Tag: segunda dose

  • A vacinação chegou – finalmente – a nós, os jovens.

    9 meses de pesquisas e testes, 4 meses para o início da vacinação no país, 5 meses vacinando os mais velhos. Um total (até o momento) de 18 meses de pandemia e, para muitos, 18 meses em casa: home office, chamadas de vídeo, pedidos de delivery. E agora, com os nossos pais, tios e avós protegidos, é a nossa vez: temos vacinas!

    Uma promessa. Uma esperança. Um sonho. Um desejo de voltar à “normalidade”. 

    Com o pensamento de “Enfim, tomei a primeira dose!”, outras ideias surgem:

    Vou poder rever meus avós, parentes e amigos. 
    – E agora, vou poder ir àquele bar com meus colegas.
    – E sobre as aulas, eu deveria voltar às aulas presenciais.

    Mas então, uma pergunta ainda ressoa no fundo da nossa mente:

    “Vou poder… mas devo?”

    Com o anúncio da vacinação da população mais jovem (abaixo dos 25-30 anos), muitas pessoas começaram a pensar que a pandemia estava chegando ao seu fim. Que magicamente, a partir de um dia, as pessoas poderiam sair de suas casas livremente, sem precisar usar máscara, sem precisar manter a distância uma das outras, sem precisar se preocupar mais com o vírus da Covid-19. Muitas pessoas pensaram que um simples anúncio ou decreto faria a pandemia acabar. 

    Mas uma pandemia não funciona e nem termina, assim. A fala, a promessa e o decreto de um político não faz com que o vírus deixe de ser transmitido entre as pessoas. São as políticas de saúde pública somadas às ações individuais (que estão ao alcance de cada um de nós) que têm esse poder.

    Com o anúncio da vacinação, o que se viu foi um grande número de pessoas mais jovens indo receber sua primeira dose. Para fins de comparação, aqui no estado de São Paulo, o início das vacinações para 25 anos ou mais foi em 6 de agosto e para maiores de 18 anos foi em 16 de agosto. Hoje (4 de setembro), temos cerca de 80% da população nessa faixa de idade (18-30) com a primeira dose, mas somente 30% (25-29 anos) e 11% (20-24) com a segunda.

    É claro, podemos argumentar que grande parte dessas pessoas está entre o período da primeira e segunda dose. E que quando chegar a data para a segunda dose, todos esses 80% que receberam a primeira irão até o posto mais próximo tomar a segunda. 

    (Observação: os dados abaixo foram todos coletados até dia 04 de setembro, podendo ter alguma defasagem)
    Fonte (também está nas referencias): https://ods-minas.shinyapps.io/covid-19/

    Mas podemos realmente argumentar e esperar tal fenômeno? 

    Vamos olhar para as outras faixas de idades.

    Quando observamos os idosos (+60 anos), vemos que a maioria recebeu a primeira (99%) e a segunda dose (95%). E isso já era o esperado, vide que eles estavam entre os primeiros grupos a serem imunizados lá em março e, mesmo com período maior entre as duas doses (como no caso da vacina da Astrazeneca/Fiocruz), estes já teriam tido tempo de receber a segunda.

    Agora, vamos olhar para o grupo entre os mais jovens e idosos, a população entre 31 e 59 anos. A primeira coisa que notamos ao ver os números de vacinados com a primeira dose é uma redução destes: aqueles entre 55-59 anos com uma porcentagem parecida com os idosos e, quanto mais diminuímos a idade, mais há uma redução dessa porcentagem, até ficar parecida com os mais jovens (por volta de 80%). 

    Contudo, o que mais chama a atenção é o número de pessoas com a segunda dose. Assim como aconteceu com os mais velhos, uma parte considerável desse grupo (por exemplo, aqueles entre 50-59 anos) já teriam tido tempo de receber a sua segunda dose, mas o que se vê é que menos de 50% destes voltaram para tomá-la. Esse problema seria menor se fosse visto somente para essa faixa de idade, mas vemos que é um problema generalizado:

    nenhuma faixa de idade abaixo dos 60 anos, até dia 4 de setembro, chegou a ter 50% da sua população com duas doses

    É importante lembrar que aqui estamos tomando como exemplo somente o estado de São Paulo, que é o estado onde a vacinação está indo mais rápido. Se olhamos o Brasil como um todo, isso se torna até mais aparente.

