Tag: sustentabilidade

  • Depois de 70 anos no mercado, Mattel inicia reciclagem de brinquedos

    Depois de 70 anos no mercado, Mattel inicia reciclagem de brinquedos

    Autora

    Juliana Di Beo

    Barbie em cena protagonizada por Margot Robbie – Divulgação

    Com maestria a diretora de cinema Greta Gerwig realizou um feito sem precedentes: fez o filme Barbie (2023) se tornar o primeiro blockbuster feminino, e o live-action de maior bilheteria do ano. Além da repercussão no mercado cinematográfico, o filme pode ter contribuído para a Mattel faturar cerca de US$ 125 milhões em brinquedos. 

    A partir do filme é natural lembrar da Barbie de nossa infância, há 20 ou 30 anos. Diferente de muitas pessoas, nem sempre elas seguem guardadas como recordação. Boa parte delas, infelizmente, pode ter tido um fim trágico: se tornado mais um plástico em um aterro sanitário, que vai levar mais de 500 anos para se decompor. 

    A empresa estima que milhares de barbies foram vendidas após a estreia do filme, que somam mais de um bilhão de bonecas desde seu lançamento em 1959. E foram necessários 60 anos para que a Mattel, uma das três maiores empresas de brinquedos do mundo, iniciasse um programa de reciclagem e sustentabilidade desse enorme volume de plástico que produz. 

    A empresa, que há pelo menos 78 anos contribui com a indústria perversa do plástico e também com o desmatamento de florestas tropicais na Indonésia para produzir as caixas de exposição das bonecas, inaugurou sua primeira ação sustentável no começo de 2021, com o lançamento da Mattel Playback. Nesse programa, os consumidores enviam produtos da Barbie, Fisher-Price, Matchbox ou MEGA toys para a empresa, que reutiliza esse plástico para confeccionar novos brinquedos. Esse programa é restrito a quatro países – Estados Unidos, Canadá, Alemanha e Reino Unido – ou seja, apenas 2,66% de seu mercado formado por 150 países. Apesar de estar longe do ideal, é uma iniciativa que poderia ser ampliada.

    Do oceano para a caixa de brinquedo

    Fotografia cedida pela revista Whalebone

    A ação foi o início de outras que – esperamos – se multipliquem daqui pra frente. Ainda em 2021, a empresa lançou a coleção “Barbie Loves the Ocean”, contendo três barbies feitas com plástico reciclado retirados do oceano. A iniciativa contou com a parceria da empresa recicladora de plásticos Envision Plastics e o lixo plástico coletado vem da península mexicana de Baja, região que realiza ações para mitigar a poluição plástica. 

    Em julho de 2022,  a empresa estabeleceu uma parceria com o Instituto Jane Goodall – a primatologista estadunidense reconhecida pelo seu trabalho com gorilas – com o lançamento de uma linha de bonecas relacionadas a profissões sustentáveis, que conta com uma boneca inspirada na cientista e uma equipe de carreira ecológica (que inclui diretora de sustentabilidade, engenheira de energia renovável, cientista de conservação e ativista ambiental). Todas as bonecas foram produzidas com plástico reciclado coletado do oceano, e receberam o selo de Carbono Neutro certificado pelo Climate Impact Partners

    Fotografia divulgada pela Mattel

    Essas coleções certificadas foram anunciadas com o propósito de atingir, até 2030, a produção com 100% de materiais reutilizáveis, recicláveis ou de origem biológica. A empresa pretende também reduzir 25% do plástico de suas embalagens. 

    A vida com menos plástico está longe de ser alcançada. Um estudo publicado na revista Plos One em março de 2023, estimou que há cerca de mais de 170 trilhões de partículas de plástico no oceano, o que somaria 2,3 milhões de toneladas de plástico. Apesar, daquela Barbie de nossa infância representar uma porcentagem ínfima de resíduo comparada a essa quantidade gigantesca, ela é parte do problema, que só cresce. Por isso, torcemos para que todos façamos um mea culpa sobre o consumismo do plástico, para que as milhões de Barbies encontrem um fim mais nobre e longe dos oceanos.

