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  • Vacinação Infantil contra Covid-19: desinformação, miocardite e outros alarmismos

    Muito tem se falado e discutido sobre a vacinação infantil, com informações que causam receio, medo por miocardite e mal súbito, dentre tantos temas. Já soltamos aqui o spoiler: as vacinas infantis são seguras! E neste texto explicaremos melhor o tema.

    Recentemente tivemos uma campanha do grupo Todos Pelas Vacinas para explicar algumas coisas sobre tal assunto, principalmente aos pais dos pequenos. A partir dessa ideia, preparamos mais esse material, voltado agora para mostrar as diferenças entre as vacinas adultas e infantis da Pfizer, detalhes que vocês (pais) podem se atentar na hora de levar seus filhos para se vacinar e alguns outros dados sobre informações que correm solta sobre as vacinas infantis. Segura na minha, respira fundo e vêm comigo entender um pouco melhor isso.

    Quais as diferenças entre as vacinas infantis e adultas?

    Para começar, já vamos tirar esse elefante branco da sala. A  primeira coisa a se avisar é que as doses recebidas pelas crianças, no caso da vacina Pfizer, são menores – aproximadamente ⅓ – do que as doses aplicadas em adultos e terão um intervalo de 21 dias entre a primeira e segunda dose. Por causa disso, não é necessário se preocupar com falas alheias como “meu filho vai receber uma dose muito grande da vacina e por isso vai passar mal”.

    Todas essas vacinas passaram por rigorosas fases de testagem (já comentadas aqui no Especial e vamos falar de novo no decorrer desse texto), a fim de causar a melhor proteção possível e o menor número de efeitos colaterais nos pequenos. Inclusive, é importante dizer que durante a fase de testes, nenhum efeito colateral (também chamado de efeito adverso nos estudos) grave foi visto em qualquer uma das crianças submetidas aos testes.

    Outros detalhes verificáve na hora da aplicação da vacina são referentes ao frasco desta e a dose injetada. Cada criança recebe 0,2 mL. Ou seja, diferente dos adultos que recebiam 0,3 mL. Todavia a maior diferença é, provavelmente, quanto ao frasco da vacina: este é de cor laranja, diferindo significativamente do frasco roxo das vacinas adultas. Por fim, para matar a curiosidade, cada frasco contém 10 doses da vacina infantil (os frascos adultos continham 6 doses) e podem ser armazenados por até 2 meses e meio.

    E o tal risco de causar inflamação no coração, a miocardite?

    Voltando então para os efeitos colaterais, vamos agora falar da chance de causar miocardite. Muito tem se falado, comentado e alarmado sobre isso. Mas nos estudos feitos até o momento não foi visto qualquer caso de inflamação no coração (miocardite) e dois outros efeitos relacionados (pericardite e arritmia) em crianças entre 5 e 11 anos. Entre as faixas de idades já estudadas, foi verificado que homens entre 12 e 24 anos tinham uma maior chance de desenvolver esse efeito após a vacinação. Contudo, essa chance ainda é muito menor comparado a probabilidade de desenvolver estas inflamações após contrair a COVID-19. 

    Assim, considerando que a chance de contrairmos o SARS-CoV-2, sem vacinação, é muito grande, especialmente por causa da circulação de variantes mais transmissíveis, a chance de desenvolver miocardite após COVID-19 é muito maior do que após se vacinar contra a própria COVID. 

    Para exemplificar melhor isso, trarei aqui os dados de uma pesquisa publicada recentemente na revista Nature, uma das revistas científicas mais conceituadas em todo o mundo. Os pesquisadores avaliaram cerca de 38 milhões de pessoas, de ambos os sexos e com mais de 16 anos, buscando entender se havia alguma relação entre uma maior chance de desenvolver miocardite e as vacinas contra COVID-19 da Pfizer (~17 milhões de vacinados), Astrazeneca (~20 milhões) e Moderna (~1 milhão). Colocando em termos numéricos,os cientistas descobriram o seguinte:

    • A cada 1 milhão de pessoas vacinadas, até 28 dias após a aplicação da primeira dose:
      • Astrazeneca: houve 2 casos de miocardite;
      • Pfizer: houve 1 caso de miocardite;
      • Moderna: houve 6 casos de miocardite;
    • A cada 1 milhão de pessoas vacinadas, até 28 dias após a aplicação da segunda dose:
      • Tanto para Astrazeneca quanto para Pfizer: não se viu casos de miocardite;
      • Moderna: houve 10 de miocardite;
    • A cada 1 milhão de pessoas não vacinadas que testaram positivo para COVID-19: houve 40 casos de miocardite.

    Colocando em termos mais práticos, o que isso quer dizer?

    Se considerando o maior índice de miocardite em pessoas vacinadas, que foi com segunda dose da Moderna, em que a cada 1 milhão de indivíduos, 10 desenvolviam miocardite, a chance de desenvolver a doença era 4 vezes menor do que em pessoas não vacinadas que se infectam com o SARS-CoV-2. Uma vez que a cada 1 milhão de pessoas não vacinadas que se infectaram, 40 desenvolviam a inflamação no coração. 

    Isso nos mostra, novamente, que as vacinas além de serem muito seguras também protegem contra outros riscos que muitas vezes não associamos com a COVID-19, por se tratar de um vírus respiratório. Além disso, é importante lembrar que mesmo se a vacina da Moderna for contra indicada para alguns grupos de risco, ela não está sendo usada aqui no Brasil, assim, não precisamos nos preocupar com isso.

    “Ok, mas quais são os efeitos a longo prazo desta vacina?”

    Falando dos efeitos de longa duração, a primeira coisa que precisamos deixar claro aqui é:

    Não! as vacinas de RNA mensageiro (como as da Pfizer e da Moderna) NÃO IRÃO alterar o seu DNA ou se integrar à ele.

