Tag: Isolamento Social

  • A ameaça invisível assombra a economia

    Texto escrito por Jamile de Campos Coleti

    Com 86% da população do Estado de São Paulo na faixa amarela do Plano São Paulo de retomada das atividades comerciais. A abertura de shopping centers, a retomada parcial na oferta de alguns serviços como bares, restaurantes, salões de beleza, e academias dão, nos próximos dias, seu start inicial.

    Passados quase 5 meses da pandemia de Covid-19, havia uma certa ansiedade por parte da população por consumir grande parte desses serviços. Também pela maioria dos comerciantes e empresários em retomar suas vendas. Já que enfrentam uma crise econômica desde 2014, agravada ainda mais pela recente situação de isolamento forçado.

    De acordo com estimativas da fundação Getúlio Vargas, haverá um impacto negativo de cerca de 68% nas finanças da indústria. Além de 59% no setor de comércio e de 49% no setor de serviços. Esses serão os setores que mais serão afetados negativamente em suas finanças.

    O FMI (Fundo Monetário Internacional) prevê uma crise econômica global de grande proporção devido à pandemia. A recessão estimada pelo FMI, de 4,9% para o mundo, deve se confirmar. E, para o Brasil, o quadro é ainda mais alarmante, uma vez que estamos classificados na categoria de países em desenvolvimento. Ou seja, existe uma série de barreiras estruturais que ainda não foram superadas.

    As medidas de fechamento e isolamento social afetam toda a economia, mas principalmente o consumo. Quando estávamos na fase vermelha, apenas itens essenciais eram possíveis de serem comprados presencialmente. Além disso, as pessoas ainda ficavam receosas de receber em suas casas entregas delivery – mesmo que os empresários fizessem as adequações necessárias e entrassem de cabeça na era digital.

    Em um ambiente de extrema incerteza futura, como é o caso desta pandemia, o primeiro impacto sobre os agentes econômicos (famílias e empresas) é a retração na sua renda. A causa disso é o fato de que as próprias famílias ficaram mais cautelosas em relação ao consumo. Os empresários, por seu turno, interromperam os investimentos bruscamente. Uma indicação desse fenômeno é o aumento recente nas quantias depositadas em cadernetas de poupança, ou seja, o brasileiro está poupando e se preparando para o que há por vir.

    A questão da reabertura parcial do comércio

    Quanto ao plano de flexibilização e abertura parcial do comércio, temos, por um lado, lojas fechadas e com poucos clientes. Por outro lado, ruas lotadas com consumidores lutando pelo seu espaço – como observado no último sábado dia 7 de agosto, véspera do Dia dos Pais. Em relação à abertura do comércio, há algumas considerações que devem ser levadas em conta:

    • Muitas cidades que estavam na fase 4 regrediram para a fase 1 após medidas de flexibilização entrarem em vigor;
    • O índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) atingiu o menor patamar desde o ano de 2010, segundo informações da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo;
    • Há uma melhora identificada na qualidade dos serviços e atendimentos, uma vez que cada cliente que entra no estabelecimento comercial é extremamente importante para a geração de receitas;
    • A queda do nível de renda tem empurrado compradores para o comércio popular, gerando aglomerações em áreas que possuem essa característica;
    • Vendedores relatam medo em se deslocar para o trabalho, pois os meios de transporte coletivo apresentam grande possibilidade de contaminação. Muitos estão mudando as suas rotas e realizando mais baldeações para evitar linhas que possam estar congestionadas – isso normalmente aumenta o tempo de trânsito até o trabalho;
    • Existe também o acúmulo de funções dentro dos estabelecimentos, já que houve demissões e poucos funcionários ficaram para desempenhar a atividade de atendimento, venda, faturamento, estoque, etc.;

    Posto isso, o desafio é fazer com que parte importante do consumo seja retomada. Pois muitas famílias tiveram sua renda comprometida de alguma forma e as que foram menos afetadas estão bastante receosas em gastar.

    Para muitas pessoas, a ajuda oferecida pelo governo federal foi insuficiente, sendo obrigadas a buscar outras alternativas para sobreviver, afinal as despesas não cessaram. Empresários e comerciantes, por sua vez, tentam recuperar as vendas mesmo com a insegurança de estar exposto a uma grande circulação de pessoas que movimentam os centros comerciais e shoppings.

    Por fim, é importante ressaltar que o isolamento social, da maneira como foi praticado no país teve como resultado até o momento mais de 100.000 mortes. Além de um impacto psicológico sobre a população – seja pelo medo, seja pelo luto. Na economia, o isolamento afetou a renda de milhares de famílias e a sobrevivência de muitas empresas. Com este afrouxamento, o novo normal está por vir. Mas o problema da contaminação pelo Covid-19 não está ainda resolvido, nem com remédios nem com vacina. Para isso, é ainda necessário que toda a população tenha cuidado, tome medidas de segurança e tenha consciência sobre o uso correto de máscara. E sobretudo, se puder, que continue em casa.

    A autora

    Jamile de Campos Coleti é Administradora, Professora na Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG/FRUTAL) e Doutora em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp.

    ** Texto publicado originalmente no blog Sobre economia


    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.

  • Isolamento social muda a dinâmica do meio ambiente durante a pandemia

    Por Caroline Marques Maia, Luciane Borrmann e Vinícius Nunes Alves

    Benefícios momentâneos ao meio ambiente durante a pandemia não indicam, necessariamente, que a natureza está sendo restaurada dos estragos causados por humanos

    Diminuição da poluição atmosférica em grandes cidades, águas mais limpas, passagem incomum de animais silvestres em centros urbanos, praias vazias com tartarugas desovando em massa. Essas e outras consequências da redução da circulação humana e o seu impacto no meio ambiente têm sido noticiadas durante a pandemia e são importantes para reflexões sobre as questões ambientais no planeta. Mas será que apenas efeitos benéficos estão ocorrendo no meio ambiente em função do distanciamento social? “Alguns animais podem se beneficiar de forma mais imediata, como aves voltando a nidificar em certas áreas ou peixes reocupando canais outrora poluídos, mas mesmo a natureza dando mostras de reparos, isso não significa dizer que esteja se recuperando”, pondera a bióloga Lilian Hoffmann.

    Pela primeira vez em cerca de 80 anos, a montanha Dhauladhar, que faz parte da cordilheira do Himalaia, pôde ser avistada novamente na Índia. Esse fenômeno ocorreu devido à queda da poluição atmosférica pela diminuição da produção nas fábricas e o trânsito reduzido na quarentena. Na China, essa redução chegou a 25% desde o início da pandemia, sendo que o isolamento social no país pode ter salvo entre 50 e 75 mil pessoas da morte devido à poluição, de acordo com a Universidade Stanford

    Para Evangelina Vormittag, médica e doutora em patologia e saúde ambiental da Universidade de São Paulo (USP), conhecida como “Dra. Poluição”, essas reduções de poluição ilustram o quanto se polui o ar diariamente e como o menor consumo favorece um futuro mais saudável e mais sustentável. A médica afirma que “o benefício de um ar menos poluído é imediato para a saúde da população, não apenas para aqueles com doenças respiratórias, mas também para doenças cardiovasculares, principalmente quando se trata de grupos mais sensíveis como crianças e idosos”. 

    Segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2018, a poluição do ar foi responsável por 320 mil mortes nas Américas e 51 mil no Brasil por ano. “Enfermidades como asma e infarto são acentuadas pela baixa qualidade do ar e isso tem custos econômicos (perda de produtividade e custo de internação) que podem ser mensurados em estudos científicos de poluição atmosférica sobre a saúde”, avalia Evangelina.

    A poluição atmosférica em centros urbanos, como na imagem, caiu consideravelmente com a redução nas atividades industriais e no trânsito pelo isolamento social. Crédito: Unsplash

    E não é apenas a poluição atmosférica que reduziu nos últimos meses. As águas do rio Ganges no Norte da Índia – um dos rios mais poluídos do mundo – estão ficando mais limpas, como noticiou em abril o jornal indiano India Times.  Mesmo os canais de Veneza na Itália, famosos por seu mau cheiro, estão com as águas mais claras e nítidas por falta de circulação de barcos, fenômeno que foi relatado pelo G1 em março. Até as vibrações que as atividades humanas diárias causam na crosta terrestre diminuíram com o isolamento social, permitindo que os dispositivos sísmicos detectem outros movimentos menores com sinais mais claros, noticiou a revista científica Nature

    Vantagens para a fauna

     Locais antes dominados pela presença humana agora estão dando passagem para animais silvestres como onças-pardas, coiotes e perus nos Estados Unidos, javalis na Espanha, leopardos em vários locais da Índia, cervos no Japão, todos exemplos das recentes aparições registradas em área urbana. E não é apenas a visita desses animais em locais bem urbanizados que tem sido notada. Em Fort Lauderdale, em Miami, a Veneza americana, as águas mais claras possibilitam que os caranguejos no seu habitat natural possam ser observados. 

