista a fácil transmissão do vírus por vias aéreas, através de gotículas de saliva presentes na tosse, espirro e fala, portanto, apenas o contato próximo com uma pessoa infectada já seria suficiente para ocorrer a transmissão entre humanos. Tal facilidade de transmissão levou bilhões de pessoas, ao redor do mundo, a permanecer sob quarentena em suas casas, mantendo um rígido distanciamento social [1–4]. É reportado que por volta de 80% dos pacientes infectados com o vírus desenvolvem sintomas leves a moderados, enquanto que, 20% destes podem desenvolver sintomas graves, como pneumonia, síndrome respiratória aguda grave, sepse pulmonar, inclusive desfecho de óbito. Já se têm relatos de que a doença também acomete outros órgãos, além dos pulmões, como o coração, cérebro e rins [5,6].
O Sars-Cov-2 pertence à família Coronaviridae tendo em vista que, sob análise (microscopia eletrônica) de sua superfície e morfologia, identificam-se espículas formadas por trímeros da proteína S as ‘spike proteins’ que dão aparência de coroa, daí o nome ‘coronavírus’. Observa-se assim, que o novo vírus é da mesma família que o SARS-CoV, que infectou 8000 pessoas e matou 800 em 2002, e do MERS-CoV, que em 2012 infectou 2294 pessoas e matou 35% delas. Até o momento, já foram identificados mais de 14 diferentes eventos de mutação no vírus, com alterações estruturais em sua coroa, dificultando o processo de desenvolvimento de vacinas, devido a transitoriedade de pontos alvo no tratamento contra o vírus, ou seja, sua maior resistência às estratégias propostas pelos pesquisadores envolvidos. Entretanto, sua semelhança com os outros vírus da família Coronaviridae auxilia o processo estratégico de desenvolvimento, além da maior rapidez nas pesquisas sobre a SARS-CoV-2 [2,4,7,8]. O que levou a vacina contra a Covid-19 ser o mais rápido na história [você pode ver, por exemplo, como a vacina da Pfizer funciona nesse link].
Diante dessa crise sem precedentes na história da humanidade, diversos grupos de pesquisas, empresas e governos estão empenhados no desenvolvimento de vacinas e medicamentos. Isso incluí virologistas, imunologistas, epidemiologistas, oncologistas, biotecnólogos, químicos, bioquímicos , bioinformáticos etc. E não só profissionais dessas áreas estão se empenhando para combater o COVID19. Pessoas das mais diversas áreas do conhecimento estão fazendo a sua parte para que todos nós possamos superar essa crise. Engenheiros químicos também estão tentando contribuir para que possamos conter o vírus SARS-CoV-2. Entretanto, muitos não sabem como utilizar os conhecimentos que possuem em Engenharia Química e colaborar no combate ao COVID19.
Foi pensando nisso que eu e meus colegas publicamos recentemente o artigo “How Chemical Engineers can contribute to fight the COVID-19” no periódico Journal of the Taiwan Institute of Chemical Engineers. Nesse trabalho nós discutimos algumas áreas do conhecimento que o engenheiro químico e profissionais afins podem utilizar o amplo espectro de conhecimentos que possuem.
O papel do engenheiro sempre foi buscar soluções criativas para problemas da sociedade. Desde o início do século XX, os engenheiros químicos vem se especializando no design e operação de processos que sintetizam uma ampla gama de produtos com valor agregado, que vão desde energia, polímeros a chips de computador. Esses engenheiros trabalham em industrias químicas, empresas ambientais, agências administrativas, escritórios, empresas bancárias etc. O engenheiro químico é ensinado a trabalhar no limiar com outras ciências e tecnologias, sem abdicar de conhecimentos bases de Termodinâmica, Fenômenos de Transporte e Engenharia das Reações Química, além de bases científicas da Matemática, Física, Química e Biologia [9,10]. Nesse trabalho nós mostramos como os engenheiros químicos podem utilizar os seus conhecimentos e colaborar no combate ao COVID19.
Nosso trabalho foi organizado a partir do desenvolvimento de vacinas, uma vez que é uma das estratégias eficazes mais comuns para obtenção de imunização populacional. Também foram explicados os protocolos médicos, incluindo os fármacos ativos testados no combate ao COVID-19. Em seguida, foram elucidados os aspectos mais importantes da dinâmica dos fluidos, uma vez que estão diretamente ligados à propagação da doença pelas vias de transmissão por via aérea e à dinâmica das gotas.
Em seguida, para atender à demanda material gerada a partir da pandemia, por exemplo, equipamentos de proteção individual, foi detalhado o uso da engenharia reversa e da manufatura aditiva (impressão 3D) para contornar tal problema. Finalmente, algumas tecnologias de ponta no diagnóstico de doenças e no monitoramento de pandemia foram exploradas, incluindo diagnósticos baseados em Microfluídica e o uso de Inteligência Artificial.
Nesse sentido, esta revisão foi dividida nas seguintes seções: vacinas e medicamentos, dinâmica de fluidos, impressão 3D, microfluídica e inteligência artificial. As metas de forma geral de cada seção do artigo são familiarizar o leitor com os trabalhos mais importantes sobre o COVID19 e o tópico em questão e fornecer ao leitor um guia para direcionar suas pesquisas fornecendo pesquisas atuais nessas áreas. Nosso objetivo é que o artigo sirva como uma fonte de informação para pesquisadores, professores, profissionais e estudantes na área de Engenharia Química e áreas correlatas.
Para ler o artigo de revisão completo intitulado “How Chemical Engineers can contribute to fight the COVID-19”, visite o site do periódico Journal of the Taiwan Institute of Chemical Engineers [link aqui].