    Aqui vão algumas dicas sobre o que fazer com seus brinquedos:  

    1. Doe brinquedos!
    2. Colabore com o trabalho dos catadores de material reciclável. Separe o lixo reciclável, verifique se os brinquedos e outros produtos que você utiliza são realmente recicláveis através da checagem de selo de reciclagem no rótulo dos produtos; 
    3. Para descartar os brinquedos a principal recomendação é juntá-los numa caixa e destiná-los para organizações que reciclam. Dentre as empresas que recebem brinquedos estão: Cresci e PerdiFicou PequenoHasbro & TerraCycle
    4. Se tiver dúvidas não hesite em perguntar para nós, buscar por informações confiáveis ou contatar as empresas que produziram os produtos. 

    Para saber mais

    BLUM, B (2023) ‘Barbie’ se aproveita da ironia para vender um feminismo plastificado. Folha de S. Paulo.

    ETX Daily (2023) #TECH: Não há como escapar da pegada de carbono da Barbie New Straits Time.

    ERIKSEN M, COWGER W, ERDLE LM, COFFIN S, VILLARRUBIA-GÓMEZ P, MOORE CJ, et al (2023) A growing plastic smog, now estimated to be over 170 trillion plastic particles afloat in the world’s oceans—Urgent solutions required PLoS ONE 18(3).

    KALADEMIR, D (2023) A maioria dos materiais é reciclável, então por que os brinquedos de crianças não podem ser sustentáveis? Yale Environment Review.

    DOCKTERMAN, E, LANG, C (2023) How Barbie Took Over the World, Time

    Outros Links

    CRESCI E PERDI Cresci e Perdi Unidades

    FICOU PEQUENO Desapegos para bebês e crianças com precinho de brechó infantil

    TERRACYCLE Programa de Reciclagem de Brinquedos Hasbro

     

     

    Sobre a autora

    Juliana Di Beo é bióloga pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Integra a Rede Ressoa Oceano, na qual atua com divulgação científica para fortalecer a cultura oceânica

    Como citar:  

    Di Beo, Juliana. (2023). Depois de 70 anos no mercado, Mattel inicia reciclagem de brinquedos. Revista Blogs Unicamp, V9, N2 Disponível em: https://www.blogs.unicamp.br/revista/2023/11/29/depois-de-70-anos-no-mercado-mattel-inicia-reciclagem-de-brinquedos/ Acesso em dd/mm/aaaa.

    Sobre a imagem destacada:

    Imagem de Freepik, arte por Juliana Luiza

  • Lições da pandemia: avante à bicicleta

    Texto escrito por Tássia Biazon

    Foto: arquivo pessoal da autora

    Um vírus mostrou que mudanças de hábitos podem acontecer rapidamente. Além do uso de máscaras ou do álcool em gel, se você reparar bem vai perceber que o uso de bicicletas aumentou. Basta olhar nas redes sociais a quantidade de pessoas posando em suas bikes. Seja porque as academias ficaram fechadas, os transportes públicos se tornaram lugares inviáveis ou a preocupação com uma vida mais saudável aumentou!

    Ontem foi o dia em que a terra completou mais um Overshoot Day, momento em que a humanidade usou todos os recursos biológicos que a Terra pode regenerar durante um ano. Ou seja, a partir de hoje e até o último dia de 2020, estamos usando esses recursos no cheque especial. E para ajudar a diminuir esse impacto, vamos fazer das pedaladas um hábito de fato?

    Sobre a bicicleta

    A bicicleta surgiu como um meio de transporte há mais de 200 anos. O veículo de duas rodas pioneiro, que foi criado em 1817 pelo alemão Karl von Drais, era de madeira, funcionava com o impulso dos pés e pesava uns bons quilos. Mas apenas na década de 1970 houve um boom no uso das bicicletas, que não durou muito porque os automóveis ganharam vez! Todavia, em 2020 temos a oportunidade de estabelecer um maior uso das bikes para o bem de todos e do todo – uma vez que os automóveis estão entre os principais emissores de gases do efeito estufa na Terra!