    Não, não iremos virar jacarés. Não vamos desenvolver câncer, doenças autoimunes ou infertilidade. Dito isso, vamos entender um pouco melhor essas questões.

    Deixando vários detalhes (um tanto quanto complicados) de lado, nossas células possuem duas principais barreiras ou membranas: a membrana plasmática (ou celular) e a membrana nuclear. A primeira envolve e protege toda a célula, enquanto que a segunda realiza separa e protege o núcleo da célula. E é neste espaço dentro do núcleo que se encontra o nosso material genético, o DNA.

    Ambas as barreiras são feitas a partir de gordura (mais especificamente, componentes chamados Lipídeos) e proteínas com pequenos açúcares ligados a elas (as Glicoproteínas). Isso torna tais barreiras seletivas, em outras palavras, a célula e o próprio núcleo permitem que somente alguns componentes entrem e saiam. 

    Um grande exemplo disso são os próprios RNAm (ou RNA mensageiro). Todos nós produzimos RNAm, pois estes são as instruções que nossas células usam para produzir proteínas, tais como a Insulina (relacionada ao consumo de glicose), Mielina (presente nos neurônios) e Colágeno (presente na pele e em vários outros lugares do corpo). Entretanto, dentro do núcleo, as moléculas de RNAm duram pouquíssimo tempo pois possuímos várias enzimas que destroem elas. Por causa disso, uma vez que esses RNAm são produzidos, eles são transferidos rapidamente para o citoplasma das células.

    No Citoplasma (a parte do células onde estão todas as suas organelas e componentes, como o próprio núcleo), o RNAm consegue durar um pouco mais de tempo, o suficiente para ser utilizado por outras organelas e produzir nossas proteínas. Aqui é importante apontar um detalhe: uma vez que o RNAm sai do núcleo, ele não consegue mais voltar para lá. 

    Pensando nisso tudo, agora conseguimos entender porque as vacinas de RNAm não vão alterar nosso genoma: uma vez que o RNAm das vacinas entra nas nossas células, ele não consegue entrar no núcleo das células!

    E mesmo que isso acontecesse, seria necessário todo um conjunto de enzimas para que esse RNAm fosse integrado ou alterasse nosso DNA. Além disso, é preciso dizer que mesmo no citoplasma das células e na corrente sanguínea, essa RNAm das vacinas dura bem pouco, ficando um tempo bem reduzido em contato com nossas células.

    Algumas pessoas comentam ainda sobre a própria proteínas Spike produzida a partir do RNAm dessas vacinas, e a possibilidade dela alterar nossas proteínas. Entretanto, a proteína Spike não possui o que chamamos de Sítio Ativo. Isto é, uma parte específica das proteínas capaz de se ligar a outras proteínas e alterá-las de alguma forma. Fora o fato da própria Spike ser produzida por poucos dias ou semanas pelo corpo, que é tempo suficiente para estimular o sistema imunológico.

    Assim sendo, quando falamos em efeito adversos a longo prazo, não faz sentido nós questionarmos sobre possíveis efeitos nos meses após a aplicação das vacinas. Os poucos efeitos adversos que vemos aparecem e são estudados logo que as vacinas são aplicadas, ainda durante as fases de testes.

    É verdade que alguns poucos efeitos adversos muito raros só apareceram após a aprovação das vacinas, como os casos de miocardite e trombose. Contudo, é por isso que mesmo após a aprovação, os pesquisadores continuam estudando as vacinas por alguns anos. Justamente para observar e estudar esses efeitos raros, que na grande maioria das vezes se mostram mais raros do que problemas parecidos gerados pelas próprias doenças.

    Novamente, os casos de miocardite e trombose são exemplos claros disso: apesar de serem efeitos raríssimos notificados em algumas pessoas após a vacinação, o risco de se desenvolver os mesmos efeitos a partir da infecção da COVID-19 sem estar vacinado  é muito maior, do que comparado com a vacinação.

    Finalizando…

    Vacinas salvam vidas. Além disso, protegem contra efeitos muito mais raros e perigosos que as doenças e a própria COVID-19 causa, inclusive efeitos que ainda entendemos pouco. Vacinar é um ato de amor, não só consigo, não só com seus filhos, mas também com o próximo. Só assim poderemos acabar com a pandemia e voltar a viver com o tão sonhado – e ainda distante – “normal” que vive em nossas lembranças.

    Ou seja, vacinem suas crianças.

    Para saber mais:

    Patone, M, Mei, XW, Handunnetthi, L, Dixon, S, Zaccardi, F, Shankar-Hari, M, … & Hippisley-Cox, J (2021) Risks of myocarditis, pericarditis, and cardiac arrhythmias associated with COVID-19 vaccination or SARS-CoV-2 infection Nature medicine, 1-13.

    Chaudhary, N., Weissman, D., & Whitehead, K. A. (2021). mRNA vaccines for infectious diseases: Principles, delivery and clinical translation. Nature Reviews Drug Discovery, 20(11), 817-838.

    Cristaldo, H (2021) Anvisa: vacinas em uso no Brasil não são experimentais Agência Brasil.

    Anvisa (2022) Anvisa aprova vacina da Pfizer contra Covid para crianças de 5 a 11 anos Governo do Brasil, Ministério da Saúde.

    Anvisa (2022) Anvisa alerta para diferenças entre as vacinas para crianças Governo do Brasil, Ministério da Saúde. 

    Mellanie Fontes-Dutra: Perguntas e respostas sobre vacinação contra covid em crianças para pais com receio,

    NOTA TÉCNICA Nº 496/2021/SEI/GGMED/DIRE2/ANVISA.

