Tag: política

  • Sobre fungos, corrupções e clichês

    Texto por Vilmar Debona

    Em uma crônica de 1 de setembro de 2016, o escritor gaúcho Luis Fernando Veríssimo afirmava:

    “Dilma recorreu à metáfora de uma frondosa árvore, representando a democracia, para comparar golpe parlamentar e golpe militar. No militar, a árvore é destruída a machadadas. No parlamentar, é atacada por fungos, parasitas e erva de passarinho e também morre, mas lentamente. A metáfora parece simples (só faltando definir, no cenário nacional, quem é fungo, parasitae erva de passarinho)”i.

    Gostaria de propor como uma das possíveis respostas para a definição que Veríssimo observa estar faltando a distinção elaborada por Jessé Souza entre o que chama de corrupção dos tolos e de corrupção real, uma oportunidade para “darmos nome aos fungos”.

    A microbiologia nos permite saber da diversidade de fungos, um reino de organismos à parte na natureza. Todos são heterótrofos, não produzem seus próprios alimentos. Sua nutrição se dá por absorção e, em quase todos os casos, não possuem raízes. É certo que há os fungos que fazem o pão crescer e o vinho fermentar, bem como os fungos dos bons cogumelos champignons. Mas certamente não foi a estes tipos que Dilma se referiu. Pois há aqueles fungos que se formam em matérias já mortas e, em conjunto com uma variedade de bactérias, possibilitam a decomposição dessas matérias. E, principalmente, há os fungos parasitas, que atacam seres vivos, provocam micoses, frieiras, excrescência carnosa, infecções e, nos vegetais, fitomicoses como a ferrugem, os esporões e o apodrecimento.

    Se formos ao Gênesis bíblico notaremos uma personagem bastante esquiva: a serpente, que instiga o rompimento da perfeição divina e que, logo que sai de cena, é culturalmente demonizada… mas, se notarmos bem, perceberemos que ela não é filha de nenhuma força das trevas ou demoníaca, senão do próprio Deus. O ímpeto em direção ao rompimento da proibição em comer da “árvore do conhecimento” não é provocado por algo externo à Criação. Ao considerarmos esse ímpeto ou impulso em corromper a ordem, em ceder à tentação, poderíamos ficar à vontade com a etimologia de Agostinho de Hipona (o mesmo filósofo que, aliás, cunhou o termo pecado): corrupção, de corruptioneii, de corromper, composto por cor (coração) e por ruptus (quebra, rompimento), literalmente, coração rompido, deteriorado, pervertido. Se todos temos coração, então apenas uma boa dose de hipocrisia seria capaz de manter alguém convicto de que existem “cidadãos de bem” capazes de atravessar toda uma vida sem nunca e de nenhuma forma transgredirem ou corromperem.

    Seres incorruptíveis, no entanto, são personagens férteis no imaginário seletivo dos inveterados apoiadores da Lava Jato. A percepção falsa não é falsa em relação a Agostinho, mas em relação à ideia de que, ao menos no Brasil, corrupção é somente da política e nunca do mercado, sempre do Estado e nunca das elites econômicas e do capital financeiro – ou, como formulou Max Horkheimer no contexto de suas teses sobre a razão instrumental, nunca das “forças econômicas cegas ou demasiadamente conscientes”iii.

    Em seu A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato, Jessé Souza chama de corrupção real aquela do Brasil escravocrata, “semente de toda a sociabilidade brasileira”iv, que cria singularidades necessariamente excludentes e perversas. Seria a corrupção do que ele denomina elite da rapina e do dinheiro, uma elite (do atraso), que se perpetua principalmente sob o comando financeiro e midiático, com ações predadoras que fazem o jogo do capital financeiro internacional e que, com o termo “privatizar”, atribui um nome polido para o que, na realidade, é uma patranha e atende por corromper e saquear.

    Típicos dessa corrupção real – que, principalmente no caso da mídia oligopolista, oculta-se de forma magistral a fim de ter mais poder real – são a manipulação e o convencimento que aplicam com pílulas diárias sobre a opinião pública. O Estado e a política são, nessa sórdida manipulação, as únicas esferas corruptas, caminho que facilita o repasse de empresas estatais e de riquezas nacionais para nacionais e estrangeiros, que transformam em posse privada os colossos que deveriam ser de todos.

