Tag: saúde

  • E se você adicionar a PREP nas suas ações de 2024?

    Autoria

    Alexandre Borin

    O HIV e a AIDS são um desafio para a ciência e a saúde pública desde meados de 1980. Uma das formas mais eficazes conhecidas de prevenção é a PREP.

    O que é PREP?

    Desde o surgimento do HIV e da AIDS na década de 80, a ciência já avançou muito em relação ao entendimento, tratamento e prevenção da infecção. Uma das formas mais eficazes conhecidas atualmente é a PREP. Mas por que ela é tão importante?

    A PREP é a Profilaxia Pré-Exposição, e serve como uma medida preventiva frente a possíveis infecções pelo vírus da imunodeficiência humana, o HIV. Seu fornecimento acontece pelo Sistema Único de Saúde do Brasil desde 2017. Atualmente existem dois protocolos para o uso de PREP: A PREP diária e a PREP sob demanda. A aplicação dos protocolos dependem de uma análise de risco, feita junto ao médico, levando em consideração a vida de cada pessoa.

    A PREP diária é a administração de um comprimido por dia, de forma contínua. Ela não tem efeito imediato, por isso é importante estar atento às orientações do serviço de saúde.

    Já a PREP sob demanda possui recomendação apenas em casos específicos. Costuma ser realizada no esquema de 2 comprimidos em um período de 2 a 24 horas antes da relação sexual, + 1 comprimido 24 horas após a dose inicial de dois comprimidos + 1 comprimido 24 horas após a segunda dose.

    Mas qual a importância da PREP, se ela só protege contra o HIV?

    Apesar da PREP em si ser uma prevenção ao HIV, para fazer a retirada do medicamento é necessário um acompanhamento médico a cada 3 meses, que consiste em uma série de exames para teste de HIV, e detecção de outras infecções sexualmente transmissíveis além do acompanhamento do bom funcionamento do seu fígado e rins.

     

     

    Mandala de Prevenção Combinada / Ministério da Saúde

    É importante lembrar que além de tratamento, o diagnóstico e monitoramento de infecções é uma das principais medidas de saúde pública. A visita clínica para o encaminhamento para PREP não está isolada de outras medidas. Isto é, existe sempre o incentivo ao uso de preservativos e de sexo seguro e consciente. Além disso, nos postos de saúde há, disponível para retirada, camisinhas e lubrificante. Esse esquema é chamado de Prevenção Cruzada. Ela busca articular sexo seguro, reduzir os estigmas e preconceitos em relação ao assunto, e realizar o controle de ISTs.

    Pensar em estratégias de proteção cruzada são um avanço nas medidas de contenção da AIDS e na melhora da qualidade de vida de toda a população!

    Rolou uma emergência e talvez eu esteja exposto ao HIV.  E agora?

    Em casos de imprevistos ou emergências, em que a pessoa possa estar exposta a uma infecção pelo HIV, é possível solicitar atendimento nos postos de saúde para o tratamento com a PEP, a Profilaxia Pós-Exposição. Ela também é uma combinação de antiretrovirais. O que isso quer dizer? Antiretrovirais são remédios que impedem que o vírus se instale e se replique nas células, o que ocasionaria uma infecção.

    Para que seja eficaz, os medicamentos para a PEP devem ser tomados durante 28 dias ininterruptos. 

    Desse modo, a pessoa que enfrentou uma situação de risco deve iniciar o tratamento logo após a exposição de risco. Preferencialmente, nas duas primeiras horas após a exposição. Mas o tratamento pode ter início em até 72 horas. Lembrando mais uma vez que os medicamentos devem ser tomados durante 28 dias ininterruptos.

    Diferente da PREP, que é de uso contínuo, a PEP deve ser utilizada apenas em casos excepcionais.

    E como a PREP funciona?

    Cada frasco de PrEP contém 30 comprimidos de uma combinação de dois compostos, o Tenofovir e a Emtricitabina. Essa combinação foi utilizada inicialmente para o tratamento de pessoas com HIV (talvez você já tenha ouvido falar do TRUVADA). Além de ser usado nessa população, vários estudos já comprovaram que esse remédio pode proteger as pessoas se tomado de maneira preventiva.

    Os dois compostos que compõem a PrEP atrapalham uma enzima do HIV, a transcriptase reversa. Ao impedir o funcionamento da transcriptase reversa, o DNA viral não será incorporado ao DNA da célula. Dessa forma, não será possível realizar a produção de novas partículas virais, impedindo que o HIV consiga se multiplicar nas células das pessoas.

    A novidade é ela, a PrEP injetável!

    A ANVISA aprovou em junho um novo tipo de PrEP, o cabotegravir. Ele é um medicamento que afeta outra enzima, a integrase. Ao impedir o funcionamento correto dessa enzima, ele impedirá que o DNA viral se integre ao DNA humano.

    Portanto, este medicamento atua em uma etapa diferente do ciclo de replicação do vírus. Além disso, ele é um medicamento injetável, que possui como atual recomendação a aplicação a cada 2 meses. Isso é ótimo para quem tem problemas em conseguir a rotina de tomar a PrEP de maneira contínua. O cabotegravir também está disponível em comprimido oral. No entanto, apenas para avaliação da tolerabilidade dos efeitos do medicamento e em casos de emergência para quem perdeu a dose programada da injeção.

    A PrEP tem efeitos colaterais?

    Assim como todo remédio, a PrEP pode causar efeitos colaterais. Mas sua frequência é baixa e possui pouca relevância em relação aos benefícios que a prevenção traz. A maioria dos efeitos acontecem na fase inicial, e podem ser dor de cabeça, dor de estômago, perda de apetite, náuseas, flatulência, dentre outros. Os efeitos, caso ocorram, desaparecem em poucos meses. Todavia, em casos de permanência, recomenda-se procurar o atendimento médico. Em alguns casos raros, também podem acontecer alterações no fígado e nos rins, por isso é importante o acompanhamento regular do serviço de saúde.

    Qualquer um pode usar PrEP?

    Não! Como falamos, o uso de PrEP deve realizar-se apenas com acompanhamento médico. Dessa maneira, torna-se necessária uma avaliação para saber se você, ou a pessoa que buscou o atendimento médico, se encaixa nas situações com recomendação desse tipo de prevenção. No quadro abaixo, apresentamos alguns exemplos.

    Algumas situações que podem indicar o uso da PrEP segundo recomendação do Ministério da Saúde:

    – Homens que fazem sexo com homens (HSH), travestis e mulheres transexuais

    – Frequentemente deixa de usar camisinha em suas relações sexuais (anais ou vaginais);

    – Faz uso repetido de PEP (Profilaxia Pós-Exposição ao HIV);

    – Apresentar histórico de episódios de Infecções Sexualmente Transmissíveis;

    – Contextos de relações sexuais em troca de dinheiro, objetos de valor, drogas, moradia, etc.