    Outros materiais:

    Bulas das vacinas aprovadas no Brasil para adultos e crianças.

    Plano nacional de operacionalização da vacinação contra a Covid-19.

    Este texto foi escrito originalmente para o Especial COVID-19.

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, produziu-se textos produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores. Além disso, a revisão por pares aconteceu por pesquisadores da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.

  • Join the campaign #Igetvaccinated

    This post was kindly translated by Marina Fontolan (@Mafonts01)

    You are: Science communicator Artist Or Scientist: Join us to create content to encourage Covid-19 children (5-11 yo.) vaccination efforts and counter disinformation!
    a campaign by the movement All for the Vaccines www.todospelasvacinas.info Contact info: Ana Arnt blogs@unicamp.br Flávia Ferrari obscovid19br@gmail.com

    All for the Vaccines movement invite all science communicators, artists, and scientists to act upon encouraging Covid-19 Vaccination to Children


    The new campaign #Igetvaccinated aims at counter disinformation on Covid-19 children vaccination and encourage the vaccination for 5 to 11 year olds

    While we wait for the children vaccines to arrive, the  All for the Vaccines movement is organizing a campaign #Igetvaccinated. Our movement unites science communicators, artists, scientists, science institutions, and famous people to foster pro-vaccination campaigns.

    As children vaccination efforts draw near, we noticed that the amount of disinformation on vaccines and specialists countering them has grown. Differently from our previous campaigns, #Igetvaccinated will not have a specific launch date and it is already receiving support and organizing its actions.

    The movement All for the Vaccines is organized by ABRASCO, Unicamp’s Science Blogs, COSEMS/SP, Halo team/United Nations (UN), UPS Vaccine Research Center (NPV-USP), Observatório COVID-19 BR, Rede Análise COVID-19, ScienceVlogs Brazil, and the Pro-Vaccine Union (União Pró-Vacina).

    Our campaings aim at dialoguing with the population through digital content created by specialists and science communicators with information on Covid-19 vaccines. Our website (www.todospelasvacinas.info) presents all the content generated during our campaigns in formats ready to be shared in all social media, including texas, audios, images and videos. 

    In our current campaign, we have created a new space for our campaign: children (5 to 11 yo.) – who has their parent’s consent – can send drawings or other types of arts (without exposing themselves) explaining “why #Igetvaccinated”. All art can be sent to blogs@unicamp.br and odospelasvacinas@gmail.com. They will be published in the website and the social media.

    On the campaign, Flávia Ferrari (Observatório COVID-19 BR) states that “vaccines save lives, but the virus will not go magically extinct; we need a great vaccination coverage and we need to vaccinate children as soon as possible, so we can continue to fight the disease”.

    Unicamp’s Science Blogs’ coordinator, Ana Arnt remind us that “the National Immunization Program is one of the most important milestones of our country’s Health Public history. It allowed us to eradicate polio and smallpox. Now it is time to face yet another chapter, to protect children against Covid-19, lowering the number of cases in Brazil”.

    Rede Análise COVID-19’s member Mellanie Fontes-Dutra affirms: “To all parents who are unsure, who thinks that there are not enough studies for children (5-11 yo.) vaccination, it is important to point out that ANVISA’s document approving children vaccination explains all the details and reassures vaccination safety”. The researcher also states that it is crucial to vaccinate the children, fostering the country’s fight against Covid-19.

    Contact info: Ana Arnt blogs@unicamp.br and Flávia Ferrari obscovid19br@gmail.com

    Original content:

  • Campanha #VouVacinar

    A campanha #VouVacinar, do Movimento Todos Pelas Vacinas, tem como proposta o combate à desinformação sobre a COVID-19 e os efeitos e riscos da vacina infantil, a partir da divulgação científica, articulada com a cultura, a arte e a sociedade! Contamos com seu apoio, colaboração e participação na campanha #VouVacinar, que acontecerá ao longo de Janeiro de 2022.

    O movimento #TodosPelasVacinas é organizado pela ABRASCO, Blogs de Ciência da Unicamp, COSEMS/SP, Equipe Halo/Nações Unidas (ONU), Núcleo de Pesquisas em Vacinas da USP (NPV-USP), Observatório COVID-19 BR, Rede Análise COVID-19, Núcleo de Pesquisas em Vacinas da USP, ScienceVlogs Brasil e a União Pró-Vacina.

    E lá vamos nós falar de vacinas!

    Sim! Cá estamos novamente para falar de vacinas contra Covid-19, dessa vez para crianças de 5 a 11 anos!

    No Brasil e em vários países do mundo tivemos uma diminuição drástica de óbitos desde que o esquema vacinal completo foi sendo alcançado por uma grande parcela da população. Sabemos que ainda são necessários cuidados, mesmo vacinados, mas nossa vida definitivamente tem o mesmo pesar do primeiro semestre de 2021.

    Agora é chegado o momento de as crianças adquirirem a imunização, através da vacina! Sabemos que a vacinação sempre foi, historicamente, exemplar em nosso país, com a erradicação da Poliomielite (desde 1989) e da Varíola (desde 1977!!!). Sabemos também que a vacinação é um projeto coletivo de proteção.

    As vacinas destinadas às crianças não são experimentais, elas já passaram pela etapa de análise e são seguras e eficazes para esta faixa etária indicada. Além disso, são fundamentais para o enfrentamento da COVID-19, para o retorno mais seguro das aulas e do convívio social, tão esperado por todas as crianças, que sofreram tanto com os distanciamentos impostos ao longo de 2020 e 2021.

    O tempo de vacinar, agora, é com a leveza que só a infância é capaz de nos proporcionar. A esperança renovada para as crianças, com ciência, conhecimento e políticas públicas de saúde que, historicamente, nosso país tem tradição mundial, tem sua vez na luta contra a COVID-19.