    Os complexos mecanismos mobilizados por grupos econômicos para levar multidões às ruas do país, reuniões-espetáculos manipuladas e transmitidas ao vivo pela mídia corporativa, para, assim, “justificar” as manobras jurídicas das “pedaladas” do Golpe contra Dilma Rousseff, foi um dos mais evidentes atestados da tese de Souza. E se alguém perguntasse em que termos é isso corrupção, a resposta viria fácil: em um dos sentidos mais convencionais do termo, o de enganar para obter vantagens ilícitas.

    Já a corrupção dos tolos seria a da crença originada ante a miragem provocada pelo espantalho da ideia segundo a qual o Estado é o único corrupto. É o que corruptos e corruptores reais ventilam diariamente para nenhum brasileiro duvidar de que os políticos e o Estado são os causadores de todas as tramoias, e não o contrário. O imbecil perfeito, diz Jessé, é forjado quando o cidadão espoliado passa a apoiar a venda subfaturada de recursos públicos a agentes privados, imaginando que assim ajuda a evitar a corrupção estatal.

    “Como se a maior corrupção […] não fosse precisamente permitir que uma meia dúzia de super-ricos ponha no bolso a riqueza de todos, deixando o resto na miséria. Essa foi a história da Vale, que paga royalties ridículos para se apropriar da riqueza que deveria ser de todos, e essa será provavelmente a história da Petrobras”v.

    Ao final do livro, o sociólogo voltará à questão, tomando-a, desta vez, metaforicamente:

    “A política e os políticos são os aviõezinhos que sujam as mãos, se expõem à polícia seletiva e ficam com as sobras da expropriação da população. A boca de fumo são os oligopólios e os atravessadores financeiros, que compram a política, a justiça e a imprensa de tal modo a assaltar legalmente a população”vi.

    Eis, então, o pano de fundo, tomado genérica e confusamente como a única explicação da corrupção no Brasil: a corrupção como prática generalizada e creditada ao “jeitinho brasileiro”, interpretação de Roberto DaMatta para o “homem cordial” de Sérgio Buarque de Holanda. A tese tornou-se um depósito de culpas, admissão de que todo um povo é ou tende a ser nacionalmente corrupto, um pseudo fundamento antropológico-moral criado e metodicamente orquestrado para maquiar a corrupção real das elites oligárquicas. Aí está o engodo, o chamariz de fungos, de sanguessugas e de parasitas de toda espécie.

    No mais, se existe um “homem cordial”, quem seria o seu contrário? Suspeito que posso encontrar boa parte da resposta toda vez que leio uma notícia de que um juiz brasileiro recebeu prêmio nos EUA ou na Europa pela “limpeza” feita em terras emporcalhadas. Mas fiquemos com Jessé.

    Em sua outra obra, A radiografia do golpe, o autor dirigirá uma áspera crítica a Sérgio Buarque de Holanda (que se estende a seus epígonos Raymundo Faoro, Fernando Henrique Cardoso e Roberto DaMatta) sem hesitar na afirmação de que, na ausência do mito do “homem cordial” – portanto, sem Buarque e seu clássico Raízes do Brasil – a Lava Jato não se sustentaria. Em outras palavras, Gilberto Freyre, mas, principalmente, Sérgio Buarque, teriam autorizado de forma proposital a confusão entre os adjetivos “cordial” e “corrupto”, interpretando um vício pretensamente brasileiro como tendência inata à corrupção:

    “Ao definir o homem cordial, literalmente o ‘homem do coração’, como o protótipo do brasileiro de todas as classes […], prisioneiro das próprias emoções, ele supõe que exista um outro tipo de gente que teria se libertado dessa prisão. É aqui que mora todo o racismo, toda a ingenuidade e toda a admiração basbaque do brasileiro com o complexo de vira-lata em relação ao estrangeiro visto como superior”vii.

    E é muito curioso notar, então, como o mito do “homem cordial” estaria significativamente próximo da etimologia agostiniana de corruptione.