    – Chemsex: prática sexual sob a influência de drogas psicoativas (metanfetaminas, Gama-hidroxibutirato (GHB), MDMA, cocaína, poppers) com a finalidade de melhorar e facilitar as experiências sexuais.

    Usando PrEP ou não, não deixe de pensar na sua saúde e na prevenção e diagnóstico de ISTs neste novo ano!

    Saiba Mais!

    Ministério da Saúde, Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis:

    Serviços de Saúde por estado

    Prevenção combinada

    PEP (Profilaxia Pós-Exposição ao HIV)

    Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)

    Anvisa aprova novo medicamento para prevenção do HIV

    São Paulo, Secretaria de Saúde

    Informações sobre PrEP

    Outras Informações

    CDC

    About PREP

    Pre-Exposure Prophylaxis (PrEP)

    Sobre quem escreveu

    Alexandre Borin, ou Koda, é biólogo, doutorando em genética e biologia molecular pela UNICAMP. Trabalha com vírus transmitidos por mosquitos e faz Divulgação Científica em diferentes redes sociais.

    Como citar:  

    Borin, Alexandre. E se você adicionar a PREP nas suas ações de 2024? Revista Blogs Unicamp, Vol.10, N.1, Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/revista/2024/05/02/e-se-voce-adicionar-a-prep-nas-suas-acoes-de-2024/. Acesso em DD/MM/AAAA.

     

    Sobre a imagem destacada:

    Foto: Renderização 3D de comprimidos da PREP por niphon no iStock (original) e expansão generativa Canva.

    Edição: clorofreela

  • Covid, cloroquina e experimentos em humanos

    Falar que o Brasileiro não tem um minuto de sossego e que isso só tem piorado durante a pandemia já é um clichê. Essa semana não poderia ser diferente – e, realmente, não foi.

    O código de Nuremberg.

    Durante esses meses que estamos convivendo com a pandemia da COVID-19, parte da comunidade científica e dos divulgadores de ciência vêm fazendo um esforço hercúleo para compartilhar informações corretas e atualizadas, além de combater a enxurrada de fake news e desinformação que estão sendo disseminadas por tudo quanto é lugar. 

    Poderíamos falar que a falta de conhecimento do modus operandi da ciência pela população explicaria, mas parece que o buraco é bem mais embaixo. Principalmente quando vemos pessoas com formação em ciências atuando de forma anti-científica, fraudulenta ou pseudo-científica. Mais assustador do que isso foram os experimentos da Prevent Senior que vieram à público. Experimentos com cloroquina em pacientes com COVID-19. É assustador! Uma instituição de saúde, conduzindo experimentos científicos de forma anti-ética, mais de 70 anos após o famoso Código de Nuremberg.

    Voltando no tempo…. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, 23 pessoas do regime nazista (20 das quais eram médicos) foram consideradas criminosas de guerra pelos experimentos realizados com seres humanos. Desse julgamento foi derivado um documento conhecido como “Código de Nuremberg”, divulgado em 1947, que representa um marco na condução ética de experimentos com seres humanos. As diretrizes listadas ali servem, até hoje, para o estabelecimento da legislação sobre o assunto – e no Brasil não é diferente.

    E quais diretrizes são essas?

    A participação do voluntário em um estudo deve consentida e ser precedida por um esclarecimento (feito pelo cientista responsável). Ao voluntario deve ser apresentado todo o processo experimental, além dos possíveis riscos e benefícios envolvidos.

    Não apenas isso. Ao voluntário devem, ainda, ser garantidos o direito à desistência da participação a qualquer momento e à proteção (tratamento adequado; evitar danos e sofrimentos desnecessários; minimizar possibilidade de invalidez e morte). Em caso de grandes chances de morte ou invalidez decorrente do estudo, este não deve ser conduzido – ou deve ser interrompido caso o risco seja detectado ao longo do estudo. Isso faz com que o estudo possa ser interrompido a qualquer momento (a proteção ao voluntário vem em primeiro lugar).

    Mas não acaba por aí. Estudos pré-clínicos (aqueles realizados em laboratório com células e animais*, por exemplo) passam a ser considerados essenciais para estabelecerem esses limites de riscos.

    Por fim, os estudos, para serem realizados em humanos, devem objetivar uma vantagem para a sociedade e serem conduzidos por uma equipe capacitada para isso.

    Hoje, no Brasil, temos uma centralização da análise ética dessas pesquisas que envolvem seres humanos. A base legal é estabelecida pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS), um órgão vinculado ao Ministério da Saúde. Os pesquisadores devem cadastrar os projetos numa plataforma única (a Plataforma Brasil) para serem avaliados a nível local pelos Comitês de Ética em Pesquisa (CEP).**

    Pois bem, o que a Prevent Senior fez?

    Jogou tudo isso no lixo e conduziu seus experimentos com cloroquina (afinal chamar de estudo é meio complicado né?) de uma forma no mínimo questionável. É isso que podemos ver nesse fio da Chloé Pinheiro no Twitter. Vale a pena clicar e ler o fio todinho:

    É assustador! É cruel! É anti-ético!

    E não acabou por aí…

    Não bastasse esse escândalo, fomos brindados com um pronunciamento alarmante de Marcelo Queiroga. A orientação do Ministro da Saúde era interromper a vacinação de jovens de 12 a 18 anos com a vacina da Pfizer contra a COVID-19. A manifestação do ministério veio, ainda, acompanhada de informações inverídicas e levantamento de incertezas acerca da segurança da vacina. Apesar de o movimento anti-vacinas no Brasil não ter a força que tem no exterior, jogar dúvida sobre uma vacina comprovadamente segura gera insegurança na população. E, num momento em que buscamos um percentual elevado de pessoas vacinadas na população, isso pode ter implicações importantes. 

    Hoje mais cedo, quando já estava com a ideia de escrever esse texto, vi esse tweet do Daniel Gontijo que acho que cai bem para fechar esse texto.

    Notas complementares:

    *No Brasil, a experimentação animal é regulamentada pela Lei Arouca (Lei 11.794/2008). A legislação brasileira é bem rigorosa e segue princípios semelhantes aos do código de Nuremberg. Apesar de a experimentação animal ainda ser necessária, há um esforço para que haja: 1) a redução do número de animais utilizados em pesquisas; 2) o refinamento das técnicas para que sejam garantidos o direito ao bem estar e à utilização de técnicas adequadas de manejo e experimentação; e 3) a substituição do uso de animais por métodos alternativos sempre que possível. O canal “Nunca vi 1 cientista”, fez um vídeo muito bom sobre o assunto.