    Nossos materiais estão disponíveis (e serão atualizados com a nova campanha) no Portal: www.todospelasvacinas.info, também vamos lançar textos aqui e vocês podem nesse link aqui

    Mais informações podem ser obtidas nos contatos:

    Ana Arnt (Blogs Unicamp): blogs@unicamp.br; (19) 98364-0054

    Flávia Ferrari (Observatório COVID-19 BR): obscovid19br@gmail.com; (11) 99111-6455

    Todos Pelas Vacinas: todospelasvacinas@gmail.com

  • #VacinaNoGrau: Pfizer, tá passada?

    Texto escrito por Mellanie Fontes-Dutra e Ana Arnt

    A Pfizer é a vacina que está sendo utilizada para eles: os jovens, aqui no Brasil, na campanha de vacinação neste momento. Tá passada?

    O anúncio dos resultados sobre a eficácia da Pfizer em adolescentes aconteceu no dia 31 de Março de 2021. E hoje, já que estamos lançando a campanha #VacinaNoGrau, resolvemos retomar este estudo! Aliás, já de cara, a notícia foi animadora. A eficácia foi muito alta e não foram observados casos de COVID-19 na amostra analisada de participantes adolescentes nesse estudo!

    Vamos entender como foi a pesquisa?

    O ensaio envolveu 2.260 adolescentes de 12 a 15 anos de idade nos Estados Unidos. Foram observados 18 casos de COVID-19 no grupo de placebo (que teve um N amostral de 1.129 adolescentes). Já no grupo vacinado (que teve um N amostral de 1.131 adolescentes), não houve nenhum caso.

    Em função de nenhum caso ter sido observado no grupo vacinado, a eficácia estimada chega a 100%. Todavia, é sempre bom lembrar que, esse dado é para uma amostra de 18 eventos. Isto é, quando extrapolamos este dado para milhares de vacinados – como ocorre na população geral – a possibilidade sempre é de que a gente observe um ou outro caso de COVID-19 em vacinados sim!

    E o que isto quer dizer? Que as medidas não farmacológicas de uso de máscaras, distanciamento físico e cuidados redobrados em espaços fechados e não ventilados seguem valendo E MUITO.

    Voltando aos dados do estudo, a vacina demonstrou ter uma proteção considerável contra agravamentos também! A regra do anterior segue valendo: a vacina é segura e têm proteção considerável, mas medidas não farmacológicas seguem sendo fundamentais. A gente não cansa de repetir isso, só para ter em mente isso. Isto é, para daqui a pouco ninguém vir dizer, se em milhares de vacinados aparecer algum caso: “AAAAH MAS NÃO ERA 100% EFICAZ?”. 

    Siacalme rapaz, isso não invalida TODA a proteção da vacina não

    Vamos falar de Imunogenicidade agora…

    A vacina desencadeou uma boa quantidade de anticorpos neutralizantes de SARS-CoV-2. Assim, esta vacina demonstra forte resposta imunológica um mês após a 2ª dose. Aliás, na análise anterior com participantes de 16 e 25 anos, essas quantidades também foram bem significativas. 

    E a tal da segurança?

    A vacina foi bem tolerada, com efeitos colaterais geralmente consistentes com aqueles observados em participantes de 16 a 25 anos de idade. Isto é: te joga guri, que vai dar bom.

    Mas não para por aí não… O estudo está sendo atualizado

    Como assim? Claro, ainda há mais grupos e faixas etárias para sabermos sobre a vacina, né? Dessa forma, está em andamento a atualização do estudo com crianças de 11 anos. Neste estudo, de fase 1/2/3 está sendo conduzido com crianças de 6 meses a 11 anos. Assim, avaliando segurança, tolerabilidade e imunogenicidade da vacina em um esquema de duas doses (aproximadamente 21 dias de intervalo)

    Os grupos:

    – Crianças de 5 a 11 anos

    – 2 a 5 anos

    – 6 meses a 2 anos.

    A coorte de 5 a 11 anos começou a receber as doses ainda em março. E nos planos estava iniciar a coorte de 2 a 5 anos em abril de 2021.

    Aprovadíssima

    No Brasil, a Nota Técnica Nº 36/2021-SECOVID/GAB/SECOVID/MS inclui crianças e adolescentes de 12 à 17 anos na campanha de Vacinação.

    Nesta nota técnica (NT), o Ministério da Saúde (MS) considera primordial que 85% da população brasileira seja vacinada contra COVID-19. Isto, a fim de reduzir drasticamente a transmissão da doença em nosso país. Dessa maneira, considerando o registro na Anvisa, em 10/06/2021, a Pfizer foi autorizada para a vacinação de jovens nesta faixa etária. Aliás, é a única, até o presente momento.

    A NT ressalta que a vacinação de adultos acima de 18 não foi concluída. Também aponta que esta faixa etária corre, significativamente, mais riscos de contrair e ter agravamentos no caso de COVID. Todavia, a vacinação dos jovens – que retornaram à escola, bom lembrar – é uma das ferramentas para isto para diminuir a transmissão de forma geral.

    Sobre os riscos em jovens

    Além disso, jovens com algum fator de risco relacionado a comorbidades, como traz a nota técnica, também aumentam a chance de agravamento. Dessa forma, este é outro fator que justifica a vacinação desta faixa etária, mesmo não tendo sido finalizada a vacinação de adultos.

    Figura retirada da Nota Técnica

    Tendo em vista estas análises, o MS através incluiu jovens de 12 a 17 anos no Plano Nacional de Operacionalização de Vacinação contra a COVID-19.