    Fonte (também está nas referencias): https://ods-minas.shinyapps.io/covid-19/

    Algumas falas ouvidas por aí dão uma ideia do que porquê estamos vendo isso:

    “Tomei a primeira dose e já estou protegido”

    “Não preciso tomar a segunda dose, com a primeira já ‘tá’ tudo bem”

    “Sou mais novo, só a primeira dose já vai me proteger”

    E estamos falando somente dos “argumentos” que parte da população que chegou a tomar a primeira dose usa. 

    “E qual o problema nisso tudo”?

    Não devemos falar em problema, no singular, mas sim em problemaS, que por serem tantos, tentarei resumi-los. 

    A começar pela variante Delta, que já chegou no Brasil e vem tomando conta do país, já sendo a variante mais prevalente aqui. 

    Fonte (também nas referências): Fiocruz 

    Fonte: Our World in data

    E as vacinas? E a vacinação?

    Como discutido em um texto recente aqui do Especial, cada vez mais estudos vêm mostrando que, apesar da proteção causada pela vacinação completa (duas doses ou dose única da Janssen) ser um pouco menor para a variante Delta, essa proteção ainda é muito boa, sendo capaz de reduzir o número de óbitos e casos de Covid grave (aqueles que precisam de UTI). Já para casos mais leves e moderados, essa proteção é reduzida. 

    Contudo, essa manutenção da proteção gerada pelas vacinas foi vista somente naquelas pessoas que tinham recebido ambas as doses. Nos casos em que o indivíduo tinha sido vacinado com somente uma dose de Pfizer ou Astrazeneca, os cientistas descobriram que a proteção gerada pela vacina contra a variante Delta era muito baixa, quase inexistente. O mesmo foi visto para pessoas que tinham tido Covid-19 de forma natural, principalmente aquelas pessoas que se infectaram com a variante Gama, a nossa variante, que por alguns meses foi a mais transmitida no Brasil.

    Só essas informações já nos dão um indicativo de que uma única dose não é mais o suficiente para nos proteger. E isso se reflete no processo de vacinação. Há alguns meses houve discussões de se aumentar o período entre doses da Pfizer e Astrazeneca, a fim de se vacinar o maior número de pessoas possível, pensando que quanto mais pessoas com a primeira, maior seria o número de indivíduos protegidos. Entretanto, com a variante Delta se espalhando, essa estratégia já não faz muito mais sentido. E, por isso, agora se fala em reduzir esse período entre doses para 21 dias, no caso da Pfizer, e 8 semanas, no caso da Astrazeneca, tudo com o intuito de se vacinar o maior número possível de pessoas com a segunda dose.

    Mas como temos dito desde sempre: não é só com a vacinação que vamos acabar com a pandemia. 

    Precisamos sim que as pessoas se vacinem e voltem para tomar a segunda dose. Mas também, tão importante quanto, precisamos parar a transmissão do vírus. E é aí que vemos o segundo grande problema: o aumento da mobilidade urbana.

    Em termos mais claros, as pessoas não ficam mais em casa. O distanciamento social tem diminuído. Com um número maior de indivíduos se deslocando na cidade, indo a parques, mercados, farmácias, shoppings, lojas, cinemas e mesmo trabalhando (por exemplo, de volta em escritórios), temos visto um aumento da mobilidade urbana. Olhando para os números de casos, podemos até pensar que essa reabertura da sociedade, com as pessoas voltando a se deslocar, não influenciou a pandemia. Entretanto, olhando para outros países, podemos ver qual será o nosso possível futuro, se não fizermos nada para mudar isso.

    Vamos pegar como exemplo Israel, país que foi modelo no processo de vacinação e que vacinou rapidamente uma grande porcentagem da sua população (mas lembrando que não atingiram uma cobertura vacinal suficiente para proteger toda a população). 

