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  • Alimentação em tempos de Isolamento Social

    Em época de pandemia de Covid-19 e isolamento social, a rotina pessoal, profissional e familiar de muitas pessoas tem se modificado. A mudança de rotina altera o comportamento e o hábito alimentar que também são influenciados pelo estado de saúde mental e emocional.

    Pesquisas mostram que a ansiedade e o estresse podem provocar o aumento da ingestão calórica e do ganho de peso em curto prazo devido ao alto consumo de alimentos ricos em carboidratos e gorduras.

    Nesse contexto atual, além do isolamento social, ouvir ou ler continuamente sobre a pandemia aumentam o nível de ansiedade e estresse.

    Isso pode levar as pessoas a comerem em maior quantidade e a buscarem alimentos chamados “comfort food”. Esses “alimentos que confortam” são aqueles que remetem a memória afetiva e que causam prazer e bem estar.

    O consumo de tais alimentos – muitas vezes ricos em carboidratos/açúcares (como doces, chocolates, bolos e tortas, por exemplo) – estimula a produção de serotonina que, por sua vez, tem um efeito positivo no humor e na redução momentânea do estresse e no aumento do bem estar mental.

    Esse comportamento chamado de “comer emocional” é influenciado diretamente pelo estresse e pela ansiedade.

    Por isso, é importante reconhecer a presença excessiva dessas emoções e perceber se estão influenciando o comportamento alimentar. Seja pelo aumento do consumo de doces, massas e pães, por exemplo, ou pelo aumento da quantidade de alimentos e bebidas consumidos no dia-a-dia.

    Uma orientação prática para cuidar da alimentação em tempos de isolamento/distanciamento social é criar estratégias de planejamento alimentar.

    PLANEJAMENTO ALIMENTAR

    O primeiro passo é planejar a alimentação (diária/semanal/mensal). A partir desse planejamento fazer a lista de compras;

    Manter a dispensa e geladeira organizadas para saber o que tem e evitar o desperdício de alimentos;

    Estabelecer horário para as refeições como café da manhã, almoço, jantar e lanches intermediários, evitando “pular” refeições e “beliscar” durante o dia e à noite;

    Ter uma alimentação variada composta, de uma forma geral, por cereais integrais, leguminosas, oleaginosas, frutas, verduras e legumes, carnes, frangos, ovos e peixes, leites e derivados.  (Lembrando que pessoas que tenham alguma alergia/ intolerância alimentar ou indivíduos vegetarianos/veganos precisam ter um planejamento alimentar específico).

    Priorizar alimentos in natura como frutas, verduras e legumes;

    Utilizar ervas aromáticas e especiarias para cozinhar;

    Experimentar algum alimento novo que não tenha o hábito de comer;

    Valorizar alimentos regionais, produtores locais e pequenos comércios;

    Cozinhar mais, aprender novas receitas e aproveitar esse momento de isolamento para cultivar novos hábitos alimentares.

    ATITUDES ALIMENTARES POSITIVAS

    Além do planejamento alimentar, é importante adotar atitudes alimentares positivas para desacelerar a mente e comer com atenção plena.

    Nesse sentido, seguem algumas orientações para serem usadas antes e durante as refeições:

    • Perceba e acolha suas emoções e sentimentos antes das refeições. Se estiver muito ansioso, pare e respire lenta e profundamente para então começar a comer (use técnicas de respiração e meditação);

    • Desconecte-se da TV, computador, celular e redes socias no momento das refeições;

    • Coma com atenção plena (mindful eating) e concentre-se no ato de se alimentar. Sente-se para comer e apenas coma, não faça outras atividades ao mesmo tempo.

    • Feche os olhos e observe o aroma, a temperatura, a textura e o sabor dos alimentos, e coma sem culpa;

    • Mastigue lentamente os alimentos. Apoie os talheres na mesa entre as garfadas, fazendo uma leve pausa no momento das refeições. Uma outra forma de comer mais devagar é tentar comer com a mão não dominante;

    • Perceba os sinais de fome e saciedade para evitar comer em excesso.

    Por fim, manter uma alimentação equilibrada em nutrientes e em quantidade de alimentos, além do planejamento das refeições associado a atitudes alimentares positivas são estratégias para combater os efeitos negativos do isolamento social na alimentação e na saúde.

    Referências: Guia Alimentar para População Brasileira, 2014. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pdf

    Santos, et al. Emotional eating is related to carbohydrate intake in active women. Motriz: rev. educ. fis. vol.22 no.4. 2016

    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.

  • De soluções milagrosas a desinfetantes: alguns perigos no combate ao coronavírus

    E é exatamente devido à simplicidade de sua produção e, portanto, a facilidade de acesso, que devemos compreender como esta mistura funciona no organismo e esclarecer o porque o MMS NÃO serve no combate a doenças, sendo na verdade um produto com potencial risco de intoxicação

    Produto milagroso, com potencial para o tratamento das mais diversas enfermidades conhecidas e até mesmo de condições ainda não compreendidas pela medicina e que, obviamente pode ser utilizado no tratamento da COVID-19. Sim, é desta forma que tem sido divulgado, em diferentes canais, a chamada solução mineral milagrosa (ou MMS – Mineral Miracle Solution). Recentemente, até mesmo o presidente do país de maior economia mundial fez referência ao uso de substâncias similares (os desinfetantes). 

    Nos referimos aqui a uma recomendação grave, de uma substância com potencial tóxico e que tem sido ofertada de forma criminosa por diferentes sujeitos. Mas o que é o MMS, qual a origem de seu uso e quais seriam seus possíveis efeitos? Este tema poderia entrar para a série: dos absurdos que recebi nesses últimos tempos.

    Não há relatos precisos a respeito da origem da indicação do uso do MMS, mas atribui-se as primeiras recomendações de uso a Jim Humble, que se auto-intitula ex-profissional da engenharia aeroespacial e, atualmente, cientologista. Inicialmente, o MMS foi sugerido, sem validação científica, no tratamento de malária e HIV. Atualmente, indivíduos de formação duvidosa continuam a sua recomendação no tratamento de dores lombares, envenenamento por picada de animais venenosos, como agente antimicrobiano diverso e incrivelmente no combate a condições como a Síndrome do Espectro Autista. Obviamente com todas essas promessas, houve quem acreditasse e  começasse a indicar tal  substância no combate ao vírus que tem causado a pandemia, o SARS-CoV-2

    Até aqui você já pode questionar: Teríamos então um remédio contra a COVID-19? Vamos tentar entender um pouco mais sobre o MMS do ponto de vista químico para fornecer subsídios que refutem o uso desta suposta solução milagrosa. 

    Do que é feito o MMS e qual  é a sua ação?

    O MMS constitui-se de uma solução formada por uma substância chamada dióxido de cloro (ClO2) – um gás, dissolvida em água. Tal solução pode ser produzida utilizando-se clorito de sódio (NaClO2) ou hipoclorito de sódio (NAClO) misturados a uma solução ácida, a qual as receitas recomendam que seja da ácido cítrico (C₆H₈O₇). 

    Talvez você reconheça os nomes citados e os associe a produtos presentes nas residências. De fato, o hipoclorito de sódio está presente na água sanitária (produto de limpeza que em algumas regiões é chamada simplesmente de cloro) e o ácido cítrico está presente em diferentes frutas ácidas (como limão e acerola) bem como pode ser adquirido em farmácias. Talvez, você também esteja se perguntando: então se eu misturar água sanitária com o ácido proveniente das frutas cítricas eu tenho o MMS? Sim, é isso que se recomendam as receitas de produção desta substância.

    O clorito e o hipoclorito de sódio são agentes oxidantes, ou seja, reagem com substâncias tendendo a degradá-las por meio de reações que conhecemos como oxidorredução. É por isso que a água sanitária é utilizada na remoção de manchas e na desinfecção de superfícies. O dióxido de cloro produzido e presente no MMS tem potencial ainda maior de oxidar compostos, principalmente moléculas orgânicas que contêm, além de carbono e hidrogênio, átomos de nitrogênio (N) e enxofre (S). Essas moléculas orgânicas fazem parte de um grande número de biomoléculas que compõem nosso organismo.

    Deste modo, o produto contido no MMS pode sim degradar as camadas proteicas presentes em vírus, assim como diversas outras moléculas presentes em nosso organismo, como as presentes em nossas células saudáveis. Isso acontece porque a degradação não apresenta seletividade1. Ou seja, o MMS irá degradar todas as substâncias com as quais tiver o contato e que sejam menos oxidantes do que ele. 

    Mas o que isso quer dizer? Se alguém ingerir a solução descrita, essa pessoa estará expondo seu organismo a um produto extremamente tóxico que poderá degradar tanto partes saudáveis do seu organismo como aquelas não saudáveis. 

    Mas o uso do MMS é permitido? 

    Não. A Organização Mundial da Saúde (OMS) em relatório publicado sobre o efeito da substâncias em cobaias mamíferas aponta os perigos diversos do uso do MMS que compreendem estresse respiratório, enfisemas e edemas pulmonares na dose mínima e morte de parte dos grupos nas doses superiores (no caso da inalação do gás)2 . Quando administrado oralmente, metade das cobaias morreu com a dose máxima, e outras duas com a dose intermediária passadas 48 horas da ingestão. Todas elas apresentaram irritação e  corrosão gastrointestinal. 