    Dia 15 de setembro, segundo a NT, teremos concluída a remessa de doses suficientes para vacinar 100% da população ADULTA com pelo menos uma dose! Aliás, hoje também inicia oficialmente o calendário de oferta de vacinas se dá a partir de 15 de setembro. Embora em alguns estados e municípios tenham começado antes. Todas as vacinações nesta faixa etária acontecerão, exclusivamente, com a vacina da Pfizer. 

    A ordem de prioridade para vacinação desta faixa etária é população de 12 a 17 anos:

    1. Com deficiências permanentes.;
    2. Com presença de comorbidades;
    3. Gestantes e puérperas;
    4. Privados de liberdade;
    5. Sem comorbidades.

    O que mais acontece dia 15 de setembro?

    Isto mesmo, a nossa campanha #VacinaNoGrau, destinada a todos aqueles jovens que estão iniciando esta etapa fundamental no combate à COVID-19!

    Acompanhe as datas no seu município para ver quando chegar o teu dia!!

    Por fim, lembre-se: vacinou? Se exibe por aí MESMO! Afinal, a vacinação é um direito de todos nós e uma alegria por fazer parte de mais uma etapa para vencermos a COVID-19!

    Aliás, inclusive marca o Todos Pelas Vacinas, marca os grupos parceiros, marca nossas tags #TodosPelasVacinas e #VacinaNoGrau, comemora mesmo! Mas, claro, comemora de máscara, com distanciamento, respeitando as regrinhas básicas não farmacológicas ahahahaha.

    Para Saber Mais

    MINISTÉRIO DA SAÚDE, SECRETARIA EXTRAORDINÁRIA DE ENFRENTAMENTO À COVID-19, NOTA TÉCNICA Nº 36/2021-SECOVID/GAB/SECOVID/MS

    BRASIL Lei nº 14.190, de 29 de julho de 2021

    BRASIL Lei nº 14.124, de 10 de março de 2021

    PFIZER-BIONTECH (2021) Pfizer-BioNTech Announce Positive Topline Results of Pivotal COVID-19 Vaccine Study in Adolescents 

    As autoras

    Ana Arnt é Bióloga, Doutora em Educação, Coordenadora do Blogs de Ciência da Unicamp e do Especial COVID-19

    Mellanie Fontes-Dutra é biomédica, doutora em neurociência e pesquisadora na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Divulgadora Científica na Rede Análise COVID-19

    Este texto é original e escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os produziram-se textos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores. Além disso, os textos passaram por revisão revisado por pares da mesma área técnica-científica na Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • E aqueles resultados das vacinas? (Parte 3)

    Hoje vamos continuar a nossa série de textos sobre os resultados que estão saindo das vacinas candidatas para COVID-19. Nós já falamos sobre como funcionam as fases de testes delas, o que é a sua eficácia e a relação disso com a memória imunológica. Nesse post, nós vamos falar (finalmente!) sobre os resultados em si. Isto é, o que eles significam para nós, os prós e contras e os possíveis problemas relacionados com cada uma delas.

    E então, o que são realmente esses resultados que estão saindo?

    Vamos detalhar um pouco sobre 3 vacinas: a Pfizer/Biontech, Moderna e Astrazeneca/Oxford e seus resultados. Depois compará-las para, por fim, dos acordos brasileiros com cada uma delas. Lembrando que esta última parte muda diariamente, em função dos resultados que vêm saindo e prioridades do Governo Federal.

    Pfizer/Biontech

    Para começar, vamos falar da vacina da Pfizer/Biontech 1. Tanto aqui quanto nas outras, vamos ter de falar de números, mas prometo que será rápido. Ela foi testada em cerca de 43 mil pessoas. Sua eficácia ficou em 95%. Isto é, de todos os 43 mil participantes do teste que tiveram Covid-19 (170 pessoas), somente 5% estavam no grupo que tinha recebido a vacina (8 pessoas). Além disso, 10 pessoas desenvolveram a forma grave da doença, mas somente 1 havia recebido a vacina (9 eram do grupo placebo). Isto demonstra uma eficácia de 90% em reduzir a gravidade da forma de Covid-19 desenvolvida.

    Se você não lembra da explicação da eficácia, confere o nosso primeiro texto aqui.

    Em relação às reações, a vacina foi bem tolerada. Em uma análise prévia feita pelos pesquisadores, os únicos efeitos adversos graves que as pessoas disseram ter sentido foram cansaço e dor de cabeça. E isto em uma pequena porcentagem dos casos. Alguns idosos reportaram febre e efeitos colaterais leves. Mas isso já era um resultado esperado e não compromete a segurança da vacina.

    Moderna

    A candidata da vacina da Moderna 2,3 foi testada em 30 mil pessoas nos Estados Unidos. Ela possui uma eficácia muito parecido com a da Pfizer/Biontech, de aproximadamente 94,1%. Ou seja, de todos as pessoas testadas 196 tiveram Covid-19, dessas somente 11 estavam no grupo que tinha recebido a vacina (5,9%).

    Houve também 30 pessoas que desenvolveram a forma severa da Covid-19, mas todos estavam no grupo placebo. Este dado demonstra uma eficácia de 100% em proteger os pacientes imunizados de desenvolver a forma severa da doença.

    Essa vacina também foi bem tolerada e teve poucas reações. Sendo que a grande maioria dos efeitos colaterais que foram reportados terem sido leves e moderados. Durante a aplicação da primeira dose, o único efeito adverso grave que foi dito pelos pacientes foi a dor local da aplicação. Já após a segunda dose, uma pequena quantidade de pacientes disseram ter tido cansaço, dor muscular, dor nas juntas, dor de cabeça, e vermelhidão no local da injeção.