              Bodes caminhando em bando no País de Gales. Crédito: Conta pública da @bbcbrasil no Twitter

    A fauna ainda está se beneficiando de outras formas por causa da redução na circulação de pessoas durante a pandemia. Um bom exemplo são as notícias, como da revista Veja, sobre tartarugas marinhas desovando em massa nas praias vazias, inclusive no Brasil. Até mesmo animais cativos estão sendo favorecidos. Depois de quase 10 anos de tentativas de acasalamento sem sucesso, o zoológico vazio de Hong Kong registrou esse ato ocorrendo naturalmente entre um casal de pandas, algo que pode ser vantajoso para a conservação dessa espécie. 

    Depois de quase uma década sem reproduzir, pandas acasalam em zoológico sem visitação em Hong Kong. Crédito: HKFP

    Apesar desses efeitos aparentemente otimistas para a fauna, resta a dúvida se todos eles são mesmo saudáveis para os animais. “Muitos animais que visitam as ruas podem estar atrás de comida, por exemplo, entrando em contato com resíduos descartados, e podem acabar se contaminando”, aponta Lilian, que é doutora em Biologia Animal e bolsista do Programa Arquipélago e Ilhas Oceânicas.

    Só impactos positivos?

    Existe também um outro lado sobre as consequências da pandemia atual para o meio ambiente. Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), se grandes empresas petrolíferas e políticas econômicas usarem o atual recesso econômico como pretexto para desacelerar a transição para a energia limpa, a redução das emissões globais de carbono que estão ocorrendo neste ano não ajudarão a combater as mudanças climáticas. Por exemplo, na Arábia Saudita houve grandes quedas nos preços do petróleo, o que está fazendo o país aumentar sua produção em parceria com a Rússia. 

    O próprio isolamento social, apesar de diminuir o consumo de energia no segmento industrial, tende a aumentar as contas de energia nas residências. Segundo a Agência Brasil, a despesa do consumo residencial de energia elétrica pode aumentar em até 20%, e as estimativas do Ministério de Minas e Energia indicam que os gastos com o gás natural podem subir até 23%.

    Em um período que os holofotes estão voltados principalmente para a crise da saúde, o Brasil está caminhando para “compensar” a queda na emissão de gases de efeito estufa pela redução de atividades de transporte e de indústrias com uma tendência de aumentar o desmatamento. Como a própria vegetação “sequestra” gás carbônico, o desmatamento resulta em mais gás carbônico (CO2) na atmosfera. 

    Segundo relatório recente do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg) realizado pelo Observatório do Clima,as emissões de carbono devem aumentar até 20% em 2020 devido ao grande aumento do desmatamento”. Isso ocorre principalmente na Amazônia desde 2019, com a gestão do ministro do meio ambiente Ricardo Salles, já denunciado por improbidade administrativa, tanto pelo Ministério Público do Estado de São Paulo quanto pela Associação dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente (Asibama-DF) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). 

    “Alguns políticos e outros tomadores de decisão se aproveitam do momento de dificuldade de acompanhamento da sociedade para executar ações maléficas ao coletivo, tais como aumento na exploração de minérios, aprovação de legislação inadequada ou ainda destituição de decretos e portarias de proteção de biodiversidade, culturas indígenas e quilombolas. Isso acaba desfazendo resultados de grandes lutas passadas para a proteção de ecossistemas, biodiversidades e culturas”, destaca Camila Domit, bióloga do Centro de Estudos do Mar (UFPR). 

    Há ainda a ameaça de aumento de ações ilegais que prejudicam o ambiente e a fauna quando o foco da população e dos governantes está na manutenção das necessidades básicas e na busca de soluções para a pandemia. “Atividades ilícitas proliferam em épocas de pouca ou nenhuma fiscalização, e pode-se ver isso em atividades como desmatamento, garimpo, tráfico de animais silvestres, caça e pesca ilegal”, aponta Lilian. Um exemplo disso é a associação criminosa voltada para o desmatamento e o garimpo ilegais em terra indígena no Mato Grosso, que foi descoberta e apreendida pela Polícia Federal recentemente com mandados de prisão dos envolvidos, e busca e apreensão das ferramentas.

    Aumento no volume de descartáveis

    Outro impacto negativo é o aumento da quantidade de lixo descartável usado em alimentos e, principalmente, em hospitais. A Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) calculou em março que no país poderia ter um expressivo aumento de geração de resíduos sólidos domiciliares (15 a 25%) e de hospitalares em unidades de atendimento à saúde (10 a 20 vezes). 

    No Brasil, a capital paulista recentemente suspendeu a lei de proibição de materiais plásticos para comercialização de alimentos, supostamente pelas embalagens ajudarem na higienização e na prevenção da doença. Além disso, máscaras e luvas usadas pelas pessoas para proteção estão sendo descartados incorretamente à céu aberto nas ruas, gerando ainda mais poluição no ambiente, inclusive nos próprios oceanos. “A maior parte do lixo que chega às praias vem das cidades e como continua sendo produzido muitas vezes sem destino adequado, continua um problema, afetando negativamente a biodiversidade”, conclui Camila.

    Máscaras usadas para proteção contra o coronavírus são descartadas muitas vezes nas próprias ruas, gerando assim mais poluição no ambiente. Crédito: Pixabay

    A experiência globalizada do isolamento social ilustra que a cultura de produção e consumo têm impactos sobre meio ambiente e fauna. E mesmo os efeitos positivos da pandemia podem ser apenas um alento temporário, mas não a solução para os problemas que a civilização humana causa na natureza, como superexploração e poluição ambientais, e extinção em massa de espécies.

    Lab-19, projeto de divulgação científica de um grupo de alunos do curso de especialização em jornalismo científico do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Universidade Estadual de Campinas (Labjor-Unicamp), engajados, como tantos, em contribuir para a disseminação de informações corretas e confiáveis sobre a epidemia de covid-19 para públicos diversos.

    Caroline Marques Maia é bióloga, mestre e doutora em zoologia. Comanda o Blog ConsCIÊNCIA Animal e é gestora-diretora do Clube Ciência e do Writing Center do Instituto Gilson Volpato de Educação Científica (IGVEC).

    Luciane Borrmann é jornalista e educadora ambiental.

    Vinícius Nunes Alves é biólogo, com mestrado em ecologia e conservação de recursos naturais. É colunista do jornal Notícias Botucatu.

  • Flexibilizar ou não o isolamento, eis a questão.

    Nas primeiras semanas de junho, após quase dois meses de isolamento social, muitas cidades optaram por implementar planos de flexibilização do isolamento social com reabertura gradual do comércio e demais serviços ditos não essenciais. Em meio a um cenário ainda crescente do número de casos da COVID-19 e sem qualquer certeza de termos atingido o “pico da curva”, uma pergunta torna-se inquietante: qual a lógica por trás dessas ações? As medidas certamente têm por objetivo a retomada gradual da “normalidade” com foco no fortalecimento econômico. Mas, de fato, quais as consequências possíveis de tais ações? Com base nos dados expostos pelo plano São Paulo1 tentamos aqui costurar interpretações para entender a lógica que levou estados e municípios a adotarem medidas de flexibilização do isolamento social.

    Muitos devem lembrar do tal achatamento da curva, amplamente comentado no início da pandemia. A tentativa de “achatar a curva” dos casos da COVID-19 consistia em promover ações de isolamento social de modo que, ao ficarmos em casa, pudéssemos retardar a taxa de contaminação. Tínhamos que ter em mente que, enquanto não houvesse (e ainda não há) uma vacina, todos, hora ou outra, seríamos contaminados pelo corona vírus. A ideia é que isso ocorresse gradualmente de modo que o número de doentes não ultrapassasse o número de leitos disponíveis no sistema de saúde. Ou seja, imaginemos que uma determinada cidade dispõe de 100 leitos de UTI. Se tivermos 101 pacientes, 1 deles ficará sem atendimento adequado e correrá um risco maior de vir a óbito.

    Em diversas cidades, tais ações têm logrado êxito, considerando os números oficiais. 

    Mas o que mudou para que fosse possível nos libertarmos das amarras do isolamento social? Todos já se contaminaram, certo? ERRADO! Chegamos ao pico da curva? ERRADO! Descobrimos o tratamento ou a vacina? ERRADO. Então o que fez o governo flexibilizar o isolamento? Vamos tentar compreender a razão olhando os dados disponibilizados pelo governo do estado de São Paulo, que se assemelham a de outros estados da federação.

    O que é o plano SP?

    O Plano propõe que os municípios ou regiões sejam classificados em termos de “fases”. Cada fase implica um maior ou menor grau de liberação de atividades sociais e econômicas como mostrado na figura abaixo1.

    Fonte: Plano São Paulo.

    Para que uma região seja classificada em uma das fases, o governo propôs que cinco indicadores devem ser analisados: Taxa de ocupação dos leitos de UTI COVID, leitos de UTI para cada 100.000 habitantes, evolução no número de casos; evolução no número de internações e evolução no número de mortes. Desta forma, uma região que atinja a pontuação mínima para os indicadores pode adotar medidas de flexibilização do isolamento, conforme ilustra a figura abaixo1.

    Fonte: Plano São Paulo.

    Compreendido o sistema e os indicadores, a questão que nos fazemos é: o que mudou do início da quarentena até aqui?

