Tag: máscara caseira

  • Quais máscaras deveríamos usar em ambientes fechados?

    A princípio a resposta é: use a máscara que tiveres condição de usar, desde que bem ajustada. Mas há, sim, uma enorme diferença entre diferentes máscaras em termos de proteção individual e coletiva.

    Pode parecer paradoxal, mas nem todas as máscaras protegem, exatamente, o indivíduo que está usando a máscara. Vamos separar aqui as máscaras em três tipos: máscaras de pano, máscaras cirúrgicas e máscaras do tipo PFF2.

    Máscaras de Pano

    Estas máscaras foram imensamente incentivadas no início da pandemia de COVID-19. Inicialmente a maior indicação eram máscaras de tecido de algodão, preferencialmente tricoline, em duas camadas. O elástico prendendo atrás das orelhas, ajustadas no rosto, sem folgas. Isto é: que fique confortável, mas que tenha o menor escape de ar possível. Atualmente a indicação é, se possível, este tipo de máscara apresentar 3 camadas, sendo a intermediária de TNT.

    As máscaras de pano foram imprescindíveis para uma proteção inicial, quando ainda estávamos com demandas altas em hospitais de máscaras melhores e sem condições de suprir estas demandas, com produções de fábrica. Neste sentido, as máscaras de pano, por serem de fabricação mais simples – inclusive caseiras – serviram como um paliativo fundamental.

    Todavia, elas têm um problema: não existe como testarmos em definitivo sua qualidade. Exatamente por serem de fabricação caseira ou não testada via órgãos reguladores como o Inmetro, embora elas sejam melhor do que nada, não temos como atestar com precisão o quanto elas filtram partículas.

    Mas então porque usá-las?

    Bom, as máscaras de pano funcionam fundamentalmente como barreiras físicas, quando espirramos ou tossimos. Deste modo, a maior proteção que as máscaras de pano oferecem não é exatamente para quem usa a máscara, mas para as pessoas que estão ao seu redor.

    No entanto, como elas também não oferecem uma grande vedação, mesmo sendo uma barreira física imediata (ao espirro, tosse, fala e respiração) ela ainda assim pode espalhar partículas, mesmo que diminuindo a quantidade. Por fim, a recomendação de trocar a cada 4 horas segue valendo.

    Máscaras Cirúrgicas

    As máscaras cirúrgicas são feitas de “tecido não-tecido” ou mais popularmente conhecido “TNT”. Elas possuem fabricação industrial e têm uma filtragem de partículas melhor do que as máscaras de pano. Além disso (e mais importante), as máscaras cirúrgicas devem ser produzidas segundo normas técnicas, o que assegura um mínimo de padronização. Este fator as torna mais seguras do que as máscaras de pano, uma vez que além de filtrar partículas, podemos aferir sua qualidade, com registro.

    No entanto, é importante ressaltar que as máscaras cirúrgicas não são consideradas Equipamento de Proteção Individual (EPI). Elas não constam na Norma Regulamentadora No. 6 (NR-6), que define quais são os Equipamentos de Proteção Individual no Brasil.

    As máscaras cirúrgicas podem ser consideradas como máscaras de proteção coletiva. Ou seja, quando bem ajustadas, elas também são barreiras físicas contra gotículas, fômites e aerossóis expelidos no ato de fala, respiração, tosse e espirro. Assim como as máscaras de pano, elas são fundamentais para diminuir a exposição das pessoas que estão próximas de quem está contaminado com COVID-19. Mesmo com o rigor da produção e uma maior capacidade de filtragem do que as máscaras de pano, todavia, ainda assim não se configuram como um equipamento que protege quem está usando o equipamento.

    Vale a pena usar as máscaras cirúrgicas?

    Sim! Um estudo realizado em Bangladesh com cerca de 350 mil pessoas demonstrou que usar máscaras cirúrgicas é efetivo, em relação ao uso de máscaras de pano. Segundo este estudo as máscaras cirúrgicas apontaram com uma queda de 11% no risco de contaminação, em comparação com uma queda de 5% para máscaras de tecido. Em contraste com máscaras de pano, que filtravam cerca de 37% de partículas, as máscaras cirúrgicas, no estudo, filtraram 76% das pequenas partículas capazes de transmissão aérea de SARS-CoV-2. O estudo é um pre-print, mas têm sido muito bem comentado em revistas de prestígio, como a Nature.