Referências
[1] T. Mohamed, A. El-aziz, J.D. Stockand, Infection , Genetics and Evolution Recent progress and challenges in drug development against COVID-19 coronavirus ( SARS-CoV-2 ) – an update on the status, Infect. Genet. Evol. 83 (2020) 104327. doi:10.1016/j.meegid.2020.104327. [2] M. Cascella, M. Rajnik, A. Cuomo, S.C. Dulebohn, R. Di Napoli, Features , Evaluation and Treatment Coronavirus (COVID-19), StatPearls. (2020). https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK554776/. [3] Corona Time Map, (2020). https://coronatimemap.com/ (accessed May 25, 2020). [4] M. A. Sherren, S. Khan, A. Kazmi, N. B., R. Siddique, COVID-19 infection: Origin, transmission, and characteristics of human coronaviruses. Journal of Advances Research. 24 (2020) 91-98. https://doi.org/10.1016/j.jare.2020.03.005 [5] Q. Gao, L. Bao, H. Mao, L. Wang, K. Xu, M. Yang, Y. Li, L. Zhu, N. Wang, Z. Lv, H. Gao, X. Ge, B. Kan, Y. Hu, J. Liu, F. Cai, D. Jiang, Y. Yin, C. Qin, J. Li, X. Gong, X. Lou, W. Shi, D. Wu, H. Zhang, C.Q. Lan, Development of an inactivated vaccine candidate for SARS-CoV-2, Science (80-. ). 1932 (2020) 1–10. doi:10.1126/science.abc1932. [6] S. Zaim, J.H. Chong, V. Sankaranarayanan, A. Harky, COVID-19 and Multi-Organ Response, Curr. Probl. Cardiol. 45 (2020) 1–21. doi:https://doi.org/10.1016/j.cpcardiol.2020.100618. [7] B. Korber, W.M. Fischer, S. Gnanakaran, H. Yoon, J. Theiler, W. Abfalterer, B. Foley, E.E. Giorgi, T. Bhattacharya, M.D. Parker, D.G. Partridge, C.M. Evans, T.I. de Silva, C.C. LaBranche, D.C. Montefiori, Spike mutation pipeline reveals the emergence of a more transmissible form of SARS-CoV-2, BioRxiv. (2020) 2020.04.29.069054. doi:10.1101/2020.04.29.069054. [8] R. De Alwis, S. Chen, E.S. Gan, E. Eong, Impact of immune enhancement on Covid-19 polyclonal hyperimmune globulin therapy and vaccine development, EBioMedicine. 55 (2020). doi:10.1016/j.ebiom.2020.102768 [9] Himmelblau, D. M.; Riggs, J. B. Basic Principles and Calculation in Chemical Engineering. 8°. Ed. FT Press, 2012. [10] PORTAL LABORATÓRIOS VIRTUAIS DE PROCESSOS QUÍMICOS, O que é a Engenharia Química. http://labvirtual.eq.uc.pt/siteJoomla/index.php?option=com_content&task=view&id=113&Itemid=426, (accessed 06 August 2020)
Este texto foi publicado originalmente no Blog Microfluídica
Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.
Este texto foi elaborado conjuntamente pelas Equipes Blogs de Ciência da Unicamp e Rede Análise Covid-19
Nem nas festas de fim de ano o vírus da Covid-19 dá trégua!
Todos sabemos que as festas de final de ano são importantes eventos familiares e sociais em nosso país. Talvez em um ano tão difícil como foi 2020, as pessoas estejam se perguntando se terão que abrir mão também destes momentos e se não podem fazer uma exceção só desta vez.
Nós, aqui da Divulgação Científica, temos um compromisso assumido desde o início com vocês, que é de não mentir ou omitir informações e buscar sempre o melhor modo de apresentar o conhecimento científico, debater as informações de modo mais respaldado na literatura científica possível.
Não será diferente neste momento. Então, vamos lá…
Não é uma questão de ignorarmos nossa cultura e tradições. Todavia, também precisamos ressaltar alguns pontos que podem, sim, ser a diferença entre a vida e a morte:
O vírus não vai entrar em recesso só porque este é um costume praticado por parte da população;
Parentes e amigos infectados também contagiam pessoas. Inclusive exatamente pela proximidade de contatos que temos com as pessoas é que nos infectamos;
Festividades são momentos em que podemos nos descuidar mais e, por este motivo, precisam sim de atenção redobrada.
Uso de máscaras, distanciamento físico e higienização adequada de utensílios e de nossas mãos não deixam de fazer sentido nesse momento, muito pelo contrário. É necessário atentar-se para isso, especialmente se o momento da festividade for inegociável.
Pensando nisso, o Blogs de Ciência da Unicamp e a Rede Análise Covid-19 têm se preocupado em como agir, para além de divulgar conhecimento. Gostaríamos de apresentar parte dos dados que indicam que os casos no Brasil estão aumentando, as internações voltaram a subir e precisamos não só de ações individuais, mas de um empenho público e coletivo. Ao final desta postagem, vocês vão encontrar uma série de links em que temos apresentado os dados mais atuais, dicas de cuidados com materiais para enviar aos amigos e familiares nas redes sociais e informações que temos produzido nestas últimas semanas!
No entanto, queríamos fazer mais e temos sentido essa necessidade de compartilhar com vocês, que acompanham nosso trabalho, nossa intenção de nos engajarmos por cobranças mais efetivas de quem pode nos ajudar de modo prático pelo bem de todos. Neste sentido, montamos uma carta e a disponibilizamos aqui em anexo para quem quiser copiar e enviar aos seus representantes políticos, pedindo um empenho maior do poder público em políticas baseadas em evidências científicas e dados técnicos para proteger mais e melhor a população e cada um de nós.
Algumas dicas para esta carta!
Update: Fizemos uma assinatura no Avaaz e vamos enviá-la às assessorias de Governadores, Senadores e Deputados Federais. A carta consta neste link.
Além de assinar, vocês podem contribuir compartilhando ao máximo com os contatos de vocês!
Use e compartilhe esta ideia!
Envie o link para teus amigos, familiares, compartilhe nas redes sociais, nos ajude a espalhar esta iniciativa!