    Dentre as ações propostas pelos governos, a construção de hospitais de campanha e a aquisição de respiradores foi, sem dúvida, a que demandou grandes esforços, culminando no aumento do número de leitos de UTI. Ou seja, não significa que o número de casos diários diminuiu ou que o número de casos tem estabilizado. Isso pode ser constatado pelos dados disponibilizados pelo próprio sistema de gerenciamento do governo2.

    A consequência do aumento do número de leitos é que com isso se consegue um menor índice de ocupação dos mesmos. Por exemplo, se temos 80 casos para 100 leitos a taxa de ocupação é de 80%. Se dobramos o número de leitos e mantermos o mesmo número de casos teremos 80 casos para 200 leitos, implicando uma taxa de ocupação de 40%. É exatamente aqui que reside o problema. Se o aumento semanal no número de casos durante o isolamento social já está sendo verificado, ao promover a reabertura obviamente este índice irá disparar, como aconteceu em todos os lugares que não implementaram o isolamento ou como tem ocorrido em regiões do BRASIL que já adotaram a flexibilização3,4.

    Então, qual a mensagem que o governo (neste caso o de São Paulo) está passando?

    Podemos dizer que, de certo modo, os gestores optaram nesse momento por contaminar mais rápido as pessoas mas tentando garantir que as mesmas tenham atendimento caso isso ocorra. Essa é a opção. Esse é o risco. Deixou-se um pouco de lado o achatamento da curva ou, como preferem alguns, foram acrescentados novos números ao estado.

    Vale ressaltar que, ocorrendo o óbvio (o aumento abrupto no número de casos), o governo pretende implementar um novo isolamento ou o retorno a fase 1. Apenas nos questionamos o quão viável seria, neste momento, aumentar a contaminação por meio da flexibilização do isolamento social? Conseguiremos retomar novamente o isolamento, caso o plano não de certo? O resultado parece poder ser visualizado desde já. Mas veremos, de fato, verificaremos as consequências nas próximas duas semanas. 

    Para saber mais

    1. Plano São Paulo. Disponível em https://www.saopaulo.sp.gov.br/wp-content/uploads/2020/06/PlanoSP-apresentacao.pdf

    2. Boletim CIVID-19 São Paulo. Disponível em: https://www.seade.gov.br/coronavirus/

    3. Folha de Pernambuco: Pernambuco freia avanço da retomada gradual em 85 cidades. Disponível em: https://www.folhape.com.br/noticias/coronavirus/pernambuco-freia-avanco-da-retomada-gradual-em-85-cidades-veja-lista/143619/

    4. Portal G1: Prefeitura de Campinas publica decreto com prorrogação da quarentena. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2020/06/12/ultimas-noticias-de-coronavirus-na-regiao-de-campinas-em-12-de-junho.ghtml

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Ciência para crianças! A importância do isolamento social

    Estamos iniciando nossa série de quadrinhos Ciências para crianças! Se você quiser conhecer um pouco mais sobre os personagens, confira antes nossos quadrinhos de apresentação: https://www.blogs.unicamp.br/nasasasdodragao/2020/05/18/ciencia-para-criancas-quadrinhos/

    O tema dos quadrinhos de hoje é muito pertinente na atual situação de pandemia de Covid-19 que enfrentamos. A forma mais eficiente de evitar o contágio e propagação do vírus é a prática de isolamento social, que consiste em evitar a participação em atividades que envolvam muitas pessoas e se manter dentro de casa por um tempo. 

    Neste quadrinho, Dragonino está triste por não poder ver seus amigos, porém sua mamãe médica, Driana, sabe que é preciso que todos se protejam bem para evitar a contaminação. Veja o quadrinho e, junto com o Dragonino, entenda a importância de ficar em casa durante esse período!

    Todas as informações têm como base dados disponíveis nos sites oficiais da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde do Brasil. Para mais informações, entre nos sites referenciados nos quadrinhos:

    https://coronavirus.saude.gov.br/

    https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019

    https://portal.fiocruz.br/video/video-da-oms-como-colocar-usar-retirar-e-descartar-uma-mascara

    Equipe: 

    • Design: Giovanna S. Veiga
    • Pesquisas e roteiro: Edilaine C. Guimarães e Carla R. de Souza
    • Supervisão: Vinicius Saragiotto, Verônica Dos S. Sales, Bianca B. De M. Fonseca
    • Orientação e Revisão: Carolina S. Mantovani e Lúcia E. Alvares

    English version

    Translation: Allan Cavalcante and Giovanna S. Veiga


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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Ciência para crianças! Uma série de quadrinhos para os pequenos cientistas em meio à pandemia!

    Devido a atual situação da pandemia de Covid-19, a equipe do projeto Nas Asas do Dragão está iniciando uma série de quadrinhos de divulgação científica voltadas para o público infantil.

    As histórias se baseiam nos aprendizados do personagem Dragonino, um pequeno dragão muito curioso, e contam com a participação de sua mãe, Driana, que é médica, e seu pai, Draco, que trabalha como biólogo e professor. Juntos, eles irão ajudar a explicar diversos temas atuais para as crianças!

    Serão abordados, semanalmente, temas como o isolamento social, a importância dos profissionais de serviços essenciais, como lidar com o distanciamento de parentes e amigos na quarentena, entre muitos outros. Fique por dentro dessa aventura de conhecimento e vamos passar juntos por essa fase!

    Abaixo está nosso primeiro quadrinho apresentando os personagens. Conheça um pouco mais sobre Dragonino e sua família, e não perca as próximas tirinhas!

    Quadrinhos de apresentação do Dragonino e sua família para iniciar a série Ciência para crianças!

    Equipe: 

    • Design: Giovanna S. Veiga
    • Pesquisas e roteiro: Edilaine C. Guimarães e Carla R. de Souza
    • Supervisão: Vinícios Saragiotto, Verônica dos S. Sales, Bianca Bosso de M. Fonseca
    • Orientação e Revisão: Carolina S. Mantovani e Lúcia E. Alvares

    English version

    Translation: Allan Cavalcante and Giovanna S. Veiga


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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • O cérebro em quarentena

    Como ajudar nosso cérebro a driblar a ansiedade e lidar melhor com o estado de isolamento?

    [Esta é uma versão expandida de um texto escrito para a edição de maio de 2020 da revista Ciência Hoje, por André L. Souza e Lucas Miranda]

    O corpo humano é um organismo altamente complexo, cheio de segredos ainda não descobertos e com habilidades que você provavelmente nem sabe que existe. É estranho imaginar que a gente não conhece o próprio corpo e muito menos o controlamos por completo. Mas isso é normal! Aprender mais sobre como nós funcionamos é essencial para mantermos um estado de bem-estar e de saúde mental. E é sobre isso que vamos conversar.

    Nosso cérebro é uma máquina feita para buscar respostas e perceber padrões. O tempo todo, esse órgão que controla tudo que você faz e pensa, está analisando o mundo e as coisas ao seu redor na tentativa de encontrar esses padrões e, com isso, prever o que vai acontecer.

    cérebro jogando bola
    Ilustração do Vitor Hugo de Oliveira (@myFairy_King) feita com exclusividade para esse texto

    Imagine, por exemplo, uma partida de futebol. Neymar está com a bola e um adversário, bem na sua frente, aguarda o momento de dar o bote. Para o atacante decidir o que fazer, o cérebro dele vai analisar um monte de coisas: a distância que o adversário está, o quão bem o adversário joga, a presença de outros jogadores do seu time, a distância que ele está do gol, o seu nível de cansaço, etc. Essas informações vão ajudar o cérebro do Neymar a prever o que pode acontecer em cada uma das suas possíveis escolhas. E é com essas previsões que uma decisão será tomada.

    Esse processamento de informações ocorre no cérebro o tempo todo e em frações de segundo! Você poderia pensar: então, quanto mais informações o meu cérebro processa mais bem fundamentadas serão as minhas decisões, certo? Não exatamente. Imagine se o cérebro do Neymar decidisse analisar também a cor do cabelo do adversário, a vaia de alguém que está na torcida, uma borboleta que passou voando… Essas informações não serão nada úteis para a previsão específica da sua próxima jogada. Elas só irão dar mais trabalho para o cérebro e dificultar a tomada de uma decisão.

    Em momentos de incertezas, como é o caso de uma pandemia e de isolamento, não é fácil para o nosso cérebro saber quais informações são relevantes para fazer as suas previsões: “devo prestar atenção nas notícias de saúde? Ou devo me preocupar mais com as notícias da economia? Será que preciso saber como o coronavírus funciona? Ou posso mesmo só entender que lavar as mãos ajuda?”. Todo esse excesso de informação vai deixando o nosso cérebro perdidinho, sem saber como fazer suas previsões.

    Quando isso acontece e o cérebro não consegue mais montar padrões, ele aciona uma espécie de alarme interno para te avisar que tem algo errado e que alguma coisa precisa ser feita. É como se dissesse: “Ei, estou sendo sobrecarregado aqui. Precisamos fazer alguma coisa”. Esse sentimento, que chamamos de ansiedade, nos paralisa, porque exige toda a nossa atenção e energia voltadas para resolver o que precisa ser resolvido no cérebro para que ele volte a se sentir bem e a encontrar suas respostas e padrões.