    Ainda assim, este artigo não avalia a diferença entre as máscaras cirúrgicas e os respiradores tipo PFF2.

    Outro estudo analisando a eficiência geral das máscaras cirúrgicas apontou que há redução da emissão de partículas com seu uso, mas dependendo da nossa ação (fala, tosse e espirro) essa eficiência têm redução significativa. Para falar, o escape de ar reduz a eficiência de cerca de 90% (em relação ao ar que passa pela máscara) para cerca de 70%. Se observada a tosse, a redução na eficiência do escape de ar é menor, diminuindo apenas de 94 a 90%. Os autores destacam que mesmo com esta perda, ao usar esta máscara temos um resultado muito melhor da redução de partículas no ar do que não usarmos máscara alguma.

    Mascaras do tipo PFF2

    As queridinhas dos últimos meses, que têm sido indicada constantemente como a máscara que nos protege, têm lá seus motivos para ter ganhado o status que ganhou na pandemia. PFF quer dizer Peça Facial Filtrante. Nós explicamos como funciona esta máscara nesta postagem aqui

    Qual a diferença entre estas máscaras e as citadas anteriormente? Bom, para começar, a PFF2 é a única considerada EPIs, dentre as três citadas neste texto. Isto quer dizer que ela consta na Norma Regulamentadora de Equipamento de Proteção Individual brasileira. Todavia, mais do que apenas constar nas normas, isto quer dizer que esta máscara tem como função proteger o indivíduo que está usando o equipamento. Ou seja, enquanto máscaras de pano e máscaras cirúrgicas protegem principalmente pessoas do entorno de quem está usando-as, a PFF2 protege as pessoas do entorno e a pessoa que usa a máscara.

    Por ser uma peça filtrante ela, literalmente, filtra partículas do ambiente. Como este equipamento tem uma regulamentação específica, ela também têm registro e análise certificada pelo Inmetro, o que nos dá a garantia de que ela efetivamente nos protege contra partículas muito pequenas – incluindo o vírus SARS-CoV-2.

    Ainda estás em dúvida e se perguntando:

    Que tipos de máscaras eu deveria usar no meu cotidiano?

    Vou lançar um spoiler: na dúvida, use PFF2 bem ajustada no rosto! 🙂

    Mas vamos com calma. Primeiramente, é importante compreender como o vírus se transmite e como ele permanece no ar. No texto “Como doenças de transmissão aérea como a COVID se espalham?” há explicações detalhadas sobre a transmissão aérea, que é a mais importante neste momento, se quisermos entender a importância das máscaras em nossa rotina.

    Além disso, também precisamos analisar como é nosso ambiente de trabalho. Se estamos em ambiente fechado, com mais pessoas, com longa permanência (horas), mesmo que tenhamos ventilação neste ambiente, o mais indicado seria máscaras PFF2. Exatamente por este equipamento ser filtrante e, em um espaço que o vírus pode permanecer mais tempo no ar, devido a aerossóis, por exemplo. Dessa forma, a PFF2 seria uma recomendação que traria mais segurança a todos. Há uma lei tramitando no legislativo federal que estipula que as PFF2 seriam obrigatórias para empresas fornecerem aos seus funcionários. Aguardamos ansiosamente por novidades neste sentido!

    Aliás, em ambientes abertos então tá liberado não usar máscara? Não! Se o teu serviço é em ambientes abertos, o uso de máscara ainda vai te acompanhar por um bom tempo. Neste caso, a PFF2 é também indicada, mas há quem diga que máscaras cirúrgicas já funcionam muito bem, uma vez que servem para nós não espalharmos o vírus diretamente nas pessoas. Como o ambiente é aberto, há dispersão dos aerossóis.