    Mas Jessé não atentou suficientemente para um elemento flagrante do uso e do abuso do mito do “homem cordial”, o do seu uso como clichê. Este elemento é particularmente significativo se considerarmos que, para além de intelectuais da direita e da esquerda de todos os tempos, “intelectuais” da Lava Jato também lançam mão do tal “homem cordial”.

    Minha hipótese é a de que se notarmos enquanto clichê o uso recorrente dessa desculpa para tudo, então poderemos alcançar uma melhor compreensão sobre por que qualquer combate daquela corrupção real é facilmente evitado ou comprometido. Indicar um inimigo oculto sob as sombras da cordialidade pode ser a melhor estratégia retórica – que soa simpática, mas é preguiçosa em termos de reflexão e crítica – para facilitar a perpetuação das mais perversas práticas.

    Tomemos, aqui, o uso de clichês como sinônimo de ausência de pensamento, de menoridade intelectual ou de comportamento condicionado, e veremos que não é difícil assumi-lo como causa indireta – e de difícil identificação – da prática de males que podem ser praticados de forma velada e em larga escala. No mais, recorrendo-se a clichês para jogar a culpa num sujeito oculto, todos e ninguém são culpados, podendo-se eleger eventual ou constantemente bodes expiatórios da corrupção dos tolos para, assim, transmitir à população explorada e vítima da desinformação proposital uma indignação teatral e cínica, como se o melhor senso de justiça reinasse nos gabinetes de corporações e nos estúdios de televisão.

    Se considerarmos esses três elementos complementares – o uso de clichês, a ausência de pensamento e a manipulação midiática – poderíamos lançar um olhar para uma das mais ilustrativas figuras do Golpe de 2016 e da Lava Jato: em uma postagem de rede social transcrita por Jessé em A elite do atraso, o jovem procurador Deltan Dallagnol afirma o seguinte, ao buscar justificar as Operações por ele comandadas:

    “O estamento aristocrático, na clássica avaliação de Raymundo Faoro, desenvolveu-se em um ‘estamento burocrático’, formado por autoridades públicas que são espécies de ‘seres superiores’ que não se subordinam à lei […]. Some-se, dentro desse contexto, que, analisando as características do brasileiro, o célebre Sérgio Buarque de Holanda, em seu consagrado ‘Raízes do Brasil’, definiu-o o ‘homem cordial’ […], criando o jeitinho brasileiro”viii.

    Fungos, lembremos, não apenas não possuem raízes, como também não são de fácil localização, podem estar por toda parte. E clichês podem eximir qualquer um de qualquer responsabilidade, bem como possibilitar a acusação e a condenação de pessoas e de grupos que se tornem politicamente indesejados. Podem jogar para “o todo” o que, na ausência dessa perigosa facilitação, seria delimitado e identificável. A estratégia do clichê também torna impossível a realização daquele ditado popular, comum no Brasil, de “cortar o mal pela raiz”. Em todo caso, ao menos o nome da maior Operação anticorrupção – dos tolos – estaria coerente com o que se propõe: “lavar”, mas não necessariamente “cortar” ou “extirpar”!

    Lava-se mal e porcamente a corrupção dos tolos, enquanto a corrupção real não é sequer atingida em seus profundos tentáculos – e, muito menos, “cortada”.

    A variedade de fungos não é exclusividade da microbiologia. Os dias transcorridos pós-Golpe de parasitas de 2016 tornam cristalina a certeza de que os fungos que atacaram a árvore da democracia foram e são os da corrupção real, suficientemente camuflada por seus promotores para não ser percebida pelos tolos espectadores de clichês. Ademais, o consumo cada vez mais voraz de clichês haverá de exibir seus resultados fecais nas eleições de 2018, pois é o maior cabo eleitoral de projetos protofascistas que dispensam a razoabilidade de pensamento e a ponderação.