No texto anterior, nós explicamos rapidamente como eram e o que se verificava em cada uma das fases de testes do desenvolvimento de uma vacina. Além disso, falamos sobre o que era a “eficácia” delas que tanto se fala na mídia nesses dias. Mais recentemente, entretanto, também se tem falado muito que as vacinas precisam ter “eventos” nos testes de eficácia…
Tá, mas o que são esses tais eventos?
Esse termo “eventos”, quanto aos resultados prévios das vacinas, é utilizado para se referir àquelas pessoas que se infectaram com o SARS-CoV-2 (e possivelmente desenvolveram alguma forma da Covid-19) após receber a candidata à vacina ou o placebo.
Como assim? A pessoa é vacinada e se contagia?
Calma… Na verdade, são esses eventos que servem para – entre outras coisas – descobrir a eficácia que comentamos na postagem anterior. Confuso? Vamos lembrar o exemplo que usamos anteriormente para entender o que era a eficácia:
“Suponha que 50.000 pessoas serão testadas, 25.000 com a vacina e 25.000 com o placebo. Desses 50.000, 100 se contaminaram com o patógeno em um período de 3 anos. Analisando essas 100 pessoas que se infectaram, descobriu-se que 97 delas estava no grupo que recebeu o placebo e somente 3 no grupo vacinado. Fazendo uma divisão simples, descobre-se então que a vacina tem uma eficácia de 97%.”
Nesse exemplo em específico, essas 100 pessoas que se infectaram são os chamados “Eventos”. Isto é, simplesmente uma forma mais impessoal e técnica de se referir aos pacientes nesses tipos de estudo, algo muito comum dentro da linguagem científica. Mas um pouco difícil de entender para não especialistas.
Com as notícias dos testes sendo veiculados mais rapidamente, alguns termos técnicos acabam entrando nos noticiários, sem que a gente detalhe muito o significado!
Ok, entendi isso, mas e a pergunta de ouro: quanto tempo a imunidade gerada por essas vacinas dura?
Bom, já essa pergunta, junto com “A pessoa vacinada é capaz de não transmitir o vírus?” são perguntas bem mais complicadas de se responder, uma vez que demandam muito mais tempo e testes.
A princípio não sabemos quanto tempo a imunidade dessas vacinas dura. Assim, mesmo dentro da comunidade científica ainda há muitas dúvidas e todo dia vemos notícias de pesquisadores falando que a imunidade pode durar desde poucos meses até alguns anos 1-5. Toda essa confusão acontece pois a pandemia começou há poucos meses (apesar de não parecer visto o tempo que muitos de nós estamos em casa). Isto é, só agora estão começando a aparecer estudos que avaliam como o sistema imune humano tem respondido ao SARS-CoV-2 em um segundo contato 6-8.
Além disso, muitos dos primeiros estudos que saíram avaliando a duração da imunidade focaram nos anticorpos, mostrando que após poucos meses os níveis deles estavam bem baixo, o que é algo que pode assustar quando falamos. No entanto, é comum dentro da resposta imune, que estudamos usualmente 9-12. Contudo, é necessário lembrar que os anticorpos são somente “um braço” da resposta imune adaptativa. De poucos meses para cá já começaram a sair estudos que trazem mais informações sobre como os linfócitos T e B, o “braço celular” da resposta imune adaptativa, se comportam durante e após a infecção de Covid-19 13-17.
Memória Imunológica
Vamos relembrar que os linfócitos são os responsáveis por gerar a Memória Imunológica (já comentada nestes textos aqui, aqui e aqui). Isto é o fenômeno que permite que nosso corpo responda mais forte, mais rápido e de forma mais eficiente em um segundo contato com um patógeno (no nosso caso, o vírus SARS-CoV-2). Toda a ideia por trás das vacinas é simular exatamente o primeiro contato com esse patógeno. Assim, quando nós entrarmos em contato de verdade com o vírus, já teremos células de memória e responderemos melhor contra ele. Mais do que isso, entramos em contato com o vírus sem sentir todos os sintomas da doença causada por ele.
Sobre a duração da imunidade
Para responder a pergunta sobre a duração da imunidade, os pesquisadores que estão trabalhando com as novas candidatas a vacinas precisarão olhar para essas células: os linfócitos B e T. Entretanto, que os níveis de anticorpos caem após algum tempo nós já sabemos. Mas como disse anteriormente, isso é normal.
Veja, após resolver a infecção, o corpo não vai querer continuar gastando energia e recursos preciosos para produzir milhões de cópias de anticorpos. O nosso corpo vai diminuir então a quantidade de anticorpos produzidos pelos linfócitos B de memória – agora chamados de Plasmócitos – para níveis bem baixos. Assim, os Plasmócitos ficam guardados na Medula Óssea. No entanto, eles não ficam completamente ausentes do corpo não!
Esses plasmócitos ficam “dormindo” na medula óssea, enquanto liberam pequenas quantidades de anticorpos durante todo o tempo. Uma vez que o corpo entre em contato novamente com o patógeno, esses plasmócitos são reativados e começam a liberar grandes quantidades de anticorpos no sangue, para combater o patógeno mais uma vez.
Linfócitos T
Quanto aos Linfócitos T, primeiro é preciso lembrar que há dois deles: o Auxiliar e o Citotóxico. O primeiro deles é responsável por coordenar toda a resposta imune inata e adaptativa, ajudando as outras células a realizarem suas funções a partir da liberação de moléculas chamadas Citocinas. Já o segundo tem uma função muito mais direta: matar células modificadas (cancerígenas ou infectadas por um patógeno, como um vírus).
Após um primeiro contato, assim como acontece para os linfócitos B, também são formados linfócitos T auxiliares e citotóxicos de memórias. Estes ficam guardados – em sua grande maioria – no baço e linfonodos (pequenos órgãos anexos à circulação linfática e distribuídos por todo o nosso corpo).