    Por fim…

    Nós temos produzido materiais sobre máscaras, EPIs, transmissão do vírus, em um anseio de que as pessoas não apenas tomem decisões mais conscientes, mas também percebam que seria fundamental termos tais equipamentos como parte da saúde pública. Ou seja, parte das políticas públicas brasileiras. Em especial, em tempos de retomada de todos os serviços, mesmo os que vêm funcionando em sistema remoto, que sejam feitos com segurança e priorizando a vida das pessoas.

    Quer saber mais sobre nossos materiais?

    Sobre aberturas, cautelas e políticas públicas

    Políticas Públicas em saúde: tecendo comentários

    A COVID-19 e a Sociedade: uso e cobrança de Equipamentos de Proteção Individuais

    Como funcionam as máscaras N95 / PFF2

    Como doenças de transmissão aérea como a COVID se espalham?

    Que medidas preventivas são necessárias neste momento contra a COVID-19 em nosso país?

    Testes para Covid-19: o Bom, o Mau e o Rápido

    Para Saber Mais

    Documentos oficiais

    BRASIL

    NR 6 – Norma Regulatória de Equipamento de Proteção Individual

    Norma Regulamentadora No. 6 (NR-6)

    RESOLUÇÃO – RDC Nº 448, DE 15 DE DEZEMBRO DE 2020

    Projeto de Lei 1054/21

    Ficha de Tramitação do Projeto de Lei 1054/21

    MINAS GERAIS

    Máscara de tecido, máscara cirúrgica e máscara N95: quando usá-las?

    Outras Referências

    ABALUCK, J (…) ZAMAN, R (2021) The Impact of Community Masking on COVID-19: A Cluster-Randomized Trial in Bangladesh

    ABHO (2020) O uso de máscaras cirúrgicas e máscaras descartáveis (PFF2) para impedir a propagação do Coronavírus

    ASADI, S, Cappa, CD, Barreda, S et al (2020) Efficacy of masks and face coverings in controlling outward aerosol particle emission from expiratory activities. Sci Rep 10, 15665 (2020). https://doi.org/10.1038/s41598-020-72798-7

    CAPPA, CD, ASADI, S, BARREDA, S et al (2021) Expiratory aerosol particle escape from surgical masks due to imperfect sealing. Sci Rep 11, 12110. 

    CHOW, Denise (2021) Largest study of masks yet details their importance in fighting Covid-19

    KOKUBUN, Fernando (2021) Muito além dos dois metros Rede Análise COVID-19

    PEEPLES, Lynnes (2021) Face masks for COVID pass their largest test yet

    PROMETAL (2020) Máscara cirúrgica é considerada EPI? Entenda!

    TORLONI, Maurício (2016) Programa de proteção respiratória: recomendações, seleção e uso de respiradores/coordenador técnico, Maurício Torloni; equipe técnica, Antonio Vladimir Vieira, José Damásio de Aquino, Sílvia Helena de Araujo Nicolai e Eduardo Algranti. – 4. ed. – São Paulo: Fundacentro, 2016.

    Este texto é original e escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os produziram-se textos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores. Além disso, os textos passaram por revisão revisado por pares da mesma área técnica-científica na Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Quem não vê cara não vê COVID-19?

    Primeiro, é importante ter em mente que ainda não temos evidências científicas de que as máscaras caseiras de pano são efetivas para proteger os indivíduos saudáveis contra a SARS-CoV-2. O mais importante é o mantra Uma mão lava a outra (com água e sabão), limpar as superfícies e o isolamento social (físico). 

    O Ministério da Saúde publicou em seu site a notícia Máscaras caseiras podem ajudar na prevenção contra o Coronavírus. Elas podem ou realmente ajudam? De acordo com o site:

    “Além de eficiente, é um equipamento simples, que não exige grande complexidade na sua produção e pode ser um grande aliado no combate à propagação do coronavírus no Brasil, protegendo você e outras pessoas ao seu redor.” Ministério da Saúde. Acesso em 5 Abr. 2020. 

    Mas de que tipo de proteção eles devem estar falando? Para entender um pouco mais vamos começar sobre as formas de  manifestação ou não do vírus. 