    Ainda, outros estudos mostraram que camundongos expostos à baixas doses de dióxido de cloro em filhotes tiveram problemas neurocognitivos, com atrasos no neurodesenvolvimento e redução na formação de sinapses cerebrais, bem como possíveis problemas que o produto pode causar na tireoide, estômago, intestino, e até na diminuição do número de hemácias.

    Todos estes dados impulsionaram a proibição do MMS em vários países e, no Brasil, tal proibição foi realizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) em junho de 20183 .

    Portanto, produtos a base de clorito e hipoclorito de sódio são recomendados apenas para limpeza externa de superfícies, não sendo recomendados nem mesmo o uso na pele. Quanto ao derivado dióxido de cloro que  gera a “solução milagrosa”, seu uso não é recomendado e, nem sequer existe algum produto comercial a venda que contenha essa composição. 

    Conclusão, administrar o MMS é o mesmo que ingerir veneno imaginando que o veneno irá atuar apenas nos microorganismos que causam doenças e não em células saudáveis, o que é completamente equivocado. Ou ainda, seria como pensar “Bom se a água sanitária mata as bactérias na pia, se eu tomar um pouco ela irá matar as bactérias do meu organismo” desprezando todos os outros efeitos que esta substância poderia causar.

    Referências

     ASCOM/ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Autismo: falso medicamento é proibido. 2019. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/noticias/-/asset_publisher/FXrpx9qY7FbU/content/medicamento-falso-para-autismo-e-retirado-do-mercado/219201>

    DOBSON, Stuart. CARY, Richard. Chlorine Dioxide (GAS). Concise International Chemical Assessment Document 37. World Health Organization. 2002. Disponível em: <https://www.who.int/ipcs/publications/cicad/en/cicad37.pdf

    EPA. U.S. Environmental Protection Agency. Chlorite (sodium salt); CASRN 7758-19-2. National Center for Environmental Assessment. Disponível em: <https://cfpub.epa.gov/ncea/iris/iris_documents/documents/subst/0648_summary.pdf

  • Diagnóstico por RT-qPCR, o que é isso?

    Em tempos como os atuais, temos visto muitos termos técnicos específicos na mídia e em notas de instituições que falam tanto da doença COVID-19, quanto do SARs-Cov-2 (o novo Coronavírus), quanto de sintomas e testes de diagnósticos.

    Em meio a todas estas informações, embora nos habituemos a ver os termos, não necessariamente compreendemos do que se trata. Em especial sobre os diagnósticos da doença, temos visto que há mais de um tipo de teste possível de ser feito.

    A Força Tarefa da UNICAMP anunciou que fará o teste chamado RT-qPCR, o qual foi considerado o principal teste de COVID-19 pela Organização Mundial da Saúde. Este texto busca explicar um pouco melhor sobre este teste e, também, o motivo pelo qual ele é importante no diagnóstico da doença.

    Arte: HUB Campinas

    Por que a Organização Mundial de Saúde indica o RT-qPCR como o principal diagnóstico?

    O diagnóstico feito pela técnica RT-qPCR foi preconizado para se realizar o diagnóstico do COVID-19 em pacientes suspeitos por ser capaz de verificar a presença de até mesmo uma única cópia do material genético do vírus (como veremos em seguida) e, também ser uma técnica amplamente estabelecida dentro de laboratórios de biologia molecular ao redor do mundo. Isto é, por ser uma técnica que grande parte dos laboratórios do mundo inteiro já conhece o protocolo e que é usado de maneira usual em suas pesquisas.

    E o que significam estas siglas? O que é, afinal, uma PCR e uma RT-PCR? 

    Desde quando foi criada até os dias atuais, as técnicas de PCR têm sido usadas em uma grande gama de pesquisas científicas, desde estudos sobre expressão gênica a detecção de variações genéticas dentro de uma população. Vamos compreender um pouco mais das etapas desta técnica e porque ela é importante para a detecção do novo Coronavírus?

    A PCR é a sigla que significa, em português, Reação em Cadeia de Polimerase. É uma técnica de biologia molecular muito usada para analisar a presença ou ausência de um gene no DNA de um ser vivo. Polimerase é a enzima responsável, dentro das células, por catalisar a adição de novos nucleotídeos a uma cadeia de DNA ou RNA. Isto é, ela proporciona agilidade e eficácia na duplicação ou transcrição de moléculas de DNA ou RNA.

    Arte: HUB Campinas

    Ao usarmos a enzima polimerase em uma reação em cadeia, dentro de um ambiente controlado (tal como na técnica que estamos explicando), conseguimos “amplificar” o material genético de uma amostra coletada. Isto é, conseguimos multiplicar o número de material a partir de uma pequena quantidade de DNA ou RNA, e assim analisar a presença de trechos específicos – como a de vírus, por exemplo. 

    A técnica PCR acontece com a adição de várias moléculas diferentes, para desempenhar papéis definidos na identificação do material genético que queremos multiplicar. Para realizar a PCR, nós misturamos: uma enzima capaz de duplicar o DNA, resistente a altas temperaturas; bases nitrogenadas (os “tijolos” que formam o DNA); primers (pequenos moldes de RNA que grudam no começo do gene ou segmento gênico de interesse) e, por fim, o DNA do organismo que se quer analisar. Ao submetermos todos estes elementos a ciclos de altas e baixas temperaturas, somos capazes de multiplicar de forma exponencial a quantidade de cópias daquele pedaço de DNA que temos interesse.

    No caso de um teste diagnóstico, ao se aplicar esta técnica, saberemos se existe o DNA do organismo (vírus) que estamos tentando detectar, após executar outra técnica chamada eletroforese em gel de agarose/poliacrilamida, que permite a visualização dos trechos de material genético que foram multiplicados. Isto é, se a pessoa está infectada, o DNA em questão será amplificado e o diagnóstico será positivo (mas ainda não é deste protocolo que se trata o diagnóstico do Coronavírus! Calma que chegaremos lá!).

    O DNA e o RNA possuem pequenas diferenças, quimicamente. O SARs-CoV-2, que é o material que queremos analisar em nossas amostras, é um vírus cujo material genético é uma molécula de RNA. E isto faz diferença no protocolo que temos que estabelecer… Para isso, usamos a técnica RT-PCR, que é a Reação em Cadeia de Polimerase de Transcrição Reversa.

    A grande diferença da PCR para a RT-PCR é que antes de fazermos todo o processo dito acima, nós pegamos o RNA do vírus e convertemos em um DNA complementar a ele mesmo, o chamado cDNA, (um processo que ficou famoso quando o HIV começou a ser estudado) e adicionamos esse cDNA a reação, no lugar do DNA genômico do organismo.

    E, por fim, qual a diferença para o RT-PCR quantitativo (RT-qPCR)?

    Geralmente as RT-PCR estão associadas a PCR quantitativa. Este processo nos permite saber quanto um gene ou o material genético de um vírus ou patógeno dentro da célula está sendo produzido.

    Nesse modelo, um fluoróforo (uma molécula capaz de emitir luz) é preso a uma sonda que se liga ao gene ou pedaço de DNA de interesse. Enquanto essa molécula fluorescente estiver ligada a essa sonda, a sua luz não é emitida, mas uma vez que ela é solta, a molécula começa a emitir fluorescência.

    Arte: HUB Campinas

    Quando a enzima responsável por duplicar o DNA chega a esse segmento onde a sonda está ligado, ela corta-a, liberando o fluoróforo, que dessa forma começa a emitir luz(2). A partir de um sensor na máquina onde está acontecendo essa reação, somos capazes de captar a luz emitida pelo fluoróforo a cada ciclo de duplicação do DNA, e por fim, quantificar sua expressão.

    Arte: HUB Campinas

    No começo da reação, há poucas cópias do DNA de interesse, e dessa forma a fluorescência emitida é pouca, mas com o passar dos ciclos, onde 2 cópias se tornam 4, 8, 16, e assim por diante de forma exponencial, a quantidade de luz emitida cresce também de forma exponencial e somos capaz de contar a quantidade inicial de moléculas que tínhamos no começo. 

    Quais as etapas para realizar o diagnóstico da COVID-19?

    Arte: HUB Campinas

    A Força Tarefa da Unicamp realizará testes diagnósticos que incluem 5 etapas:

    1. Coleta do material dos pacientes (células da mucosa da boca e do nariz), 
    2. Extração do RNA viral da amostra do paciente
    3. Conversão em DNA complementar (cDNA) ao RNA
    4. Duplicação exponencial do cDNA por RT-qPCR
    5. Análise do resultado por especialista para o diagnóstico

    Todo este processo demora algumas horas, normalmente. No entanto, estamos vivendo um período atribulado, com muitos testes sendo solicitados simultaneamente. Por enquanto, a FT-Unicamp têm a previsão de disponibilizar o resultado dos testes entre 24 e 48 horas. Mas este tempo pode aumentar dependendo da demanda que tivermos durante toda a pandemia.