    Por isso, é uma boa ideia adotar estratégias que tragam uma maior sensação de controle para o seu cérebro, para evitar que esse alarme seja acionado.

    Tudo sob controle

    Você acabou de chegar de uma atividade e tudo que você quer é um delicioso suco de frutas. Se você decidir jogar no liquidificador 300 tipos de frutas, de vários tamanhos e formatos, o que vai acontecer quando você o ligar? Obviamente, ele não vai conseguir triturar tudo e ainda vai transbordar e fazer a maior bagunça.

    Assim é o nosso cérebro com as informações. Não adianta jogar lá um tanto de informação de diferentes fontes e formatos e esperar que o cérebro faça um suco legal com elas. Se para fazer um bom suco é importante escolher poucas frutas, de preferência as que você gosta e que te deixam bem, e cortá-las em pedaços pequenos, o mesmo deve ser feito com nosso cérebro. Escolha um número pequeno de informações essenciais e de fontes que sejam confiáveis e se exponha apenas a elas. Dessa forma, seu cérebro vai conseguir digerir essas informações com calma e formar os padrões que ele precisa sem se sentir bombardeado.

    Mas como saber que fruta escolher, ou melhor, como saber que informação devo consumir? Basta você pensar o seguinte: a maioria de nós não vai descobrir sozinho a vacina do coronavírus e nem a melhor política pública para lidar com essa pandemia. Essas soluções virão através do esforço coletivo de especialistas das diversas esferas da nossa sociedade. Assim, você não precisa ficar consumindo toda e qualquer informação que apareça, isso só vai adicionar “mais frutas” e deixar o seu sistema cognitivo sobrecarregado. Foque em informações que dizem respeito diretamente a você, e foque nas fontes seguras e que te fornecem informações corretas, precisas e que não te deixem em pânico.

    Ficar em casa é um ato heroico

    Existem várias coisas que não estão sob nosso controle: a composição genética do vírus, a sua letalidade, a maneira como ele ataca as nossas células. E isso é um tanto ruim para o nosso cérebro, porque, como você deve ter percebido, ele é um pouco controlador. Mas que tal focarmos mais em coisas que estão sob nosso controle?

    Você deve saber que o coronavírus não tem asas e nem sabe se teletransportar. Isso significa que para ele chegar no nosso sistema nosso sistema respiratório e alcançar outras pessoas ele precisa de uma carona. Carona das nossas mãos, do nosso corpo, da nossa saliva, do nosso espirro. E essa carona é uma das coisas que podemos controlar. Como garantem os cientistas em todo o mundo, o ato de se isolar fisicamente é uma ótima forma não dar carona para o vírus.

    Pode ser difícil perceber o ato de ficar em casa como uma ação que está sob nosso controle. Afinal, muitos pensam que estamos apenas “esperando o tempo passar”. Mas não encare dessa forma. O ato de ficar em casa é uma ação que dificulta o trabalho do coronavírus de se espalhar e de chegar nas pessoas mais vulneráveis. E, nesse sentido, ficar em casa (para as pessoas que podem) é um ato heroico, principalmente para o nosso cérebro, que não encara muito bem essa história de isolamento físico.

    Ajudando o cérebro a lidar com o isolamento

    Nosso cérebro é, por natureza, um órgão que precisa das interações sociais. Como ajudá-lo a se acostumar com um estado de isolamento físico? A resposta é: através da criação de hábitos e rotina.

    A gente está o tempo inteiro criando hábitos e rotinas no nosso dia-a-dia. E isso é bom. Hábito é uma forma que o nosso cérebro encontra de economizar energia nas coisas que faz. É como se ele colocasse certas ações no piloto automático e usasse a energia que sobra pra fazer outras coisas. Só tem um problema: uma vez que um comportamento entra no piloto automático, é muito difícil o interromper. Se você tem o hábito de entrar no Twitter a cada 5 minutos, quebrar esse hábito será extremamente difícil. Mas como nosso cérebro sabe criar novos hábitos com facilidade, a melhor forma de acabar com um hábito é criar um outro em seu lugar.

    Ao invés de falar: “não vou entrar no Twitter”, você deve falar “vou fazer outra coisa ao invés de entrar no Twitter”. Crie hábitos bons que substituam hábitos que te fazem mal. Modificar seu ambiente para facilitar que esse novo hábito seja criado também é uma boa ideia. Não adianta querer diminuir o acesso a alguma rede social se ela fica a um clique de distância de você.

    E para contribuir para a sensação de controle, que é tão importante para o nosso cérebro, você pode criar pequenas rotinas no seu dia-a-dia. Ficar em casa o dia todo sem hora definida para nenhuma atividade é como estar em um barquinho no meio do oceano, você vai acabar se perdendo e não indo para lado nenhum.

    Se você precisa estudar durante a quarentena, é importante avisar seu cérebro da hora de estudar. Para isso, você pode criar uma rotina que envolva se arrumar como se estivesse indo pra escola, definir um lugar para estudar e se sentar sempre lá, como se fosse o seu lugar na sala de aula, e se comportar nesse lugar como você se comportaria na escola (de preferência sem pegar o celular a cada 5 minutos).

    Estabeleça a hora de começar, a hora de fazer um intervalo e a hora de acabar. A criação de uma rotina como essa faz com que seu cérebro entenda e se prepare para esse momento. Isso não apenas vai dar a ele uma sensação de controle, como vai te ajudar a se organizar e separar um tempo do seu dia para fazer as coisas que são importantes para você.

    Isolamento físico vs. Isolamento social

    É importante ter em mente que o isolamento necessário para conter a pandemia é um isolamento físico, não social. E há uma diferença muito grande entre essas duas coisas!

    O nosso cérebro é cheio de neurônios, que são células que estão o tempo todo se comunicando umas com as outras. Um neurônio “fala” com outro que fala com outro que fala com outro, e é com esse bate-papo que as informações são processadas. Essa comunicação dos neurônios é estimulada por várias coisas, mas a principal delas é a estimulação social. Como estamos o tempo todo conversando uns com os outros, trocando ideias, emoções e experiências, os nossos neurônios ficam em constante contato para processar todas essas informações que estão recebendo.

    Quando nos isolamos socialmente, nós perdemos esses estímulos e os neurônios vão parando de se comunicar uns com os outros. Sem essas conexões entre os neurônios, todo o nosso processamento cognitivo fica pior. Imagine isso acontecendo com o cérebro do Neymar, por exemplo. Ele vai levar muito mais tempo para decidir o que fazer com a bola (e talvez nem consiga chegar facilmente a uma boa decisão).

    Por isso, precisamos manter o contato social constante, mesmo com o distanciamento físico, conversando com os amigos, rindo, brincando, e explorando novas ideias e emoções. Isso vai manter seu cérebro ativo e fazendo o que ele faz de melhor: processar informações, montar padrões, prever o que vai acontecer e, no caso do Neymar, ajudá-lo a fazer gols.


    André L. Souza
    Neurocientista e divulgador de ciências
    https://twitter.com/andrelesouza

    Lucas Miranda
    Físico e divulgador de ciências
    Colunista na Ciência Hoje e Editor do Ciência Nerd

    Agradecimento especial ao Vitor Hugo de Oliveira (https://www.instagram.com/myfairy_king/), que nos presenteou com sua ilustração do cérebro jogando bola, e à Ciência Hoje, pela publicação do texto e pela parceria de sempre!


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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp.
    Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Da fatalidade epidemiológica à ferramenta de extermínio: a gestão necropolítica da pandemia

    Texto escrito por Leonardo Oliveira*

    O crescente número de infectados e mortos pelo novo Coronavírus (Sars-Cov-2) ao redor do mundo tem gerado preocupação e exigido a tomada de atitudes inéditas entre governos e cidadãos para frear a pandemia. As medidas de distanciamento social e isolamento recomendadas pela Organização Mundial da Saúde, até então o meio mais eficaz de diminuir o ritmo de disseminação da doença e amenizar o iminente colapso dos sistemas de saúde, têm causado mudanças drásticas nos hábitos e comportamentos da população. O esforço dos agentes públicos e da mídia para efetivar o isolamento não tem surtido o efeito desejado (SÃO PAULO, 2020). Cultivando o desejo de retorno a uma normalidade cotidiana potencialmente mortal, ainda é possível verificar aglomerações e ruas com intensa circulação de pessoas, mesmo com a suspensão de todos os eventos e reuniões públicas e interrupção dos serviços não essenciais. Uma realidade alarmante diante da célere escalada da curva de infecções no Brasil.

    A campanha “#FicaEmCasa” tem buscado conscientizar a população sobre a importância de sair às ruas apenas para as atividades estritamente necessárias e o respeito ao isolamento como uma atitude cidadã. Entretanto, como irão aderir à campanha aqueles que não possuem uma casa?