    **Aproveito para indicar dois podcasts recém lançados. O primeiro é o “Pelo Avesso”, que nesta temporada está falando sobre Eugenia. E o segundo é o “Ciência Suja”, que fala do impacto de fraudes científicas para a sociedade. Os dois trazem de forma explícita questões éticas que perpassam a ciência e não podem ser esquecidas.

    Este texto foi escrito originalmente no blog Meio de Cultura

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os produziram-se textos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores. Além disso, os textos passaram por revisão revisado por pares da mesma área técnica-científica na Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Crônica de uma distopia: sobre o debate de mudanças climáticas em meio à pandemia

    Texto de Maria Clara Sosa

    Estaríamos vivendo uma distopia? Nas últimas semanas, nos deparamos com diversas notícias fora do comum… Neve em diversas cidades do Brasil, temperaturas próximas aos 50°C no Canadá, incêndios florestais na Sibéria… Mas não foi esse o início, em Março de 2020 o mundo parou. Noticiaram a maior pandemia das últimas décadas, ficamos em casa. Dessa forma, alguns de nós acreditamos que seria o momento de ressignificar certos hábitos, ressignificar encontros, ressignificar nossas relações com o ambiente ao nosso redor (nossa casa, nosso jardim, nosso quarto, nossa rua…). Entretanto, o que isto tem a ver com as mudanças climáticas?

    Os cientistas nos mostraram ainda que seria necessário ressignificar nossa relação com o meio ambiente. Assim, fica cada vez mais claro que a pandemia da COVID-19 é, também, uma questão da crise ambiental.

    Sobre o IPCC e algumas implicações

    Recentemente, foi lançado o novo IPCC, relatório da ONU sobre as mudanças climáticas e ambientais, apontando a humanidade como grande causadora destas mudanças que temos debatido, na ciência e na sociedade, ao longo das últimas décadas. Mas isso é importante de ser debatido, em meio a uma pandemia que ainda não está controlada?

    A degradação de ecossistemas e destruição de habitats expõem as comunidades humanas aos diferentes animais e doenças infecciosas com as quais não estamos adaptados, ocasionando doenças de alta letalidade e com altos níveis de infecciosidade (este debate já foi tratado no Blog Natureza Crítica). Dessa maneira, em abril de 2021, governantes, entre eles o presidente estadunidense Joe Biden e outros 40 representantes, cientes dos impactos das mudanças climáticas, se encontraram na Cúpula do Clima. Assim, com este encontro, traçaram novas metas para a redução da emissão de gás carbônico, e alternativas para um desenvolvimento sustentável. 

    O discurso brasileiro em contrapontos próprios

    Durante o discurso na Cúpula, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro apresentou uma fala com a intenção de se mostrar alinhado à Cúpula, mas divergente àquilo que é visto na prática do Ministério do Meio Ambiente na atual gestão. Além disso, foram apresentadas metas vagas e incoerentes com as ações relacionadas à preservação e fiscalização ambiental. Às vésperas da COP 26 (Conferência sobre Mudança Climática), que ocorrerá em Novembro deste ano, assistimos à demissão do ministro da boiada, Ricardo Salles.

    Todavia, apesar da substituição de um dos ministros de maior desserviço para a agenda ambiental brasileira já vistos historicamente, provavelmente, veremos poucas mudanças na postura do governo. Um dos motivos para não acreditar na mudança é o avanço do PL490/21 que enfraquece a proteção de áreas indígenas, essenciais na manutenção da floresta.

    IPCC, estagnações e políticas

    Ainda em 2021, o IPCC – Painel intergovernamental sobre mudanças climáticas fez o relatório mostrando os impactos  da humanidade no clima e afirma que tais impactos já são irreversíveis. Portanto, cada vez mais iremos testemunhar eventos climáticos extremos e sentiremos o aumento da temperatura média global. É necessário a diminuição rápida na quantidade de emissões de gases de efeito estufa e ainda assim, essa diminuição será apenas para não piorar a questão climática. É importante salientar apenas que, apesar da necessidade de mudar nossos próprios paradigmas e hábitos no plano individual, isso ainda não é o suficiente. De forma, a estagnar o máximo possível a aceleração das mudanças climáticas é primordial a instauração de um novo sistema socioeconômico. O capitalismo e o sistema de acúmulo são incompatíveis com qualquer ideia de sustentabilidade. É necessário que deixemos de ser apenas consumidores, pois é isso que somos no sistema capitalista.

    Após a apresentação desse quadro, questiono o silêncio ensurdecedor de políticos e da sociedade em relação ao posicionamento ambiental, mesmo com tantos eventos palpáveis gritando por mudanças. Talvez seja porque nós brancos tenhamos a memória curta.

    Nós esquecemos muito rapidamente.

    Como Davi Kopenawa Yanomami analisa, no livro A Queda do Céu, que os brancos precisam continuamente escrever suas ideias e conhecimentos em papéis para que estes não se percam. E ouso acrescentar a tal pensamento, que ainda assim, apesar dos papéis, dos estudos, nós esquecemos. Talvez semana que vem os tabloides já tenham esquecido dos eventos extremos desta semana e nada de efetivo seja feito em relação a isso. Assim como a Cúpula do Clima ocorreu ainda este ano e não há mais falas sobre o que ficou acordado. Bem como o governo brasileiro já esqueceu de suas promessas no combate às mudanças climáticas… Para que lembremos, precisamos ser afetados. Sendo o afeto aquilo que nos deixa marcas, nos faz produzir sentidos, e em um mundo cheio de informação essa produção de sentidos é escassa (Larrosa, 2002).  

    Por fim, está claro que cada vez mais eventos extremos irão ocorrer , está claro que precisamos de alguma forma agir e encontrar ações de redução de emissão de gás carbônico, está claro que precisamos de ações políticas efetivas de forma a frear alguns impactos das mudanças climáticas, e está claro que isso ultrapassa o plano individual e dos sujeitos. 

    Mas antes, precisamos nos lembrar, precisamos produzir sentido, precisamos deixar de esquecer, precisamos nos deixar afetar pelo mundo, precisamos de pessoas com sonhos utópicos que de alguma forma quebrem essa bolha distópica em que vivemos e nos incitem a simplesmente caminhar. Citando um pedaço do poema de Eduardo Galeano: 

    “Que tal se delirarmos por um tempinho
    Que tal fixarmos nossos olhos mais além da infâmia
    Para imaginar outro mundo possível?”