    Direção de arte desta postagem:
    Anatália Oliveira Santos – Diretora de arte do HUB Campinas

    Texto feito para a Força Tarefa da Unicamp

    Nossos sites institucionais:

    Força Tarefa da Unicamp

    Unicamp – Coronavírus

    Para saber mais:

    Organização Mundial de Saúde. (2020). Coronavirus disease (COVID-19) technical guidance: Laboratory testing for 2019-nCoV in humans

    Arya, M., Shergill, I. S., Williamson, M., Gommersall, L., Arya, N., & Patel, H. R.

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp.
    Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

    (2005). Basic principles of real-time quantitative PCR. Expert review of molecular diagnostics, 5(2), 209-219.

  • Covid-19, SRAG e quantidade de testes diagnósticos no Brasil

    Temos visto muitas discussões sobre a reabertura do comércio em várias cidades que tinham optado pelo distanciamento social. Também tem aparecido dados de que a previsão que tínhamos de sobrecarga hospitalar não se efetivou (pelo efeito do distanciamento social, mesmo que parcial). 

    No post de hoje, vamos falar sobre alguns dados do Ministério da Saúde, de casos confirmados e óbitos por COVID-19 e, também, um outro registro que têm despontado – muito embora tenha sido pouco discutido – que deveria ser levado em consideração ao pensarmos nas ações individuais e coletivas para este momento em que vivemos…

    Então, antes de nos animarmos e sairmos (literalmente) comemorando os dados, é importante compreender um pouco sobre o que tem sido noticiado e alguns dados oficiais para pensarmos se já é hora de deixarmos o isolamento de lado ou, pelo contrário, se não seria hora de buscarmos medidas mais severas de isolamento para evitar que a sobrecarga chegue logo ali ao dobrar a esquina.

    Os dados do dia 21 de abril indicavam que no Brasil tínhamos 43.079 casos de COVID-19 confirmados, com 2.741 mortos confirmados. As projeções, no entanto,  se mostravam muito mais assustadoras. Para se ter uma ideia, em São Paulo por exemplo, o governo anunciou no dia 12 de março a projeção de 1% da população infectada em alguns poucos meses (cerca de 460 mil pessoas) em um cenário otimista, chegando a 10% da população do estado infectada em uma projeção pessimista (4,6 milhões de pessoas). Hoje, dia 21 de abril, temos a confirmação, no Estado de São Paulo, de 14.580 casos e 1037 óbitos.

    Então, será que podemos dizer que tudo anda bem?

    Vários estudos nos mostram muitos cenários possíveis para compreender os dados confirmados que temos sobre a COVID-19 e a infecção pelo novo Coronavírus (SARS-CoV-2). Primeiro, é fundamental lembrar que o Brasil tem a marca de uma das menores quantidades de testes para a confirmação ou não da  infecção pelo novo coronavírus por número de habitantes, no mundo. Comparado com dados de países como Itália, esse número é irrisório, pois lá tem-se 27,164 testes para cada 1 milhão de habitantes, segundo a Worldometers

    Também precisamos registrar aqui que os testes estão sendo feitos em doentes que apresentam sintomas mais severos. Isso O que não pode ser considerado uma “testagem maciça da população” , tal como preconizado pela OMS para direcionar políticas mais seguras no país.

    Tendo dito isso, como podemos analisar qual a quantidade de pessoas infectadas e óbitos em nosso país e região de fato? Existem alguns dados que nos ajudam a ver isto. 

    O Ministério da Saúde publica rotineiramente Boletins Epidemiológicos, que são documentos públicos técnico-científicos periódicos (mensais e semanais), de doenças variadas, para controle e monitoramento. Pois bem, o BE13 – Boletim COE Coronavírus, publicado no dia 20 de abril, Semana Epidemiológica 17 (19-25/04/2020), apresenta a situação epidemiológica dessa infecção no mundo e, também, no Brasil.

    Ao analisarmos este boletim, vemos que além dos casos de COVID-19, há outros dados que nos ajudam a perceber monitoramentos de outras patologias que que têm relação com os sintomas causados pelo novo Coronavírus (SARS-CoV-2).

    Os coronavírus causam infecções respiratórias, também chamadas Síndromes Gripais e em casos mais graves Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). A Síndrome Gripal se caracteriza por: febre, tosse e/ou dor de garganta e ao menos um dos seguintes sintomas: mialgia, cefaléia, artralgia, dispnéia conjuntivite, mal estar geral e perda do apetite. Já a Síndrome Respiratória Aguda Grave, além dos sintomas anteriormente citados, apresenta-se também dispnéia ou saturação de oxigênio menor que 95% em ar ambiente ou sinais de desconforto respiratório.

    Ambas as síndromes podem ter causas diversas, incluindo uma variedade de vírus Influenza, conhecido como vírus da gripe. Em humanos, tivemos a epidemia da SARS em 2003 m Hong Kong (China), cuja letalidade atingiu a marca de 10% e, também, a síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS), que ocorreu na Arábia Saudita em 2012, com uma letalidade de 30%. 

    E por que é importante entender isto para debatermos os casos de COVID-19?

    Voltando ao BE 13 – Boletim COE Coronavírus, na página 14 há um gráfico que mostra os registros de casos e óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave, comparativamente em 2019 e em 2020. A imagem abaixo foi retirada na íntegra do Boletim BE 13, citado anteriormente (página 14).

    Fonte: Ministério da Saúde, Centro de Operações de Emergência em Saúde Pública, Boletim Epidemiológico 02.

    Ao somarmos a quantidade de casos de SRAG, de cada uma das 16 primeiras Semanas Epidemiológicas de 2019, observamos 12.017 casos de internação por SRAG. Neste mesmo período de 2020, foram registradas 55.980 internações com este diagnóstico. Deste total de casos de 2020, 8.318 (15%) foram de casos confirmados para COVID-19 e outros 42.817 estão em investigação (77%).

    Até a Semana Epidemiológica 49 de 2019, foram notificados 39.190 casos de SRAG, com 4.939 óbitos, sendo diferentes vírus Influenza (vírus da gripe) os principais responsáveis pelas internações e óbitos.

    O que estes dados nos dizem?

    O Ministério da Saúde indica um aumento de 366% de internações por SRAG. Do total de internações, 77% ainda não apresentam um resultado conclusivo sobre suas causas. Se considerarmos um cenário pessimista ao olhar este número, em que todos estas internações fossem confirmadas para COVID-19, praticamente dobraríamos a quantidade de casos confirmados no país.
    No entanto, sabemos que até a liberação desses dados os testes estão sendo feitos apenas em casos suspeitos que apresentam severidade de sintomas. A maioria das pessoas infectadas pelo novo coronavírus apresenta apenas sintomas brandos, ou até mesmo não apresentam sintomas (assintomáticos). E isto não seria um problema, a princípio! Afinal, não parece ruim que um vírus que nos infecte não cause danos a grande parte da população, não é mesmo? A questão, portanto, é: estas pessoas que não desenvolvem a doença com sintomas graves são infecciosas. Isto é: contagiam outras pessoas, mesmo não adoecendo gravemente da COVID-19. 

    Os testes diagnósticos não são importantes somente para termos noção se nós fomos infectados, individualmente. Mais do que isto, são uma ferramenta fundamental para gerar políticas públicas que embasem como agiremos no país, regiões, estados, municípios e bairros. Ao termos grande parte das infecções por SARS-CoV-2 não documentadas, acabamos por não reconhecer a dimensão do problema e um cenário fiel do espalhamento do vírus, o que pode levar a uma exposição ainda maior da população à doença.

    Em um estudo sobre a infecção não documentada de COVID-19 em Wuhan (China), apresenta dados que indicam que o isolamento destes casos é a medida mais eficaz para contenção da doença. É importante ressaltar aqui que o conceito de não documentados difere de assintomáticos. Isto é: infectados não documentados são aqueles sintomáticos ou assintomáticos que não foram testados e, portanto, não entram nas estatísticas mais precisas para o monitoramento da doença e seu contágio.

    Considerando que os sintomas (mesmo os mais brandos), aparecem em média no 5º dia após a infecção (mesmo os mais brandos), mas que há registros de estarmos na fase infecciosa de forma pré-sintomática (ou seja: contaminamos outras pessoas, mesmo antes dos primeiros sintomas aparecerem), não há como prever quem foi contaminado e quando essa contaminação aconteceu enquanto não minimizarmos o contato social – próximo (amigos e parentes) ou não (espaços de trabalho e comércio não essencial, por exemplo). 

    Estas análises citadas nos mostram que diferentes estratégias provavelmente foram responsáveis pela alteração das características epidemiológicas após o surto de 23 de janeiro, na China. Quais medidas? Inicialmente, aquilo que têm sido apontado em qualquer caso relacionado à COVID-19: medidas de restrição de circulação interna nas cidades com grande quantidade de casos confirmados e externa entre as cidades (o que chamamos de bloqueio total ou lockdown). Além disso, e que é o foco de debate aqui neste post de hoje, o aumento de casos diagnosticados (aumento de testes na população, saindo da estatística de “não documentados” para “confirmados”). Estes dados também são corroborados por outra pesquisa, também usando como modelo a COVID-19 na China. 