    Poderiam estes elementos nos proporcionar alguma resposta para a definição que Veríssimo disse estar faltando? As feridas abertas em torno das quais a variedade de fungos se aloja e se reproduz são feridas antigas, jamais cicatrizadas, e que se renovam sob novos e criativos ataques diários.


    i VERÍSSIMO, L. F. Das metáforas. O Globo, 1. Set. 2016, grifos meus.

    ii Cf. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975, p. 486.

    iii HORKHEIMER, M. Eclipse da razão. Trad. Carlos Henrique Pissardo. São Paulo: Unesp, 2015, p. 37.

    iv SOUZA, J. A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro: LeYa, 2017, p. 9.

    v Idem, p. 12-13.

    vi Idem, p. 226.

    vii SOUZA, J. A radiografia do golpe. São Paulo: LeYa, 2016, p. 36.

    viii DALLAGNOL, D. apud SOUZA, J. A elite do atraso, cit., p. 184.


    Publicado originalmente em Open Phylosophy.

  • Editorial 2018 – Open Philosophy

    “No século IV a.C., a República de Platão oferecia a primeira utopia sócio-política – uma especulação sobre o melhor modo de organizar a vida (particular e) pública que haveria de se tornar objeto de interpretação e crítica constante no resto da história ocidental.

    Entre as teses mais controversas, há uma de especial interesse: grande conhecedor da psicologia humana, Platão sugere no Livro V de República uma estratégia para evitar os desvios produzidos pela ambição, à qual se inclina naturalmente todo sujeito (e em especial os detentores do poder), pode ser encontrado na abolição da propriedade privada, em especial para a classe governante, tornando comuns não apenas os bens materiais mas também os filhos e todos os laços sanguíneos, de modo que todos concebam o mesmo como “próprio” e o interesse particular não danificasse o comunitário, o bem comum à maioria.

    Anos depois o discípulo de Platão, Aristóteles, reagia à especulação do mestre e à ideia da comunidade de bens e família. Na Política, Aristóteles defende que a pretensão platônica é não apenas impossível mas, ainda que realizável, absolutamente indesejável. A propriedade privada – anota Aristóteles, outro grande conhecedor da vida subjetiva – constitui uma das maiores fontes de motivação e prazer humano, e a sua abolição resultaria justamente no efeito contrário do pretendido: ser de todos não equivale, diz Aristóteles, a ser de cada um mas, paradoxalmente, a ser de ninguém. Com o qual o que é comum seria igualmente negligenciado por todos.

    Há aqui uma clara polarização das perspectivas e um exemplo clássico de bom debate político. Tanto a polarização quanto o debate tiveram início há mais de dois milênios, e são ainda arena de agitada disputa na época contemporânea”

    Há aqui uma clara polarização das perspectivas e um exemplo clássico de bom debate político. Tanto a polarização quanto o debate tiveram início há mais de dois milênios, e são ainda arena de agitada disputa na época contemporânea.

    “Hoje, aliás, o debate político é especialmente imprescindível.

    Que significa hoje ser de esquerda? que de direita?

    É ainda pertinente esta nomenclatura? Se sim: qual a sua utilidade?

    Qual a ideia de “progresso” defendida por cada uma das vertentes?

    Qual é o discurso hegemônico de cada uma no que toca à justiça, e à justiça social principalmente?

    Existe uma dogmática própria da esquerda e da direita no que toca à educação e à ciência?

    Quais as propostas dos presidenciáveis no contexto eleitoral do Brasil atual?

     

    Open Philosophy – https://www.blogs.unicamp.br/openphilosophy/

    Conheça mais sobre o Blog https://www.blogs.unicamp.br/openphilosophy/sobre/

  • Ciência também é política e economia

    Texto por Victor Augusto Ferraz Young

    Nestes dias que antecedem às eleições presidenciais de 2018, nos deparamos com os recentes cortes orçamentários por parte do governo federal no que se refere à promoção e ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia no Brasil.

    A redução neste e em outros gastos tem como base o fato de que o Estado deve garantir que parte daquilo que arrecada seja direcionado para o pagamento de suas dívidas depois de abatidas as despesas – grosso modo. Que o Estado deva cumprir com seus compromissos, isso não é objeto de discussão, ele deve pagá-los. Os termos da dívida contratada e sua rolagem, a qualidade do gasto realizado e a forma como se obtém a receita são, porém, objeto de acalorado debate, principalmente entre economistas. Ou seja, há espaço para várias formas de se abordar essa questão. Mencionamos o pleito presidencial, pois a forma de se gerir o gasto, a arrecadação e o endividamento é, em grande medida, uma opção política. Não fosse assim, este tema não estaria em todos os programas de governo de cada candidato e não seria um assunto tão debatido como o é nesse momento de escolha do futuro governante.