    Para saber mais

    IPCC AR6 Climate Change 2022: Mitigation of Climate Change

    ALESSI, Gil (2021) Indígenas isolados no Brasil entram em risco de extinção com avanço de projeto na Câmara El Pais

    BBC Ricardo Salles: saída tardia de ministro não mudará política pró-desmatamento de Bolsonaro, dizem ONGs

    CHAMORRO, Paulinia (2021) Não há plano B: precisamos de um novo sistema socioeconômico, diz membro brasileiro do IPCC National Geographic

    Embrapa (2021) As mudanças ambientais e a saúde humana: impactos da degradação ambiental sobre surtos de doenças infecciosas

    FAPESP (2021) Novo Relatório do IPCC WG1-AR6: Implicações para o Brasil e o planeta

    GALZO, Wesley (2021) Entenda o que é a Cúpula de Líderes sobre o Clima e como ela impacta o Brasil CNN

    Instituto Socioambiental (2021) Mundo mais quente e Brasil inadimplente

    KOPENAWA, Davi; ALBERTS, Bruce. A Queda do Céu: Palavras de um xamã yanomami. Companhia das Letras, São Paulo, 2015.

    LARROSA, Jorge (2002) Notas sobre a experiência e o saber da experiência Revista Brasileira de Educação

    MATOSO, Filipe, GOMES, Pedro Henrique (2021) Cai o ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente G1

    MODELLI, Lais, GARCIA, Mariana (2021) Veja repercussão do discurso de Bolsonaro na Cúpula do Clima; ‘governo sai como entrou: desacreditado’ G1

    PLANELLES, Manuel (2021) Relatório da ONU sobre o clima responsabiliza a humanidade por aumento de fenômenos extremos El Pais

    Mais textos de Maria Clara Sosa

    A Autora

    Maria Clara Sosa é bióloga pela Unicamp e mestre em Educação em Ciências e Matemática, na Unicamp, pesquisadora no Grupo de Pesquisa em Educação em Ciências (PEmCie) da Unicamp e FURG.

    Este texto foi publicado originalmente no blog PEmCie

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os produziram-se textos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores. Além disso, os textos passaram por revisão revisado por pares da mesma área técnica-científica na Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Vacinas: uma ação de Saúde Pública

    Vacinas são ferramentas importantes no combate à doenças e devem ser pensadas para o bem público. Elas já enfrentam o desafio da desinformação, às fake news, e capitalizar esse momento de vacinação contra a COVID-19 é colocar mais um obstáculo para sua implementação. 

    Temos acompanhado passo a passo o desenvolvimento das vacinas, seus testes, avaliações e aprovações, aprovadas. Todos temos visto, exultantes, as últimas notícias sobre as vacinas no país.

    Há, óbvio, expectativa e urgência em tudo isso. Pois, as vacinas são um dos instrumentos de saúde mais fantásticos já elaborados pela ciência. E, também, um grande passo da ciência que vem se aprimorando cada vez mais ao longo do século XX e agora no século XXI.

    Dessa forma, já houve, sim, muito questionamento acerca de sua segurança. O movimento anti-vacinas que vemos hoje não é o mesmo de décadas anteriores. Mas retoma receios da população, misturados com mentiras e falácias acerca de um (mentiroso) risco às pessoas.

    Neste post, nós vamos propor pensarmos sobre a Vacina Como Produto e a necessidade de olharmos para as Vacinas como uma conquista de cientistas e da humanidade – e não de indivíduos isolados. Vamos entender melhor sobre isso?

    As Vacinas são uma conquista de saúde pública: e é só isso?

    As vacinas são, sim, uma estratégia fundamental para combater doenças sem tratamento. É a partir das vacinas que conseguimos erradicar poliomielite, coqueluche, sarampo no Brasil. E será pelas vacinas que conseguiremos diminuir, e muito, as mortes e as contaminações por Sars-CoV-2 em nosso país e em todo mundo.

    Conquistarmos vacinas seguras e eficazes em tão pouco tempo foi um feito enorme de nossa sociedade. Não é um risco, as vacinas não foram feitas “rápido demais”. Isto foi um investimento estrondoso, nunca visto antes no mundo. Parece clichê, mas realmente foi um grande esforço científico para um bem comum e é espantoso tudo o que conquistamos, como espécie, em 10 meses de pandemia. Mas atrás desse processo, há décadas dedicadas ao estudo de vacinas. 

    Temos neste momento no Brasil, a autorização para uso emergencial de duas vacinas.

    A primeira a vacinar pessoas, logo após a aprovação da Anvisa ontem, foi a CoronaVac, da empresa Sinovac, que em parceria com o Instituto Butantã será produzida e distribuída em São Paulo para todo o Brasil. Teremos em breve, ao que tudo indica, a vacina Astrazeneca, de Oxford, em parceria com a Fiocruz, também será produzida e distribuída para todo o Brasil (a partir de fases de aplicação da vacina, estabelecidos pelo PNI).

    Ambas vacinas são seguras, eficazes e serão fundamentais para diminuirmos a incidência da doença, diminuirmos internações em UTIs, ou mesmo ambulatoriais. Repetimos, neste sentido, tudo isto é fantástico e estamos ansiosos por nossa vez para nos vacinarmos também!

    O que trazemos como questão aqui – e temos abordado ao longo dos últimos meses sobre vacinas e outros temas – é a necessidade de isto ser tratado como pauta da saúde pública. Isto é: as vacinas estão acima dos interesses político-partidários, ou de políticos específicos. E devem assim ser compreendidas! Não existe torcida para uma ou outra funcionar melhor.

    A ciência não funciona a partir de torcidas, mas a partir de observação dos fenômenos, elaboração de perguntas, elaboração de hipóteses, organização e estrutura de metodologias de coleta e tratamento de dados, análise de dados coletados, apresentação e discussão de resultados.

    A avaliação de todos estes processos acontece por pares (colegas da mesma área). A torcida não faz parte de nenhuma etapa disto que conhecemos por método científico. Isto não quer dizer que não tenhamos expectativa pela vacina e não queiramos resultados positivos de segurança e eficácia. Isto quer dizer, apenas, que nossa expectativa e esperança não coleta dados, não pode interferir no processo e, definitivamente, não adulterar resultados.

    Isto vale para cientistas, isto vale para políticos. Além disso, é fundamental a transparência no processo de desenvolvimento científico (a pesquisa sobre a vacina desde o início). Todavia, também devemos cobrar por transparência e objetividade na comunicação acerca deste desenvolvimento. Especialmente pelo momento delicado em que vivemos.

    Assim, usar a vacina como moeda de troca entre setores do governo, fazendo de cada etapa um grande espetáculo que retira das pessoas diretamente envolvidas – cientistas, profissionais de saúde e instituições públicas – o protagonismo pode ser um problema. Ademais, há também um possível descrédito gerado exatamente pela quantidade de informações, demasiadamente técnicas e – para quem não conhece todo o procedimento – contraditória.