    Sintomáticos e assintomáticos

    Um pessoa infectada pelo SARS-CoV-2 pode não apresentar sintomas, ou seja, ser assintomática ou apresentar sintomas, que podem ser leves, parecidos com a de uma gripe, ou mais severos e que precisam de atendimento imediato. 

    Até o momento a Organização Mundial de Saúde NÃO RECOMENDA o uso de máscaras por pessoas que não tenham os sintomas. A exceção é o uso por pessoas que estejam cuidando de outras que possam estar com COVID-19. Além disso, a OMS não faz menção ao uso de máscaras caseiras e deixa claro que as máscaras descartáveis só devem ser usadas uma vez e dispensadas. 

    Ainda de acordo com a OMS, o uso de máscaras sozinho não previne a propagação da COVID-19. Deve-se ficar atento às recomendações sobre higienização das mãos por meio de água e sabão ou álcool gel 70% e de superfícies. Aliados ao isolamento social (físico), essas medidas tem se mostrado as mais eficazes para romper a propagação da doença. 

    Uma máscara de qualquer material serve?

    Não. Nem todo o material pode ser usado na confecção de máscaras no combate ao SARS-CoV-2. O vírus SARS-CoV-2 (severe acute respiratory syndrome coronavirus 2) que causa a doença COVID-19 tem tamanho que varia entre 70 a 90 nm.

    Para se ter uma ideia, as réguas escolares são divididas em centímetros com 10 divisões menores, que são de 10 em 10 milímetros. O vírus é 900.000 menor do que 1 milímetro. Invisível a olho nu. Como ele viaja em partículas/gotículas e possivelmente em (bio)aerossóis  o conjunto aumenta um pouco de tamanho, mas ainda continua em uma escala imperceptível aos nossos olhos.   

    Legenda: A imagem feita por meio de uma técnica chamada de microscopia eletrônica de transmissão mostra o SARS-CoV-2. Credito: NIAID-RML

    Recentemente, em um canal no YouTube, surgiu a sugestão de uma máscara feita a partir de plástico e papel filtro de café. Você já olhou o papel filtro de perto? Nós conseguimos ver os furinhos a olho nú! 

    As máscaras usadas como Equipamento de Proteção Individual (EPI) são regulamentadas e servem como um filtro, impedindo que algumas partículas passem e outras não. Mas cuidado!  Existem vários tipos de máscaras, cada uma para um fim específico. Veja o post Máscaras caseiras são eficientes contra o coronavírus? em que abordamos aspectos históricos sobre a confecção de máscaras caseiras.

    Um estudo publicado no dia 4 de Abril, comparou as máscaras cirúrgicas e a N95 usada por profissionais de saúde e avaliou seu possível uso para a proteção contra SARS-CoV-2. O estudo mostrou que eles não são similares. Elas não são capazes de proteger contra os aerossóis expelidos pelos pacientes e mesmo na proteção contra gotículas, que são maiores do que os aerossóis, as máscaras apresentam “baixa evidência de efetividade”.  

    De acordo com a Cartilha de Proteção Respiratória contra Agentes Biológicos

    para Trabalhadores de Saúde da Agência Nacional de Vigilância Sanitária brasileira:

    “É importante destacar que a máscara cirúrgica:

    NÃO protege adequadamente o usuário de patologias transmitidas por aerossóis (veja alguns exemplos no Quadro 2), pois, independentemente de sua capacidade de filtração, a vedação no rosto é precária neste tipo de máscara;

    NÃO é um EPR”. Agência Nacional de Vigilância Saninária. Acesso em 5 Abr. 2019

    EPR é a sigla para Equipamento de Proteção Respiratória, isso quer dizer que a máscara cirúrgica não garante que uma pessoa saudável possa ser contaminada por alguns tipos de patógenos, como o SARS-CoV-2. 

    Mas se ela não protege, por que ela tem sido indicada para pessoas com sintomas da COVID-19? Porque ela funciona como uma barreira mecânica, diminuindo a dispersão do SARS-CoV-2 no ambiente. Um efeito parecido com o tossir no cotovelo e ou sobre um papel (lembre-se de jogar fora e lavar as mãos depois). 