    Ao observar os dados da transmissão na China e todo o cenário brasileiro – que inclui aparentemente uma enorme quantidade de dados não documentados, pode parecer repetitivo o que seguimos afirmando, embora essencial. A letalidade da COVID-19, embora seja menor do que grande parte de outras doenças que acometem nossa sociedade, nos acarreta problemáticas que se vinculam à quantidade de pessoas infectadas. Isto é, um número aparentemente baixo, representando letalidade (2% ou menos dos casos infectados, ao que vários estudos vêm indicando), representam muitas pessoas no mundo inteiro quando percebemos que temos 2.831.513 de pessoas infectadas (casos confirmados no mundo inteiro, no dia 24 de abril de 2020).

    Todavia, temos também outra questão importantíssima: a quantidade de pessoas infectadas ao mesmo tempo e que precisam de internações e cuidados intensivos ao mesmo tempo. É exatamente por se alastrar muito, rapidamente e muito facilmente, que esta doença tem sido central em como vivemos os últimos meses e como viveremos nos próximos meses. Ter uma dimensão exata do número de infectados é, portanto, fundamental para sabermos os próximos passos de como vamos agir em nosso país/estado/município/bairro. 

    Projeções e estimativas

    Há alguns estudos que buscam realizar uma estimativa mais precisa do número de infectados no Brasil. Um grupo de pesquisadores da USP elaborou uma análise para avaliar a subnotificação, a partir de modelos epidemiológicos da COVID-19 em diferentes países (em que os testes diagnósticos foram realizados em uma proporção da população muito maior) e chegaram no valor de 93,45% de subnotificação, no dia 11 de Abril, Isto equivaleria dizer que tínhamos cerca de 313 mil pessoas infectadas com o coronavírus (repetindo: dia 11 de abril). Vocês podem conferir a projeção deste estudo aqui.

    Tomando como base estes dados todos elencados acima, considerando o número de óbitos da COVID-19, mas também as mortes por SRAG que não foram investigadas, há muito o que se pensar sobre a subnotificação e seu impacto em uma aparente “tranquilidade” na transmissão da doença, que provavelmente não condiz com o cenário real no Brasil.

    “Em suma”: o que tudo isto nos indica?

    Tem sido discutida a possibilidade relaxamento nas medidas de distanciamento social hoje adotadas por alguns municípios, de forma controlada. Não debateremos aqui, hoje, sobre a questão da economia – o que já foi apresentado em uma postagem específica no especial. Mas tendo em vista as pesquisas apresentadas e os dados brasileiros, com a possível subnotificação sem que haja uma discussão mais ampla publicamente, talvez seja muito cedo para pensarmos em um afrouxamento do distanciamento social e espacial…

    Em um próximo post (em breve), discutiremos de modo mais específico sobre o isolamento, no Brasil e em outros países do mundo…  

    Para saber mais:

    BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. (2013) Síndrome Gripal/Síndrome Respiratória Aguda Grave. Classificação de Risco e Manejo do Paciente.

    BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. CENTRO DE OPERAÇÕES DE EMERGÊNCIA EM SAÚDE PÚBLICA (COE). (2020). BE 13 – Boletim COE Coronavírus.

    BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE (2019). Boletim Epidemiológico 38. Influenza: Monitoramento até a Semana Epidemiológica 49 de 2019.

    GODOY. D. (2020). Brasil é o segundo país com mais pacientes graves do novo coronavírus. Revista Exame, 21 de abril de 2020.

    LANA, R.M.; COELHO, F.C.; GOMES, M.F.da C.; CRUZ, O.G.; BASTOS, L.S.; VILLELA, D.A.M.; CODEÇO, C.T. (2020) Emergência do novo coronavírus (SARS-CoV-2) e o papel de uma vigilância nacional em saúde oportuna e efetiva. Cad. Saúde Pública [online]. vol.36, n.3.

    PARANÁ. SECRETARIA DE SAÚDE. (s/d). Fluxograma de Síndrome Respiratória Aguda Grave.

    ROCHA, C. (2020). A dificuldade do Brasil de aplicar testes em massa na pandemia. Nexo Jornal, 10 de abr de 2020.

    TIAN, H; LIU, Y; LI, Y; WU, C-H; CHEN, B; KRAEMER, M.U.G; LI, B; CAI, J; SU, B; YANG, Q; WANG, B; YANG, P; CUI, Y; SONG, Y; ZHENG, P; WANG, Q; BJORNSTAD, ON; YANG, R; GRENFELL, B.T; PYBYS, O.G; DYE, C. (2020). An investigation of transmission control measures during the first 50 days of the COVID-19 epidemic in China. Science, 31 de Março. DOI: 10.1126/science.abb6105

    YANG, P., WANG, X. (2020). COVID-19: a new challenge for human beings. Cell Mol Immunol. https://doi.org/10.1038/s41423-020-0407-x

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp.
    Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.


    editorial

  • Como se detecta o coronavírus?

    A necessidade da realização de testes para o COVID-19 foi identificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) [1] devido a crescente pandemia mundial. Os testes a fim de detectar a presença do coronavírus (SARS-COV-2) são importantes, pois ajudam a mapear os epicentros virais de contaminação e, dessa forma, auxiliam na melhor escolha da estratégia de contenção do espalhamento do coronavírus. A detecção rápida e precisa do COVID-2019 é crucial no controle do surto.

    Tipos de testes para o Covid-19

    Basicamente, dois tipos de testes são realizados para diagnosticar a COVID-2019: um teste sorológico e um teste molecular denominado Reação em Cadeia da Polimerase — Transcriptase Reversa (RT-PCR).  [1]

    Teste sorológico

    Os testes sorológicos são teste rápidos capazes de identificar anticorpos em amostras de sangue ou saliva. Ou seja, eles não identificam diretamente o coronavírus. Eles detectam a resposta imunológica natural do nosso corpo que acontece na forma de anticorpos devido a presença do vírus. 

    testeCORONAVIRUS

    Teste molecular RT – PCR

    O teste molecular RT-PCR (Transcrição Reversa seguida de Reação em Cadeia da Polimerase) faz a detecção direta do material genético do coronavírus em amostra de secreção respiratória. O RT-PCR é capaz de detectar o vírus até mesmo em portador viral assintomático. Embora, esse teste seja recomendado para pessoas que possuam sintomas da Covid-19, com duração entre 3 e 7 dias.  

    Os testes de anticorpos também conhecidos como testes de sorologia não foram feitos para diagnosticar a infecção ativa pelo coronavírus.  Em vez disso, eles verificam se há proteínas no sistema imunológico, conhecidas como anticorpos. Sua presença significa que a pessoa foi exposta ao vírus e, por essa razão desenvolveu anticorpos a fim de combatê-lo. O que pode significar que a pessoa tem pelo menos alguma taxa de imunidade, embora os especialistas ainda não tenham certeza de quão forte a imunidade possa ser ou até quanto tempo ela durará. 

    Por outro lado, os testes para diagnóstico de COVID-19, até agora, usaram principalmente a técnica de laboratório conhecida como teste RT-PCR. Esse teste pode diagnosticar infecções ativas através de amostras de mucosas da boca ou nariz. Esse teste verifica a presença ou ausência do RNA do coronavírus. Por isso, é o teste de diagnóstico mais indicado para saber se há contaminação do SARS-COV-2. Para obter detalhes sobre o teste molecular RT-PCR do coronavírus, por favor, assista ao vídeo “Como detectar o coronavírus?”. 

    Por que usar RT-PCR em tempo real para detectar o coronavírus?

    A técnica de RT-PCR em tempo real é altamente sensível e específica [2] e, pode fornecer um diagnóstico confiável em apenas quatro horas. Embora, geralmente os laboratórios demorem em média entre 6 a 8 horas. Comparado a outros métodos de isolamento de vírus disponíveis, o RT-PCR em tempo real é significativamente mais rápido e tem um potencial menor de contaminação ou erros, pois todo o processo pode ser realizado em um tubo fechado. 

    Para detectar infecções passadas, o que também é importante para entender o desenvolvimento e a disseminação do vírus, o RT-PCR em tempo real não pode ser usado, pois os vírus estão presentes apenas no corpo por uma janela específica de tempo. Portanto, os testes de RT-PCR em tempo real não podem dizer se você já teve COVID-19 no passado; o teste foi projetado apenas para detectar a infecção viral em andamento.

    Textos do Especial sobre testes:

    Diagnósticos por RT-cPRC: o que é isso?

    Referências Bibliográficas

    1. Wang, Yishan, Hanyujie Kang, Xuefeng Liu, and Zhaohui Tong. “Combination of RT‐qPCR Testing and Clinical Features for Diagnosis of COVID‐19 Facilitates Management of SARS‐CoV‐2 Outbreak.” Journal of Medical Virology 92, 6, 538–39, 2020. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/jmv.25721
    2. “Polimerase Em Tempo Real e Métodos Para a Quantificação Do DNA.” Portal Educação, 2020. https://siteantigo.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/medicina/polimerase-em-tempo-real-e-metodos-para-a-quantificacao-do-dna/33826

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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp.
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  • Lendo gráficos sobre a COVID-19

    Vemos cada vez mais nos jornais e outras mídias o uso de gráficos das mais variadas formas. Porém, uma pergunta relevante é: todo mundo sabe ler e interpretar estes gráficos? Conheça os principais tipos neste post!