    Não pretendemos agora abordar toda a discussão sobre a gestão de recursos do Estado, faremos isso ao longo dos próximos meses, assim que o futuro blog de economia estiver pronto. Pretendemos, todavia, salientar nosso ponto de vista quanto à questão do suporte governamental para o desenvolvimento e para a produção de ciência e de tecnologia.

    Os recentes cortes orçamentários nestes itens do governo obedecem, em grande medida, a uma agenda que estabelece que um governo deve gastar não muito mais do que arrecada, realizando e rolando dívidas em meio a reiterados cortes sobre aquilo que não faria parte de suas funções. O mantra desta ideologia é o de que o Estado não deve auxiliar o desenvolvimento da economia local. Ou seja, a melhor ajuda é deixá-la sem auxílio para enfrentar corporações gigantescas em um mercado aberto e globalizado. Caberia ao empresário brasileiro arcar com o custo, o risco e o prazo para a maturação de um investimento em inovação. Isso sem considerarmos aqui um conjunto prévio de produtos avançados e conhecimentos técnicos necessários para a produção de algo novo e rentável. Dada esta ordem de coisas, não é difícil escutar entre candidatos que, neste cenário, do nada, o investidor estrangeiro viria ao Brasil trazer e desenvolver tecnologias de ponta. Ele virá, se houver um mercado aberto e com moeda estável para a retirada de seus lucros, mas a questão da transferência de tecnologias de fronteira me parece remota, quando não improvável.

    Por último, é muito importante enfatizar que historicamente não houve país que se tornasse altamente desenvolvido sem a interferência do Estado. Este apoiou o capital nacional, o progresso da ciência e, como resultado, promoveu a criação de empregos de alto nível para seus habitantes. Também não há nação nessa estatura que tenha seguido, nos momentos cruciais de seu desenvolvimento científico, tecnológico e industrial, uma agenda como esta que descrevemos acima e que está sendo proposta nestas eleições. A chamada proposta “liberal”, eufemismo que substitui o termo neoliberal, não tem como conduzir o país para o mundo dos países desenvolvidos, pois sem o apoio do Estado, não há como desenvolver um dos elementos imprescindíveis e fundamentais para se chegar lá: a criação de tecnologias e inovações com base no conhecimento científico.

    Texto por Victor Augusto Ferraz Young – Doutorando em Desenvolvimento Econômico pela UNICAMP e Colaborador do Blogs de Ciência da Unicamp.

  • A importância da ciência para o estudo da energia

    Texto por Rafael Henrique

    Vocês já devem estar familiarizados com a notícia do corte de bolsas da CAPES previsto para agosto de 2019, correto?

    Certamente quando eu li isto foi como se fosse um soco no estômago. Por causa disto, eu decidi fazer um texto sobre o porque a ciência é importante para o estudo da energia, da mesma forma de o porque de conscientizar as pessoas sobre o prejuízo que os ataques a ciência podem causar para quem estuda nesta área. Como o caso de Engenheiros de Energia ou áreas relacionadas.

     

    O que é ciência?

    A definição de ciência em si já explica a sua importância no estudo da energia. Ciência é o conhecimento obtido através da prática ou estudos. Basicamente, através da pesquisa. Logo, a ciência é necessária para o aprofundamento das mais variáveis áreas, inclusive a que o Blog é focada(8;9).

    Energia Eólica

    É incerto o tempo exato da criação da energia eólica. Existem evidências que o modelo de eixo vertical tenha surgido em volta de 200 antes de cristo no Irã. Outras demonstram que teria sido originada na Persia. Mas uma coisa é certa. A metodologia para o desenvolvimento do uso dos ventos, foi baseado em conhecimento científico. Considerando também que antigamente era estudado o uso do vento para outros usos, como irrigação. O estudo dos moinhos de vento também é um antecessor para as atuais torres eólicas. Da mesma forma que sua evolução feita por vários países, em especial a Holanda e na Dinamarca (na qual os modelos para geração de eletricidade foram criados)(2).