    Como a máscara médica descartável funciona? Ela impede que as gotículas do espirro ou tosse voem longe, diminuindo a contaminação do ambiente.

    Vídeo da página Nunca Vi um Cientista

    Existem dois principais motivos para não se recomendar a compra/uso de máscara cirúrgica por pessoas que não apresentam sintomas:

    1. Não há evidência de que elas podem proteger uma pessoa saudável de contrair o vírus SARS-CoV-2 e

    2. A diminuição da disponibilidade de máscaras em situações que realmente são necessárias, ou seja, por profissionais da saúde. 

    Uma pessoa saudável usando uma máscara cirúrgica não tem garantia de que ela está protegida contra a COVID-19, o mesmo se aplica ao uso de máscara caseira feita de pano.

    Um comentário publicado no jornal The Lancet sobre o uso racional de máscaras durante a pandemia por COVID-19 traz uma observação importante: “there is an essential distinction between absence of evidence and evidence of absence”. Ou seja, há uma distinção essencial entre a ausência de evidência e a evidência da ausência, isto é, ainda são muito pequenas as evidências de que o uso de máscaras possa permitir uma proteção contra essa infecção respiratória. 

    Quando devo usar uma máscara? 

    O consenso científico é que as pessoas devem cobrir tosses e espirros e usar máscaras caso estejam doentes. As máscaras cirúrgicas descartáveis usadas pelos SINTOMÁTICOS ajudam a diminuir a propagação do vírus no ar por reter gotículas de água.

    Mas e para as pessoas que estão com sintomas leves? O uso de máscaras cirúrgicas é recomendado quando na presença de outras pessoas, mas lembre-se de que elas não devem ser reutilizadas e só podem ser usadas por no máximo 3 horas. Além disso é importante fazer o descarte adequado das máscaras cirúrgicas.

    E os assintomáticos? Os estudos mostram que as pessoas assintomáticas podem transmitir o vírus a outras pessoas que podem desenvolver sintomas. 

    Um estudo mostrou que no grupo de  japoneses que foram evacuados de Wuhan para o Japão, havia cerca de 30.8% de assintomáticos. Isso significa que uma pessoa com a aparência saudável pode ser portadora do vírus. 

    Outras estimativas, em estudos com grupos diferentes, mostram porcentagens diferentes.  É bom lembrar que essas porcentagens estão em relação a um grupo infectado/testado e não a população geral. 

    Na China, das 72.314 pessoas examinados até 11 de Fevereiro, 61,8% testaram positivo e deles, apenas 1.2% se mostraram assintomáticos.  

    Nota: Tem sido divulgada pela mídia em geral uma estimativa de 80% de assintomáticos, mas o que que afirma a Organização Mundial de Saúde é que os sintomas leves e assintomáticos são estimados em 80%. Outras estimativas sobre assintomáticos estão disponíveis no site do The Centre for Evidence-Based Medicine develops, promotes and disseminates better evidence for healthcare.

    Mas essas pessoas assintomáticas poderiam contaminar outras pessoas? Pesquisadores chineses reportaram o caso de um grupo familiar em que um dos pacientes, originário de Wuhan, pode ter carregado de forma assintomática o vírus e infectado outras 4 pessoas que acabaram por desenvolver sintomas. Outros casos de grupos assintomáticos têm sido reportados (Alguns estudos: Lu et al., Zhang et al, Kimbal et al. ), evidenciando a importância de testagem e isolamento dessas pessoas no combate a propagação da doença

    Liu e Zhang afirmaram que o uso de máscara por uma pessoa infectada com sintomas leves foi capaz de garantir que outras não fossem infectadas. Mas e as que ainda não desenvolveram os sintomas, as pré-sintomáticas que podem começar a ter sintomas após o 3 ao 14 dia após a infecção? E as pessoas assintomáticas? Será que o uso de máscaras é efetivo?