    Estamos em uma época em que a troca de informações de forma rápida e eficiente é mais que necessária, não somente para pesquisadores que estão lutando para lidar com os problemas causados pelo coronavírus, mas para administradores públicos que precisam se organizar e para a população em geral que quer se manter informada. Logo é importante saber interpretar estes dados, para não acabar com visões distorcidas da realidade.

    Gráficos lineares

    Vamos pegar um exemplo:

    Gráfico de casos de COVID-19 no Brasil. Fonte: MonitoraCovid-19 (Icict/Fiocruz)

    Para a leitura de qualquer gráfico, começamos por identificar o que cada eixo representa. Neste exemplo, o eixo vertical representa o número de pessoas infectadas com o SARS-CoV-2 e no eixo horizontal representa a data desde o início da epidemia.

    Cada ponto neste gráfico representa um dado oficial de casos, isto é, são dados observados que mostram a situação real em um determinado instante. Já a curva formada pela ligação dos pontos é conhecida como interpolação linear, ela serve para termos uma noção do comportamento do número de casos entre cada medida experimental e dar uma idéia do comportamento geral dos dados, porém tem pouco poder preditivo sobre casos futuros.

    Gráficos logarítmicos

    Como o crescimento do número de casos é bastante rápido, sendo aproximadamente exponencial, é comum usar uma escala chamada “logarítmica” para mostrar os mesmos dados. Veja os mesmos dados em uma escala logarítmica:

    Gráfico semi-log de casos de COVID-19 no Brasil. Fonte: MonitoraCovid-19 (Icict/Fiocruz)

    Note a escala do eixo vertical. A cada trecho o valor é multiplicado por 10, essa é a principal característica que distingue um gráfico “linear” (isto é, uma escala proporcional) como caso anterior, e um gráfico em escala logarítmica. Neste tipo de gráfico distâncias iguais no eixo vertical não representam o mesmo acréscimo nos valores totais representados!

    Em especial, como somente o eixo vertical está em escala logarítmica, tendo o eixo horizontal sendo mantido em escala linear, este gráfico é comumente chamado de “semi-logarítmico” (ou semi-log).

    Quanto mais próximo de uma reta, mais o comportamento dos dados se aproxima de um comportamento exponencial. Podemos ver que nos primeiros dias o número de casos se multiplica por dez aproximadamente a cada oito dias, já nas últimas semanas temos uma diminuição na velocidade de aumento dos casos. Esta perda de força pode ser um bom sinal, isto é, que o número de pessoas sendo contaminadas pelos já doentes está diminuindo, ou um problema nos dados devido a subnotificação, uma vez que a falta de testes faz com que apenas casos graves sejam testados.

    Regressões

    Alguns gráficos, além de mostrar os pontos experimentais, mostram uma curva que representa uma função matemática que melhor descreve os dados reais. Esta curva é chamada regressão (ou projeção), e ajuda a ter uma ideia do comportamento geral dos dados e dá um poder preditivo maior em relação a uma simples interpolação linear.

    Gráfico linear com número de casos (linha sólida) e previsão para os próximos dias (linha pontilhada). Fonte: Painel Coronavírus Brasil (Fiocruz Bahia e UFBA)

    A confiabilidade dessas previsões depende muito do modelo matemático implementado, então é necessário buscar gráficos de fontes confiáveis como a Fiocruz.

    Conclusão

    Com a imensa chuva de informações que recebemos nesta época de pandemia, é necessário ter cuidado dobrado ao interpretar estes dados. Confira como estes dados estão passados para que você possa ter uma idéia concreta da situação e busque sempre fontes confiáveis para se informar!


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    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp.
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  • Coronavírus no Brasil, o que fazer?

    Postagem publicada originalmente em 26 de fevereiro de 2020.

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    Em 25 de Fevereiro tivemos o primeiro caso de coronavírus confirmado no Brasil. E 26 de fevereiro foi marcado como o primeiro dia em que a OMS registrou mais novos casos fora da China do que dentro dela, o que indica que a epidemia está se espalhando. Estamos entrando no momento onde a doença se espalha para o mundo.
    O que fazer a respeito? Atualizo meu Twitter e meu Instagram constantemente com novas informações. E segue um texto com o material a respeito. Se você prefere vídeos, aqui vão dois episódios e uma live de 1h sobre o tema:
    https://www.youtube.com/watch?v=e-JaQOeFxtI
    https://www.youtube.com/watch?v=X1IamY2uTbo
    https://www.youtube.com/watch?v=xARmN9qurAY
    Essa live foi gravada dia 26/02 e é a mais atualizada.
    Aqui também tem um vídeo que você pode baixar e compartilhar.

    O que é o coronavírus?

    O coronavírus ou SARS-CoV-2 (nome oficial) é um vírus respiratório que provavelmente saltou de morcegos para humanos e começou a circular em Wuhan, na China. E causa a infecção respiratória por coronavírus, com o nome oficial de COVID-19. Suspeitamos que ele tenha vido de pangolins, mas pelas adaptações que o vírus que encontramos em pangolins já tem, é um vírus que está muito bem adaptados para humanos e possivelmente veio de outra fonte. Não temos nenhuma evidência de que é uma arma biológica nem escapou de um laboratório.

    Quem é afetado pela COVID-19?

    Severidade dos casos de acordo com a idade. Dados do Centro de Controle de Doenças da China.
    Severidade dos casos de acordo com a idade. Dados do Centro de Controle de Doenças da China.

    A mortalidade do vírus é relativamente baixa, entre 2% e possivelmente menos de 1% se o número de pessoas infectadas sem sintomas for grande. Isso é menor do que a SARS de 2003 (que chegou a 10%), mas é uma mortalidade maior do que a gripe anual (menos de 0,1%) que pode se tornar séria se o número de infectados chegar aos milhões como acontece com a gripe. A maioria das pessoas que pega o vírus não tem sintomas ou tem sintomas leves (81% dos casos). Essa estimativa é bem sólida e foi feita com base nos 72 mil casos analisados pelo CDC Chinês.
    O tratamento prevê internação e cuidado dos sintomas. Não temos remédio ou vacina contra o vírus ainda, precisamos cuidar da dificuldade respiratória e prevenir pneumonia ou complicações para dar tempo do próprio corpo cuidar do vírus. O mais preocupante são os outros 19%, que precisam ser internados. Essa severidade e a mortalidade também dependem da idade e de condições pré-existentes. São dois grupos mais preocupantes. Idosos, como o gráfico de cima mostra, e pessoas com problemas crônicos como doenças cardíacas, hipertensão, doenças respiratórias como asma e diabetes a mortalidade pode chegar a 10%.
    Apesar de quase o mesmo número de homens e mulheres infectados, quase o dobro de homens morreram. Levantam a possibilidade de isso ter a ver com fumo, já que mais da metade dos homens chineses fumam, enquanto só 2% das mulheres têm esse hábito.

    Quais os sintomas?

    Segundo o estudo com o registro médico de 1100 pacientes chineses, os sintomas mais comuns foram febre (89%), tosse (68%), náusea ou vômito (5%) e diarréia (4%). O período de incubação foi de 2 a 7 dias, com uma mediana de 4. Cerca de 5% deles precisaram de internação na UTI.

    O que muda se novos casos aparecerem por aqui?

    Fases de Emergência da COVID-19, em 25 de fevereiro entramos no 3º nível.
    Fases de Emergência da COVID-19, em 25 de fevereiro entramos no 3º nível.

    Como disse o Ministério da Saúde, em 25 de fevereiro, entramos na fase de Emergência de Saúde Pública, onde temos um caso confirmado no país. Caso a transmissão aconteça dentro do Brasil, entre pessoas que não estão voltando de outros países, entraremos na fase seguinte, que é a de contenção.
    Segundo o plano de contingência, se passarmos de 100 casos confirmados no país, entra a fase de mitigação. Onde não tentamos mais impedir que o vírus entre, mas sim que ele circule. O ponto dessa fase é tomar medidas que fazem a doença se espalhar o mais lentamente possível, para que todos possam ter atendimento médico.
    Sua empresa tem um plano para como deixar as pessoas trabalharem remotamente? Qual a equipe que precisa estar presencial? A creche ou a escola dos seus filhos vai fechar? Quem vai ficar com as crianças se seu trabalho não deixar você em casa? Sua faculdade terá aulas suspensas? Seu maior preparo não é comprar máscara ou estocar comida, ao que tudo indica só em algumas regiões da China chegaram a esse extremo. A preocupação é: vou trabalhar de casa? A faculdade vai fechar? A escola vai parar? Isso tudo acontece muito antes. Nos outros países como Itália e Coréia do Sul, que já estão nessa fase, nas regiões afetadas comércios não essenciais fecham, escolas e creches fecham, o transporte público fica restrito ao essencial. Muitas companhias mandaram os funcionários trabalharem de casa. Se quiser se prevenir, pense em como vai ser se o mesmo acontecer aqui.

    Como não se contaminar? E o caso de pessoa reinfectada?