    Seu processo de vacinação começou em dezembro, quando eles já estavam sofrendo com a terceira onda, decorrente de casos da variante Alfa (do Reino Unido).
    vacinação em Israel
    Fonte: https://ourworldindata.org/coronavirus

    Seu processo de vacinação foi rápido e, aliado a isso, o país fez um fechamento fortíssimo das cidades.
    vacinação em Israel e novos casos diários
    A marcação é o dia em que começaram as vacinações. Fonte: Rede Análise COVID-19
    O que se observou nesse período foi uma grande redução do número de casos e mortes.
    vacinação em Israel e novos casos e óbitos
    Fonte: Rede Análise Covid-19

    Com um alto número de pessoas vacinadas e um fechamento coordenado, logo o país começou a ensaiar uma reabertura da sociedade, com as pessoas podendo voltar a se aglomerar e não precisar mais usar máscaras.
    situação de mobilidade de Israel
    Fonte: Rede Análise COVID-19

    O resultado disso começou a ser visto em julho, após a introdução da variante delta no país: um aumento do número de casos, mortes e hospitalizações, mesmo com a vacinação de 60% da sua população.
    Novos Casos por dia

    Óbitos por dia

    Pacientes em UTI

    Essa situação não foi exclusiva de Israel, podendo ser vista em outros países: Reino Unido, Estados Unidos, Holanda, França, e vários outros. Em todos os casos, no início da vacinação se viu uma grande redução do número de casos e mortes por Covid e, em seguida, após suas sociedades reabrirem e as pessoas voltarem a circular de forma descontrolada (como estamos vendo no Brasil), surgiu uma quarta onda de casos, mortes e hospitalizações. 

    Chegando ao fim desse texto, respondo a pergunta com a qual comecei ele:

    “O dia da vacinação chegou, vou poder sair agora que tomei a primeira dose… mas devo?”

    Não. Não deveríamos. 

    Pelo menos enquanto não tivermos tomado a segunda dose. 

    Em termos de população, a lógica deveria ser “não, pelo menos enquanto não tivermos vacinado completamente ¾ de nossa população”. 

    E em termos de mundo, nossa noção deveria ser: “não estamos plenamente seguros, nem venceremos a pandemia enquanto o mundo não tiver, pelo menos, ¾ de sua população protegida com o esquema vacinal completo”.

    Até lá, o que devemos fazer é continuar nos protegendo, usando máscara, distanciamento social e diminuindo a circulação de pessoas nas ruas. 

    Muitas vezes, o simples ato de repensar em sair de casa para ir ao bar, ou fazer compras, ou ver alguém (mesmo que essa pessoa tenha tomado a vacina) ajudará a atingirmos esse futuro – que tanto sonhamos – mais rápido.

    Referências para os dados:

    Artigos citados sobre a Delta:

    Reportagens sobre o anúncio da vacinação

    São Paulo começa vacinação para pessoas com 25 anos

    SP antecipa vacinação de adultos e imuniza adolescentes a partir de 18 de agosto

    Cidade de SP vacina contra Covid pessoas com 18 anos ou mais nesta segunda-feira

    Este texto é original e escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

    logo_

    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os produziram-se textos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores. Além disso, os textos passaram por revisão revisado por pares da mesma área técnica-científica na Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • [PRESS RELEASE] Todos pelas Vacinas reúne organizações de divulgação científica e entidades científicas em ações pró vacinação contra a Covid-19 para adolescentes

    Com o avanço do Programa Nacional de Imunização  contra a Covid-19, uma campanha liderada pelo Observatório COVID-19 BR reúne organizações ligadas à divulgação científica, entidades científicas, artistas e personalidades públicas para lançar a campanha de vacinação dos jovens maiores de 12 anos – marcado para 15 de setembro (quarta-feira). A campanha contará com diversas ações nas redes sociais com as hashtags #VacinanoGrau e #TodosPelasVacinas terá por objetivo estimular a vacinação em jovens na faixa-etária entre 12 e 17 anos e conscientização da necessidade de manter os protocolos de segurança. 