    Turbina eólica Charles Blush (1888)

    No Brasil, também há estudos para aplicação da energia eólica. Através de metodologias em diferentes estados (envolvendo instituições diferentes), foram feitos diferentes atlas eólicos, com o intuito de avaliar o potencial eólico nestes estados. Inclusive, o estudo destes projetos pode auxiliar inclusive na geração de empregos e aumentar a segurança energética do país(6).

    Energia Solar

    Muitos métodos foram desenvolvidos para captar energia dos raios de sol. Um experimento feito por Georges Louis Leclerc (Comte de Buffon), focalizava os raios de sol em um único ponto, com este intuito. Assim como a eólica, o descobrimento desta fonte renovável foi baseado em viés científico. Da mesma forma que o estudo foi evoluindo, como William Grylls Adams e seu estudante Richard Evans Day fizeram em 1876, na qual introduziram a relação da energia solar com a geração de eletricidade(3).

    Fonte: Gardner (2010)

    No Brasil o governo procura investir no uso da energia solar. Estudos são feitos, por exemplo, sobre o Payback que regiões tem após aderirem a um sistema de aquecimento solar, feito pela SWERA. Inclusive, há estudos para a aplicação da energia solar em regiões, cujos painéis não estão localizados. Em outras palavras, utilizar a energia solar para abastecer uma região distante de seu local de instalação. Todos estes estudos são possíveis graças a magica da ciência(6).

    Biodiesel

    Não apenas para o diesel, mas também para o biodiesel, foi utilizado de métodos científicos. Os motores a diesel, por exemplo, estão relacionados com os motores a vapor. Isto tendo como base um modelo conhecido como “Hero of Alexandria”. O ciclo a Diesel foi sendo desenvolvido com o tempo, a partir de pesquisas com queima de combustíveis, idem parâmetros necessários, como o volume e o tipo de combustível. Da mesma forma que foram necessárias adaptações, como reduzir os ruídos do motor e até mesmo as emissões. E o avanço também permitiu o uso de combustíveis alternativos ao motor a diesel, como é o caso do biodiesel atualmente(7).

    No Brasil o uso do biodiesel encontra-se bastante incentivado. Inclusive, busca aumentar a porcentagem de biodiesel em conjunto com o diesel ano após ano. Mas antes, busca-se testar a mistura, na qual utiliza-se de métodos científicos. E o Brasil possui uma quantidade grande de insumos para o biodiesel, o que faz a área de estudos de biodiesel ter inúmeras possibilidades. Como por exemplo, os estudos feitos para o aumento na mistura do biodiesel, considerando a redução de emissões, idem o não esgotamento de tais recursos(5).

    Conclusão

    O avanço da ciência foi crucial para a criação e avanço, não só das fontes citadas, mas também de outras não citadas neste texto (tanto renováveis quanto não renováveis). Se o Brasil investir em ciência, certamente poderá fazer mais estudos de aplicações das fontes de energia, inclusive resolver soluções de seus problemas. Por isto qualquer ataque a ciência é também uma afronta ao desenvolvimento de novos estudos de energia. Desta forma, peço que divulguem esta mensagem final a todos aqueles que visam estudar sobre a energia. E para os mesmos não deixarem isto acontecer, pois isto afeta a todos desta área(1,4).

    E nestas eleições (ou nas próximas) cobrar dos seus candidatos uma posição sobre a ciência no Brasil. Sugiro votar em candidatos que estimulam a pesquisa cientifica no Brasil, e não votar em quem pensa o oposto. Caso o seu candidato não tenha nenhum interesse na pesquisa científica (e que deveria ter), mas você discorda deste posicionamento e ainda assim irá votar nele (o que eu desaconselho), COBRE uma satisfação sobre o ocorrido para evitar tal acontecimento.

    E este foi mais um texto. Os links para este texto estão na descrição, e vou pedir para verem e compartilhar especialmente o item 1, porque ele fala do assunto de uma forma mais ampla até mesmo para quem não é da área em que o blog é focado. E aproveitem e curtam o Blog em suas redes sociais (Facebook e Twitter).