    Somente em São Paulo, epicentro da epidemia no Brasil, são mais de 24 mil pessoas vivendo nas ruas em situação insalubre e vulnerável, segundo dados da própria prefeitura (SÃO PAULO, 2020). Como poderão evitar aglomerações pessoas que vivem em uma favela como Paraisópolis, que ostenta a maior densidade populacional do país? (EBC, 2016). Isso, claro, sem contar a carência de tratamento do esgoto e fornecimento de água, numa situação onde o vírus pode ser transmissível pelas fezes (TORMENTE, 2020) e a lavagem das mãos em água corrente é a forma mais eficaz de evitar o contágio. E o que dizer dos mais de 770 mil presos que compõem população prisional nas penitenciárias brasileiras superlotadas? (BRASIL, 2020). Um prato cheio para o vírus e uma bomba relógio para a sociedade. A situação de rua, a favelização e o encarceramento constituem ‘mundos de morte’ (MBEMBE, 2018), espaços de concentração de um determinadas parcelas populacionais sujeitas à uma situação de sobrevida, ao estatuto de mortos-vivos. Lugares submetidos ao império da necropolítica (MOREIRA, 2019). 

    Enquanto o vírus se alastra pelo território nacional, o atual mandatário da Presidência da República tem cultivado crises institucionais entre os poderes e dentro do próprio governo. Em entrevistas, ao comentar sobre a mortandade causada pela pandemia, Bolsonaro declarou: “Alguns vão morrer? Vão morrer. Lamento, é a vida”; “Brasileiro precisa ser estudado, pula no esgoto e nada acontece” e “E daí? Lamento. Quer que eu faça o que? Sou Messias mas não faço milagre”. Estas e tantas outras falas de flagrante descaso com a saúde e com a vida da da população se alinham sob a ordem necropolítica.

    O termo necropolítica, cunhado pelo filósofo camaronês Achille Mbembe (2018), visa elucidar como a regimentalização do poder de matar nas sociedades modernas funciona como uma política de controle social. A distribuição desigual das oportunidade de vida e de morte que são base do modelo capitalista de produção impõe uma hierarquia em que uns valem mais que outros e aqueles que não têm valor são simplesmente descartados. Trata-se de uma radicalização e reinterpretação da biopolítica de Foucault, em que a administração da vida divide espaço com a dministração da morte (ESTÉVEZ, 2018).

    Segundo Valencia (2010) quando a morte, mais do que a vida, se encontra no centro da biopolítica ela se converte em necropolítica. Através de estratégias de exploração e destruição de corpos como a execução, o feminicídio, a escravidão, o sequestro, o tráfico de pessoas, o encarceramento; práticas legitimadas por dispositivos jurídico-administrativos, são ordenados e sistematizados os efeitos, as causas e as justificativas das políticas de morte. O poder atua para a manutenção do sujeito vivo, mas em estado de marginalização aguda, injúria e intensa crueldade, implementando uma forma de morte em vida até que se alcance a morte de fato.

    Mbembe parte do pressuposto de que a expressão máxima do poder soberano consiste em deixar viver, matar ou expor à morte. A partir do momento em que a soberania escolhe quem vive e quem morre, o próprio viver se torna uma manifestação do poder soberano (MBEMBE, 2003).

    E no Brasil?

    No Brasil a necropolítica não é algo inusitado, nem recém inaugurado. Na verdade não existe história do Brasil apartada das políticas de morte. Estamos falando do país com a polícia que mais mata e mais morre no mundo (CÂMARA, 2019). Estamos falando do país que lidera o ranking mundial de homicídios em números absolutos (UNODC, 2019). Estamos falando do país que registra o maior número de linchamentos no mundo (MARTINS, 2015). Estamos falando do país que mais mata LGBTs no mundo (GGB, 2018). Estamos falando de um país em que a legislação contra a violência doméstica, uma conquista histórica, faz diminuir os casos de morte entre mulheres brancas e disparar os casos de feminicídios das mulheres negras (IPEA, 2018). Este cenário não surgiu de forma mágica ou repentina.

    Estamos falando de uma nação inaugurada pelo genocídio dos povos originários, sustentada por séculos à base da mão de obra escravizada. Um território colonizado e arquitetado por um patriarcado conservador latifundiário e aristocrata (SADER, 2011). Não houve, nem haverá no curto prazo, um dia em que, neste país, não esteja em curso um plano de genocídio, extermínio, marginalização, encarceramento, subjugação de algum ou de vários segmentos da sociedade. Sejam índios, negros, mulheres, travestis ou comunistas. O discurso do inimigo interno é parte estruturante da necropolítica de “segurança” nacional (MENDONÇA, 2015). 

    Quando, em um país com estas características, chegam ao poder políticos que em meio a manifestações, negam a ciência e a importância dos setores públicos na promoção da equidade social, a partir de dados técnicos, científicos e sociais, torna-se notória a iminência da catástrofe. Um exemplo do caráter funesto que revestiu a política nacional, coadunando com vários setores e grupos sociais, pode ser observado na popularidade do fetiche punitivista: bandido bom é bandido morto (PRADO, 2020).

    Ao traçar como objetivo político a aniquilação daqueles classificados como inimigos, a imposição da soberania se dá pelo exercício do poder de matar, como ocorre em um contexto de guerra.  Está em andamento uma investida deliberada de necroempoderamento visando a institucionalização da necropolítica como estratégia de poder consolidada no senso comum. Trata-se de um esforço de deformação da moralidade para a difusão, naturalização, aperfeiçoamento e perpetuação da necrofilia como pressuposto de um projeto nacional.

    No escopo deste projeto, o Estado não monopoliza a soberania, mas disputa o poder com entidades privadas necroempoderadas, como as milícias e as facções que funcionam como um estado paralelo, controlando a população, o território, a segurança e a política; se apropriando criminalmente dos elementos fundamentais da governamentalidade, administrando a vida e a morte para exploração de recursos e obtenção de lucro nas lacunas e nos limites do poder Estatal (VALENCIA, 2010; ESTÉVEZ, 2018).

    A Necropolítica e a COVID-19: algumas considerações

    Embora os aspectos sanitários e econômicos tenham tomado a centralidade na pauta da pandemia, outras questões de cunho político, social e cultural estão imbricadas nesta crise sem precedentes. Certamente sequelas e traumas próprios da nossa realidade nacional irão impor singularidades sobre a manifestação da Covid-19. Considerando a capacidade de atendimento hospitalar do país, o pico agudo de infectados e o colapso dos sistemas de saúde, questionamos: quem morrerá com falta de ar e quem continuará respirando? Quantos milhares de pessoas irão morrer? Quem serão estes mortos, suas classes, cores, idades e identidades? Como estes corpos adoecidos estão sendo inscritos na ordem do poder?

    Quando governantes explicitam que não é preocupação política central garantir que cada cidadão tenha condições de continuar respirando, estão assumindo a responsabilidade de escolher quem vai ter a chance de lutar pela vida entubado num leito de UTI e quem vai ser lançado à própria sorte até o último suspiro. Esta gestão da morte deixa cristalino o funcionamento da necropolítica, pois nem todos são afetados da mesma forma.

    Se o último grau de expressão do poder político soberano consiste em determinar quem pode viver e quem deve morrer, porquê e como, no Brasil desde sua fundação, à luz de sua história, fica nítido quem são os corpos selecionados para viver e quem são os corpos selecionados para sobreviver antes de morrer. Esta noção continua válida e certamente será acentuada nesta situação de crise, convertendo o que seria tão somente uma fatalidade epidemiológica em uma ferramenta de extermínio. 

    Se até então a escolha sobre quem vive ou quem morre era exclusividade do poder soberano, a pandemia transformou este cenário. Segundo Mbembe, a Covid-19 democratizou o poder de matar (BERCITO, 2020). Qualquer pessoa que tenha contraído o vírus, potencialmente mortal, tem condições de transmiti-lo inconsciente ou deliberadamente. Todos temos, neste contexto, o poder de matar. O isolamento e distanciamento social seriam, portanto, uma forma de regular este poder. Analisando através deste prisma, as manifestações Brasil afora que reivindicam o fim do isolamento pretendem justamente a revogação da regulação deste poder de matar.

    Enquanto é amplamente reconhecia a possibilidade de diminuição da letalidade da doença através do isolamento e do distanciamento, estes grupos reacionários querem justamente o oposto: usufruir do direito de usar o próprio corpo como arma biológica, fazem questão de assumir o papel de vetores genocidas. Agentes voluntários da perversa administração necropolítica da pandemia.

    Ainda não é possível estimar a dimensão dos impactos que esta pandemia irá causar no mundo moderno capitalista globalizado e financeirizado. Mas é certo que este lúgubre evento abre uma janela de possibilidades para a introdução de pautas que contribuam para a redução da desigualdade, proteção e seguridade social. A emergência de uma doença que afeta mais severamente os pobres e os idosos evidencia que o envelhecimento e a pauperização da população não se resolvem com reforma da previdência, mas com fortalecimento dos sistemas públicos de saúde, assistência e seguridade.

    Mais do que nunca o SUS demonstra sua importância e reivindica a urgência de financiamento massivo. O subfinanciamento e sucateamento para o desmonte da saúde pública que estava a todo vapor encontra um enorme obstáculo e o fortalecimento do SUS deve assumir a centralidade na pauta progressista e no senso comum.