    As vacinas obedecem protocolos científicos elaborados em conjunto por vários cientistas: não é um produto de apenas uma mente ou de uma pessoa. Elas funcionam como uma ferramenta de saúde pública por serem efetivas não quando uma ou outra pessoa se vacina, mas quando a maioria de uma população se vacina. Isto é o que chamamos de cobertura vacinal.

    A Desinformação e  as Vacinas

    As vacinas e as campanhas de vacinação não se fundamentam, apenas, no conhecimento técnico científico. Tampouco conseguimos convencer pessoas que estão amedrontadas sobre a segurança de seus filhos, pais idosos ou parentes em grupos de risco apenas afirmando que “é científico, nada de mal vai acontecer”.

    Estes movimentos de desinformação e fake news que implantam o medo são complexos e não se desenrolam apenas apresentando a informação verdadeira, cientificamente embasada.

    É fundamental fazermos isto que chamamos de “trabalho de formiguinha”. Isto é, conversar e propor diálogo, responder perguntas, apontar caminhos, artigos, argumentos e não perder a paciência. Há que se ter em mente que muitos conhecimentos técnicos são desconhecidos por grande parte da população. Não por que possuem uma linguagem difícil ou impossível de compreender-se, mas por ainda não fazerem parte cultura geral da nossa sociedade Eles acabam sendo pouco acessíveis na linguagem. Ou, ainda, pouco divulgado a um público diferente do público habituado ao discurso científico e acadêmico.

    Ainda sobre Desinformação

    A desinformação, em tempos de internet, segue lógicas de grande financiamento, criação de perfis falsos (os chamados bots) que servem para espalhar rapidamente um termo, tag ou tipos de publicações específicas, criando artificialmente “trending toppics”. Também conhecidos como Assuntos do Momento no Twitter.

    Este modelo de espalhar desinformação, de forma organizada e financiada, vem sendo combatida a partir da denúncia em massa de determinados perfis e da tentativa de rastrear de onde vem a informação primária – para eventualmente derrubar estes perfis e/ou publicações.

    Explicando assim, parece até simples de executar a tarefa.

    No entanto, há dificuldades em apagar publicações falaciosas, mentirosas ou com informações duvidosas e sem embasamento. Além disso, muitas vezes, derrubar estes perfis é um processo demorado, o que pode causar bastante estrago enquanto o tempo passa.

    O procedimento de inserir um comunicado de que a informação é contrária às indicações médicas e da OMS é um importante passo no combate à desinformação e algumas redes sociais têm começado a aderir a isto de forma mais comprometida.

    Há outros movimentos que buscam rastrear empresas que financiam propagandas em sites – e eventualmente sites que propagam desinformação. Assim, com estas denúncias, há empresas que têm retirado o financiamento em sites que espalham essas notícias falsas. O grupo mais famoso no Brasil é o Sleeping Giant, muito atuante no Twitter.

    O que queremos dizer com isto afinal?

    Que é urgente priorizar o que, neste momento, realmente importa: a população. As rusgas via mídias sociais e coletivas de imprensa acusando um ou outro setor, desmentindo, alardeando e promovendo discussões, mais do que informar e propor políticas rápidas e eficientes, que salvarão vidas, têm gerado palco de protagonismo que atrasam a política, geram insegurança na população e, de fato, pouco informam.

    Isto, de modo algum é despolitizar as vacinas. Fazer política pública é atuar pelo público. É preciso que as decisões sejam tomadas para o bem da população e não para promoção de pessoas e nomes que queiram, como costumamos dizer, capitalizar com este momento.

    Por fim

    Tendo em vista este trabalho de formiguinha, o Blogs de Ciência da Unicamp e outros GIGANTES que também são formiguinhas maravilhosas lançaram hoje o site Todos Pelas Vacinas. Uma ação que mostra que formiguinhas juntas, podem ter ações de impacto! Lá vocês encontram textos, vídeos, podcasts, artes, informações e uma parte de tudo o que temos batalhado, juntos, para um mundo cientificamente informado e empaticamente responsável!

    Blogs de Ciências da Unicamp, Observatório Covid-19, Rede Análise Covid-19, Equipe Halo (ONU), ABRASCO, Sociedade Brasileira de Imunologia, União Pró-Vacina, Instituto Questão de Ciência: Todos Pelas Vacinas

    Campanha Todos Pelas Vacinas (arte oficial da campanha)

    A ciência e a divulgação científica seguem batalhando para que as informações científicas e as produções da ciência (neste caso específico, as vacinas) sejam acessíveis à população, como direito humano básico. Compartilhe esta ideia! 😉

    Para saber mais

    Bisol J (2020) Politização da vacina é irresponsabilidade sanitária. Cadernos Ibero-Americanos de Direito Sanitário 9(4): 192-197.

    Garcia, LP, Duarte, E (2020) Infodemia: excesso de quantidade em detrimento da qualidade das informações sobre a COVID-19, Epidemiologia e Serviços de Saúde Pública 29 (4), 

    Oliveira, T (2020) Como enfrentar a desinformação científica? Desafios sociais, políticos e jurídicos intensificados no contexto da pandemia, Liinc em Revista

    PROGRAMA RADIS DE COMUNICAÇÃO E SAÚDE (2020) Vacinas na corrida: da politização aos esforços da ciência, RADIS: Comunicação e Saúde, n218, p6-7, nov.

    Este texto é original e escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Curas milagrosas e aviões

    Há uma história da matemática bem curiosa e contraintuitiva. Ela envolve uma equipe de estatísticos, que durante a Segunda Guerra Mundial eram responsáveis por analisar os aviões que voltavam das batalhas, para decidir onde valeria a pena aumentar a blindagem do avião (dado que isso envolve colocar mais peso para voar, que exige mais combustível, o que deveria ser evitado a menos das regiões tidas como essenciais de se proteger).

    Aviões que analisamos (Imagem adaptada de talha khalil por Pixabay)

    Facilmente analisando os aviões que retornaram das batalhas, podiam identificar os locais mais atingidos por balas. A princípio podemos pensar em aumentar o revestimento dessas regiões, afinal, de todos os aviões que retornaram, essas foram as regiões mais atingidas.

    Sugestão de blindagem reforçada (Imagem adaptada de talha khalil por Pixabay)

    Porém, o mais coerente a se pensar seria aumentar o revestimento das regiões que não tem marcas de balas no conjunto de aviões que retornaram da batalha. Mas por que? Se não temos nenhuma marca de bala nessas regiões, elas então não seriam as menos prováveis de serem atingidas?