    A campanha #VacinanoGrau e #TodosPelasVacinas é organizada por ABRASCO, Blogs Unicamp, COSEMS/SP, Equipe Halo,  Instituto Questão de Ciência, Observatório COVID-19 BR, Rede Análise COVID-19, Sociedade Brasileira de Imunologia, União Pró-Vacina, Projeto Divulgar e Grupo InfoVid tem como objetivo criar um espaço para diálogo com a população por meio de conteúdo preparado por especialistas, assim como um ambiente virtual para envio de dúvidas sobre a imunização contra a COVID-19. Um portal (www.todospelasvacinas.info) agrega um conteúdo em vários formatos, textos, áudio, imagens e vídeos para serem compartilhados em todas as redes sociais.

    Rafael Lopes, físico, membro do Observatório Covid-19 BR, lembra que “A história das vacinas no Brasil é centenária, fomos um dos primeiros países a adotar a vacinação como uma política extensiva de saúde pública. Nos conscientizar que vacinar é essencial para salvar vidas é nos reencontrarmos com nossa linda história na saúde pública, efetivar a segunda dose é a oportunidade de fazer parte desta história” 

    No Portal estão disponíveis podcasts criados pelas organizações parceiras, além de outros materiais, como o e-book “Guia Prático sobre as Vacinas” e uma coletânea de artes no espaço VacinArte. A campanha visa convidar a participação do público por envio de dúvidas e engajamento nas redes sociais, como uso de filtros criados para Facebook e Instagram disponibilizados no site. O internauta consegue baixar, também, logo e artes da campanha para espalhar a mensagem e participar da grande mobilização do dia 15 com as hashtags #VacinanoGrau e #TodosPelasVacinas nas redes sociais.

    Flávia Ferrari do Observatório Covid-19 BR ressalta a importância da iniciativa com a união entre cientistas e sociedade civil em prol da vacinação contra a COVID-19, “uma atitude capaz de salvar vidas”. 

    A lista com todas as atividades da campanha podem ser encontradas no site do evento www.todospelasvacinas.info

    Contato:

    Flávia Ferrari – Observatório Covid-19 BR (11) 991116455 obscovid19br@gmail.com

    Beatriz Ramos – Projeto Divulgar (21) 998879227 proj.divulgar@gmail.com

    Ana de Medeiros Arnt – Blogs de Ciência da Unicamp (19) 98364-0054 blogs@unicamp.br

    Texto produzido pelo coletivo Todos Pelas Vacinas

  • 500 mil mortos, corrida das vacinas e os esquecidos da segunda dose

    Apenas 49 dos 5.570 municípios brasileiros possuem mais de 500 mil habitantes. Na outra ponta, teríamos que juntar os 257 municípios com menos habitantes para representar a quantidade de vidas perdidas pela COVID-19 no Brasil até o dia 19 de junho de 2021 (dados extraídos da projeção populacional IBGE 2020). O que a segunda dose tem a ver com isso?

    Estamos com essa quantidade enorme de vidas perdidas. Este “dado” – pessoas que partiram – nos coloca em segundo lugar no ranking de mortes por COVID-19 no mundo e após 15 meses de pandemia declarada. Todavia, ainda não temos políticas públicas efetivas para o controle da pandemia no Brasil. 

    “Mas agora temos vacinas”, eles dizem. Sim, entretanto apenas 24 milhões de pessoas, dos mais de 211 milhões de brasileiros, tomaram a segunda dose da vacina. Isto é, 11% de cobertura vacinal. Lembrando que só as duas doses garantem a imunização completa.

    Não estamos seguros.

    Em meio a arraiás de vacinação, memes de corrida e organização de eventos testes, a terceira onda já começa a aparecer. Isto é, aquela onda que mais parece um tsunami que não acaba nunca. Cidades do interior de São Paulo como Campinas e São José do Rio Preto já voltaram às medidas mais restritivas. Por exemplo, medidas como fechamento de comércio e toque de recolher noturno.

    A corrida das vacinas serviu para alimentar a esperança da população de que finalmente enxergamos uma luz no fim do túnel da pandemia no Brasil. Apesar disso, em reunião da OMS já fomos alertados de que apenas a vacinação não será suficiente para conter o avanço das diversas variantes do SARS-CoV-2 no país. 

    Ainda que prefeitos e governadores estejam adiantando a aplicação da primeira dose em adultos, e a cidade do Rio de Janeiro tenha incluído adolescentes em seu calendário de vacinação, o Brasil encontra alguns problemas. 