Contudo, algumas dessas células ficam viajando entre os linfonodos e tecidos corporais de forma que dizemos que eles estão patrulhando o corpo. Por exemplo, em tecidos de órgãos como os pulmões, cérebro, intestino, fígado, rins, bexiga, etc. A partir do momento que as células patrulheiras encontram o mesmo patógeno de novo, elas liberam uma série de moléculas no sangue. Estas moléculas viajam até onde as células de memória estão guardadas. Assim, as células de memória são ativadas (“acordadas”) por essas moléculas e se juntam ao novo combate ao patógeno.
Análise por grupos de pessoas
Dito tudo isso, é somente analisando as respostas por parte dessas células que os cientistas vão conseguir determinar qual a duração da imunidade contra o SARS-CoV-2. Para isso eles terão que analisar e comparar a atividade dessas células periodicamente durante os próximos meses em pessoas dos grupos:
Vacinado que não se infectou,
Vacinado que se infectou,
Controle que não se infectou,
Controle que se infectou.
Para complicar ainda mais toda a situação e colocar mais uma variável, precisamos ficar de olho ainda para possíveis mutações que o vírus sofra nesse tempo, pois caso o nível de mutações dele seja muito alto (por exemplo como o vírus Influenza, causador da gripe comum), a vacina pode parar de ser efetiva em sua prevenção.
Mas, e essas ressalvas?
Essas ressalvas sobre as pesquisas seguem sendo feitas, mas não fazem com que as vacinas não sejam seguras!
As vacinas que estão na fase 3 de testes já têm sua segurança testada (nosso texto anterior fala isso com mais detalhes!). Dessa forma, estas análises que serão continuadas após liberarmos a vacina é para conseguirmos averiguar por quanto tempoelas manterão sua eficácia. Ou seja, se uma dose será suficiente para toda a vida, se precisaremos nos vacinar anualmente ou a cada 10 anos, por exemplo!
Nós sabemos que já falamos aqui, mas não custa ressaltar: as vacinas que estão nestas fases de teste são seguras sim!
Por fim, agora que entendemos tudo isso, fica ligado que no próximo texto. Vamos começar a discutir os resultados preliminares das vacinas que saíram recentemente, suas diferenças e algumas questões levantadas por pensadores ao redor do mundo.
Gudbjartsson, DF, Norddahl, GL, Melsted, P, Gunnarsdottir, K, Holm, H, Eythorsson, E, … & Thorsteinsdottir, B (2020) Humoral immune response to SARS-CoV-2 in Iceland, New England Journal of Medicine, 383(18), 1724-1734.
Este texto é original e escrito com exclusividade para o Especial Covid-19
Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.
8 meses de pandemia. Mais de 58 milhões de casos mundo a fora, e próximo de 1,4 milhão de mortes. A maior crise sanitária do século1. Ultrapassando o HIV na década de 80, a SARS em 2003, a H1N1 em 2009 e o Ebola entre 2013-2016.
Tempos sombrios, sem dúvida. Mas também tempos de esperança.
Por um lado temos um vírus facilmente transmissível e que já atingiu todo o globo. Por outro lado, temos todo o aparato científico e tecnológico que desenvolvemos nas últimas décadas para combatê-lo.
Nossa principal arma?
As vacinas!
Vacina é um termo cunhado em 1798 por Edward Jenner, pai da imunologia. As vacinas são uma medida fácil, rápida e com poucos riscos para a saúde. Além disso, elas são capazes de proteger a população contra patógenos e limitar sua transmissão.
Entretanto, (sempre há um entretanto) seu único problema: um desenvolvimento que leva em média 10 anos.
A vacina mais rápida a ser desenvolvida até então demorou 4 anos. Ela foi feita por Maurice Hilleman, durante a década de 60, no combate à caxumba2.
– Ok, Maurílio, já entendi! Vacinas são ótimas! Mas tudo o que tem sido publicado parece confuso né?
– Calma lá! No post de hoje vamos falar um pouco sobre as fases de teste e eficácia!
Centenas de cientistas em universidades e empresas procuram entender melhor como esse vírus funciona. Bem como, que medicamentos usar para combatê-lo após a pessoa se infectar e, principalmente, desenvolver uma vacina para ele. O esforço que tem sido feito para esse último grande! E é tão grande que o recorde de 4 anos para uma vacina ser desenvolvida está próximo de ser quebrado. Assim, após oito meses, 3 candidatas a vacinas já liberaram resultados preliminares da terceira fase de teste para a mídia. Lembrando que a fase três é a final e com maior número de pessoas. As vacinas são da Pfizer/Biontech, Moderna e AstraZeneca/Oxford – 3,4,5. Apesar da comunidade científica e os órgãos regulamentadores ainda precisarem avaliar e aprovar tais resultados para o uso ser liberado à população.
O que é essa eficácia das vacinas que tanto falam?
Uma coisa que tem se falado muito nas notícias sobre esses resultados é a eficácia de X% e número de eventos. Mas será que todos sabem o que é isso?. Para entender melhor, vamos precisar relembrar brevemente para que servem as 3 fases de testes de uma vacina. Queres saber mais sobre o assunto? Então dá uma olhada na seleção de textos sobre vacinas já publicados no blog.
Fase 1
Os testes realizam-se em algumas poucas dezenas de pessoas para se verificar principalmente a dosagem. Isto é, a quantidade aplicada e quantas aplicações são necessárias. Além disso, a segurança da vacina também é testada. Isto é, sua toxicidade.
Fase 2
Na Fase 2, o teste acontece em algumas centenas de pessoas. Dessa forma, neste caso, um grupo um pouco mais diverso do que na fase anterior e com algumas características (como idade e sexo) do grupo de risco. Além disso, nesta fase também se analisa a imunogenicidade da vacina, junto com os efeitos colaterais. Imunogenicidade é uma palavra difícil né? Mas em termos mais simples, quer dizer que verificam a capacidade dela gerar uma resposta imune no organismo. Ou seja, número de células, quantidade de anticorpos, perfil de linfócitos, entre outras características.