    Melhor sugestão de blindagem reforçada (Imagem adaptada de talha khalil por Pixabay)

    O contraponto que justifica esse argumento está no nosso conjunto de amostras, dado que todos os aviões que analisamos tem como característica comum “conseguirem voltar da batalha”.

    E os aviões que não analisamos são aqueles que “sucumbiram na batalha”. Logo, se pensarmos assim, dos aviões que analisamos, nenhum deles tinha marcas de bala atingindo diretamente o piloto, ou o motor, pois se isso ocorresse, o avião simplesmente não conseguiria retornar.

    Aviões que nunca retornaram (Imagem adaptada de talha khalil por Pixabay)

    Assim como o cenário dos aviões da Segunda Guerra Mundial, em diversas situações temos no nosso conjunto de informações a analisar, apenas aqueles que “conseguiram retornar da batalha”, enquanto que o mais coerente seria pensar no que aconteceu com aqueles que “não conseguiram retornar da batalha”?

    Sugestão de blindagem reforçada com base na hipótese de regiões críticas (Imagem adaptada de talha khalil por Pixabay)

    De maneira ingênua, acabamos assumindo que isso represente um padrão, como a história de um rapaz que começou a vender panelas de porta em porta, e 20 anos depois controla a principal empresa do ramo de utensílios de cozinha. Essas histórias são como os aviões que retornaram da batalha, analisamos o que aconteceu com essas pessoas, vemos as “regiões em que elas foram atingidas” como por exemplo “pobreza”, “falta de estudo”, “família pouco estruturada”. Porém nesse contexto, esquecemos de nos preocupar com as regiões que essas pessoas “não foram atingidas”, como por exemplo “saúde debilitada”, “redução do poder de consumo da população”, “concorrentes de negócio”, dados estes que podem representar justamente a razão de outros “aviões” não conseguirem retornar destas batalhas.

    De forma semelhante, vejo com certa frequência histórias de pessoas que encontravam-se doentes, enfrentando uma grande adversidade em questões de saúde, e que relatam terem sido curadas a partir da sua fé em uma entidade sobrenatural.

    Não duvido que isso tenha de fato ocorrido, porém levanto o questionamento, será que ao focarmos nesses relatos não acabamos nos concentrando apenas nas “marcas nos aviões que retornaram da batalha”, nos esquecendo das regiões nas quais eles “não foram atingidos” e que podem ter influenciado diretamente o seu retorno? Como por exemplo:

    • se houve a extinção de um hábito não declarado aos médicos (como fumar, beber ou usar drogas) que afetava os exames ou o tratamento;
    • se o tratamento após meses/anos finalmente surtia efeito;
    • se algum diagnóstico inicial estava errado, levando o paciente a um tratamento para outra doença, o qual agravava mais sua saúde;
    • se havia algum fator psicológico que interferia nos sintomas e foi sanado com a convicção de cura pela fé;
    • se algum fator genético incomum nesse paciente possibilitou que seu organismo conseguisse se curar;
    • se parte da sua rotina, alimentação ou trabalho era responsável por alguns dos sintomas.

    Essas possibilidades levantadas, são equivalentes às regiões não atingidas nos aviões que retornaram da batalha. Elas representam assim aspectos que permitiram ao piloto conduzir seu avião até o retorno seguro à base. Ou no caso dos pacientes, aqueles que conseguiram se curar a partir da fé. Mas se consideramos apenas esse lado da história, estamos ignorando as hipóteses que levaram os aviões a “não retornarem da batalha”, ou sendo mais direto nesse contexto, as “histórias das pessoas que não se curaram a partir da fé”.

    Créditos da imagem de capa adaptada de talha khalil por Pixabay)

    Este texto foi publicado originalmente no Blog Zero

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Nosso pedido para 2020

    Este texto foi elaborado conjuntamente pelas Equipes
    Blogs de Ciência da Unicamp e Rede Análise Covid-19

    Nem nas festas de fim de ano o vírus da Covid-19 dá trégua!

    Todos sabemos que as festas de final de ano são importantes eventos familiares e sociais em nosso país. Talvez em um ano tão difícil como foi 2020, as pessoas estejam se perguntando se terão que abrir mão também destes momentos e se não podem fazer uma exceção só desta vez.

    Nós, aqui da Divulgação Científica, temos um compromisso assumido desde o início com vocês, que é de não mentir ou omitir informações e buscar sempre o melhor modo de apresentar o conhecimento científico, debater as informações de modo mais respaldado na literatura científica possível.

    Não será diferente neste momento. Então, vamos lá…

    Não é uma questão de ignorarmos nossa cultura e tradições. Todavia, também precisamos ressaltar alguns pontos que podem, sim, ser a diferença entre a vida e a morte:

    • O vírus não vai entrar em recesso só porque este é um costume praticado por parte da população;
    • Parentes e amigos infectados também contagiam pessoas. Inclusive exatamente pela proximidade de contatos que temos com as pessoas é que nos infectamos;
    • Festividades são momentos em que podemos nos descuidar mais e, por este motivo, precisam sim de atenção redobrada.
    • Uso de máscaras, distanciamento físico e higienização adequada de utensílios e de nossas mãos não deixam de fazer sentido nesse momento, muito pelo contrário. É necessário atentar-se para isso, especialmente se o momento da festividade for inegociável.

    Pensando nisso, o Blogs de Ciência da Unicamp e a Rede Análise Covid-19 têm se preocupado em como agir, para além de divulgar conhecimento. Gostaríamos de apresentar parte dos dados que indicam que os casos no Brasil estão aumentando, as internações voltaram a subir e precisamos não só de ações individuais, mas de um empenho público e coletivo. Ao final desta postagem, vocês vão encontrar uma série de links em que temos apresentado os dados mais atuais, dicas de cuidados com materiais para enviar aos amigos e familiares nas redes sociais e informações que temos produzido nestas últimas semanas!

    No entanto, queríamos fazer mais e temos sentido essa necessidade de compartilhar com vocês, que acompanham nosso trabalho, nossa intenção de nos engajarmos por cobranças mais efetivas de quem pode nos ajudar de modo prático pelo bem de todos. Neste sentido, montamos uma carta e a disponibilizamos aqui em anexo para quem quiser copiar e enviar aos seus representantes políticos, pedindo um empenho maior do poder público em políticas baseadas em evidências científicas e dados técnicos para proteger mais e melhor a população e cada um de nós.

    Algumas dicas para esta carta!

    Update:
    Fizemos uma assinatura no Avaaz e vamos enviá-la às assessorias de Governadores, Senadores e Deputados Federais. A carta consta neste link.