    Astrazeneca/Oxford

    Por fim, a vacina da Astrazeneca/Oxford 4,5 veio com resultados um pouco diferentes. A princípio eles testaram duas dosagens diferentes para aplicação e cada uma delas teve uma eficácia.

    Os pacientes que receberam uma meia-dose na primeira aplicação e uma dose inteira na segunda tiveram uma eficácia de 90%. Enquanto os pacientes que receberam doses inteiras nas duas aplicações tiveram uma eficácia de 62%. No total, a média da eficácia foi de 70%. Isto é, de todos os pacientes que foram testados 131 tiveram Covid-19. Mas destes somente 39 haviam recebido a vacina. Confuso? Sim! Todavia vamos explicar melhor isso daqui a pouco. Esses testes já foram feitos em 23 mil pessoas no Reino Unido, Brasil e África do Sul. No entanto, os pesquisadores esperam testar 60 mil pessoas até o fim do ano. Isso com testes que já estão sendo conduzidos em outros países da América Latina, Europa, Ásia e África.

    Também de acordo com os pesquisadores, a vacina foi bem tolerada por todos os grupos, mas eles não entraram em detalhes sobre os efeitos colaterais.

    OK, muito bonito! Mas traduz pra mim: o tudo isso significa? Tem algum problema ou diferencial com alguma delas?

    As diferenças entre as vacinas

    Bem, a princípio a primeira grande diferença entre as vacinas é o tipo delas. Principalmente entre a da Pfizer/Biontech e Moderna com a da Astrazeneca/Oxford 6.

    No caso das duas primeiras, o que é injetado é uma “receita” de como produzir a proteína Spike. Esta proteína está envolta por uma bolha de gordura. Já no segundo caso, na vacina Astrazeneca/Oxford, o que é injetado é um vírus que causa resfriado (adenovírus) em chimpanzés. Mas é importante ressaltar que o material genético dele foi modificado. Com isso, este vírus modificado não consegue se multiplicar ou causar o resfriado. Além disso, ainda carrega as ordens de como produzir essa mesma proteína Spike. Em termos mais simples, esse vírus funciona como um “cavalo de tróia” para a receita da Spike. É necessário dizer que nesse caso, não há necessidade de se preocupar com esse vírus, visto que não consegue se replicar dentro das nossas células.

    Além dessa óbvio diferença, um grande ponto que vem sendo discutido é em que temperatura essas vacinas precisam ser armazenadas. A candidata da Pfizer/Biontech necessita de temperaturas próximas do -70oC. Enquanto que a candidata da Moderna necessita de -20oC. Já a Astrazeneca/Oxford pode ficar armazenada em temperaturas entre 2-8oC. O grande motivo disso é o tipo de tecnologia usada nas vacinas.

    A receita para produzir a proteína Spike

    A “receita”, que comentamos mais cedo para produzir a Spike, é o chamado RNA mensageiro (RNAm). Esta é uma molécula facilmente degradada no ambiente. Um exemplo disso é que na nossa lágrima, suor, saliva e outras secreções temos enzimas capazes de destruí-las. Como se não bastasse, ainda há a camada de gordura que recobre e protege esse RNA mensageiro que também não é muito estável. Por causa disso são necessárias temperaturas tão baixas. Pois assim essas enzimas são inativadas, e toda a estrutura do RNAm – além da capa de gordura – é preservada 7

    Já na vacina da Astrazeneca/Oxford, o que recobre o material genético entregue para a célula é a cobertura de um vírus comum (basicamente proteínas). E isto é muito mais tolerante à temperaturas mais altas. No fim, o impacto real disso será na logística de distribuição das vacinas (que será comentado mais à frente).

    Sobre os números de pacientes

    Um outro ponto problemático vem sendo comentado entre cientistas 8. A falta de clareza em relação aos números de pacientes nos resultados comentados pela Astrazeneca/Oxford foi ponto de debate. Em especial comparado a Pfizer/Biontech e Moderna. Principalmente referente aos pacientes que desenvolveram a forma severa da Covid-19 e a porcentagem de pacientes que tiveram sintomas colaterais.

    Por fim, a principal questão que se discutiu há alguns dias foi referente ao problema de produção das doses. Em relação à duração da fase 3 de testes da Astrazeneca/Oxford 9,10, fez com que uma porcentagem dos participantes recebesse uma primeira dose com meia dosagem. Isso ao invés de inteira, o que no fim das contas, se mostrou bem mais efetivo do que uma primeira dose completa. O motivo da resposta imune ter sido melhor é desconhecido para a comunidade científica. Todavia, algumas hipóteses já estão sendo pensadas. Por exemplo: um número menor de vírus poderia estimular melhor um subgrupo de linfócitos T que auxiliam na geração de anticorpos. Uma outra hipótese em potencial debate sobre o desenvolvimento de uma resposta imune também contra o vírus “Cavalo de Tróia”. Assim, essa resposta a ele pode ter camuflado a resposta contra a Spike em si 11

    Tá, e quanto elas vão custar pra mim? O Brasil tem acordo com alguma dessas empresas? 

    A princípio tem se falado que a vacina mais barata será a da Astrazeneca/Oxford. Inclusive, o Brasil tem acordos – ficando em torno de 3-4 dólares por dose. Já para a vacina da Moderna e da Pfizer/Biontech tem se falado em aproximadamente 20 dólares por dose. No entanto, pode chegar até a 32 ou 35 dólares 12,13. Para essas duas últimas, nós não temos qualquer acordo, até o momento. 