    Além disso, ideias como a renda básica universal, a taxação de grandes fortunas, auditoria cidadã ou moratória da dívida pública, reforma tributária progressiva, que anteriormente eram tidas como pautas da esquerda, passam a ser consideradas medidas necessárias até por setores liberais. Dinheiro não é problema para a oitava economia mundial, mas as prioridades precisam ser revistas. Nunca foi razoável e agora é ainda mais absurdo escoar uma fatia gigantesca do orçamento da união na amortização de uma dívida nada transparente enquanto o povo perece.

    Certamente iremos resistir e superar este doloroso teste de resiliência. Até lá nos resta cultivar a biofilia (FROMM, 1996): nos cuidar, cuidar de quem a gente ama e nos fortalecermos enquanto sociedade, para que a normalidade inaugurada pós pandemia seja melhor que normalidade por ela encerrada.

    Para saber mais

    BRASIL. Governo do. Dados sobre população carcerária do Brasil são atualizados. Segurança, 2020. Disponível em: <https://www.gov.br/pt-br/noticias/justica-e-seguranca/2020/02/dados-sobre-populacao-carceraria-do-brasil-sao-atualizados>

    BERCITO, Diogo. Pandemia democratizou o poder de matar, diz autor da teoria da ‘necropolítica’. Folha de São Paulo, 2020. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/03/pandemia-democratizou-poder-de-matar-diz-autor-da-teoria-da-necropolitica.shtml>

    CÂMARA, Olga. Polícia brasileira: a que mais mata e a que mais morre. Jus, 2019.

    EBC, Agência Brasil. IBGE divulga Grade Estatística e Atlas Digital do Brasil. Economia, 2016. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2016-03/ibge-divulga-grade-estatistica-e-atlas-digital-do-brasil>

    ESTÉVEZ, Ariadna. Biopolítica y necropolítica:¿ constitutivos u opuestos?. Espiral (Guadalajara), v. 25, n. 73, p. 9-43, 2018.

    FROMM, Erich. Ética e psicanálise. Minotauro, 1996.

    GGB. Grupo Gay da Bahia. Mortes violentas de LGBT+ no Brasil: Relatório 2018. Bahia, 2018. Disponível em: <https://grupogaydabahia.files.wordpress.com/2019/01/relatório-de-crimes-contra-lgbt-brasil-2018-grupo-gay-da-bahia.pdf>

    IPEA, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Atlas da Violência 2018. Disponível em: <www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatorio_institucional/180604_atlas_da_violencia_2018.pdf>

    MARTINS, José de Souza. Linchamentos: a justiça popular no Brasil. Editora Contexto, 2015.

    MBEMBE, Achille. Necropolítica.. 3. ed., São Paulo, 2018.

    MBEMBE, Achille; MEINTJES, Libby. Necropolitics. Public culture, v. 15, n. 1, p. 11-40, 2003.

    MENDONÇA, Thaiane. Política de segurança nacional e a construção do conceito de “inimigo interno” no Brasil. UFRGS, Porto Alegre, 2015. Disponível em: <https://www.ufrgs.br/sicp/wp-content/uploads/2015/09/Thailane-Mendonça_Política-de-segurança-e-a-construção-do-conceito-de-inimigo-interno-no-Brasil-Thaiane-Mendonça.pdf>

    MOREIRA, Rômulo Andrade. A Necropolítica e o Brasil de ontem e de hoje. Justificando, 2019. Disponível em: <https://www.justificando.com/2019/01/08/a-necropolitica-e-o-brasil-de-ontem-e-de-hoje/>

    PRADO, Monique Rodrigues do. O fetiche punitivista: bandido bom é bandido morto? Âmbito Jurídico, 2020. Disponível em: <https://ambitojuridico.com.br/noticias/o-fetiche-punitivista-bandido-bom-e-bandido-morto/>

    SADER, Emir. O Maior massacre da história da humanidade. Disponível em: <https://www.viomundo.com.br/voce-escreve/emir-sader-o-maior-massacre-da-historia-da-humanidade.html>

    SÃO PAULO, Governo do Estado de. Isolamento social em SP é de 49%, aponta Sistema de Monitoramento Inteligente. Portal do Governo, 2020. Disponível em <https://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/isolamento-social-em-sp-e-de-49-aponta-sistema-de-monitoramento-inteligente/>

    SÃO PAULO, Prefeitura de. Prefeitura de São Paulo divulga Censo da População em Situação de Rua 2019. Secretaria Especial de Comunicação, 2020. Disponível em: <http://www.capital.sp.gov.br/noticia/prefeitura-de-sao-paulo-divulga-censo-da-populacao-em-situacao-de-rua-2019>

    TORMENTE, Fabiana Vieira. O vírus da Covid-19 pode ser transmitido através das fezes? Microbiologando. UFRGS, 2020. Disponível em: <https://www.ufrgs.br/microbiologando/o-virus-da-covid-19-pode-ser-transmitido-atraves-das-fezes/>

    UNODC. Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime. Estudo Global sobre Homicídios, 2019. disponível em: <https://dataunodc.un.org/GSH_app>VALENCIA, Sayak. Capitalismo Gore. 2010.

    Sobre o autor

    Leonardo Oliveira é Biólogo, professor de Biologia e mestrando em Ensino de Ciências e Matemática (UNICAMP).


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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • “Quando fecho a porta da minha casa, me sinto mal acompanhado”: impactos da pandemia e do isolamento social na saúde mental

    Texto produzido por Débora Bicudo de Faria Schützer* e Lia Keuchguerian Silveira Campos**

    A necessidade de isolamento social a fim de controlar a transmissão da COVID-19, preconizada pela OMS traz impactos significativos à saúde mental da população em todo o mundo (1). O isolamento é a única ferramenta possível na atualidade para controlar a nova doença, entretanto, sabe-se que ele pode aumentar a incidência de crises psicológicas (2). No Brasil, temos enfrentado um cenário de contradições e de conflitos políticos que acentuam os efeitos psicossociais negativos dessa condição (3). Dessa forma, angustiados e isolados, temos que nos haver com nossos conteúdos psíquicos e questões psicológicas preexistentes.

    Em curto período de tempo, as rotinas foram alteradas. Não podemos ir ao local de trabalho ou de estudo, não temos mais confraternizações com os amigos e até os que estão padecendo da doença encontram-se isolados da família. Essa nova realidade, apesar de sabermos que é momentânea, nos traz muitas incertezas e inseguranças. A sensação atual, como disse Minerbo (4), é a de que “estamos sem chão”. O trabalho mental de que perdemos algo da nossa vida que nos parecia tão seguro e conhecido nos coloca em um terreno psíquico árido, de luto, de ansiedade e de medo.

    Sabemos que o impacto emocional diante do potencial de contaminação pelo vírus, com seu consequente aumento da mortalidade, juntamente com o isolamento social, causa ansiedade em todos os seres humanos, independentemente da idade e de pertencer ou não a um grupo de risco. Entretanto, estudos indicam que sobretudo pessoas com algum comprometimento em saúde mental, idosos, profissionais de saúde e acometidos pela COVID-19 merecem mais atenção nesse momento (5,6).

    Pacientes com confirmação do diagnóstico de COVID-19, assim como os com suspeita, experienciam além dos sintomas físicos que já aumentam a ansiedade também o medo da morte, a culpa devido ao potencial de contágio e sofrem pelo estigma frente a sua família e seus amigos. A quarentena provoca sentimento de vazio, de solidão e até de mesmo raiva (2).

    Importante salientarmos o fato de que este momento de privações diversas no qual estamos envolvidos pode potencializar questões emocionais preexistentes e assim temos a experiência de estarmos “mal acompanhados com nós mesmos” em relação aos nossos recursos internos para lidar com essas questões. Todos somos colocados à prova de nossas capacidades mentais no que se refere à resiliência, à criatividade e à capacidade de lidar com frustração e perdas. Sem contar com o medo da morte ao qual somos expostos quando estamos falando de uma condição de saúde pouco conhecida, uma doença sem vacina, sem remédio e que vem sobrecarregando sistemas de saúde no mundo todo.

    Dessa forma, é preciso estabelecer redes de apoio e diversas maneiras de manter conexão com outras pessoas por meio das mídias eletrônicas. Embora, essas mídias também devam ser utilizadas com cautela já que podem representar uma grande fonte de informações falsas que aumentam o estresse, além das atualizações constantes em relação a número de mortos e de contaminados (6).

    Toda essa angústia à qual estamos sendo expostos gera a necessidade de um rearranjo que exige de nós um trabalho mental exaustivo, que afeta nosso cotidiano de diversas maneiras, inclusive influenciando na qualidade de vida. Assim como o corpo aciona seu sistema de defesa diante de uma ameaça, a mente também tenta se defender frente a uma nova situação. Nesse momento, utilizamos mecanismos de defesas variados, que dependem das nossas condições emocionais preexistentes e se tornam evidentes no modo como nos comportamos. Resultados de investigações em epidemias anteriores (5) demonstraram que os comportamentos relacionados à ansiedade desempenham um papel importante já no curso de uma epidemia, pois comportamentos inadequados devido ao aumento do estresse e da ansiedade psicológicos prejudicam a implementação de estratégias e de medidas de tratamento além de contribuírem para uma maior disseminação da pandemia.