    Além de assinar, vocês podem contribuir compartilhando ao máximo com os contatos de vocês!

    Use e compartilhe esta ideia!

    Envie o link para teus amigos, familiares, compartilhe nas redes sociais, nos ajude a espalhar esta iniciativa!

    Blogs de Ciência da Unicamp
    Rede Análise Covid-19

    Para saber mais:

    Sobre as festividades de fim de ano – cuidados e desafios (live no Youtube)

    Sobre a ocupação dos leitos: início da pandemia e neste momento

    Uma análise das internações hospitalares em Porto Alegre

    E aqueles resultados das vacinas?

    Estamos vivendo uma segunda onda? (live no instagram)

    Materiais para Download e compartilhamento:

    Hábitos para combater a Covid-19

    Como nos infectamos e transmitimos os coronavírus?

    Como evitar que o corona entre na minha casa?

    Quando sair, use máscara

    Vamos falar sobre a noite de véspera do Natal?

  • O cérebro em quarentena

    Como ajudar nosso cérebro a driblar a ansiedade e lidar melhor com o estado de isolamento?

    [Esta é uma versão expandida de um texto escrito para a edição de maio de 2020 da revista Ciência Hoje, por André L. Souza e Lucas Miranda]

    O corpo humano é um organismo altamente complexo, cheio de segredos ainda não descobertos e com habilidades que você provavelmente nem sabe que existe. É estranho imaginar que a gente não conhece o próprio corpo e muito menos o controlamos por completo. Mas isso é normal! Aprender mais sobre como nós funcionamos é essencial para mantermos um estado de bem-estar e de saúde mental. E é sobre isso que vamos conversar.

    Nosso cérebro é uma máquina feita para buscar respostas e perceber padrões. O tempo todo, esse órgão que controla tudo que você faz e pensa, está analisando o mundo e as coisas ao seu redor na tentativa de encontrar esses padrões e, com isso, prever o que vai acontecer.

    cérebro jogando bola
    Ilustração do Vitor Hugo de Oliveira (@myFairy_King) feita com exclusividade para esse texto

    Imagine, por exemplo, uma partida de futebol. Neymar está com a bola e um adversário, bem na sua frente, aguarda o momento de dar o bote. Para o atacante decidir o que fazer, o cérebro dele vai analisar um monte de coisas: a distância que o adversário está, o quão bem o adversário joga, a presença de outros jogadores do seu time, a distância que ele está do gol, o seu nível de cansaço, etc. Essas informações vão ajudar o cérebro do Neymar a prever o que pode acontecer em cada uma das suas possíveis escolhas. E é com essas previsões que uma decisão será tomada.

    Esse processamento de informações ocorre no cérebro o tempo todo e em frações de segundo! Você poderia pensar: então, quanto mais informações o meu cérebro processa mais bem fundamentadas serão as minhas decisões, certo? Não exatamente. Imagine se o cérebro do Neymar decidisse analisar também a cor do cabelo do adversário, a vaia de alguém que está na torcida, uma borboleta que passou voando… Essas informações não serão nada úteis para a previsão específica da sua próxima jogada. Elas só irão dar mais trabalho para o cérebro e dificultar a tomada de uma decisão.

    Em momentos de incertezas, como é o caso de uma pandemia e de isolamento, não é fácil para o nosso cérebro saber quais informações são relevantes para fazer as suas previsões: “devo prestar atenção nas notícias de saúde? Ou devo me preocupar mais com as notícias da economia? Será que preciso saber como o coronavírus funciona? Ou posso mesmo só entender que lavar as mãos ajuda?”. Todo esse excesso de informação vai deixando o nosso cérebro perdidinho, sem saber como fazer suas previsões.

    Quando isso acontece e o cérebro não consegue mais montar padrões, ele aciona uma espécie de alarme interno para te avisar que tem algo errado e que alguma coisa precisa ser feita. É como se dissesse: “Ei, estou sendo sobrecarregado aqui. Precisamos fazer alguma coisa”. Esse sentimento, que chamamos de ansiedade, nos paralisa, porque exige toda a nossa atenção e energia voltadas para resolver o que precisa ser resolvido no cérebro para que ele volte a se sentir bem e a encontrar suas respostas e padrões.

    Por isso, é uma boa ideia adotar estratégias que tragam uma maior sensação de controle para o seu cérebro, para evitar que esse alarme seja acionado.

    Tudo sob controle

    Você acabou de chegar de uma atividade e tudo que você quer é um delicioso suco de frutas. Se você decidir jogar no liquidificador 300 tipos de frutas, de vários tamanhos e formatos, o que vai acontecer quando você o ligar? Obviamente, ele não vai conseguir triturar tudo e ainda vai transbordar e fazer a maior bagunça.

    Assim é o nosso cérebro com as informações. Não adianta jogar lá um tanto de informação de diferentes fontes e formatos e esperar que o cérebro faça um suco legal com elas. Se para fazer um bom suco é importante escolher poucas frutas, de preferência as que você gosta e que te deixam bem, e cortá-las em pedaços pequenos, o mesmo deve ser feito com nosso cérebro. Escolha um número pequeno de informações essenciais e de fontes que sejam confiáveis e se exponha apenas a elas. Dessa forma, seu cérebro vai conseguir digerir essas informações com calma e formar os padrões que ele precisa sem se sentir bombardeado.

    Mas como saber que fruta escolher, ou melhor, como saber que informação devo consumir? Basta você pensar o seguinte: a maioria de nós não vai descobrir sozinho a vacina do coronavírus e nem a melhor política pública para lidar com essa pandemia. Essas soluções virão através do esforço coletivo de especialistas das diversas esferas da nossa sociedade. Assim, você não precisa ficar consumindo toda e qualquer informação que apareça, isso só vai adicionar “mais frutas” e deixar o seu sistema cognitivo sobrecarregado. Foque em informações que dizem respeito diretamente a você, e foque nas fontes seguras e que te fornecem informações corretas, precisas e que não te deixem em pânico.

    Ficar em casa é um ato heroico

    Existem várias coisas que não estão sob nosso controle: a composição genética do vírus, a sua letalidade, a maneira como ele ataca as nossas células. E isso é um tanto ruim para o nosso cérebro, porque, como você deve ter percebido, ele é um pouco controlador. Mas que tal focarmos mais em coisas que estão sob nosso controle?

    Você deve saber que o coronavírus não tem asas e nem sabe se teletransportar. Isso significa que para ele chegar no nosso sistema nosso sistema respiratório e alcançar outras pessoas ele precisa de uma carona. Carona das nossas mãos, do nosso corpo, da nossa saliva, do nosso espirro. E essa carona é uma das coisas que podemos controlar. Como garantem os cientistas em todo o mundo, o ato de se isolar fisicamente é uma ótima forma não dar carona para o vírus.