    Em alguns lugares, a bicicleta é parte integrante da vida cotidiana há um bom tempo, como é o caso da Holanda, que é famosa por ter mais bicicletas do que pessoas. Por lá, se locomover em duas rodas é tão comum que não significa ser pobre, rico, atleta ou estiloso, pelo contrário. Mostra-se algo tão natural de ser feito diariamente quanto escovar os dentes. Outro exemplo de relação harmoniosa com as bicicletas, antes da pandemia do coronavírus, é em Copenhague, capital da Dinamarca, que há anos investe no setor, estimulando a circulação de mais bicicletas do que carros em suas ruas!

    Como cita a reportagem do Fórum Econômico Mundial, há muitos motivos para incentivar as duas rodas em todos os lugares. O ciclismo contempla quase todos os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU estipulados em 2015. Além disso, contribui para uma maior qualidade de vida, melhora a saúde mental e física, promove um ambiente mais saudável. Por fim, gera uma economia verde e de baixo carbono, reduz o congestionamento, a poluição do ar e as emissões de CO2. Então, devemos caminhar (ou pedalar) para que todos usem bicicletas?

    Por que não?

    Mas para isso será necessário muito mais do que a vontade de pedalar no final de semana, os desafios são diversos.

    Por exemplo, as ciclovias não devem ser estabelecidas apenas em áreas nobres e centrais; o investimento em infraestruturas permanentes para o uso das bicicletas como em Milão, com expansão e conexão de redes de bicicletas existentes; a educação para que todos os tipos de veículos e pedestres saibam melhor transitar por qualquer via (conforme aponta Infosiga, só no Estado de Paulo houve 143 mil acidentes de trânsito em 2019); o incentivo para ações como a World Bicycle Relief, organização sem fins lucrativos que leva bicicletas para quem precisa; a World Cycling Alliance, que tem como uma das prioridades compartilhar as melhores práticas, pesquisas e estatísticas para melhorar o uso de bicicletas em todo o mundo; e a People For Bikes que mostra o quanto o ciclismo pode prosperar!

    A bicicleta é uma solução de mobilidade humana muito econômica, simples e sustentável. Ela não é algo utópico. Talvez, o veículo do futuro foi inventado há muito tempo.

    Que esse movimento de expandir pedaladas se transforme em uma mudança cultural de fato, uma das maneiras de respeitar o planeta, que está trabalhando no vermelho e que clama por ações mais sustentáveis.

    Para saber mais

    Global Footprint Network (2020) Today is Earth Overshoot Day

    Nações Unidas Brasil (2015) Momento de ação global para as pessoas e o planeta

    A autora

    Tássia Oliveira Biazon é  graduada em Ciências Biológicas (Licenciatura/2013 e Bacharelado/2014) pelo Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP-Botucatu) e graduada em Biologia pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC-Portugal) em 2012; Pós-graduada (Lato Sensu) em Jornalismo Científico no Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em 2016; Atualmente é colaboradora do Laboratório de Manejo, Ecologia e Conservação Marinha do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo.

    Este texto foi escrito originalmente no Blog Natureza Crítica

    logo_

    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.

  • Ecovilas: o que são (e o que não são)?

    Ecovilas: o que são (e o que não são)?

     O modo como a maior parte das sociedades atualmente se organiza continua sendo altamente prejudicial ao ambiente. Transporte por automóvel, produção agrícola baseada em insumos químicos e altamente mecanizada, desperdício hiperbólico de alimentos, saneamento básico e tratamento de lixo ineficientíssimos e perda crescente e acelerada de matas e biodiversidade são apenas algumas marcas deste processo. Como resumido no Global Environment Outlook (relatório da ONU sobre a situação ambiental), “o curso atual é insustentável, e adiar as ações não é mais uma opção”.

plugins premium WordPress