    Gráfico 01. Porcentagem estimada da população idosa com mais de 70 anos vacinada no Brasil com qualquer uma das vacinas contra COVID-19 aprovadas no país. Em laranja estão representadas a primeira dose. Em azul estão representados aqueles que tomaram duas doses da vacina. 

    Dados disponíveis no dataSUS (que você pode consultar aqui)  mostram que a população de idosos, que começou a ser vacinada em fevereiro, ainda carece de segunda  dose. Assim, aproximadamente 92% dos idosos com mais de 70 anos tomaram uma dose da vacina, e somente 74% tomaram a segunda dose. Além disso, é interessante notar que a partir dos 80 anos, a taxa de retorno para a segunda dose cai em relação a faixa entre 70 e 79 anos. 

    Mas tem mais questões aí…

    Quando observamos os dados por estado também vemos algumas discrepâncias. Enquanto alguns já estão próximos a 90% da imunização dos idosos, outros ainda estão na faixa de 50%. Em 18 estados há uma imunização maior em suas capitais, o que mostra que ainda precisamos investir muito em campanhas no interior dos estados. 

    Gráfico 02. Porcentagem de idosos com mais de 70 anos vacinados contra COVID-19 separados por Unidade Federativa e respectiva capital. Em roxo está representado por estado a porcentagem de pessoas que tomaram as duas doses da vacina. Em verde, a porcentagem dos idosos residentes da capital de cada estado que tomaram duas doses da vacina. 

    Assim como já discutimos no texto sobre a importância da segunda dose das vacinas, que você pode ler aqui, reforçamos que é necessário melhorar a divulgação do calendário de vacinação para a população.

    Sobre comunicação científica e campanhas de vacinação

    Quando falamos em reforçar a divulgação, não estamos falando da divulgação científica não. É campanha PESADA EM MÍDIAS ACESSÍVEIS A TODOS: televisão, jornais, rádio, panfletos em postos de vacina. É fundamental que pessoas sem acesso à internet, por exemplo, tenham uma informação precisa acerca de datas de vacinação, processos de agendamento e retorno. Este procedimento é obrigação dos governos, pois faz parte de uma política pública de massa que PRECISA SER EFETIVADA O QUANTO ANTES.

    Possuímos vacinas com intervalos de imunização diferentes, que podem gerar confusão na hora do retorno, principalmente em pessoas mais velhas. Estas pessoas precisam, sim, de informações precisas acerca dos calendários. Além disso, de nada adianta correr com o calendário e divulgar novas datas mais cedo no cronograma anterior se as vacinas previstas não estão chegando – ou a população não está indo se vacinar. Vacinação é política pública, precisa de previsão, organização e estrutura da maquinaria do estado. Já fizemos isto antes com maestria, já fomos referência mundial de vacinação. Sabemos fazer isto, mas saber não é o suficiente: precisamos deliberadamente atingir a todos e conseguir que as pessoas compareçam nos postos de vacinação!

    E quanto a nós?

    Nós, formiguinhas em meio à turbulência seguimos trabalhando e buscando tornar a informação acessível. Todos nós, cidadãos, podemos contribuir ajudando àquelas pessoas que têm dificuldade de acesso (seja por falta de acesso confiável e segura pela internet, seja por falta de condições de acessar à internet, dificuldade de leitura, dentre outras questões).

    Não esqueça de informar seus familiares e conhecidos sobre quando chegar a hora deles se vacinarem, pergunte se já se inscreveram e se estão acompanhando os calendários.

    E, lembre-se, mesmo depois de vacinados, continuem usando máscara e praticando o distanciamento!

    Agradecimentos

    Neste texto, agradecemos imensamente à Sabine Righetti (Labjor/UNICAMP e Agência Bori) que nos forneceu os dados brutos do levantamento sobre a segunda dose no país para elaborarmos a postagem. Abaixo indicamos as matérias da Sabine.