    Referências:

    (1) FERNANDES, S. Os cortes na CAPES e a pesquisa no Brasil | 030. Brasil, Youtube, 2018. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=yaA2bIqNUww>

    (2) FLEMING, P. D.; PROBEN, S. D. The Evolution of Wind-Turbines : An Historical Review. Applied Energy, v. 18, p. 163–177, 1984.

    (3) GARDNER, L. The sun’s power went into battle for the Greeks and now heats homes. Professional Engineering, n. 31 March 2010, p. 21, 2010.

    (4) MORI, L. Corte de bolsas da Capes afetará vacinas, energia, agricultura e até economia, diz presidente da SBPC. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45063428>. Acesso em: 4 ago. 2018.

    (5) OLIVEIRA, F. C. DE; COELHO, S. T. History , evolution , and environmental impact of biodiesel in Brazil : A review. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 75, n. July 2015, p. 168–179, 2017.

    (6) RAMOS, F.; PEREIRA, E. B. Enhancing information for solar and wind energy technology deployment in Brazil. Energy Policy, v. 39, n. 7, p. 4378–4390, 2011.

    (7) SHRINIVASA, U. The Evolution of Diesel Engines. Resonance, n. April, p. 365–377, 2012.

    (8) Significado de Ciência. Disponível em: <https://www.significados.com.br/ciencia/>. Acesso em: 4 ago. 2018.

    (9) Significado de Ciência. Disponível em: <https://www.significadosbr.com.br/ciencia>. Acesso em: 4 ago. 2018.

  • Vandalismo em Brasília: entre a raiva e a indignação

    O que há para além da indignação? A raiva, seguramente; ou talvez ela venha antes. Independentemente da ordem, eis a questão: qual é a paisagem que vislumbram aqueles que atravessam o agitado tumulto desses terríveis sentimentos? Sem dúvida, é uma paisagem inóspita e desolada, um deserto escuro capaz de dissuadir inclusive o peregrino mais empenhado e fazê-lo desviar o caminho, abrir-se pela tangente, lançar-se mato dentro e talvez construir uma cabana na montanha onde, isolado em terapêutico retiro, possa recuperar forças e tentar esquecer.

  • É possível retomar o controle econômico do país?

    Entre os anos de 2003 e 2013, a economia brasileira conheceu um modelo de desenvolvimento composto por um conjunto de programas econômicos e sociais, elevação do salário mínimo, ampliação das aposentadorias, expansão da educação e dos serviços de saúde, amplos investimentos em infraestruturas e outros programas que ampliaram a demandam para as empresas gerando mais de dez milhões de empregos formais no país. Sobre este modelo e os fatores associados a ele o economista Ladislau Dowbor, da Faculdade de Economia e Administração, da PUC-SP, publicou a análise “Entender a crise, retomar as conquistas”, na última edição da revista Estudos Avançados, (v. 31, n. 89, 2017), que também traz um dossiê sobre “Saídas para a crise econômica” atual.

  • A figura do herói e as narrativas na política

    Lucifer Rising - Uma releitura do Yin Yang por Kirsi Salonen.Está difícil evitar o tema política nesses tempos. Muitos escândalos vindo à tona, eleições presidenciais batendo à porta, participação ativa das mídias tradicional e independente, constante uso de narrativas míticas clássicas pela comunicação política, crise de descontentamento e total perda de credibilidade dos três poderes, enorme polarização da população e uma (aparente) polarização dos políticos. É evidente que o assunto não vai ser esgotado aqui. E não pretendo citar nenhum caso em particular. O objetivo desse post é apenas abordar um pouco sobre a construção da figura de um herói e a presença desse tipo de narrativa heroica no contexto político.

  • Encontrando Fanon

    A obra de Frantz Fanon, intelectual nascido na Martinica, é uma das mais relevantes para se entender a circulação de ideias no contexto de intensificação dos movimentos de independência na década de 1960. Quais territórios na África proclamaram autonomia política frente aos impérios coloniais a partir da segunda metade do século XX? Em 1957, cinco anos depois da publicação da primeira edição de “Pele negra, máscaras brancas”, Gana se livrou do domínio político e militar britânico. Camarões obteve a independência em 1960, mesmo ano da autonomia conquistada por Nigéria, territórios que compunham a África equatorial francesa, Sudão Francês (que viraria o Mali), Somália, Madagascar e outros países.

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