    Pode ser difícil perceber o ato de ficar em casa como uma ação que está sob nosso controle. Afinal, muitos pensam que estamos apenas “esperando o tempo passar”. Mas não encare dessa forma. O ato de ficar em casa é uma ação que dificulta o trabalho do coronavírus de se espalhar e de chegar nas pessoas mais vulneráveis. E, nesse sentido, ficar em casa (para as pessoas que podem) é um ato heroico, principalmente para o nosso cérebro, que não encara muito bem essa história de isolamento físico.

    Ajudando o cérebro a lidar com o isolamento

    Nosso cérebro é, por natureza, um órgão que precisa das interações sociais. Como ajudá-lo a se acostumar com um estado de isolamento físico? A resposta é: através da criação de hábitos e rotina.

    A gente está o tempo inteiro criando hábitos e rotinas no nosso dia-a-dia. E isso é bom. Hábito é uma forma que o nosso cérebro encontra de economizar energia nas coisas que faz. É como se ele colocasse certas ações no piloto automático e usasse a energia que sobra pra fazer outras coisas. Só tem um problema: uma vez que um comportamento entra no piloto automático, é muito difícil o interromper. Se você tem o hábito de entrar no Twitter a cada 5 minutos, quebrar esse hábito será extremamente difícil. Mas como nosso cérebro sabe criar novos hábitos com facilidade, a melhor forma de acabar com um hábito é criar um outro em seu lugar.

    Ao invés de falar: “não vou entrar no Twitter”, você deve falar “vou fazer outra coisa ao invés de entrar no Twitter”. Crie hábitos bons que substituam hábitos que te fazem mal. Modificar seu ambiente para facilitar que esse novo hábito seja criado também é uma boa ideia. Não adianta querer diminuir o acesso a alguma rede social se ela fica a um clique de distância de você.

    E para contribuir para a sensação de controle, que é tão importante para o nosso cérebro, você pode criar pequenas rotinas no seu dia-a-dia. Ficar em casa o dia todo sem hora definida para nenhuma atividade é como estar em um barquinho no meio do oceano, você vai acabar se perdendo e não indo para lado nenhum.

    Se você precisa estudar durante a quarentena, é importante avisar seu cérebro da hora de estudar. Para isso, você pode criar uma rotina que envolva se arrumar como se estivesse indo pra escola, definir um lugar para estudar e se sentar sempre lá, como se fosse o seu lugar na sala de aula, e se comportar nesse lugar como você se comportaria na escola (de preferência sem pegar o celular a cada 5 minutos).

    Estabeleça a hora de começar, a hora de fazer um intervalo e a hora de acabar. A criação de uma rotina como essa faz com que seu cérebro entenda e se prepare para esse momento. Isso não apenas vai dar a ele uma sensação de controle, como vai te ajudar a se organizar e separar um tempo do seu dia para fazer as coisas que são importantes para você.

    Isolamento físico vs. Isolamento social

    É importante ter em mente que o isolamento necessário para conter a pandemia é um isolamento físico, não social. E há uma diferença muito grande entre essas duas coisas!

    O nosso cérebro é cheio de neurônios, que são células que estão o tempo todo se comunicando umas com as outras. Um neurônio “fala” com outro que fala com outro que fala com outro, e é com esse bate-papo que as informações são processadas. Essa comunicação dos neurônios é estimulada por várias coisas, mas a principal delas é a estimulação social. Como estamos o tempo todo conversando uns com os outros, trocando ideias, emoções e experiências, os nossos neurônios ficam em constante contato para processar todas essas informações que estão recebendo.

    Quando nos isolamos socialmente, nós perdemos esses estímulos e os neurônios vão parando de se comunicar uns com os outros. Sem essas conexões entre os neurônios, todo o nosso processamento cognitivo fica pior. Imagine isso acontecendo com o cérebro do Neymar, por exemplo. Ele vai levar muito mais tempo para decidir o que fazer com a bola (e talvez nem consiga chegar facilmente a uma boa decisão).

    Por isso, precisamos manter o contato social constante, mesmo com o distanciamento físico, conversando com os amigos, rindo, brincando, e explorando novas ideias e emoções. Isso vai manter seu cérebro ativo e fazendo o que ele faz de melhor: processar informações, montar padrões, prever o que vai acontecer e, no caso do Neymar, ajudá-lo a fazer gols.


    André L. Souza
    Neurocientista e divulgador de ciências
    https://twitter.com/andrelesouza

    Lucas Miranda
    Físico e divulgador de ciências
    Colunista na Ciência Hoje e Editor do Ciência Nerd

    Agradecimento especial ao Vitor Hugo de Oliveira (https://www.instagram.com/myfairy_king/), que nos presenteou com sua ilustração do cérebro jogando bola, e à Ciência Hoje, pela publicação do texto e pela parceria de sempre!


    logo_

    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp.
    Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Excessos alimentares no final de ano: é possível evitar? (V.3, N.12, 2017)

    Excessos alimentares no final de ano: é possível evitar? (V.3, N.12, 2017)

     O final de ano é um período caracterizado por vários eventos sociais, encontros e confraternizações.  Afinal, trata-se do encerramento de mais um ano, é hora de comemorar as conquistas, contabilizar os erros e os acertos, e acreditar que coisas boas virão no próximo ano. Na maioria dos casos, se não em todos, esses eventos e festividades são associados a muita comida e bebida. As pessoas comem e bebem como se não houvesse amanhã. Mas, o amanhã chega… E muitas vezes acompanhado das consequências desses excessos como: a culpa e o arrependimento de ter comido e bebido em grande quantidade, a frustração de ter saído da “dieta”, além de sintomas físicos como má digestão, dor abdominal, disfunção intestinal, inchaços, dor de cabeça, ganho de peso, entre outros.

  • Febre amarela já tinha crescimento previsto em zona urbanas

    Febre amarela já tinha crescimento previsto em zona urbanas

    A febre amarela fica normalmente restrita a regiões próximas a florestas, como nossa gigante Amazônia. Quem já visitou a região teve que se imunizar e agora respira aliviado nas cidades de São Paulo e Minas Gerais, as mais atingidas. O rápido crescimento de casos de febre amarela têm preocupado a população pelas altas taxas de mortalidade e a falta de imunidade. Para Karina Ribeiro Cavalcante e Pedro Luis Tauil, autores de um artigo publicado na revista Epidemiologia e Serviços de Saúde (v.25, no.1) no início de 2016, as análises de surtos anteriores no Brasil já alertavam para aumento de casos da doença.

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