    Quer saber mais ? Separamos aqui mais notícias que utilizamos de referência:

    Um quinto dos brasileiros de mais de 70 anos não completou vacinação contra Covid-19

    Quase 2 milhões tomaram segunda dose de vacina contra Covid-19 fora do prazo no país

    Mais de 16 mil pessoas tomaram doses trocadas de vacina contra Covid, mostra registro

    Este texto é original e foi produzido com exclusividade para o Especial COVID-19

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Por que precisamos tomar a segunda dose das vacinas de COVID-19

    Um levantamento do Ministério da Saúde do dia 07 de Junho de 2021 mostrou que 49.584.110 pessoas receberam a primeira dose da vacina contra o SARS-CoV-2. Deste montante, 23.026.663 receberam as duas doses. Olhando assim, parece um número muito bom. No entanto, até meados de maio, aproximadamente 5 milhões de brasileiros tomaram a primeira dose de uma das vacinas contra a COVID-19, mas não voltaram para a segunda dose.

    Será mesmo que a segunda dose é fundamental? Você sabe porque ela é importante?

    Um lembrete para o seu corpo

    A vacina funciona como uma forma preventiva para que seu corpo já saiba criar uma resposta para o agente causador da doença, no caso o vírus SARS-CoV-2. A CORONAVAC usa uma tecnologia bem conhecida, a de vírus inativado, enquanto que a vacina da ASTRAZENECA usa um adenovírus que não consegue se replicar no nosso corpo e a da PFIZER uma mensagem codificada que faz nosso corpo reconhecer a proteína spike do vírus. Vocês podem ler um texto que falamos sobre as diferenças de vacinas aqui

    Independente de qual das três vacinas você tomar, é necessária uma segunda dose. Isso acontece porque o primeiro contato com as vacinas criará uma resposta do seu sistema imune. Mas não tão forte quanto a prevenção com duas doses. A segunda dose funcionará como um lembrete para o seu corpo saber que aquele vírus segue por aí. Assim, consequentemente aumentará a sua resposta.

    Além disso, alguns estudos ainda estão sendo feitos para compreender melhor como o corpo responde a essas vacinas. Os estudos da CORONAVAC garantem a eficácia da imunização após a segunda dose, mas ainda não possui nenhum estudo de apenas uma dose. Já a vacina da ASTRAZENECA possui uma eficácia de 76% após a primeira dose, e aos poucos o corpo “esquece” essa resposta no intervalo de 3 meses, por isso é necessária a segunda dose, que eleva a eficácia para aproximadamente 82% (Fonte: FioCruz). Já a Pfizer possui uma eficácia geral de 85% depois da primeira dose e 95% após as duas doses. Vale sinalizar que inicialmente o intervalo entre as doses da Pfizer era de 21 dias, mas depois foi alterado de acordo com um novo estudo em pré-print

    Confusão entre o tempo de espera de cada tipo de vacina

    A falta de informação a respeito do porquê tomar a segunda dose da vacina não é o único problema. Os diferentes intervalos entre as doses das vacinas também causam confusão. A CORONAVAC possui um intervalo de aproximadamente 20 dias, enquanto que o intervalo das doses de ASTRAZENECA é de 3 meses. Aqui no Brasil, a vacina da PFIZER também está seguindo o intervalo de 3 meses, em acordo com o resultado do estudo citado acima. 

    Por conta da quantidade de nomes, é fácil de se confundir. A falta de padronização na escrita da carteirinha de vacinação também é um ponto crítico. Muitas vezes a CORONAVAC está escrita “Butantan” ou “Sinovac” e a vacina da ASTRAZENECA fica registrada como “OXFORD” ou “FIOCRUZ”.

    Fique atento a sua carteirinha e a de seus familiares! Se tiver dúvida, não hesite em perguntar para a pessoa que estiver aplicando. Confira a data que estiver agendada na carteirinha. Evite perder o prazo entre as doses!

    Mas e a vacina da Janssen/Johnson & Johnson?

    Essa vacina já teve seu uso aprovado em caráter emergencial no Brasil, mas ainda não chegou nenhuma dose no país. Ela utiliza uma tecnologia de adenovírus semelhante à vacina da ASTRAZENECA. Nos estudos realizados até agora, apresentou uma eficácia desejável mesmo com apenas uma dose. Caso tua intenção seja tomar só uma dose, mas tua categoria (por idade, profissão ou comorbidade) chegue antes disso: não vale esperar! Vai e te vacina logo, pois precisamos de muita gente vacinada, rápido!