    A da Pfizer/Biontech precisará equipamentos muito mais caros para conseguirem ser armazenadas dos que as suas duas concorrentes. O que pode ser um problema para países subdesenvolvidos, visto que isso encarece o preço da dose (que comentaremos mais à frente também)

    O grande motivo das candidatas da Moderna e Pfizer/Biontech serem mais caras é toda a logística necessária para o transporte. No caso da PfizerBiontech, também há a questão da necessidade de baixíssimas temperaturas. Dessa forma, há um encarecimento do processo visto que é preciso equipamentos bem mais caros para conseguir se armazenar as doses da vacina. Além disso, há todo um esforço da Universidade de Oxford para que a sua candidata seja vendida a custo de produção. Especialmente durante essa fase mais difícil da pandemia. Assim, países que não possuem condições financeiras tão favoráveis para a compra de vacinas mais caras, teriam acesso14.

    Referências:

    1. Pfizer and Biontech conclude phase 3 study of covid-19 vaccine candidate, meeting all primary efficacy endpoints.
    2. Moderna’s COVID-19 Vaccine Candidate Meets its Primary Efficacy Endpoint in the First Interim Analysis of the Phase 3 COVE Study.
    3. Moderna Announces Primary Efficacy Analysis in Phase 3 COVE Study for Its COVID-19 Vaccine Candidate and Filing Today with U.S. FDA for Emergency Use Authorization
    4. AZD1222 vaccine met primary efficacy endpoint in preventing COVID-19
    5. Oxford University breakthrough on global COVID-19 vaccine
    6. Lowe, D (2020) Coronavirus Vaccine Update, July 7.
    7. Kaiser, J (2020) Temperature concerns could slow the rollout of new coronavirus vaccines.
    8. Booth, W, Johnson, CY (2020) AstraZeneca coronavirus vaccine up to 90% effective and easily transportable, company says.
    9. Cohen, J (2020) After dosing mix-up, latest COVID-19 vaccine success comes with big question mark.
    10. The Guardian (2020) Oxford Covid vaccine hit 90% success rate thanks to dosing error.
    11. Callaway, E (2020) Why Oxford’s positive COVID vaccine results are puzzling scientists, Nature.
    12. New York Times (2020) Early Data Show Moderna’s Coronavirus Vaccine Is 94.5% Effective
    13. The Guardian (2020) Oxford AstraZeneca Covid vaccine: everything we know so far.
    14. The Guardian (2020) Oxford AstraZeneca vaccine to be sold to developing countries at cost price.

    Este texto é original e escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • De graça, até injeção na testa? (parte 2)

    Texto de Gian Guadagnin, Gildo Girotto Júnior e Ana Arnt

    O que é uma vacina e quais os tipos de vacina

    As vacinas são produtos biológicos que promovem o desenvolvimento do que chamamos de memória imunológica ativa. Isto ocorre por meio da interação do organismo (nosso corpo) com os agentes causadores de doenças (vírus e bactérias) mortos, enfraquecidos ou fragmentados ativando a produção de anticorpos e células de memória (os nossos agentes de proteção). Assim, esses “agentes” atuarão futuramente contra o invasor biológico ativo (o vírus) caso o indivíduo seja infectado pela doença no futuro. E o melhor, os materiais biológicos da vacina são intensamente testados para não causarem reações adversas.

    A imunização ativa promovida pela vacina é semelhante a de quando o indivíduo contrai a doença naturalmente, com a diferença de que a vacina não vai causar problemas uma vez que o causador da doença (patógeno) está morto, desativado ou o que injeta é apenas um fragmento. Isto é, ele apenas servirá de alerta, ou de demonstração de suas características para o organismo estar preparado para atuar no caso de uma infecção real. 

    “Ah, mas eu ouvi dizer que uma pessoa tomou vacina e passou mal”.

    Existem casos em que no desenvolvimento da imunidade o corpo possa ter sintomas leves da doença, mas isso não gera riscos à saúde de quem tomou. 

    Espera aí que nós vamos repetir mais uma vez:

    VACINAS SÃO TESTADAS PARA NÃO CAUSAREM RISCOS.

    Por exemplo, o artigo publicado no dia 17/11/2020, na revista The Lancet, traz os resultados da vacina CoronaVac (desenvolvida pela chinesa Sinovac) mostrando eficiência de 97% enquanto a Pfizer divulgou, no mesmo dia, estudo com eficiência de 95% para seu produto com efeitos colaterais em apenas 2 a 3,8% dos pacientes. Ainda assim, não há efeitos graves noticiados.

    As ressalvas são para quem apresenta alguma reação alérgica à substância da vacina ou a uma doença específica. Dessa forma, nesse caso, é importante lembrarmos da responsabilidade social na chamada imunidade de rebanho. Ou seja, aqueles que não apresentam reações (a imensa maioria) precisam tomar a vacina para diminuir a probabilidade de disseminação dos vírus ou bactérias, protegendo a si mesmo e à quem não pode tomar a substância.

    “Mas eu li que têm mais de um tipo de vacina, e uma delas pode fazer mal”

    Bom, é importante saber que são três os principais tipos de vacina: as de agentes atenuados (ou seja, vivos mas incapazes de causar a doença), as de agentes inativados e as de subunidades (proteínas, partes ou fragmentos, quando é impossível utilizar o patógeno todo). Além disso, há diferentes técnicas ou formas de entrada destes agentes no nosso corpo (sobre os tipos de vacina você pode consultar esse texto aqui).

    Destaca-se aqui que a vacina produzida pela Pfizer utiliza uma tecnologia inédita mas não nova. É uma tecnologia que vem sendo estudada desde meados dos anos 1990. Como assim? A tecnologia está sendo usada pela primeira vez em humanos, sim.