A fase 2 também é quando aplicamos a candidata à vacina propriamente dita em um grupo e o placebo (água com sais minerais) em um outro. Este grupo placebo funciona como controle para a pesquisa. Isto é, um comparativo para se ter certeza que a aplicação da vacina está realmente criando uma resposta imune maior do que o normal.
Fase 3
Por fim, há a Fase 3 – a maior e mais demorada. Milhares de pessoas passam pela pesquisa e são testadas nesta fase. A seleção destas pessoas é feita a partir da diversidade, pois é necessário diferentes características em dois grupos. Novamente, um grupo vai receber a candidata a vacina, enquanto o outro recebe um placebo. As características analisadas, nestes grupos, são por exemplo, etnias, idade, sexo, com doenças cronicas, etc.
Além disso, as pesquisas verificam novamente a segurança e possíveis efeitos colaterais. Desta vez, levando em conta as muitas condições já comentadas. Assim, o principal intuito dessa fase é avaliar a efetividade da resposta imune criada pela vacina, respondendo perguntas como “Qual a eficácia da vacina? Qual a duração da imunidade gerada? A vacina é capaz de parar a transmissão do patógeno?”.
Pausa para ver o material que a gente preparou prá mandar nos grupos do whats da família 😉
Mas, a eficácia?
No caso da eficácia, as pesquisas analisam quantas pessoas que receberam a vacina ficaram doentes e quantas pessoas que receberam o placebo ficaram doentes. Isto após a aplicação e durante o período de acompanhamento. Confuso? Nada melhor do que um exemplo para entender:
“Suponha que 50.000 pessoas serão testadas, 25.000 com a vacina e 25.000 com o placebo. Desses 50.000, 100 se contaminaram com o patógeno em um período de 3 anos. Analisando essas 100 pessoas que se infectaram, descobriu-se que 97 delas estava no grupo que recebeu o placebo e somente 3 no grupo vacinado. Fazendo uma divisão simples, descobre-se então que a vacina tem uma eficácia de 97%.”
Esse assunto é muito amplo e por causa disso vamos dividir esse texto em duas partes. Fica ligado que nos próximos dias já vai sair a parte 2 desta postagem! Vamos explicar o que são os “eventos” que tem saído nas notícias da mídia. Além disso, a relação entre células de memória e a proteção gerada por elas e os resultados preliminares liberados pelas empresas.
Este texto é original e escrito com exclusividade para o Especial Covid-19
Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.
Desde o anúncio da Organização Mundial da Saúde, em 11 de março, até 16 de novembro, se completam 250 dias da pandemia.
arte de @clorofreela
Já podemos ir para a rua?
Temos tido essa sensação pelo excesso de pessoas que temos visto flexibilizar o isolamento social. Pessoas que antes pareciam estar firmes no propósito de isolamento, agora afrouxam as regras e frequentam eventualmente bares, restaurantes e eventos sociais familiares.
Além disso, claro, sabemos que grande parte da população tem sido pressionada a abandonar a modalidade home office cada vez mais. Além da parcela de pessoas que nunca teve essa chance – ou por serem serviço essencial, ou por serem profissionais autônomos ou prestadores de serviços cuja parada implica em não recebimento completo…
Tal característica, todos sabemos, acarreta não apenas em precarização da vida destas pessoas, mas um risco cotidiano para conseguir o mínimo de subsídios para manterem-se mensalmente. Especialmente a partir desta semana, quando o Auxílio Emergencial já contará com um novo valor, metade do que vinha sendo pago anteriormente.
As escolas também têm aberto suas portas cada vez mais. Assim, isto acontece com pressões constantes para funcionários voltarem, nem sempre nas condições sanitárias que são indicadas, segundo a OMS.
No entanto, o risco não só segue à espreita, quanto o número de internações e mortes segue nos rondando…
E nós sabemos que é difícil, tem sido difícil e continuará sendo difícil.
Os tempos árduos de isolamento (para quem se mantém em isolamento desde março) e os tempos árduos de exposição (para quem está na rua desde que tudo começou) são, sim, tempos de asperezas. No entanto, Nagamine comenta que:
“O alerta que os sucessivos marcos fúnebres – das mil, das dez mil, das cem mil mortes por Covid-19 no país – disparou não encontrou eco em nossa sensibilidade, e os descaminhos dos direitos humanos entre nós não permitem que nos surpreendamos”
A autora aponta que precisamos de mais elementos não apenas para estancar a morte, uma vez que vivemos diariamente – e não é a pandemia que inaugura isso, apenas agrava. Mas comenta como precisamos lidar com ideais de falta de empatia e insensibilidade geradas a partir de uma gestão da morte cotidiana e do negligenciamento dos direitos humanos.
Ademais, Serge Katembera ao comentar este texto em uma análise no seu perfil do Twitter, aponta para a falta de relação entre a infecção e morte pelo Coronavírus e a estética.
Como assim?
Se esse vírus fosse o Ebola, não sairíamos de casa – Serge comenta esta frase que escutou em um canal de televisão francês. Como assim? O SARs-CoV-2 não nos retira a forma, não nos causa hemorragias nem nos faz deteriorar o corpo com chagas abertas. Para grande parte da população é uma doença respiratória que afeta, sim, mas passa.
Queremos falar para além da questão estética, da não caracterização disforme do corpo no processo do adoecimento. Ou seja, temos um tempo intenso de desconexão por quem está dentro de casa há meses (o quê mesmo está ocorrendo do lado de fora das casas?). Temos um distanciamento dos corpos, a moralização do abraço, a desconfiguração da receptividade do sorriso.
Além disso, temos empregos (ou atividades profissionais) que exigiram presença das pessoas, com uma intensa condenação de alguns costumes – julgando que é parte da vida trabalhar e aglomerar nos transportes coletivos, mas um absurdo irresponsável ver pessoas para sorrir e conversar.
Há um debate acerca da moralização da noção de risco e a relação com a Covid-19. Isto é, a normalização da morte também faz parte deste processo – que culpabiliza alguns grupos, enquanto justifica outros por suas mortes e contaminações. Junto a estes processos, Segundo Moreno (2020) temos um relaxamento das medidas de proteção, diminuição de recursos para tratamento e manutenção da população e colapso dos sistemas de saúde.