    É um vírus transmitido por saliva e muco. Limpar bem as mãos, lavar constantemente e usar álcool gel, proteger o rosto quando for espirrar e evitar aglomerações.
    Sobre os possíveis casos de reinfecção pelo vírus e a japonesa que pegou coronavírus mais de uma vez, os próximos passos são descobrir o que tem de extraordinário aí, se a imunidade dela (incompleta) ou o vírus. Se for algo particular dela ou de algum grupo de infectados, menos mal. Se for o vírus, e pelo genoma dele podemos ter uma noção, vamos descobrir conforme mais casos de reinfectados aparecerem (aguardemos). Pode ser que o vírus não desperta uma imunidade protetora o suficiente ou que ele já mudou o suficiente para escapar (daí olhar pro genoma). Só temos um caso registrado e alguns relatos ainda, não dá para se ter uma noção do tamanho do problema. Se reinfecção se tornar algo comum, o potencial de infectados pela doença se mantém enorme e a vacina provavelmente vai encontrar dificuldades. Pesquisadores chineses publicaram um artigo sobre algumas pessoas que continuam testando positivo para o coronavírus depois de dispensadas da quarentena, até 2 semanas depois. Elas não transmitiram o vírus para ninguém, mas parecem continuar produzindo um pouco de vírus no pulmão, o que explicaria a impressão de que foram infectadas de novo.

    Tem tratamento?

    É bem difícil de ter um remédio contra vírus, porque a maior parte do que eles usam para se reproduzir vem das nossas células. Então, mesmo os compostos que agem contra um vírus como o HIV geralmente agem só contra ele. Algumas vezes damos sorte e o uso é mais geral. Esse é o caso do remdesvir. Um composto desenvolvido contra o Ebola que atrapalha polimerases que copiam RNA. Nós não copiamos RNA, só fazemos ele a partir do nosso DNA, então esse tipo de droga não nos afeta. Como o coronavírus também é um vírus de RNA que copia o próprio genoma, o remdesvir pode atrapalhar ele nessa fase. É um resultado que já corta muito caminho, pois esse composto foi um dos mais eficientes contra o coronavírus e já havia sido testado para uso em humanos. Estão avançando os testes para tratar coronavírus agora. O irônico é que temos pesquisa no Brasil com compostos parecidos com o remdesvir contra zika e dengue, potencialmente melhores até, mas faltou a grana para mais testes por aqui.

    Quer mais informação? Participei de vários podcasts discutindo o coronavírus:

    Dragões de Garagem
    Mamilos
    Nerdcast
    Xadrez Verbal (com um pouco de coronavírus e muito sobre minha trajetória)

    Material de referência

    Estudo falando da Origem do SARS-CoV-2 e como não parece ser pangolim:
    The Proximal Origin of SARS-CoV-2 – http://virological.org/t/the-proximal-origin-of-sars-cov-2/398
    Dúvidas sobre diagnóstico e tratamento: https://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/coronavirus
    Notificação de casos suspeitos e conformados no Brasil: http://plataforma.saude.gov.br/novocoronavirus/
    Acompanhamento dos casos confirmados no mundo: https://gisanddata.maps.arcgis.com/apps/opsdashboard/index.html#/bda7594740fd40299423467b48e9ecf6
    Boletim do CDC Chinês sobre os 72 mil primeiros casos: http://weekly.chinacdc.cn/en/article/id/e53946e2-c6c4-41e9-9a9b-fea8db1a8f51

    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.

  • O isolamento social está funcionando? Os memes respondem

    No último dia 20 de março, a Unicamp já completava sua primeira semana de isolamento social enquanto vários setores da indústria e do comércio, incluindo escolas públicas e privadas, ainda estavam em funcionamento (no estado de São Paulo, a quarentena seria decretada apenas 2 dias depois).

    Enquanto eu me encontrava numa situação de assimilar essa nova realidade, recebi, na mesma tarde, três memes bastante semelhantes entre si.

    Todos os três viralizaram rapidamente, entrando para ranking de postagens mais populares nos grupos das famílias, dos pais da escola, do bairro e da garotada.

    Ao analisar os memes, parece que a intenção é muito boa: convencer as pessoas a ficarem em casa. Porém, a estratégia de convencimento é duvidosa: o medo.

    Estes infográficos não são muito diferentes de quando eu já estava cansada de correr atrás do meu irmão menor e dizia para ele não entrar no quarto porque lá tinha um fantasma assustador (tadinho, morria de medo).

    Estes memes apresentam uma narrativa mais ou menos assim: compare os números de casos no Brasil e na Itália no mesmo momento da epidemia (23° e 24° dias) e extrapole o número de casos no Brasil, tomando-se a Itália como modelo. Quantos mortos teremos?

    E foi assim, convencidos pelo medo de um futuro incerto, que os cidadãos de São Paulo talvez tenham iniciado sua quarentena.


    Fantasmas existem

    Conforme meu irmão foi crescendo, ele começou a adquirir coragem de ir dar uma “espiadinha” no quarto para ver o tal fantasma. Depois de algumas vezes, ele concluiu o óbvio: vinha sendo enganado.

    Nas últimas duas semanas, muitos estão repetindo o mesmo raciocínio em relação à COVID-19. A diminuição da adesão ao isolamento social já é medida e observável. Por necessidade, ou por curiosidade, muitos foram “dar uma espiadinha” e, por falta de evidências de corpos empilhados nas ruas, construíram suas hipóteses, dentre elas:

    • a COVID-19 não é um monstro;
    • ela é só uma invenção de uma irmã maldosa.

    Temos então uma boa e uma má notícia.

    A boa notícia é que, ao alcançarmos o 49° dia da pandemia no Brasil, nossos números oficiais registram cerca de metade das mortes previstas pelo agourento meme (na verdade, essa é uma notícia excelente!).

    A má notícia é que fantasmas existem.

    O paradoxo do isolamento social é que, se ele funciona, as pessoas acham que ele não é necessário.


    Por que o meme errou?

    Para tentar responder essa pergunta, vamos fazer a seguinte brincadeira:

    1. Vamos voltar no tempo no tempo 7 dias (mais precisamente no dia 6 de abril);
    2. Faremos uma projeção pessimista e uma projeção otimista da evolução dos casos;
    3. Voltamos ao presente e verificamos como nos saímos.

    Vamos repetir a brincadeira para os 5 estados brasileiros com maior número de casos de COVID-19: Pernambuco (5°), Amazonas (4°), Ceará (3°), Rio de Janeiro (2°) e São Paulo (1°).

    Nos gráficos abaixo, o cenário pessimista é pintado de vermelho. Ele pressupõe que a evolução dos casos seguiria, ao longo da última semana, um crescimento exponencial.

    o cenário otimista, é pintado de verde. Este modelo, “enxerga” um achatamento da curva em qualquer queda da taxa de crescimento de um dia para outro (regressão logística).

    Os pontos em azul, representam a trajetória real do que aconteceu na última semana.

    4° e 5° lugares – Pernambuco e Amazonas

    Pernambuco e Amazonas experimentaram uma taxa de crescimento acelerada na última semana. Como resultado, suas trajetórias de evolução de casos não apresentaram nenhum esboço de achatamento da curva. Assim sendo, não foi possível nem mesmo projetar o cenário otimista. Os gráficos mostram apenas o cenário pessimista com base numa projeção exponencial.

    A triste notícia é que, em ambos os estados, o crescimento do número de casos se mostrou mais acelerado que o cenário pessimista, na maioria dos dias.

    Amazonas e Pernambuco tiveram uma semana de crescimento acelerado dos casos de COVID-19

    2° e 3° lugares – Rio de Janeiro e Ceará

    Ainda que estejam com taxas aceleradas de crescimento do número de casos da COVID-19, o Rio de Janeiro e Ceará conseguiram escapar do fantasma do cenário pessimista e terminaram a semana com um número de casos menor que o previsto neste cenário.

    Rio de Janeiro e Ceará mostram sinais de desaceleração ao longo da última semana, ainda que estejam numa forte ascendente

    1° lugar – São Paulo

    Dos 5 estados brasileiros com maior número de casos de coronavirus, São Paulo é o estado que mais se aproximou do cenário otimista na última semana. Infelizmente, isso está longe de ser motivo de orgulho para o estado que se aproxima da marca dos 10.000 casos confirmados de COVID-19.

    Em resumo, sendo São Paulo o principal contribuinte para o número de casos de COVID-19 no Brasil, o meme basicamente errou porque São Paulo não seguiu curvas de crescimento no número de casos tão velozes quanto as italianas. De alguma maneira, conseguimos desacelerar esta curva.

    São Paulo se aproximou do cenário otimista na última semana.


    O vírus se espalhou até numa sauna

    Ainda que já tenhamos sido bombardeados por informações sobre porque o isolamento social nos ajuda a conter o número de mortos pelo coronavirus, estes gráficos por si só não provam que a quarentena seja a principal responsável pela aparente desaceleração do número de casos em São Paulo.

    Mas podemos argumentar em cima de algumas perguntas e hipóteses que circulam:

    O Brasil não é a Itália em termos de clima, logo não teremos tantas mortes quanto eles. Estudos sobre a COVID-19 e como ela é afetada por parâmetros climáticos ainda estão em andamento. Alguns estudos pequenos não conseguiram mostrar que o clima mais quente e úmido pode enfraquecer a transmissão da doença. Neste artigo por exemplo, eles analisam o caso de pacientes que foram infectados por terem frequentado uma sauna, ambiente com temperaturas entre 25°C e 41°C e umidade 60%. Ainda que o efeito climático possa existir, aparentemente ele não é tão relevante a ponto de frear fortemente a evolução da doença, por exemplo, no Amazonas, estado brasileiro de temperaturas altas e clima úmido. Por outro lado, é um fato que estamos caminhando para o inverno, período onde o número de doenças respiratórias comprovadamente aumenta no Brasil, principalmente no Sul e Sudeste.