    Todavia, vem sendo desenvolvida e testada há anos, seguindo protocolos de segurança rígidos tanto para vírus, como para bactérias e até doenças autoimunes. Isto é, as etapas de segurança – que envolvem testes com animais – já estão consolidadas e não apresentam risco algum. Tal como as outras técnicas de desenvolvimento de vacinas. Sim! Todas as técnicas possuem etapas de desenvolvimento com cobaias, antes de testarem em seres humanos.

    Assim, parte da “rapidez” que temos desenvolvido neste momento é por estarmos testando vacinas cujas etapas de segurança se relacionam às etapas testadas em animais previamente – antes dos testes de segurança em seres humanos. E estas etapas são absolutamente necessárias, testadas e seguras.

    A terapia de vacinação gênica é fruto do desenvolvimento de pesquisas no campo da biotecnologia e com desenvolvimento da técnica em si, aprimorada ao longo deste tempo. Ela consiste basicamente em fazer nosso corpo produzir uma proteína do vírus.

    Mas é seguro?

    Em suma, a vacina gênica induz nosso corpo a produzir uma proteína e, em seguida, estimula uma resposta imune muito precisa. Dessa forma, estas pesquisas têm demonstrado que as vacinas gênicas são mais seguras, mais rápidas de serem produzidas e mais eficazes. No caso específico da vacina que vem sendo produzida pela Pfizer, a grande questão reside, ainda, no armazenamento. Vocês já devem ter visto noticiado que esta vacina precisa ser armazenada em freezers que se mantêm a temperaturas de -70ºC e há muito pouca estrutura para isto – no Brasil e, talvez, no mundo.

    Todavia, isto também tem sido fonte de debate e pesquisa, para contornarmos este problema!

    Quer saber mais desta vacina? Recomendamos estes dois fios da @mellziland  e da @dogarret no Twitter

    Bom, mas sempre bom lembrar:

    Independentemente do tipo, as vacinas têm se mostrado bastante eficientes na proteção a várias doenças. Por exemplo, um caso especial, queridíssimo da ciência (e não à toa) é o da poliomielite, ou paralisia infantil, erradicada no Brasil em 1989 exatamente por causa da ampla vacinação no território nacional. Mas ainda lembrando (como falamos no texto anterior) que esta doença gravíssima corre o risco de voltar com o crescimento do movimento anti-vacina. 

    Ah mas será que dá pra confiar na vacina chinesa?”

    Quem produz as vacinas? Como ter certeza que seguem um método rigoroso de testes e de preparo? Estas questões juntamente com informações desconexas que circulam por aí podem causar certo receio. No entanto, as vacinas são desenvolvidas segundo um código de práticas internacionais rígido, que regula a produção de insumos para a saúde em todos os países, da Estônia ao Brasil, da Alemanha à Índia.

    No próximo texto

    Nós vamos responder: Mas que protocolos são esses? Calma que logo logo a gente já volta a falar sobre isso! Aguarde!

    Para saber mais

    BBC (2020) Vacina da Pfizer: como funciona a nova tecnologia que pode revolucionar a imunização

    Brasil, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Resolução RDC nº 4, de 10 de fevereiro de 2009, Brasília: Anvisa; 2009

    Costa, C e Tombesi, C (2020) Covid-19: os três passos do método revolucionário para criar vacinas de RNA, BBC.

    Domingues, CMAS, & Teixeira, AMS (2013) Coberturas vacinais e doenças imunopreveníveis no Brasil no período 1982-2012: avanços e desafios do Programa Nacional de Imunizações, Epidemiologia e Serviços de Saúde, 22(1), 9-27.

    Ferrera F, La Cava A, Rizzi M, Hahn BH, Indiveri F, Filaci G (2007) Gene vaccination for the induction of immune tolerance, Ann N Y Acad Sci, 2007 Sep,1110:99-111.

    Fiocruz: Vacinas: as origens, a importância e os novos debates sobre seu uso.

    Homma, A, Martins, RM; Leal, MLF, Freire, MS, Couto, AR (2011) Atualização em vacinas, imunizações e inovação tecnológica, Ciênc saúde coletiva vol16 no2.

    Pinto, EF, Matta, NE e Cruz, AM (2011) Vacinas: progressos e novos desafios para o controle de doenças imunopreveníveis, Acta Biol Colômbia.

    Reinhardt, G, Walflor, HSM, Trigo, JHB, Ribas, JLC (2017) Desenvolvimento e aplicações de vacinas gênicas no tratamento e prevenção de doenças, Saúde e Desenvolvimento, v11, n7.

    Yanjun Zhang, Gang Zeng, Hongxing Pan, Prof Changgui Li, Yaling Hu, Kai Chu, Safety, tolerability, and immunogenicity of an inactivated SARS-CoV-2 vaccine in healthy adults aged 18–59 years: a randomised, double-blind, placebo-controlled, phase 1/2 clinical trial, The Lancet Infectuous Diseases.

    Textos do Blogs sobre Vacinas:

    E aqueles resultados das Vacinas? (Parte 1)

    Obrigatoriedade da Vacina: discurso contrário vem do século XIX

    Vacinas: de onde vêm e para onde vão

    Sobre Vacinas, método científico e transparência na ciência (parte 1)

    Vacina, Estado e Liberdade: a manipulação do debate – Parte 1

    De graça, até injeção na testa? (parte 1)

    Os Autores

    Ana Arnt é Bióloga, Mestre e Doutora em Educação. Professora do Departamento de Genética, Evolução, Microbiologia e Imunologia, do Instituto de Biologia (DGEMI/IB) da UNICAMP e do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática (PECIM).

    Gildo Girotto Junior é Licenciado em Química (UNESP), Doutor em Ensino de Química (USP) e atualmente é professor e pesquisador no Instituto de Química da Unicamp

    Gian Carlo Guadagnin é estudante de graduação em Licenciatura em História (UNICAMP)

    Este texto é original e escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


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