A moralização do cotidiano e seus colapsos
Dessa forma, aparentemente, estes colapsos de sistemas de saúde e gestão da morte não afetam nem concepções de direitos humanos. Tampouco questões de estética que nos fazem temer um invisível vírus que nos afeta.
A moralização cotidiana proveniente do SARS-CoV-2 tem também um caráter polarizante no debate pró ou contra vacinas, pró ou contra usos de máscaras e liberdades individuais, pró ou contra debates científicos, pró ou contra a economia.
“A pandemia da COVID-19 reforça a urgência do amparo humanitário” nos diz Loiane Prado Verbicaro, em muitas dimensões de conhecimento e ação cotidianas.
A Divulgação Científica no Brasil
Parte do debate que a Divulgação Científica tem realizado no Brasil centra-se nas publicações científicas nacionais e internacionais sobre o SARS-CoV-2. Bem como, sua ação no organismo, ou resultados das vacinas em desenvolvimento. Tudo isto é fundamental para entendermos cada vez mais e melhor sobre a doença.
Também temos visto, nas últimas semanas, publicações que apontam para o aumento de casos em vários lugares do mundo. Bem como, tentativas de contenção dos contágios e resistências – ou não – das populações quanto a isso.
Talvez precisemos voltar às ênfases acerca das contaminações, auto-cuidado e, acima de tudo, compreensões acerca de como responder melhor a pergunta:
E a pandemia já acabou?
Hoje nós inauguramos a seção E a pandemia já acabou? Vamos trazer dicas mais precisas para situações específicas. Além disso, nós, do Blogs de Ciência da Unicamp, vamos reorganizar a apresentação dos dados. Ademais, criar séries que expliquem a ciência de base para entender o vírus, a doença e sua contínua expansão na população.
Não, a pandemia não acabou. Em tempo, não, reuniões com a família não são tranquilas e isentas de riscos. Assim como, não, ir a bares e restaurantes – especialmente ambientes fechados – não são atos seguros neste momento.
Chegamos aos 250 dias de pandemia. Temos 165 mil mortes no Brasil e mais do que 1 milhão e 300 mil mortes no mundo inteiro. Dessa forma, é preciso frisar, diariamente sim, que tempos de exceção precisam de ações empáticas, solidárias e científicas. Bem como, precisam compartilhar continuamente – e retomar debates “antigos” – sobre como o vírus está presente. Isto é, se espalhando e novamente ocupando leitos das UTIs – de hospitais públicos e privados.
Em suma, 250 dias pandêmicos
250 dias se passaram. Vamos encarar cada dia que acordamos. Como? Com um compromisso de seguirmos informando, conversando, debatendo. Assim como produzindo conteúdos para pensarmos esta etapa de nossas vidas com mais segurança, cientificamente embasados, socialmente engajados.
Fiquem bem, se puderem permaneçam em casa. Não, a pandemia não acabou!
Este texto é original e escrito com exclusividade para o Especial Covid-19
Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Foram produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.
Os termômetros clínicos digitais infravermelho, esses usados para aferir a temperatura na entrada nos estabelecimentos, são seguros. Eles medem a quantidade de luz que emitimos no infravermelho.
Imagem: Rawpixel.
Esses dias recebi algumas mensagens dos meus tios me perguntando se há perigo no uso do termômetro clínico infravermelho.
A pergunta: Esses termômetros de apontar podem danificar o cérebro? Resposta: Não, eles são seguros.
O princípio do uso dos novos termômetros clínicos, os termômetros digitais infravermelho, vem de uma observação antiga de um astrônomo e músico chamado Frederick William Herschel. Há mais de 200 anos atrás, Herschel observou que havia uma correlação entre o calor emitido e a cor de cada um dos espectros obtidos por meio de um prisma.
Fonte: OpenClickArtVectors em Pixabay.
Assim, Herschel passou a luz por meio de prisma de vidro e mediu a temperatura de cada cor refratada visível por meio de um termômetro de mercúrio. Os resultados dele mostraram que a temperatura aumentava do violeta para o vermelho. Isto é, ele descobriu que havia uma relação entre a radiação e calor.
Mas Herschel não parou por aí. Ele resolveu medir a temperatura para uma região em que não havia cor visível, para além do espectro do vermelho e descobriu que aquela região tinha uma temperatura ainda maior, a região que hoje conhecemos como o da radiação infravermelha. Além disso, desses resultados que mostraram a relação entre radiação e calor, ele descobriu que há tipos de luz ou radiação que não são visíveis aos nossos olhos.
Como você está radiante hoje: os termômetros digitais infravermelhos.
Sim, nós emitimos luz, mas calma aí, todos os objetos emitem, desde que estejam acima do zero absoluto
Mas qual é a relação com a sua temperatura?
Pois veja, toda matéria emite uma radiação térmica ou radiação eletromagnética. Todavia, isso inclui os nossos corpos? Sim! Isso acontece graças ao movimento dos átomos e moléculas que acabam movimentando partículas carregadas que compõem a matéria. Assim, no processo, a energia cinética é transformada em radiação.
No caso da radiação infravermelha, um material emite essa radiação de acordo com a sua temperatura e do seus constituintes, ou sua capacidade de emitir essa energia, ou seja, sua emissividade. Isso quer dizer que materiais diferentes vão emitir radiação infravermelha de forma distinta.
[Existem equipamentos que disponibilizam a imagem do calor, ou radiação infravermelha, são as câmeras termográficas]
Crédito da imagem: Rawpixel
Mas, que faz o termômetro clínico infravermelho?
Medir a energia radiante do corpo é uma forma indireta de se medir a temperatura. O que o termômetro clínico infravermelho faz é mensurar a energia radiante por meio de um sistema ótico, ou seja, tem uma lente no termômetro capaz de captar a radiação infravermelha. Ele lembra uma câmera, mas ao invés de registrar uma imagem transforma as informações recebidas e a transforma em um dado, a temperatura de um corpo.