    Falta de doses de vacinas

    Outro problema encontrado é a falta de vacinas. Em um primeiro momento foi orientado aos municípios que guardassem a segunda dose das pessoas que estavam sendo imunizadas, para que elas não acabassem. Depois, em 20 de março todas as doses foram destinadas à primeira imunização de um grupo maior de pessoas, uma notícia sobre isso você pode conferir aqui. No dia 25 de abril o Ministério da Saúde voltou atrás e pediu para que 50% das doses recebidas fossem guardadas, mas isso não evitou que centenas de cidades, incluindo 13 capitais estaduais, ficassem sem doses. Essa série de erros também contribuiu para que diversas pessoas não conseguissem tomar sua segunda dose.

    Nós temos reiterado que esta confusão faz com que a gente realmente fique inseguro com tudo o que está acontecendo! Por isso sempre reforçamos: pergunte, se certifique das datas, cobre por informações e, na dúvida, chegue junto que a gente tenta responder também!

    Mais doses?

    Tem mais debate por aí falando em terceira dose. Mas fique atento! Por enquanto não existem dados suficientes que comprovem a necessidade de tomar mais doses da vacina. Ou mesmo se teremos que tomar a vacina em intervalos de tempo pré-definidos, assim como tomamos a vacina da gripe, difteria, tétano e HPV.

    E se eu tomar vacinas diferentes?

    ATENÇÃO! Em alguns países, como a Espanha, a combinação de doses de diferentes vacinas já está sendo testada. Apesar disso, no Brasil a ANVISA ainda não autorizou nenhum tipo de combinação. Caso queira saber mais sobre um dos estudos preliminares, leia aqui.

    Isso se dá ao fato de que  ainda estão sendo realizados estudos que comprovem uma resposta imune melhor se misturarmos as vacinas, ou até mesmo se existe algum tipo de interação entre as vacinas que possa ser prejudicial. Caso você tenha tomado doses trocadas de vacinas, é recomendado informar no posto de saúde o problema e aguardar instruções específicas para o seu caso. 

    Eu preciso manter medidas de segurança mesmo depois da segunda dose?

    Sim! Mesmo tomando as duas doses seu corpo ainda demora alguns dias para criar uma resposta e você ainda pode ser infectado de maneira leve pelo vírus. Além disso, mesmo com as duas doses, você pode ser um agente transmissor.

    Por fim, ainda temos a questão de que a vacinação em nosso país está lenta, há poucas pessoas vacinadas (MUITO POUCAS). A vacinação é um evento efetivo QUANDO EXECUTADO EM MASSA. Isto é, em uma grande parcela da população – não estamos nem perto disso ainda! Por enquanto, no Brasil as recomendações permanecem as mesmas: Máscara e distanciamento! Além do clássico: se puder, fique em casa!

    Para Saber Mais

    Barifouse, R (2021) Covid-19: os erros que levaram centenas de cidades a suspender vacinação por falta de 2ª dose, BBC Brasil

    Callaway, E (2021) Mix-and-match COVID vaccines trigger potent immune response, Nature 593, 491 (2021) doi: https://doi.org/10.1038/d41586-021-01359-3

    Da Redação (2021) Ministério da Saúde muda orientação e libera vacinas armazenadas para uso como 1ª dose, G1

    LedFord, h (2021) Delaying a COVID vaccine’s second dose boosts immune response, Nature

    Rangel, D, Lang, P (2021) Vacina Covid-19 Fiocruz tem eficácia geral de 82%. Notícias, Fiocruz

    Voysey, Merryn (…) and Pollard, Andrew and Group, Oxford COVID Vaccine Trial, Single Dose Administration, And The Influence Of The Timing Of The Booster Dose On Immunogenicity and Efficacy Of ChAdOx1 nCoV-19 (AZD1222) Vaccine. Available at SSRN: https://ssrn.com/abstract=3777268 or http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.3777268 

    Este texto foi escrito com exclusividade para o Especial Covid-19

    logo_

    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores. Dessa forma, os textos foram produzidos a partir de campos de pesquisa científica e atuação profissional dos pesquisadores e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Assim, não, necessariamente, representam a visão da Unicamp e essas opiniões não substituem conselhos médicos.


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