    A Europa é um continente de idosos, por isso não temos que nos preocupar com tantas mortes quanto países europeus. Esta hipótese talvez já tenha sido enfraquecida pelo cenário triste que estamos observando nos Estados Unidos, com mais de 20.000 mortos pela COVID-19 (vamos escrever por extenso? vinte mil mortos). Porém, vale mencionar que apesar de um dos principais fatores de risco da COVID-19 ser a idade, existem outros fatores de risco ainda pouco estudados no caso do coronavirus: a pobreza, a má-nutrição, a falta de saneamento básico (ou seja, uma torneira para lavar as mãos), entre outros. Brasil e África certamente fornecerão dados para o resto do mundo sobre esta questão ao longo das próximas semanas.


    A hora do sacrifício

    De alguma maneira, parece que muitos estão com menos medo do coronavirus hoje, do que há 50 dias atrás.

    Talvez seja o medo de monstros (menos discretos e mais visíveis que os fantasmas), tais como: as dificuldades financeiras, a perda do emprego, a fome.

    Apesar dos memes agourentos do início deste post terem errado a data, infelizmente, em breve, eles terão acertado o número de mortos.

    O nosso terror diante desse número não deveria ter mudado…Algo de ruim aconteceu conosco nos últimos 50 dias que fez com que passássemos a relativizar a morte de mais ou menos pessoas em função de outros interesses.

    Como sociedade, deveríamos atuar como irmãos que apoiam uns aos outros, que protegem o mais fraco incondicionalmente, que abraçam o irmão que está em pânico e o ajuda a ter coragem. Não deveríamos nos comportar como o irmão que empurra o mais fraco para dentro de um quarto com fantasma…

    É hora do sacrifício. É hora de todos abrirmos mão de alguma coisa, incluindo convicções equivocadas.


    Uma descrição detalhada da análise de dados que gerou os gráficos deste artigo pode ser encontrada aqui. Os gráficos mudam diariamente, conforme novos casos são reportados. Este trabalho é o resultado do esforço conjunto de alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC), do Instituto de Computação (IC) , Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (IMECC) e Faculdade de Ciências Médicas (FCM). A força tarefa também conta com a parceria do Prof. Dalton Martins, da Faculdade de Ciência da Informação (FCI) da Universidade de Brasília (UnB).

    Para saber mais:

    Luo C, Yao L, Zhang L, et al. Possible Transmission of Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2 (SARS-CoV-2) in a Public Bath Center in Huai’an, Jiangsu Province, China. JAMA Netw Open. 2020;3(3):e204583. doi:10.1001/jamanetworkopen.2020.4583

    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.

  • Pandemia acelera produção e acesso a preprints

    Cães e gatos podem transmitir o Covid-19? Descoberto anticorpos com ação eficaz contra o novo coronavírus. Droga contra HIV tem ação animadora contra Sars-Cov-2. Estas são algumas notícias que devem ter chegado a você, todas baseadas em artigos ainda sem avaliação por especialistas. São os chamados preprints, que são disponibilizados para acelerar o acesso à informação científica, o intercâmbio e as chances da ciência achar respostas rápidas contra o novo coronavírus.

    No Brasil, a pandemia mobilizou editores de revistas científicas a disponibilizarem, o quanto antes, artigos relacionados ao Covid-19. A urgência do atual momento é incoerente com o período médio de 6 meses (sendo otimista) para que um artigo seja submetido, avaliado e publicado. 

    Pensando nisso e atendendo uma demanda de editores científicos, a SciELO (Biblioteca Científica Eletrônica Online) acaba de lançar seu repositório, que já conta com 10 preprints submetidos pelos próprios autores. E, em breve, a Associação Brasileira de Editores Científicos (Abec) e o Instituto Brasileiro de Informação de Ciência e Tecnologia (Ibict) lançarão a EmeRI (Emerging Research Information), plataforma de preprints com o diferencial de ser alimentada por editores, com o aval dos autores. 

    “Muitas revistas do Brasil e de países hispano-lusófonos não têm condições de manter cada uma seu repositório de preprints. Além disso, a dispersão dessa alternativa seria enorme e os trabalhos difíceis de serem recuperados”, descreveu um dos idealizadores do repositório, Piotr Trzesniak, Secretário-Geral da Abec e professor da Universidade Federal de Pernambuco(UFPE).

    Ritmo frenético

    Dentre as plataformas mais importantes de preprints estão o  BioRxiv e o MedRxiv, voltados para as áreas de ciências biológicas e medicina, respectivamente e que juntos já disponibilizam mais de 1.700 preprints sobre a Covid-19 ou o vírus Sars-Cov-2. Em março deste ano, o BioRxiv bateu record de publicações (3.037 submetidas) e de downloads (mais de 3 milhões), desde que o repositório foi criado em novembro de 2013. Essa frutífera fonte de informação científica foi também a fonte das notícias que abrem esta matéria. 

    Com a facilidade de acesso online, jornalistas de ciência, generalista que ou comunicadores que cobrem a pandemia, encontram ali pesquisas que trazem pistas, tratamentos potenciais e respostas para o grave momento em que vivemos. Mas essa agilidade vem atrelada à maior chance de erros, fraudes e pesquisas de baixa qualidade. 

    De acordo com o editor da revista centenária revista de medicina tropical Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Adeilton Alves Brandão, o momento de urgência por informações científica demanda processos éticos mais ágeis, e cuidados que todo cientista – e jornalista – deveria tomar diante de qualquer: “duvidar e verificar”. 

    Adeilton critica o fato de, frequentemente, a mídia consultar os autores de preprints ou mesmo de artigos para comentar sua própria pesquisa. “Isto não oferece perspectiva interessante de análise, pois há conflito de interesses (nenhum pesquisador jamais apresentará as limitações de seu próprio trabalho!)”, enfatiza.

    “A ciência é um aliado importante dos tomadores de decisão, em primeiro lugar, e da sociedade de um modo geral, pois é a única atividade que gera dados, evidências baseados (idealmente!) no conceito de que serão sempre postos à prova, questionados, criticados”, afirma o editor científico da Memórias. Apesar da aparente contradição, ele explica que faz parte do próprio processo de construção do conhecimento científica que a robustez de dados seja posta à prova através de questionamentos e contraprovas que possam diminuir as incertezas.

    Impacto dos preprints

    Uma análise, que acaba de ser publicada no Quantitative Science Studies, demonstra que os preprints geram mais citações para os artigos depois de publicados em revistas científicas, do que artigos que não tiveram preprints disponibilizados. A explicação, segundo artigo liderado por Nicholas Fraser do Leibniz Information Centre for Economics e co-autores, é que muitos cientistas citam preprints em seus trabalhos. A análise, verificou que os artigos ainda sem revisão por pares também são amplamente citados no Twitter e em blogs, o que pode influenciar na divulgação, visibilidade e consequente aumento nas citações. 

    Talvez esses resultados sejam um importante chamariz para convencer autores e editores sobre a importância dos preprints. mais importante que citações (sempre!) é a agilidade, a transparência e o acesso aberto às pesquisas científicas em andamento. A atual urgência deverá deixar importantes legados para cientistas e jornalistas.

    Tão rápida quanto a velocidade de publicação dos preprints é a reação e olhar crítico e as reação de especialistas. Especialistas já colocam em dúvida os resultados, ainda preliminares, do preprint sobre a infecção de cães e gatos pelo novo coronavírus. “Precisa de uma quantidade significativa de trabalho extra antes que [os resultados] sejam interpretados como evidência de infecção pelo [vírus] Sars-CoV2. Como está, [o preprint] deve ser melhor visto como um texto opinativo”, avaliou Mick Bailey, professor de imunologia comparativa da Universidade de Bristol, sobre o preprint para o Science Media Centre

    “O impacto de preprints no discurso e na tomada de decisão da referente a atual pandemia de Covid-19 sugere que temos que repensar como recompensamos e reconhecemos as contribuições da comunidade científica durante a atual e futura crise da saúde pública”, sugerem Maimuna Majumder, Kenneth Mandl da Faculdade de Medicina de Harvard em artigo para a revista The Lancet.

    • Este artigo foi produzido dentro das atividades da Oficina de Jornalismo Científico II do curso de Especialização em Jornalismo Científico do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor)/Nudecri, da Unicamp.

    Mais leituras sobre o tema você encontra em:

    Adesão ao acesso aberto é chave no acesso a informações científicas sobre Covid-19. De Germana Barata para Associação Brasileira de editores Científicos (Abec), março de 2020.

    Mudanças à frente em direção ao acesso aberto de revistas científicas, postagem que publiquei neste blog em 2017.

    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.