O termômetro não causa dano, mas uma medida errada pode ter consequências para as pessoas. Como os termômetros clínicos infravermelho foram ajustados para medidas da radiação/temperatura da testa, medir a temperatura apontando para outra parte do corpo, pode levar a medidas erradas da temperatura da pessoa.
Mas e aquele laser que sai de alguns termômetros infravermelho? Alguns termômetros vem com um laser, mas ele serve só para saber para onde o equipamento está sendo apontado. Vai que a pessoa mira no cabelo!
O importante no caso do laser: Como qualquer apontador, não pode mirar no olho do coleguinha viu!
Então quando alguém apontar o termômetro para a sua testa fica tranquilo: seja um ser de luz e deixa o termômetro captar a sua radiação!
Tá pronto para dicas de leituras e atividades?
Dica de leitura:
Para entender o processo experimental e de descoberta de William Herschel, recomendo a leitura do artigo em português Os raios invisíveis e as primeiras ideias sobre radiação infravermelha. O artigo contextualiza os experimentos de Herschel e analisa as conclusões de uma série de artigos do autor sobre a luz e os raios invisíveis.
Dica de atividade:
[1] A National Aeronautics and Space Administration (NASA) preparou um guia para testar em casa o experimento do Herschel. Você vai precisar de uma caixa, um prisma de vidro e termômetros de álcool. Os de mercúrio não são mais usados, pois esse metal é tóxico. Atividade para fazer em casa sobre temperatura e espectro eletromagnético. Uma versão em português pode ser encontrada em O experimento de Herschel no site do Instituto de Física da UFRGS
Este texto é original e escrito com exclusividade para o Especial Covid-19
Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Assim, os autores produzem os textos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional. Além disso, os textos são revisados por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Dessa forma, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.
Texto escrito por Gian Carlo Guadagnin e Gildo Girotto Junior
Já discutimos nos primeiros textos da série questões importantes relacionadas a possível abertura das escolas. Buscamos falas de especialistas e discutimos falácias irresponsáveis. Temos clareza que, ainda que pudéssemos pensar na abertura, uma série de protocolos deveriam ser seguidos e uma infraestrutura mínima deve estar à espera dos alunos, alunas, professores e professoras. Pois bem, podemos então pensar um pouco sobre essa estrutura que (não) temos e para termos clareza do quão longe (ou perto) essa história vai.
Reconhecendo que as desigualdades se acentuam com a ausência de um projeto educacional e reconhecendo também que as condições sanitárias não são ideais para o retorno (e traremos dados sobre isso), nos cabe a pergunta: é possível planejar o ensino nestes meses finais que nos restam para o fim do ano? É mais inteligente e mais sensato quando nos atentamos aos exemplos da nossa realidade e pesamos as possibilidades que nos são factíveis, do que sair por aí comprando exemplos internacionais que não se encaixam nas nossas salas.
A(s) escola(s) no Brasil
Dois dos fatores mais importantes no controle da pandemia do novo Coronavírus, já assinalados nos diferentes protocolos, são o distanciamento social e as condições sanitárias, os quais atingem como uma bomba o espaço escolar brasileiro.
Segundo dados do Censo Escolar de 2019(1), divulgados pelo INEP, a média nacional de alunos por turma varia entre (mínimo) 14,3, na creche, e 31,1 (máximo) no Primeiro ano do Ensino Médio, todavia esse valor chega a 36,5 em algumas regiões do nordeste, por exemplo(2). Esses números são muito superiores aos cerca de 20 alunos/turma da média dos países da União europeia(3), da qual fazem parte os que afirmam (de forma enganosa) que o contágio da doença não foi agravado pela volta às aulas presenciais.
Sobre a realidade aqui, ainda tem mais…
Ainda, a qualidade sanitária das instituições escolares também é muito diferente. Muitas escolas do Brasil não dispõem de papel higiênico, por exemplo, para todos os estudantes, ou então obtém sua água de cisternas e essa é a única forma possível de alguma tentativa de higienização. Em casos piores não há nem mesmo unidades de saúde próximas e, assim, quem faria a checagem do estado de saúde desses estudantes e professores?
Há que se considerar também que em muitos casos, como na educação básica, boa parte das relações são construídas pelo toque, pelo contato direto, e então não faz sentido levar a criança à escola para que ela tenha uma educação psicossocial, se estaremos limitando ou proibindo essa ação. Ou seja, o argumento acaba em si mesmo e, portanto, não se justificaria.
Mas tem mais ainda? Sim…
Voltando aos dados de infraestrutura, temos um grande número de escolas que funcionam em dois ou até três turnos. Ou seja, um conjunto de estudantes que frequentam as aulas no período da manhã, um novo conjunto de estudantes à tarde e outro à noite o que implica que para cumprir as condições sanitárias, a escola deveria ser sanitizada(4) totalmente entre os turnos.
Como será o controle das condições de entrada? Como está sendo planejado a sanitização dos ambientes? Quais as estratégias de acompanhamento da disseminação do vírus? As perguntas de quem está diretamente envolvido com o retorno, ou seja, alunos e professores, são muitas.
Quem defende a volta com base na experiência internacional de países desenvolvidos, por outro lado, não parece se perguntar. Um terceiro lado sequer se importa porque não é a sua realidade. Todavia, no meio de tudo isso, poucos se preocupam com as recomendações de caráter internacional, ou com a necessidade de um plano de retomada pensado para o país. Incluímos nesse grupo os ministros e ex-ministros e demais coordenadores do ministério da educação do atual governo.
O que podemos fazer?