    Em uma carta publicada no The National Academies of Science, Engineering and Medicine, o médico e chefe do Emerging Infectious Diseases and 21st Century Health Threats, Harvey V. Fineberg, reportou que alguns estudos encontraram a presença do vírus a partir de (bio)aerossóis expelidos na respiração normal e ao falar por pacientes com SARS-CoV-2, indicando uma POSSÍVEL rota de contaminação. De acordo com uma publicação da Science, nem todos os especialistas concordam com a transmissão por essa via, assim como especialistas da Organização Mundial de Saúde que apontam que, até aquele momento, dos 75.000 casos que haviam sido reportados na China, nenhum deles resultou de uma infecção a partir dessa rota. 

    A carta escrita por Fineberg cita um outro trabalho que mostra que o uso de máscaras cirúrgicas por crianças e adultos com doença respiratória aguda reduzem a proporção de um outro vírus da família do coronavírus (outro que não o SARS-CoV-2) nas gotículas e aerossóis liberados do outro lado da máscara. Outro artigo, publicado na Nature, mostrou que o uso de máscaras cirúrgicas por pessoas sintomáticas reduz a quantidade de vírus expelido pelos pacientes com coronavírus. No entanto, ainda não há comprovação científica de que o uso de máscaras proteja indivíduos saudáveis. 

    E as máscaras caseiras de pano? Não há um conjunto de evidências científicas que provem a eficácia do uso de máscaras caseiras como forma de prevenção de um indivíduo saudável contrair o SARS-CoV-2. Há especulações de que as máscaras de pano usadas por pessoas infectadas possam funcionar como uma barreira mecânica, impedindo a ampla dispersão do vírus, mas os estudos ainda apontam a necessidade de mais estudos científicos.  

    Na última sexta-feira, dia 3 de Abril, o Centro de Controle e Prevenção Doenças (CDC) dos Estados Unidos reviu a sua posição e passaram a indicar o uso de máscaras ou proteção de tecido no rosto em locais públicos. De acordo com o CDC, a recomendação do uso de máscaras de pano está relacionado à preocupação com a transmissão do vírus por pessoas assintomáticas ou pré-sintomáticas. 

    Mas e se você decidir usar uma máscara caseira de pano?

    É importante [nós diríamos que é FUNDAMENTAL] ter alguns cuidados para que ela não cause mais mal do que bem. Ou seja, ela pode ser uma fonte de contaminação se não tomados os cuidados necessários, como evitar tocar a máscara durante o tempo de uso para não contaminar as mãos. Também é necessário que após o uso sua máscara seja lavada de maneira adequada. 

    Referências

    Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Cartilha de Proteção Respiratória contra Agentes Biológicos para Trabalhadores de Saúde. Disponível em <http://www2.ebserh.gov.br/documents/214604/816023/Cartilha+de+Prote%C3%A7%C3%A3o+Respirat%C3%B3ria+contra+Agentes+Biol%C3%B3gicos+para+Trabalhadores+de+Sa%C3%BAde.pdf/58075f57-e0e2-4ec5-aa96-743d142642f1>. Acesso em 5 de Abr. 2020. 

    Bartoszko, JJ et al. Medical Masks vs N95 Respirators for Preventing COVID‐19 in Health Care Workers A Systematic Review and Meta‐Analysis of Randomized Trials. Influenza and other Respiratory Viroses. Wiley (2020). Disponível em <https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/irv.12745>. Acesso em 5 de Abr. 2020.

    CDC. Use of Cloth Face Coverings to Help Slow the Spread of COVID-19 (2020). Disponível em <https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/prevent-getting-sick/diy-cloth-face-coverings.html>. Acesso em 5 Abr. 2020

    CDC. Recommendation Regarding the Use of Cloth Face Coverings, Especially in Areas of Significant Community-Based Transmission (2020). Disponível em <https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/prevent-getting-sick/cloth-face-cover.html>. Acesso em 5 Abr. 2020

    Day, M. Covid-19: identifying and isolating asymptomatic people helped eliminate virus in Italian village (2020). BJM. Disponível em <https://www.bmj.com/content/368/bmj.m1165.long>. Acesso em 6 Abr. 2020

    Feng, S. et al. Rational use of face masks in the COVID-19 pandemic. The Lancet. Disponível em <https://www.thelancet.com/action/showPdf?pii=S2213-2600%2820%2930134-X>. 