  • Da pandemia à solidão: a distância física entre nós

    A pandemia causada pelo COVID-19 impôs estado de calamidade pública. A medida comprovadamente mais eficaz para frear o espalhamento do vírus é o isolamento físico. Confinados nos lares, nos sentimos sós. Nesta reportagem conversamos com Paulo Sérgio Boggio, professor e pesquisador em neuropsicologia na Universidade Presbiteriana Mackenzie, sobre a diferença entre estar só e sentir-se só, os efeitos negativos do isolamento e como transpor a solidão caso ela bata à porta.

    A pandemia de COVID-19 começou em Wuhan, China, em 12 de dezembro de 2019. A partir daí o espalhamento do vírus foi rápido. Em abril de 2020, a doença já é realidade para 179 países. A infecção de quase um milhão de pessoas ao redor do mundo vem lotando hospitais que sofrem com a falta de insumos, equipamentos e pessoal, mesmo nas nações mais ricas e desenvolvidas. Na falta de alternativas tecno-científicas para combater a doença, resta a população se resguardar, lavando as mãos com água e sabão frequentemente e evitando o contato físico através do isolamento.

    Estabelecimentos antes lotados, agora fechados; ruas dominadas por carros e transeuntes, esvaziadas; escolas e universidades presenciais, agora em modo digital para os mais privilegiados; conhecidos tratados como desconhecidos, sem as cortesias do contato físico; e o silêncio dominical invadindo os dias da semana representam grandes mudanças no cotidiano. Confinados dentro dos lares e ilhados por informação (de qualidade ou não), as emoções negativas podem dominar, entre elas confusão, ansiedade e, principalmente, solidão.

    Diante de um inimigo invisível, muitas pessoas buscam por explicações que julgam estar à altura da calamidade pública. Muitas vezes, o refúgio para o medo está nas desinformações, notícias falsas (fake news) e teorias conspiratórias. Ficamos vulneráveis ao espalhamento das notícias negativas, tão contagiosas quanto o próprio vírus, e os temores se amplificam. Nessa hora, o distanciamento social pode exacerbar a alienação, desumanização, discriminação e violência subjacentes à vida contemporânea na era da informação (ou digital).  

    Felizmente, fatos e realidade se impõem e o combate à pandemia com medidas drásticas, como os full lockdowns (bloqueios ou fechamento total de regiões), deletérias economicamente, se mostram eficazes para salvar vidas. O contato social remoto nessa hora é estratégico para promover a coesão e a cooperação entre pessoas e estimular proatividade e resiliência exigidas de cada um de nós. 

    Crédito imagem: Sofia Garza no Pexels

    Como espécie, humanos são seres sociais e, em boa medida, sociáveis. Recorremos aos afetos para aliviar as tensões e dividir angústias. Definidos pela nossa rede de relacionamentos, afastados ficamos fracos e opacos. A imposição do afastamento físico é, por isso, um martírio frente à tantas incertezas. A grande pergunta agora é como lidar com uma situação física e mentalmente extenuante?

    “O isolamento social ou a quarentena podem ter efeitos psicológicos importantes, caso esse isolamento signifique solidão. Apesar de parecerem a mesma coisa, estar só não necessariamente significa sentir-se só. Em vez de usarmos o termo isolamento social, deveríamos usar isolamento físico ou distanciamento físico”, explica Paulo Sérgio Boggio, professor e pesquisador em neuropsicologia na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em entrevista concedida para esta reportagem.

    Estar só não é sentir-se só

    A frase pode parecer um contra-senso. No entanto, na psicologia a regulação emocional da solidão é complexa e subjetiva, atrelada a forma individual como percebemos e julgamos nossas interações com os outros.

    “Recentemente, publicamos um estudo mostrando que o toque humano afetivo (tocar as mãos dos outros) tem um efeito positivo na percepção de cenários negativos. Ser tocado por outras pessoas ajuda a diminuir a percepção negativa de situações negativas. Veja então o tamanho do problema: temos um isolamento das pessoas e uma recomendação para diminuirmos o toque físico”, alerta Boggio.

    Apesar do toque físico ser uma balsamo para a alma, a conexão em rede usando a tecnologia garante que as relações se mantenham com certa normalidade e regularidade, sejam elas pessoais ou profissionais. Conversar cara a cara e partilhar atividades e interesses mútuos, mesmo quando distante fisicamente, ajuda a manter o bem-estar do corpo e da mente.

    “Outros estudos têm mostrado que o simples fato de você saber que alguém está simultaneamente assistindo ou acompanhando algum evento faz com que as pessoas percebam os estímulos como mais positivos. Temos visto nesse momento várias ações coordenadas com características semelhantes à desses estudos: desde pessoas nas janelas em um mesmo horário para cantar, bater panelas, aplaudir equipes médicas até ações como a da Netflix de promover sessões conjuntas entre assinantes. Essas atividades aumentam o nosso senso de conexão com os outros, nos ajudando a cruzar esse momento de crise”, comenta o pesquisador.

    Crédito imagem: Matthias Zomer no Pexels

    A solidão durante a quarentena parece ser mais uma opção do que uma imposição. Infelizmente, não para todos, como explica Boggio. “Vários grupos são mais vulneráveis nesse momento e merecem maior acompanhamento como, por exemplo, pacientes com quadros depressivos. Daí a importância do uso da tecnologia para atendimentos psicológicos e médicos a distância. Os efeitos da solidão também podem agravar outros aspectos além da saúde mental, como o sistema imunológico e cardiovascular. Estar isolado e não receber contato de outros (algo semelhante ao ostracismo ou exclusão) impacta as chamadas necessidades básicas: autoestima, significado de existência, noção de pertencimento e de controle. Fizemos no laboratório um experimento sobre isso anos atrás e mostramos que uma simples sala de bate-papo na qual alguém é excluído da conversa seguidas vezes abala essas necessidades básicas.”

    Como evitar a solidão?

    “Para lidar com a solidão é importante usar as várias tecnologias de conexão de duas vias, que permitam encontros simultâneos entre as pessoas. A forma como interagimos tem origem na sincronização de movimentos, de sons, etc. Nesse momento, muito disso está restrito pelo isolamento. Mas o velho e bom telefone assim como as salas de conversa, como Zoom e Google Hangouts, podem ajudar bastante”, enfatiza Boggio e acrescenta, “A solidão também pode ser combatida com atividades em que as pessoas se sintam coletivamente engajadas tanto em ambientes virtuais (por exemplo, aulas de meditação online, clubes de leitura e conversa, apresentações musicais), quanto por atividades reais (por exemplo, rodízio de pessoas entregando medicamentos e alimentos àquelas que fazem parte dos principais grupos de risco).”

    Belos exemplos de solidariedade, cooperação, altruísmo, empatia e compaixão também transbordam mundo afora seja entre familiares, vizinhos ou desconhecidos. Simples atitudes como ajudar com compras, entregar correspondências e falar ao telefone ganham novos contornos e significados em uma sociedade antes magnetizada e hibernada pelos smartphones, mesmo em meio ao convívio social intenso.

    Crédito imagem: Andrea Piacquadio no Pexels

    No entanto, o uso da tecnologia digital pode ser um desafio para os idosos, mais suscetíveis aos sentimentos de solidão e desconexão com o mundo. O isolamento, físico e/ou social, pode ser ainda mais danoso em tempos de pandemia, por elevar os níveis de estresse e afetar negativamente o sistema imune e cardiovascular.

    “A situação dos idosos é preocupante. Muitos já estavam isolados socialmente por diferentes motivos. Para eles, as alternativas tecnológicas não necessariamente serão fáceis de implementação. Nesses casos, os familiares terão um papel fundamental para auxiliá-los a usar esses recursos. Mas esse papel deve se estender inclusive para além dos contatos sociais; a preocupação deve estar em garantir alimentação, cuidados com a casa e com a saúde, dando condições para que os mais idosos de fato fiquem protegidos em casa”, finaliza o pesquisador.

    Hoje é imperativo a manutenção dos afetos e da sensação de pertencimento à um grupo para o enfrentamento do COVID-19. A distância física entre nós pode ser uma barreira, mas pontes são facilmente erguidas com auxílio da tecnologia da comunicação disponível. Cuidar dos mais vulneráveis nesse momento é um ato de amor imensurável.

    Referências

    Dong, E.; Du, H.; Gardner, L. An interactive web-based dashboard to track COVID-19 in real time. The Lancet Infectious Disease, 2020. doi: 10.1016/S1473-3099(20)30120-1

    Van Bavel, J. J. et al. Using social and behavioural science to support COVID-19 pandemic response. PsyArXiv Preprints, 2020. Disponível em: https://psyarxiv.com/y38m9 Acesso em 31 mar. 2020. doi: 10.31234/osf.io/y38m9

    Wingenbach, T. S. H. et al. Evaluations of affective stimuli modulated by another person’s presence and affiliative touch. Emotion, 2019. doi: 10.1037/emo0000700

    Donate, A. P. G. et al. Ostracism via virtual chat room – effects on basic needs, anger and pain. PLoS ONE, v. 12, n. 9, p. E0184215, 2017. doi: 10.1371/journal.pone.0184215

    Os argumentos expressos nos posts deste especial são dos pesquisadores, produzidos a partir de seus campos de pesquisa científica e atuação profissional e foi revisado por pares da mesma área técnica-científica da Unicamp. Não, necessariamente, representam a visão da Unicamp. Essas opiniões não substituem conselhos médicos.

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