Mas se não retornarmos, o ano estará perdido? Sem dúvidas, a qualidade de qualquer intervenção educacional remota e, nesse momento, adaptada, é inferior ao ensino que foi planejado presencialmente. Não questionamos esse fato. Os primeiros meses de pandemia deixaram claro que a adaptação ao ensino remoto escancarou as desigualdades e tolheu a possibilidade de estudo de muitos estudantes. No entanto, para garantirmos as condições de saúde, defendemos que o retorno presencial não ocorra e que seja possível, com a compreensão da situação, e o desenvolvimento de ações estruturadas em estratégias de acesso no intuito de “devolver” a educação àqueles de quem ela foi tirada.
Desse modo, a pergunta que deveríamos ter feito não é “devemos retornar?”, porque as recomendações são claras(5), mas, sim, deveríamos questionar “como planejar e executar o trabalho com a situação remota?”. E ainda, “como planejar e executar ações que suportem os aprendizados perdidos nesse ano?”. Essas são questões que, antes de tudo, devem levar em consideração a especificidade dos municípios e, sem dúvida nenhuma envolver os diferentes atores da comunidade escolar.
Dessa forma, a esfera online, mais segura no momento, deve funcionar se governos e indivíduos articularem ações. Algumas recomendações já têm sido feitas nesse sentido, como as destacadas na sequência, indicadas pela UNESCO(6). Deve-se ressaltar que o acesso à educação é direito constitucional universal de todo cidadão e, assim, dever do poder público de fazer todo o necessário para que mesmo o indivíduo mais afastado e vulnerável não fique em desvantagem.
1 – Analisar a resposta e escolher as melhores ferramentas
Escolher as tecnologias mais adequadas de acordo com os serviços de energia elétrica e comunicações disponíveis, bem como as capacidades dos alunos e professores. Isso pode incluir plataformas na internet, lições de vídeo e até transmissão através da televisão ou rádio.
2 – Assegurar-se de que os programas são inclusivos
Implementar medidas que garantam o acesso de estudantes de baixa renda ou com deficiências. Considerar instalar computadores dos laboratórios da escola na casa dos alunos e ajudar com a ligação à internet.
3 – Estar atento para a segurança e a proteção de dados
Avaliar a segurança das comunicações online quando baixar informação sobre a escola e os alunos na internet. Ter o mesmo cuidado quando partilhar esses dados com outras organizações e indivíduos. Garantir que o uso destas plataformas e aplicações não violam a privacidade dos alunos.
4 – Dar prioridade a desafios psicossociais, antes de problemas educacionais
Mobilizar ferramentas que conectem escolas, pais, professores e alunos. Criar comunidades que assegurem interações humanas regulares, facilitando medidas de cuidados sociais e resolvendo desafios que podem surgir quando os estudantes estão isolados.
5 – Organização do calendário
Organizar discussões com os vários parceiros para compreender a duração da suspensão das aulas e para decidir se o programa deve centrar em novos conhecimentos ou consolidação de currículo antigo. Para organizar o calendário é preciso considerar as áreas afetadas, o nível de estudos, as necessidades dos alunos e a disponibilidade dos pais. Escolher metodologias de ensino de acordo com as exigências da quarentena evitando métodos de comunicação presencial.
6 – Apoiar pais e professores no uso de tecnologias digitais
Organizar formações e orientações de curta duração para alunos e professores. Ajudar os docentes com as condições básicas de trabalho, como rede de internet para aulas por videoconferência e assegurar os pagamentos salariais, principalmente daqueles que apresentam maior vulnerabilidade..
7 – Mesclar diferentes abordagens e limitar o número de aplicações
Misturar as várias ferramentas disponíveis e evitar pedir aos alunos e pais que baixem ou testem múltiplas plataformas.
8 – Criar regras e avaliar a aprendizagem dos alunos
Definir regras com pais e alunos. Criar testes e exercícios para avaliar de perto a aprendizagem. Facilitar o envio da avaliação para os alunos, evitando sobrecarregar os pais.
9 – Definir a duração das unidades com base na capacidade dos alunos
Manter um calendário de acordo com a capacidade dos alunos se concentrarem sozinhos, sobretudo para aulas por videoconferência (assegurando para isso as condições mínimas de vida na alimentação, saúde e habitação). De preferência, cada unidade não deve exceder os 20 minutos para o ensino fundamental e 40 minutos para o ensino médio.
10 – Criar comunidades e aumentar a conexão
Criar comunidades de professores, pais e diretores de escolas para combater o sentimento de solidão e desespero, facilitando a troca de experiências e discussão de estratégias para enfrentar as dificuldades.
Isto quer dizer que vai funcionar?
O processo está longe de ser considerado fácil. Desse modo, as recomendações são densas e envolvem parcerias importantes, articulação do Ministério da Educação (praticamente ausente durante toda a pandemia). Além disso, requerem conhecimento técnico, preparo, diálogo, respeito e segurança para os profissionais, estudantes e suas comunidades, além de noção das realidades locais. Mas ainda assim, é mais coerente do que colocar vidas em risco e lidar com a dor.
Finalizando
Por fim, devemos reiterar que o espaço virtual nunca substitui a experiência de sala de aula na formação do indivíduo. Além disso, uma educação digitalizada não pode ser pensada como terminal. Assim, devemos exigir as adaptações necessárias ao momento e simultaneamente cobrarmos a construção de uma educação universal, válida, eficiente, pública e presente para todos os sujeitos.
O que estamos vivendo agora é atípico e não pode ser entendido como o novo normal. A educação, quando segura, deve ser presencial. Do contrário, podemos privar indivíduos do acesso, criar novas defasagens e aumentar a desigualdade social, que já nos é tão crassa, ou acabar por fomentar uma educação como negócio, que deve ser considerada um perigo no longo prazo e, portanto, desestimulada.
Gildo Girotto Junior é Licenciado em Química (UNESP), Doutor em Ensino de Química (USP) e atualmente é professor e pesquisador no Instituto de Química da Unicamp
Gian Carlo Guadagnin é estudante de graduação em Licenciatura em História (UNICAMP)
Este texto é original e escrito com exclusividade para o Especial Covid-19
Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Assim, os autores produzem os textos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional. Além disso, os textos são revisados por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Dessa forma, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.