    Percebemos que o mecanismo de defesa mais prejudicial à sociedade vem sendo a negação da realidade. Entende-se que a apreensão da realidade está ligada à compreensão dos mecanismos que organizam a lógica social vigente para valorização da saúde e da vida, como por exemplo o que é comprovado cientificamente e o consenso das principais autoridades de saúde. O indivíduo que nega essa realidade não coloca em risco apenas a sua própria saúde, mas a da população em geral. Resistente em cumprir com a necessidade de quarentena, acaba por expor também seu círculo social mais íntimo. A negação está ligada a um pensamento mágico e a uma incapacidade de esperar e de tolerar frustração.

    Essa questão também foi abordada por Kübler-Ross (7), quando a autora incluiu a Negação como o primeiro estágio vivenciado pelos seres humanos em um processo de luto, seguido pelos períodos de Raiva, Negociação, Depressão e Aceitação. Recentemente Weiss (8) publicou um artigo sobre a importância dessas fases de luto para compreendermos nossas emoções durante a pandemia. O autor considera que a Negação no momento atual pode ser expressa por meio de enunciados como “Essa coisa toda é tão exagerada. Que circo da mídia. As pessoas contraem a gripe todos os anos e quase ninguém morre. Eu não sou do grupo de risco então ficarei bem”. Para o autor, na fase da Raiva podem surgir questionamentos como “Isso é tudo culpa da China. Se eles tivessem colocado em quarentena mais cedo, não estaríamos tendo esse problema”. Durante a fase de Negociação, Weiss sugere que o indivíduo pode pensar “não haver problema em passar tempo com outras pessoas, desde que elas lavem as mãos antes de me verem”. Na fase da Depressão, a pessoa poderia ter pensamentos como “Não posso trabalhar, não posso ganhar dinheiro. Em breve, estarei sem dinheiro e sem teto. Essa epidemia é o novo normal. Eu posso dizer adeus às minhas esperanças e sonhos. Eu sou de alto risco e provavelmente vou morrer”. Já na fase de Aceitação podem aparecer ideias como “Não consigo controlar a pandemia, mas posso fazer minha parte isolando-me em casa, lavando as mãos e mantendo-me positivo. O fato de não poder sair de casa não significa que minha vida tenha que parar. Posso trabalhar em casa e ainda posso me conectar com meus amigos e familiares via telefone e internet”. É importante alertar que essas fases são fluídas e não ocorrem necessariamente nessa ordem.

    Em relação às crianças (9), os reflexos do isolamento apresentam traços delicados com o prolongamento do fechamento das escolas e com o confinamento em casa que pode trazer efeitos negativos para saúde física e mental, assim como identificamos nos adultos. Com redução da atividade física, aumento da exposição a telas, padrões irregulares de sono e mudanças na sua rotina alimentar, o resultado é de ganho de peso, aumento da ansiedade e até mesmo de comportamentos agressivos. Além disso, tendo elas sido privadas do contato social com outras crianças, assim como do contato direto com professores, e estando expostas à educação a distância sem fundamentação teórica suficiente para embasamento pedagógico das escolas brasileiras, vemos acentuar quadros de ansiedade, de déficit de atenção, de hiperatividade, além de fobias e de quadros psicossomáticos.

    Em relação aos adolescentes e jovens, a atenção e o cuidado também se tornam importantes. Essa população está em plena fase de socialização e de construção da identidade com relativa independência dos pais e estão se vendo obrigados a ficar confinados, em alguns casos, justamente com eles (10). Diante disso, muitos conflitos internos também podem surgir, é preciso ouvi-los, respeitar sua individualidade e compreender com sinceridade que não é fácil para eles também. É muito importante manter a preocupação de não os sobrecarregar com demandas escolares e de “produtividade”, desconsiderando que estão enfrentando medos em relação a serem infectados ou a perderem pessoas queridas, além de estarem frustrados em relação às privações de contato social, com pouco espaço em casa e até mesmo preocupados com perdas financeiras que possam haver nesse quadro socioeconômico resultante da quarentena (9).

    Entendemos que a educação a distância pode ser uma ferramenta interessante para o enfrentamento da situação atual, mantendo o vínculo com a instituição educacional e com o conhecimento. Destacamos, no entanto, que há a necessidade de uma adequação ao contexto histórico, social e econômico em que estamos vivendo, considerando que o excesso pode resultar em sobrecarga emocional e ser prejudicial, causando um efeito contrário no processo de aprendizagem.

    De qualquer forma, estamos todos sendo confrontados pela pandemia do coronavírus. É um chumbo grande sobretudo em relação à saúde mental. Além do isolamento e da sensação de solidão, ainda somos obrigados a lidar com o medo e a constante reflexão sobre a própria saúde, a saúde da família e dos amigos. Minerbo (4) nos alerta que estamos vivendo um momento de incerteza que nos desafia a dar o próximo passo “no vazio”.

    Claro que a ciência e os pactos sociais nos colocam também em um outro patamar de possibilidades e de direcionamento. Mas isso nem sempre parece alcançar a todos e uma questão importante nesse processo está ligada à saúde mental: “quanto posso me colocar no lugar do outro, me solidarizar? ” Dessa forma, entendemos que o momento também pede que possamos tirar proveito de um mal negócio, e transformarmos algumas atitudes para contribuirmos com um melhor desfecho para essa pandemia. Há a importância de se poder fazer parte desse pacto social e de se responsabilizar pela situação da disseminação dessa doença, assim como de controlar de certa maneira os impactos que o difícil, mas necessário, isolamento social nos impõe.

    Nesse cenário muitas vezes é importante reconhecer o momento de procurar uma ajuda profissional para si mesmo ou para algum conhecido. Vimos aqui a importância da psicoterapia, que nesse enquadre está sendo até mais acessível diante da possibilidade de teleatendimento. Além disso, é oportuno investir nas relações, nas trocas afetivas, na comunicação aberta com as pessoas ao nosso redor, amigos, familiares, idosos, pessoas que moram sozinhas. O momento é de envolver-se com as necessidades emocionais, num esforço para aceitar diferenças e conhecer a própria individualidade e a do outro, abrindo um espaço para relacionamentos genuínos que só serão possíveis se estivermos bem com nós mesmos e com a sensação de que, ao fecharmos a porta de casa, possamos encontrar acolhimento interno durante essa experiência de vida tão difícil à qual fomos submetidos.

    Para Saber mais
    1. World Health Organization. Mental health and COVID-19, 2020. http:// www.euro.who.int/en/health-topics/health-emergencies/coronaviruscovid-19/novel-coronavirus-2019-ncov-technical-guidance/ coronavirus-disease-covid-19-outbreak-technical-guidance-europe/ mental-health-and-covid-19
    2. Xiang, Y.T., Yang, Y., Li, W., Zhang, L., Zhang, Q., Cheung, T., Ng, C. (2020). Timely mental health care for the 2019 novel corona vírus outbreak is urgently needed. Lancet. Psychiatry 7, 228–229. https://doi.org/ 10.1016/S2215-0366(20)30046-8.
    3. Editorial Lancet (2020), Covid-19 in Brazil: “So what?” Lancet 395(10235):1461. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)31095-3
    4. Minerbo, Marion. Isolamento para você qual e a pior parte 2020. Disponível em: https://loucurascotidianas.wordpress.com/2020/04/17/isolamento-para-voce-qual-e-a-pior-parte/
    5. Hahad, O., Gilan, D. A., Daiber, A., & Münzel, T. (2020). Bevölkerungsbezogene psychische Gesundheit als Schlüsselfaktor im Umgang mit COVID-19. Das Gesundheitswesen. doi:10.1055/a-1160-5770
    6. Sood S. (2020). Psychological effects of the Coronavirus disease-2019 pandemic. RHiME 7:23-6.
    7. Kübler-Ross, E., & Kessler, D. (2005). On grief and grieving: Finding the meaning of grief through the five stages of loss. New York; Toronto: Scribner.
    8. Weiss, R. (2020). COVID-19 and the Grief Process. What happens to our differences when our experience is shared? https://www.psychologytoday.com/us/blog/love-and-sex-in-the-digital-age/202003/covid-19-and-the-grief-process
    9. Wang, G., Zhang, Y., Zhao, J., Zhang, J., Jiang, F. (2020) Mitigate the effects of home confinement on children during the COVID-19 outbreak. Lancet 21;395(10228):945-947. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)30547-X
    10. Preto, M. O. Os Adolescentes na Pandemia. In: http://www.fepal.org/os-adolescentes-na-pandemia/


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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • O problema da ação coletiva para o enfrentamento da Covid-19 no Amazonas

    Francisco Alcicley Vasconcelos Andrade

    Este artigo tem como objetivo de estabelecer conexões entre a teoria da Ação Coletiva e a crise pandêmica do novo coronavirus e as soluções propostas por Ostrom (1990). Como já é divulgado pela imprensa, o Estado do Amazonas é o epicentro da pandemia do novo coronavírus na Região Norte do Brasil. Dentre muitos outros fatores, o problema da Ação Coletiva discutida por Olson (1965) e Ostrom (1990) torna-se o foco deste artigo.