    Fineberg, HV. Rapid Expert Consultation on the Possibility of Bioaerosol Spread of SARS-CoV-2 for the COVID-19 Pandemic (2020). The National Academies of Science, Engineering and Medicine. Disponível em <https://www.nap.edu/read/25769/chapter/1>. Acesso em 6 Abr. 2020. 

    Kim, JM et al. Identification of Coronavirus Isolated from a Patient in Korea with COVID-19. Osong Public Health Res Perspect 2020. Disponível em <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7045880/pdf/ophrp-11-3.pdf>. Acesso em 5 de Abr. 2020.

    Kimbal, A. et al. Asymptomatic and Presymptomatic SARS-CoV-2 Infections in Residents of a Long-Term Care Skilled Nursing Facility – King County, Washington, March 2020. Disponível em <https://www.cdc.gov/mmwr/volumes/69/wr/mm6913e1.htm?s_cid=mm6913e1_w

    Leung, N.H.L. et al. Respiratory virus shedding in exhaled breath and efficacy of face masks. Nature Med (2020). Disponível em <https://www.nature.com/articles/s41591-020-0843-2>. Acesso em 5 Abr. 2020 

    Li et al. Asymptomatic and Human-to-Human Transmission of SARS-CoV-2 in a 2-Family Cluster, Xuzhou, China (2020). Disponível em <https://wwwnc.cdc.gov/eid/article/26/7/20-0718_article>. Acesso em 5 de Abr. 2020.

    Liu, X., Zhang, S. COVID-19: Face masks and human-to-human transmission (2020). Influenza Other Respi Viruses. Disponível em <https://onlinelibrary.wiley.com/doi/pdf/10.1111/irv.12740>. Acesso em 6 Abr. 2020. 

    Lu, S. et al. Alert for non‐respiratory symptoms of Coronavirus Disease 2019 (COVID‐19) patients in epidemic period: A case report of familial cluster with three asymptomatic COVID‐19 patients. Journal of Medical Virology. Disponível <https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/jmv.25776>. Acesso em 5 de Abr. 2020. 

    Ministério da Saúde. Máscaras caseiras podem ajudar na prevenção contra o Coronavírus. Disponível em <https://www.saude.gov.br/noticias/agenciasaude/46645-mascaras-caseiras-podem-ajudar-naprevencao-contra-o-coronavirus>. Acesso em 5 de Abr. 2020

    Mizumoto, K. et al. Estimating the asymptomatic proportion of coronavirus disease 2019 (COVID-19) cases on board the Diamond Princess cruise ship, Yokohama, Japan, 2020. Eurosurveillance. Disponível em <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7078829/pdf/eurosurv-25-10-1.pdf>. 

    Nishiura H,et al.  Estimation of the asymptomatic ratio of novel coronavirus infections (COVID-19), International Journal of Infectious Diseases (2020). Disponível em <https://www.ijidonline.com/article/S1201-9712(20)30139-9/pdf>. 

    Service, RF. You may be able to spread coronavirus just by breathing, new report finds (2020). Science. Disponível em <https://www.sciencemag.org/news/2020/04/you-may-be-able-spread-coronavirus-just-breathing-new-report-finds#>. Acesso em 5 de Abr. 2020

    Zhang, J. et al. Familial cluster of COVID-19 infection from an asymptomatic.(2020). Critical Care. Disponível em <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7100442/pdf/13054_2020_Article_2817.pdf>. 

    Zorzetto, R. Uma barreira física contra o coronavírus. Revista FAPESP. Disponível em <https://revistapesquisa.fapesp.br/2020/04/05/uma-barreira-fisica-contra-o-coronavirus/

    WHO. Naming the coronavirus disease (COVID-19) and the virus that causes it. Disponível em <https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/technical-guidance/naming-the-coronavirus-disease-(covid-2019)-and-the-virus-that-causes-it>. Acesso em 5 de Abr. 2020.WHO. Q&A on coronaviruses (COVID-19). Disponível em <https://www.who.int/news-room/q-a-detail/q-a-coronaviruses>. Acesso em 5 de Abr. 2020.

    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.

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