    Olson (1965) descreve que, o alinhamento de interesses em uma ação coletiva não está na equivalência do interesse próprio da pessoa, mas sim, no fato de que os indivíduos têm necessidades em comum e que, somente podem atingir satisfatoriamente os objetivos propostos por meio de ações em conjunto. Contextualizando com a pandemia atual do novo coronavírus, percebe-se que o achatamento da curva de contaminação ocorrerá com a colaboração de todos, por meio de atitudes como o isolamento social, a higienização pessoal e das residências, o uso de máscaras e a solidariedade para com o próximo. A concepção de Ação Coletiva reside na colaboração mútua, solidariedade e empatia pelo próximo.

    Com todas essas orientações propagadas pela mídia, o isolamento social manteve-se baixo e, em contrapartida, os casos de coronavírus começaram a aumentar vertiginosamente, alcançando, inclusive, áreas indígenas de municípios do sul do Amazonas e, tão logo, a cidade de Manaus entrou em colapso funerário e de saúde, visto que os casos graves são deslocados para a capital por meio de UTI aérea, sendo apenas três aviões equipados para atenderem 61 municípios do interior do Estado. Além disso, o transporte de suspeitos e/ ou enfermos das comunidades rurais para os centros urbanos dar-se-ão via embarcações com motores ‘rabeta’ e de ‘ambulanchas’, dada as especificidades geográficas da região amazônica.

    Como proposta de solução para redução de casos confirmados, o governo decretou o fechamento de serviços não-essenciais e de fronteiras internacionais e interestaduais sob pena de multa e prisão, com o objetivo de evitar aglomerações e contaminações. Essa questão é discutida por Ostrom (1990) ao afirmar que as instituições são importantes mecanismos para resolução do problema da Ação Coletiva. As instituições, de acordo com North (1991), são as restrições (regras) criadas pela humanidade para estruturar as interações humanas, e atuam como mecanismos para reduzir a incerteza em ambientes e cenários complexos e incertos, como é o caso da pandemia do novo coronavirus.

    A adoção dessas instituições são capazes de gerar mudanças institucionais em dois grandes grupos, segundo North (1991): o primeiro grupo refere-se aos países flexíveis às mudanças institucionais e que se anteciparam em adotar medidas restritivas de circulações de pessoas, como foi o caso da Costa Rica, Índia e Portugal; e o segundo grupo diz respeito aos países conservadores e que adotaram tardiamente as regras de isolamentos sociais, como Itália, Espanha e Estados Unidos. Infelizmente, o Brasil e, especificamente o Estado do Amazonas, enquadram-se neste último grupo, em que criaram os primeiros comitês de enfrentamento ao novo coronavirus para definição dessas restrições e ações de combate à pandemia após dezenas de vítimas fatais.

    Sobre os diversos comitês de estratégias de enfrentamento ao Covid-19 criados em diferentes esferas, Olson (1965) discute sobre o tamanho desses grupos. Contextualizando, o autor afirma que, quanto maior e mais diversificado esses grupos (comitês), dotados de pensamentos e posições heterogêneas, mais difícil para se constituir estratégias efetivas para combater o Covid-19, pois a complexidade dos comitês aumenta conforme a inclusão de novos integrantes. Ao contrário que, em comitês menores, a tomada de decisões é mais célere e direcionada.

    Em linhas gerais, Orenstein (1998) corrobora com Olson (1965) pois, defende que comitês menores possuem membros mais atuantes e que os comitês maiores são mais susceptíveis a não atingirem seus objetivos, desestimulando o indivíduo, e que a ausência de um integrante não apresenta grande impacto sobre o resultado, como geralmente ocorre em grupos pequenos.

    Nessa perspectiva, espera-se que durante essa pandemia, possamos fortalecer a Ação Coletiva sob as premissas da colaboração, solidariedade e que nos tornamos mais humanos e que nossos representantes políticos sejam mais efetivos na adoção de instituições mais rígidas e que sejam fiscalizadas a contento. A humanidade está ultrapassando um momento delicado, mas que é necessário a união de todos, mesmo que isolados, para conter essa crise pandêmica.

    REFERÊNCIAS

    NORTH, Douglas. Institutions, institutional change and economic performance. The Journal of Economic Perspectives, Vol. 5, No. 1. (Winter, 1991).

    OLSON, Mancur. A lógica da ação coletiva. São Paulo, Edusp, 1965.

    ORENSTEIN, Luiz. A estratégia da ação coletiva. Rio de Janeiro, 1998. OSTROM, Elinor. Governing the Commons: the evolution of institutions for collective action. UK, Cambridge University Press, 1990.

  • Alimentação em tempos de Isolamento Social

    Em época de pandemia de Covid-19 e isolamento social, a rotina pessoal, profissional e familiar de muitas pessoas tem se modificado. A mudança de rotina altera o comportamento e o hábito alimentar que também são influenciados pelo estado de saúde mental e emocional.

    Pesquisas mostram que a ansiedade e o estresse podem provocar o aumento da ingestão calórica e do ganho de peso em curto prazo devido ao alto consumo de alimentos ricos em carboidratos e gorduras.

    Nesse contexto atual, além do isolamento social, ouvir ou ler continuamente sobre a pandemia aumentam o nível de ansiedade e estresse.

    Isso pode levar as pessoas a comerem em maior quantidade e a buscarem alimentos chamados “comfort food”. Esses “alimentos que confortam” são aqueles que remetem a memória afetiva e que causam prazer e bem estar.

    O consumo de tais alimentos – muitas vezes ricos em carboidratos/açúcares (como doces, chocolates, bolos e tortas, por exemplo) – estimula a produção de serotonina que, por sua vez, tem um efeito positivo no humor e na redução momentânea do estresse e no aumento do bem estar mental.

    Esse comportamento chamado de “comer emocional” é influenciado diretamente pelo estresse e pela ansiedade.

    Por isso, é importante reconhecer a presença excessiva dessas emoções e perceber se estão influenciando o comportamento alimentar. Seja pelo aumento do consumo de doces, massas e pães, por exemplo, ou pelo aumento da quantidade de alimentos e bebidas consumidos no dia-a-dia.

    Uma orientação prática para cuidar da alimentação em tempos de isolamento/distanciamento social é criar estratégias de planejamento alimentar.

    PLANEJAMENTO ALIMENTAR

    O primeiro passo é planejar a alimentação (diária/semanal/mensal). A partir desse planejamento fazer a lista de compras;

    Manter a dispensa e geladeira organizadas para saber o que tem e evitar o desperdício de alimentos;

    Estabelecer horário para as refeições como café da manhã, almoço, jantar e lanches intermediários, evitando “pular” refeições e “beliscar” durante o dia e à noite;

    Ter uma alimentação variada composta, de uma forma geral, por cereais integrais, leguminosas, oleaginosas, frutas, verduras e legumes, carnes, frangos, ovos e peixes, leites e derivados.  (Lembrando que pessoas que tenham alguma alergia/ intolerância alimentar ou indivíduos vegetarianos/veganos precisam ter um planejamento alimentar específico).

    Priorizar alimentos in natura como frutas, verduras e legumes;

    Utilizar ervas aromáticas e especiarias para cozinhar;

    Experimentar algum alimento novo que não tenha o hábito de comer;

    Valorizar alimentos regionais, produtores locais e pequenos comércios;

    Cozinhar mais, aprender novas receitas e aproveitar esse momento de isolamento para cultivar novos hábitos alimentares.

    ATITUDES ALIMENTARES POSITIVAS

    Além do planejamento alimentar, é importante adotar atitudes alimentares positivas para desacelerar a mente e comer com atenção plena.

    Nesse sentido, seguem algumas orientações para serem usadas antes e durante as refeições:

    • Perceba e acolha suas emoções e sentimentos antes das refeições. Se estiver muito ansioso, pare e respire lenta e profundamente para então começar a comer (use técnicas de respiração e meditação);

    • Desconecte-se da TV, computador, celular e redes socias no momento das refeições;

    • Coma com atenção plena (mindful eating) e concentre-se no ato de se alimentar. Sente-se para comer e apenas coma, não faça outras atividades ao mesmo tempo.

    • Feche os olhos e observe o aroma, a temperatura, a textura e o sabor dos alimentos, e coma sem culpa;

    • Mastigue lentamente os alimentos. Apoie os talheres na mesa entre as garfadas, fazendo uma leve pausa no momento das refeições. Uma outra forma de comer mais devagar é tentar comer com a mão não dominante;

    • Perceba os sinais de fome e saciedade para evitar comer em excesso.

    Por fim, manter uma alimentação equilibrada em nutrientes e em quantidade de alimentos, além do planejamento das refeições associado a atitudes alimentares positivas são estratégias para combater os efeitos negativos do isolamento social na alimentação e na saúde.

    Referências: Guia Alimentar para População Brasileira, 2014. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf

    Santos, et al. Emotional eating is related to carbohydrate intake in active women. Motriz: rev. educ. fis. vol.22 no.4. 2016

    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.

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